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Mas para que não se julgue que a dificuldade esteja apenas nos
discursos proféticos, já que para todos é certo que o estilo
profético está semeado de figuras e enigmas, o que deveremos dizer
quando nos aproximamos do Evangelho? Não se esconde ali também um
sentido interior, como que um sentido divino, que somente é revelado
por aquela graça que a recebeu aquele que dizia:
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"Nós, porém, temos o pensamento de Cristo,
para que conheçamos as coisas
que por Deus nos foram dadas.
Falamos não com palavras
aprendidas de humana sabedoria,
mas na doutrina do Espírito".
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E quanto às coisas que foram reveladas a João, como não se
admirará, quem as ler, de que haja ali ocultos tantos inefáveis
mistérios, nos quais tão manifestamente também aqueles que não
podem entender o que neles se esconde, entendem todavia que algo se
esconde? Também as cartas dos apóstolos, as quais a alguns parecem
que sejam mais fáceis, não estão elas igualmente repletas de
sentidos tão profundos que, para aqueles que podem entender o sentido
da sabedoria divina, parece que se lhes infunde, por um pequeno
receptáculo, a claridade de uma luz imensa?
Já que estas coisas são assim e há tantos que erram nesta vida,
julgo que não é coisa destituída de perigo que se declare facilmente
que alguém as conhece ou as entende. Tratam-se de coisas que, para
que possam ser abertas, é preciso usar a chave da ciência, chave que
o Salvador dizia estar com os doutores da lei. Embora estejamos nos
desviando de nosso tema, considero que deveria ser assunto de reflexão
para aqueles que dizem que antes do advento do Salvador não havia
verdade junto aos que eram versados na Lei, como é possível que
Jesus Cristo, Nosso Senhor, diga que as chaves da ciência estejam
junto aos que tinham os livros dos profetas e da Lei em suas mãos?
De fato, é assim que ele diz:
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"Ai de vós, doutores da Lei,
que usurpastes a chave da ciência,
e nem entrastes vós,
nem deixastes entrar
os que queriam entrar".
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