CAPÍTULO 3

Por estes motivos, o alimento espiritual do entendimento, da memória e da vontade que a Palavra nos oferece na oração deve ser precedido da experiência da fé. A oração, deste modo, pode ser dividida em duas partes equilibradamente dispostas, a primeira parte constituída pela refeição da fé, e a segunda pela refeição da Palavra.

Na primeira parte da oração deve-se procurar elevar a alma à experiência da fé. A fé é um modo pelo qual a inteligência se eleva ao conhecimento das coisas divinas que exige os seguintes três elementos:

A. Exige, primeiramente, a Revelação externa, não qualquer uma, mas aquela que Deus mesmo no-la oferece, tão rica, tão extraordinária e tão profunda que no seu próprio exame consta a prova de sua origem. A Revelação externa, porém, não é suficientemente manifestada para o ato da fé na oração se o homem apenas a conhece, ainda que tão profundamente quanto o possa, sem que também a considere em ato, não já a partir de um texto, como quando nos alimentamos das Escrituras, mas a partir daquilo que desta Revelação já exista em sua alma.

B. A fé exige, em segundo lugar, também a revelação interna, pela qual o Espírito Santo, iluminando a Revelação externa, convida o homem a experimentar com uma certa evidência a profundidade de sua verdade.

C. A fé exige, finalmente, um movimento da vontade pelo qual o homem não apenas aceita a verdade revelada como norma de seus atos externos, mas principalmente que move o ato interior da inteligência a apreender os mistérios da fé segundo aquele modo pelo qual a inteligência acolhe a experiência da verdade. Neste sentido, o ato da fé não é uma meditação sobre os mistérios da fé, mas uma experiência da verdade, da qual, de um modo todo especial, também participa a vontade.

É evidente a relação que o ato da fé tem para com a contemplação, pois a contemplação, embora tenha a sua essência na inteligência, também tem a sua causa na vontade, habitada pelo amor sobrenatural que não existe sem a graça. É por este motivo que o Novo Testamento, querendo preparar-nos para ela, ao ensinar-nos a elevar a nossa mente até Deus, prescreve que aprendamos a fazê-lo não de qualquer modo, mas através da virtude da fé, na qual justamente a inteligência não pode mover- se à experiência da verdade senão com o concurso da graça e da vontade. É por isso também que o Evangelho nos diz:

"A todos os que creram nEle, deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus".

Jo. 1, 13