CAPÍTULO 7

Nossa contemplação, sem dúvida, versa na imaginação quando é conduzida à consideração da forma e da imagem das coisas visíveis, quando com admiração observamos e observando admiramos as coisas corporais que percebemos com os sentidos corpóreos o quanto são muitos, o quanto são grandes, o quanto são diversos, o quanto são belos ou agradáveis, e em todas estas coisas veneramos com admiração a potência, a sabedoria e a bondade daquela superessência criadora, e a admiramos com veneração.

O segundo modo de contemplação é o que consiste na imaginação, embora proceda e seja formado pela razão, o que se realiza quando aquilo que considera na imaginação e que já dissemos pertencer ao primeiro gênero de contemplação, buscamos e investigamos a razão, ou melhor, descoberta e conhecida, à trazemos à nossa consideração com admiração. No primeiro gênero admiramos as próprias coisas, no segundo admiramos a sua razão, sua ordem, sua disposição e a causa de cada coisa, comparamos o seu modo e a utilidade, especulamo- las e admiramo-las. E, embora sob certos aspectos a contemplação pela qual buscamos a razão das coisas visíveis pareça estar na razão, todavia corretamente dizemos estar situada mais na imaginação, porque tudo o que nela buscamos ou encontramos raciocinando, a elas sem dúvida acomodamos as coisas que tratamos pela imaginação quando insistimos neste raciocínio sobre elas e por causa delas.

Dissemos que o terceiro gênero de contemplação é o que se forma na razão segundo a imaginação. Isto ocorre quando pelas semelhanças das coisas visíveis levantamos a especulação às coisas invisíveis. Esta especulação consiste na razão, porque ela insiste pela intenção e pela investigação somente em coisas que excedem a imaginação. É dita, porém, formar-se segundo a imaginação porque é pela imagem e semelhança das coisas visíveis que é trazida a esta especulação.

O quarto gênero de contemplação é aquele que se forma na razão e segundo a razão. Ele ocorre quando, removido todo ofício da imaginação, a alma se dirige somente a coisas que a imaginação não conhece, mas que a mente recolheu pelo raciocínio ou compreendeu pela razão. Insistimos nesta especulação quando conhecemos pela experiência as coisas que em nós são invisíveis, e entendemos pela inteligência as coisas que conduzimos à consideração, e pela consideração destas coisas levantamos a contemplação às almas celestes e aos bens supremos da inteligência.

O quinto gênero de contemplação é o que está acima da razão, mas não além da razão. A mente se ergue a esta forma de contemplação quando conhecemos pela revelação divina aquilo que nenhuma razão humana pode compreender plenamente e que não podemos investigar de modo íntegro por nenhum de nossos raciocínios. Tratam-se daquelas coisas que cremos e provamos pela autoridade das divinas escrituras sobre a natureza divina e sua simples essência. Embora estas coisas estejam acima da razão, não se deve reputá-las estarem além da razão, pois aquilo que aqui é apreendido pela agudeza da inteligência não pode ser contradito pela razão; ao contrário, com uma certa facilidade ela pode chegar a assentí-las e atestá-las.

O sexto gênero de contemplação é aquele que versa sobre as coisas que estão acima da razão, e que parecem estar além ou mesmo contra a razão. Neste que é o supremo e o mais digno de todos os modos de contemplação a alma verdadeiramente exulta e tripudia quando conhece pela irradiação da luz divina e considera aquelas coisas de que a razão humana reclama, como são quase todas as coisas de que somos ordenados a crer sobre a Trindade das Pessoas. Sobre estas coisas, quando se consulta a razão humana, esta nada mais (parece) poder fazer do que contradizê-las.