3. Deus, enquanto manifestado na economia.

O caráter ternário do ser intrínseco de Deus é manifestado, em segundo lugar, na Criação e na Redenção.

A. Hipólito.

Segundo Hipólito, quando Deus o quis, engendrou o seu verbo, usando-o para criar o universo, e sua Sabedoria para adorná-lo ou ordená-lo. Mais tarde, tendo em vista a salvação do mundo, Ele tornou o Verbo, até então invisível, visível na Encarnação. A partir daí, ao lado do Pai, o que no contexto dos seus escritos significa a Divindade em si mesmo, havia "um outro", uma segunda "Pessoa" (`Prosopon'), enquanto que o espírito completou a tríada. Entretanto, Hipólito reluta em designar o Verbo como Filho de maneira própria a não ser após a Encarnação.

Quanto à unidade divina, Hipólito insiste na unidade essencial de Deus, afirmando que

"quando falo de `um outro', não me refiro a dois Deuses, mas como se (este outro) fosse luz da luz, água de sua fonte, um raio do Sol".

B. Tertuliano.

Seguindo os apologistas, Tertuliano data a "perfeita geração" do Verbo na sua extrapolação para a obra da Criação. Antes do momento da geração, não se poderia dizer que Deus tivesse um Filho num sentido estrito, enquanto que após a geração o termo Pai, que os teólogos anteriores utilizavam referindo-se a Deus como autor da realidade, passou a adquirir o significado especial de Pai do Filho. Enquanto assim gerado, o verbo ou Filho é uma "Pessoa" (`Persona') e "um segundo para com o Pai". Em terceiro lugar, existe o Espírito Santo, "representante" ou "força vigária" do Filho. O Espírito Santo procede do Pai por meio do Filho,

"a Pater per Filium",

sendo "um terceiro para com o Pai e o Filho". O Espírito Santo é também uma "Pessoa", de modo que a divindade é uma "Trindade". Os três são realmente distintos numericamente, sendo "passíveis de serem numerados", ou, na expressão original,

"numerum patiuntur".

Quanto à unidade divina, devido às críticas dos herejes modalistas, Tertuliano esforça-se por mostrar como a trindade revelada na economia não é incompatível com a unidade essencial de Deus. Embora três, as pessoas são manifestações de um único poder indivisível, observando que analogamente, no governo imperial, uma única e mesma soberania pode ser exercida por órgãos coordenados. Entre os três há uma distinção ou disposição, não uma separação, como pode ilustrar-se pelo exemplo do Sol e sua luz. O modo característico de Tertuliano de expressar este fato é a afirmação de que o Pai, o Filho e o Espírito Santo são uma única substância: o Pai e o Filho são uma idêntica substância que não foi dividida, mas estendida. Quando o Salvador afirmou

"Eu e o pai somos um",

mostrou que os três são "uma única realidade", não "uma única Pessoa", existindo uma identidade de substância e não uma mera unidade numérica. O Filho é

"de uma única substância"

para com o Pai, e o Filho e o Espírito Santo são

"consortes da substância do Pai".

Referências:

Hipólito : Contra Noetus 7; 11; 14; 10; 8; 15;
Tertuliano: Adversus Prax. 7; 5; 4; 11; 3; 12; 2; 25; 3;
Idem : Adversus Hermog. 3;
Idem : De Praescr. 13;
Idem : De Pud. 21;
Idem :Apol. 21,12.