2. A doutrina acerca do Verbo.

Deus não pode existir sem seu Verbo mais do que a luz pode deixar de brilhar. A geração do Verbo é um processo eterno; assim como

"O Pai é sempre bom por natureza, assim é por natureza sempre generativo".

Não podemos, porém, concluir que o Filho é uma porção da substância divina separada do Pai; isto é impossível, porque a natureza divina é imaterial e sem partes.

A geração do Filho também não é, conforme afirmaram os arianos, o resultado de um ato definido da vontade do Pai, o que reduziria a condição do Filho à de uma criatura. Esta geração certamente acontece de acordo com a vontade do Pai, mas é um engano falar de um ato específico da vontade referindo-se a algo que é um processo eterno inerente à própria natureza de Deus.

Entretanto, enquanto gerado do Pai, o Filho é realmente distinto do Pai; e já que a geração é eterna, a distinção também é eterna, e não pertence simplesmente à `economia'.

Daqui para a unidade ou identidade da substância é apenas um passo, e Santo Atanásio não hesitou em dá-lo. Assim, ele declara que

"a divindade do Filho é a divindade do Pai".

"O Filho é certamente distinto do Pai enquanto gerado, mas enquanto Deus Ele é um e o mesmo; Ele e o Pai são um na união íntima de sua natureza e na identidade de sua divindade".

"Assim Eles são um, e a divindade do Filho é predicado do Pai".

Os seres humanos podem, certamente, ser descritos como `consubstanciais' (`homoousios'), mas, neste caso, enquanto que a natureza humana que eles compartilham é necessariamente repartida entre indivíduos, de tal modo que eles não podem possuir uma única e mesma substância, a natureza divina é indivisível.

Referências:

Santo Atanásio : Contra Arianos 2,32; 3,66; 3,59-66; 3,4; 1,61; 3,41; 1,26; 1,28;
Idem : De Decret. 11,24;
Idem : Ad Serap. 2,3.