OBJEÇÃO À SOLUÇÃO DA QUESTÃO DUCENTÉSIMA SEXAGÉSIMA SEXTA.

Parece, porém, que a justiça provenha de méritos precedentes, como pode ser visto no caso do centurião Cornélio, narrado no décimo de Atos. Suas orações obtiveram- lhe que pela pregação de Pedro se convertesse e recebesse a fé. Esta fé proveio da graça, mas a graça foi alcançada pelas obras.

SOLUÇÃO.

Não se pode dizer que a graça ou a justiça provenha das obras pois, se assim fosse, o homem poderia justificar-se pelas obras sem a graça, o que não pode ser. Ora, o fato de Cornélio ter orado para que recebesse a fé isto já sucedia por causa de uma graça precedente, pela qual lhe foi também concedida uma graça maior, que foi a graça justificante. Não foi, de fato, inteiramente sem a graça que ele creu em um só Deus e, como dizem os doutores, possuía fé na Encarnação, embora ainda não soubesse que o Verbo se tivesse encarnado, o que veio a saber depois pela pregação de Pedro.

Deve-se notar que uma é a compunção da inveja, pela qual alguém se compunge, se aflige e se consome por causa dos bens alheios; outra é a compunção da culpa pela qual alguém é atormentado na própria consciência, como Judas, que se enforcou no laço pelo seu crime. Outra, finalmente, é a compunção da graça, que ou é a dos principiantes, que se arrependem dos males para que deles se abstenham, ou é a dos perfeitos, que reverenciam a Deus por amor.