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Aquilo, porém, que a plenitude da bondade nos convence a respeito da
plenitude das pessoas, por razões semelhantes demonstra-o também a
plenitude da bem-aventurança. Aquilo de que uma fala, a outra o
comprova. E aquilo que a primeira clama, em uma única e mesma
verdade a segunda aclama.
Interrogue cada um à sua consciência, e sem dúvida e sem
contradição encontrará que assim como nada é melhor do que a
caridade, assim também nada é mais feliz do que a caridade. Isto
no-lo ensina a própria natureza, assim como também a repetida
experiência. Assim como na plenitude da verdadeira bondade não pode
faltar aquilo pelo qual nada pode ser melhor, assim também na
plenitude da suma bem-aventurança não pode faltar aquilo pelo qual
nada pode ser mais feliz. É necessário, portanto, que na suma
bem-aventurança não falte a caridade. Para que, porém, exista a
caridade no sumo bem, é impossível que lhe falte alguém a quem possa
ser oferecida, ou possa ser exibida. É próprio do amor, porém, e
sem o qual não pode de nenhum modo existir, querer ser muito amado por
aquele a quem muito se ama. Não pode, portanto, o amor ser feliz se
não for mútuo. Por conseguinte, naquela verdadeira e suma
bem-aventurança, assim como não pode faltar o amor feliz, assim
também não pode faltar o amor mútuo. No amor mútuo, porém, é
inteiramente necessário que haja quem ofereça o amor e quem retribua o
amor. Um terá que ser aquele que oferece o amor, e outro terá que
ser o que retribui o amor. Onde, porém, nos convencemos que deve
haver o um e o outro, depreende-se haver verdadeira pluralidade.
Naquela verdadeira plenitude de felicidade, portanto, não pode
faltar a pluralidade das pessoas. Consta, entretanto, que nada mais
é a suma bem- aventurança do que a própria divindade. A exibição
do amor gratuito e a devida retribuição deste amor nos convence,
indubitavelmente, que na verdadeira divindade não pode faltar a
pluralidade das pessoas.
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