Capítulo 11

Alcebíades é também testemunha da capacidade incomum de concentração de Sócrates, mesmo nas condições mais adversas. Ele nos conta como Sócrates ficou imóvel, meditando, à procura de uma idéia, durante vinte e quatro horas seguidas, e isto não no aconchego do lar, nem no silêncio de uma casa de campo, mas na guerra, entre uma batalha e outra em que todos poderiam perder a vida a qualquer momento.

Ouçamos o próprio Alcebíades falar:

"Quanto à bravura deste homem, senhores, tenho dito. Mas o que realizou Sócrates certa vez na campanha de Potidéia vale a pena ouvir. Entregue a seus pensamentos, achava-se de pé desde o amanhecer, à procura de uma idéia. Como esta não lhe vinha, ele não se dava por vencido. Mantinha-se de pé, procurando. Já era meio dia quando os homens o observaram, e, maravilhados, comentavam de um para o outro:

`Sócrates está de pé desde o alvorecer, a pensar em alguma coisa'.

Por fim, sobreveio a tarde; alguns dos que o tinham observado, depois de jantarem e estenderem suas camas ao relento, pois era o verão então, ficaram deitados tomando o sereno e ao mesmo tempo observando se ele permaneceria de pé a noite toda.

Ele ficou lá, senhores, de pé, até vir a manhã e sair o sol. Chegando a luz do dia, fez uma prece e seguiu o seu caminho".