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À SEGUNDA QUESTÃO devemos responder que a vida
contemplativa consiste na operação que o homem escolhe de preferência
às demais. Trata-se, portanto, de um certo fim em relação a
outras operações humanas, já que estas são feitas por causa
daquela.
Ora, assim como a investigação da razão procede de uma intuição
da inteligência, já que no homem a investigação parte de
princípios apreendidos pela inteligência, assim também ela termina
com uma certeza da inteligência, quando as conclusões a que ela chega
são reduzidas aos princípios sobre os quais repousa a sua certeza. A
vida contemplativa, portanto, consiste principalmente no ato da
inteligência, o que é implicado pela própria palavra
contemplação, palavra que significa visão. O contemplativo,
entretanto, se utiliza da razão discursiva para chegar àquela visão
da contemplação que é o seu principal objetivo, e é este
raciocínio que São Bernardo chama de inquisição.
Respondemos, portanto, à primeira objeção dizendo que assim como
os animais alcançam o limite da natureza humana pela sua faculdade
instintiva, a mais elevada faculdade do mundo animal, pela qual os
animais agem de um modo semelhante aos homens, assim também, na
medida em que o homem é um contemplativo, torna-se mais do que um
homem. A razão é que na operação do entendimento que advém com a
simples visão, o homem alcança o limite daqueles seres superiores a
si mesmo que são chamados anjos e puras inteligências.
À segunda objeção devemos responder dizendo que embora as coisas
visíveis sejam meios para a contemplação das verdades divinas, ainda
assim a contemplação não consiste principalmente nesta vida, mas na
vida que há de vir.
À terceira objeção respondemos que Ricardo de São Vitor não quis
dizer que a vida contemplativa consiste principalmente nestes vários
movimentos da mente, mas que ela os move como meios que se ordenam a um
fim.
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