3. A aptidão.

A aptidão é considerada na quantidade e na qualidade.

Na quantidade, se não se une o tênue e delgado ao demasiadamente grosso e corpulento.

Na qualidade, se não se une o úmido ao demasiadamente seco, o quente ao demasiadamente frio, o leve ao demasiadamente pesado; pois, se existirem coisas tais, estarão unidas desordenadamente.

Vê se à beleza das obras divinas falta alguma destas coisas, e, se te deres conta como nada falta, já terás com isto com que te admirar.

Observa primeiro a máquina deste universo: verás com que admirável razão e sabedoria a composição de todas as coisas é perfeita; e quanto ela é precisa, adequada e bela; que tão grande número de partes para ela não concorre, em que não somente os semelhantes observam concórdia entre si, mas até aquelas coisas que a potência criadora trouxe à luz com características diversas e repugnantes, regidas pela sabedoria, como que convivem em amizade.

O que pode ser mais repugnante do que a água e o fogo? Todavia, a prudência de Deus as compôs de tal modo na natureza das coisas que não somente não destroem o vínculo comum da sociedade que tem entre si, como também subministram alimento vital para que possam subsistir todos os seres que nascem.

O que direi então da composição do corpo humano, onde a união de todos os membros guarda tanta concórdia entre si que não pode ser encontrado nenhum membro cujo ofício não pareça ser de serventia para qualquer outro?

Desta maneira, toda a natureza se ama, e de um modo admirável a concórdia de muitas coisas dessemelhantes reduzidas a um só todo realiza uma só harmonia em todas as coisas.