SEGUNDA QUESTÃO

PARECE, ENTRETANTO, que a vida contemplativa consiste em uma operação da razão, porque a vida contemplativa é uma vida humana, e assim deve ser conduzida de um modo humano. Ora, pertence ao modo dos homens agirem segundo a razão, como animais racionais, e portanto a vida contemplativa consiste principalmente no raciocínio.

Ademais, a vida contemplativa consiste principalmente no conhecimento das coisas divinas. Mas as coisas invisíveis de Deus

"são claramente vistas, compreendidas a partir das coisas que foram feitas",

conforme diz o Apóstolo na carta aos Romanos. Mas pertence ao trabalho da razão deduzir deste modo conclusões a partir dos dados que lhe são oferecidos.

Mais ainda, Ricardo de São Vítor escreve que

"o vôo de nosso espírito na contemplação varia de muitos modos.

Ora eleva-se das coisas inferiores para as superiores; ora desce das superiores para as inferiores; ora procede da parte para o todo, ora do todo para a parte; ora argumenta a partir de uma verdade maior, ora a partir de uma menor".

A vida contemplativa, portanto, parece consistir primariamente em um ato da razão, porque este movimento da mente exige o uso da razão.

Porém, ao contrário, São Bernardo sustenta que

"a consideração difere do exame na medida em que o último refere-se mais à inquisição, enquanto que a primeira é a verdadeira e certa visão da mente".

Ora, tal visão pertence à inteligência, enquanto que a inquisição, por outro lado, pertence à razão. Segundo os ensinamentos de São Bernardo, portanto, a vida contemplativa consiste não em um ato da razão, mas em um ato da inteligência.

Ademais, Aristóteles sustenta, em sua Ética, que

"pela contemplação assemelhamo-nos a Deus".

Fazemos isto, porém, mais pela visão da inteligência do que pela investigação do raciocínio, de onde que a vida contemplativa consiste apenas em um ato da inteligência.