CAPÍTULO 7

Devemos considerar ainda, quanto à relação entre a fé e a Palavra, que a Revelação manifesta claramente que Deus deseja que aprendamos a amar, além dEle mesmo, algumas outras coisas pelas quais, vindo a conhecer através destas o que é o amor, possamos aprender a amar a Deus em si mesmo.

É neste sentido que Deus nos deixou, para que aprendamos a amar, cada vez mais profundamente, dia após dia, em uma prática religiosa constante, o Sacramento da Eucaristia, a pessoa do cônjuge para os que vivem no Sacramento do Matrimônio, e a sua própria Palavra. Se devemos amar o cônjuge como Cristo e a Igreja se amam, isto significa que devemos amá-lo como Cristo e os santos se amaram. Quanto à Palavra, os escritos dos Santos Padres testemunham uma relação entre estes homens justos e a Palavra de Deus muitíssimo semelhante àquela que se espera que exista entre um cristão e a Eucaristia, pela qual eles se uniam, através do amor, à sua Palavra também com a inteligência e a memória. Com isto Deus nos ensina, através de coisas mais sensíveis, o que é o amor, para que possamos depois transferir este amor a Ele em si mesmo.

Para alcançar o que significa esta transferência, devemos considerar que há três formas de amor, todas elas autênticas. Existe em primeiro lugar o amor servil, existe também o amor filial e existe o amor dos esposos.

Os servos também amam, e podem amar muito. O amor servil consiste naquele pelo qual, por um grande amor, evita-se o pecado e conduz-se uma vida corretíssima e exemplar.

O amor filial já não se contenta em cumprir o que é formalmente preceituado. Ele intui, em uma formidabilíssima extensão, tudo aquilo que Deus mais desejaria sem que no-lo tenha preceituado mais diretamente. O amor filial se alimenta da prática das virtudes que consistem em fazer o bem que, pelo menos aparentemente, não foi estritamente exigido, e principalmente o bem de ensinar. O amor filial cumpre também de modo mais perfeito a vida correta que o amor servil já cumpria. Pode haver heroísmo tanto no amor servil quanto no amor filial.

O amor dos esposos é aquele pelo qual, já não contentes em apenas evitar o pecado e praticar a virtude ainda mais intensamente do que no amor servil e filial, queremos também e principalmente a própria pessoa de Deus. Isto significa, no céu, a visão beatífica e, na terra, a firmeza, a constância e a pureza da fé. Embora a pessoa de Deus e a fé sejam coisas distintas, na prática é através da fé que ocorre nesta vida o contato espiritual com Deus e com Cristo ressuscitado. Quem verdadeiramente conhece a fé, portanto, tanto quanto é possível ao homem, conhece a Deus.

Deus, por conseguinte, quer que aprendamos a amar a sua Palavra por ser o caminho pelo qual aprendemos a amar a Deus e Cristo ressuscitado que se nos entregam nesta vida através da fé e na outra através do conhecimento, conforme Ele mesmo no-lo diz quando afirma que

"Nisto consiste a vida eterna, que te conheçam a ti, único Deus verdadeiro, e aquele que enviaste, Jesus Cristo".

Jo. 17, 3