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O poema de Parmênides mostra que este filósofo foi obrigado a fazer-se uma pergunta
que não consta do texto de seu poema, mas que está subentendida no mesmo. Se
Parmênides não tivesse pensado nela, não poderia ter escrito o que escreveu depois.
Esta pergunta é a seguinte.
Tudo o que existe tem que ser inteligível, e isto não é apenas uma constatação, mas um
princípio que parece manifestamente perceptível a todos os homens. Conforme já
notamos, quando alguém descreve uma coisa contraditória, tanto faz para nós que lhe
respondamos que "Isto não faz sentido" como que lhe respondamos que "Isto não
existe". O significado destas duas respostas será entendido como equivalente. Isto
mostra o quanto para todos é intuitivo que uma contradição do pensamento não pode
concretizar-se no mundo real.
Mas suponhamos que então um dia víssemos como nossos próprios olhos um objeto
que representasse para a inteligência uma autêntica contradição. Tomados de espanto,
principalmente depois de uma aula como esta, observaríamos melhor este objeto,
faríamos dele um exame sob todos os pontos de vista, e então chegaríamos à conclusão
de que não houve nenhum engano em nossa primeira avaliação. Ficaríamos
convencidos de que efetivamente estaríamos vendo um objeto que, pelo que a
inteligência é capaz de compreender, não poderia existir porque é a realização de uma
contradição. A inteligência nos forçaria a dizer que, se o princípio de Parmênides é
verdadeiro, tal ser não poderia existir. No entanto, ele está aí. Se possível fosse que
algum dia ocorresse um fato como este, o que deveríamos dizer dele? Este ser que
teríamos descoberto seria uma ilusão ou seria algo real?
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