CAPÍTULO 114

O restante da seqüência do que veio a acontecer dispensará aqui a nossa atenção. A pergunta que cabe agora é o que se poderá dizer de uma cena como esta.

Deve-se dizer que é evidente que estes fatos, assim apresentados, não poderiam ter acontecido. Não, pelo menos, em 1210.

São Francisco está questionando o sentido do mundo à sua volta, não simplesmente, mas ao modo dos problemas existenciais do homem moderno que só começaram a existir, como regra geral, a partir da Renascença.

Na época de São Francisco o sentido do mundo fazia-se evidente para quem fosse capaz de se fazer seriamente esta pergunta; as pessoas podiam se recusar a aceitá-lo, mas não verem-se na impossibilidade de encontrá-lo. Em sua época São Francisco poderia considerar que a riqueza fosse um pecado, mas não transformá-la em um problema existencial.

A primeira vez na história humana em que surgiu a possibilidade geral de se configurar o problema existencial tal como o conhecemos hoje foi na Renascença. Este problema existencial não consiste em não encontrar sentido no mundo, mas no desespero de poder encontrá-lo. Antes disso as pessoas podiam viver uma vida sem sentido, mas quando se davam suficientemente conta deste fato, não lhes era vedada uma resposta.