|
O argumento da teoria da evolução, que expusemos acima, vem da Biologia. Vimos o
que Parmênides provavelmente lhe teria respondido se estivesse vivo entre nós. Mas
diante desta resposta de Parmênides a ciência moderna teria uma segunda objeção a
fazer. Esta proviria não mais dos biólogos, mas dos físicos. Infelizmente não
poderemos mais acompanhar este outro argumento com os detalhes que o tornariam
claro, porque a formação dos alunos do curso magistral nesta matéria não lhes seria
suficiente. Mas trata-se de algo tão importante que devemos deixar dito aqui alguma
coisa, nem que seja para constar e ser aproveitado bem mais tarde quando, tendo os
alunos melhores conhecimentos de Física e possivelmente lembrando-se desta aula,
lhes viesse espontaneamente à inteligência este possível raciocínio que exporemos a
seguir.
Conforme vimos, os biólogos concordariam com a constatação de Parmênides, embora
não com a explicação para a qual ele parece se dirigir. Diriam que realmente é
verdade o que Parmênides constata. Parmênides tem razão quando diz que o ser e o
pensar são o mesmo. Isto, porém, nada tem de misterioso ou de extraordinário e se
explicaria de um modo muito simples pela teoria da evolução.
Os físicos, porém, ao contrário, diriam que Parmênides não tem razão sequer em sua
constatação mais elementar. Ao contrário do que diriam os biólogos num primeiro
momento, para os físicos pareceria imediatamente claro que a mente humana não está
adaptada, de maneira nenhuma, a todos os seres do universo. A justificativa desta
afirmação depende do conhecimento de algo que, segundo os físicos, os biólogos não
conhecem, ou pelo menos que não o conhecem enquanto biólogos, embora possam
conhecê-lo circunstancialmente se conhecerem também alguma coisa de Física. Este
algo surgiu quando os físicos analisaram o comportamento das partículas sub atômicas,
um mundo tão pequeno que a nossa inteligência no nosso dia a dia não pode tomar
contato direto, e com o qual nunca tomou contato a não ser nos últimos oitenta anos de
pesquisa, um intervalo de tempo muito curto, principalmente se comparado com o da
duração da história humana. Quando, conforme dizíamos, os físicos analisaram os
fenômenos do mundo sub atômico, um mundo ao qual a inteligência humana nunca teve
acesso senão nos últimos anos, um mundo que, portanto, não faz parte do meio
ambiente em que se desenvolve a inteligência, os físicos afirmariam terem observado,
ao contrário do que dizia Parmênides, muito coisa que é uma afronta ao bom senso
intelectual. E, no entanto, estas coisas existem. Existiriam ali, dizem os físicos, coisas
que são uma afronta à Lógica e que, no entanto, estão ali. E, se é assim, diriam os
físicos, pode-se perguntar como é que ficaria a teoria de Parmênides diante destes
fatos. Pois, se os físicos têm razão, então não se poderia dizer mais que o mesmo é o
ser e o pensar. Não, pelo menos, no mundo sub atômico, mas bastaria esta exceção
para invalidar o princípio de Parmênides.
|
|