Capítulo 6

Deve-se compreender, ademais, que a atitude contemplativa em relação à natureza somente pode exercer o fascínio que exerceu entre estes que foram os primeiros filósofos se esta contemplação conseguir se elevar do plano da contemplação visual para o da contemplação intelectual. Não estivemos, de fato, nos referindo à beleza visual da natureza, mas a uma beleza inerente à mesma que somente pode ser vista não pelos olhos, mas pela inteligência. É apenas neste sentido que a natureza é capaz de constituir o desafio profundo para o espírito humano de que falamos acima.

Ela é capaz de chamar poderosamente a atenção do homem quando nós somos capazes de perceber como ela, apesar de não ser inteligente, parece participar da mesma espécie de racionalidade do espírito humano. Os movimentos da natureza que nos circunda parecem ter em si finalidades inteligentes. Tudo nela parece ter uma lógica, a mesma lógica de que nós homens nos utilizamos quando fazemos uma obra de arte ou executamos alguma outra atividade que necessite do uso da razão. Este fato é extremamente intrigante para o espírito de um observador mais atento; ele dá a impressão de que existe algum tipo de relação entre a natureza em seu conjunto e o modo da atividade da mente humana muito mais íntimo do que entre quaisquer outros objetos naturais entre si.

É justamente na base desta surpreendente afinidade entre o conjunto da natureza e a mente humana que reside a atração da primeira sobre a segunda; não, porém, apenas pela afinidade, mas principalmente porque a quantidade de atividades naturais que ocorrem simultaneamente diante de nossos olhos, todas sincronizadas e ordenadas umas para com as outras é imensamente maior do que qualquer mente humana seria capaz de coordenar ao mesmo tempo. Isto dá ao indivíduo que consegue transformar a observação meramente visual da natureza em uma atividade de contemplação intelectual a impressão de ter mergulhado a sua mente para o interior de uma mente imensamente maior do que a sua.

É deste efeito que esta atividade dos pré-socráticos não só tirava o seu fascínio, mas também a tornava uma fonte de educação da inteligência, conforme veremos adiante, no final deste capítulo, em um testemunho de Platão.