2. Em que sentido Deus é uno.

Entretanto, a unidade pode ser entendida de diversas maneiras. Devemos considerar, por conseguinte, segundo qual delas deverá o Criador ser dito uno.

Existe a unidade por ajuntamento, a unidade por composição, a unidade por semelhança, a unidade por essência e a unidade por identidade.

A unidade por ajuntamento se dá quando dizemos haver um só rebanho em que, entretanto, temos muitos animais.

A unidade por composição se dá quando dizemos haver um só corpo, em que todavia, existem muitos membros.

A unidade por semelhança se dá quando dizemos ser uma só voz aquela que, não obstante, pode ser proferida por muitas pessoas.

Nenhuma destas unidades é, porém, a verdadeira unidade. São ditas unidades apenas por se aproximarem, de alguma forma, daquela unidade que o é de fato. Não seria correto julgarmos o Criador das coisas uno por ajuntamento do diverso, pela composição das partes ou pela semelhança da multidão, se aquilo que em nós é racional já não possui mais em si próprio nenhum destes modos de unidade. Pela nossa própria razão podemos comprovar que tudo o que em nós é composto por uma multidão de partes não é racional, mas apenas adjunto ao racional. Se, pois, o nosso racional já possui uma verdadeira unidade, quanto mais não deveremos crer possuí-la aquele que é o seu Criador?

Só possui verdadeira unidade aquele que é uno por essência, para quem o seu todo é ser um só, sendo simples naquilo que é. Tudo o que é verdadeiramente uno é simples, não podendo ser dividido em partes por não possuir composição de partes.

O Criador de todas as coisas, portanto, possui unidade naquilo que é por ser inteiramente uno e simples.