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A vivência da fé na primeira parte da oração supõe não apenas uma
firmeza e uma constância cada vez maior, mas também o silêncio
paralelo dos demais pensamentos, do imaginário e das paixões que
tendem a movê-los. Este silêncio paralelo não deve ser um
previlégio do tempo de oração, mas, no sentido descrito adiante,
deve estender-se a todos os momentos da vida. Tanto dentro como fora
da oração, este silêncio interior está relacionado com o
sacerdócio, o sacrifício e a hóstia de que falam as sentenças das
cartas de Santo Antão. De fato, neste sacerdócio de que fala
Santo Antão, sacrificam- se aqueles pensamentos que, dispersando a
mente, impedem outros maiores e até o próprio exercício da fé.
Este silêncio pressupõe o constante evitar de tudo o que transtorna a
alma da oração e da atenção à fé e à Palavra. Neste sentido,
devemos entender que há dois gêneros de coisas que podem nos causar
transtorno, dos quais só um é prejudicial.
São prejudiciais aquelas atividades que distraem nossa atenção
porque estimulam as paixões e com isto causam o descontrole do
imaginário.
Não são prejudiciais mas, ao contrário, são benéficas, aquelas
atividades que implicam num serviço fundamentado na caridade que não
é feito pelo governo das paixões mas motivado por uma necessidade
objetiva. Tratam-se, portanto, de atividades governadas pela razão
e não pelas paixões. Este segundo tipo de atividade é
freqüentemente chamado pelos homens de transtorno, mas neste caso elas
se constituem num transtorno apenas para o nosso egoísmo ou, quando
muito, somente do ponto de vista de um cronograma externo de
atividades, e não de um descontrole passional.
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