CAPÍTULO 88

Fala Ovídio Pires de Campos:

"Uma das principais causas da crise em que se debate o nosso ensino secundário vem a ser, na minha opinião, as sucessivas e nem sempre felizes reformas com que os Governos da República o sacodem de quando em quando.

Cada governo, ou cada presidência, julga de bom tom administrativo promover a reforma de nossa instrução pública, que vai vivendo, assim, em uma permanente instabilidade, golpeado, aqui e ali, por uma verdadeira e bem característica obsessão reformista. É um erro, um erro gravíssimo, como está na consciência de todo mundo, este suceder quase matemático das reformas de quatro em quatro anos.

Nada mais razoável, e de acordo com as leis da evolução e do progresso, que um certo regime de ensino venha a sofrer, pela ação do tempo, as devidas correções, que acaso a sua prática e aplicação apontem. Será, de quando em vez, uma simples questão de retoque. Mas o que se está habituado a presenciar entre nós não é bem isso, porém coisa muito mais séria: posta em execução uma dada reforma do ensino, antes mesmo que se verifiquem seus resultados através de uma experiência, decreta-se uma outra que não raro muda inteiramente a face das coisas, quer dizer, que segue uma orientação completamente diferente.

É comum, por este nosso mau vêzo, passar-se da noite para o dia a um regime diametralmente oposto: hoje, na vigência de uma reforma, vive-se na mais ampla liberdade de freqüência; amanhã, vigorando outra, leva-se ao máximo arrocho a obrigatoriedade dessa mesma freqüência.

Daí naturalmente a anarquia e a desordem, quando não são os protestos das partes interessadas e mais afetadas, a que se seguem, como corolários forçados, os célebres avisos ministeriais interpretativos, os quais, pela sua abundância, passam muitas vezes a constituir uma nova reforma, que fica subsistindo ao lado da outra.

E assim temos vivido estes últimos decênios, acumulando erros sobre erros, na doce ilusão de que vamos melhorando e aperfeiçoando nosso ensino com essa pletora de leis e decretos”.