CAPÍTULO 2

Mas a mesma coisa que Davi chama de arca da santificação, Moisés a chama de arca da aliança. Mas, por que arca? Por que arca da aliança? E por que arca não de qualquer um, mas `Arca do Senhor'?

O que será a arca, senão a inteligência humana? Esta arca é fabricada e dourada segundo o divino magistério quando a inteligência humana, pela inspiração e pela revelação divina é chamada à graça da contemplação. Quando nesta vida alcançamos esta graça, o que mais recebemos senão um certo penhor daquela plenitude futura onde perpetuamente estaremos mergulhados na eterna contemplação? Receemos, portanto, esta graça como um penhor da promessa divina, como um penhor do amor divino, como um certo vínculo de aliança e sinal de mútuo amor. Vede, portanto, o quão esta arca é dita arca da aliança do Senhor, na qual e pela qual é figurada tamanha graça. Com a maior boa vontade, portanto, deve-se entregar a toda sorte de trabalho aquele que deseja ou crê ser possível receber semelhante penhor de tão grande amor. Não duvido que quem quer que entre vós seja servo hebreu não seja capaz de servir de boa vontade durante seis anos para que no sétimo se torne livre, para que então possa entregar-se à contemplação da verdade. Se encontra-se entre vós alguém que seja Jacó, ou que possa considerar-se digno de um tal nome, por ser um homem forte e valente na luta, lutador indomável, vencedor dos vícios, para que algumas coisas vença pela fortaleza, outras vença pelo discernimento, quem assim for certamente não só servirá de boa vontade durante sete anos, como também por mais sete anos, os quais diante de tamanha graça lhe parecerão poucos dias pela grandeza do amor, desde que possa chegar aos braços de Raquel, ainda que tardiamente. Quem quer, portanto, chegar aos braços de Raquel, é necessário que por ela sirva sete e mais sete anos, para que aprenda a repousar, não apenas das más obras, como também dos pensamentos supérfluos.