2. Situação demográfica da China.

A situação demográfica da China e a história concernente à mesma é toda peculiar, devido ao isolamento em que este país esteve em relação ao resto do mundo. As preocupações e as considerações do mundo ocidental quanto aos problemas demográficos não penetraram no subcontinente chinês e, desta maneira, ele desenvolveu uma maneira própria e independente de pensar e agir a este respeito.

Durante muitos séculos houve contagens populacionais na China, mas seguindo uma estrutura muito diferente das da civilização ocidental. A motivação para estas contagens também era diversa e houve épocas em que o exército imperial foi obrigado a introduzir a pena de morte por decapitação para os contadores que ocultassem o verdadeiro número de habitantes. As pessoas que fugissem ao censo seriam recrutadas à força para o exército. Apesar dos esforços feitos pelos Imperadores, os dados populacionais apresentam uma série muito grande de interrupções em certas épocas. Mesmo assim, entretanto, à medida em que o tempo foi passando, as contagens foram aperfeiçoando seus próprios métodos e resultados.

Em sua história mais recente, a China começou a ser palco de um êxodo rural em que as cidades aumentaram e melhorou o nível de vida, mas não de forma que estas transformações estivessem associadas a grandes revoluções científicas e industriais. De modo geral, a atitude para com o crescimento populacional na China era bastante semelhante às mentalidades expansionistas e mercantilistas da Europa antes de Malthus. Mais povo era vista na China como representando um maior número de pagadores de impostos, um maior número de soldados, maior quantidade de trabalho e oportunidade para aumentar as áreas de plantação. Entretanto, no fim dos anos 1700 surgiu também o Malthus chinês, chamado Hung Liang Chi, comissário educacional em Kweichow.

A versão chinesa dos Ensaios sobre os Princípios da População foram dois livros de Hung Liang Chi a que ele chamou de "Reino da Paz" e "Subsistência", escritos em 1793, cinco anos antes e na mesma década em que foi publicado o trabalho de Malthus.

A história subseqüente à publicação da versão chinesa dos Ensaios, porém, é bastante diferente da européia. Enquanto na Europa o crescimento efetivamente veio a cessar, iniciando-se até mesmo um declínio, a preocupação na China era a de que não se conseguia deter a explosão. Segundo os escritores da época, "nem os céus nem a terra tem os remédios, e também o governo não tem os remédios".

Alguns seguidores de Hung Liang Chi propuseram medidas drásticas para deter a explosão: relaxar as leis contra o infanticídio das meninas, encorajar a prática do infanticídio das meninas de forma massiva, incentivar a abertura de mosteiros, proibir o casamento das viúvas, distribuir drogas esterilizantes, aumentar a idade do casamento, criar impostos sobre as famílias com mais de duas crianças, afogar os bebês excetuando-se uma minoria selecionada. Mesmo com todas estas propostas, porém, ninguém conseguiu fazer nada que revertesse o quadro da expansão demográfica, e atribui-se a queda da dinastia Manchu basicamente à questão da superpopulação para o qual ela não tinha resposta. A história apresenta muito interesse, pois ela permite observar as conseqüências da mesma problemática que se levantava na Europa à mesma época sob circunstâncias completamente diversas, independentes e relativamente bem isoladas. Entretanto, como ela não está relacionada com a linha de causalidade a cujo exame este texto se propõe, omitiremos prosseguir num maior aprofundamento da questão chinesa.