11. A Esperança e a Caridade.

De tudo quanto dissemos até o momento fica evidente a tão grande importância da virtude da fé, que deve ser a primeira preocupação de cada cristão. Sem esta virtude não é possível iniciar a vida cristã; sem ela não nos é concedida a graça do Espírito Santo, sem a qual o homem é impotente para cumprir os mandamentos, compreender o seu alcance e freqüentemente até mesmo o seu sentido.

Tão grande é a importância da fé que Jesus mencionou esta como um elemento decisivo em sua última recomendação dada aos homens:

"Ide por todo o mundo",

disse então Jesus,

"e anunciai o Evangelho a toda a criatura.

Aquele que crer, será salvo; aquele, porém, que não crer, será condenado".

Mc. 16, 15-16

Aquele que não crer será condenado, não apenas porque não acreditou, mas também porque, sem a graça do Espírito Santo que lhe viria pela fé, privado inteiramente de qualquer senso espiritual, sua vida terá consistido na busca egoísta dos bens materiais, dos prazeres da carne e da satisfação do orgulho pessoal, num grau muito mais elevado do que o homem mergulhado neste estado é capaz de compreender. Este baixíssimo grau de consciência do próprio estado, característico da morte espiritual, são aquelas trevas de que fala o Evangelho de Mateus:

"O povo que jazia nas trevas, viu uma grande luz; e uma luz levantou-se para os que jaziam na região e na sombra da morte".

Mt. 4, 16

A luz de que fala Mateus nesta passagem é a graça do Espírito Santo, que nos veio através de Cristo. Esta luz que o Cristo nos trouxe, porém, não nos vem dEle de modo imediato, mas através da fé. De fato, diz o Evangelho de João, Jesus

"deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus".

Não o deu, porém, a qualquer um, mas

"àqueles que creem no seu nome, àqueles que não nasceram do sangue, nem da vontade do homem, mas de Deus".

Jo. 1, 12

Sem a virtude da fé, portanto, a luz de que fala Mateus pode ter-se levantado no meio do povo, mas ela não se acende para nós, e para quem nunca viu a luz, na maior parte dos casos as trevas não parecem tão escuras.

Jesus resume claramente a triste condição de quem vive neste estado em uma passagem do Evangelho de São João:

"Deus amou de tal modo o mundo",

diz Jesus,

"que lhe deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.

Deus não enviou o seu Filho ao mundo para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por ele.

Quem nele crê, não é condenado, mas quem não crê, já está condenado, porque não crê no nome do Filho unigênito de Deus.

A condenação está nisto: a luz veio ao mundo, e os homens amaram mais as trevas do que a luz".

Jo. 3, 16-19

"Quão aplicados, pois, não nos convém ser à fé", diz Ricardo de S. Vitor, "da qual procede o fundamento de todo o bem e através da qual se alcança o firmamento?" Mas, para que pela fé se alcance a graça do Espírito Santo, além das qualidades da firmeza, da constância e da pureza, inerentes à verdadeira fé em qualquer grau que se a tenha, a doutrina ensinada pelas Sagradas Escrituras nos mostra ainda que ela deve ser acompanhada das virtudes da esperança e da caridade.