CAPÍTULO 48

Quando a Peste Negra terminou, a sociedade havia entrado em colapso, mais ou menos como ocorre no final de uma guerra de grandes proporções. A História fornece muitos exemplos de inteiras civilizações que desapareceram por completo deste modo. No caso da Peste Negra, porém, o efeito produzido foi muito mais dramático para a Igreja do que para a sociedade em geral.

O ensino, que estava quase que totalmente confiado ao clero, decaíu a níveis assombrosos. A disciplina relaxou-se nos mosteiros e entre o clero a moral e a responsabilidade tinham baixado sensivelmente de nível.

Quanto à sociedade civil, os que haviam sobrevivido ou que voltaram do campo herdaram as propriedades dos parentes que haviam morrido. Em vez de reconstruírem o que havia sido abandonado, como que enlouquecidos depois de terem convivido com uma proximidade quase que contínua com a morte, foram tomados por uma obsessão pela idéia de viver e de esgotar as possibilidades que esta vida lhes podia oferecer. Os bens herdados foram dissipados dos modos mais levianos e absurdos.

Perspectivas pouco animadoras se reservavam ao novo clero que deveria ser escolhido de uma sociedade nestas condições e educados em uma Igreja que tinha sofrido uma devastação ainda maior do que a sociedade em seu conjunto. É óbvio que nestas condições os problemas da Igreja, que já não eram poucos, em vez de diminuírem, só poderiam ir aumentando. Assim, depois de algum tempo, a Igreja passou a necessitar mais, e não menos, do trabalho de reforma que vinha tentando ser feito.