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Seja suficiente isto que foi dito anteriormente sobre a utilidade das
criaturas; mas seja-nos permitido ainda para maior louvor de Deus
examinar um pouco mais quão admiravelmente estas três coisas,
imensidade, beleza e utilidade, Deus conservou simultaneamente em sua
obra.
Talvez mais facilmente conheceremos quão digna de admiração seja ela
se considerarmos primeiro como na obra humana estas mesmas três coisas
não podem coexistir simultaneamente.
Certamente o homem desejando fazer muito não pode fazer grandes
coisas, porque tanto menos será melhor nas coisas singulares quanto
maior for o número em que o esforço de sua intenção for dividido.
Se, porém, dedicar-se à grandeza, retardará a multidão, porque
as forças que se dedicam de modo especial a um só efeito não
conseguem servir à multidão. De modo semelhante, todas as vezes em
que a alma se ocupa com o aperfeiçoamento apenas da magnitude ou da
multidão, tem uma diligência menor com o decoro e a beleza da obra.
Vemos como o escriba forma mais rapidamente as figuras delgadas, mas
tem um maior trabalho em formar as maiores, e que quanto mais
velozmente for usada a pena, tanto mais disformes serão as letras
traçadas. Os que se dedicam à fabricação das vestimentas, quanto
mais buscam a beleza, freqüentemente tanto mais perdem a utilidade; e
os que desejam conservar a utilidade, não podem possuir a beleza.
Mas nas obras de Deus nem a multidão diminui a magnitude, nem a
magnitude impede a multidão, nem ao mesmo tempo a multidão ou a
magnitude contrariam a beleza, nem a beleza remove a utilidade, mas
todas as coisas foram feitas de tal modo como se fossem únicas, para
que, quando contemplarmos o universo, possamos admirar-nos com cada
uma das coisas que ele contém.
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