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Não havia mestre para ensinar a discursar e convencer as multidões do que bem se
entendesse até que, a princípio talvez quase inadvertidamente, os atenienses
começaram a perceber que, embora não se tivessem declarado tais, já havia algum
tempo que estes mestres haviam chegado à cidade e muitos haviam zombado deles e
não lhes dado o devido valor. Eram eles precisamente aqueles dois filósofos loucos de
Eléia. Lá estavam dois sábios, que há tantos anos vinham se dedicando ao estudo,
esforçando-se por tentar demonstrar ao povo a falsidade das coisas mais evidentes.
Não tinham eles livros e livros de argumentos para mostrar que uma flecha em
movimento na realidade está parada? Não tinham eles escrito tratados para provar que
a multidão dos objetos que vemos no mundo à nossa volta não é uma multidão, mas um
só e único ser? Não demonstrava Parmênides que tudo o que vemos pelos sentidos é
ilusório, e muitos ouvintes, não podendo responder aos argumentos destes filósofos,
ficavam perplexos e começavam realmente a duvidar se aquilo em que sempre tinham
acreditado poderia ser falso? Ora, se estes filósofos eram capazes de induzir a dúvida
nos ouvintes a respeito de coisas que deveriam ser tão evidentes, o que não faria um
político se estudasse filosofia com eles e aplicasse a habilidade que eles tinham e
demonstravam aos problemas políticos? Os discípulos daqueles dois filósofos seriam
os senhores das decisões da Assembléia Popular. Manipulariam a Assembléia
conforme as suas vontades e se tornariam os senhores de Atenas.
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