CAPÍTULO 55

Desta maneira, ao findar a peste, a elite da medicina, do clero, dos estudiosos e dos que tinham espírito de empreendimento havia falecido. Sobraram os piores e com eles o nível do ensino começou a decair vertiginosamente. As pessoas que freqüentavam as bibliotecas começaram a se interessar não mais pelas obras que continham a profundidade do pensamento filosófico ou teológico, nem pelas ciências, mas pelo que nelas havia de literatura, produzida, em sua maior parte, na Antigüidade Clássica. Daí que à margem das Universidades decadentes, iniciou-se uma febre de redescoberta dos clássicos da literatura antiga e, com eles, a febre pela sofisticação do estudo da língua latina e depois também da grega. Surgiu então o currículo de estudos humanistas, na realidade de inspiração pagã e não cristã, baseado no estudo do latim e na leitura dos clássicos da literatura e cuja finalidade era, muitas vezes, a erudição.

Havia, ademais, uma nítida incapacidade geral de compreensão dos ideais pedagógicos anteriores, mesmo entre os melhores espíritos, o qual perdura até os dias de hoje. Foi como que uma civilização que se perdeu repentinamente; embora tenha deixado seus testemunhos, na prática tais testemunhos para a maioria ou a quase totalidade não representam mais do que os vestígios que a civilização egípcia nos deixou com suas pirâmides ou os habitantes da Ilha de Páscoa com suas estátuas.