Capítulo 16

Numa peça de teatro de Aristófanes, chamada As Nuvens, em que se faz uma sátira dos sofistas, erroneamente confundindo Sócrates com um deles e levada ao palco ainda durante a vida de Sócrates, Aristófanes narra a história de um pai que se endividou comprando cavalos de corrida para o seu filho. Ouçamos o que diz o pai na peça:

"Ó, como são compridas as noites, que coisa tão interminável! Pobre de mim, não posso dormir mordido pela despesa e pelas dívidas da estrebaria, e tudo por causa do meu filho! Eu morro, vendo que está chegando o dia vinte e os juros vão correndo. Por favor, escravo, acorde, acenda a lamparina e traga-me o livro de contas para eu ver a quantas pessoas eu estou devendo e calcular os juros. Ai! Quem me dera que antes houvesse morrido desgraçadamente a casamenteira que me fez casar com a mãe deste jovem! Mas agora, pensando a noite inteira sobre um meio de encontrar uma solução para minhas dívidas, achei um caminho, diabolicamente excelente. Acorde, meu filho. Está vendo aquilo, ali no fim da rua? Aquela casa é um pensatório de sofistas. Lá moram homens que falam do céu, querendo nos convencer que o céu é a tampa de um forno e que nós somos os carvões. Se a gente lhes der algum dinheiro, eles ensinam a vencer nos discursos nas causas justas e injustas. São pensadores meditabundos, gente de bem! Ó se são! Por favor, meu filho, esqueça um pouco das corridas de cavalos e junte-se a eles. Torne-se um deles. Eles dizem que os raciocínios são dois, o forte, seja ele qual for, e o fraco. Eles afirmam que o segundo raciocínio, isto é, o fraco, discursando, vence nas causas mais injustas. Ora, filho querido, se você aprender este raciocínio injusto, do dinheiro que agora eu estou devendo por sua culpa, destas dívidas eu não pagaria um óbolo a ninguém!"