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Tem então a palavra Fernando de Azevedo:
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“É verdade que está na consciência de todos haverem falhado,
em parte ou na sua integridade,
as sucessivas reformas por que tem passado
o ensino secundário na República.
Não é preciso perder tempo
em repetir provas desta afirmação,
aceita unanimemente,
de que até hoje não se planejou uma só reforma
que não trouxesse,
com os seus melhores propósitos,
o germe de uma pronta reação.
Este fato que acompanha periodicamente
todas as reformas federais
é tão indiscutível
que os governos que se sucedem
são os primeiros a reconhecê-lo e a proclamá-lo,
apelando, e com razão, para novas reformas.
É estranho que, entre nós,
as crises mais agudas do ensino
venham imediatamente após as reformas
que deveriam ser antes instrumentos de equilíbrio
propostos com o fim de colocar a legislação trabalhada
cada vez mais em harmonia com as necessidades do meio.
As causas de terem falhado as reformas
provém de um vício fundamental:
toda reforma é, substantivamente,
um problema político,
no sentido mais alto do termo,
e, adjetivamente, um problema técnico.
Mas a face técnica do problema
é sempre relegada a um plano secundário.
A Reforma João Luís Alves de 13 de janeiro de 1925,
com três edições que lhe introduziram
alterações substanciais,
teve um objetivo fundamental,
declarado e repetido,
a moralização do ensino,
a que se ordenavam suas medidas principais.
Ora, em um país em que se eleva
à categoria de ideal supremo e inspirador
de uma reforma de ensino
a sua moralização,
ou o ensino se degradou a tão baixo nível
que foi preciso antes de tudo re-erguê-lo
à condição fundamental de dignidade,
ou a nossa cultura desceu tanto
que perdemos a capacidade
da visão científica e geral do árduo problema
e a coragem de enfrentá-lo
em seus aspectos dominantes.
A moralização do ensino não pode ser objetivo,
porque é a base,
a condição essencial de todas as reformas.
A chave do problema do ensino secundário
está na fixação preliminar
da finalidade que deve ter.
Entre nós não há problema de ensino
que tenha custado tanto a encontrar a solução exata
como o do ensino secundário.
À mercê de todas as espécies de experiências,
não houve ainda lei que,
arrancando-o da situação a que desceu,
o elevasse às alturas
de um verdadeiro aparelho de educação,
interiço e eficiente,
com claro espírito de finalidade.
Por mais duro que possa parecer,
é ainda verdade que o nosso ensino secundário
é dos mais defeituosos, incompletos e improdutivos
que possam existir”.
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