|
PARECE, ENTRETANTO, que a vida contemplativa consiste
em uma operação da razão, porque a vida contemplativa é uma vida
humana, e assim deve ser conduzida de um modo humano. Ora, pertence
ao modo dos homens agirem segundo a razão, como animais racionais, e
portanto a vida contemplativa consiste principalmente no raciocínio.
Ademais, a vida contemplativa consiste principalmente no conhecimento
das coisas divinas. Mas as coisas invisíveis de Deus
|
"são claramente vistas,
compreendidas a partir das coisas
que foram feitas",
|
|
conforme diz o Apóstolo na carta aos Romanos. Mas pertence ao
trabalho da razão deduzir deste modo conclusões a partir dos dados que
lhe são oferecidos.
Mais ainda, Ricardo de São Vítor escreve que
|
"o vôo de nosso espírito
na contemplação
varia de muitos modos.
Ora eleva-se das coisas inferiores
para as superiores;
ora desce das superiores
para as inferiores;
ora procede da parte para o todo,
ora do todo para a parte;
ora argumenta a partir
de uma verdade maior,
ora a partir de uma menor".
|
|
A vida contemplativa, portanto, parece consistir primariamente em um
ato da razão, porque este movimento da mente exige o uso da razão.
Porém, ao contrário, São Bernardo sustenta que
|
"a consideração difere do exame
na medida em que o último
refere-se mais à inquisição,
enquanto que a primeira
é a verdadeira e certa visão da mente".
|
|
Ora, tal visão pertence à inteligência, enquanto que a
inquisição, por outro lado, pertence à razão. Segundo os
ensinamentos de São Bernardo, portanto, a vida contemplativa
consiste não em um ato da razão, mas em um ato da inteligência.
Ademais, Aristóteles sustenta, em sua Ética, que
|
"pela contemplação
assemelhamo-nos a Deus".
|
|
Fazemos isto, porém, mais pela visão da inteligência do que pela
investigação do raciocínio, de onde que a vida contemplativa
consiste apenas em um ato da inteligência.
|
|