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A causa material é a própria matéria de que são constituídos os
seres corpóreos, por oposição à forma.
No exemplo da estátua, o mármore de que é feito uma estátua é
causa da estátua pelo modo de matéria.
Trata-se, porém, novamente, apenas de uma analogia para uma
compreensão inicial do que seja a causa material. O mármore, na
realidade, não é a matéria da estátua, mas um sujeito já composto
de matéria primeira e forma substancial, que receberá uma forma
acidental que o tornará estátua. Esta forma acidental da estátua
está para o sujeito que é o mármore de modo análogo como a matéria
primeira está para a forma substancial que faz o mármore ser
mármore.
A matéria primeira que constitui todos os corpos é a ausência total
de forma; como tal, ela é pura indeterminação, justamente porque
totalmente isenta de qualquer forma, que é o que a faria ter alguma
determinação de ser tal ou qual gênero de ser.
Por não ter recebido ainda uma forma, a pura matéria é ser apenas
potencialmente, porque pode se tornar tal ou qual ser se receber uma
forma substancial que a determine.
Não existe matéria pura na natureza, porque se existisse, sua
existência já implicaria uma determinação advinda da forma, e,
portanto, não seria matéria pura.
Os cinco sentidos do homem somente são capazes de apreender as formas
acidentais; portanto, a realidade da matéria primeira dos corpos
existente sob a forma substancial não pode ser apreendida diretamente
pelos sentidos humanos. Pela mesma razão, tampouco pode ser
detectada por instrumentos de laboratório, quaisquer que sejam, por
uma necessidade intrínseca; tais instrumentos são apenas um
prolongamento e uma extensão dos cinco sentidos do homem, e,
portanto, apenas podem detectar as formas acidentais.
Os cinco sentidos do homem e os instrumentos de laboratório também
não podem apreender diretamente a forma substancial dos corpos; no
caso do mármore, a forma substancial é aquilo que por primeiro traz o
mármore ao ato de ser; o que lhe dá depois extensão, cor,
temperatura, etc., tudo isto são formas acidentais. Somente estas
últimas podem ser apreendidas pelos sentidos.
Quem poderia apreender a forma substancial seria a faculdade da
inteligência, se a inteligência pudesse se dirigir diretamente aos
entes existentes fora do homem. Entretanto, isto é vedado à
inteligência humana; por estar unida a um corpo, o objeto com que a
inteligência humana trabalha em suas operações é o material
fornecido pela imaginação, que é um prolongamento interno no homem
do trabalho dos cinco sentidos: é a partir do material fornecido pela
imaginação que a inteligência abstrai suas idéias. Os cinco
sentidos, porém, somente captam as formas acidentais; daí que até
a existência da forma substancial tem que ser deduzida de modo indireto
pela inteligência. Com muito maior razão a matéria primeira.
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