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Assim como explicamos, as virtudes morais, na medida em que são
operativas do bem que se ordena a um fim que não excede a faculdade
natural do homem, podem ser adquiridas pela obra humana. Assim
adquiridas, podem existir sem a caridade, assim como existiram em
muitos gentios.
Na medida, porém, em que são operativas do bem que se ordena ao fim
último sobrenatural, perfeita e verdadeiramente possuem natureza de
virtude, e não podem ser adquiridas por atos humanos, mas infundidas
por Deus. Estas virtude morais não podem existir sem a caridade.
Dissemos acima que as virtudes morais não podem existir sem a
prudência, e a prudência também não pode existir sem as virtudes
morais, na medida em que as virtudes morais fazem com que o homem se
ordene corretamente a certos fins, dos quais tem origem a razão da
prudência.
Ora, para a reta razão da prudência muito mais se requer que o homem
se ordene corretamente acerca dos outros fins, o que é feito pelas
virtudes morais, assim como a reta razão nas coisas especulativas
maximamente necessita do primeiro princípios indemonstrável, que é
que dois contraditórios não podem ser simultaneamente verdadeiros.
De onde que é manifesto que nem a prudência infusa pode ser sem a
caridade, nem conseqüentemente as demais virtudes morais, que não
podem existir sem a prudência.
É evidente pelo que foi dito que somente as virtudes infusas são
perfeitas virtudes, e somente elas podem ser chamadas de virtudes de
modo simples, porque somente elas ordenam, simplesmente falando, o
homem ao seu fim último. As outras virtudes, as adquiridas, são
virtudes sob um certo aspecto, não de modo simples. Ordenam
corretamente o homem em relação a um fim último em algum gênero,
não em relação ao fim último de modo simples. De onde que, a este
respeito, lemos na Glosa de Agostinho, ao comentar a passagem da
Epístola aos Romanos que diz
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"tudo o que não provém da fé
é pecado",
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que
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"onde falta o conhecimento da verdade
falsa é a virtude mesmo nos bons costumes".
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