13. A Fundação Ford.

A Fundação Ford foi a entidade que na década de 50 despendeu o maior volume de verbas para problemas populacionais, mais do que o Conselho Populacional. Entre 1952 e 1968 a Fundação Ford aplicou na área mais de 100 milhões de dólares, dos quais aproximadamente a metade o foi com pesquisas em reprodução humana. A maioria destas atividades financiadas pela Fundação Ford foram desenvolvidas nos Estados Unidos, mas visavam em suas finalidades principalmente os países subdesenvolvidos. Fora dos Estados Unidos, os principais gastos da Fundação foram com a Índia e Paquistão.

A Fundação até 1968 atuava principalmente nas áreas de pesquisa e treinamento sobre biologia da reprodução, estabelecimento e expansão de centros de estudos universitários sobre população nos Estados Unidos e assistência a programas populacionais em países subdesenvolvidos.

O programa de estudos populacionais da Fundação Ford financiou estudos e pesquisas em torno de uma dúzia de centros especializados em tais programas nas universidades norte americanas. Estas atividades compreendiam projeto e avaliação de programas de planejamento familiar, desenvolvimento de currículos de ensino em administração de planejamento familiar, pesquisas na área comportamental relacionados com problemas de educação e comunicação para programas de planejamento familiar, pesquisas sobre determinantes culturais e sociais afetando a fertilidade, e, em alguns centros, posteriormente, "começou-se a pensar sobre métodos para persuadir e induzir as famílias a reduzirem os padrões do tamanho familiar desejado". Entre estes centros de pesquisa destacam-se o Centro de Estudos Populacionais da Universidade de Michigan, que, conjuntamente com o Conselho Populacional, foram os responsáveis pelo projeto do esquema de planejamento familiar da Coréia e da China Nacionalista; o Caroline Population Center, da Universidade da Carolina do Norte, o Centro de Estudos Familiares e o Centro de Pesquisa e Treinamento Populacional, ambos estes últimos pertencentes à Universidade de Chicago. Estes e outros centros treinaram muitos dos indivíduos que na década de 70 detinham posições de responsabilidade em diversos programas nacionais de planejamento familiar. A porcentagem de abandono de profissão e de não retorno à pátria de origem dos alunos dos cursos oferecidos por estes centros sempre foi relativamente baixa. Na década de 60 estes centros começariam a receber verbas adicionais das próprias universidades a que pertenciam e do governo federal dos Estados Unidos.

No tocante ao desenvolvimento da pílula anticoncepcional a Fundação Ford teve um papel quase tão importante quanto o do Conselho Populacional no que diz respeito ao desenvolvimento do DIU. As pesquisas modernas sobre reprodução humana começaram na década de 1920 e a literatura científica da década seguinte já continha as informações básicas sobre as quais a moderna pílula anticoncepcional iria ser desenvolvida vinte anos mais tarde. Entretanto, durante a década de 40 e 50, os cientistas voltaram suas atenções para os problemas tornados urgentes devido à guerra mundial, como o desenvolvimento de antibióticos, o controle de doenças tropicais, deixando de lado as questões referentes à biologia da reprodução. Começando em 1959, a Fundação Ford gastou mais de 54 milhões de dólares através de 36 instituições dos Estados Unidos, 21 da Europa, 12 da Àsia, 8 da América Latina e 4 do Oriente Médio, incluindo Israel, para incentivar o renascimento desta área da pesquisa científica. No início o campo oferecia atrativo para cientistas mais jovens; os primeiros financiamentos da Fundação Ford foram planejados para atrais pessoal de talento para a área. Na medida, porém, em que o seu programa se desenvolvia, a Fundação Ford iniciou uma procura sistemática de pesquisadores cujo trabalho poderia contribuir para o melhor entendimento da fertilidade humana e o seu controle. Estes cientistas foram encorajados a ampliarem os objetivos de suas atividades e, quando apropriado, estabelecerem grupos de pesquisas interdisciplinares. As pesquisas financiadas pela Fundação Ford resultaram na publicação de mais de 700 trabalhos especializados cobrindo a maioria dos principais aspectos desta área. Foi dado um especial encorajamento para se trabalhar com macacos, cuja reprodução se assemelha muito mais à humana do que a dos ratos. Colônias de macacos exclusivamente devotadas para pesquisas em reprodução e desenvolvimento de anticoncepcionais foram estabelecidas pelo Conselho Populacional em Nova York, na Colônia de Macacos Japonesa, no Instituto Central de Pesquisas de Drogas da Índia, na Universidade da Pensilvânia, na Universidade de Pittsburg, na Universidade de Yale, na Case Western Reserve University, na Universidade de Birmingham, na Universidade de Nova Delhi, no Instituto Indiano de Ciências, na Universidade do Havaí, na Universidade de Uppsala.

Segundo os dados da bibliografia, a Fundação Ford foi, até a entrada do governo federal norte americano nesta questão, a maior financiadora destes esforços em todo o mundo. A comparação, porém, levou em conta a instituição conhecida como IPPF apenas enquanto órgão central da federação; é possível que se estivessem incluídos sob este nome além do órgão central, todas as instituições federadas, que somavam em 1973 um total de 80 entidades, o orçamento da IPPF teria ultrapassado o da Fundação Ford. No entanto, deve- se considerar também que nos anos em que a Fundação Ford mais verteu verbas em questões relacionadas com população e reprodução humana aplicou apenas aproximadamente seis por cento de seu orçamento total.