4. A atitude dos primeiros cristãos diante do aborto provocado.

É por este motivo que, muito ao contrário do Velho e do Novo Testamento, os escritos dos cristãos dos primeiros séculos estão repletos de passagens que condenam o aborto.

A primeira clara condenação do aborto na literatura cristã se encontra em um livro do primeiro século chamado Didaché, também conhecido como O Ensinamento dos Doze Apóstolos. O texto diz claramente:

"Não matarás a criança por aborto. Não matarás aquilo que foi gerado".

A Didaché não faz parte do cânon das Sagradas Escrituras. Entretanto, é um escrito cristão do primeiro século, e que foi tida em tanta consideração nos tempos primitivos da Igreja que muitos a julgaram de importância comparável aos livros do Novo Testamento.

Outros cristãos dos primeiros tempos que explicitamente condenaram o aborto em seus escritos foram Clemente de Alexandria, Atenágoras e Tertuliano, no século II, São Basílio, São João Crisóstomo, Santo Ambrósio, São Jerônimo e Santo Agostinho no século IV, entre outros. Através destes textos ficamos sabendo que os abortos eram feitos, naquela época, principalmente por meio de drogas.

A Epístola 22 de São Jerônimo assim se expressa:

"Algumas mulheres quando percebem que conceberam ilicitamente tomam venenos para aborto. Freqüentemente morrem inclusive elas próprias e assim são conduzidas para o inferno pela culpa de três crimes: por matarem a si próprias, pela infidelidade para com Cristo e por parricídio de seus próprios filhos não nascidos".

No Pedagogo, Clemente de Alexandria diz:

"Aquelas mulheres que ocultam a libertinagem sexual tomando drogas estimulantes para provocarem aborto perdem completamente a própria humanidade juntamente com o feto".

Athenágoras, no Legatio pro Christianis, deixou escrito:

"As mulheres que tomam drogas para provocarem aborto são culpadas de homicídio, e elas terão de responder perante Deus por causa deste aborto".

Aos cristãos que provocassem aborto e se arrependessem se reservava uma penitência, que variava conforme o critério do bispo do local. Em alguns casos a duração desta penitência chegou a ser de quinze anos.