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Conforme já se esperava, nenhum dos príncipes da Romanha obedeceu às ordens
dadas por Alexandre VI para que renunciassem aos seus cargos.
Foi então que César Borgia, no comando das forças pontifícias, com o apoio do Papa e
do rei de França, entrou em cena. Em uma série de três campanhas militares, desde o
fim de 1499 até o ano de 1503, desalojou a maior parte dos príncipes da Romanha.
César Borgia foi brilhantíssimo estrategista. Pagava regiamente os seus soldados, os
melhores que podia encontrar onde quer que fosse. Contratou nada menos do que
Leonardo da Vinci por um período de dois anos para ser engenheiro militar chefe de
suas tropas. Respeitava escrupulosamente a vida de seus combatentes. Todas as suas
vitórias, uma após a outra, foram fulminantes e meticulosamente organizadas para
levarem a uma vitória certa com um número de baixas da parte de seus soldados
mínimo ou mesmo nulo.
César possuía também uma verdadeira obsessão pelo segredo. Não revelava a ninguém
seus planos militares, nem mesmo aos seus auxiliares mais diretos, que freqüentemente
só ficavam sabendo no último instante o que deveria ser feito. Em algumas de suas
vitórias suas tropas, previamente divididas, partiam de locais distantes e seguiam por
caminhos diferentes ignorando o destino final que somente César conhecia. Os
percursos e os tempos, porém, haviam sido organizados previamente por César de
modo que todos acabassem encontrando-se simultaneamente junto ao inimigo. Até
alguns instantes antes da batalha, ademais, o próprio inimigo tinha a certeza de que as
tropas de César estavam em algum lugar distante planejando atacar algum outro alvo.
O caráter fulminante e a superioridade do ataque eram tão grandes que em alguns
destes casos a única chance que o inimigo tinha era a de uma fuga desesperada sem
possibilidade alguma de sequer tentar a organização de uma defesa.
Os príncipes desalojados desta ou de outra maneira eram substituídos por governantes
diretamente subordinados às ordens de César Borgia, que de fato eram muito mais
justos do que os anteriores. Prova disto era que as populações destas localidades viam
a César como a um libertador bem vindo e favoreciam suas vitórias com evidentes
manifestações de apoio. Isto, por outro lado, não significava um caráter bondoso por
parte de César. Ao contrário, esta atitude mais parecia fazer parte de seu gênio como
estrategista, pois ele sabia que necessitava do apoio popular para fortalecer e
prosseguir suas conquistas. À parte de coisas horríveis que se espalharam sobre sua
pessoa no resto da Itália e que ele, em sua obsessão pelo segredo, tornou em sua maior
parte uma tarefa impossível para os historiadores distinguirem o verdadeiro do falso,
sabe-se que ele era particularmente implacável para com os traidores.
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