QUESTÃO DUCENTÉSIMA QUINQUAGÉSIMA TERCEIRA.

Diz também o Apóstolo:

"Mas Israel, que seguia a lei da justiça, não chegou à lei da justiça. Dou testemunho de que eles têm zelo, ou emulação de Deus, mas não segundo a ciência".

Rom. 9, 31; 10, 2

Pergunta-se se este zelo é bom, em que consiste, e qual é o seu efeito. Consta que seja bom porque o Apóstolo o menciona em recomendação dos judeus, e os chama também de emuladores, ou que implica no amor de Deus; mas se assim fosse, pareceria que eles teriam algo que seria digno da vida eterna. No entanto, não eram dignos de morte, por terem morto a Cristo? Como, portanto, poderiam possuir o zelo de Deus, isto é, o seu amor? Ademais, se este zelo fosse bom, teria um efeito bom; não foi, porém, efeito de seu zelo o que fizeram por causa deste zelo? Mas a perseguição dos mártires era pecado mortal, assim como também o foi a morte de Cristo. Como, portanto, o que era bom fazia o mal?

SOLUÇÃO.

Este zelo foi um bom afeto para com Deus, pelo qual estavam prontos a fazer aquilo que a sua consciência lhes ditava que deveria ser feito por causa de Deus. Todavia, não era tanto que os tornasse dignos da vida eterna, não devendo ser chamado de caridade nem de amor de Deus absolutamente entendido. Se, às vezes, é chamado de amor, isto é porque tratava-se de um zelo para com Deus, e o seu efeito não foi a perseguição dos mártires, nem a morte de Cristo, mas o evitar o desprezo de Deus. Estavam, de fato, colocados em uma situação difícil e apertada, e tanto se matassem ou se não matassem a Cristo pecariam mortalmente. Se não matassem a Cristo não pecariam por não te-lo morto, mas porque não o matando, desprezariam a Deus; sucede freqüentemente, de fato, que por um pecado evita-se outro.