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Isto pode ser visto claramente em um opúsculo de teoria pedagógica
daquele tempo, escrito por Hugo de São Vítor, intitulado “Sobre
o Modo de aprender e de Meditar”, de que tiramos as seguintes
passagens, indispensáveis para se compreender o que irá se seguir:
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"Três são as visões da alma racional",
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diz Hugo de S. Vítor,
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"o pensamento, a meditação e a contemplação,
(que constituem entre si uma hierarquia).
O pensamento ocorre
quando a mente é tocada transitoriamente
pela noção das coisas,
ao se apresentar a própria coisa,
pela imagem,
subitamente à alma,
seja entrando pelo sentido,
seja surgindo da memória.
O pensamento pode ser estimulado pela leitura.
A meditação baseia-se no pensamento,
e é um assíduo e sagaz reconduzir do pensamento,
esforçando-se para explicar algo obscuro,
ou procurando penetrar no que
ainda nos é oculto.
O exercício da meditação,
assim entendido,
exercita o engenho.
Como a meditação, porém,
se baseia por sua vez no pensamento,
e este é estimulado pela leitura,
duas coisas há que,
na realidade,
exercitam o engenho:
a leitura e a meditação.
Na leitura, mediante regras e preceitos,
somos instruídos a partir das coisas
que estão escritas.
A leitura também é uma investigação do sentido
por uma alma disciplinada.
A meditação toma depois, por sua vez,
o seu princípio da leitura,
embora não se realizando
por nenhuma das regras
ou dos preceitos da leitura.
A meditação é uma cogitação freqüente com conselho,
que investiga prudentemente
a causa e a origem,
o modo e a utilidade de cada coisa.
Mas acima da meditação
e baseando-se nela,
existe ainda a contemplação.
A meditação é uma visão
livre e perspicaz da alma
de coisas que existem em si
amplamente espalhadas.
Entre a meditação e a contemplação
o que parece ser relevante
é que a meditação é sempre
de coisas ocultas à nossa inteligência;
a contemplação, porém, é de coisas que,
segundo a sua natureza
ou segundo a nossa capacidade,
são manifestas;
e que a meditação sempre se ocupa
em buscar alguma coisa única,
enquanto que a contemplação se estende
à compreensão de muitas,
ou também de todas as coisas.
A meditação é, portanto,
um certo vagar curioso da mente,
um investigar sagaz do obscuro,
um desatar o que é intrincado.
A contemplação é aquela vivacidade da inteligência,
a qual, já possuindo todas as coisas,
as abarca em uma visão plenamente manifesta,
e isto de tal maneira que aquilo
que a meditação busca,
a contemplação possui”.
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