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No entanto, se em todas as coisas desta roupagem, isto é, se em
tudo o que se encontra na história da lei, fossem guardadas as
conseqüências e conservada a ordem, de tal modo que nela a
inteligência pudesse conservar um curso contínuo de entendimento,
não acreditaríamos que pudesse haver mais nada inserido mais
profundamente nas Sagradas Escrituras do que isto que nos é
manifestado na sua superfície. A sabedoria divina procurou, por este
motivo, colocar certos estorvos ou interrupções ao entendimento
histórico, inserindo em sua narrativa certas impossibilidades e
inconveniências, para que as próprias interrupções da narração
oferecessem resistência ao leitor como se fossem obstáculos pelos
quais se nega caminho ou passagem ao entendimento vulgar. Assim
excluídos e repelidos, somos conduzidos ao início de uma outra via,
de tal modo que, pelo ingresso de uma passagem estreita para um caminho
mais elevado e mais eminente, se manifeste a imensa grandeza da
ciência divina.
Devemos considerar que o principal objetivo do Espírito Santo foi o
de guardar a conseqüência da inteligência espiritual, tanto nas
coisas que devem ser feitas como nas coisas que já se fizeram.
Assim, onde o Espírito Santo encontrou que as coisas que se fizeram
segundo a história podiam ser adaptadas à inteligência espiritual,
compôs a ordem de ambos os textos em um só discurso narrativo,
escondendo sempre o sentido oculto mais elevado. Onde, porém, não
pôde convir a conseqüência espiritual à história das coisas
realizadas, inseriu algumas coisas que foram feitas menos ou que não
poderiam ter sido feitas de nenhum modo, ou às vezes também que
poderiam ter sido feitas, mas que não o foram. Em alguns discursos
nos quais, segundo a inteligência corporal, não parece que possa ser
guardada a verdade, isto é feito com muitas inserções, o que
principalmente costuma acontecer na legislação, onde há muitas
coisas que nos próprios preceitos corporais é manifesto que sejam
úteis, embora haja outras nas quais não se manifesta nenhuma razão
de utilidade e às vezes até mesmo se observam impossibilidades.
Tudo isto, conforme dissemos, o Espírito Santo buscou para que,
na medida em que o que está na superfície não possa ser verdadeiro ou
útil, rapidamente fôssemos chamados à busca de uma verdade mais alta
e procurássemos nas Escrituras, que cremos inspiradas por Deus, um
sentido digno de Deus.
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