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"Saiba também que não chegará ao seu propósito se,
movido por um vão desejo de ciência, dedicar-se às
escrituras obscuras e de profunda inteligência, nas
quais a alma mais se preocupa do que se edifica. Para
o filósofo cristão o estudo deve ser uma exortação, e
não uma preocupação; deve alimentar os bons
desejos, e não secá-los. Como gostaria de mostrar
àqueles que se puseram ao estudo por amor da
virtude, e não às letras, o quanto é importante para
eles que o estudo não lhes seja ocasião de aflição, mas
de deleite. Quem , de fato, estuda as escrituras como
preocupação e, por assim dizer, as estuda para aflição
do espírito, não é filósofo, mas negociante, e
dificilmente uma intenção tão veemente e indiscreta
poderá estar isenta de soberba. Deve-se considerar
também que o estudo de duas maneiras costuma
afligir o espírito, a saber, pela qualidade, se se tratar
de um material muito obscuro, e pela sua quantidade,
se houver demais para estudar. Em ambos estes casos
deve-se utilizar de grande moderação, para que não
aconteça que aquilo que é buscado como uma refeição
venha a ser utilizado para sufocar-nos. Há aqueles
que tudo querem estudar; tu não contendas com eles,
seja-te suficiente a ti mesmo: que nada te importe se
não tiveres lido todos os livros. O número de livros é
infinito, não queiras seguir o infinito. Onde não
existe o fim, não pode haver repouso; onde não há
repouso, não há paz; e onde não há paz, Deus não
pode habitar".
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