QUESTÃO TRIGÉSIMA SEGUNDA.

Pergunta-se por que Paulo atribui a eficácia da justiça à fé, e não à caridade, quando diz:

"O justo vive da fé"?

Rom. 1, 17

Pois às vezes existe fé onde não há nenhuma justiça, mas a caridade nunca existe sem a justiça.

Alguns respondem a isto dizendo que a caridade e a justiça são o mesmo, e por isso uma não pode ser a causa de outra. Ou ainda, mesmo que a caridade seja a causa da justiça, todavia é conveniente que a fé, que é causa da caridade, seja dita causa da justiça, porque tudo o que é causa da causa, é causa também do efeito.

Deve-se saber também que outra coisa é crer Deus existir, que é a fé do conhecimento; outra coisa é crer por Deus, que é a fé do consentimento; outra coisa é crer em Deus, que é a fé da confiança; outra coisa é crer a Deus, que é inclinar-se para Deus pela fé e pelo amor.

Ademais, uma coisa é o que se crê e outra, aquilo pelo qual se crê. Ambos freqüentemente são designados pelo nome de fé.

Ademais, aquilo pelo qual se crê às vezes é informado pela caridade e somente então, segundo alguns, poderia chamar-se de virtude; quando fosse sem a caridade, seria uma qualidade informe e não seria virtude, nem justificaria.

A outros parece que onde quer que exista a fé, mesmo a do conhecimento, quanto a si sempre justifica; seu efeito, todavia, às vezes seria impedido pela abundância do mal. A fé é uma virtude pela qual crêem-se coisas que não se vêem, ou a certeza de coisas invisíveis pertencentes à religião acima da opinião e abaixo da ciência. A caridade justifica, e também a fé, a graça e Deus; estas quatro, portanto, justificam.

SOLUÇÃO.

Não é verdade que estas quatro coisas justificam porque isto ocorreria separadamente. De fato, a caridade justifica na fé e pela fé e, na caridade, a graça e, pela graça, Deus.