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Na seção décima sétima do primeiro capítulo do Livro X de sua obra, Quintiliano se
refere de modo especial à necessidade da leitura dos filósofos para a formação do
perfeito orador:
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"A leitura dos filósofos
deve ser muito freqüentada
pelo futuro orador,
por defeito dos próprios oradores
que abandonaram a parte mais bela
de sua própria arte.
De fato, não são os filósofos estóicos
que tratam de modo especial
a respeito da justiça,
da honestidade, da utilidade,
de seus opostos,
assim como das coisas divinas
e se entregam a estes temas
nas mais vivas discussões?
Por outro lado,
não são os filósofos socráticos,
graças aos seus contínuos
questionamentos e réplicas,
capazes de formar à excelência
o futuro orador?
Porém, à leitura dos filósofos
devemos aplicar o mesmo senso crítico
que utilizamos ao tratar
da leitura dos poetas.
Devemos saber que,
mesmo que os filósofos tratem
dos mesmos assuntos que os oradores,
há uma grande diferença
entre um processo judiciário
e uma discussão filosófica,
há uma grande diferença entre o Fórum
e os eventos das preleções dos filósofos,
há uma grande diferença
entre os preceitos dos filósofos
e as causas criminais".
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Na segunda seção do Livro XII, Quintiliano continua afirmando a importância que a
Filosofia tem para o orador. Agora, porém, não se trata mais, como acima, da Filosofia
como conhecimento geral, mas como subsídio para torná-lo homem de bem.
Entretanto, ao mesmo tempo em que Quintiliano chama a atenção do aluno para esta
importância da Filosofia, o adverte para o perigo de se tornar um verdadeiro filósofo,
por mais paradoxal que esta afirmação possa parecer.
Quintiliano afirma que não quer que o seu aluno se torne um filósofo "grego", mas
sim, se é que seja possível existir uma coisa assim, um filósofo "romano".
Passemos às suas próprias palavras:
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"Todo orador deverá ser um homem de bem,
e isto não pode acontecer
sem a aquisição da virtude.
A virtude, porém,
embora tome o seu primeiro impulso
da própria natureza,
não pode ser aperfeiçoada
senão pela doutrina.
Assim, antes de tudo o mais,
o orador deverá cultivar seus costumes
pelo estudo,
e adquirir um conhecimento perfeito
da justiça e da honestidade,
sem o qual ninguém pode ser dito
homem bom,
nem perito na arte de dizer.
Ninguém será suficientemente hábil
na arte de falar
se não conhecer a fundo a natureza
e não tiver formado seus costumes
pelos preceitos e pela razão.
Não é sem motivo que
no terceiro livro do De Oratore
Crasso sustenta que todas as considerações
a respeito da eqüidade,
da justiça, da verdade, do bem,
e de seus opostos
pertencem ao domínio próprio do orador
e que os filósofos,
quando recorrem à eloqüência
para defender tais virtudes,
se servem das armas da retórica para tanto,
e não da Filosofia.
Por outro lado,
será aos filósofos que se deverão
pedir tais conhecimentos,
sem dúvida porque
mais parece pertencer a eles
a posse dos mesmos.
É isto também
que faz dizer a Cícero,
em seus vários livros,
que a facilidade de dizer
flui das mais íntimas fontes
da sabedoria e que,
por esta razão,
já houve épocas em que
os mesmos homens eram os preceptores
da moral e da eloqüência.
Porém estas minhas exortações
não significam que o orador
deva transformar-se em um filósofo,
porque na verdade não há gênero de vida
que menos se ocupe de servir aos cidadãos
e de tudo quanto constitui
a ocupação do orador.
Quem, de fato,
entre os filósofos,
freqüenta os julgamentos do Fórum
ou adquiriu fama
pela sua arte de falar?
Quero que o orador que eu desejo formar
seja um filósofo,
mas um filósofo romano,
um homem devotado aos seus concidadãos,
que demonstre ser um homem
verdadeiramente político
pela sua experiência
e pelas suas obras".
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