CAPÍTULO 54

Já tivemos a oportunidade de expor como enquanto durante a Idade Média a Igreja tentava desvencilhar-se do Feudalismo os reis europeus também tentavam fazer o mesmo utilizando-se de recursos tais como a criação de um sistema judiciário nacional, a instalação de tribunais de recursos dependentes diretamente dos reis, a introdução de uma mesma moeda para todo o reino, o reconhecimento da independência das cidades e outros.

De modo geral estes expedientes foram obtendo os seus resultados em toda a Europa e, por volta de 1300 diversas monarquias estavam em avançado processo de consolidação. Uma exceção neste sentido à primeira vista surpreendente entre as nações européias era o Sacro Império Romano Germânico, ao qual pertencia também todo o norte da Itália. No Sacro Império Romano Germânico, por volta do ano 1300 DC, em vez de uma consolidação e de uma centralização maior, estava-se assistindo ao processo oposto.

Os soberanos do Sacro Império, ao contrário dos demais reis da Europa, não se consideravam reis de uma nação em particular, mas sucessores dos Imperadores Romanos e de Carlos Magno, cujo domínio de dereito deveria estender-se sobre todas as nações da terra, embora de fato estendia-se apenas sobre as atuais Alemanha, Suíça, a região centro oriental da Europa, com exceção principalmente da Rússia, e o norte da Itália.

Portanto, ao contrário dos reis da França e da Inglaterra, sob os quais não deveria haver outros reis, o Império reconhecia, dentro dele mesmo, sob a soberania do Imperador, outros reis e príncipes governando, com relativa autonomia, cerca de trezentos e cinqüenta estados.

Como, ademais, eram estes reis e príncipes que elegiam o Imperador, este sistema de governo fêz com que a autoridade efetiva do Imperador nunca pudesse ser suficientemente forte para tornar o Sacro Império um organismo dotado de uma unidade como a das demais nações então emergentes na Europa. As centenas de principados que havia dentro do Sacro Império aspiravam a uma independência de fato sempre maior. Eram freqüentes as guerras entre estes principados durante as quais uns chegavam a conquistar territórios dos outros. Ademais, cada vez que um Imperador conseguia obter um maior poder e controlar melhor a política do Império, na eleição seguinte os príncipes elegiam um candidato que lhes parecia vir a permitir-lhes obter novamente maior autonomia frente ao poder imperial.