CAPÍTULO 4

A contemplação pode assim ser definida:

"Uma perspicácia livre da mente, suspensa com admiração no espetáculo da sabedoria".

Ou então pode ser certamente definida do seguinte modo, conforme foi do agrado ao principal teólogo de nossos tempos, que a explicou nestes termos:

"A contemplação é uma visão livre e perspicaz da alma que abarca as coisas que examina, enquanto que a meditação é uma aplicação perseverante da mente, insistindo com diligência em algo a ser investigado".

Ou também:

"A meditação é uma cuidadosa visão da mente veementemente ocupada na investigação da verdade. O pensamento é uma visão descuidada da alma, e inclinada à divagação".

Vemos, portanto, ser comum e quase que substancial a estas três coisas o serem uma certa visão da alma. É comum, porém, tanto à contemplação como à meditação, ocupar-se a respeito de coisas úteis e principal e assiduamente entregar-se ao estudo da ciência e da sabedoria. Nisto costumam diferir maximamente do pensamento, que na maioria dos momentos costuma entregar-se a objetos frívolos e inúteis, e sem nenhum freio do discernimento intrometer-se em tudo e com precipitação.

Ocorre freqüentemente na divagação de nossos pensamentos que por eles se desperte um desejo de conhecer e que nisto se insista com fortaleza. Quando, porém, a mente, para satisfazer este seu desejo, se entrega ao estudo, já excedeu, entretanto, pelo pensamento, o próprio modo do pensamento, e o pensamento transita para a meditação. Costuma também ocorrer algo semelhante com a meditação. A verdade longamente buscada e às vezes encontrada é tomada com avidez pela mente, que a admira com exultação e em sua admiração permanece longamente. Isto já é exceder a meditação pela própria meditação e transitar pela meditação à contemplação; de fato, é próprio da contemplação permanecer com admiração no espetáculo de sua alegria.