CAPÍTULO 7

Devemos observar, no entanto, que assim como a verdadeira caridade exige a pluralidade das pessoas, assim a suma caridade exige a igualdade das pessoas. Nem é cabível que haja verdadeira caridade onde o verdadeiramente amado não for sumamente amado. Não é amor ordenado, porém, aquele no qual se ama sumamente quem não é sumamente amável. Mas na bondade do sumo sábio a chama do amor não arde nem diversamente nem mais fortemente do que o que é ditado pela suma sabedoria. É necessário, portanto, que seja sumamente amado segundo a abundância da suma caridade aquele que for sumamente amável segundo a medida daquele sumo discernimento. Mas a propriedade do amor nos mostra que não será possível existir um sumo amante se o sumamente amado não retribuir o amor. A plenitude da caridade, deste modo, exige que no amor mútuo ambos sejam sumamente amados pelo outro e, por conseqüência, de acordo com a medida do discernimento de que acima falamos, que ambos sejam sumamente amáveis. Onde, portanto, ambos são igualmente amáveis, é necessário que ambos sejam igualmente perfeitos. É necessário, portanto, que ambos sejam igualmente poderosos, igualmente sábios, igualmente bons, igualmente bem-aventurados. Deste modo, nos que se amam mutuamente a suma plenitude do amor exige a suma igualdade da perfeição. Assim como, por conseguinte, na verdadeira divindade a propriedade da caridade exige a pluralidade das pessoas, assim a integridade da mesma caridade na verdadeira pluralidade exige a suma igualdade das pessoas. Para que sejam inteiramente iguais, porém, é necessário que sejam inteiramente semelhantes, pois a semelhança pode ser possuída sem igualdade, mas a igualdade nunca pode ser possuída sem mútua semelhança. Aqueles que, de fato, nada possuem de semelhante na sabedoria, como poderão ser nela iguais? O que, no entanto, digo da sabedoria, o mesmo afirmo da potência e o mesmo encontrarás em todas as demais, se as percorreres singularmente.