CAPÍTULO 89

Mesmo à custa do tamanho desta Terceira Parte, temos que fazer o próprio Quintiliano falar, através de sua obra, para podermos continuar convenientemente a nossa exposição.

Na introdução ao Livro Primeiro das Instituições Oratórias Quintiliano explica seu propósito educacional que o norteará durante a obra toda:

"Tendo abandonado a minha atividade profissional, consagrada durante 20 anos instrução da juventude, alguns de meus amigos me pediram que compusesse alguma coisa sobre a arte de dizer.

Para satisfazer mais plenamente aos pedidos de meus amigos, tentarei, para não ingressar em caminhos já percorridos, não insistir naquilo que outros já fizeram, porque todos aqueles que escreveram até hoje sobre a arte oratória o fizeram como se estivessem impondo a elevada mão da eloqüência sobre pessoas já perfeitas em todos os demais gêneros de conhecimento, aos quais deviam dar apenas a última polida da eloqüência. Talvez estes autores tivessem considerado como coisa de menos importância todos os estudos feitos preliminarmente à nossa arte, ou mesmo opinaram que tal coisa não pertencesse ao seu ofício.

Eu, porém, estimo que nada pode ser alheio à arte oratória sem o qual se torna impossível formar o orador, e que em nenhuma matéria é possível alcançar a perfeição se não iniciarmos pelos próprios princípios. Não me recusarei, portanto, de descer até estes estudos menos importantes mas que, se negligenciados, não é possível elevar-se aos mais altos e, tal como se me entregassem novamente um educando para transformá-lo num orador, começarei a descrever e explicar quais devem ser seus estudos desde a mais tenra infância".

Já nestas poucas passagens iniciais das Instituições Oratórias vemos um dos traços desta obra que impressionariam os homens da Renascença. Quintiliano não se propõe apenas a escrever um tratado sobre a arte oratória, mas um sistema educacional completo tendo como objetivo final a formação do perfeito orador.