6. O amor, vida do coração.

O amor é a vida do coração e, portanto, sem amor é inteiramente impossível que haja um coração que deseje viver.

Considera o que se segue daqui.

Se, de fato, a mente humana não pode existir sem amor, é necessário que ame ou a si mesma ou a algo além de si mesma.

Como, porém, em si mesma não pode encontrar o perfeito amor, se se amasse apenas a si mesma o amor feliz não existiria.

É necessário, portanto, se desejamos amar com felicidade, que busquemos algo além de nós a que amemos. Se começarmos a amar, porém, algo imperfeito fora de nós, estimularemos em nós o amor, mas não excluiremos a nossa miséria.

Ninguém amará, portanto, com felicidade, até que o seu desejo não se converta pelo amor ao verdadeiro e sumo bem.

Como, porém, somente Deus é o verdadeiro e sumo bem, amará com felicidade apenas quem amar a Deus, e com tanta maior felicidade quanto mais amplamente o amar.

Este, portanto, será o verdadeiro repouso de nosso coração, quando nos estabelecermos pelo desejo no amor de Deus, nem mais nada além dEle apetecermos mas, nEle já possuído, nos deleitarmos por uma feliz segurança. Como Ele não estende o apetite para além dEle, nem repele pelo temor, assim de certo modo nEle repousamos por uma felicidade sem vexação.

A enfermidade da mente humana porém, não direi sempre, mas algumas vezes, dificilmente pode fixar-se na doçura da divina contemplação. Por este motivo, enquanto não o consegue, deve ser acostumada por um certo estudo àquela estabilidade a qual ainda não é capaz de alcançar. Isto é, se não podemos pensar sempre em Deus, que pelo menos reprimamos nosso coração dos pensamentos ilícitos e vãos, para que o possuamos na consideração das suas obras e de suas maravilhas, até que, enquanto nos esforçarmos em ser sempre menos instáveis, finalmente, no-lo concedendo Deus, sejamos capazes de nos tornar verdadeiramente estáveis.