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O restante da seqüência do que veio a acontecer dispensará aqui a nossa atenção. A
pergunta que cabe agora é o que se poderá dizer de uma cena como esta.
Deve-se dizer que é evidente que estes fatos, assim apresentados, não poderiam ter
acontecido. Não, pelo menos, em 1210.
São Francisco está questionando o sentido do mundo à sua volta, não simplesmente,
mas ao modo dos problemas existenciais do homem moderno que só começaram a
existir, como regra geral, a partir da Renascença.
Na época de São Francisco o sentido do mundo fazia-se evidente para quem fosse
capaz de se fazer seriamente esta pergunta; as pessoas podiam se recusar a aceitá-lo,
mas não verem-se na impossibilidade de encontrá-lo. Em sua época São Francisco
poderia considerar que a riqueza fosse um pecado, mas não transformá-la em um
problema existencial.
A primeira vez na história humana em que surgiu a possibilidade geral de se configurar
o problema existencial tal como o conhecemos hoje foi na Renascença. Este problema
existencial não consiste em não encontrar sentido no mundo, mas no desespero de
poder encontrá-lo. Antes disso as pessoas podiam viver uma vida sem sentido, mas
quando se davam suficientemente conta deste fato, não lhes era vedada uma resposta.
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