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Deve-se saber, também, que esta lei, a do amor divino, produz
quatro coisas no homem imensamente desejáveis, a primeira das quais é
causar no mesmo a vida espiritual.
É, de fato, manifesto que o amado está naturalmente no amante e por
isto, quem a Deus ama, possui Deus em si:
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"Quem permanece na caridade
em Deus permanece,
e Deus nele".
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A natureza do amor é também tal que transforma o amante no amado; de
onde que se amamos o que é vil e caduco, vis e instáveis nos
tornamos:
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"Fizeram-se abomináveis
assim como o que amaram".
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Se, porém, a Deus amarmos, divinos nos tornaremos, porque, como
está escrito:
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"Aquele que se une ao Senhor,
constitui com Ele um só espírito".
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Neste sentido é que Santo Agostinho diz que assim como a alma é a
vida do corpo, assim Deus é a vida da alma, e isto é manifesto.
Porquanto dizemos o corpo viver pela alma, quando tem as operações
próprias da vida, e quando opera e se move. Apartando- se,
porém, a alma, nem o corpo opera, nem se move. Assim também a
alma opera virtuosa e perfeitamente quando opera pela caridade, pela
qual Deus habita nela. Sem a caridade, porém, não opera:
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"Quem não ama,
permanece na morte".
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Deve-se considerar, também, que se alguém tiver todos os dons do
Espírito Santo sem a caridade, não tem a vida. Seja, de fato, a
graça de falar em línguas, seja o dom da fé, ou seja qualquer
outro, sem a caridade não concedem a vida. Com efeito, se o corpo
dos mortos é vestido de ouro e de pedras preciosas, não obstante
isto, morto permanece. Causar a vida espiritual é, portanto, o
primeiro dos efeitos da caridade.
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