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À segunda pergunta Guilherme de Ockham respondeu que os conceitos universais,
considerados em si mesmos, tal como existem apenas na natureza humana, não possuem
natureza universal alguma.
São entidades tão singulares como qualquer outra entidade individual das que vemos
com nossos olhos na natureza. Elas são universais apenas pela significação que se lhes
atribui.
Em suas próprias palavras, estes conceitos são universais apenas
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"por serem sinais atribuíveis
a muitas coisas",
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Summa Totius Logicae I, 14
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mas na verdade, considerados em si mesmo,
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"são singulares
na medida em que são uma só coisa,
e não muitas".
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"Todo universal é,
na verdade,
uma coisa singular",
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diz Guilherme de Ockham, e por isso não existe um universal em si mesmo,
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"mas apenas pela significação,
na medida em que é
um sinal de muitas coisas".
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"É que,
vendo alguma coisa fora da alma,
o intelecto fabrica mentalmente
uma coisa semelhante,
de modo que,
se tivesse o poder de produzí-la,
assim como tem a força para imaginá-la,
faria esta coisa exteriormente,
distinta numericamente da anterior.
Assim como um arquiteto,
vendo exteriormente uma casa ou edifício,
cria em sua mente uma casa semelhante
e depois a produz fora,
idêntica,
só numericamente distinta da primeira,
assim também no nosso caso
aquela representação da mente
pela visão de alguma coisa exterior
age como um modelo que representa
muitas coisas semelhantes.
É isto o que pode se denominar universal,
é um modelo que se refere indiferentemente
a todas as coisas singulares
que existem fora;
por causa dessa semelhança
pode representar na inteligência
coisas que têm um ser parecido
fora da alma".
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"Assim como por convenção
a palavra Sócrates representa
a coisa que significa,
de modo que,
ao ouvir a frase
`Sócrates corre'
não se concebe que seja
a palavra Sócrates que corre,
mas sim que o indivíduo
significado pela palavra
é que corre,
assim como a palavra convencional
representa a própria coisa,
assim também
(a inteligência tem os seus sinais que)
por sua própria natureza,
sem convenção alguma,
significa a coisa a que se refere.
Alguns destes (sinais)
não pertencem mais a um indivíduo
do que a outro,
assim como a palavra `homem'
não significa mais Sócrates
do que Platão".
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Expositio super Librum
Perihermeneias
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