Capítulo 19

Quando Sócrates conversava, ele não ensinava nenhuma doutrina pré estabelecida. Ao contrário dos pré socráticos, que ofereciam uma doutrina positiva, ele dizia que nada tinha a ensinar. Sócrates apenas perguntava. E assim se iniciava um diálogo. Sócrates costumava procurar para conversar as pessoas que diziam que tinham algum tipo de conhecimento para ensinar, e então começava a lhe fazer perguntas. Muitos dos que ele procurava eram os filósofos sofistas que visitavam constantemente a cidade de Atenas em busca de alunos, os quais se gabavam de serem capazes de ensinar qualquer assunto e responder a qualquer pergunta a quem quer que fosse. Embora anunciassem tais pretensões, quando os sofistas começavam a dialogar com Sócrates, não era preciso esperar muito para que eles próprios percebessem que sua idéias eram contraditórias e que suas afirmações eram simples opiniões improvisadas para fazerem efeito diante dos ouvintes, mas que não eram capazes de suportar a análise de alguém que buscasse sinceramente compreender as verdades últimas a respeito do homem e da vida humana.

Quando o sofista, conversando com Sócrates, chegava a se dar conta deste fato, em vez de aceitar a verdade, o mais comumente se revoltava contra o favor que Sócrates lhe havia prestado e começava a falar mal daquele homem para tantas pessoas quantas pudesse. Mas se ele era suficientemente honesto para aceitar a verdade, Sócrates então o convidava a juntar-se a ele para buscarem um verdadeiro conhecimento da natureza humana.

Sócrates comparava esta técnica do diálogo ao trabalho de sua mãe que havia sido parteira. O interlocutor podia ser tanto o sofista profissional como ou qualquer outra pessoa que fosse, pois na verdade todos nós somos sofistas por adotarmos sem refletir uma conduta em nossa vida que é baseada em concepções sobre o que é o homem, sobre o que é a vida humana e quais os seus objetivos que não suportariam uma análise sincera por quem quer que busque a verdade sem que caiam em contradição. Sócrates então comparava este interlocutor a uma gestante em trabalho de parto. Ele próprio, Sócrates, era a parteira, que, dialogando, nos faria entrar em contradição flagrante a respeito das concepções sobre as quais, consciente ou inconscientemente, fundamentamos nossas vidas. O momento em que o interlocutor percebesse a série de ilusões fundamentais em que sua vida normalmente se baseia, este Sócrates o comparava ao nascimento. Daí para a frente ele poderia ser ajudado a crescer como um novo homem.