CAPÍTULO 6

Nos primeiros três séculos da história do Cristianismo não foi celebrado nenhum concílio, e o motivo para isto é muito simples.

No ano 64 da era cristã, trinta anos aproximadamente após a morte de Cristo, Nero, imperador romano, incendiou a cidade de Roma e, para não ser acusado pela população, colocou a culpa nos cristãos.

Os cristãos já estavam em uma situação juridicamente delicada dentro do Império Romano, pois o Imperador era oficialmente adorado por meio de ritos religiosos, coisa que qualquer cristão teria que se recusar a fazer. Juridicamente, portanto, ele poderia ser condenado à morte por ateísmo.

Ademais, segundo um relato de Eusébio de Cesaréia, que no século IV foi o primeiro homem que escreveu uma história da Igreja, os apóstolos também estavam pregando a divindade de Cristo sem terem pedido licença prévia ao Senado Romano, contra o que prescrevia uma antiga lei.

Diz, de fato, Eusébio de Cesaréia, que Pilatos, após a morte de Cristo,

"havia dado conhecimento ao Imperador Tibério de tudo quanto corria de boca em boca por toda a Palestina referente à ressurreição de nosso Salvador Jesus de entre os mortos".

Hist. Ecl. II, 2, 1

"Inteirou-o também de seus milagres e de que o povo já acreditava que ele era Deus porque depois de sua morte havia ressuscitado de entre os mortos. Diz-se que Tibério levou o assunto ao Senado".

H.E. II, 2, 6

Porém o Senado

"recusou-se a tomar conhecimento do assunto, aparentemente porque não o havia aprovado previamente, pois uma antiga lei prescrevia que, entre os romanos, ninguém fosse divinizado se não fosse mediante voto e por decreto do Senado".

H.E. II, 2, 2

"Tibério, porém, conservou sua primeira opinião e não tramou nada contra a doutrina de Cristo".

H.E. II, 2, 3

"Ao contrário, persistiu em sua declaração e ameaçou de morte aos acusadores dos cristãos. A Providência havia disposto colocar isto no ânimo do Imperador para que a doutrina do Evangelho tivesse um começo livre de obstáculos e se propagasse por toda a terra".

H.E. II, 2, 6

Este começo livre de obstáculos para a propagação do Evangelho terminou, porém, no ano 64 com a perseguição desencadeada por Nero aos cristãos. Daí até o ano 313, em que o Imperador Constantino concedeu liberdade de culto aos cristãos, estes viveram permanentemente fora da lei e, caso tivesse havido necessidade, provavelmente não teria sido possível celebrar nenhum Concílio Ecumênico.