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Mas, seja qual for a verdade a este respeito, parece claro que havia alguma coisa
excusa nas conquistas de César Borgia.
Várias vezes ele declarou que a sua missão não era a de se tornar um tirano, mas a de
acabar com eles, e que ele nada mais estava fazendo do que restituir ao governo
efetivo da Igreja terras que de fato lhe pertenciam.
Porém, conforme narra a historiadora Sarah Bradford,
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"em primeiro de maio de 1501
Alexandre VI promulgou uma bula
confirmando César
vigário hereditário da Igreja
não somente da região de Pesaro,
mas também da de Fano,
que até aquele momento haviam estado
sob o controle direto da Igreja.
Uma quinzena mais tarde
César Borgia foi investido com o título
de Duque da Romanha,
e o Papa enviou-lhe a Rosa Dourada
pelo segundo ano consecutivo.
De fato, o Papa havia transferido
para o seu filho a senhoria perpétua
de uma das mais importantes províncias
dos Estados Pontifícios".
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Em seguida, a um certo momento de suas campanhas, César Borgia dispensou todos os
saldados franceses pagos por Luiz XII a seu serviço. Já era capaz de combater com as
suas próprias tropas.
Por volta de 1503 começaram a surgir evidências de que César Borgia estava prestes a
dispensar inclusive o apoio político do rei de França, apoio devido ao qual até então o
Ducado de Milão e a República de Veneza, preocupadíssimos com a marcha dos
acontecimentos, haviam no entanto se conservado em uma aparente neutralidade.
Mas, mais ainda do que isso, César Borgia deu sinais de estar preparando-se para
conquistar territórios como Siena e Florença, que estavam totalmente fora dos Estados
Pontifícios, e o rei de França enviou uma mensagem ao Papa Alexandre VI no sentido
de que ele contivesse os projetos militares de seu filho.
Qual era a meta que tinha em mente este homem, afinal? Ninguém jamais o soube. Não
é improvável, conforme Maquiavel pensava, que ele pretendesse unificar a inteira
Itália sob o seu domínio. Ao contrário de Alexandre VI que, não obstante os seus
defeitos, era um homem de sentimentos religiosos, César Borgia era totalmente
indiferente à religião. Se tivesse conseguido realizar seus planos, o que pretenderia
fazer ele com o Papado?
Trata-se de uma questão para a qual só se podem fazer conjecturas.
Jacó Burckhardt, que tem uma visão do pontificado de Alexandre VI bem mais negativa
do que na realidade o foi, faz no entanto algumas considerações a este respeito que não
nos parecem totalmente inverossímeis:
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"Não pode haver dúvidas
de que César Borgia tinha a intenção
de tomar posse a qualquer custo
dos Estados Pontifícios,
e que se alguém pudesse ter secularizado
os Estados Pontifícios
este alguém era César Borgia,
e que ele se veria forçado a fazê-lo
se quisesse alcançar seus objetivos.
A menos que estejamos muito enganados,
esta foi a verdadeira razão
da simpatia com que Maquiavel tratou
este grande criminoso,
pois somente de César ou de mais ninguém
poderia-se esperar o aniquilamento do Papado,
o principal obstáculo que impedia
a unificação italiana".
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Entretanto, o mesmo Burckhardt mais adiante acrescenta que
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"ao seguir tais hipóteses,
a imaginação se perde a si mesma
em um abismo".
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