Capítulo 19

No fim da sua vida Boécio foi caluniado, acusado de conspirar contra o rei dos ostrogodos. Foi lançado a um cárcere enquanto aguardava a execução da sentença de morte.

Ali no calabouço, enquanto esperava a morte, Boécio escreveu um livro que ficou na história, chamado "A Consolação da Filosofia", no qual claramente aparece em algumas de suas passagens a inspiração dos primeiros filósofos pre-socráticos e pitagóricos.

Ele imagina, no início do livro, que tem a visão de uma formosa dama, que é a Filosofia. Ela o vê aflito e chorando e com isto inicia-se um diálogo:

- Por que choras, Boécio?

Por que os teus olhos se convertem em fontes?

Conta-me tudo sinceramente, não me ocultes nada. Se desejas que o médico te dê o remédio, deves declarar-lhe a ferida.

Boécio então responde a estas palavras dando uma resposta que nada mais é do que o ideal de vida dos pre-socráticos e mais especialmente de Pitágoras:

- Por acaso há necessidade de explicações?

Por acaso este lugar não te diz nada?

Por acaso este é o lugar onde todos os dias eu estudava contigo a respeito das coisas divinas e humanas?

Era este o rosto que eu tinha quando eu contemplava os segredos da natureza, quando tu me mostravas o curso das estrelas, e instruindo-me nos costumes me ensinavas a ordenar toda a minha vida seguindo o exemplo do concerto celeste?

Vejas em que foi dar o prêmio de nossa inocência, ser condenado à morte por um falso delito.

Como se tu, que estavas sempre junto de mim, não me afastasses do desejo das coisas mortais, cada dia derramando em meus ouvidos e em meus pensamentos aquela sentença de Pitágoras, que o homem há de servir a Deus e não aos deuses, e procurar assemelhar a sua vida à dEle!