21. Uma dificuldade a respeito do título do Opúsculo sobre o Modo de Aprender.

Não se conhece a história do Opúsculo sobre o Modo de Aprender, sobre como foi escrito ou como foi utilizado. Ele simplesmente nos foi transmitido como constando entre as obras de Hugo de São Vitor.

Seu nome, conforme impresso na Patrologia Latina de Migne, é "De Modo Dicendi et Meditandi", o que significa: "Sobre o Modo de Dizer e de Meditar". Entretanto, considerando o seu conteúdo, e considerando que na língua latina entre as palavras que traduzem os verbos dizer e aprender existe apenas a diferença de um "s", cremos que provavelmente em algum momento esta pequena letra foi suprimida por engano, não necessariamente por parte dos editores da Patrologia, mas talvez até mesmo por algum dos primeiros copistas medievais, e que o verdadeiro nome do opúsculo seja "De Modo Discendi", ou "Sobre o Modo de Aprender".

Seja como for, é o título "Sobre o Modo de Aprender" aquele que nos apresenta de modo mais fiel o conteúdo deste opúsculo. O pequeno trabalho se inicia com uma declaração sobre qual é o "princípio do aprendizado", para logo em seguida versar em sua quase totalidade sobre o estudo e o aprendizado.

No final do trabalho o autor anuncia que irá tratar do tema da eloqüência e das obrigações que a acompanham. Estes últimos parágrafos poderiam justificar, aparentemente, o título tal como se encontra impresso na Patrologia. Observada mais atentamente, porém, esta décima segunda e última subdivisão do opúsculo trata na realidade daqueles que desejam "conhecer e ensinar", e daqueles que desejam "ensinar o bem". Seu verdadeiro tema é, portanto, o ensino, o outro lado do aprendizado. Este tema parece aí ter entrado disfarçado sob as aparências da eloqüência porque na antigüidade a eloqüência era uma qualidade tida por todos em elevadíssimo apreço, e mesmo por muitos quase que compulsivamente procurada como uma obrigação e como um bem que tivesse valor por si mesmo. Hugo de São Vitor, como sábio professor, reconhecia a presença desta visão distorcida em muitos dos alunos que se lhe apresentavam e assim quis, no final deste opúsculo, inserir o bem da eloqüência no contexto da atividade de ensinar, mostrando que sem isto ela se torna algo destituído de valor. Na realidade, todo o valor perene de qualquer ensino está quase que inteiramente concentrado no seu conteúdo de verdade, e só muito secundariamente na sua eloqüência.