CAPÍTULO 135

Apesar de um ou outro evento menos feliz, o pontificado de Nicolau V foi para a Igreja um tempo de paz. Nada do que havia para se temer no seu envolvimento com o Renascimento chegou a se concretizar.

Um fato eloqüente ocorrido no início do pontificado de Nicolau V ilustra muito bem o espírito que tomou conta da Igreja naqueles anos.

Durante o pontificado de Eugênio IV, o antecessor de Nicolau, um grupo de prelados franceses havia se reunido em Basiléia com a intenção, no dizer de um deles, de

"arrancar a Sé Apostólica dos italianos ou espoliá-la de tal modo que não mais viesse a importar onde fosse a sua sede".

Este grupo decretou a deposição do Papa Eugênio IV e elegeu um novo falso Papa, que tomou o nome de Félix V. Estes fatos coincidiram com a revolta em Roma da família Colonna, que se sentiu prejudicada por Eugênio IV.

Assim, enquanto Eugênio IV fugia em um bote pelo rio Tibre em direção a Florença por causa da revolta popular organizada pela família Colonna em Roma, um outro grupo de soldados milaneses marchavam também para Roma, a mando dos prelados franceses reunidos em Basiléia, com ordens de capturá-lo.

Foi em vão que Eugênio IV, a salvo e governando a Igreja desde Florença e, nove anos depois, já de volta a Roma, admoestou ao falso Papa Félix V que não reabrisse o Cisma que a sua atitude renovava dentro da Igreja.

Morre então Eugênio IV, sobe ao trono pontifício Nicolau V.

Qual não foi a surpresa geral quando subitamente Felix V foi visto dirigir-se espontaneamente para Roma, reconciliar-se com Nicolau V e pedir-lhe humildemente perdão pelo Cisma que havia iniciado. Diante do Papa verdadeiro, ele próprio reconhecia jamais ter sido Papa.

Fatos como este revelam na verdade o prestígio que a Santa Sé tinha e que crescia em toda a parte. A afluência incomum de peregrinos ao Ano Santo de 1450, após a reconciliação de Felix V, foi também em boa parte um notável testemunho do carisma de que era dotado o Papa Nicolau V.

Deste Pontífice Will Durant faz o seguinte balanço final de seu governo:

"Restaurou a paz dentro da Igreja; restaurou a ordem e o esplendor de Roma; fundou a maior de todas as bibliotecas; reconciliou a Igreja e a Renascença; manteve as suas mãos inocentes de toda a guerra; evitou o nepotismo; esforçou-se por extingüir na Itália as guerras suicidas; em meio a rendimentos monetários sem precedentes, conduziu uma vida simples; amou a Igreja e os livros; foi apenas um pouco extravagante nas doações que fazia".

"Um cronista da época não fêz mais do que expressar o sentimento de todos os italianos quando descreveu o Papa como um homem sábio, justo, benévolo, gracioso, pacífico. afetuoso, caridoso, humilde e revestido de todas as virtudes".