CAPÍTULO 115

Problemas deste tipo acontecem com o homem moderno, por exemplo, quando ainda jovens começam a estudar com vistas a uma carreira, sempre supondo que, sendo admitidos pelos exames vestibulares às faculdades, chegarão os bons tempos.

Mas, uma vez na faculdade, percebem que os bons tempos na realidade só chegarão após a formatura.

Uma vez colado o grau, percebem porém que os bons tempos somente chegarão quando se conseguir a estabilidade de um bom emprego.

Mas, uma vez alcançado o bom emprego, percebem que o tempo bom só chegará com o casamento.

Mas, com o casamento, percebem que o tempo bom só chegará quando for possível comprar uma casa própria.

E assim o processo continua, até que um dia percebem que o tempo bom ou já passou ou então já não virá mais.

Quando chega o momento em que se percebe, ou começa-se a perceber estas coisas, passa-se então a questionar por que está-se fazendo tudo isto, qual o sentido de uma vida como esta. Não o encontrando, nem podendo encontrá-lo, as pessoas passam a se desinteressarem pelo seu próprio trabalho e se tornarem medíocres na atividade que elas próprias escolheram e que tanto esforço empregaram para nela alcançarem alguma excelência. Passam a buscar uma compensação sensorial ou material pela falta de sentido em que atolaram suas vidas, uma compensação freqüentemente tão absurda quanto a própria vida que eles antes levavam, ou então passam a adotar um pseudo sentido para a sua vida.

Tudo isto, coisa para a qual algumas pessoas procuram depois tratamento psicológico e analítico, não é, na realidade, um problema psicológico no sentido moderno que se dá a esta expressão, mas um problema histórico e filosófico, e também religioso.

Procurar uma terapia psicológica e analítica para tais problemas é uma situação semelhante à do médico psiquiatra que ri do colega psicólogo que submetia a sessões de psicanálise um paciente em que não só o psicólogo ignorava, como também sequer conseguia atinar, que se tratava de um portador de tumor cerebral.

Uma crítica semelhante freqüentemente o filósofo pode fazer a ambos. Não por estarem fazendo a psicanálise de um tumor cerebral, mas de um problema filosófico de origem histórica.