X. Conclusão da contemplação das coisas visíveis.
1. Simultaneidade da imensidade, beleza e utilidade nas obras de Deus.

Seja suficiente isto que foi dito anteriormente sobre a utilidade das criaturas; mas seja-nos permitido ainda para maior louvor de Deus examinar um pouco mais quão admiravelmente estas três coisas, imensidade, beleza e utilidade, Deus conservou simultaneamente em sua obra.

Talvez mais facilmente conheceremos quão digna de admiração seja ela se considerarmos primeiro como na obra humana estas mesmas três coisas não podem coexistir simultaneamente.

Certamente o homem desejando fazer muito não pode fazer grandes coisas, porque tanto menos será melhor nas coisas singulares quanto maior for o número em que o esforço de sua intenção for dividido. Se, porém, dedicar-se à grandeza, retardará a multidão, porque as forças que se dedicam de modo especial a um só efeito não conseguem servir à multidão. De modo semelhante, todas as vezes em que a alma se ocupa com o aperfeiçoamento apenas da magnitude ou da multidão, tem uma diligência menor com o decoro e a beleza da obra. Vemos como o escriba forma mais rapidamente as figuras delgadas, mas tem um maior trabalho em formar as maiores, e que quanto mais velozmente for usada a pena, tanto mais disformes serão as letras traçadas. Os que se dedicam à fabricação das vestimentas, quanto mais buscam a beleza, freqüentemente tanto mais perdem a utilidade; e os que desejam conservar a utilidade, não podem possuir a beleza.

Mas nas obras de Deus nem a multidão diminui a magnitude, nem a magnitude impede a multidão, nem ao mesmo tempo a multidão ou a magnitude contrariam a beleza, nem a beleza remove a utilidade, mas todas as coisas foram feitas de tal modo como se fossem únicas, para que, quando contemplarmos o universo, possamos admirar-nos com cada uma das coisas que ele contém.