Capítulo 16

Colocadas as coisas deste modo, devemos agora considerar uma objeção a toda esta argumentação, objeção esta que seria de se esperar principalmehte do homem moderno.

Concordamos, dirá o homem moderno típico, concordamos que a Educação é de fato uma instituição da natureza. Os filósofos têm razão. O homem quando nasce não pode viver sozinho, precisa de acompanhamento e da tutela dos pais antes de poder viver a própria vida.

Mas não há nada de extraordinário nisso.

Outros animais também dão este acompanhamento aos seus filhotes, embora em menos anos ou mesmo apenas em alguns meses, tais como os gatos, os cachorros e os leões. Nestes casos este acompanhamento pouco se parece com aquilo que costumamos entender pelo nome de educação no seu sentido mais pleno. Estes animais amamentam seus filhotes durante algum tempo e desenvolvem, inclusive, um trabalho de ambientação dos filhotes ao mundo que está à sua volta antes de os deixarem livres para viverem suas próprias vidas. No entanto, não há nada de extraordinário nisso. Trata-se apenas um instinto biológico de sobrevivência. Não se pode dizer que se trate de educação em seu verdadeiro e pleno sentido, trata-se de algo que não ultrapassa os limites dos instintos animais. Certamente, dirá o homem moderno, quando a humanidade surgiu pela primeira vez na natureza, provavelmente ela não terá feito, em matéria de educação, também muito mais do que isto pelos seus filhotes. Se aceitamos estas hipóteses, deveremos então dizer que a educação que veio mais tarde não é uma instituição da natureza, mas uma elaboração posterior do homem, um artifício, uma invenção humana.

Os filósofos gregos, se estivessem visos, deveriam saber que os homens modernos foram acostumados a pensar que quando a humanidade surgiu sobre a terra sua situação não era melhor do que a dos macacos em geral. Assim como os macacos viviam nas árvores, assim também homens modernos pensam que os primeiros homens viviam nas cavernas. O homem moderno imagina que os primeiros homens, quando nasciam, viviam com os pais apenas para aprender a sobreviver. A educação daquela época, portanto, não poderia ser mais do que a luta elementar pela sobrevivência. Se existe uma educação instituída pela natureza, dirá o homem moderno, parece evidente que ela somente poderia se estender até aí. Todo o resto do que conhecemos hoje como educação é uma invenção posterior do homem.

Sendo assim, continuaria o homem moderno, a teoria que foi apresentada pelos filósofos gregos deve ser atribuída a um exagero por parte deles. Neste sentido não há, para a mente do homem de hoje, nem pode haver, nenhuma mensagem especial objetiva na educação. Dentro do ponto de vista da natureza, a educação não pode ultrapassar os limites do instinto elementar pela sobrevivência.