6. Atitude mundial diante da questão.

No fim do século dezenove e no início do século vinte todos os países da Europa Ocidental, e a França de modo especial, estavam preocupados em encontrar uma maneira de evitar que a população diminuísse, e não vice versa. Como já foi anteriormente explicado, em todos estes países a taxa de natalidade estava diminuindo.

Em 1896 o médico francês J. Bertillon fundou a "Aliança Nacional para o Crescimento da População Francesa", dedicada à pesquisa demográfica e à divulgação do problema do decréscimo da natalidade. Esta sociedade estabeleceu em 1902 uma Comissão Extra Parlamentar para a elaboração de um relatório sobre o declínio das taxas de natalidade.

Pouco a pouco o governo francês foi adotando as medidas propostas pelo grupo de Bertillon para favorecer o crescimento demográfico. Em 1920 a Assembléia Nacional francesa aprovou uma lei proibindo a disseminação de informações sobre contraceptivos. Logo após a primeira guerra mundial foi estabelecido um protótipo de política pró natalista entre os trabalhadores e funcionários franceses da área administrativa. Em 1932 as mesmas medidas começaram a ser aplicadas para todas as indústrias e ocupações. Como a taxa da natalidade continuasse a cair, em 1939 foi promulgado o "Código da Família", um aparato complicadíssimo de medidas para favorecer o crescimento populacional. O Código da Família francês representou a mais profundamente elaborada tentativa de um país europeu para rearranjar toda a sua estrutura salarial de acordo com as necessidades de ordem familiar. Outros países, embora não estivessem tão desesperados, adotaram medidas do mesmo gênero. Exemplos disto foram a Bélgica, a Alemanha e a Itália. Até mesmo nos países escandinavos foram tomadas medidas para favorecer o crescimento demográfico, não obstante a legislação ali existente que permitia o aborto.

No plano internacional reuniu-se em 1910 uma conferência intergovernamental para suprimir o tráfego de publicações obscenas, onde foi levantado seriamente a questão de se suprimir a nível internacional a propaganda de métodos contraceptivos. Em 1922 a própria Liga das Nações tomou a iniciativa de patrocinar uma nova conferência baseada nos moldes daquela realizada em 1910. A conferência da Liga das Nações foi realizada no segundo semestre de 1923 em Genebra, sob o título de "Conferência Internacional para a Supressão da Circulação e do Tráfico de Publicações Obscenas". Novamente levantou-se questão de se suprimir, através de acordos internacionais, qualquer propaganda de métodos contraceptivos. Nas duas vezes a proposta não foi aceita, mas nos documentos finais ficou registrada a importância e a gravidade que se atribuía ao problema.

Nos Estados Unidos era sabido que a população aumentava rapidamente, mas isto, em vez de ser visto como um problema, era algo considerado desejável. A lei denominada Comstock Act, assim chamada por causa de Anthony Comstock, um membro do corpo policial que a havia ideado, enquadrava os defensores do controle da natalidade dentro das leis federais contra a obscenidade.

Quanto à situação demográfica dos demais países da América Latina, da Àfrica e da Àsia, esta era completamente ignorada pelo mundo da época. Na Índia o governo britânico havia iniciado um sistema homogêneo de registros de nascimentos e mortes em 1864; três anos depois iniciou-se o levantamento de dados para o primeiro censo e desde 1881 estes passaram a se suceder regularmente de dez em dez anos. Embora fosse comum entre os indianos a opinião segundo a qual haveria naquele país uma certa superpopulação, evitava-se tocar neste assunto para não fornecer à Coroa Inglesa contra argumentos para a tese de que na Ïndia a pobreza era causada pela exploração britânica.

Na Europa Ocidental o país que estava melhor situado em relação ao problema do desaparecimento populacional era a Inglaterra. Apesar de alguma tentativas feitas de se levantar esta questão, o pensamento malthusiano era dominante em solo britânico.