Segunda Parte

A origem dos gregos é antiga, não tão antiga como a dos judeus, mas bem anterior aos acontecimentos que acabamos de narrar. Entretanto, é apenas por esta época, cerca de 600-500 AC, que eles passaram a ter importância no cenário dos acontecimentos mundiais. Até então, as verdadeiras forças políticas do mundo eram os egípcios e os povos mesopotâmicos.

O povo judeu politicamente era muito pouco importante; sua verdadeira grandeza estava nas idéias e nas leis contidas nos livros do Antigo Testamento, desconhecidas pelos povos da época, que iriam posteriormente revolucionar o mundo.

A origem dos gregos vem da Ilha de Creta. Por volta do ano 1.500 AC, quando os judeus eram escravos no Egito, desenvolveu-se nesta ilha uma civilização de marinheiros que construíam em Creta cidades famosas na antiguidade por não terem muralhas. A ilha de Creta era muito comprida e ao mesmo tempo muito estreita. Seus muros era a própria frota de seus navios. A civilização que nela se desenvolveu recebeu o nome de Minóica.

Na época em que Moisés recebeu as tábuas da Lei no Monte Sinai, cerca de 1.200 Ac, uma terrível explosão de um vulcão na Ilha de Santorini obrigou o povo cretense a fugir para o norte, fixando-se no sul da Grécia, num território chamado Peloponeso. Nele fundaram a cidade de Micenas e passaram a ser conhecidos pelos historiadores como povo micênico.

Por volta do ano 1.000 AC, pouco antes da época do rei Davi e Salomão, outro povo vindo do norte da Europa, chamado de Aqueus, invadiu a Grécia e obrigou o povo micênico a fugir novamente, espalhando-se pelo litoral da Anatólia, atual Turquia, para a Fenícia, atual Líbano, para a Sicília, ilha ao sul da Itália, e para a Etrúria, no norte da Itália, região onde atualmente fica a cidade de Pisa.

Por esta época foi escrito o primeiro clássico da língua grega, os poemas de Homero conhecidos por Ilíada e Odisséia. No território da atual Grécia desenvolveram-se diversas cidades independentes, como Atenas, Esparte e Tebas, das quais as mais importantes foram Atenas e Esparta.

Esparta estava situada em uma Península grande que havia ao sul da Grécia chamada de Peloponeso. No ano 800 AC um membro da família real de Esparta, chamado Licurgo, que havia já ocupado o trono interinamente, após ter viajado por todo o mundo da época, voltou a Esparta e fez uma reforma política na cidade na qual instituiu pela primeira vez a educação por parte do governo às crianças, jovens e adultos. Era, porém, uma educação puramente militar, que viria a ser a característica da cidade na Idade Antiga.

Quanto à cidade de Atenas, nada tinha de especial em relação às demais cidades da Grécia até aproximadamente o ano 600 AC, quando Sólon, político ateniense, implantou uma reforma agrária e instaurou o regime de governo democrático mais arraigado que se tem notícia na história antiga. Foi justamente nesta época que surgiram os primeiros filósofos.

O primeiro filósofo de que se tem notícia foi Tales de Mileto, amigo pessoal de Sólon. Ele vivia na cidade de Mileto, cidade grega, embora não ficasse no território da atual Grécia, mas no litoral oeste da Turquia, a chamada Grécia Antólia na Antiguidade, um dos lugares para onde haviam fugido os povos micênicos quando da invasão dos Aqueus. Ao que parece, os primeiros conhecimentos de Tales de Mileto foram adquiridos de uma viagem de estudos que fez junto aos sábios do Egito. Nesta época, floresceram em Mileto e em suas proximidades outros filósofos famosos, como por exemplo Anaximandro de Mileto.

Próximo do fim da vida de Tales e Anaximandro, um jovem nascido na Ilha de Samos, situada entre o litoral da Grécia Anatólia e a Grécia propriamente dita, chamado Pitágoras, chegou à cidade de Mileto para estudar com estes sábios. Pitágoras, ao que parece, pois, foi discípulo de Tales e Anaximandro. Depois de ter estudado com eles, assim como seus mestres, dirigiu-se ao Egito onde ficou cerca de duas décadas estudando com os sábios daquela terra. Quando os persas derrotaram os egípcios e os levaram para o exílio na Mesopotâmia, e com isto a civilização egípcia chegou ao seu fim, parece que Pitágoras, lá estudante, tinha sido levado junto. Na Mesopotâmia, onde nesta época as maiores civilizações do mundo antigo acabaram se reunindo, continuou estudando por mais uma década. Voltou então para o seu povo no sul da Itália, lugar para onde também os povos micênicos haviam fugido quatro séculos antes, e fundou pela primeira vez uma e depois várias outras escolas de filosofia em que os alunos ingressavam para se dedicarem aos estudos pelo restante de suas vidas.

Na época, pois, em que quase todo o Velho Testamento estava escrito e já tinham vivido a maioria dos maiores profetas de Israel, a filosofia grega estava ainda em sua segunda geração.

Foi então que os persas, que eram donos praticamente do mundo inteiro, quiseram invadir e conquistar também a Grécia. Por volta do ano 490 AC ela tentou por três vezes, com um exército fantástico de mais de um milhão de homens, subjugar os gregos. Por inacreditável que possa parecer, este exército e sua armada naval foram derrotados nas três tentativas pelos gregos graças a uma grande frota naval que os atenienses haviam construído com o principal propósito de se defenderem.

Após terminar a guerra, à diferença do que costumava acontecer com outros povos, um simples homem, chamado Heródoto, viajou pelo mundo inteiro às suas custas entrevistando pessoas e conhecendo locais, apenas para escrever um livro contendo para a posteridade a história das guerras dos gregos contra os persas. Seu livro, intitulado A História de Horódoto, em estilo fluente e cativante, era lido em praça pública em Atenas tal como há pouco tempo também se ouviam as novelas pelo rádio.

Acabadas as guerras contra os persas, Atenas não desmontou a sua frota. Em vez disso, utilizou-a para montar um imenso império comercial entre a cidade de Atenas e uma série de cidades chamadas colônias, fundadas pelos gregos pelo mar mediterrâneo maios ou menos nos locais ou nas proximidades de onde tinham se instalado séculos antes os povos micênicos. Atenas assim tinha colônias comerciais na Grécia Anatólia (Turquia), na Fenícia (Líbano), nas Ilhas do mar Egeu, na cidade de Siracusa na Sicília, na cidade de Nápoles na Itália, originalmente chamada Neapolis, nome que em grego significa Nova Cidade, e no sul da França, território na Antiguidade conhecido como Gália, a cidade de Marselha, também de fundação grega.

Nesta época governou a cidade de Atenas durante longos anos o grego Péricles. Foi a época de maior prosperidade entre os gregos, também conhecida como época de Péricles. Esta prosperidade não foi apenas material. Foi nesta época que apareceram os grandes arquitetos gregos, os grandes escultores, como Fídias, os grandes autores de peças teatrais, clássicas até hoje, como Ésquilo e Aristófanes. Todas as cidades gregas tinham teatros públicos em que se representavamconstantemente peças teatrais acompanhadas de corais em que se abordavam os grandes problemas da época. Elas representaram para o povo grego aquilo que a televisao representa para o mundo de hoje.

Foi nesta época que entrou em Atenas o primeiro filósofo, chamado Anaxágoras. Até aquele momento a filosofia somente se tinha desenvolvido na Grécia Anatólia, originalmente, e no sul da Itália, por obra de Pitágoras. Anaxágoras entrou em Atenas vindo da Anatólia, fixou residência durante algumas décadas na cidade e teve como discípulo ao próprio Péricles, até ter sido expulso da cidade por um julgamento popular. Somente alguns anos mais tarde entraria novamente um filósofo em Atenas, na pessoa de Parmênides e Zenão de Eléia, estes vindos não da Anatólia, mas do sul da Itália, discípulos de alunos das escolas pitagóricas.

As guerras contra os persas se deram por volta do ano 490 AC. A prosperidade que se seguiu à vitória durou quase um século, durante a segunda metade da qual Péricles governou Atenas. Por volta do ano 400 AC a cidade de Esparta, com receio do poderio ateniense, começou uma guerra que se estendeu durante cerca de 30 anos entre Esparta e Atenas e ficou conhecida com o nome de guerra do Peloponeso.

Por inacreditável que possa parecer, os atenienses que haviam conseguido derrotar três vezes ao Império Persa, praticamente uma cidade contra o resto do mundo, perderam a Guerra do Peloponeso diante da cidade de Esparta, basicamente pela submissão das decisões da guerra à votação democrática que tinha se tornado lei na cidade. Tal como na guerra anterior, que teve em Heródoto seu historiador, a guerra do Peloponeso foi narrada em livro pelo general Tucídides, que em sua infância havia passado longas horas ouvindo em praça pública a narração dos livros de Horódoto pela boca de seu autor. Esta obra, a Guerra do Peloponeso, é considerada a obra de historiografia mais perfeita da Antiguidade.

Foi alguns anos antes da guerra do Peloponeso que entraram em Atenas, vindos do sul da Itália, dois filósofos chamados Parmênides e Zenão. Ambos travaram profundos debates com um jovem ateniense chamado Sócrates, homem pobre, filho de uma parteira. Pouco tempo depois, Parmênides e Zenão se retiraram da cidade. Sócrates lutou depois disso na guerra do Peloponeso. Finda a mesma, começou a fazer discípulos, entre os quais estava Platão, jovem rico da alta política de Atenas.

No ano de 399 AC Sócrates foi condenado à morte e Platão, seu principal discípulo, a partir daí abandonou Atenas e a vida pública, passando a viajar pelo mundo em busca de conhecimento. Visitou entre outros locais o Egito e as escolas italianas dos Pitagóricos. Voltou depois para Atenas e fundou, inspirado nas escolas pitagóricas, em um bosque comprado de um homem chamado Academo, a primeira escola de filosofia que existiu em território ateniense. Ficou conhecida como a Academia de Platão, por causa do nome a quem tinha pertencido o terreno.

Foi aluno da Academia durante duas décadas o filho de um médico da corte do Rei Felipe da Macedônia, o jovem Aristóteles. Quando da morte de Platão, Aristóteles abandonou a Academia e fundou uma segunda escola de filosofia em Atenas, chamada Escola Peripatética, por causa das aulas que eram dadas em pórticos. Tanto a escola acadêmica como a peripatética não iriam morrer com os seus fundadores; quando da morte de Platão e Aristóteles, os alunos escolheram um sucessor dentre eles para estes mestres e desta maneira ambas as escolas duraram séculos. A Academia de Platão, em particular, durou quase um milênio.

Mas, dizíamos, Aristóteles era filho de um médico da corte do rei da Macedônia. Quem eram os macedônios? Era um grupo de povos que viviam ao norte da Grécia em uma região montanhosa. O rei Felipe havia lutado quase por uma vida inteira para unificá-los sob o seu comando. Para o seu filho Alexandre, porém, tinha ambições ainda maiores. Informado pelo seu médico Nicômaco da sabedoria de Aristóteles, seu filho, mandou-o vir de Atenas para ser educador de Alexandre. Após a morte de Felipe e terminada a educação recebida por Aristóteles, Alexandre conquistou toda a Grécia, inclusive Atenas e Esparta, e preparou-se para conquistar o mundo.

Tomou Alexandre depois da Grécia todos os portos da costa mediterrânea da Pérsia, um após outro. Tomou depois o Egito. Sua intenção era poder depois atacar a parte principal da Pérsia localizada na Mesopotâmia sem que ela pudesse atacar por mar os gregos pela retaguarda.

A batalha final foi em Dardanelos, na qual a Pérsia foi vencida. Alexandre, o Grande, agora era senhor do mundo conhecido na época, desde a Grécia até a fronteira com a Índia.

Pouquíssimo tempo depois, porém, Alexandre morreu vítima de uma simples febre. O príncipe herdeiro, ainda bebê, foi morto assim como toda a família de Alexandre pelos generais que começaram a disputar o trono. Nenhum deles, porém, conseguiu ficar com o império todo que Alexandre havia conquistado. Ptolomeu ficou com o Egito, Seleuco com o Oriente, Antígono com a Síria e a Turquia, Casandro com a Macedônia. Mais tarde Antígono foi derrotado militarmente e os seleucidas ficaram também com a Síria.

O resultado final foi a divisão do mundo inteiro em monarquias de reis greco-macedônios.

O resultado, porém, que mais nos interessa deste processo político foi o resultado cultural.

A primeira conseqüência cultural deste processo foi que a língua grega se tornou a língua universal de todo o Oriente. Em todas as cidades importantes começaram a surgir escolas de grego. Foram abertos teatros onde se apresentavam peças gregas,ginásios de esporte se espalharam por estas cidades e adquiriu-se o gosto pelas obras de arte no estilo grego. Os poetas, os filósofos e os historiadores gregos passaram a ser lidos em todo o Oriente e na língua original. A cultura grega, muito superior e mais elaborada do que tudo quanto existia no mundo da época começou a se impor emtodo lugar. No Egito foi construída em Alexandria a maior biblioteca do mundo antigo, com acesso aberto ao público. Em outras palavras, o que ocorreu no Oriente como conseqüência das conquistas de Alexandre foi o processo de helenização do mundo oriental, sendo este período da história conhecido, por causa disso, com o nome de período helenístico.

Este processo aconteceu também com o povo judeu que habitava na Palestina. eles começaram a aprender o grego e a se esquecer do hebraico. Nesta época, os últimos livros da Bíblia, tais como o Livro da Sabedoria e os Livros dos Macabeus, foram escritos em grego e não em hebraico. O rei Ptolomeu do Egito convidou também neste período 70 rabinos judeus para virem até Alexandria, capital do Egito, traduzir o Velho Testamento do hebraico para o grego. Esta tradução, inicialmente feita a pedido e para a leitura do rei Ptolomeu, acabou se tornando mais comum entre os judeus do que o próprio original hebraico. Foi a primeira tradução da Bíblia de que a história tem notícia, chamada, por causa de seus autores, de Versão dos Setenta ou Septuaginta.

Os judeus tiveram que sofrer muito sob o reinado dos governantes grego macedônios que dominavam a Palestina. Ao contrário dos reis da dinastia dos Ptolomeus do Egito, que com tanta reverência mandaram vir ao seu país os sábios judeus para traduzirem as Leis de Moisés e os Escritos dos Profetas, os reis sob cuja jurisdição ficava a Palestina viam com desprezo os costumes e as leis hebraicas. As perseguições que o povo judeu teve que sofrer nesta época são narradas nos dois livros dos Macabeus, que não sem razão se iniciam contando resumidamente a vida de Alexandre, o Grande, de como o mundo inteiro veio a cair sob o domínio dos gregos e do governo dos generais de Alexandre.

Foi nesta época que começou a entrar em cena no palco dos acontecimentos mundiais a terceira das civilizações que compuseram a nossa atual, a civilização romana.