|
A Bemfam é a associada da IPPF no Brasil. Vamos
examinar o que ela afirma de si própria em um texto datado de
1978. Trata-se do "Planejamento Familiar e Desenvolvimento
Brasileiro", o qual vinha com o subtítulo "Planejamento
Familiar, direito de todos e dever de cada um", um
documento de 40 páginas assinado pelo Secretário Executivo da
Bemfam, em que esta instituição procura apresentar a si, ao
seu trabalho e ressaltar a importância do mesmo.
"A história do planejamento familiar no Brasil",
diz o texto, se confunde com a própria história da Bemfam, já
que foi ela, desde os seus primeiros anos de existência, a
principal promotora da causa da paternidade responsável em
território brasileiro.
A Bemfam nasceu no final da XV Jornada Brasileira
de Obstetrícia e Ginecologia, realizada no Rio de Janeiro,
em novembro de 1965, que contou com a participação de 697
profissionais inscritos de 16 estados da federação. Nesta
Jornada, um instigante trabalho sobre aborto provocado
denunciou a existência de um grave problema médico e social
neste país, e apontou o planejamento familiar como a solução
mais adequada para os male decorrentes da situação. Rodrigues
Lima revelou estatísticas impressionantes sobre o número de
abortos clandestinos realizados no Brasil, e concluíu com as
seguintes observações:
|
`A limitação da natalidade neste
país, como já dissemos várias
vezes no decorrer desta exposição,
se faz pelo aborto provocado. Para
acobertar este crime, os parcos
recursos destinados à assistência
à maternidade sofreram um prejuízo
enorme. Bastaria isto para
justificar um amplo movimento
profilático pela educação
anticoncepcional, baseado em
estudos objetivos e científicos,
como preconizou, pela unanimidade
de seus membros, a Organização
Mundial da Saúde, em maio do
corrente ano'.
|
|
É fundamental que o movimento em prol do planejamento
familiar no Brasil", continua o documento da Bemfam, "não
surgiu de economistas ou de políticos, mas de ginecologistas
preocupados com o aborto provocado e suas nefandas
conseqüências ao nível da saúde pública".
"Se estes números sobre o aborto provocado de 1965
foram suficientes para estimular um grupo de médicos a
trabalhar em planejamento familiar, na linha da profilaxia do
aborto provocado, imaginem-se as estatísticas atuais, muitas
vezes mais assustadoras".
"O uso de anticoncepcionais na prática do
planejamento familiar também se justifica pela moderna
concepção da sexualidade. A `revolução sexual' promovida
pela juventude moderna em todo o mundo também deve ser
amparada pelo uso de contraceptivos, na medida em que uma
gravidez precoce pode trazer problemas de ordem psicológica,
social e econômica. Uma contribuição do professor Nelson de
Moraes revela que no Brasil as classes abastadas tem acesso
ao planejamento familiar e geram poucos filhos, de alto nível
sócio econômico. Aos pobres, analfabetos, mal nutridos é
negado até mesmo o direito a informar-se, ficando entregues à
proliferação desenfreada, muitas vezes contra a vontade. É
necessário democratizar o planejamento familiar no Brasil,
levando à prática o reconhecimento do ONU de que este é um
direito humano básico".
"No decurso de seus doze anos de existência, a
Bemfam trabalhou ininterruptamente no sentido de
conscientizar as lideranças do país. Os trabalho pioneiros
foram realizados junto às cátedras de ginecologia e
obstetrícia, procurando despertar os médicos. Em seguida a
sociedade ampliou suas atividades no território nacional,
estabelecendo clínicas de planejamento familiar. O programa
de informação e educação da Bemfam está planejado de forma a
atingir o seguinte níveis:
|
1. Nível de liderança.
O objetivo principal é informar e motivar
diretamente autoridades eclesiásticas e lideranças
comunitárias regionais.
2. Nível técnico.
Os objetivo principais são: motivar, informar e
treinar pessoas que, direta ou indiretamente, possam
trabalhar pelo movimento do planejamento familiar. Em
particular, procura-se também informar as classes estudantis
brasileiras, sobretudo o universitários. Além de informar,
educar e motivar um número crescente de líderes e
profissionais, estes cursos propiciam uma capacitação básica
ao pessoal que futuramente vai se integrar ao trabalho
comunitário desenvolvido através das clínicas da Bemfam. Para
apoiar esta enorme tarefa de informação e educação,
periodicamente são produzidos diversos materiais de caráter
didático científico, que vão desde simples impressos até
filmes e sofisticados programas de áudio visuais.
3. Nível da usuária.
Constituindo o trabalho mais pragmático da Bemfam,
esta tarefa é desenvolvida como atividade modelo, procurando
acima de tudo demonstrar como deve funcionar um serviço de
planejamento familiar. Neste processo, a Bemfam aciona
palestras educativas e motivacionais, realizadas
permanentemente em diverso setores das comunidades,
especialmente em fábricas e centros de assistência materno
infantil e nas próprias clínicas de planejamento familiar.
Estas palestras são apoiadas por modernos recursos áudio
visuais, como o álbum seriado, slides, modelos de plástico
para demonstração da inserção de DIUs, folhetos explicativos
sobre métodos anticoncepcionais, e uma revista colorida que
conta a aventura de um casal que pretende planejar a família,
elaborada para ser compreendida até mesmo por pessoas
analfabetas".
|
|
Neste documento da Bemfam cita-se inúmeras vezes o
governo brasileiro com grande reverência. Existe uma seção
especial dedicada à participação brasileira na Conferência
Mundial sobre População realizada em Budapeste em 1974.
Nesta seção do documento ressalta-se com destaque que
|
"nesta Conferência o Brasil
assumiu como princípio básico que
a política demográfica brasileira
é de domínio soberano do governo
do Brasil e este não aceitará
interferências externas, de
caráter oficial ou privado, na sua
política demográfica. A delegação
brasileira foi signatária de um
plano de ação mundial,
centralizando-se como ponto
fundamental ser indispensável à
soberania de cada país traçar seus
próprios caminhos em matéria de
política demográfica, em pressões
de governos ou entidades
internacionais, sejam ou não de
caráter governamental".
|
|
|
|