3. O plano de Deus.

Grande coisa queremos recomendar, se todavia pudermos o que queremos.

Deus onipotente, que de nada necessita, porque Ele é o sumo e verdadeiro bem, o qual nem pode receber de outrem algo pelo qual cresça, já que todas as coisas provém dEle, nem pode perder algo do que é seu pelo qual venha a morrer, já que nEle imutavelmente consistem todas as coisas, Ele mesmo criou o espírito racional apenas pela caridade, movido por nenhuma necessidade, para que o fizesse participante de sua própria bem aventurança.

Para que ele, porém, fosse capaz de fruir de tanta bem aventurança, fêz nele o amor espiritual, um certo paladar do coração pelo qual este fosse sensibilizado ao gosto da doçura interior, na medida em que por este amor saboreasse a alegria de sua felicidade e a Ele inerisse por um infatigável desejo. Pelo amor, portanto, Deus uniu a si a criatura racional para que, sempre inerindo a Ele, dEle sugasse de algum modo pelo afeto o próprio bem pelo qual seria beatificado, dEle o bebesse pelo desejo e nEle o possuísse pelo gozo.

Suga, ó pequena abelha, suga; suga e bebe a inenarrável suavidade de tua doçura. Submerge-te e plenifica-te, porque Ele não pode falhar se tu não começares a te enfastiar. Adere e inere, toma e frui; se o gosto for sempiterno, sempiterna será também a bem aventurança.

Não nos envergonhemos e não nos arrependamos de ter feito esta palavra de amor; não nos arrependamos de onde procede tanta utilidade, não nos envergonhemos de onde procede tanta honestidade.