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Deve-se compreender, ademais, que a atitude contemplativa em relação à natureza
somente pode exercer o fascínio que exerceu entre estes que foram os primeiros
filósofos se esta contemplação conseguir se elevar do plano da contemplação visual
para o da contemplação intelectual. Não estivemos, de fato, nos referindo à beleza
visual da natureza, mas a uma beleza inerente à mesma que somente pode ser vista não
pelos olhos, mas pela inteligência. É apenas neste sentido que a natureza é capaz de
constituir o desafio profundo para o espírito humano de que falamos acima.
Ela é capaz de chamar poderosamente a atenção do homem quando nós somos capazes
de perceber como ela, apesar de não ser inteligente, parece participar da mesma
espécie de racionalidade do espírito humano. Os movimentos da natureza que nos
circunda parecem ter em si finalidades inteligentes. Tudo nela parece ter uma lógica, a
mesma lógica de que nós homens nos utilizamos quando fazemos uma obra de arte ou
executamos alguma outra atividade que necessite do uso da razão. Este fato é
extremamente intrigante para o espírito de um observador mais atento; ele dá a
impressão de que existe algum tipo de relação entre a natureza em seu conjunto e o
modo da atividade da mente humana muito mais íntimo do que entre quaisquer outros
objetos naturais entre si.
É justamente na base desta surpreendente afinidade entre o conjunto da natureza e a
mente humana que reside a atração da primeira sobre a segunda; não, porém, apenas
pela afinidade, mas principalmente porque a quantidade de atividades naturais que
ocorrem simultaneamente diante de nossos olhos, todas sincronizadas e ordenadas
umas para com as outras é imensamente maior do que qualquer mente humana seria
capaz de coordenar ao mesmo tempo. Isto dá ao indivíduo que consegue transformar a
observação meramente visual da natureza em uma atividade de contemplação
intelectual a impressão de ter mergulhado a sua mente para o interior de uma mente
imensamente maior do que a sua.
É deste efeito que esta atividade dos pré-socráticos não só tirava o seu fascínio, mas
também a tornava uma fonte de educação da inteligência, conforme veremos adiante,
no final deste capítulo, em um testemunho de Platão.
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