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Todos, portanto, os que se ocupam com a verdade, pouco se preocupem
com nomes e palavras, porque cada povo tem diversos costumes de
palavras. Preocupem-se em buscar mais o que significa, do que com
quais palavras se significa, principalmente em coisas tão grandes e
tão difíceis, como quando se busca, por exemplo, se há alguma
substância que não possa ser entendida nem pela cor, nem pelo
hábito, nem pelo tato, nem pelo tamanho, mas que seja apenas
visível pela mente, seja a qual nomeada como se o queira. Os gregos
a chamam de "assomaton", isto é, incorpóreo, as divinas
Escrituras a chamam de invisível, como quando Paulo diz Cristo ser
a imagem invisível do Pai (Col. 1, 15), para pouco depois
dizer que por Cristo foram criadas todas as coisas, as visíveis e as
invisíveis (Col. 1, 17). Vemos, assim, que que Paulo
declara haver também entre as criaturas algumas que são invisíveis
segundo a propriedade de suas substâncias. Estas, porém, embora
não sejam corporais, usam, todavia, os corpos, ainda que eles
mesmos sejam, segundo a substância, melhores do que os corpos. A
substância da Trindade, porém, que é princípio e causa de todas
as coisas, da qual são todas, por qual são todas e na qual são
todas, não se pode crer que seja nem corpo, nem em corpo, mas que
seja de todo incorpórea.
Exortados assim brevemente pela própria lógica e coerência do
assunto, embora nos tenhamos estendido um pouco, seja suficiente o que
dissemos para mostrar que há algumas coisas cuja significação não
pode ser explicada por nenhum discurso da língua humana, mas que são
declaradas por uma inteligência mais simples do que as propriedades de
quaisquer palavras. A esta regra deve ater-se também a inteligência
das letras divinas, e considere-se o que se diz não pela vileza da
palavra, mas pela divindade do Santo Espírito que inspirou quem as
escreveu.
Orígenes
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