Capítulo 20

Assim se expressou, pois, Boécio, citando inclusive Pitágoras pelo nome. Mas Pitágoras, além disso, queria que os seus discípulos, uma vez formados e maduros na vida filosófica, se oferecessem aos governos da época como conselheiros políticos, pois dizia que enquanto os governos não fossem guiados pela Filosofia jamais poderiam governar sabiamente. De fato, em todas as cidades em que Pitágoras ou seus discípulos abriram suas escolas, logo se formava um conselho de filósofos pitagóricos que acabava por ter participação importante na política de muitas cidades e colônias gregas. A primeira escola fundada por Pitágoras, em Crotona, no sul da Itália, teria desaparecido em um incêndio provocado em represália à tentativa feita pelo Conselho de seus alunos de impedir a aprovação de certas leis que eles percebiam serem injustas, mas sobre este aspecto do ideal pitagórico assim se expressou o filósofo Jâmblico em uma das principais biografias que a antigüidade nos deixou de Pitágoras:

"A primeira tarefa empreendida por Pitágoras, ao chegar à Itália e à Sicília, foi a de inspirar o amor à liberdade às cidades que ele entendia terem-se recentemente oprimido uma à outra pela escravidão.

Por meio de seus auxiliares ele libertou e restaurou a independência em Crotona, Síbaris, Catânia, Régio, Himera, Agrigento, Tauromênas e em algumas outras cidades.

Através de Carôndas de Catânia e de Zalêuco, o Locriano, conseguiu estabelecer leis que causaram o florescimento destas cidades e que se tornaram modelos para outras nas suas proximidades.

Ele desenraizou, por diversas gerações, conforme atesta a história, o partidarismo, a discórdia e a sedição de terras italianas e sicilianas, em lugares que naquela época eram perturbados por contendas internas e externas.

Em todos o lugares ele repetia, com a persuasão de um oráculo, que devemos por todos os meios amputar do corpo a doença, da alma a ignorância, do lar a discórdia, e de todas as coisas, quaisquer que sejam, a falta de moderação".