CAPÍTULO 126

Mas, considerando-se o estado de profunda decadência material em que a sede da Igreja havia mergulhado àquela época, cabe perguntar onde Nicolau V pensou que encontraria o dinheiro que seria necessário gastar para realizar empreendimentos deste porte.

Nicolau V havia sido eleito no final de 1447. Aproximava-se, portanto, o ano santo de 1450. Ele acreditava piamente que, com as visitas dos peregrinos à cidade de Roma, encontraria os fundos necessários à execução de tudo quanto ele havia planejado.

Era provavelmente uma perspectiva piedosamente exagerada por parte de um Papa que tinha uma propensão natural ao otimismo e a considerar mais o lado bom do que os aspectos negativos dos homens. Mas o fato foi que, dois anos mais tarde, em 1450, o ano santo rendeu muitíssimo mais do que as mais otimistas expectativas deste Papa.

A História registra que durante o ano santo de 1450 a afluência dos peregrinos a Roma foi de uma magnitude totalmente sem precedentes, sem explicações aparentes para tanto. Os testemunhos oculares da época compararam o afluxo de peregrinos a uma multidão imensa de formigas. A quantidade de pessoas em Roma era tão grande que a Santa Sé viu-se obrigada a promulgar sucessivos decretos restringindo o tempo de permanência dos peregrinos na cidade. Inicialmente foi proibida uma estadia superior a cinco dias. Posteriormente verificou-se que cinco dias deveria ser considerado um tempo excessivo; Nicolau V foi obrigado a promulgar outro decreto proibindo a permanência dos peregrinos em Roma por mais de três dias. Algum tempo depois, este tempo teve que ser reduzido ainda para apenas dois dias. A quantidade de dinheiro que assim tão espontaneamente afluía para Roma era tão grande que nas cidades do norte da Itália começou-se a fazer sentir a falta de moeda circulante em ouro. Pouco depois começaram a chover protestos dos governantes italianos no sentido de que todo o dinheiro da Itália estava escoando para Roma. Posteriormente reclamações semelhantes começaram a vir também dos países situados no restante da Europa, para além dos Alpes.

Nem sempre, porém, a celebração do ano santo havia sido algo tão entusiástico como neste ano de 1450.

O primeiro ano santo havia sido decretado pelo Papa Bonifácio VIII em 1300 como um jubileu religioso a ser comemorado em Roma a cada cinqüenta anos.

Em 1350, mesmo com a Cúria estabelecida na França, foi celebrado em Roma o segundo ano santo. Foi a caminho de Roma, para a celebração deste ano santo, que Petrarca fêz amizade com Bocaccio em Florença, amizade que mais tarde viria a detonar o interesse da Renascença pela literatura grega.

Não temos notícia se, durante o Cisma, em 1400, tenha havido esta celebração, mas o fato é que, em 1500, durante o Pontificado do Papa Alexandre VI, a Igreja estava novamente em dificuldades financeiras. Sendo estas dificuldades muito menores do que as do tempo do Papa Nicolau V, e estando a cidade de Roma já em condições consideravelmente melhores para a hospedagem dos peregrinos, todos estavam na expectativa de que talvez viesse a repetir-se o milagre de 1450. Nada disso, porém, veio a acontecer. As doações dos peregrinos foram uma verdadeira decepção. A Igreja logo entendeu que desta vez teria que buscar socorro financeiro em outro lugar.