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Respondo dizendo que a divina providência se estende aos homens de
dois modos. De um primeiro modo, na medida em que eles próprios são
provistos; de outro modo, na medida em que eles próprios são
providentes.
Falhado, pois, ao proverem, ou observando a retidão ao fazê-lo,
por isto são ditos bons ou maus. Pelo fato de que são provistos por
Deus, a eles são oferecidos bens ou males. E na medida em que eles
de modo diverso se acham ao proverem, de modos também diversos são
provistos por Deus.
Se, pois, observam a reta ordem ao proverem, a divina providência
neles observa uma ordem condizente com a dignidade humana, de modo que
nada lhes aconteça que não se lhes converta em bem, e que tudo o que
lhes provenha os promova ao bem, segundo o que está escrito na
Epístola aos Romanos:
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"Todas as coisas cooperam
para o bem daqueles
que amam a Deus".
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Se, porém, ao proverem, não observam a ordem que é condizente com
a criatura racional, provendo, em vez disso, segundo o modo dos
animais brutos, a divina providência os ordenará segundo a ordem que
compete aos animais brutos, isto é, de tal maneira que as coisas que
neles são boas ou más não se ordenem para o bem deles próprios, mas
para o bem dos outros, segundo o que diz o salmista:
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"O homem, estando em honra,
não compreendeu;
foi comparado aos ignorantes jumentos,
e tornou-se semelhante a eles".
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De tudo isto é evidente que a divina providência governa os bons de
um modo mais alto do que os maus. Os maus, de fato, segundo que se
retiram de uma determinada ordem da providência, não fazendo a
vontade de Deus, caem sob uma outra ordem, sendo feito deles a divina
vontade. Os bons, porém, quanto a ambas estas coisas estão sob a
reta ordem da providência.
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