7. Que os homens ouçam a exortação do Pai.

Ouçamos se a voz do Pai concorda com o que acabamos de expor.

"Este",

diz ela,

"é o meu Filho amado,
em que me comprazo".

Mat. 3

Não o disse separadamente: "Eu me comprazo". Não o disse, também separadamente: "Ele me agrada".

Tampouco o disse simultaneamente: "Eu me comprazo, e Ele me compraz". Disse, porém: "Eu me comprazo nEle", isto é, o que me agrada de mim está nEle; não está fora dEle, porque o que Eu sou Ele é. Porque não sou outro do que Ele, fora dEle não posso agradar-me. Ele é, portanto, o meu Filho amado, em quem me comprazo. O que quer que me agrade, agrada-me nEle e por Ele. Ele é, de fato, a sabedoria pela qual tudo fiz, nEle dispus na eternidade tudo o que fiz no tempo. E tanto mais amo cada obra minha quanto mais perfeitamente a vejo concordar com a primeira disposição. Não julgueis que Ele seja mediador apenas na reconciliação dos homens, pois por Ele também a criação e todas as coisas se tornam recomendáveis e agradáveis ao meu olhar. É nEle que examino todas as obras que faço, e não posso deixar de amar o que vejo semelhante Àquele a quem amo. Somente me ofende aquele que se afasta de sua semelhança. Se, portanto, quereis agradar-me, sede semelhante a Ele, ouvi-O.

E se talvez, agindo mal, vos afastastes de sua semelhança, voltai a Ele imitando-O. NEle tendes o preceito, nEle tendes o conselho. O preceito, para que persistais; o conselho, para que retorneis. Quem dera tivésseis guardado o preceito, mas porque o transgredistes, pelo menos ouvi o conselho, ouvi-O! Um anjo nos é enviado com este grande conselho: quem já tinha sido dado para a glória da Criação, este mesmo há de vir para remédio dos que se perderam. Ouvi-O. Ele é Criador; Ele também é Redentor. Ele, sendo Deus comigo, vos criou; sendo convosco homem, vem sozinho ao vosso encontro. Ouvi-O. Ele é a forma, ele é a medicina, ele é o exemplo, ele é o remédio. Ouvi-O. Mais feliz teria sido ter guardado sempre a sua semelhança, mas agora não será menos glorioso retornar à sua imitação.

Ó homem, o que causou a tua ignorância? Eis que a tua própria natureza te acusa e te condena. Soubeste quem és, de onde vens, que Criador tens, que mediador necessitas, e tu ainda clamas contra Deus em tua defesa. Soubeste que és mau, e que não fostes feito mau por um Criador bom, e não clamas a ele, que te fez para que viesse e te refizesse, que te redimisse. Não queiras duvidar de sua potência, contempla as suas obras, quão numerosas. Não queiras duvidar de sua sabedoria, contempla as suas obras, quão belas. Não queiras duvidar de sua benevolência, contempla as suas obras, como te servem para a tua utilidade. Eis que Ele te mostra pelas suas obras o quanto poderá na tua redenção. Mostra-te também que temível juiz terás que aguardar se não o quiseres aceitar como Redentor. Ninguém lhe poderá resistir, porque é onipotente; ninguém lhe poderá fugir, porque é sumamente sábio; ninguém o poderá corromper, porque é o melhor; ninguém se lhe poderá esconder, porque está em todo lugar; ninguém o poderá tolerar, porque é eterno; ninguém o poderá dobrar, porque é incomutável. Se, pois não o queremos ter como juiz, busquemo-lo como Redentor.