CAPÍTULO 10

Por volta de 1077 um jovem inglês, que posteriormente ficaria conhecido com o nome de Santo Estêvão Harding, homem de boa linhagem e educação, após ter completado sua educação em escolas da Irlanda e Paris, havia partido em peregrinação ao túmulo dos santos apóstolos em Roma. Regressava agora à Inglaterra e, em seu caminho, dirigia- se ao novo mosteiro beneditino de Molesmes, na Borgonha, para solicitar hospedagem e, aproveitando a sua estadia, certificar-se dos relatos que corriam sobre o extraordinário fervor desta fundação.

Se Estêvão esperava encontrar em Molesmes uma magnífica abadia deve ter ficado decepcionado. O mosteiro, se assim podia ser chamado, consistia de um grupo de cabanas de vime agrupadas em redor de um oratório de madeira e cercadas de um terreno cultivado, desbravado no centro de uma extensa floresta. Os monges, em número reduzido, eram extremamente pobres, comendo pão, quando conseguiam algum, obtido com o trabalho de suas mãos e não poucas vezes se viam reduzidos à situação de indigência absoluta.

Estêvão, no entanto, longe de sentir repulsa perante o espetáculo de tantas privações, contemplo com sincera admiração a coragem daqueles homens que haviam em boa verdade abandonado tudo para seguir o seu Mestre. Julgou por fim ter encontrado a realização do verdadeiro ideal monástico e decidiu permanecer o tempo que lhe restasse de vida naquele lugar consagrado. O abade de Molesmes, Roberto, nascido em 1018, descendia de uma família nobre de Champagne, homem de fino talento e elevados dons pessoais, e um reconhecido mestre da vida espiritual, cuja reputação de sabedoria e santidade já percorrera toda a Europa. Alberico, o prior, era igualmente conhecido pelo seu saber e devoção. Quanto aos monges, eram humildes e trabalhadores, adeptos sinceros da disciplina e profundamente dedicados ao seu santo abade. O peregrino inglês solicitou e obteve admissão nesta família, agora a aumentar rapidamente em número, feliz na esperança de encontrar finalmente a paz.