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Mais adiante, no décimo quinto capítulo do Livro II, Quintiliano repete o que ele
entende por arte oratória:
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"Nós, que empreendemos com esta obra
a tarefa de formar um orador perfeito,
e que desejamos que em primeiro lugar
ele seja um homem bom,
devemos voltar às sentenças daqueles
que a este respeito melhor opinaram.
Alguns, de fato,
identificaram a retórica
com a própria civilidade.
Cícero afirmava que ela
é uma parte da ciência
que convém ao cidadão,
a qual ele afirma que é
a própria sabedoria.
Outros,
dentre os quais Isócrates,
dizem que é
a própria Filosofia.
Mas a definição
que mais convém àquilo que é
a própria essência da Retórica
é a de Cleantes,
segundo a qual
a Retórica é a ciência do bem dizer,
porque com ela abraçamos
todas as virtudes do discurso e,
ao mesmo tempo,
o caráter do orador,
porque o orador não pode bem falar
se não for um homem bom".
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Continua o mesmo Quintiliano no Livro XII das Instituições:
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"O orador que instituímos deverá ser,
portanto, aquele que foi definido
por Catão como
`o homem bom,
perito no falar',
mas em primeiro lugar,
o que Catão disse na primeira parte
desta sua definição,
a parte que é a mais importante,
isto é,
`o homem bom'.
Na verdade, não é apenas
para que alguém seja um bom orador
que deverá ser um homem bom,
mas porque não conseguiria ser um bom orador
se não for primeiro um homem bom.
A inteligência não pode se entregar
ao estudo da mais bela de todas as artes
se não estiver isenta primeiro
de todos os vícios,
em primeiro lugar porque
no mesmo peito não pode haver
o consórcio simultâneo
do que é torpe e do que é honesto.
Pensar no péssimo e no excelente
não pertence mais ao mesmo homem
do que a mesma pessoa ser ao mesmo tempo
homem bom e homem mau.
Quem não vê que a maioria dos discursos
tratam da justiça e do bem?
Seriam estas idéias desenvolvidas
com a dignidade conveniente
por um homem mau e iníquo?
Ninguém duvidará
que todo discurso tem por finalidade
apresentar o que se propõe ao juiz
como verdadeiro e honesto.
Será o homem bom ou o homem mau
que mais facilmente dará
esta persuasão?
O homem bom, evidentemente,
ele próprio dirá mais costumeiramente
coisas verdadeiras e honestas.
Ademais, para suportar a fadiga
e a duração dos estudos,
não será necessária a frugalidade?
Que esperança pode dar ao estudo
quem se entrega à luxúria
e aos prazeres?
A principal motivação
para a paixão da literatura
não será o amor pela glória?"
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