CAPÍTULO 66

A maioria dos reformadores e propagadores das idéias da Educação Nova no fim da Primeira República tiveram sua primeira formação em Direito. Seus envolvimentos com os problemas da educação resultaram de circunstâncias fortuitas posteriores. Anísio Teixeira buscou sua inspiração nos cursos que fez nos Estados Unidos na Universidade de Colúmbia e de seu contato pessoal com John Dewey. Fernando de Azevedo nunca havia pensado em trabalhar com os problemas da Educação; foi, entretanto, contratado em 1926 para fazer uma extensa reportagem para o jornal "O Estado de São Paulo" sobre a situação do ensino no Brasil; o brilhantismo com que realizou esta tarefa fez com que no ano seguinte fosse convidado pelo prefeito do Distrito Federal para realizar a mais importante das reformas da década de 20, a de 1927 do ensino primário na Capital da República, que influenciou decisivamente as reformas subseqüentes do fim da Primeira República e as federais do período seguinte. Lourenço Filho era também licenciado em Direito; comissionado pelo governo do Estado de São Paulo, reformou a educação primária do Estado do Ceará e em 1929 publicou o mais importante livro teórico sobre a Educação Nova no Brasil, chamado “Introdução ao Estudo da Escola Nova”, o qual teve repercussão também no estrangeiro.

O movimento reformista foi favorecido pela criação em 1924 da Associação Brasileira de Educação, por iniciativa de Heitor Lima. As principais iniciativas da ABE foram as Conferências Nacionais de Educação. Já no fim do Império, conforme vimos, havia sido programado um primeiro congresso nacional de Educação no Brasil, do qual, embora não tenha chegado a concretizar-se, possuímos a coleção dos trabalhos que iriam ser apresentados. Quarenta anos depois, aproximadamente, a ABE conseguiu realizar uma série deles: em 1927, em Curitiba; em 1928, em Belo Horizonte; em 1929, em São Paulo; no quarto, em 1931, recebeu-se uma solicitação do Presidente da República em torno à elaboração de diretrizes para uma política nacional de educação, mas a polêmica foi tão violenta que não foi possível atender ao pedido. Vinte e seis educadores, entretanto, todos ou quase todos presentes àquela Conferência, decidiram redigir um documento neste sentido, daí tendo surgido em 1932 o texto do Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, redigido por Fernando de Azevedo e assinado por 26 educadores famosos. Neste documento, partindo nem sempre de um modo explícito da história e dos princípios aqui expostos, considera-se a Educação como uma função essencialmente pública, pede-se a unificação do sistema nacional de ensino, assim como a laicidade, a gratuidade e a obrigatoriedade da instrução no Brasil, discute-se o problema da Universidade e dos erros de concepção envolvidos com o seu papel e o problema da formação dos professores, dentre outros. Uma abordagem mais detalhada do conteúdo do manifesto, bastante complexo, porém, não pertence ao período da Primeira República, e menos ainda o estudo de suas conseqüências. Mas o documento deve aqui ser citado pois ele foi preparado pelos fatos e pelas idéias desenvolvidas durante a Primeira República, e foi como que um dos desfechos das mesmas.