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Pergunta-se por que Paulo atribui a eficácia da justiça à fé, e
não à caridade, quando diz:
Pois às vezes existe fé onde não há nenhuma justiça, mas a
caridade nunca existe sem a justiça.
Alguns respondem a isto dizendo que a caridade e a justiça são o
mesmo, e por isso uma não pode ser a causa de outra. Ou ainda,
mesmo que a caridade seja a causa da justiça, todavia é conveniente
que a fé, que é causa da caridade, seja dita causa da justiça,
porque tudo o que é causa da causa, é causa também do efeito.
Deve-se saber também que outra coisa é crer Deus existir, que é a
fé do conhecimento; outra coisa é crer por Deus, que é a fé do
consentimento; outra coisa é crer em Deus, que é a fé da
confiança; outra coisa é crer a Deus, que é inclinar-se para
Deus pela fé e pelo amor.
Ademais, uma coisa é o que se crê e outra, aquilo pelo qual se
crê. Ambos freqüentemente são designados pelo nome de fé.
Ademais, aquilo pelo qual se crê às vezes é informado pela caridade
e somente então, segundo alguns, poderia chamar-se de virtude;
quando fosse sem a caridade, seria uma qualidade informe e não seria
virtude, nem justificaria.
A outros parece que onde quer que exista a fé, mesmo a do
conhecimento, quanto a si sempre justifica; seu efeito, todavia, às
vezes seria impedido pela abundância do mal. A fé é uma virtude
pela qual crêem-se coisas que não se vêem, ou a certeza de coisas
invisíveis pertencentes à religião acima da opinião e abaixo da
ciência. A caridade justifica, e também a fé, a graça e Deus;
estas quatro, portanto, justificam.
SOLUÇÃO.
Não é verdade que estas quatro coisas justificam porque isto
ocorreria separadamente. De fato, a caridade justifica na fé e pela
fé e, na caridade, a graça e, pela graça, Deus.
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