Capítulo 23

Este é o primeiro argumento que instintivamente despontaria na mente de qualquer cientista moderno que ouvisse Parmênides falar.

Examinado, porém, este argumento mais atentamente, encontraremos que ele não serve como explicação para o problema levantado por Parmênides, e vamos tentar explicar por qual motivo.

Este argumento não vale para a questão levantada por Parmênides porque, em todos os casos de seleção natural, o modo de operar desta seleção natural é tal que produz um meio de escolher apenas entre capacidades de sobrevivência adaptadas em relação ao meio ambiente diretamente em contato com o animal, mas apenas em relação ao meio ambiente diretamente em contato com o animal, porque é com este meio ambiente imediatamente próximo ao animal que o animal luta e perece em sua espécie se não for capaz de se adaptar, ou continua existindo se for capaz. Todos os casos de seleção natural se referem apenas à adaptação em relação ao meio ambiente próximo à espécie.

Assim é que o homem está adaptado para viver à pressão próxima daquela encontrada na atmosfera terrestre ao nível do mar, que é o seu meio ambiente imediato. Colocado em qualquer outra atmosfera de outro planeta, provavelmente morreria. Mesmo na nossa própria, se conduzido apenas a alguns quilômetros acima do solo ou a alguns poucos metros abaixo da superfície da água, a pressão do ar ou da água lhe será fatal.

Assim também ele é capaz de se alimentar do que é produzido na Terra, mas se ingerisse plantas naturais de outro planeta, supondo que elas existam, a grande probabilidade é que morreria. De fato, se o homem entrar em um laboratório químico que produz substâncias artificiais, inexistentes na natureza, substâncias que a natureza nunca produziu, a grande probabilidade é que se envenenaria ao ingerir qualquer uma delas.

Mas não é assim no caso da inteligência.

Há como que uma intuição quase que inata no homem segundo a qual percebemos, como que intuitivamente, que em qualquer lugar do espaço, em qualquer lugar do universo, não apenas na superfície da Terra, sempre aquilo que é intrinsecamente ilógico não existe. Jamais encontraremos em lugar algum do universo um triângulo cuja soma dos ângulos internos não seja igual a 180 graus. Jamais estaremos em alguma galáxia onde deixaremos de ter nascido, apesar de termos nascido. Jamais algo lá será e deixará de ser a mesma coisa ao mesmo tempo. Jamais os teoremas da matemática, puramente racionais, deixarão de ser válidos quando transpostos para a realidade circundante.

Ora, seria pedir muito que a seleção natural, obrigando o homem por um método na verdade tão primitivo e limitado a lutar pela sobrevivência junto apenas ao seu meio ambiente, tivesse conseguido produzir uma qualidade tão ilimitada, em que mais pareceria que o homem estivesse lutando pela sobrevivência não na Terra, mas simultaneamente na totalidade da extensão do universo e contra todos os seres nele contidos.