ENSAIO SOBRE
A FUNDAÇÃO DA ESCOLA
DE SÃO VÍTOR DE PARIS

por Monsenhor Hugonin,
Bispo de Bayeux


1. O Ensino em Paris no século XII.

Estamos agora em pleno século XII, assistindo a um renascimento geral das ciências, das letras e das artes. Os mestres se multiplicam, as escolas rivais se elevam de todas as partes, professores ilustres aparecem e reúnem ao seu redor numerosos discípulos.

Entre as escolas célebres desta época as de Paris se colocam no primeiro lugar. Nenhuma oferece um ensino mais completo, nenhuma conta com tão grande número de estudantes e de mestres mais distintos, nenhuma goza de maiores privilégios. O trivium e o quadrivium são ensinados em toda a sua extensão; a medicina tem ali os seus doutores; o direito canônico e a teologia as suas cátedras públicas. Sua reputação é tão grande que chega-se de todas as partes do mundo para receber suas lições cheias de sabedoria. Lá nós encontraremos italianos, alemães, ingleses, suecos, dinamarqueses, e até mesmo eslavos não são desconhecidos em Paris.

Da mesma forma, nada iguala os títulos pomposos que lhe dão os autores contemporâneos. Paris é para eles a árvore plantada no paraíso terrestre, a fonte de toda a sabedoria, a chama da casa do Senhor, a Arca da Aliança, a Rainha das Nações, o Tesouro dos Príncipes. Em sua presença, Atenas e Alexandria empalideceriam.

Não foi, porém, somente a reputação dos mestres que trouxe a Paris esta multidão de estrangeiros, foi também a beleza de seus arredores, as honras que eram conferidas aos clérigos, as comodidades de todo gênero e a abundância de todos os bens. A escola episcopal não é mais a única que goza de celebridade; outras se elevam às suas alturas e participam de sua glória. Todas elas formam, ao longo do curso deste século, a mais brilhante Academia que dará daqui a cem anos nascimento à primeira Universidade. Nosso desígnio não será o de abraçá-las todas em um mesmo estudo. Ao contrário, dela visitaremos uma só, a Escola de São Vítor, e mesmo assim, nos limitaremos a assistir à sua fundação.

Três homens nos parecem ter especialmente concorrido para tanto: Guilherme de Champeaux, que reuniu os primeiros discípulos; Guilduíno, que foi o seu legislador;e Hugo de São Vítor, o primeiro doutor de quem conhecemos positivamente sua doutrina e seus métodos.