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Quando Sócrates conversava, ele não ensinava nenhuma doutrina pré estabelecida. Ao
contrário dos pré socráticos, que ofereciam uma doutrina positiva, ele dizia que nada
tinha a ensinar. Sócrates apenas perguntava. E assim se iniciava um diálogo. Sócrates
costumava procurar para conversar as pessoas que diziam que tinham algum tipo de
conhecimento para ensinar, e então começava a lhe fazer perguntas. Muitos dos que ele
procurava eram os filósofos sofistas que visitavam constantemente a cidade de Atenas
em busca de alunos, os quais se gabavam de serem capazes de ensinar qualquer
assunto e responder a qualquer pergunta a quem quer que fosse. Embora anunciassem
tais pretensões, quando os sofistas começavam a dialogar com Sócrates, não era
preciso esperar muito para que eles próprios percebessem que sua idéias eram
contraditórias e que suas afirmações eram simples opiniões improvisadas para fazerem
efeito diante dos ouvintes, mas que não eram capazes de suportar a análise de alguém
que buscasse sinceramente compreender as verdades últimas a respeito do homem e da
vida humana.
Quando o sofista, conversando com Sócrates, chegava a se dar conta deste fato, em vez
de aceitar a verdade, o mais comumente se revoltava contra o favor que Sócrates lhe
havia prestado e começava a falar mal daquele homem para tantas pessoas quantas
pudesse. Mas se ele era suficientemente honesto para aceitar a verdade, Sócrates então
o convidava a juntar-se a ele para buscarem um verdadeiro conhecimento da natureza
humana.
Sócrates comparava esta técnica do diálogo ao trabalho de sua mãe que havia sido
parteira. O interlocutor podia ser tanto o sofista profissional como ou qualquer outra
pessoa que fosse, pois na verdade todos nós somos sofistas por adotarmos sem refletir
uma conduta em nossa vida que é baseada em concepções sobre o que é o homem,
sobre o que é a vida humana e quais os seus objetivos que não suportariam uma análise
sincera por quem quer que busque a verdade sem que caiam em contradição. Sócrates
então comparava este interlocutor a uma gestante em trabalho de parto. Ele próprio,
Sócrates, era a parteira, que, dialogando, nos faria entrar em contradição flagrante a
respeito das concepções sobre as quais, consciente ou inconscientemente,
fundamentamos nossas vidas. O momento em que o interlocutor percebesse a série de
ilusões fundamentais em que sua vida normalmente se baseia, este Sócrates o
comparava ao nascimento. Daí para a frente ele poderia ser ajudado a crescer como
um novo homem.
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