CAPÍTULO 43

À segunda pergunta Guilherme de Ockham respondeu que os conceitos universais, considerados em si mesmos, tal como existem apenas na natureza humana, não possuem natureza universal alguma.

São entidades tão singulares como qualquer outra entidade individual das que vemos com nossos olhos na natureza. Elas são universais apenas pela significação que se lhes atribui.

Em suas próprias palavras, estes conceitos são universais apenas

"por serem sinais atribuíveis a muitas coisas",

Summa Totius Logicae I, 14

mas na verdade, considerados em si mesmo,

"são singulares na medida em que são uma só coisa, e não muitas".

Idem

"Todo universal é, na verdade, uma coisa singular",

Idem

diz Guilherme de Ockham, e por isso não existe um universal em si mesmo,

"mas apenas pela significação, na medida em que é um sinal de muitas coisas".

Idem

"É que, vendo alguma coisa fora da alma, o intelecto fabrica mentalmente uma coisa semelhante, de modo que, se tivesse o poder de produzí-la, assim como tem a força para imaginá-la, faria esta coisa exteriormente, distinta numericamente da anterior.

Assim como um arquiteto, vendo exteriormente uma casa ou edifício, cria em sua mente uma casa semelhante e depois a produz fora, idêntica, só numericamente distinta da primeira, assim também no nosso caso aquela representação da mente pela visão de alguma coisa exterior age como um modelo que representa muitas coisas semelhantes.

É isto o que pode se denominar universal, é um modelo que se refere indiferentemente a todas as coisas singulares que existem fora; por causa dessa semelhança pode representar na inteligência coisas que têm um ser parecido fora da alma".

In I Sententiarum Q.8 E

"Assim como por convenção a palavra Sócrates representa a coisa que significa, de modo que, ao ouvir a frase

`Sócrates corre'

não se concebe que seja a palavra Sócrates que corre, mas sim que o indivíduo significado pela palavra é que corre, assim como a palavra convencional representa a própria coisa, assim também (a inteligência tem os seus sinais que) por sua própria natureza, sem convenção alguma, significa a coisa a que se refere.

Alguns destes (sinais) não pertencem mais a um indivíduo do que a outro, assim como a palavra `homem' não significa mais Sócrates do que Platão".

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Perihermeneias