Peculiaridades dos objetivos inerentes ao planejamento familiar.

Não é sensato utilizar o planejamento familiar para proporcionar o controle demográfico, o planejamento demográfico nacional. O "planejamento", no planejamento familiar, é aquele de cada casal individual. O único controle que eles exercem é o controle do tamanho de sua família. Obviamente os casais não planejam o tamanho da população da nação, como tampouco planejam o crescimento da renda nacional ou da forma da rede de ferrovias. Não existe razão para se esperar que as milhões de decisões a respeito do tamanho da família tomadas por casais em seu próprio interesse controlem automaticamente a população em benefício da sociedade. Muito pelo contrário, existem boas razões para se pensar que não o farão. Quando muito, o planejamento familiar pode reduzir a reprodução ao ponto em que os nascimentos excedam os nascimentos desejados.

Na realidade, o movimento do planejamento familiar não persegue nem sequer os objetivos limitados que proclama. Não habilita plenamente os casais para terem somente o número de filhos que desejam porque ou condena ou faz caso omisso de certos meios efetivos mas sujeitos a um tabú para o alcance deste objetivo. Um de seus preceitos é que "haverá liberdade na escolha de métodos, de maneira que os indivíduos possam escolher de acordo com os ditames de sua consciência", mas na prática isto equivale a limitar a escolha do indivíduo, porque a "consciência" que dita o método não costuma ser a sua mas sim a dos funcionários religiosos e governamentais. Ademais, nem todos os indivíduos podem escolher: até os chamados métodos recomendados não são oferecidos geralmente a mulheres solteiras, e nem todos eles são oferecidos a mulheres que professam determinada religião. Desta maneira, apesar da ênfase na tecnologia, a política atual não utiliza todos os meios anticoncepcionais disponíveis e muito menos todos os meios de controle da natalidade.

Uma limitação mais grave sobre os meios se encontra na ênfase exclusiva posta no próprio anticoncepcionismo. O aborto provocado, por exemplo, é um dos meios mais seguros de controlar a reprodução, e tal que foi demonstrado ser capaz de reduzir rapidamente os índices de natalidade. Parece particularmente adequado para a etapa inicial de um programa de controle demográfico. Foi o fator principal na redução de cinqüenta por cento na taxa de natalidade japonesa, um fator principal na queda dos índices de natalidade da Europa Ocidental depois da legalização do aborto nos primeiros anos do decênio de 1950 e um fator importante na redução da fecundidade das nações em vias de industrialização entre 1870 e o decênio de 1930. Hoje em dia, segundo o Studies in Family Planning, "o aborto é provavelmente o método principal de controle da natalidade em toda a América Latina". Não obstante, este método é rejeitado em quase todos os programas de controle demográfico nacionais e internacionais. A ajuda norte americana ao exterior se emprega na assistência para a prevenção do aborto. A ONU exclui o aborto do planejamento familiar e, de fato, justifica este último apresentando-o como um meio de combater o aborto. Estão sendo realizados estudos sobre o aborto na América Latina, sob o presumido patrocínio de grupos promovedores do controle populacional, não, porém, com a intenção de legalizá-lo, tornando-o desta maneira seguro, barato e acessível e assim mais eficaz para o controle demográfico, mas com a intenção declarada de reduzí- lo. Ainda que poucos prefeririam o aborto ao anticoncepcionismo eficaz, todos os demais fatores sendo idênticos, o fato é que ambos permitem que a mulher controle o tamanho de sua família. Por conseguinte, se o aborto permite que as mulheres tenham apenas o número de filhos que desejam, e se os promotores do planejamento familiar não defendem, e de fato condenam a legalização do aborto, estão negando com isto o preceito principal de seu movimento. A ironia da oposição ao aborto nos círculos promotores do planejamento familiar se nota nas discussões idiotas sobre se algum agente anticonceptivo, como por exemplo, o DIU, é ou não na realidade um agente abortivo. Um líder mexicano do planejamento familiar escreve:

"Um dos principais objetivos do nosso programa no México é a prevenção dos abortos. Se pudéssemos estar seguros de que o modo de ação do DIU não fosse a intervenção na nidação, poderíamos facilmente utilizar o método no México".

As questões sobre esterilização e as formas anti naturais de relações sexuais são recebidas geralmente por um tratamento de silêncio similar ou de desaprovação, ainda que ninguém duvide da eficácia destes métodos em evitar a concepção. Não obstante as referências ao "controle demográfico", e ao "controle da fecundidade", que, supõe-se, significam a determinação de resultados demográficos por e para a nação em sua totalidade, o movimento concede o controle somente aos casais, e isto unicamente se empregarem os métodos anticonceptivos "autorizados".