|
O argumento que Sócrates tinha pedido para que Zenão repetisse era o argumento contra
a multiplicidade que nós citamos acima, ou então algum outro bastante semelhante a
ele.
|
"O que você quer dizer com isto, Zenão?"
|
|
disse Sócrates.
|
"Você está dizendo
que se existe a multiplicidade dos seres,
cada ser é, ao mesmo tempo,
um só e muitos, e isto é impossível.
Porque nada pode ser ao mesmo tempo
uma coisa e o seu oposto.
Não é isto?"
|
|
Zenão concordou.
continua Sócrates,
|
"em todo o seu livro
você não tem outro propósito
senão provar a inexistência
da multiplicidade dos seres.
Existem tantas provas da inexistência
da multiplicidade dos seres
quantos argumentos
que você nele redigiu.
É isto ou eu não entendi?"
|
|
Zenão também concordou que Sócrates havia entendido corretamente.
|
"Além disso,
o que você ensina no seu livro
é a mesma coisa que Parmênides.
Parmênides diz que tudo é um só e o demonstra;
enquanto você diz
que não existe a multiplicidade e,
para prová-lo,
oferece uma superabundante evidência.
Vocês dois não são dois filósofos.
Você, Zenão,
é o alter ego de Parmênides.
Estranha arte esta para nós, atenienses".
|
|
Zenão também concordou, embora ressalvasse que não havia segundas intenções
quando procedia deste modo. Zenão explicou haver escrito seu livro em sua juventude
para proteger os argumento de Parmênides contra os que ridicularizavam o mestre, e
ele mesmo ficou algum tempo na dúvida se conviria torná-lo público ou não. Alguém,
entretanto, acabou roubando uma cópia do livro e a vendeu. A partir daí ele percebeu
que não lhe restava mais escolha possível sobre se deveria ou não divulgá-lo.
|
|