XIV. O CLAUSTRO DA ALMA. L. IV, C. 33.

"E recebi o livro da mão do anjo, e o devorei, e era na minha boca doce como o mel.

Mas, tendo devorado o livro, meu ventre tornou-se amargo".

Ap. 10. 10

Desta passagem diz São Gregório Magno:

"Devoramos este livro quando nos alimentamos com avidez das palavras da vida".

Na ordem do anjo para devorar o livro o que mais se repreende senão o torpor de nossa preguiça, pois não buscamos palavras do Senhor e seus mistérios por nós mesmos e, quando no-las são ditas por outros, as ouvimos contra a vontade. Devoramos, portanto, e comemos o livro quando lemos as palavras de Deus. Muitos, porém, as estudam e permanecem em jejum mesmo com este estudo. Muitos ouvem a voz da pregação, mas depois de ouví-la retornam vazios e em jejum porque, ainda que pela mente tenham apreendido a inteligência do Sagrado Discurso, esquecendo e não conservando o que ouviram, não refazem as vísceras do coração.

Os que estudam e não permanecem em jejum são aqueles que entendem e conservam aquilo em que trabalharam. Estes devoram o livro santo, o comem e não permanecem em jejum porque a MEMÓRIA não perde os preceitos da vida cujo sentido puderam apreender. E às vezes ocorre também que, pelo dom da graça celeste, estes apreendem também a palavra da doutrina e a verdade nela contida, que com doçura ruminam interiormente e com a qual apascentam suavemente seus próximos.