CAPÍTULO 27

Todos, portanto, os que se ocupam com a verdade, pouco se preocupem com nomes e palavras, porque cada povo tem diversos costumes de palavras. Preocupem-se em buscar mais o que significa, do que com quais palavras se significa, principalmente em coisas tão grandes e tão difíceis, como quando se busca, por exemplo, se há alguma substância que não possa ser entendida nem pela cor, nem pelo hábito, nem pelo tato, nem pelo tamanho, mas que seja apenas visível pela mente, seja a qual nomeada como se o queira. Os gregos a chamam de "assomaton", isto é, incorpóreo, as divinas Escrituras a chamam de invisível, como quando Paulo diz Cristo ser a imagem invisível do Pai (Col. 1, 15), para pouco depois dizer que por Cristo foram criadas todas as coisas, as visíveis e as invisíveis (Col. 1, 17). Vemos, assim, que que Paulo declara haver também entre as criaturas algumas que são invisíveis segundo a propriedade de suas substâncias. Estas, porém, embora não sejam corporais, usam, todavia, os corpos, ainda que eles mesmos sejam, segundo a substância, melhores do que os corpos. A substância da Trindade, porém, que é princípio e causa de todas as coisas, da qual são todas, por qual são todas e na qual são todas, não se pode crer que seja nem corpo, nem em corpo, mas que seja de todo incorpórea.

Exortados assim brevemente pela própria lógica e coerência do assunto, embora nos tenhamos estendido um pouco, seja suficiente o que dissemos para mostrar que há algumas coisas cuja significação não pode ser explicada por nenhum discurso da língua humana, mas que são declaradas por uma inteligência mais simples do que as propriedades de quaisquer palavras. A esta regra deve ater-se também a inteligência das letras divinas, e considere-se o que se diz não pela vileza da palavra, mas pela divindade do Santo Espírito que inspirou quem as escreveu.

Orígenes