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Assim é que, segundo Ockham, não seria possível demonstrar a existência no homem de
uma alma imortal e incorruptível, embora Santo Tomás de Aquino e Aristóteles
sustentassem haverem-no demonstrado em seus escritos e também, entre as cartas
deixadas pelo eremita Santo Antão encontremos uma infinidade de passagens em que
ele nos garante que qualquer pessoa
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"que for capaz de se conhecer
verdadeiramente a si mesmo
não terá dúvida alguma
sobre sua essência imortal,
por causa da qual
Deus visitou suas criaturas".
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Ockham acreditava que a imortalidade e a incorruptibilidade da alma fossem verdades
certas, não porém porque pudesse alcançar qualquer evidência deste fato, como
alegavam Aristóteles, Santo Antão e Santo Tomás, mas apenas porque a fé assim o
ensinava. Segundo Ockham, todas as demonstrações da espiritualidade da alma, em si
consideradas, só deixavam dúvidas e incertezas.
Ainda segundo Ockham, não seria possível demonstrar a existência de uma relação de
causalidade entre uma causa e seu efeito senão pela experiência. Qualquer
argumentação que pretendesse deduzir a existência de uma causa sem identificar
experimentalmente a pretendida causa e verificando-se então a ausência do efeito na
ausência da causa e a presença do efeito na presença da causa seria, no máximo, uma
argumentação provável, nunca, porém, certa.
Uma conseqüência, porém, desta posição de Ockham sobre causalidade era a de que,
sendo assim, a existência de Deus não poderia ser demonstrada por nenhuma
argumentação. Ockham acreditava na existência de Deus, não porém, porque possuísse
alguma evidência para tanto, mas apenas porque a fé assim o ensinava. E, da mesma
forma que a respeito da existência de Deus, Ockham também afirmava que não seria
possível demonstrar a unicidade de Deus, nem se Deus conhece o futuro ou se conhece
algo que não seja Ele próprio, nem se Deus age de modo livre ou se movido pela
necessidade.
E da mesma maneira, ainda segundo Ockham, não seria possível demonstrar com
certeza se uma ação humana é boa ou má. Mais ainda, não havia ações que fossem boas
ou más em si mesmas, cuja moralidade pudesse ser deduzida a partir do entendimento
que o homem pudesse alcançar delas próprias. Se determinadas ações eram
moralmente boas e outras más isto ocorria apenas porque Deus assim o havia
estabelecido e Deus, se o tivesse querido, teria podido estabelecê-lo diversamente. De
fato, segundo Ockham, para Deus seria lícito fazer tudo o que seria pecado para os
homens, e estas coisas em Deus não seriam pecado apenas porque Ele não teria acima
de si mesmo um outro Deus que pudesse probi-lo de fazê-las. Deus, portanto, diz
Ockham, fazendo o pecado, não peca. Esta posição é uma conseqüência lógica daquela
outra segundo a qual não há nenhuma moralidade intrínseca às ações humanas, as
coisas sendo moralmente boas ou más apenas porque Deus assim o quer. Deus, diz
ainda Ockham, poderia ordenar às criaturas que o odiassem, e neste caso odiar a Deus
seria bom e meritório.
diz ainda Ockham,
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"do que fazer algo cujo oposto
alguém está obrigado a fazer;
esta obrigação não pode existir em Deus,
porque Ele não está obrigado
a fazer nada".
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