26. Aspecto geral do movimento pelo aborto nos Estados Unidos.

Os documentos que havia disponíveis quando da elaboração deste trabalho a respeito dos Estados Unidos eram menos detalhados. Conforme já dissemos, não houve naquele país uma organização central preponderante para os esforços de revogação das leis do aborto, devido em boa parte ao fato de que havia a necessidade de revogar tanto a lei federal como as leis dos 50 estados da federação. O movimento se caracterizou por diversos grupos pequenos locais e outros grupos maiores de coordenação. Já analisamos alguns dos grupos maiores.

Germain Grisez fala algo a respeito de dois grupos locais.

A Society for Humane Abortion foi uma organização com sede em São Francisco, fundada em 1965 por Patricia M. Maginnis. O objetivo da sociedade era o de lutar contra as revogações parciais da lei do aborto. Temendo que uma revogação limitada, como o foram as primeiras, diminuiria a pressão para a obtenção da permissividade completa, a sociedade condenou severamente as novas leis como perigosas e decepcionantes. Entretanto, a própria Maginnis foi para bastante além do que o que havia sido prevista para a sua primeira organização. Ela distribuía listas de médicos aborteiros, principalmente do México, e ensinava grupos de mulheres como realizar abortos em si mesmas. Ela e uma co participante levantaram uma segunda organização, a Association to Repeal the Abortion Laws, que se opunha às primeiras leis aprovadas pela Califórnia e que levantava fundos para as despesas locais dos julgamentos da Sra. Maginnis, talvez em uma tentativa para repetir as prisões de Margareth Sanger.

Uma outra organização californiana, a Legalize Abortion, tinha sua sede em Los Angeles. Este grupo também se opunha a qualquer revogação parcial, e distribuía instruções pormenorizadas sobre como se poderiam elaborar comitês locais para se obter a legalização do aborto. A organização descobriu também uma maneira original de se requisitar contribuições, distribuindo-se folhetos onde deveria-se assinalar com um x quais das doze alternativas para projetos de leis de revogação de aborto deveria ser a pleiteada. Desta maneira dizia-se que eram os próprios contribuintes que elaboravam as decisões políticas da organização.

A partir de meados da década de 1960 o trabalho do movimento pró aborto nos Estados Unidos foi em grande parte uma popularização das posições alcançadas nas Conferências e nos estudos da década passada. Muitos livros novos que surgiam, como o Abortion, de Lawrence Lader, eram na verdade uma redução à argumentação jornalística de uma grande parte do material favorável ao aborto elaborado por médicos e advogados durante os quinze anos precedentes.

Um fato desconcertante ocorreu no dia 5 de abril de 1965, quando a CBS Reports transmitiu em cadeia um programa de uma hora denominado "O Aborto e a Lei". O programa apresentava opiniões contrárias ao aborto. Entretanto, ele foi tão efetivo em promover a causa contrária que foi subseqüentemente utilizado sob a forma de filmes pelos grupos que pretendiam a reforma da lei.