CAPÍTULO 26

Por causa de uma guerra prolongada contra a Inglaterra, necessitando de dinheiro, Felipe o Belo valeu-se de todos os meios de que dispunha para consegui-lo. Os atos de que se utilizou para tanto fizeram-no passar para a história como um monarca inescrupuloso e de má reputação. Instituíu impostos extraordinários sobre comerciantes, banqueiros e sobre o clero, sendo que este último estava isento por lei do pagamento de taxas. Alterou também a moeda francesa várias vezes, diminuindo ademais o peso dos matais preciosos de que era composta.

O Papa protestou ao saber que ele estava cobrando impostos do clero, alegando que isto era uma violação das imunidades eclesiásticas, e proibindo ao clero pagar qualquer imposto sem autorização da Sé Apostólica, mas depois autorizou o clero francês que pagasse ao rei tudo quanto ele pedia se isto fosse feito na qualidade de um donativo. Ao mesmo tempo, porém, encarregou um bispo que apresentasse ao rei Felipe as queixas do Papa sobre as infrações às leis canônicas a respeito das imunidades eclesiásticas na França.

A isto Felipe o Belo respondeu mandando prender, no ano de 1301 DC, o bispo que tinha sido delegado pelo Papa.

O Papa Bonifácio VIII replicou no mesmo ano intimando Felipe o Belo a justificar-se perante a Santa Sé pelas acusações feitas contra ele de cunhagem de moeda falsa e convocando, através de uma Bula, um Sínodo em Roma para discutir a proteção das liberdades da Igreja na França.

O rei Felipe reagiu divulgando entre os franceses uma bula papal falsa, visando desmoralizar o Pontífice, a qual depois foi queimada publicamente, e chamando os juristas da corte para defenderem a autoridade real.

No ano seguinte, 1302 DC, uma reunião dos principais representantes da nação francesa foi convocada na qual o rei obteve o apoio geral dos presentes contra a tirania do Romano Pontífice sobre a França.

Em 1303 DC o rei Felipe o Belo convocou uma outra assembléia em que foi lida uma lista de crimes de que o Papa seria réu. Bonifácio VIII foi acusado de heresia, imoralidade e superstição, e com isto invocou-se a realização de um Concílio Ecumênico para depô-lo. No fim deste ano, em vez do Concílio Ecumênico, um grupo de soldados franceses invadiu a Itália e prenderam o Papa. Após uma série de vexames, tentaram obrigar Bonifácio VIII a revogar os seus decretos e a renunciar ao pontificado. Como o Papa se negasse intransigentemente a fazer o que se lhe exigia, estando o comandante francês a deliberar sobre o que fazer, uma rebelião local conseguiu libertar o Papa. Este, porém, veio a falecer logo depois.