6. A revolução sexual.

O texto da Bemfam que examinamos acima (X,4) afirma que o "uso de anticoncepcionais se justifica pela moderna concepção de sexualidade. A revolução sexual promovida pela juventude moderna em todo o mundo também deve ser amparada pelo uso de contraceptivos". O que, entretanto, o texto não diz é que a Bemfam pertence a uma organização que é também, atualmente, uma das principais promotoras da "revolução sexual" citada neste documento.

As informações que temos a este respeito, porém, são fragmentárias e esparsas. Reproduzimos aqui a este respeito um texto de Michael C. Schwartz, publicado em 1978 na revista America e na International Review of Natural Family Planning da Universidade de St. John, Collegeville, Minnesota.

"O envolvimento do governo federal no planejamento familiar começou modestamente em 1965 com uma doação de US$ 8 mil à Planned Parenthood de Corpus Christi, no Texas. Duas leis de planejamento familiar e dois relatórios de comissões presidenciais mais tarde, os projetos de controle populacional resultaram em uma alocação anual de fundos do governo dos EUA para serviços e pesquisas aqui e no exterior de quase US$ 300 milhões. A Planned Parenthood americana recebeu cerca de US$ 175 milhões em apoio federal no ano de 1975 e os autores do plano qüinqüenal esperavam elevar a verba para US$ 250 milhões em 1980. Muito deste dinheiro é gasto na propaganda e nos serviços para os seus dois grupos alvo principais: os jovens e os pobres. Não menos do que 43% dos novos pacientes de 1975 tinham menos do que 20 anos de idade.

Para procurar este grupo a Planned Parenthood concebeu programas especialmente orientados para a juventude nos quais a doutrinação escolar assume uma parte significativa. Estes incluem filmes para todos os níveis, da escola primária para cima, sessões de treinamento para professores, clínicas da Planned Parenthood nas proximidades das faculdades e algumas escolas secundárias, e uma grande variedade de material impresso, incluindo o controverso livro em quadrinhos `A véspera do aborto'. Adicionalmente são fornecidos um kit de amostras dos vários tipos de contraceptivos para propósitos demonstrativos.

Um dos filmes que estão mais pesadamente promovidos pelos educadores sexuais da Planned Parenthood chama-se `Sobre Sexo'. Levantou-se uma controvérsia este ano no Nebraska, quando os pais de alguns estudantes de escolas secundárias aos quais havia sido exibido o filme dentro da escola pediram para que também eles o vissem. James Cunningham, secretário executivo da Conferência Católica do Nebraska, relatou por escrito que este pedido somente foi concedido depois que o governo do Nebraska interveio na questão e que até a um membro do Conselho de Educação daquele estado foi negada a permissão para assistí-lo. `O filme foi exibido aos estudantes com pouco ou nenhum aviso prévio ou condições. Tratou-se simplesmente de um pedido da parte do professor. Entretanto, foi necessária a intervenção do governador do estado para garantir que fosse visto por um público oficial selecionado'.

O próprio Cunningham viu o filme e relata:

"O filme foi pior do que se esperava. Ele contém nudismo e uma representação de relações sexuais. Está entremeado com diálogos que incluem numerosas referências em gíria à conduta sexual. Tudo isto era desconcertante, mas até mais perturbadora era a maneira pela qual um tipo de causalidade superficial e factual era utilizado para comentários sobre diversas questões morais sérias, incluindo o controle da natalidade, a homossexualidade e o aborto. Pouca ênfase era dada aos dilemas morais ou à aceitação da responsabilidade sexual que deve ser alimentada, ao que parece, em uma época tão crucial da vida de um adolescente. A mensagem era mais cuidar de seus próprios negócios, não se preocupando do que a sociedade diz ou sofre'.

Pode-se perguntar por que motivo entidades como a Planned Parenthood e outras estejam interessadas na educação sexual da juventude. Trata-se do mesmo motivo que explica o envolvimento da UNESCO com os problemas populacionais. Os programas de planejamento familiar podem oferecer todos os métodos possíveis de limitação de natalidade, mas se os casais escolherem livremente terem quatro ou seis filhos, não será possível obter o abaixamento das taxas de crescimento populacional apenas através do oferecimento de abortos e contraceptivos. Será necessário intervir na educação e convencê-los do ideal de poucos ou nenhum filho. O lugar mais adequado para se tratar destas questões é a educação sexual; conseguindo-se convencer os jovens das desvantagens em se ter filhos e das vantagens da pequena família, o que em macro escala não se faz sem a aceitação dos meios de contracepção e aborto, tudo o mais, inclusive os conceitos mais elevados a respeito do papel da sexualidade na vida humana passarão para um segundo plano de prioridades. Na verdade o que ocorre na prática é o rebaixamento desta, porque uma concepção elevada da sexualidade humana não é um veículo adequado para apresentar-se idéias como contracepção e principalmente aborto. Esta é a explicação do envolvimento crescente das agências que lidam com questões populacionais com educação sexual e do interesse neste assunto, aparentemente espontâneo, manifestado em escala cada vez maior nas sociedades modernas.