CAPÍTULO 5

Ocorre porém que o mundo em que vivemos hoje, em cuja história se realiza também a história da Igreja, é muito mais complexo do que o mundo do Império Romano, do que o mundo do Império Bizantino, ou mesmo do que o da Idade Média.

Os homens de hoje, muito embora tenham um acesso muito maior a todo tipo de informação do que os das épocas passadas, geralmente têm a sensação de viverem em um mundo em que as pessoas partilham de uma viva impressão de terem sido metidos em um barco do qual ninguém sabe exatamente para onde se dirige.

Esta sensação não é coisa que pertença unicamente ao mundo contemporâneo, porque é da natureza do futuro ser incerto para todos os homens, mas em nossa época esta impressão é mais acentuada porque não é apenas o futuro, mas uma compreensão exata do significado do que está acontecendo com a civilização contemporânea que está faltando.

Que este problema se revista de uma especial gravidade no mundo de hoje pode ser considerado também pelo fato de que no início da Constituição Gaudium et Spes do Concílio Vaticano II se encontram as seguintes palavras:

"A Igreja sente-se real e intimamente ligada ao gênero humano e à sua história. As alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens de hoje são também as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos discípulos de Cristo".

Quando nós hoje, no final do século XX, ouvimos o Concílio dizer estas coisas, parece-nos estar ouvindo alguma coisa óbvia. Mas, vistas em sua perspectiva histórica, não se trata de nada óbvio. Nunca, em nenhuma época da história, Concílio algum apontou um problema como este como sendo alguma coisa de particular gravidade, exceto o próprio Concílio Vaticano II. Quanto a este, dois parágrafos depois desta citação que acabamos de fazer, na mesma Constituição Gaudium et Spes acrescenta-se o seguinte:

"Nos nossos dias a humanidade, cheia de admiração ante as próprias descobertas e poder, debate, porém, muitas vezes com angústia, às questões relativas à evolução atual do mundo e ao significado de seu esforço individual e coletivo".

Trata-se na realidade de questões comuns a todas as épocas, pois é sempre muito difícil compreender o significado do que está acontecendo na história humana, exatamente pelo fato de estar acontecendo. Mas em nossa época este problema se reveste de uma excepcional gravidade não só porque o número de fatores envolvidos na confecção dos problemas do homem moderno é elevado e de muito difícil compreensão simultânea, como também, paradoxalmente, eles se orientaram de um tal modo que tendem a minar no homem a própria base pela qual seria possível compreendê-los mais facilmente.