16. Motivação para uma determinada forma de ascese.

Deve-se dizer também que o fato de que todas as formas legítimas de ascese conduzem a um mesmo fim não significa que a escolha entre elas possa ser reduzida a uma questão de simples preferência pessoal. Ao contrário, razões de caráter mais elevado, motivadas pela própria virtude da caridade, deveriam orientar a escolha. Todas as formas de ascese, efetivamente, possuem, por si mesmas ou pelo contexto em que se encontram inseridas, peculiaridades secundárias mas importantes que as fazem diferir entre si e que, conforme as circunstâncias, podem ser avaliadas de modo diverso por aqueles que são movidos, em suas decisões, pela caridade.

No caso que é o objeto de consideração particular destas notas, aquela forma de vida espiritual delineada principalmente por Hugo e Ricardo de São Vitor a que se chamou de escola vitorina, e que nos parece ser muito claro que tenha sido seguida também fora dela em seus traços essenciais por outros santos da Igreja como Santo Tomás de Aquino entre os dominicanos e Santo Antônio de Pádua entre os franciscanos, ela faz, dentre outras coisas, do estudo, orientado segundo uma determinada pedagogia, uma forma de ascese. Uma razão motivada pela caridade para abraçar esta forma de vida não seria a inclinação pessoal pelo estudo, mas a aptidão especial que tal forma de vida confere para a prática do mandamento que Cristo tão insistentemente recomendou a seus discípulos, a de que ensinassem tudo aquilo que Ele lhes havia ensinado. Do bem que isto pode resultar são exemplo tanto o próprio Hugo de São Vitor como Santo Tomás de Aquino, cuja influência benéfica na história da Igreja é impossível de ser avaliada nas curtas páginas destas notas e que, ao que tudo indica, está ainda muito longe de terminar.