QUESTÃO NONAGÉSIMA QUINTA.

O Apóstolo afirma que

"A justiça de Deus é pela fé em Jesus Cristo sobre todos os que crêem. Não há distinção, porque todos pecaram e necessitam da glória de Deus, justificados gratuitamente pela sua graça por meio da redenção que está em Jesus Cristo, para manifestação de sua justiça por causa da remissão dos delitos passados".

Rom. 3, 22-25

Pergunta-se a respeito dos antigos justos, que eram retidos no inferno, se os seus pecados lhes haviam sido remidos pela fé e pelo arrependimento. Se seus pecados haviam sido remidos, por qual motivo eram retidos no inferno? Se não haviam sido remidos, por outro lado, então não eram justos, pois não há justiça sem remissão dos pecados.

SOLUÇÃO.

Todos os pecados haviam-lhes sido remidos, pela fé e pelo amor, mas não haviam alcançado ainda todos os efeitos da remissão. Dois são os efeitos da remissão, carecer da pena e fruir da glória. Destes somente possuíam o primeiro antes da morte de Cristo, pois não sofriam a pena atual ao mesmo tempo em que não haviam recebido a glória, pois não viam a Deus.

Pode-se, porém, objetar que, se eram justos, eram também dignos da glória. Por que não se lhes dava, portanto, aquilo de que eram dignos? Solução: sua justiça não era tanta que fosse suficiente para obter a vida sem a morte de Cristo, nem tampouco seus pecados haviam-lhes sido remidos absolutamente, mas sim sob uma certa expectativa e promessa do Cristo futuro que satisfaria por eles. De onde que o Apóstolo diz que Cristo morreu não somente pela remissão dos delitos presentes, mas também dos passados. Pois

"Ele próprio é o Cordeiro que foi sacrificado desde a origem do mundo".