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Eis o céu e a terra. No céu colocou a divina providência as
estrelas e os luminares, para que ilustrassem tudo o que há sobre a
terra. No ar traçou um caminho para os ventos e as nuvens, para
que, dispersas pelos pensamentos, condensassem a chuva em direção à
terra. No interior da terra ordenou que fossem recebidas as massas das
águas, para que de várias nascentes corressem por onde fosse
determinado pelas suas ordens. Suspendeu os pássaros no ar, aos
peixes submergiu nas águas, encheu a terra de animais, serpentes e
demais gêneros de répteis e vermes. Enriqueceu regiões pela
fertilidade de seus frutos, algumas pela opulência de suas vinhas,
outras pelos frutos de seus óleos, pela fecundidade de suas ovelhas,
pela potência de suas ervas, pela preciosidade de suas pedras, pelo
porte de seus animais, pela diversidade de suas cores, pela
diversidade dos estudos das artes, pelos metais, pelos diversos
gêneros de seus perfumes, de tal maneira que não há região que não
possua entre todas algo novo e especial, nem que não possa recebê-lo
de todas as demais. E as coisas que são necessárias aos usos humanos
a providência do Criador as constituiu na freqüência comum dos
homens; quanto àquelas, porém, que a natureza não exige por uma
necessidade, mas a cobiça as busca por sua espécie, escondeu em
remotos interiores da terra, para que aquele que não vencesse a
imoderação do apetite por amor à virtude, pelo menos se moderaria
vencido pelo tédio dos trabalhos.
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