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Mas, considerando-se o estado de profunda decadência material em que a sede da
Igreja havia mergulhado àquela época, cabe perguntar onde Nicolau V pensou que
encontraria o dinheiro que seria necessário gastar para realizar empreendimentos deste
porte.
Nicolau V havia sido eleito no final de 1447. Aproximava-se, portanto, o ano santo de
1450. Ele acreditava piamente que, com as visitas dos peregrinos à cidade de Roma,
encontraria os fundos necessários à execução de tudo quanto ele havia planejado.
Era provavelmente uma perspectiva piedosamente exagerada por parte de um Papa que
tinha uma propensão natural ao otimismo e a considerar mais o lado bom do que os
aspectos negativos dos homens. Mas o fato foi que, dois anos mais tarde, em 1450, o
ano santo rendeu muitíssimo mais do que as mais otimistas expectativas deste Papa.
A História registra que durante o ano santo de 1450 a afluência dos peregrinos a Roma
foi de uma magnitude totalmente sem precedentes, sem explicações aparentes para
tanto. Os testemunhos oculares da época compararam o afluxo de peregrinos a uma
multidão imensa de formigas. A quantidade de pessoas em Roma era tão grande que a
Santa Sé viu-se obrigada a promulgar sucessivos decretos restringindo o tempo de
permanência dos peregrinos na cidade. Inicialmente foi proibida uma estadia superior
a cinco dias. Posteriormente verificou-se que cinco dias deveria ser considerado um
tempo excessivo; Nicolau V foi obrigado a promulgar outro decreto proibindo a
permanência dos peregrinos em Roma por mais de três dias. Algum tempo depois, este
tempo teve que ser reduzido ainda para apenas dois dias. A quantidade de dinheiro que
assim tão espontaneamente afluía para Roma era tão grande que nas cidades do norte
da Itália começou-se a fazer sentir a falta de moeda circulante em ouro. Pouco depois
começaram a chover protestos dos governantes italianos no sentido de que todo o
dinheiro da Itália estava escoando para Roma. Posteriormente reclamações
semelhantes começaram a vir também dos países situados no restante da Europa, para
além dos Alpes.
Nem sempre, porém, a celebração do ano santo havia sido algo tão entusiástico como
neste ano de 1450.
O primeiro ano santo havia sido decretado pelo Papa Bonifácio VIII em 1300 como um
jubileu religioso a ser comemorado em Roma a cada cinqüenta anos.
Em 1350, mesmo com a Cúria estabelecida na França, foi celebrado em Roma o
segundo ano santo. Foi a caminho de Roma, para a celebração deste ano santo, que
Petrarca fêz amizade com Bocaccio em Florença, amizade que mais tarde viria a
detonar o interesse da Renascença pela literatura grega.
Não temos notícia se, durante o Cisma, em 1400, tenha havido esta celebração, mas o
fato é que, em 1500, durante o Pontificado do Papa Alexandre VI, a Igreja estava
novamente em dificuldades financeiras. Sendo estas dificuldades muito menores do
que as do tempo do Papa Nicolau V, e estando a cidade de Roma já em condições
consideravelmente melhores para a hospedagem dos peregrinos, todos estavam na
expectativa de que talvez viesse a repetir-se o milagre de 1450. Nada disso, porém,
veio a acontecer. As doações dos peregrinos foram uma verdadeira decepção. A Igreja
logo entendeu que desta vez teria que buscar socorro financeiro em outro lugar.
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