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Se, porém, parece ser claro haver sido do exemplo de Sócrates que Platão tirou sua
conclusão, examinado este exemplo mais atentamente, parecerá também que Platão
tenha chegado à conclusão errada.
Se todos fossem justos como Sócrates, ou pelo menos, se os governantes fossem justos
como Sócrates, haveria um término para os males humanos. Esta é a conclusão que
parece ser correta.
Mas, examinando as palavras de Platão, verificamos que não foi esta a conclusão a que
ele chegou.
Platão não disse:
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"Não haverá término para os males humanos
até que os homens justos como Sócrates
recebam o poder soberano nas cidades",
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mas sim que
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"Não haverá um término para os males humanos
até que aqueles que estão buscando
a reta e verdadeira filosofia
não recebam o poder soberano nas cidades".
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Com isto, porém, Platão parece estar pedindo demais. Parece, na verdade, estar
pedindo além do necessário.
Se os governantes fossem justos como Sócrates, isto não seria suficiente? Que
necessidade haveria de que estivessem buscando
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"a reta e verdadeira filosofia?"
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Se, de fato, tivéssemos um Presidente da República correto como Sócrates e, além do
Presidente da República, ministros de Estado corretos como Sócrates, deputados,
senadores, magistrados, juízes, governadores, prefeitos, vereadores honestos,
virtuosos e incorruptíveis como Sócrates, isto não seria já um sonho inimaginável para
o povo de qualquer nação moderna? Não nos parece que isto seria suficiente para
remediar os males da política? Iríamos então encontrar em homens deste porte defeitos
irremediáveis e exigir que além disso eles tenham necessariamente que ser também
filósofos para poderem governar? E se fossem filósofos, iria isto melhorar em algo o
que eles fariam se não o fossem, isto é, se fossem apenas pessoas competentes em seus
cargos e junto a esta competência tivessem também a virtude de Sócrates? Será mesmo
tão necessário que se lhes exija que sejam filósofos? Não seria isto um exagero? Se um
presidente da república for um homem justo e competente, mas não for um filósofo,
deveremos removê-lo do cargo apenas por não ser filósofo? Parece claro que não. Os
governantes devem ser removidos de seus cargos se forem incompetentes e desonestos,
sejam eles filósofos ou não. Se tivermos governantes competentes e honestos até o
heroísmo, não é o ser ou não filósofo que deverá pesar no mérito de uma deposição.
Está se vendo, portanto, que a questão política parece ser outra que não a da Filosofia.
Mas se é assim, e se Platão era uma pessoa inteligente, capaz de compreender, por
suposto, argumentos aparentemente tão evidentes, por que motivo então ele ainda assim
insiste na Filosofia?
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