9. Extratos do Sermão nº 61 de Hugo de S. Vitor, sobre a narrativa da criação em seis dias.

" 'No princípio Deus criou
o céu e a terra'.

Gen. 1, 1

O céu é o espírito, a terra o corpo",

diz Hugo de S. Vitor.

"O mundo em sua primeira confusão é o homem em sua iniqüidade. Assim como o mundo primordial, ainda confuso, não possuía luz nem ordem, assim o homem submetido à iniqüidade não possui luz pelo conhecimento da verdade nem ordem pela disposição da eqüidade.

Deus cria a luz primária em meio à confusão quando ilumina com os raios de uma luz íntima o pecador imerso no caos pelas suas diversas loucuras, para que ele saiba o que ele é e o que deveria ser, e se disponha a si mesmo segundo a norma do reto viver. A luz primária, portanto, significa o conhecimento do pecado.

No quarto dia a criação dos luzeiros do céu significa a perfeita visão da verdade, removida a nebulosa cegueira da ignorância.

No último dia, todas estas coisas criadas, o homem é feito à imagem e semelhança de Deus, quando aquele que antes havia sido deforme e dessemelhante pela culpa se torna conforme e semelhante a Deus pela santidade. O homem assim formado é colocado no paraíso das delícias quando o pecador regenerado no mundo pela graça é sublimado ao céu pela glória.

Eis, meus irmãos, um outro mundo.

Vejamos, pois, se em nós existe esta luz primária, se existem os luminares do quarto dia pelo conhecimento da verdade, se em nós a dignidade humana foi restaurada pela santidade, assim como havia sido deformada pela culpa, e se, (assim como Deus o viu no término dos seis dias), todas as coisas que fizemos foram imensamente boas".