CAPÍTULO 130

Ora, ocorreu então que em 1454, justamente no auge do movimento renascentista italiano, bem além dos Alpes, em território alemão, Gutemberg inventou a imprensa. Seu primeiro livro editado foi a Bíblia, mas logo em seguida a nova invenção passou a ser utilizada principalmente para a difusão dos livros que propagavam as idéias renascentistas.

Assim, aos poucos, mas em um crescendo sempre maior, o que foi se difundindo pela Europa através da imprensa não foram principalmente as Sagradas Escrituras com que Gutemberg inaugurou o seu invento, nem a Filosofia Grega, nem o ideal cristão, mas o espírito do humanismo renascentista.

Dificilmente poderia ter sido encontrada uma hora mais inoportuna para a imprensa ter sido inventada. Tivesse ela sido inventada antes, dois séculos antes de 1450, ou então depois, dois séculos depois de 1450, e a história da humanidade talvez tivesse seguido rumos completamente diferentes.

Se a imprensa tivesse sido inventada dois séculos antes, isto é, em 1250, época em que haviam acabado de falecer homens como São Bernardo, Hugo de São Vitor, São Francisco de Assis, São Domingos, Santo Antônio de Lisboa, e em que viviam São Boaventura e Santo Tomás de Aquino, o Renascimento não teria surgido e a humanidade teria evoluído segundo uma concepção de vida totalmente diversa da que temos hoje.

Se a imprensa tivesse sido inventada dois séculos depois, isto é, em 1650, certamente não nos é possível conjecturar o que ela teria difundido ao ter surgido. Mas é quase certo que, sem o auxílio da imprensa, em duzentos anos o espírito renascentista teria se apagado na Itália por si só e dado lugar a alguma outra coisa que não necessariamente o que teria sido o seu desdobramento lógico.