10. Os efeitos da lei do amor: o amor causa a vida espiritual.

Deve-se saber, também, que esta lei, a do amor divino, produz quatro coisas no homem imensamente desejáveis, a primeira das quais é causar no mesmo a vida espiritual.

É, de fato, manifesto que o amado está naturalmente no amante e por isto, quem a Deus ama, possui Deus em si:

"Quem permanece na caridade em Deus permanece, e Deus nele".

I Jo. 4

A natureza do amor é também tal que transforma o amante no amado; de onde que se amamos o que é vil e caduco, vis e instáveis nos tornamos:

"Fizeram-se abomináveis assim como o que amaram".

Os. 1

Se, porém, a Deus amarmos, divinos nos tornaremos, porque, como está escrito:

"Aquele que se une ao Senhor, constitui com Ele um só espírito".

I Cor. 6

Neste sentido é que Santo Agostinho diz que assim como a alma é a vida do corpo, assim Deus é a vida da alma, e isto é manifesto. Porquanto dizemos o corpo viver pela alma, quando tem as operações próprias da vida, e quando opera e se move. Apartando- se, porém, a alma, nem o corpo opera, nem se move. Assim também a alma opera virtuosa e perfeitamente quando opera pela caridade, pela qual Deus habita nela. Sem a caridade, porém, não opera:

"Quem não ama, permanece na morte".

I Jo. 3

Deve-se considerar, também, que se alguém tiver todos os dons do Espírito Santo sem a caridade, não tem a vida. Seja, de fato, a graça de falar em línguas, seja o dom da fé, ou seja qualquer outro, sem a caridade não concedem a vida. Com efeito, se o corpo dos mortos é vestido de ouro e de pedras preciosas, não obstante isto, morto permanece. Causar a vida espiritual é, portanto, o primeiro dos efeitos da caridade.