5. A atitude teológica do Concílio de Nicéia, positivamente considerada.

Mais difícil é considerar o ensino positivo do Concílio de Nicéia. O texto do Credo fornece algumas sugestões, afirmando que enquanto gerado o "Filho" é "da substância do Pai" e "consubstancial ao Pai" (`homoousios').

A dificuldade aqui está em que o termo "consubstancial" pode ser interpretado de duas maneiras. De um primeiro modo, pode significar que o Pai e o Filho possuem uma substância idêntica em seu gênero sem especificar se se trata de uma só ou de duas substâncias. De um segundo modo, "consubstancial" pode significar que o Pai e o Filho possuem uma só e mesma substância.

Antes do Concílio, o termo "consubstancial" (`homoousios') tinha sido empregado por Orígenes no sentido de identidade genérica. Mais tarde, após o Concílio, é fora de questão que a teologia católica passou a empregar o termo `homoousios' no sentido de `uma só substância'. Cabe agora perguntar qual dos dois significados os padres conciliares de Nicéia tiveram a intenção de dar ao termo.

Não há dúvida que, enquanto aplicado à divindade, o termo `homoousios' é suscetível deste segundo significado e, em última análise, exige tal significado. Como os teólogos posteriores perceberam, já que a natureza divina é imaterial e indivisível, segue-se que as Pessoas da Divindade que a compartilham devem ter, ou ser, uma única e idêntica substância. Mas a questão é se esta era a idéia proeminente nas mentes dos padres conciliares, ou pelo menos do grupo a cuja influência se deve o Credo de Nicéia.

A grande maioria dos estudiosos tem respondido afirmativamente sem hesitar, colocando que a doutrina da identidade numérica da substância foi o ensinamento específico do Concílio de Nicéia. Entretanto, temos as razões mais fortes possíveis para duvidar desta afirmação.

A principal destas razões é a história do próprio termo `homoousios', pois anteriormente ao Concílio de Nicéia tanto no seu uso secular como no teológico sempre significou, de modo primário, a identidade genérica. Em vista disso é paradoxal supor que os padres de Nicéia repentinamente começassem a empregar o que era uma palavra bastante familiar em um sentido inteiramente novo e inesperado.

Além disso, o grande debate anterior ao Concílio, no que todas as fontes concordam, não era a unidade da Divindade enquanto tal, mas a co-eternidade do Filho com o Pai, que os arianos negavam, e Sua plena divindade em contraste com a condição de criatura que os arianos lhe atribuíam.

A inferência razoável é que, ao escolherem o terno `homoousios', os padres conciliares pretenderam enfatizar, formal e explicitamente, sua convicção de que o Filho era plenamente Deus, no sentido de compartilhar a mesma natureza divina que o Seu Pai. A teologia do Concílio, portanto, se este argumento for sólido, teve um objetivo bem mais limitado do que algumas vezes foi suposto. Se do ponto de vista negativo inequivocamente o Concílio condenou o Arianismo, do ponto de vista positivo satisfez-se em afirmar a plena divindade do Filho e a Sua igualdade com o Pai, de cujo ser Ele derivou e cuja natureza conseqüentemente partilhou. O Concílio não tentou abordar o problema estritamente relacionado da unidade divina, embora a discussão agora estava inevitavelmente próxima.