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Numa peça de teatro de Aristófanes, chamada As Nuvens, em que se faz uma sátira dos
sofistas, erroneamente confundindo Sócrates com um deles e levada ao palco ainda
durante a vida de Sócrates, Aristófanes narra a história de um pai que se endividou
comprando cavalos de corrida para o seu filho. Ouçamos o que diz o pai na peça:
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"Ó, como são compridas as noites,
que coisa tão interminável!
Pobre de mim,
não posso dormir
mordido pela despesa
e pelas dívidas da estrebaria,
e tudo por causa do meu filho!
Eu morro,
vendo que está chegando o dia vinte
e os juros vão correndo.
Por favor, escravo, acorde,
acenda a lamparina
e traga-me o livro de contas
para eu ver a quantas pessoas
eu estou devendo
e calcular os juros.
Ai! Quem me dera
que antes houvesse morrido desgraçadamente
a casamenteira que me fez casar
com a mãe deste jovem!
Mas agora, pensando a noite inteira
sobre um meio de encontrar uma solução
para minhas dívidas,
achei um caminho,
diabolicamente excelente.
Acorde, meu filho.
Está vendo aquilo,
ali no fim da rua?
Aquela casa é um pensatório de sofistas.
Lá moram homens que falam do céu,
querendo nos convencer
que o céu é a tampa de um forno
e que nós somos os carvões.
Se a gente lhes der algum dinheiro,
eles ensinam a vencer nos discursos
nas causas justas e injustas.
São pensadores meditabundos,
gente de bem!
Ó se são!
Por favor, meu filho,
esqueça um pouco das corridas de cavalos
e junte-se a eles.
Torne-se um deles.
Eles dizem que os raciocínios são dois,
o forte, seja ele qual for,
e o fraco.
Eles afirmam que o segundo raciocínio,
isto é, o fraco,
discursando,
vence nas causas mais injustas.
Ora, filho querido,
se você aprender este raciocínio injusto,
do dinheiro que agora
eu estou devendo por sua culpa,
destas dívidas eu não pagaria
um óbolo a ninguém!"
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