CAPÍTULO 93

No décimo capítulo do Livro I, Quintiliano afirma também que para a formação do orador é necessário que não apenas que ele conheça os preceitos da gramática e da oratória, assim como os preceitos da ciência moral e que ele próprio se torne um homem bom, mas também que se exige dele o conhecimento de todas as demais artes:

"O que eu tinha a dizer sobre o ensino da Gramática, que deve preceder na criança o da Retórica, o indiquei o mais brevemente possível, não procurando fazer uma exposição completa, o que não teria mais fim, mas apontar o que é mais necessário.

Devo acrescentar também uma palavra sobre as demais artes nas quais julgo que devem ser instruídas as crianças antes que passem do professor de gramática para o professor de retórica, para que elas possam percorrer todo aquele círculo de conhecimentos que os gregos denominam de enciclopédia.

De fato, ouve-se objetar, por parte de algumas pessoas, de que serviria para defender uma causa ou uma sentença diante do Senado, saber como construir um triângulo equilátero sobre uma dada linha? Ou em que ajudaria a defender melhor um réu ou a aconselhar melhor um governante distinguir os sons da cítara pelos seus nomes e intervalos? Não é possível citar um grande número de homens competentes no Fórum que nunca estudaram Geometria e que nada ouviram de música a não ser o prazer que a melodia oferece ao ouvido comum?

Eu respondo a isso, em primeiro lugar, aquilo que Cícero declara tão freqüentemente no seu livro escrito a Bruto: não estamos descrevendo a formação do orador que existe, mas daquele tipo ideal de orador perfeito que nada deixa a desejar.

Os que formam os sábios, sábios que devem ser um todo plenamente acabado e, como eles próprios dizem, como que deuses mortais, não satisfeitos de os iniciarem nas ciências divinas e humanas, os fazem passar igualmente por várias outras, até mesmo fúteis, consideradas em si mesmas. São, por exemplo, certas sutilidades da Lógica. Tais coisas ninguém acredita que sejam capazes de formar um homem sábio, mas o fato é que o sábio por excelência deve ser infalível até nas mais mínimas coisas.

Da mesma forma, o orador por excelência deve ser um sábio. O que o tornará assim não é o professor de Geometria, nem o professor de Música, nem os demais conhecimentos de que eu vou falar, mas todas estas artes o ajudarão a tornar-se perfeito".