|
Segundo Agostinho, a distinção das Pessoas se fundamenta nas suas
relações mútuas com a Divindade.
Embora consideradas enquanto substância divina, as Pessoas sejam
idênticas, o Pai se distingue enquanto Pai por gerar o Filho, e o
Filho se distingue enquanto Filho por ser gerado. O Espírito
Santo, semelhantemente, distingue-se do Pai e do Filho enquanto
"dom comum" de ambos.
Surge então a questão de o que são os Três.
Agostinho reconhece que tradicionalmente eles são designados como
Pessoas, mas ele fica descontente com o termo. Provavelmente a
expressão lhe trazia a conotação de indivíduos separados. No fim,
ele consente em usar a expressão, mas por causa da necessidade de
afirmar a distinção dos Três contra o Monarquianismo, e com um
profundo sentido da inadequação da linguagem humana.
Sua teoria positiva, original e muito importante para a história
subseqüente da doutrina da Trindade no Ocidente, foi a de que os
Três são relações reais ou subsistentes.
O motivo que levou Santo Agostinho a esta colocação foi o dilema
colocado pelos arianos. Estes, baseando-se no esquema aristotélico
das categorias, afirmaram que as distinções na Divindade, se elas
existissem, teriam que ser classificadas ou na categoria de substância
ou na de acidente. Na categoria dos acidentes não poderia sê-lo,
porque em Deus não há acidentes; se o fossem, porém, na categoria
da substância, então a conclusão seria que existem três deuses.
Agostinho nega ambas as alternativas, explicando que a categoria da
relação é uma alternativa possível. Os Três, prossegue ele,
são relações, tão reais e eternas como o gerar, o ser gerado e o
proceder, que fundamentam as relações, são reais dentro da
Divindade. O Pai, o Filho e o Espírito Santo são assim
relações, no sentido de que o que quer que cada um dEles seja, o é
em relação a um ou a ambos dos demais.
Referências:
|
Santo Agostinho : Epistola 170,7; 170; 238; 239;
240; 241;
Idem : De Trinitate 5,6; 5,8; 5,15; 5,12;
5,15-17; 8,1; 5,10; 7,7-9; 5,4; Livros 5-7.
Idem : Iohan. Tract. 74,1-4; 39;
Idem : De Civitate Dei 11,10;
Idem : C. Serm. Ar. 32; 118,1;
Idem : Enarrat. in Psalm. 68, 1, 5.
|
|
|
|