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Muitas coisas, porém, poderiam ser objetadas a estes argumentos.
Primeiramente, poderia dizer-se que, se o lugar existe e é algo,
deveria ser um corpo, porque a ele se atribuem três dimensões. Mas
neste caso, haveria dois corpos coexistindo juntos, o corpo que está
no lugar e o próprio lugar. Porém, se este lugar fosse um corpo,
deveria estar em um lugar assim como o primeiro corpo, e, deste modo,
deveria haver infinitos lugares coexistindo no mesmo lugar.
Ademais, tudo o que existe tem que ser feito de algo. Se o lugar
existe, e é feito de algo, teríamos que explicar então como duas
coisas poderiam ocupar o mesmo lugar no espaço, e por qual motivo isto
seria uma exceção a uma regra que só ocorre se uma destas duas coisas
for o próprio lugar. Se dissermos, por outro lado, que o lugar não
é feito de nada, não se entenderia como uma coisa que fosse feita de
nada poderia existir.
Ademais, o lugar não é causa de nada. Ora, se tudo pode ser
explicado pelas demais causas sem necessidade de recorrer à existência
real do lugar, o lugar e os diversos lugares constituiriam um cosmos
paralelo ao próprio cosmos visível. Vemos, porém, que na natureza
tudo possui razão de ser. Teríamos, com isto, que desenvolver uma
teoria que explicasse qual a razão de existir deste outro cosmos
paralelo, imerso dentro do primeiro, que nenhuma relação de
causalidade tem com este primeiro, ou então explicar por que este é o
único caso conhecido em que existe algo sem razão de ser.
Ademais, se o lugar existe, supõe-se que tudo o que existe deva
estar em um lugar. Se o lugar existe, portanto, ele também terá
que estar por sua vez em um lugar. Para cada corpo haveria infinitos
lugares, e o universo dos lugares seria muitíssimo maior do que o que
efetivamente vemos.
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