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Após a figura vem a cor.
Não será o caso de fazer uma longa dissertação sobre as cores das
coisas, já que a própria visão demonstra o quanto a cor acrescenta
ao decoro da natureza, adornada com cores tão variadas e tão
distintas.
O que mais belo do que a luz, que em si não possui cor, mas tinge
todas as coisas iluminando-as com as suas cores? Que alegria maior do
que ver o céu sereno resplandescente como a safira, o qual, pela
agradabilíssima moderação de sua claridade, acolhe a vista e suaviza
o olhar? O Sol brilha como o ouro; a lua, palidamente como a
prata; as estrelas, com aspecto flamejante: algumas cintilam com uma
luz rósea; outras alternadamente apresentam ora um fulgor róseo, ora
verde, ora alvo.
O que direi das gemas e das pedras preciosas? São admiráveis não
apenas pelas suas utilidades, como também pelos seus aspectos.
Eis a terra coroada de flores, que agradável espetáculo oferece,
como deleita a vista, como provoca o afeto! Vemos o rubor das rosas,
a candura dos lírios, a púrpura das violetas, em que não apenas a
beleza, mas também a origem é admirável. Isto é, como a
sabedoria de Deus do pó da terra produz tais espécies?
Ainda mais bela do que todas estas é a videira; ela rapta a alma dos
que a observam de perto, quando após a poda, se seus renôvos brota
uma nova vida, e levantando-se desde baixo em seus raminhos, como se
tivessem sido calcados pela morte, irrompem agilmente em direção à
luz à imagem da futura ressurreição.
Mas que dizemos das obras de Deus? Admiramos também de muito boa
vontade com olhos enganados por uma sabedoria adulterina as ilusões da
indústria humana.
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