|
Eis que, conforme podemos manifestamente concluir pelo que já
dissemos, a perfeição de uma pessoa exige o consórcio do outro.
Descobrimos que nada é mais glorioso, nada mais magnificiente, do
que nada querer ter que não queiras comunicar. A pessoa que for
sumamente boa não quererá, portanto, carecer do consorte de sua
majestade. Sem dúvida, porém, para aquele cuja vontade for
onipotente, será coisa necessária que seja tal qual quiser sê-lo.
Aquele que, entretanto, tiver uma vontade imutável, irá querer
para sempre o que tiver querido uma só vez. É necessário,
portanto, que a pessoa eterna tenha outra pessoa coeterna, nem uma
terá podido preceder a outra, nem uma suceder a outra; pois naquela
eterna e imutável divindade nada poderá mudar como se se tornasse
antiquado, nem tampouco nada de novo poderá sobrevir-lhe. É
impossível, por conseguinte, que as pessoas divinas não sejam
coeternas. Onde, portanto, existir a verdadeira divindade, ali
haverá a suma bondade, ali haverá a plena bem-aventurança. A suma
bondade, conforme foi dito, não pode existir sem a perfeita
caridade, nem a perfeita caridade sem a pluralidade de pessoas. A
plena bem- aventurança, porém, não pode existir sem a verdadeira
incomutabilidade, nem a verdadeira incomutabilidade sem a eternidade.
A pluralidade das pessoas exige a verdadeira caridade, a eternidade
das pessoas a verdadeira incomutabilidade.
|
|