9. Legitimidade de uma espiritualidade.

Do que foi dito pode-se deduzir que não é qualquer regra ou modo de vida que pode legitimamente denominar-se de espiritualidade, ainda que aparentemente verse sobre assuntos relacionados com a vida do espírito. Uma espiritualidade somente pode ser julgada como autêntica se, de fato, ela conduz à contemplação. Todas elas surgiram da experiência de pessoas que haviam alcançado esta realidade e sabiam como ensinar aos outros o modo ou um modo de alcançá-la. Como todas, se legítimas, efetivamente conduzem a este mesmo fim, não se pode também dizer que uma seja melhor do que a outra. Ao contrário, dada a extrema dificuldade do comum dos homens em discernir corretamente sobre estes assuntos, deve-se considerar feliz aquele que, de alguma forma, tiver encontrado verdadeiramente qualquer uma delas. A grande dificuldade no discernimento sobre estes assuntos reside no próprio homem, imerso como está no pecado e encantado pelos baixos objetivos que lhe são apresentados pela vida material, em entender com clareza o que seja o próprio objetivo a que se propõe uma autêntica vida espiritual. A maioria dos homens sequer faz idéia do que se trata e inclusive não quer mesmo saber de nada a este respeito; da minoria restante, a maior parte tem uma idéia inteiramente fantasiosa e irreal do que seja aquilo a que se chama de contemplação.