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pois,
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"dia após dia,
a sua salvação".
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Destes dias falou o profeta Oséias, ao dizer:
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"Vivificar-nos-á depois de dois dias;
no terceiro dia nos reerguerá".
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Ora, todos nós ouvimos como Nosso Senhor Jesus Cristo, ao
ressuscitar no terceiro dia, vivificou-nos e re-ergueu-nos da
morte, e com isto exultamos. Justo é agora que o recompensemos pelo
seu benefício. De uma certa forma já tínhamos ressuscitado nEle ao
ter ressurgido no terceiro dia; resta agora que nós, por causa dele e
por Ele, ressuscitemos também no terceiro dia fazendo com que ele
ressuscite em nós.
Não é de se crer que não queira ser retribuído naquilo que antes
quis nos dar. Assim como ele quis ter três dias para realizar em si e
por si a nossa salvação, assim também nos concedeu três dias para
que realizemos, por meio dele, a nossa salvação. Aquilo, porém,
que se realizou nele não foi apenas remédio, mas também exemplo e
sacramento; foi necessário, pois, que se realizasse externamente e
de modo visível, para que significasse aquilo que em nós deveria
realizar-se de modo invisível. Seus dias foram exteriores; nossos
dias devem ser buscados internamente.
Temos, portanto, três dias interiores pelos quais nossa alma se
ilumina. Ao primeiro dia pertence a morte; ao segundo, a sepultura;
ao terceiro, a ressureição. O primeiro dia é o temor, o segundo a
verdade, o terceiro dia é a caridade.
O dia do temor é o dia da potência, é o dia do Pai; o dia da
verdade é o dia da sabedoria, dia do Filho; o dia da caridade é o
dia da benignidade, dia do Espírito Santo.
O dia do Pai, o dia do Filho e o dia do Espírito Santo, no
resplendor da divindade são um só dia; mas na iluminação da nossa
mente, o Pai, o Filho e o Espírito Santo têm como que dias
distintos; não para se crer que a Trindade, inseparável na sua
natureza, possa ser separada em sua operação, mas para que a
distinção das pessoas possa ser compreendida na distinção das
obras.
Quando, pois, nosso coração exulta ao considerar com admiração a
onipotência de Deus, é o dia do Pai. Quando a sabedoria de
Deus, examinada pelo conhecimento da verdade, ilumina nosso
coração, é dia do Filho. Quando se nos apresenta a benignidade de
Deus a inflamar o nosso coração, é dia do Espírito Santo.
A potência faz tremer, a sabedoria ilumina, a benignidade alegra.
No dia da potência morremos pelo temor. No dia da sabedoria somos
sepultados pela contemplação da verdade da pompa deste mundo. No dia
da benignidade ressuscitamos pelo amor e pelo desejo dos bens eternos.
Foi por isto que Cristo morreu no sexto dia da semana, no sétimo
ficou no sepulcro e ressuscitou no oitavo. É de modo semelhante que no
seu dia a potência nos mata pelo temor para os fortes desejos da
carne; em seguida a sabedoria no seu dia nos sepulta no esconderijo da
contemplação; finalmente, em seu dia a benignidade,
vivificando-nos pelo desejo do amor divino, nos faz ressuscitar; pois
o dia sexto pertence ao trabalho, o sétimo ao repouso, e o oitavo à
ressurreição.
Hugo de São Vítor
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