CAPÍTULO 6

Eis que, conforme podemos manifestamente concluir pelo que já dissemos, a perfeição de uma pessoa exige o consórcio do outro. Descobrimos que nada é mais glorioso, nada mais magnificiente, do que nada querer ter que não queiras comunicar. A pessoa que for sumamente boa não quererá, portanto, carecer do consorte de sua majestade. Sem dúvida, porém, para aquele cuja vontade for onipotente, será coisa necessária que seja tal qual quiser sê-lo. Aquele que, entretanto, tiver uma vontade imutável, irá querer para sempre o que tiver querido uma só vez. É necessário, portanto, que a pessoa eterna tenha outra pessoa coeterna, nem uma terá podido preceder a outra, nem uma suceder a outra; pois naquela eterna e imutável divindade nada poderá mudar como se se tornasse antiquado, nem tampouco nada de novo poderá sobrevir-lhe. É impossível, por conseguinte, que as pessoas divinas não sejam coeternas. Onde, portanto, existir a verdadeira divindade, ali haverá a suma bondade, ali haverá a plena bem-aventurança. A suma bondade, conforme foi dito, não pode existir sem a perfeita caridade, nem a perfeita caridade sem a pluralidade de pessoas. A plena bem- aventurança, porém, não pode existir sem a verdadeira incomutabilidade, nem a verdadeira incomutabilidade sem a eternidade. A pluralidade das pessoas exige a verdadeira caridade, a eternidade das pessoas a verdadeira incomutabilidade.