CAPÍTULO 91

Mais adiante, no décimo quinto capítulo do Livro II, Quintiliano repete o que ele entende por arte oratória:

"Nós, que empreendemos com esta obra a tarefa de formar um orador perfeito, e que desejamos que em primeiro lugar ele seja um homem bom, devemos voltar às sentenças daqueles que a este respeito melhor opinaram.

Alguns, de fato, identificaram a retórica com a própria civilidade.

Cícero afirmava que ela é uma parte da ciência que convém ao cidadão, a qual ele afirma que é a própria sabedoria.

Outros, dentre os quais Isócrates, dizem que é a própria Filosofia.

Mas a definição que mais convém àquilo que é a própria essência da Retórica é a de Cleantes, segundo a qual a Retórica é a ciência do bem dizer, porque com ela abraçamos todas as virtudes do discurso e, ao mesmo tempo, o caráter do orador, porque o orador não pode bem falar se não for um homem bom".

Continua o mesmo Quintiliano no Livro XII das Instituições:

"O orador que instituímos deverá ser, portanto, aquele que foi definido por Catão como

`o homem bom, perito no falar',

mas em primeiro lugar, o que Catão disse na primeira parte desta sua definição, a parte que é a mais importante, isto é,

`o homem bom'.

Na verdade, não é apenas para que alguém seja um bom orador que deverá ser um homem bom, mas porque não conseguiria ser um bom orador se não for primeiro um homem bom.

A inteligência não pode se entregar ao estudo da mais bela de todas as artes se não estiver isenta primeiro de todos os vícios, em primeiro lugar porque no mesmo peito não pode haver o consórcio simultâneo do que é torpe e do que é honesto. Pensar no péssimo e no excelente não pertence mais ao mesmo homem do que a mesma pessoa ser ao mesmo tempo homem bom e homem mau.

Quem não vê que a maioria dos discursos tratam da justiça e do bem? Seriam estas idéias desenvolvidas com a dignidade conveniente por um homem mau e iníquo?

Ninguém duvidará que todo discurso tem por finalidade apresentar o que se propõe ao juiz como verdadeiro e honesto. Será o homem bom ou o homem mau que mais facilmente dará esta persuasão? O homem bom, evidentemente, ele próprio dirá mais costumeiramente coisas verdadeiras e honestas.

Ademais, para suportar a fadiga e a duração dos estudos, não será necessária a frugalidade?

Que esperança pode dar ao estudo quem se entrega à luxúria e aos prazeres?

A principal motivação para a paixão da literatura não será o amor pela glória?"