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Uma lista de quem passou ou esteve em contato com a escola de São
Vítor pode dar uma idéia do papel que esta desempenhou no contexto do
século XII.
Pedro Abelardo já era aluno de Guilherme de Champeaux quando este
ensinava na escola anexa à catedral de Notre Dame. Após Guilherme
ter abandonado a escola catedralícia para fundar o mosteiro de São
Vítor, consta Pedro Abelardo ainda ter continuado a ser seu aluno.
Após a fundação de São Vítor, São Bernardo de Claraval fez
questão de ser ordenado sacerdote por Guilherme de Champeaux, já
bispo. Conserva-se até hoje na Patrologia Latina de Migne uma
troca de correspondência entre São Bernardo e Hugo de São Vítor
acerca de matéria teológica.
Em 1134 São Bernardo escreveu uma carta ao superior de São
Vítor pedindo que o mosteiro recebesse como hóspede o jovem Pedro
Lombardo até o dia da festa da natividade de Maria. O jovem,
porém, não voltou mais. Ficou em Paris até morrer, quase trinta
anos depois, em 1160, ocupando o cargo de bispo daquela cidade.
Ao que tudo indica, Pedro Lombardo foi aluno de Hugo de São
Vítor; antes de ter sido nomeado bispo de Paris, ensinou teologia
na escola anexa à catedral de Notre Dame onde já antes havia
ensinado Guilherme de Champeaux. Enquanto professor em Notre
Dame, redigiu os célebres Quatro Livros das Sentenças, que no
século seguinte se tornaria livro a ser obrigatoriamente comentado por
todos os candidatos ao doutoramento em teologia. Os primeiros
trabalhos teológicos de São Boaventura e São Tomás de Aquino
foram comentários aos Livros das Sentenças de Pedro Lombardo,
texto tornado básico para o ensino e aprendizado da teologia no século
XIII.
A influência de Hugo de São Vítor na teologia posterior
exerceu-se também através de sua obra mais extensa, o De
Sacramentis Fidei Christianae, aproximadamente traduzível por Os
Mistérios da Fé Cristã, uma obra de síntese como até então
não havia surgido no cristianismo. Esta obra foi o primeiro exemplo e
o precursor de todas as Summas Teológicas que iriam aparecer logo em
seguida. Tomás de Aquino e Boaventura testemunham, conforme
veremos, terem estudado e muito se aproveitado das obras de Hugo.
Discípulo de Hugo de São Vítor e seu sucessor na escola São
Vítor foi também Ricardo de São Vítor, contado, juntamente com
ele, entre os grandes teólogos do século XII.
Consta que na época em que Ricardo de São Vítor era prior de
São Vítor, foi ali que S. Thomas Beckett, o arcebispo da
Cantuária expulso da Inglaterra pelo Rei Henrique VII, foi
buscar seu primeiro refúgio.
Em relação aos futuros povos de língua portuguesa, nos séculos
XII e XIII o principal centro lusitano de estudos era o mosteiro
de Santa Cruz de Coimbra, dos Cônegos Agostinianos, onde por
mais de uma década estudou Santo Antônio de Pádua antes de
transferir-se à ordem franciscana. Os principais professores de
Santa Cruz de Coimbra haviam estudado em São Vítor no século
XII e organizado os estudos de Coimbra segundo o modelo da escola de
São Vítor. Apesar de não ter estado nunca em Paris, pode-se
dizer que a formação de Antônio de Pádua foi, não só do ponto
de vista da doutrina teológica, como também do ponto de vista
ascético e pedagógico, baseado no modelo de São Vítor, cuja
doutrina, ascese e pedagogia haviam sido moldados por Hugo.
No ano de 1190 o rei de Portugal Dom Sancho I fundou uma bolsa
permanente de manutenção para os clérigos de Coimbra que iam estudar
em Paris. Durante o século XIII, quando já havia sido fundada
a Universidade, consta que os clérigos portugueses que se
aproveitavam desta bolsa para estudarem na Universidade de Paris
hospedavam-se no mosteiro de São Vítor durante sua permanência em
território francês.
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