CAPÍTULO 108

Outra conseqüência do ensino da Teologia ter-se tornado eminentemente pastoral é a pouca e até mesmo insignificante ênfase dada nos cursos de Teologia, a partir do Renascimento, à ascese. Este conhecimento passou a ser obtido geralmente paralelamente à escola de Teologia, na comunidade religiosa, por exemplo, a que pertence o estudante. A escola de Teologia já pouca relação passou a ter com a ascese cristã.

Isto é algo bastante diferente do modo como Santo Tomás de Aquino descreve o ensino da doutrina cristã. Ele diz que

"ensinar é o mesmo
que tornar perfeito".

Trata-se de algo, portanto, que transcende a preparação para a prática pastoral. E o mesmo Santo Tomás acrescenta ainda que a instrução mais perfeita é aquela que abarca

"a profundidade dos mistérios da fé
e a perfeição da vida cristã".

Summa Theologiae
IIIª Pars, Q.71 a4 ad3

Deve-se notar que Tomás inclui neste texto a perfeição da vida cristã como tema fundamental de ensino, mas ao mesmo tempo diz que ela é inseparavelmente vinculada à profundidade dos mistérios da fé, como se não fosse possível uma coisa sem a outra e ambas fossem parte integrante de um mesmo todo.

Na verdade, quando Santo Tomás de Aquino escreveu estas coisas, a ascese era tão inseparável da Teologia que, examinando os textos que eram usados para o estudo da Teologia naqueles tempos, verifica-se que eram, em sua maior parte, textos redigidos de tal modo que sua simples leitura, quando sistemática, produzia por si só resultados ascéticos. Com grande exatidão podia-se aplicar a eles estas palavras das Sagradas Escrituras:

"As palavras dos sábios são como aguilhões,
e como pregos fixados no alto,

as quais, pelo conselho dos mestres,
nos foram dadas pelo Único Pastor.

Mais do que isto, meu filho,
não busques;

não há limite para se fazer livros,
e o muito estudar é aflição da carne".

Ec. 12, 11-12