23. Terceira disposição: afastar o coração das coisas da terra.

Há também duas coisas que aumentam a caridade possuída, e a primeira é afastar o coração do que é terreno.

O coração, de fato, não pode ser trazido perfeitamente a coisas diversas, de onde que ninguém é capaz de amar a Deus e ao mundo. E por isso, quanto mais nos afastarmos do amor do que é terreno, tanto mais nos firmaremos no amor divino. De onde que Santo Agostinho diz no Livro das 83 Questões:

"A esperança de conseguir ou reter o que é temporal é veneno da caridade".

O seu alimento é a diminuição da cobiça; sua perfeição, a nenhuma cobiça, porque a raiz de todos os males é a cobiça.

Quem quer que, portanto, queira alimentar a caridade, insista em diminuir a cobiça.

A cobiça é o amor de conseguir ou obter o que é temporal, e o início de sua diminuição é o temor de Deus, o qual não pode somente ser temido, sem amor. É por esta causa que se ordenaram as religiões, nas quais e pelas quais a alma é trazida do que é mundano e corruptível ao que é divino, conforme se encontra escrito no Segundo de Macabeus, onde se lê:

"Refulgiu o Sol, que antes estava entre nuvens".

II Mac. 1

O Sol, isto é, o intelecto humano, está entre nuvens quando entregue às coisas terrenas. Refulgirá, porém, quando for afastado e removido do amor do que é terreno. Resplandescerá, então, e nele crescerá o amor divino.