CAPÍTULO 162

Desta maneira, no final de 1499, Alexandre VI pôde promulgar uma bula em que elencava uma série de príncipes da região da Romanha e declarava que, por estes não pagarem os impostos devidos, por terem alcançado o poder mediante usurpação de terras, propriedades e direitos que pertenciam por lei à Igreja, e por serem de fato tiranos que haviam abusado de seus poderes e explorado o povo a eles submisso, a partir daquele momento deveriam renunciar ou ser depostos pela força.

Embora nenhum dos príncipes elencados tenha obedecido à Bula, a avaliação de Alexandre VI parece correta. Em dois livros pelo menos Maquiavel, que na época era assessor político do governo de Florença, se refere à Romanha com uma avaliação semelhante.

Em "O Príncipe" Maquiavel diz que a Romanha

"estava sujeita, no geral, a fracos senhores, que mais espoliavam do que governavam os seus súditos, dando-lhes apenas motivo de desunião, tanto que aquela província estava cheia de latrocínios, tumultos e toda a sorte de violências".

Nos "Discursos" o mesmo Maquiavel diz que a Romanha era

"berço dos piores crimes, o menor dos quais dava ocasião aos governantes para rapinas e assassinatos, pois os príncipes da Romanha, embora fossem pobres, viviam como se fossem ricos, e para tanto eram obrigados a um sem número de crueldades. Entre outras mais vergonhosas para extorquir dinheiro, faziam leis proibindo certos atos dos quais eles eram os primeiros a darem ocasiões para que os súditos os praticassem; quando muitos já estavam envolvidos nas violações daquelas leis, passavam a puní-los, não pelo zelo das leis que haviam feito, mas para poderem assim executarem as penas previstas para tais crimes".