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Foi destes seis gêneros de contemplação que Moisés falou, segundo
me parece, sob a descrição material daquela arca que o Senhor lhe
havia mandado fazer. Primeiramente Deus lhe ordenou fazer
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"uma arca de pau de acácia,
de dois côvados e meio de comprimento,
um côvado e meio de largura
e altura de um côvado e meio".
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Este é o primeiro gênero de contemplação. Depois estabeleceu que
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"Revesti-la-ás de ouro puríssimo
por dentro e por fora".
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Este é o segundo gênero de contemplação. Em terceiro lugar,
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"Farás sobre a arca uma coroa
de ouro em roda",
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que é o terceiro gênero de contemplação. O quarto gênero de
contemplação entendêmo-lo como sendo o propiciatório, (uma como
bandeja que deveria ser posta sobre a arca, cobrindo-a em toda a sua
extensão):
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"Farás também o propiciatório de ouro puríssimo;
o seu comprimento terá dois côvados e meio,
e a largura um côvado e meio".
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O quinto e o sexto gênero de contemplação é designado pelos dois
querubins que deveriam ser postos sobre o propiciatório, o qual, por
sua vez, deveria ser colocado sobre a arca:
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"Farás também dois querubins de ouro batido
nas duas extremidades do oráculo.
Um querubim esteja de um lado
e outro esteja de outro.
Estes querubins terão as asas estendidas para cima,
cobrindo com elas o propiciatório,
e estejam olhando um para o outro
com os rostos voltados (para baixo)
para o propiciatório,
com o qual deve estar coberta a arca.
De cima do propiciatório
te darei as minhas ordens,
e do meio dos querubins,
e te direi todas as coisas que por meio de ti
intimarei aos filhos de Israel".
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Se examinarmos o modo como a arca deveria ser fabricada, verificaremos
que de todas as seis partes a serem feitas somente a primeira é de
madeira, enquanto que todas as demais são de ouro. Assim também
todas as coisas de onde provém o primeiro gênero de contemplação
são nos dadas pelos sentidos corpóreos, e as representamos pela
imaginação segundo o quisermos. Todas as demais de onde se originam
as seguintes são recolhidas pela razão ou são compreendidas pela
simples inteligência. Pensa, portanto, quanta é a diferença entre
a madeira e o ouro. A madeira são as coisas que estão submetidas à
imaginação; o ouro, as coisas que estão submetidas ao intelecto.
O ouro refulge por si com grande claridade; a madeira em si nada
possui de claridade senão aquilo que o fogo acende. Assim também a
imaginação não possui em si nenhuma luz de prudência, nada tem de
claro, a não ser que costuma estimular a razão ao discernimento e
dirigir a investigação à ciência.
Corretamente também o segundo gênero de contemplação, no qual se
busca a razão das coisas visíveis, é figurado no revestimento da
madeira com ouro. O que mais não é assinalar a razão das coisas
visíveis e imagináveis do que revestir a madeira com ouro?
A coroa da arca representa o terceiro gênero de contemplação em que
costumamos subir ao invisível através do visível. O propiciatório
é superposto à madeira da arca por todos os lados e por isso
convenientemente figura aquele gênero de contemplação que excedendo
toda a imaginação utiliza a razão segundo a razão.
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