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Há muitas opiniões distorcidas na comum opinião dos homens sobre o
que seja a humildade, as quais dificultam uma apreciação de sua
verdadeira natureza. Para alguns a humildade seria uma forma mórbida
de auto desprezo, para outros uma ingenuidade incapaz de reconhecer a
maldade alheia, para outros ainda a submissão irracional a qualquer
forma de violência, física ou psicológica, externamente imposta.
Ao contrário destas e de muitas outras colocações, deve-se dizer
que a humildade significa a consciência que o homem possui de ser
apenas um ser humano ou uma criatura humana e de, conseqüentemente,
não ser um deus ou um ser dotado de atributos divinos; significa
também a consciência das implicações contidas nestas afirmações e
a capacidade de agir coerentemente com elas. As pessoas que, em graus
maiores e menores, não possuem a virtude da humildade são aquelas
que, em seu agir, quer elas o entendam ou não, quer o admitam ou
não, procedem de tal forma que suas atitudes só poderiam ser
explicadas coerentemente na hipótese de que elas tivessem admitido como
pressuposto de seu agir que elas não são homens, mas deuses, ou
criaturas dotadas de atributos divinos ou, pelo menos, seres dotados
de uma natureza mais do que humana. A conduta do homem orgulhoso é,
assim, sob qualquer ponto de vista, uma conduta absurda. Para ser
coerente com o seu procedimento, o homem orgulhoso teria que admitir
com sinceridade um pressuposto absurdo; se se recusar a fazê-lo,
então sua própria conduta, considerada em si mesma, torna-se
absurda porque incoerente.
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