7. Comentário Final. II. A Influência do Platonismo.

Esta concepção do Trindade, conforme formulada por Orígenes, tem uma estrutura subjacente evidentemente tirada do platonismo e a ele contemporâneo. Uma ilustração disto é o fato de que, além do Filho ou Verbo, Orígenes concebeu todo o mundo dos seres espirituais como sendo coeternos com o Pai. Além disso, suas relações com o Verbo são exatamente paralelas àquela com que o Verbo, num nível mais alto, se relaciona para com o Pai. Estes seres espirituais são imagens do Verbo, assim como o Verbo é imagem do Pai, e em seus respectivos graus podem também ser chamados deuses.

Em relação ao Deus do Universo, o Filho merece assim um grau secundário de honra, pois Ele não é verdade e bondade absolutas, mas sua bondade e sua verdade são um reflexo e uma imagem da bondade e da verdade do Pai.

Por esta razão, Orígenes conclui que

"nós não devemos rezar para qualquer ser gerado, nem mesmo para Cristo, mas somente para o Deus e Pai do Universo, para quem nosso próprio Salvador orou".

Se a oração for oferecida a Cristo, esta será enviada por Ele ao Pai. De fato, o Filho e o Espírito Santo são transcendidos pelo Pai tanto quanto, se não mais, do que Eles Mesmos transcendem o conjunto dos seres inferiores.

Esta concepção de uma hierarquia descendente é ela própria o produto de idéias do platonismo.

Referências:

Orígenes : Contra Celsum 7,57; 8,13;
Idem : De Principiis 1,2,13;
Idem : In Johann. 13,25,151; 32,28;
Idem : De Oratione 15,1; 16, início;
Idem : In Matth. 15,10.