CAPÍTULO 156

Mas João, o homem que agora havia sido brutalmente assassinado, era o filho primogênito e predileto de Alexandre VI.

Sua morte repentina se constituíu em um choque moral violentíssimo para o Papa. Um choque do tipo que este havia recebido anos antes quando daquela carta recebida de Pio II repreendendo-o pela sua má vida, mas agora muito mais forte.

O Pontífice trancou-se em seus aposentos e não comeu mais nada desde o fim da tarde de quinta feira, quando já se desconfiava sobre o que teria acontecido, até o sábado à noite. O domingo que se seguiu foi passado em prantos.

Na segunda feira, ainda em meio a abundantes lágrimas, chamou todos os cardeais à sua presença e anunciou-lhes oficialmente a morte do Duque de Gandia, seu filho.

"Morreu o Duque de Gandia",

disse Alexandre VI aos cardeais.

"Sua morte causou-nos o mais profundo pesar, e não poderíamos ter sofrido maior dor do que esta, porque o amávamos mais do que tudo, e o estimávamos mais do que o Papado ou qualquer outra coisa.

Se tivéssemos sete papados, todos os daríamos para termos o Duque novamente vivo".

Mas então, ao que até ali parecia ser apenas um desabafo de dor, Alexandre VI corajosamente decidiu-se a acrescentar o seguinte impressionante comunicado:

"Este golpe, o mais pesado que nos poderia ter acontecido, Deus no-lo enviou talvez por causa de alguns de nossos pecados, e não porque Ele reservava ao Duque uma morte tão cruel".

"Não sabemos quem o matou, nem quem o atirou ao Tibre, mas de nossa parte, daqui para a frente, resolvemos emendar a nossa vida, e com ela reformar a Igreja".

"Daqui para a frente os benefícios eclesiásticos serão concedidos a pessoas que os mereçam, de acordo como o voto dos cardeais".

"Renunciaremos a todo e qualquer favorecimento de parentes".

"Iniciaremos uma reforma completa conosco mesmo, e daí prosseguiremos a todos os níveis da Igreja, até que toda a obra tenha sido realizada".

"Decidimos, ademais, nomear uma comissão de seis cardeais para esboçar, o quanto antes, um primeiro programa de reforma da Igreja".