|
Numerosas passagens do Evangelho, de fato, todas elas escritas fora de qualquer dúvida
antes de todo o desenrolar da história da Igreja, mostram com abundante evidência que
Jesus soube o que aconteceria à instituição que Ele estava prestes a fundar.
Destas, a passagem que é talvez a mais clara de todas está no décimo terceiro capítulo
do Evangelho de São Mateus. Nela Jesus contou primeiro esta parábola:
|
"O Reino dos Céus é semelhante
a um homem que plantou
boa semente de trigo no seu campo.
Enquanto o homem dormia,
veio o inimigo,
semeou joio no meio do trigo
e foi-se.
E, tendo crescido o trigo
e dado o fruto,
apareceu também o joio.
Chegando os servos do pai de família,
disseram-lhe:
`Senhor, porventura não semeaste tu
boa semente de trigo
no teu campo?
De onde veio, pois, o joio?'
Ele disse:
`Algum homem inimigo
fêz isto'.
Os servos disseram-lhe:
`Quereis que vamos
e o arranquemos?'
Ele respondeu-lhes:
`Não, para que talvez não suceda
que arrancando o joio
arranqueis juntamente com ele
o trigo.
Deixai crescer uma e outra coisa
até a ceifa,
e no tempo da ceifa direis
aos segadores:
Colhei primeiramente o joio,
e atai-o em feixes, para queimar;
o trigo, porém,
recolhei-o no meu celeiro".
|
|
Ora, o que é impressionante nesta parábola é que, seis versos mais adiante o próprio
Jesus, rogado para tanto pelos Apóstolos, interpretou a mesma parábola que Ele havia
exposto.
Na interpretação de Jesus (Mt. 13, 37-43), o homem que semeou a boa semente de
trigo é Ele próprio, Jesus Cristo.
O campo em que a semente foi lançada, ainda na interpretação de Jesus, é o mundo.
A boa semente seriam os bons cristãos, os
Logo depois que Ele, Jesus, houvesse semeado sua boa semente no mundo, continua a
interpretação de Jesus, durante a noite viria o demônio, o inimigo, que semearia uma
outra semente diferente daquela que havia sido semeada, no mesmo campo onde Jesus
havia lançado a sua. O joio, continua Jesus, são aqueles que são filhos do demônio.
Porém, ao escolher para a sua parábola as figuras do trigo e do joio, Jesus quis dizer
algo mais do que incluíu neste ponto em sua interpretação da parábola, algo que era tão
evidente para aqueles homens que conviviam junto aos trigais da Palestina que não
precisava ser mencionado. Jesus deixou neste ponto de dizer que o joio é uma planta
igual ao trigo em todos os detalhes e, portanto, impossível de ser diferenciada do trigo,
exceto por um detalhe. Este importante detalhe para a interpretação da parábola
consiste em que o joio não se diferencia em nada do trigo até a época da colheita;
chegada porém, a época da colheita, verifica-se que o joio, que até então era
impossível de ser diferenciado do trigo, ao contrário do verdadeiro trigo, não dá fruto
algum na espiga. Só, portanto, na época da colheita, quando ambas as plantas estão
maduras, é que se torna possível saber quem era o trigo e quem era o joio.
Os primeiros cristãos já haviam percebido a importância desta observação para o
entendimento desta parábola de Cristo. Diz, de fato, São Jerônimo, escrevendo por
volta do ano 400 DC o seu Comentário ao Evangelho de São Mateus, que
|
"entre o trigo e o joio,
enquanto ainda são erva,
e a cana ainda não produziu espiga,
há uma grande semelhança
e não há nenhuma
ou apenas uma pequeníssima
diferença para poderem
ser diferenciados".
|
|
|
Migne,
Patrologia Latina 26, 93
|
Ora, na continuação da interpretação da parábola do joio e do trigo que Jesus ofereceu
aos Apóstolos, ele diz que este
|
"tempo da ceifa
é o fim do mundo".
|
|
De modo que quer nos parecer que nesta parábola Jesus quis relatar toda a história da
Igreja, pois ela se inicia com a semeadura, que é a própria obra de Jesus enquanto Ele
estêve na terra, e termina com a ceifa que é, segundo suas palavras, o fim do mundo.
Jesus, portanto, soube que logo após a sua pregação a Igreja atravessaria até o fim de
sua história sérios problemas internos, que a ela pertenceriam homens bons e maus, e
que não seria possível uma purificação radical dentro da Igreja porque a planta
daninha que foi semeada às escondidas seria exteriormente de muito difícil distinção
daquela que Ele mesmo havia semeado a não ser, segundo a parábola parece querer
dar a entender, próximo ao fim dos tempos, quando esta distinção começaria enfim a se
tornar evidente. Até lá só o Senhor sabe, com certeza,
E, não obstante Jesus saber de tudo isto antes de morrer, apesar disso Ele ofereceu sua
vida a Deus para que a Igreja fosse fundada. Ele evidentemente julgou que valeria a
pena pagar este preço; apesar de toda a sua história futura, Jesus julgou que a Igreja,
mesmo com o joio misturado ao trigo, estaria cumprindo suficientemente o papel que
Ele esperava dela e que motivou a sua vinda ao mundo.
A questão então é compreender que papel é este.
|
|