Hugo de S. Vitor

TRATADO DOS TRÊS DIAS


I. Introdução, extraída dos livros do Didascalicon.
1. A Sabedoria.

A sabedoria é a primeira entre todas as coisas apetecíveis, pois nela encontramos a forma do bem perfeito.

A sabedoria ilumina o homem para que se conheça a si mesmo: este mesmo homem, se não alcançar o entendimento de como foi feito além de todas as demais coisas, acabará se tornando semelhante a todas estas demais coisas. Mas a alma imortal, adornada pela sabedoria, encontra o seu princípio e conhece o quanto é indecoroso buscar qualquer coisa fora de si para quem aquilo que ela própria já é pode satisfazê-la. Estava escrito no tripódio de Apolo:

"Conhece-te a ti mesmo",

pois, de fato, se o homem não se esquecesse de sua origem, conheceria o quanto é nada tudo aquilo que está submetido à mutabilidade.

A dignidade de nossa natureza é tal que todos a possuem por igual, mas nem todos a conhecem por igual. A alma adormecida pelas paixões do corpo, seduzida e conduzida pelas formas sensíveis para fora de si esqueceu-se do que era, e nada mais se lembrando ter sido, julga também não ser nada mais do que aquilo que vê. Ela pode, porém, ser reparada pela doutrina que ensina a conhecer a nossa natureza e a não buscar nas coisas exteriores aquilo que em nós mesmos podemos encontrar.

Por estes motivos podemos dizer que a maior de todas as consolações na vida é o estudo da sabedoria; que aquele que a encontrou é feliz, e que aquele que a possui é bem aventurado.