7. Se as virtudes morais são interligadas entre si.

As virtudes morais podem ser tomadas enquanto perfeitas ou imperfeitas. A virtude moral perfeita, como a temperança ou a fortaleza, nada mais é do que alguma inclinação existente em nós para a prática da obra de algum gênero de bem, seja que tal inclinação exista em nós pela natureza, seja que exista pelo costume. Tomando as virtudes morais deste modo, elas não são interligadas. Vemos, de fato, que alguém, pela sua compleição corporal, ou por algum costume, seja pronto para a obra da liberalidade, sem que todavia seja pronto para a obra da castidade.

A perfeita virtude moral é um hábito inclinante a bem realizar a boa obra. Tomando as virtudes morais neste sentido, deve- se dizer que elas são interligadas, como tem sido colocado por quase todos. Podem ser apontadas para isto duas razões, conforme diversamente se distingam as virtudes cardeais.

Conforme explicamos, alguns as distinguem segundo algumas condições gerais das virtudes, de tal modo que a discrição pertença à prudência, a retidão à justiça, a moderação à temperança e a firmeza de ânimo à fortaleza, qualquer que seja a matéria em que estas sejam consideradas. Neste sentido a razão da interligação é manifesta: a firmeza não terá o louvor da virtude se não for acompanhada da moderação, da retidão e da discrição, e a mesma razão vale para as demais. Esta razão de interligação é apontada por S. Gregório Magno no XXII Livro dos Morais, dizendo que

"as virtudes, se são disjuntas, não podem ser perfeitas",

segundo a razão da virtude,

"porque não é verdadeira prudência aquela que não é justa, temperante e forte",

e o mesmo ele acrescenta quanto às demais virtudes. Santo Agostinho também aponta um razão semelhante no VI De Trinitate. Outros, porém, distinguem as virtudes acima segundo as suas matérias. Neste sentido a razão da interligação é apontada por Aristóteles no seu Sexto Livro da Ética. Assim como foi dito, nenhuma virtude moral pode ser possuída sem a prudência, pelo fato de ser próprio da virtude moral fazer a reta eleição, já que ela é um hábito eletivo. Ora, para a reta eleição não é suficiente apenas a inclinação ao fim devido, o que se consegue diretamente pelo hábito da virtude moral; é necessário que alguém escolha também diretamente as coisas que se ordenam para aquele fim, o que se consegue pela prudência, que é aconselhativa, indicativa e preceptiva das coisas que se ordenam ao fim. Semelhantemente também a prudência não pode ser possuída sem as virtudes morais, pois a prudência é a reta razão do que se age, a qual, como de certos princípios, procede dos fins daquilo que se age, aos quais alguém se ordena retamente através das virtudes morais. De onde que assim como a ciência especulativa não pode ser possuída sem o intelecto dos princípios, assim também nem a prudência sem as virtudes morais.

De onde que segue-se manifestamente que as virtudes morais são interligadas.