Capítulo 13

Finda a Guerra do Peloponeso, e derrotados os atenienses, o general espartano Lisandro impôs em Atenas um regime ditatorial em que trinta homens teriam inteira autoridade sobre a vida dos cidadãos. Eram todos atenienses, mas eram pessoas tidas como iníquas pelos seus concidadãos, por terem traído a causa pátria pela dos espartanos. Este regime ficou sendo conhecido como o regime dos Trinta Tiranos, que durou oito meses, até que Trasíbulo restaurasse novamente a democracia em Atenas.

Curiosamente, o principal homem dos trinta tiranos era Crítias, um ex-discípulo de Sócrates, mas que em nada se comportava segundo o exemplo do mestre.

Começaram então os desterros e as mortes, e os Tiranos frequentemente davam ordens a cidadãos honestos que eles próprios prendessem seus condidadãos para serem levados ao suplício. Alguns testemunhos da época, embora talvez exagerados, dizem que nestes oito meses em que durou o regime dos Trinta Tiranos morreu mais gente em Atenas do que nos 28 anos da Guerra do Peloponeso.

Na História Universal de Cesare Cantú, este historiador diz que Sócrates,

"vendo tantos cidadãos perecerem, vítimas da crueldade dos Trinta, ou serem exilados, dizia:

`O pastor que visse todos os dias diminuir o seu rebanho e se recusasse confessar que era mau pastor, não teria sinceridade; menos ainda o teria o governador de uma cidade, que notando a diminuição do número dos cidadãos, negasse que governasse mal'".

Os Trinta lhe ordenaram que guardasse silêncio e não conversasse com cidadão algum menor de trinta anos; porém nem por isso ele deixava de falar com a mesma liberdade; e quando lhe perguntavam se não receava que a franqueza dos seus discursos lhe atraísse a desgraça, respondia:

"Pelo contrário, espero mil males; mas nenhum seria igual ao que eu cometeria, fazendo uma coisa injusta",

embora, rigorosamente falando, não seria uma injustiça calar onde não se espera fruto algum das próprias palavras.

Em outra ocasião, os Trinta Tiranos exigiram de Sócrates que os ajudasse a prender um tal de Leon de Salamina, e sequestrar todos os seus bens. Mesmo sabendo o que poderia vir a lhe acontecer, Sócrates recusou, alegando não uma desculpa qualquer, mas declarando que não o faria porque tratar-se-ia de uma injustiça.

Diz do fato Xenofonte:

"Quando os Trinta lhe davam ordens contrárias às leis, não as acatava. Assim, quando o proibiram de falar com os jovens e o encarregaram, juntamente com outros cidadãos, de conduzir um homem que intentavam assassinar, só ele se recusou a obedecer, porque tais ordens não eram justas".