8. O trabalho da Comissão Populacional.

Durante toda a década de 1950 pouco fêz a ONU em relação às questões populacionais, com exceção da organização de uma Conferência Internacional em 1954.

A Comissão Populacional havia expresso um ponto de vista inicial, em 1947, de que a discussão de problemas populacionais, na ausência de acordo quanto ao tamanho e a natureza do problema poderia dividir facilmente qualquer debate. Segundo o presidente da Comissão, os problemas populacionais são

"extremamente delicados para se discutirem abertamente. A Comissão acredita que o seu verdadeiro trabalho é a formulação de políticas populacionais, mas no momento a ênfase deve ser colocada no estabelecimento dos necessários fundamentos factuais".

Durante os anos cinqüenta muitos membros da Comissão ainda discutiam entre si sobre se haveria realmente uma "explosão populacional". Nestas condições, embora as incumbências da Comissão Populacional fossem o levantamento de dados demográficos, a explicação dos fenômenos demográficos e o aconselhamento em política populacional, estes eram vistos como aspectos consecutivos e não complementares da estratégia global a ser utilizada.

Entre as diversas pesquisas e estudos que foram empreendidos e publicados pela Comissão Populacional, destaca-se o "Determinants and Consequences of Population Trends", um dos principais livros de referência para Demografia. O Determinants and Consequences constava de três partes. Na primeira se discutia a influência dos fatores econômicos e sociais na mortalidade e na fertilidade e sobre movimentos migratórios. Descrevia-se a transição demográfica nos países desenvolvidos e apontava-se o papel dos contraceptivos na queda da natalidade. Na segunda, cobrindo os efeitos das mudanças populacionais nas condições econômicas, enfatizavam-se as dificuldades econômicas causadas pelo rápido crescimento resultante das altas taxas de natalidade e taxas de mortalidade em declínio. Na terceira parte tratava-se da relevância dos fatos mencionados nas anteriores para o desenvolvimento econômico das áreas subdesenvolvidas. O trabalho no seu conjunto resultou da coleta de todos os estudos existentes sobre o assunto até 1950 e era importante não apenas pelas informações que continha, como também pelas lacunas que eram apontadas no conhecimento contemporâneo sobre comportamento da fertilidade. Posteriormente um grupo de peritos se reuniu para discutir tais lacunas e preparar uma lista de tópicos para incentivar pesquisas posteriores, especialmente no campo do planejamento familiar.

Além deste e de outros estudos, o trabalho da Comissão Populacional incluíu a distribuição de bolsas de estudo para treinamento de estatísticos e demógrafos e a posterior criação de centros regionais de treinamento e pesquisas demográficas em cooperação com universidades e outros institutos nacionais e internacionais. Foram criados convênios com universidades e criados centros de treinamento e pesquisas em Bombaim, Santiago do Chile e no Cairo.

Como resultado destas atividades, à medida em que se aproximava o fim da década a Comissão foi se tornando progressivamente mais consciente do problema populacional. O relatório da Nona Sessão da Comissão em 1957 declarava que nos países subdesenvolvidos a população estava crescendo a taxas nunca antes experimentadas na história da humanidade e que muitos governos não pareciam reconhecer a importância das conseqüências econômicas deste quadro. Na Décima Sessão em 1959 declarava-se que

"embora a Comissão devesse evitar alarmar desnecessariamente o público através do levantamento de colocações sensacionalistas, era um dever chamar a atenção para o rápido crescimento da população mundial como um fato indisputado".

Muitas pessoas e delegados oficiais que tomavam contato com as declarações e os estudos da Comissão, entretanto, manifestavam reações bastante diversas do que as esperadas por ela. Ao saberem que a população estava crescendo num ritmo sem precedentes, era comum ouvir-se a afirmação de muitas autoridades de que isto constituía para elas motivo de grande satisfação.

Caberia à FAO, no início da década de sessenta, levantar perante a opinião pública as questões que a Comissão Populacional até aquele momento tanto havia procurado evitar que se dramatizasse.