CAPÍTULO 134

É importante notar que esta concepção é bastante diversa daquela que os homens de hoje estão comumente dispostos a admitir. Os homens do século XX são propensos a acreditar que as maiores forças que atuam sobre o homem , aquelas que o movem e que movem a história, são as forças econômicas.

Em grande parte isto é decorrência de uma falta de intimidade com a verdade. Os homens do século XX não conseguem em geral distinguir entre as informações comumente veiculadas pelos homens e a verdade, como se não houvesse algo situado em um plano mais alto além daquele em que comumente os homens intercambiam suas idéias sobre o qual estas idéias precisariam apoiar-se para poderem ser verdadeiras e dali haurirem a sua força.

Faltando-lhes esta intimidade com a verdade que lhes faria conhecer do que ele á capaz, os homens acreditam sem dificuldade que o principal motor da história são as forças econômicas. Não distingüindo entre verdade e ideologias que os homens continuamente elaboram em um ritmo cada vez mais alucinante para os mais diversos fins, julgam que todas estas têm a sua época e a sua utilidade dependendo da oportunidade e do lugar, e que a força das idéias provém delas estarem em sintonia com a direção das forças econômicas. Teriam sido elaboradas, em última análise, por pessoas que tiveram a perspicácia de perceber melhor do que outras as circunstâncias do momento. Nada possuem de perene ou atemporal, todas elas perdem com o tempo a sua utilidade e são facilmente desatualizadas por outras que tomam o seu lugar.

É fácil, porém, perceber que uma concepção como esta está em flagrante contradição com os pressupostos do Cristianismo. Cristo pouco se importou com forças econômicas. Quando ele prometeu a liberdade aos homens, prometeu-a justamente através da verdade dizendo, no Evangelho de São João, a alguns que nele haviam crido, que

"Se permanecerdes nas minhas palavras, sereis verdadeiramente meus discípulos; conhecereis a verdade, e a verdade vos tornará livres".

Jo. 8, 31

Quando, mais tarde, Cristo enviou os Apóstolos a todas as nações do mundo, decisão da qual resultou a divisão da História em dois períodos, antes e depois de Cristo, não lhes pediu para que assumissem o controle das forças econômicas. Ao contrário, limitou-se apenas a dizer:

"Ide, pois, e ensinai a todas as gentes tudo aquilo que vos mandei",

Mt. 28, 19-20

e nisto, simplesmente nisto, somado à presença de Cristo garantida à Igreja nesta mesma passagem até o fim dos séculos, consistiu toda a força do Cristianismo.

Se for permitido à história de nossa civilização um desenrolar mais extenso, o tempo se encarregará de tornar evidente qual é, de fato, a maior força capaz de agir sobre o homem.