CAPÍTULO 3

Aquilo, porém, que a plenitude da bondade nos convence a respeito da plenitude das pessoas, por razões semelhantes demonstra-o também a plenitude da bem-aventurança. Aquilo de que uma fala, a outra o comprova. E aquilo que a primeira clama, em uma única e mesma verdade a segunda aclama.

Interrogue cada um à sua consciência, e sem dúvida e sem contradição encontrará que assim como nada é melhor do que a caridade, assim também nada é mais feliz do que a caridade. Isto no-lo ensina a própria natureza, assim como também a repetida experiência. Assim como na plenitude da verdadeira bondade não pode faltar aquilo pelo qual nada pode ser melhor, assim também na plenitude da suma bem-aventurança não pode faltar aquilo pelo qual nada pode ser mais feliz. É necessário, portanto, que na suma bem-aventurança não falte a caridade. Para que, porém, exista a caridade no sumo bem, é impossível que lhe falte alguém a quem possa ser oferecida, ou possa ser exibida. É próprio do amor, porém, e sem o qual não pode de nenhum modo existir, querer ser muito amado por aquele a quem muito se ama. Não pode, portanto, o amor ser feliz se não for mútuo. Por conseguinte, naquela verdadeira e suma bem-aventurança, assim como não pode faltar o amor feliz, assim também não pode faltar o amor mútuo. No amor mútuo, porém, é inteiramente necessário que haja quem ofereça o amor e quem retribua o amor. Um terá que ser aquele que oferece o amor, e outro terá que ser o que retribui o amor. Onde, porém, nos convencemos que deve haver o um e o outro, depreende-se haver verdadeira pluralidade. Naquela verdadeira plenitude de felicidade, portanto, não pode faltar a pluralidade das pessoas. Consta, entretanto, que nada mais é a suma bem- aventurança do que a própria divindade. A exibição do amor gratuito e a devida retribuição deste amor nos convence, indubitavelmente, que na verdadeira divindade não pode faltar a pluralidade das pessoas.