|
Quatro são, pois, os gêneros de causas. Entretanto, é
necessário ainda acrescentar algo muito importante: na filosofia de
Aristóteles é possível um agente causar por acidente uma
transformação para a qual ele não era movido por causalidade final.
Quando isto ocorre, diz-se que o efeito ocorreu por acaso; ou,
quando o agente era uma causa inteligente, o acaso também recebe o
nome de sorte. Nestes casos, acaso e sorte são ditos causas por
acidente; os efeitos terão, de fato, uma causa eficiente, mas que
não causará estes efeitos per se, mas por acidente.
O efeito per se de uma causa natural é aquele que se lhe segue de
acordo com as exigências de sua forma; o efeito per se de uma causa
inteligente é aquilo que ocorre tendo em vista a intenção do agente;
ambos estes tipos de causas podem causar um efeito por acidente quando
se tratarem de efeitos que estejam unidos acidentalmente ao efeito
causado per se pelo agente. Por exemplo, quando um construtor é
causa de uma guerra se a guerra for conseqüência da construção de
uma residência (4). O efeito per se do construtor é apenas a
residência; a guerra estava unida à construção da residência
apenas por uma circunstacialidade, para além da causalidade final que
movia o construtor.
Isto não significa, por outro lado, que nos efeitos por acidente
não estejam envolvidos, dentro de uma outra linha de causalidade,
todos os quatro gêneros de causa per se considerados. A simples
construção de uma casa não seria suficiente para provocar sozinha uma
guerra; a guerra provocada por acidente pela construção da casa teve
que ter uma outra causa eficiente per se, à qual correspondesse
necessariamente uma causa final. Isto é, o puro acaso não existe;
é acaso apenas por referência à causa por acidente, mas supõe
sempre, dentro de uma outra linha paralela de causalidade, a
existência dos quatro gêneros de causas per se consideradas.
Na casualidade costuma ocorrer, entretanto, que as coisas que se dão
pela sorte ou pelo acaso, ou seja, além do âmbito da causa final em
uma determinada linha de causalidade, possam ser reduzidas a alguma
causa superior que ordena as causas inferiores que pareciam operar por
acaso. Quando isto ocorre, do ponto de vista da causa superior, a
aparente casualidade do efeito das causas inferiores já não pode mais
ser vista como um verdadeiro acaso; isto passa a se dever não à
existência de causas per se que operavam em uma linha paralela de
causalidade, mas à própria linha de causalidade que parecia operar
por acaso apenas porque a análise se limitava à ação das causas
inferiores (4).
Tal é, em rápidos traços, a teoria das causas segundo
Aristóteles; foi tratada em um apêndice por não ser propriamente
assunto que diga respeito à educação, tema deste trabalho; mas teve
que ser tratado de alguma maneira devido ao uso constante destes
conceitos que pervadem toda a filosofia de Aristóteles e de Santo
Tomás de Aquino.
Referências
|
(4) In libros Physicorum Commentaria, L. II, l. 8,
214.
|
|
|
|