Capítulo 10

Platão, enquanto foi discípulo de Sócrates, e provavelmente mesmo antes, tinha pensado seriamente em dedicar-se à carreira política. Mas, tendo visto por um lado o que era a virtude por ter convivido com um modelo da mesma e, por outro, o que era a realidade política, percebeu claramente a inutilidade dos seus esforços diante da situação em que se encontravam as coisas.

Ele próprio declarou o seguinte em sua Carta Sétima:

"Com os hábitos que o modo de vida que os gregos vem levando têm produzido, hábitos estes que se formam já nos primeiros anos de vida, nenhum homem debaixo do céu poderá alcançar a sabedoria. A natureza humana não é capaz de uma combinação assim tão extraordinária.

O resultado é que as constituições das cidades ficarão sempre em estado de perpétua mudança, passando da tirania para a oligarquia, da oligarquia para a democracia e assim se sucedendo umas às outras enquanto que aqueles que ditam o poder não conseguirão sustentar nenhuma forma de governo que faça permanecer a justiça.

Não será possível existir a felicidade nem para uma comunidade, nem para um homem individualmente considerado, a menos que ele passe a sua vida sob a regra da virtude sendo nesta guiado pela sabedoria, ou porque este homem possua ele próprio em si mesmo estas virtudes, ou porque viva debaixo do governo de outros homens que receberam para tanto um treino e uma educação no que diz respeito à vida moral".

A esta mesma conclusão já havia chegado, quatro gerações antes, o filósofo Pitágoras.