12. Comentário às objeções de William James.

As objeções de William James à realidade da causalidade final na natureza, formuladas circunstancialmente na introdução de um tratado que não se destinava a discutir especificamente esta questão, são bastante representativas das dificuldades do homem moderno a este respeito.

Ao compararmos os argumentos de William James com os de Aristóteles, o que mais impressiona não é tanto a discordância entre as conclusões finais pelas quais ambos interpretam o que viram, mas o fato de que eles afirmam que já no próprio dado observado na natureza coisas estão vendo coisas em si mesmas inteiramente diversas e inclusive opostas.

Aristóteles nos diz que é prova manifesta da existência da causalidade final na natureza que os entes naturais se comportam sempre do mesmo modo. São os entes inteligentes que se comportam de modos diferentes e que podem, pelo fato de serem dotados de inteligência, variar os fins que perseguem. Na natureza, o fim é fixo, porque o ente natural em geral, não sendo dotado de conhecimento, possui uma forma natural invariável. Vice versa, a prova de que seres como os homens são dotados de conhecimento está na possibilidade que eles manifestam de poderem modificar os fins em vista dos quais agem.

William James afirma observar na natureza exatamente o contrário de quanto diz Aristóteles. A prova de que os seres inteligentes perseguem fins determinados consiste não no fato de que eles variam os fins almejados, mas no fato de que eles não variam estes fins. Os seres inanimados, ao contrário, segundo William James, manifestamente não agem tendo em vista a algum fim porque o suposto fim que eles estariam buscando pode variar indefinidamente segundo as circunstâncias. De fato, continua William James, demonstra-se haver uma mentalidade presente e atuante num determinado fenômeno precisamente quando se constata a invariabilidade dos fins almejados.

Conforme observou corretamente Joel Nunes, é nítido que o problema fundamental da argumentação de William James e de sua incapacidade de entender o caráter teleológico da natureza está em que ele interpreta do ponto de vista psicológico um fenômeno que é de natureza essencialmente física, e não psicológica. De fato, a causalidade final é uma noção proveniente do mundo natural, de caráter anterior a qualquer noção psicológica. Ela entra no domínio psicológico oriunda do domínio natural, e não vice versa.

Mas, para que parecesse óbvio a William James e à maioria dos homens modernos o que não era óbvio para Aristóteles e para a maioria dos pensadores antigos, foi necessária a intervenção de outros fatores que mencionaremos a seguir, nas demais partes deste trabalho.