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A exposição da doutrina trinitária em Santo Agostinho é
inteiramente baseada nas Sagradas Escrituras.
Porém, em contraste com a tradição que fêz da Pessoa do Pai o
seu ponto de partida, Santo Agostinho principia com a natureza divina
em si mesmo. É esta simples e imutável natureza ou essência que é
Trindade. A unidade da Trindade é assim colocada em primeiro
plano, excluindo-se rigorosamente todo tipo de subordinacionismo.
Tudo o que é afirmado de Deus é afirmado igualmente de cada uma das
três Pessoas.
Diversas conseqüências se seguem desta ênfase na unidade da natureza
divina.
Primeiro, tudo o que pertence à natureza divina como tal deve, numa
linguagem exata, ser expresso no singular, já que esta natureza é
única. Conforme mais tarde o Credo que já foi atribuído a Santo
Atanásio dirá, Credo este que é totalmente agostiniano, embora
cada uma das três Pessoas seja incriada, infinita, onipotente,
eterna, etc., não há três incriados, infinitos, onipotentes e
eternos, mas apenas um.
Segundo, a Trindade possui uma única e indivisível ação e uma
única vontade. Sua operação é "inseparável". Em relação à
ordem contingente as três Pessoas atuam como "um único princípio"
e, como as Pessoas são inseparáveis,
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"assim também
operam inseparavelmente".
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Como exemplo disto, Agostinho argumenta que as teofanias,
manifestações de Deus registradas no Velho Testamento, não devem
ser consideradas, como a tradição patrística primitiva tendia a
considerar, como manifestações exclusivamente do Verbo. Algumas
vezes as teofanias podem ser atribuídas ao Verbo, ou ao Espírito
Santo, algumas vezes ao Pai, outras vezes a todos os Três; outras
vezes ainda é impossível decidir a qual das três Pessoas
atribuí-las.
A dificuldade óbvia que esta teoria sugere é que ela parece ignorar
os diversos papéis das três Pessoas. A isto Agostinho responde
que, embora seja verdade que o Filho, embora distinto do Pai,
nasceu, sofreu e ressuscitou, é igualmente verdade que o Pai
cooperou com o Filho na realização da Encarnação, paixão e
ressurreição. Era conveniente para o Filho, entretanto, em
virtude de sua relação com o Pai, manifestar-se e fazer-se
visível.
Em outras palavras, já que cada uma das Pessoas possui a natureza
divina de uma maneira particular, é apropriado atribuir a cada uma
dElas, na operação externa da Divindade, o papel que Lhe é
apropriado em virtude de Sua origem.
Referências:
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Santo Agostinho : De Civitate Dei 11,10;
Idem :Epistola 120,17; 11,2-4;
Idem : De Trinitate 5,9; 5,10; 8,1; 2,9; 5,
15; 1,7; 2,3; 2,12-34; 3,4-27; 2,9; 2,18;
Idem : C. Ser. Ar. 4;
Idem : Enchirid. 38;
Idem : Sermo 52.
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