Capítulo 8

Este modo de se expressar de Parmênides mostra uma pessoa habituada não só ao trabalho da inteligência em geral, mas àquilo a que já chamamos de contemplação intelectual.

O que permite interpretar esta introdução deste modo é, dentre outras coisas, a alusão das éguas que levam a carruagem

"onde o coração pedisse".

É uma experiência natural que quando ao trabalho intelectual se une um componente afetivo, a atividade da inteligência pode passar natural e espontaneamente do raciocínio para a contemplação. Este fato foi sempre bem familiar entre os filósofos clássicos; ele é, entretanto, menos familiar nos tempos atuais porque hoje em dia a educação da inteligência não é um empreendimento cuja última finalidade é ela mesma, isto é, a própria inteligência. A educação da inteligência atualmente é, em geral, apenas um instrumento utilizado pela sociedade para a produção de bens. Estes bens podem ser bens de consumo, podem ser o próprio trabalho útil, podem ser também livros ou mesmo apenas uma nova teoria ou uma nova idéia que será registrada em um livro, em um arquivo ou na memória de um computador, mas será`` sempre alguma outra coisa além do simples enobrecimento da inteligência. No sistema educacional atualmente vigente o enobrecimento da inteligência, quando se dá, não se dá senão em função do outro objetivo realmente pretendido. Como tais objetivos, porém, são geralmente muito limitados, o resultado é que normalmente os educandos não terão familiaridade senão com atividades da inteligência igualmente muito limitadas.