CAPÍTULO 10

Conquistado Guido, Bernardo dedicou-se ao seu segundo irmão. Gerardo era um militar nato com elevada reputação de bravura e prudência, e extremamente popular entre os soldados. Em seu entender, a carreira das armas era a mais nobre a que um homem poderia se dedicar. Sentia-se, portanto, altamente indignado com o fanatismo de Bernardo e com a loucura dos que o seguiam. Podemos imaginar como recebeu o convite para imitar-lhes o exemplo. Os argumentos e as súplicas apenas serviram para o irritar ainda mais. Então Bernardo, inspirado por aquele espírito de profecia já revelado no caso de Isabel, pousou a mão no peito do militar e lhe disse:

"Sei perfeitamente que apenas a dor te abrirá os olhos. Portanto escuta: não tardará a surgir o dia em que uma lança te perfurará o peito e abrirá até o coração o caminho para os conselheiros da salvação que agora desprezas rancorosamente. Invadir-ta-á o temor da morte, mas não morrerás".

Dias depois Gerardo foi ferido e feito prisioneiro.Uma lança cravou-se-lhe no corpo no local exato onde havia pousado a mão de seu irmão. Convencido de que o ferimento era mortal e que estava prestes a expirar, invadiu-o um intenso terror e, sem saber o que dizia, gritou:

"Sou um monge, um monge de Cister".

Bernardo. chamado às pressas, recusou-se a comparecer. Declarou, em vez disso, ao mensageiro:

"Assegurai-lhe que o seu ferimento não é mortal, mas que lhe ficará cravado para sempre".

E assim sucedeu. Tal como Santo Inácio muitos anos mais tarde, Gerardo teve bastante tempo disponível para meditar na futilidade das coisas terrenas e na importância suprema das coisas eternas.