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Para que a fé, portanto, já experienciada, crescida, aumentada e
já conduzida pela caridade, possa também inundar a tudo e a todas as
coisas, como no céu o faz a visão beatífica, da qual ela é na
terra um substituto temporário, e para que possa estender-se também
para além da vida de oração, deve-se aprender a considerar, em
primeiro lugar, que tudo o que se faz durante a atividade diária pode
ser dividido em tempos em que tende a predominar a ação e em tempos em
que tende a predominar a imaginação.
São tempos em que dizemos tender a predominar a ação aqueles em que
realiza- se algo com conteúdo objetivo. São tempos de ação,
neste sentido, aqueles em que realiza-se um trabalho, estuda-se,
ora-se ou participa-se da liturgia.
São tempos em que dizemos tender a predominar a imaginação aqueles
que consistem principalmente no estar-se em trânsito de um tempo de
ação a outro. Nestes tempos a atividade dispersiva do imaginário,
estimulada pela desordem de nossas paixões, tende a predominar.
Devemos procurar que, ao iniciar um tempo de imaginação, nossa
atenção se dirija à recordação das Escrituras que nos alimentaram
na oração, e desta à fé conduzida pelo amor, de tal modo que o
amor, que deve assumir o controle e a direção da inteligência,
cresça de dia a dia.
Devemos procurar também que, ao iniciar um tempo de ação, o
façamos sempre explicitamente por um amor atual a Deus, evitando
dispersar-se por outras coisas além da ação oferecida, quando esta
dispersão estiver sendo gerenciada, em última análise, pelo
próprio passional, ainda que se tratem de coisas inocentes.
Devemos aprender a considerar que a atividade externa, além de ter um
objetivo próprio que pode indiretamente ser dirigido a Deus, deve ser
em primeiro lugar um exercício para amarmos e recordar-nos de Deus.
O melhor modo e o melhor motivo pelo qual as coisas podem ordenar-se
ao amor e à lembrança de Deus surge quando elas se ordenam ou
constituem o próprio trabalho de ensinar. É neste sentido que ensinar
foi-nos pedido por Cristo como a maior prova de amor (Jo. 21,
15-17; Mt. 25, 31-46; Mt. 28, 19-20; Mt.
5, 19; Dn. 12, 3). E neste sentido também se diz no livro
de Provérbios:
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"Nunca se afastem de ti
a misericórdia e a verdade;
põe-nas à roda de teu pescoço,
e grava-as sobre as tábuas
de teu coração".
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E, no Cântico dos Cânticos:
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"Despojei-me de minha túnica,
e hei de vestí-la novamente?
Lavei os meus pés,
e hei de tornar a sujá-los?
Mas quando o meu amado
meteu a sua mão pela abertura da porta,
minhas mãos destilaram mirra,
e meus dedos estavam cheios
da mirra mais preciosa".
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E também, nos Atos dos Apóstolos:
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"Nós, porém,
ocupar-nos-emos totalmente
na oração
e no ministério da Palavra".
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