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Quando a Peste Negra terminou, a sociedade havia entrado em colapso, mais ou menos
como ocorre no final de uma guerra de grandes proporções. A História fornece muitos
exemplos de inteiras civilizações que desapareceram por completo deste modo. No
caso da Peste Negra, porém, o efeito produzido foi muito mais dramático para a Igreja
do que para a sociedade em geral.
O ensino, que estava quase que totalmente confiado ao clero, decaíu a níveis
assombrosos. A disciplina relaxou-se nos mosteiros e entre o clero a moral e a
responsabilidade tinham baixado sensivelmente de nível.
Quanto à sociedade civil, os que haviam sobrevivido ou que voltaram do campo
herdaram as propriedades dos parentes que haviam morrido. Em vez de reconstruírem
o que havia sido abandonado, como que enlouquecidos depois de terem convivido com
uma proximidade quase que contínua com a morte, foram tomados por uma obsessão
pela idéia de viver e de esgotar as possibilidades que esta vida lhes podia oferecer.
Os bens herdados foram dissipados dos modos mais levianos e absurdos.
Perspectivas pouco animadoras se reservavam ao novo clero que deveria ser
escolhido de uma sociedade nestas condições e educados em uma Igreja que tinha
sofrido uma devastação ainda maior do que a sociedade em seu conjunto. É óbvio que
nestas condições os problemas da Igreja, que já não eram poucos, em vez de
diminuírem, só poderiam ir aumentando. Assim, depois de algum tempo, a Igreja
passou a necessitar mais, e não menos, do trabalho de reforma que vinha tentando ser
feito.
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