15. 2. A necessidade da graça para crer.

Quando, pois, a fé não apenas afirma que Deus existe, mas que nos ama como um Pai, que nos ouve atenciosamente quando oramos, que se fêz homem por nosso amor e nos espera após o término desta vida para nos comunicar a sua própria felicidade, não a maior que seja possível ao homem segundo a sua natureza, mas aquela mesma felicidade que há em Deus em virtude da Trindade de suas pessoas, está nos propondo algo que está além dos sonhos mais extraordinários que o homem possa conceber.

Não há vontade humana capaz de, sozinha, sem o auxílio da graça do Espírito Santo, fazer a inteligência assentir a afirmações desta natureza com a firmeza e a constância que as Sagradas Escrituras atribuem à fé.

A experiência mostra que quando se propõem estas coisas aos homens, alguns vêem nas afirmações da fé algo que, corretamente compreendido, é demasiadamente pretencioso para poder ser verdade. Quando isto ocorre, na maioria das vezes, embora as pessoas não se posicionem com esta clareza conceitual, as afirmações da fé simplesmente não lhes causam nenhum impacto, não lhes chamam a atenção, assim como não o faria um mendigo que contasse uma história complicada de se entender, através da qual se entrevisse uma conclusão de que seus ouvintes poderiam receber uma fortuna inimaginável em dinheiro, maior do que todas as fortunas existentes sobre a terra. Esta história não chamaria a atenção porque as pessoas a interpretariam como algo infundado, desproporcional às condições do mendigo, que não pareceria passar de uma fábula.

Mas há outras pessoas para as quais, quando se explica o conteúdo da fé, seus ensinamentos lhes causam um impacto e lhes chamam vivamente a atenção. Embora elas percebam até bastante bem os fundamentos sobre os quais se baseiam as apreciações dos primeiros quando julgam os ensinamentos da fé demasiadamente pretenciosos para poderem ser verdade, no entanto, sem aparentemente terem nenhum outro novo argumento os primeiros não pudessem ter, percebem, entretanto, no seu íntimo, que as afirmações da fé não são fábulas. De alguma maneira percebem, com uma certa naturalidade, como que levados por uma certa clara intuição, que as afirmações da fé devem ser verdadeiras. Elas percebem também claramente que se o que a fé ensina é verdade, trata-se de algo tão grandioso que seria uma verdadeira loucura se o homem se fizesse indiferente diante delas. É isso, no entanto, o que acontece com os primeiros, e parece um verdadeiro mistério porque alguns percebem isto tão naturalmente tão logo se lhes exponha claramente o conteúdo da fé enquanto que outros permanecem na mais tranqüila indiferença por mais que se lhes fale. Este é o motivo pelo qual, para se crer verdadeiramente nas coisas da fé, diz Santo Tomás de Aquino, é necessário colocar algo mais do que a vontade humana; para crer é necessário também a cooperação da graça, uma luz do alto que vem em auxílio da vontade para o assentimento da fé:

"Deve-se colocar",

diz Santo Tomás,

"uma outra causa interna, que move interiormente os homens a assentir interiormente às coisas que são da fé. Esta causa não pode ser apenas o livre arbítrio do homem, porque o homem, assentindo às coisas que são da fé, se eleva sobre a sua natureza, e é necessário que isto lhe ocorra por um princípio sobrenatural movendo-o interiormente, que é Deus. E por isso a fé, quanto ao assentimento, que é o principal ato da fé, provém de Deus interiormente movendo pela graça".

Santo Tomás descreve, em outra parte da Summa Theologiae, a graça necessária para crer como

"um instinto interior de Deus que convida".

Sem este convite da graça, diz Tomás de Aquino, é impossível realizar com sinceridade um simples ato de fé. Muito mais ainda a graça será necessária para aquela vivência contínua da fé que é a característica dos homens justos, aqueles em cuja alma a graça é uma luz tão forte que lhes permite superar a natureza animal e deixar de apreender as coisas no plano dos sentidos e das inclinações das paixões da carne; aqueles que, despertos pelos acontecimentos da graça, contemplam constantemente com os olhos da alma aquilo que os olhos da carne não são capazes de ver.