CAPÍTULO 50

Isto pode ser visto claramente em um opúsculo de teoria pedagógica daquele tempo, escrito por Hugo de São Vítor, intitulado “Sobre o Modo de aprender e de Meditar”, de que tiramos as seguintes passagens, indispensáveis para se compreender o que irá se seguir:

"Três são as visões da alma racional",

diz Hugo de S. Vítor,

"o pensamento, a meditação e a contemplação, (que constituem entre si uma hierarquia).

O pensamento ocorre quando a mente é tocada transitoriamente pela noção das coisas, ao se apresentar a própria coisa, pela imagem, subitamente à alma, seja entrando pelo sentido, seja surgindo da memória.

O pensamento pode ser estimulado pela leitura.

A meditação baseia-se no pensamento, e é um assíduo e sagaz reconduzir do pensamento, esforçando-se para explicar algo obscuro, ou procurando penetrar no que ainda nos é oculto.

O exercício da meditação, assim entendido, exercita o engenho. Como a meditação, porém, se baseia por sua vez no pensamento, e este é estimulado pela leitura, duas coisas há que, na realidade, exercitam o engenho: a leitura e a meditação.

Na leitura, mediante regras e preceitos, somos instruídos a partir das coisas que estão escritas.

A leitura também é uma investigação do sentido por uma alma disciplinada.

A meditação toma depois, por sua vez, o seu princípio da leitura, embora não se realizando por nenhuma das regras ou dos preceitos da leitura.

A meditação é uma cogitação freqüente com conselho, que investiga prudentemente a causa e a origem, o modo e a utilidade de cada coisa.

Mas acima da meditação e baseando-se nela, existe ainda a contemplação. A meditação é uma visão livre e perspicaz da alma de coisas que existem em si amplamente espalhadas.

Entre a meditação e a contemplação o que parece ser relevante é que a meditação é sempre de coisas ocultas à nossa inteligência; a contemplação, porém, é de coisas que, segundo a sua natureza ou segundo a nossa capacidade, são manifestas; e que a meditação sempre se ocupa em buscar alguma coisa única, enquanto que a contemplação se estende à compreensão de muitas, ou também de todas as coisas.

A meditação é, portanto, um certo vagar curioso da mente, um investigar sagaz do obscuro, um desatar o que é intrincado.

A contemplação é aquela vivacidade da inteligência, a qual, já possuindo todas as coisas, as abarca em uma visão plenamente manifesta, e isto de tal maneira que aquilo que a meditação busca, a contemplação possui”.