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A primeira coisa que deve ser feita ao se proceder a uma análise das
operações próprias dos seres vivos é observar que na natureza estes
seres vivos podem ser classificados segundo uma hierarquia de modos de
vida (1).
Nas plantas, somente existe o modo de vida correspondente ao
princípio nutritivo, responsável pelas mutações do alimento e pelo
aumento e decremento do ser vivo (2).
Nos animais imperfeitos, além do princípio vegetativo, existe o
sentido, mas não o movimento de um lugar para outro. É o caso das
ostras (3).
Nos animais perfeitos, além do princípio vegetativo e do sentido,
encontra-se também o movimento local (4).
Finalmente, nos homens, além destes três, encontra-se também o
intelecto (5).
Observa-se, ademais, que nos animais de hierarquia mais alta estão
incluídos todos os princípios encontrados nos de hierarquia mais
baixa, mas não vice-versa. Desta maneira, somente o princípio
vegetativo pode existir isoladamente; o sentido não existe sem o
princípio vegetativo; o movimento local não existe sem o sentido e o
princípio vegetativo; e o intelecto não existe sem os anteriores
(6).
Os animais são ditos animais propriamente por causa do sentido, e,
dentre eles, o homem é dito homem por causa do intelecto (7).
Entre os sentidos existe também uma hierarquia semelhante, onde o
primeiro de todos é o tato. Assim como se observa que o princípio
vegetativo pode ser separado de todas as demais funções superiores, o
sentido do tato pode ser separado de todos os demais sentidos, como
ocorre nos animais inferiores, enquanto que nenhum dos demais sentidos
ocorre na natureza sem a presença subjacente do tato (8).
S. Tomás afirma que esta hierarquia dos seres vivos observada na
natureza tem um ápice, isto é,
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"nos animais que possuem intelecto,
é necessário que preexistam
todas as demais potências,
vegetativas e sensitivas,
que operam como instrumentos preparatórios
ao intelecto,
o qual é a perfeição última
buscada na operação da natureza" (9).
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E, desta mesma maneira, assim como na operação da natureza as
diversas potências são instrumentos preparatórios à operação do
intelecto, assim também na investigação do homem sobre a
inteligência a investigação da natureza destas potências é também
instrumento preparatório para a compreensão da natureza da
inteligência.
É assim que, antes de abordarmos o tema da inteligência, o
Comentário ao De Anima nos convida a examinarmos as operações dos
sentidos.
Referências
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(1) In librum De Anima Commentarium, L. II, l. 3,
255. (2) Idem, loc. cit.. (3) Idem, loc. cit..
(4) Idem, loc. cit.. (5) Idem, loc. cit.. (6) Idem,
L. II, l. 3, 258-261. (7) Idem, L. II, l.
3, 259-260. (8) Idem, L. II, l. 3, 260.
(9) Idem, L. II, l. 6, 301.
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