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Devemos observar, no entanto, que assim como a verdadeira caridade
exige a pluralidade das pessoas, assim a suma caridade exige a
igualdade das pessoas. Nem é cabível que haja verdadeira caridade
onde o verdadeiramente amado não for sumamente amado. Não é amor
ordenado, porém, aquele no qual se ama sumamente quem não é
sumamente amável. Mas na bondade do sumo sábio a chama do amor não
arde nem diversamente nem mais fortemente do que o que é ditado pela
suma sabedoria. É necessário, portanto, que seja sumamente amado
segundo a abundância da suma caridade aquele que for sumamente amável
segundo a medida daquele sumo discernimento. Mas a propriedade do amor
nos mostra que não será possível existir um sumo amante se o
sumamente amado não retribuir o amor. A plenitude da caridade, deste
modo, exige que no amor mútuo ambos sejam sumamente amados pelo outro
e, por conseqüência, de acordo com a medida do discernimento de que
acima falamos, que ambos sejam sumamente amáveis. Onde, portanto,
ambos são igualmente amáveis, é necessário que ambos sejam
igualmente perfeitos. É necessário, portanto, que ambos sejam
igualmente poderosos, igualmente sábios, igualmente bons, igualmente
bem-aventurados. Deste modo, nos que se amam mutuamente a suma
plenitude do amor exige a suma igualdade da perfeição. Assim como,
por conseguinte, na verdadeira divindade a propriedade da caridade
exige a pluralidade das pessoas, assim a integridade da mesma caridade
na verdadeira pluralidade exige a suma igualdade das pessoas. Para que
sejam inteiramente iguais, porém, é necessário que sejam
inteiramente semelhantes, pois a semelhança pode ser possuída sem
igualdade, mas a igualdade nunca pode ser possuída sem mútua
semelhança. Aqueles que, de fato, nada possuem de semelhante na
sabedoria, como poderão ser nela iguais? O que, no entanto, digo
da sabedoria, o mesmo afirmo da potência e o mesmo encontrarás em
todas as demais, se as percorreres singularmente.
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