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Quando, ainda há pouco, começamos a investigar as coisas
invisíveis partindo das visíveis, passamos primeiro da criatura
corpórea à incorpórea, isto é, a criatura racional; em seguida,
da criatura racional chegamos à sabedoria divina. Agora, porém,
retornando da sabedoria divina à criatura racional, dela
prosseguiremos até a criatura corpórea mediante uma consideração
conveniente. A primeira foi a ordem do conhecimento; a segunda, a
ordem da criação.
A primeira foi a ordem do conhecimento, porque o que surge por
primeiro no conhecimento é a criatura corpórea visível; em seguida,
o conhecimento passa da criatura corpórea à incorpórea; finalmente,
aberta a via da investigação, chega ao Criador de ambas.
Na criação, porém, o primeiro grau pertence à criatura racional
feita à imagem de Deus; em seguida vem a criatura corpórea, feita
para que a criatura racional conhecesse nela exteriormente aquilo que do
Criador recebeu interiormente.
Na sabedoria de Deus existe a verdade, na criatura racional a imagem
da verdade, na criatura corpórea a sombra da imagem.
A criatura racional foi feita para a sabedoria divina. A criatura
corpórea foi feita para a criatura racional. Por causa disso todo
movimento e conversão da criatura corpórea é para a criatura
racional, e todo movimento e conversão da criatura racional deve ser
para a sabedoria de Deus, para que cada qual sempre esteja voltado e
unido ao seu superior, sem perturbar em si mesmo nem a ordem da
primeira criação, nem a semelhança do primeiro exemplar.
Portanto, quem transita pelo caminho da investigação das coisas
visíveis às invisíveis, deve conduzir a intenção da mente em
primeiro lugar da criatura corporal à criatura racional, e em seguida
da criatura racional à consideração de seu Criador. Retornando,
porém, das coisas invisíveis às visíveis, descerá primeiro do
Criador à criatura racional, e em seguida da criatura racional à
criatura corpórea.
Na mente humana a ordem do conhecimento sempre deve preceder a ordem da
criação porque nós, que existimos em meio às coisas externas, não
podemos retornar das coisas internas se primeiro não as penetrarmos
pelos olhos da mente. A ordem da criação seguir-se-á sempre à
ordem do conhecimento porque, ainda que às vezes a enfermidade humana
tenha sido timidamente admitida à contemplação das coisas internas,
todavia o fluxo de sua mutabilidade não lhe permitirá ficar ali
permanentemente.
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