Capítulo 14

Quanto a Anaxágoras, aquele que introduziu a Filosofia em Atenas e apontava para o céu para indicar a sua pátria, o mesmo Plutarco atribui a este filósofo toda a formação do caráter de Péricles, o homem mais importante de toda a história grega depois de Alexandre o Grande, o qual último, ademais, também ele viria a ser educado por outro filósofo, nada menos do que o próprio Aristóteles.

O testemunho de Plutarco sobre Anaxágoras é bastante eloqüente. Encontra-se na "Vida dos Homens Ilustres", quando biografa a vida de Péricles. Diz Plutarco que

"quem, todavia, mais estreitamente se ligou a Péricles, formando-o de sentimentos altivos, superiores à sedução da demagogia, quem, em suma, o elevou às alturas e ergueu a dignidade de seu caráter foi Anaxágoras de Clazômenas; a estes os seus contemporâneos o apelidaram de `A Mente', ou por lhe admirarem o saber imenso no ramo das Ciências da Natureza, manifestamente excepcional, ou por ter sido o primeiro a atribuir o princípio da ordem universal não ao acaso, nem ao destino, mas a uma Mente pura e sem mescla que, em meio à mistura geral, reúne à parte as substâncias homeômeras.

Votando a este homem uma desmedida admiração e forrado da chamada ciência dos corpos celestes e de altas especulações, Péricles, aparentemente, não só mantinha uns sentimentos altivos, uma linguagem elevada, muito longe do mau gosto vulgar, mas também um semblante composto que nunca o riso desmanchava, um andar pausado, um aprumo nas vestes, que emoção nenhuma perturbava nos discursos, bem como uma impostação de voz imperturbável, e todos os mais traços desses que impressionavam a toda a gente.

Certa vez, por exemplo, insultado e destratado na praça por um indivíduo desclassificado e sem educação, suportou-o calado o dia inteiro, enquanto cuidava de seus negócios urgentes. À tarde voltou para casa, sem alterar-se, enquanto o homem o seguia de perto enxovalhando-o com toda a sorte de palavrões. Quando estava para entrar, como já caía a noite, mandou um de seus servos tomar uma lanterna e escoltar o homem até entregá-lo em casa.

Mas nem só estes proveitos colheu Péricles no convívio de Anaxágoras. Também superou quanta superstição produz o terror dos fenômenos celestes naqueles que, por ignorância, se deixam transtornar e confundir pelos assuntos divinos. O estudo da natureza remove esta ignorância e em lugar da superstição timorata e inflamada cria uma piedade confiante, de boas esperanças".