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Deve-se dizer também que o fato de que todas as formas legítimas de
ascese conduzem a um mesmo fim não significa que a escolha entre elas
possa ser reduzida a uma questão de simples preferência pessoal. Ao
contrário, razões de caráter mais elevado, motivadas pela própria
virtude da caridade, deveriam orientar a escolha. Todas as formas de
ascese, efetivamente, possuem, por si mesmas ou pelo contexto em que
se encontram inseridas, peculiaridades secundárias mas importantes que
as fazem diferir entre si e que, conforme as circunstâncias, podem
ser avaliadas de modo diverso por aqueles que são movidos, em suas
decisões, pela caridade.
No caso que é o objeto de consideração particular destas notas,
aquela forma de vida espiritual delineada principalmente por Hugo e
Ricardo de São Vitor a que se chamou de escola vitorina, e que nos
parece ser muito claro que tenha sido seguida também fora dela em seus
traços essenciais por outros santos da Igreja como Santo Tomás de
Aquino entre os dominicanos e Santo Antônio de Pádua entre os
franciscanos, ela faz, dentre outras coisas, do estudo, orientado
segundo uma determinada pedagogia, uma forma de ascese. Uma razão
motivada pela caridade para abraçar esta forma de vida não seria a
inclinação pessoal pelo estudo, mas a aptidão especial que tal forma
de vida confere para a prática do mandamento que Cristo tão
insistentemente recomendou a seus discípulos, a de que ensinassem tudo
aquilo que Ele lhes havia ensinado. Do bem que isto pode resultar
são exemplo tanto o próprio Hugo de São Vitor como Santo Tomás
de Aquino, cuja influência benéfica na história da Igreja é
impossível de ser avaliada nas curtas páginas destas notas e que, ao
que tudo indica, está ainda muito longe de terminar.
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