|
Assim se expressou, pois, Boécio, citando inclusive Pitágoras pelo nome. Mas
Pitágoras, além disso, queria que os seus discípulos, uma vez formados e maduros na
vida filosófica, se oferecessem aos governos da época como conselheiros políticos,
pois dizia que enquanto os governos não fossem guiados pela Filosofia jamais
poderiam governar sabiamente. De fato, em todas as cidades em que Pitágoras ou seus
discípulos abriram suas escolas, logo se formava um conselho de filósofos pitagóricos
que acabava por ter participação importante na política de muitas cidades e colônias
gregas. A primeira escola fundada por Pitágoras, em Crotona, no sul da Itália, teria
desaparecido em um incêndio provocado em represália à tentativa feita pelo Conselho
de seus alunos de impedir a aprovação de certas leis que eles percebiam serem
injustas, mas sobre este aspecto do ideal pitagórico assim se expressou o filósofo
Jâmblico em uma das principais biografias que a antigüidade nos deixou de Pitágoras:
|
"A primeira tarefa empreendida por Pitágoras,
ao chegar à Itália e à Sicília,
foi a de inspirar o amor à liberdade
às cidades que ele entendia
terem-se recentemente oprimido
uma à outra pela escravidão.
Por meio de seus auxiliares
ele libertou e restaurou a independência
em Crotona, Síbaris, Catânia,
Régio, Himera, Agrigento, Tauromênas
e em algumas outras cidades.
Através de Carôndas de Catânia
e de Zalêuco, o Locriano,
conseguiu estabelecer leis
que causaram o florescimento destas cidades
e que se tornaram modelos para outras
nas suas proximidades.
Ele desenraizou, por diversas gerações,
conforme atesta a história,
o partidarismo, a discórdia e a sedição
de terras italianas e sicilianas,
em lugares que naquela época eram perturbados
por contendas internas e externas.
Em todos o lugares ele repetia,
com a persuasão de um oráculo,
que devemos por todos os meios
amputar do corpo a doença,
da alma a ignorância,
do lar a discórdia,
e de todas as coisas, quaisquer que sejam,
a falta de moderação".
|
|
|
|