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Mas a mesma coisa que Davi chama de arca da santificação, Moisés
a chama de arca da aliança. Mas, por que arca? Por que arca da
aliança? E por que arca não de qualquer um, mas `Arca do
Senhor'?
O que será a arca, senão a inteligência humana? Esta arca é
fabricada e dourada segundo o divino magistério quando a inteligência
humana, pela inspiração e pela revelação divina é chamada à
graça da contemplação. Quando nesta vida alcançamos esta graça,
o que mais recebemos senão um certo penhor daquela plenitude futura
onde perpetuamente estaremos mergulhados na eterna contemplação?
Receemos, portanto, esta graça como um penhor da promessa divina,
como um penhor do amor divino, como um certo vínculo de aliança e
sinal de mútuo amor. Vede, portanto, o quão esta arca é dita arca
da aliança do Senhor, na qual e pela qual é figurada tamanha
graça. Com a maior boa vontade, portanto, deve-se entregar a toda
sorte de trabalho aquele que deseja ou crê ser possível receber
semelhante penhor de tão grande amor. Não duvido que quem quer que
entre vós seja servo hebreu não seja capaz de servir de boa vontade
durante seis anos para que no sétimo se torne livre, para que então
possa entregar-se à contemplação da verdade. Se encontra-se entre
vós alguém que seja Jacó, ou que possa considerar-se digno de um
tal nome, por ser um homem forte e valente na luta, lutador
indomável, vencedor dos vícios, para que algumas coisas vença pela
fortaleza, outras vença pelo discernimento, quem assim for certamente
não só servirá de boa vontade durante sete anos, como também por
mais sete anos, os quais diante de tamanha graça lhe parecerão poucos
dias pela grandeza do amor, desde que possa chegar aos braços de
Raquel, ainda que tardiamente. Quem quer, portanto, chegar aos
braços de Raquel, é necessário que por ela sirva sete e mais sete
anos, para que aprenda a repousar, não apenas das más obras, como
também dos pensamentos supérfluos.
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