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Ocorre porém que o mundo em que vivemos hoje, em cuja história se realiza também a
história da Igreja, é muito mais complexo do que o mundo do Império Romano, do que
o mundo do Império Bizantino, ou mesmo do que o da Idade Média.
Os homens de hoje, muito embora tenham um acesso muito maior a todo tipo de
informação do que os das épocas passadas, geralmente têm a sensação de viverem em
um mundo em que as pessoas partilham de uma viva impressão de terem sido metidos
em um barco do qual ninguém sabe exatamente para onde se dirige.
Esta sensação não é coisa que pertença unicamente ao mundo contemporâneo, porque é
da natureza do futuro ser incerto para todos os homens, mas em nossa época esta
impressão é mais acentuada porque não é apenas o futuro, mas uma compreensão exata
do significado do que está acontecendo com a civilização contemporânea que está
faltando.
Que este problema se revista de uma especial gravidade no mundo de hoje pode ser
considerado também pelo fato de que no início da Constituição Gaudium et Spes do
Concílio Vaticano II se encontram as seguintes palavras:
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"A Igreja sente-se real e intimamente
ligada ao gênero humano
e à sua história.
As alegrias e as esperanças,
as tristezas e as angústias
dos homens de hoje
são também as alegrias e as esperanças,
as tristezas e as angústias
dos discípulos de Cristo".
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Quando nós hoje, no final do século XX, ouvimos o Concílio dizer estas coisas,
parece-nos estar ouvindo alguma coisa óbvia. Mas, vistas em sua perspectiva
histórica, não se trata de nada óbvio. Nunca, em nenhuma época da história, Concílio
algum apontou um problema como este como sendo alguma coisa de particular
gravidade, exceto o próprio Concílio Vaticano II. Quanto a este, dois parágrafos
depois desta citação que acabamos de fazer, na mesma Constituição Gaudium et Spes
acrescenta-se o seguinte:
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"Nos nossos dias a humanidade,
cheia de admiração
ante as próprias descobertas e poder,
debate, porém,
muitas vezes com angústia,
às questões relativas
à evolução atual do mundo
e ao significado de seu esforço
individual e coletivo".
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Trata-se na realidade de questões comuns a todas as épocas, pois é sempre muito
difícil compreender o significado do que está acontecendo na história humana,
exatamente pelo fato de estar acontecendo. Mas em nossa época este problema se
reveste de uma excepcional gravidade não só porque o número de fatores envolvidos
na confecção dos problemas do homem moderno é elevado e de muito difícil
compreensão simultânea, como também, paradoxalmente, eles se orientaram de um tal
modo que tendem a minar no homem a própria base pela qual seria possível
compreendê-los mais facilmente.
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