Capítulo 4

O poema de Parmênides mostra que este filósofo foi obrigado a fazer-se uma pergunta que não consta do texto de seu poema, mas que está subentendida no mesmo. Se Parmênides não tivesse pensado nela, não poderia ter escrito o que escreveu depois.

Esta pergunta é a seguinte.

Tudo o que existe tem que ser inteligível, e isto não é apenas uma constatação, mas um princípio que parece manifestamente perceptível a todos os homens. Conforme já notamos, quando alguém descreve uma coisa contraditória, tanto faz para nós que lhe respondamos que "Isto não faz sentido" como que lhe respondamos que "Isto não existe". O significado destas duas respostas será entendido como equivalente. Isto mostra o quanto para todos é intuitivo que uma contradição do pensamento não pode concretizar-se no mundo real.

Mas suponhamos que então um dia víssemos como nossos próprios olhos um objeto que representasse para a inteligência uma autêntica contradição. Tomados de espanto, principalmente depois de uma aula como esta, observaríamos melhor este objeto, faríamos dele um exame sob todos os pontos de vista, e então chegaríamos à conclusão de que não houve nenhum engano em nossa primeira avaliação. Ficaríamos convencidos de que efetivamente estaríamos vendo um objeto que, pelo que a inteligência é capaz de compreender, não poderia existir porque é a realização de uma contradição. A inteligência nos forçaria a dizer que, se o princípio de Parmênides é verdadeiro, tal ser não poderia existir. No entanto, ele está aí. Se possível fosse que algum dia ocorresse um fato como este, o que deveríamos dizer dele? Este ser que teríamos descoberto seria uma ilusão ou seria algo real?