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Isto foi o que dissemos da disposição dos lugares. O que diremos da
disposição dos tempos?
Quem poderá admirar suficientemente com que admirável razão a
providência divina distinguiu o curso dos tempos? Eis que após a
noite vem o dia, para que o trabalho exercite os que descansavam no
ócio; após o dia segue-se a noite, para que o repouso acolha os que
vêm retemperar as forças. Não é sempre dia, não é sempre
noite, nem sempre dias iguais ou noites iguais, para que um trabalho
imoderado não consuma os fracos, ou um repouso contínuo não debilite
a natureza, ou a identidade perpétua não gere o tédio na alma. A
alternância dos dias e das noites de um certo modo renova os seres
vivos, e as quatro estações do ano que se sucedem entre si
transformam a aparência do mundo inteiro.
Primeiro, uma renovação causada pela temperatura moderada da
primavera faz com que o mundo renasça, o qual, depois, rejuvenesce
pelo calor do verão. Vindo o outono, alcança sua maturidade;
sobrevindo o inverno, declina para a deficiência. Sempre chega à
deficiência, para que sempre depois possa ser renovado, porque se o
antigo não definhasse, não poderia o novo surgir para ocupar o seu
lugar. E também é admirável em tudo esta disposição que os
próprios tempos guardem as alternâncias de sua mutabilidade por uma
lei imutável, de maneira que nunca falhem no cumprimento de seus
ministérios, nem por correrem ao contrário confundam a ordem de sua
primeira instituição.
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