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Se, portanto, aprendemos por meio do Apóstolo que há um Israel
segundo a carne e outro segundo o espírito, quando o Salvador nos diz
que
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"Eu não fui enviado senão
às ovelhas desgarradas
da casa de Israel",
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não mais podemos entender esta passagem como aqueles que só conhecem o
que é terreno, isto é, como por exemplo os Ebionitas, os quais
também são chamados de pobres pelo mesmo nome. Ebion, de fato,
significa pobre entre os hebreus. Devemos entender que há um outro
gênero de almas que são também chamadas de Israel, segundo o
significado de seu próprio nome, pois Israel significa `a mente que
vê a Deus', ou `o homem que vê a Deus'.
O Apóstolo revela igualmente coisas deste mesmo gênero sobre
Jerusalém quando nos diz que
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"aquela Jerusalém,
que é de cima,
é livre e é nossa mãe".
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Sobre Jerusalém, em outra de suas epístolas, nos diz também o
seguinte:
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"Vós, porém,
aproximaste-vos do monte Sião
e da cidade do Deus vivo,
da Jerusalém celeste
e da multidão de muitos milhares de anjos,
e da Igreja dos primogênitos,
que estão inscritos no céu".
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Se, portanto, há algumas almas neste mundo que são chamadas de
Israel, e no céu há uma cidade que é chamada de Jerusalém,
seguir-se-á que estas cidades que são ditas do povo de Israel
tenham como metrópole a Jerusalém celeste e que deste modo também
entendamos de toda Judá. É delas que consideramos que os profetas
falaram quando, através de místicas narrativas, profetizaram algo da
Judéia ou de Jerusalém, ou quando algumas santas histórias relatam
ter acontecido este ou aquele gênero de invasão na Judéia ou em
Jerusalém.
Tudo, portanto, o que é narrado ou profetizado de Jerusalém e de
todos os lugares ou cidades que são ditos cidades da terra santa, cuja
metrópole é Jerusalém, se escutarmos as palavras de Paulo como
sendo palavras do Cristo que, segundo a sentença do próprio
Apóstolo, nele fala, devemos entende-lo como referindo- se àquela
cidade que ele chama de Jerusalém celeste.
Deve-se considerar que o Salvador nos queria estimular a uma
inteligência mais elevada destas mesmas cidades quando prometeu, aos
que tivessem dispensado bem o dinheiro que lhes havia sido confiado,
que teriam poder sobre dez cidades (Lc. 19, 17), ou sobre
cinco cidades (Lc. 19, 19).
Se, portanto, as profecias que foram feitas sobre Judá e
Jerusalém, e também sobre Judá, Israel e Jacó, quando não as
entendemos carnalmente, significam mistérios divinos,
conseqüentemente também aquelas profecias que foram proferidas sobre o
Egito ou sobre os egípcios, sobre Babilônia ou sobre os babilônios
ou sobre Sidônia e os sidonitas não devem ser entendidas como
profetizadas deste Egito, desta Babilônia, deste Tiro, ou desta
Sidônia que estão colocados na terra. As coisas que o profeta
Ezequiel profetizou de Faraó rei do Egito (Ez. 29- 32) não
podem convir a nenhum homem que pudesse ter reinado no Egito, assim
como manifestamente o indica o próprio texto da leitura.
Semelhantemente, as coisas que são ditas do príncipe de Tiro não
podem ser entendidas terem sido ditas de algum homem ou rei de Tiro.
E quanto a Nabucodonosor, as coisas que nas Sagradas Escrituras
dele estão escritas em muitos lugares, principalmente em Isaías,
como será possível que as entendamos como ditas de um homem? Não
pode ser um homem aquele do qual se diz
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"ter caído do céu,
luzeiro resplandecente,
que brilhava ao nascer do dia".
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E as coisas que são ditas em Ezequiel sobre o Egito, como aquela
segundo a qual esta nação seria exterminada durante quarenta anos de
tal maneira que nela não se encontraria pé de homem (Ez. 29,
11), e que seria expugnada a tal ponto que por toda a sua terra o
sangue humano ter-se-ia elevado até os joelhos, não sei se alguém
que tenha inteligência poderia entendê-lo como referindo-se a esta
terra do Egito adjacente à Etiópia.
Deve-se, portanto, examinar se é possível entender com mais
dignidade que, assim como existe a Jerusalém e a Judéia celeste e,
sem dúvida, também um povo que habita nela, que é dito Israel,
assim também será possível que vizinhos a estes lugares haja outros
que pareçam chamar-se Egito, Babilônia, Tiro ou Sidônia, e
que os príncipes destes lugares e as almas que neles habitam possam ser
chamados de egípcios, tirenses e sidônios. E que, segundo a vida
que ali conduzem, será um cativeiro aquele pelo qual dizemos a
Judéia ter descido à Babilônia ou ao Egito como que proveniente de
lugares melhores e superiores, ou ter sido dispersa entre outros
povos.
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