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EM PRIMEIRO LUGAR, parece que a vida contemplativa
consiste somente em um ato do entendimento, já que o objetivo desta
vida está em alcançar a verdade. Ora, a verdade pertence somente ao
entendimento, de modo que se segue que a vida contemplativa consiste
somente em um ato do entendimento.
Ademais, a vida contemplativa tem sido chamada, pelos homens santos,
de um estado de lazer. Aristóteles também a descreveu como um
feriado. Ora, o lazer e a isenção do trabalho são opostos à
ação, a qual deriva da vontade. De um modo semelhante, portanto,
a vida contemplativa parece ser oposta à ação procedente da vontade,
e consiste somente no entendimento.
Ademais, há qualidades tais como a sabedoria e o entendimento, que
conduzem a vida contemplativa à maturidade, e estas pertencem ao
domínio do conhecimento. Por causa disto parece seguir-se que a
contemplação em si mesmo consiste somente no entendimento, porque
sempre existe uma proporção entre as operações e os seus hábitos.
Porém, contra estas razões, Santo Isidoro escreve que
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"a vida contemplativa é aquela
que é desimpedida de todo negócio humano,
e se delicia somente no amor de Deus".
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Se isto é assim, a vida contemplativa não consiste apenas no
conhecimento, porque o amor está relacionado com os afetos.
E ademais, assim como a vista está para o entendimento, assim o
sabor pertence ao apetite. São Gregório, porém, escreve que
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"a vida contemplativa
confere um sabor interior
da felicidade futura".
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Portanto, a vida contemplativa não consiste somente no entendimento.
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