IV. DESDE MALTHUS ATÉ A PRIMEIRA TENTATIVA
BEM SUCEDIDA DE SE LEGALIZAR O ABORTO


1. O Neo Malthusianismo.

A primeira edição do Ensaio de Malthus foi publicada anonimamente em 1798. Malthus morreu em 1834, tendo publicado seis edições do Ensaio; a última edição do Ensaio foi publicada postumamente em 1872. Bem antes desta data, e antes até mesmo da morte de Malthus, teve início o chamado movimento neo malthusiano.

O neo malthusianismo teve como característica estar em oposição absoluta com os ensinamentos de Malthus em um ponto essencial. Enquanto Malthus não via outro remédio para o problema educacional além da continência moral e da educação necessária para conseguí-la, os neo malthusianos propunham a difusão de todos os processos de limitação dos nascimentos.

O primeiro livro de que se tem notícia que recomendou medidas contraceptivas como um substituto à continência moral de Malthus apareceu na Inglaterra no ano de 1822, isto é, doze anos antes da morte de Malthus. O livro se intitulava "Ilustrações e Provas acerca do Princípio da População", de autoria de Francis Place. Embora este livro se baseasse em predecessores, Place foi original no sentido de que ele procurou fornecer formulações éticas para o movimento neo malthusiano, assim como sua primeira teoria social sistemática.

O "Ilustrações e Provas" afirmava, dentre outras coisas, que o adiamento dos casamentos que Malthus propunha era demasiadamente oneroso como meio de limitar o crescimento populacional para poder ser amplamente adotado. Os casamentos entre as pessoas jovens, segundo o ponto de vista do livro, eram geralmente mais felizes, já que as pessoas velhas não conseguem ajustar-se uma para com a outra tão prontamente. Por outro lado, se fosse aceita a tese de Malthus segundo a qual um crescimento populacional extremamente rápido conduz inevitavelmente a problemas econômicos e sociais, então, como dizia o livro,

"para evitar estas misérias, a resposta é curta e óbvia": o uso de contraceptivos.

De maneira geral, idéias como estas passaram a receber o apoio de vários escritores e pensadores liberais da época. Além do livro, Place organizou na Inglaterra a distribuição de uma série de folhetos nos quais se recomendava a esponja como contraceptivo.