CAPÍTULO 85

Tem então a palavra Fernando de Azevedo:

“É verdade que está na consciência de todos haverem falhado, em parte ou na sua integridade, as sucessivas reformas por que tem passado o ensino secundário na República. Não é preciso perder tempo em repetir provas desta afirmação, aceita unanimemente, de que até hoje não se planejou uma só reforma que não trouxesse, com os seus melhores propósitos, o germe de uma pronta reação. Este fato que acompanha periodicamente todas as reformas federais é tão indiscutível que os governos que se sucedem são os primeiros a reconhecê-lo e a proclamá-lo, apelando, e com razão, para novas reformas.

É estranho que, entre nós, as crises mais agudas do ensino venham imediatamente após as reformas que deveriam ser antes instrumentos de equilíbrio propostos com o fim de colocar a legislação trabalhada cada vez mais em harmonia com as necessidades do meio.

As causas de terem falhado as reformas provém de um vício fundamental: toda reforma é, substantivamente, um problema político, no sentido mais alto do termo, e, adjetivamente, um problema técnico. Mas a face técnica do problema é sempre relegada a um plano secundário.

A Reforma João Luís Alves de 13 de janeiro de 1925, com três edições que lhe introduziram alterações substanciais, teve um objetivo fundamental, declarado e repetido, a moralização do ensino, a que se ordenavam suas medidas principais. Ora, em um país em que se eleva à categoria de ideal supremo e inspirador de uma reforma de ensino a sua moralização, ou o ensino se degradou a tão baixo nível que foi preciso antes de tudo re-erguê-lo à condição fundamental de dignidade, ou a nossa cultura desceu tanto que perdemos a capacidade da visão científica e geral do árduo problema e a coragem de enfrentá-lo em seus aspectos dominantes. A moralização do ensino não pode ser objetivo, porque é a base, a condição essencial de todas as reformas.

A chave do problema do ensino secundário está na fixação preliminar da finalidade que deve ter.

Entre nós não há problema de ensino que tenha custado tanto a encontrar a solução exata como o do ensino secundário. À mercê de todas as espécies de experiências, não houve ainda lei que, arrancando-o da situação a que desceu, o elevasse às alturas de um verdadeiro aparelho de educação, interiço e eficiente, com claro espírito de finalidade. Por mais duro que possa parecer, é ainda verdade que o nosso ensino secundário é dos mais defeituosos, incompletos e improdutivos que possam existir”.