CAPÍTULO 133

Esta doutrina de Aristóteles está também de acordo com uma resposta de Santo Tomás de Aquino a uma Questão Quodlibetal.

Este termo, que vem do latim Quodlibet e que significa "qualquer que seja", origina- se de um exercício das universidades medievais em que um mestre era colocado diante de muitos alunos e estes poderiam fazer-lhe uma pergunta qualquer que fosse diante da qual o mestre deveria responde-lhes logo em seguida com coerência, qualquer que fosse a pergunta, e esclarecer todas as objeções.

Ora, aconteceu certo dia um fato cujo texto original não temos diante de nós e que portanto não transcreveremos com as mesmas palavras. Em um destes exercícios um aluno se levanta e pergunta a Tomás de Aquino:

"Mestre,
o que é mais forte
sobre o homem,

o rei,
a verdade,
o vinho
ou as mulheres?"

Uma pergunta aparentemente absurda, desconexa, onde os termos da questão nenhuma relação parecem ter uns para com os outros.

Bem diversa, porém, deve ter sido a reação de Tomás à pergunta que lhe havia sido formulada, a julgar pelo que a história nos reporta sobre a sua pessoa. Em sua habitual simplicidade, Tomás deve ter sido fulminado pelo alcance com que lhe pareceu ter sido formulada a questão.

"É preciso primeiramente",

respondeu Tomás,

"fazer algumas distinções.

De fato, observamos que no homem existem diversas potências.

Consideremos, em primeiro, a potência concupiscível. Ela está relacionada com o desejo venéreo. Sobre ela, enquanto tal, age a mulher. Segundo um determinado aspecto, portanto, do ponto de vista da potência concupiscível, a mulher é a maior força que existe sobre o homem.

Consideremos, em segundo, a potência irascível, relacionada com o temor da morte. Sobre ela, enquanto tal, age o rei, através de seus exércitos. Segundo um determinado aspecto, portanto, do ponto de vista da potência irascível, o rei é a maior força que existe sobre o homem.

Consideremos, em terceiro, a imaginação. Sobre ela age, enquanto tal, o vinho, pelo seu efeito embriagante. Segundo um determinado aspecto, portanto, do ponto de vista da imaginação, o vinho é a maior força que existe sobre o homem.

Consideremos, em quarto, a potência intelectiva, cujo bem, enquanto tal, é a verdade. Segundo este determinado aspecto, portanto, do ponto de vista da potência intelectiva, a verdade é a maior força que existe sobre o homem.

Considerando, porém, que o homem é um animal racional, em que, portanto, todas as potências estão naturalmente ordenadas a uma submissão à inteligência, deve-se dizer que, não sob um determinado aspecto, mas simplesmente falando, é a verdade a maior força que existe sobre o homem".