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Um outro argumento para se chegar à mesma conclusão é o seguinte. O bom
funcionamento da inteligência humana, isto é, o funcionamento da inteligência humana
conveniente com a sua natureza, requer uma série de elementos de caráter não
intelectual. Requer, em primeiro lugar, um corpo material. Requer, em segundo lugar,
órgãos dos sentidos. Requer, em terceiro lugar, a faculdade da imaginação, pela qual
as imagens que foram apresentadas em outro tempo pelos cinco sentidos são
conservadas e relembradas no interior do homem. A imaginação não é a inteligência. A
imaginação é a persistência e o prolongamento dos dados provenientes dos cinco
sentidos dentro do homem e é sobre este material da imaginação que irá trabalhar a
inteligência. Sem estas coisas, corpo, sentido e imaginação, a inteligência não pode
trabalhar ou, pelo menos, não pode trabalhar convenientemente.
Mas estas coisas, isto é, corpo material, sentidos e imaginação, que são prévias ao
funcionamento conveniente da inteligência, podem existir e funcionar de modo perfeito
sem a existência da inteligência. É o que vemos acontecer nos animais inferiores, que
têm corpo, sentidos, sentidos às vezes até mais perfeitos do que os do homem, e
inclusive, dependendo do animal, até uma imaginação sensível desenvolvida ser
possuir, contudo, atividade inteligente.
Ora, aquilo que para existir ou, pelo menos, para existir convenientemente segundo sua
natureza necessita de outros que porém não só podem existir como também podem
existir perfeitamente sozinhos, tem que ser posterior no tempo. Portanto, conclui-se daí
que os animais tem que ser posteriores no tempo à natureza material, que os homens,
por sua vez, tem que ser posteriores no tempo aos animais, e que o homem é, na ordem
do tempo, o último dos seres a aparecer no mundo real.
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