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Terminando o Concílio de Constança, quando Poggio Bracciolini voltou para a Itália,
nos anos que se seguiram uma dúzia de humanistas italianos viajaram para a Grécia e
para Constantinopla, financiados pelos governantes das cidades italianas, em busca de
manuscritos dos livros apontados por Quintiliano e outros mais que pudessem existir.
Um só destes humanistas, Giovanni Aurispa, trouxe em uma única viagem 238 livros
novos de Constantinopla.
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"Quando tais exploradores literários
retornavam para a Itália
com seus achados
eles eram recebidos como se fossem
generais vitoriosos,
e os príncipes pagavam regiamente
por uma participação
nos seus espólios.
Com a queda de Constantinopla
muitos clássicos mencionados
nos livros dos escritores bizantinos
se perderam,
mas milhares deles se salvaram,
todos eles tendo vindo parar
no norte da Itália",
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reafirma Will Durant.
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"Uma revolução editorial se iniciou.
Os textos assim recuperados
eram estudados, comparados,
corrigidos e explicados.
Como muitos destes trabalhos
exigiam conhecimentos de grego,
iniciou-se a procura
de professores de grego.
Uma febre começou a se apossar
de todas as cidades italianas,
começando pela cidade de Florença,
em que os novos sábios
eram pesadamente apoiados
pela família governante dos Médici".
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O estilo começou a se tornar mais importante do que a substância, e a arte oratória
começou a se espalhar pelos salões das cortes. Para a maioria dos humanistas,
deslumbrados diante das descobertas que se faziam, os dez séculos entre Constantino e
os anos 1300 DC haviam sido um erro, uma tragédia, uma perda de rumo, um tempo
precioso perdido por causa da divulgação do Cristianismo. Os humanistas tornaram-se
não apenas secretários e conselheiros de senadores, senhores, duques e príncipes, mas
também, com a fascinação de sua eloqüência, transformaram completamente o ideal
pedagógico dos homens das cortes. Posteriormente veremos como este ideal
pedagógico, a concepção do que é a formação do homem, se alastrou não só para as
cortes, mas também para toda a sociedade da época. Ela criou raízes tão profundas que
se tornou praticamente impossível para os homens de épocas posteriores, mesmo para
muitos sábios cristãos, sequer ter uma idéia de como havia sido a educação na época
precedente em que ela havia se desvencilhado das antigas idéias pagãs e não somente
se baseava quase que totalmente nos mais profundos princípios da formação humana
encontrados no Cristianismo, como também levava naturalmente à compreensão destes
mesmos princípios.
Estava-se, com isto, iniciando-se uma nova era para a humanidade, uma época em que
os homens começariam a ser formados de modo a já desde o início poderem
compreender cada vez menos o que o Evangelho tinha a dizer.
No texto de Apresentação à Página de Introdução ao Cristianismo mencionou-se o
fato de como o Cristianismo pode parecer uma coisa simples para os que o abraçam
com sincera boa vontade mas, à medida em que estas mesmas pessoas, em sua boa
vontade, perseveram no chamado da graça e vão crescendo na caridade, chega um
momento em que se deparam com a grandeza de algo que elas começam a perder de
vista, como que percebendo situar-se além de tudo quanto possam imaginar. Começam
a perceber a profundidade que se esconde por trás do Evangelho, da qual também São
Paulo Apóstolo testemunhou na Epístola aos Coríntios, quando disse:
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"Aquilo que Deus preparou
para aqueles que O amam,
nem o olho viu,
nem o ouvido escutou,
nem jamais passou pela mente humana".
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O Evangelho é, pois, algo tão profundo que para se intuir a realidade de sua extensão
que se perde de vista é necessário, conforme ele próprio o diz, usar
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"todo o nosso coração,
toda a nossa alma,
toda a nossa mente
e todas as nossas forças".
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Ora, que acontecerá, porém, se a formação do homem, ainda que às vezes se conceda
que paravelmente se ministre alguma aula de religião, passa a ser inteiramente
trabalhada em toda a sua concepção fundamental e todas as suas linhas mestras para
conduzir à compreensão de outros objetivos cada vez mais estranhos ao Evangelho?
Este homem estará sendo, na verdade, cada vez mais educado para não ser mais capaz
de compreender o Evangelho. Ele poderá dizer-se cristão, mas nada ou muito pouco
será capaz de compreender daquilo para o que Cristo o chama.
Foi um processo assim que principiou a acontecer durante a Renascença, no início
apenas nas cortes dos déspotas italianos. Em toda a Itália a educação das famílias dos
príncipes passou para a mão dos humanistas e, diz Jacó Burckhardt, é sintomático,
quanto a este fato, como
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"a redação dos tratados
de educação dos príncipes,
antes trabalho dos teólogos,
passou agora para o domínio
dos humanistas".
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A partir daí, acrescenta Jacó Burckhardt,
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"iniciou-se uma natural aliança
entre o déspota e o humanista,
ambos os quais repousavam unicamente
sobre os seus próprios talentos".
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