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Foi na segunda expedição que ocorreu um fato que posteriormente veio a se mostrar da
maior importância.
Nesta segunda expedição de Poggio, em uma das torres da Igreja do Mosteiro de Saint
Gall,
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"em meio ao pó,
à umidade e à escuridão",
"em um calabouço sujo e escuro",
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conforme ele próprio relatou posteriormente, Poggio encontrou o livro das
Instituições Oratórias de Quintiliano.
Poggio narrou que se sentia diante do achado como se o antigo mestre estivesse lá
preso em grilhões, de joelhos, pedindo que fosse salvo da secular prisão dos
"bárbaros".
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"Sem temer o frio
nem a neve do inverno",
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diz Will Durant, Poggio exumou uma quantidade inumerável de manuscritos antigos
apenas naqueles três anos, enquanto aguardava a eleição do próximo Papa.
Mas, entre eles, primou pela importância justamente este livro das Instituições
Oratórias de Quintiliano, um livro razoavelmente grande para os padrões da
antigüidade, que Poggio afirma ter demorado para copiá-lo pessoalmente cinqüenta e
três dias seguidos.
As Instituições, de que voltaremos a falar mais adiante, era uma obra escrita em doze
livros por um advogado e professor romano que havia vivido no final do século I
sobre a qual iria basear-se toda a pedagogia do movimento renascentista.
Nesta obra Quintiliano apresenta a oratória como a principal matéria de estudo para a
formação do homem, devendo os demais assuntos ser estudados para que o homem se
torne bom e perito na arte de falar.
Ela insistia na necessidade de um amplo conhecimento dos clássicos antigos, aquilo
que coincidentemente já era a paixão dos novos humanistas, mas com a finalidade de
desenvolver a arte de bem falar e escrever.
De fato, nos dois primeiros livros de sua obra, Quintiliano explica como fazer a
criança aprender a ler e a escrever; como passá-la depois aos cuidados do professor
de gramática; como ela deve aprender, juntamente com o latim ou até mesmo antes, a
língua grega e exercitar-se na versão de uma língua para outra; como deve aprender
todas as demais disciplinas, ainda que nada pareçam oferecer à arte oratória, como a
música e a geometria; e como deve passar, depois disso tudo, aos cuidados do
professor de retórica.
Do livro III ao IX Quintiliano passa a explicar os diversos preceitos da arte oratória.
Chegando, porém, ao livro X, Quintiliano interrompe e diz:
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"Mas todos estes preceitos
sobre a arte oratória,
necessários para a preparação teórica,
não são suficientes
para levar à eloqüência.
Conseguiremos isto lendo e ouvindo
o que há de melhor,
pois em tudo quanto se pode ensinar
os exemplos são mais poderosos
do que os preceitos teóricos.
É necessário ler com diligência
os melhores autores,
com a mesma solicitude
como se nós tivéssemos escrito
o que lemos".
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Mas Quintiliano não se limitou aqui a fazer esta exortação em termos genéricos. Ele
passa em seguida a catalogar e comentar uma extensa lista de obras dentre aquelas que
ele considerava como o que de melhor havia na antigüidade o desenvolvimento da arte
oratória, primeiro dentre os clássicos da língua grega e depois dentre os clássicos da
latina, mostrando como o estudo desta imensa literatura se encaixava dentro da
pedagogia que ele havia traçado.
Finalmente, no XIIº Livro Quintiliano mostrava como também é necessário
desenvolver o caráter do estudante se ele desejar se tornar um exímio orador.
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