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Nos capítulos V, VI e VII vamos mostrar de que modo se educa o
homem para que ele possa vir a alcançar a contemplação de que falam
Aristóteles e S. Tomás.
Em outras palavras, posto qual seja o fim último do homem, estaremos
buscando quais devem ser os meios que a natureza deste fim exige para
que ele seja alcançado. À medida em que fizermos isto, ganharemos
também uma maior compreensão da natureza deste mesmo fim.
Antes de fazer isto, porém, é necessário analisar alguns
pressupostos implicados na colocação da contemplação como fim
último do homem e da educação. No capítulo anterior analisamos os
pressupostos históricos, que explicam o modo particular de que se
serviu S. Tomás de Aquino ao colocar esta questão. Neste
capítulo iremos analisar um outro pressuposto da contemplação como
fim último, não mais o processo histórico de como se chegou a ela,
mas a investigação que os filósofos gregos e medievais realizaram
sobre a natureza da psicologia humana.
Grande parte da firmeza que os filósofos gregos e medievais tinham em
afirmar que a contemplação é a felicidade e o fim último do homem
provém da igual firmeza a que eles tinham chegado em afirmarem que a
inteligência humana é uma faculdade imaterial, e não um processo
neurológico de natureza físico-química. A inteligência seria algo
unido ao corpo assim como a forma à matéria. Mais precisamente, a
inteligência humana seria o atributo de uma forma substancial que unida
à matéria formaria o homem; esta forma substancial, porém, ao
contrário das formas substanciais dos demais entes corporais, apesar
de unida à matéria, possuiria um modo próprio de ser que faria com
que não dependesse da matéria para existir. A inteligência humana,
assim, seria uma faculdade imaterial incorruptível, que no homem
estaria unida em suas operações próprias a um processo neurológico
de natureza físico-química, mas que não consistiria neste processo
físico químico e seria até mesmo capaz de existência
independentemente dele.
Conforme veremos, não foi uma revelação divina que fêz com que os
filósofos gregos chegassem a esta conclusão, mas uma persistente
contemplação da natureza unida a uma exigente educação das
faculdades intelectivas. Este assunto é um dos principais temas do
Comentário ao De Anima, sobre o qual se baseia em sua maior parte o
presente capítulo.
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