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Mas se Bernardo receava demasiado os perigos mundanos, existia ali
perto o magnífico mosteiro de São Benigno, infinitamente caro ao
seu coração por ser o santuário onde repousavam os restos mortais de
sua mãe, ou o de Cluny, igualmente próximo, com as suas centenas
de abadias dependentes, as quais haviam contribuído para a Igreja com
tantos santos, papas célebres e bispos, durante os duzentos anos da
sua existência. Ali os mais nobres empreendimentos de arte nos
diferentes domínios da música, pintura, escultura e arquitetura,
para não falar no grandioso cerimonial, dariam plena satisfação ao
seu sentido estético.
Tudo isto, porém, não correspondia à vida monástica que Bernardo
idealizara. Possuía demasiadas consolações naturais para oferecer,
ao passo que a sua alma, como ele dizia para consigo, necessitava de
um forte medicamento. Considerava-a muito brilhante, enquanto,
segundo o seu pensar, um monge deveria possuir um instinto semelhante
ao das toupeiras, um desejo de ocultar-se da luz do Sol e dos olhares
dos homens e fim de dedicar-se inteiramente a Deus. `Ama passar
desapercebido', que será mais tarde a sua recomendação aos outros,
constituía agora o princípio que o guiava. Portanto, os seus
pensamentos afastaram-se descontentes de Cluny para se ocuparem com
outra casa religiosa, pobre e obscura e aparentemente prestes a
extingüir-se, o mosteiro de Cister, cuja história de sua
fundação é chagado o momento de contar.
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