|
Falamos no ítem anterior o que é generalidade. Agora falta dizer o que é abstração.
Generalidade não é a mesma coisa que abstração, embora quanto mais geral seja um
conceito, mais abstrato também ele será.
A palavra abstrato vem de abstrair, que significa tirar, remover, trazer de dentro. Fazer
uma abstração significa, assim, considerar um aspecto de alguma realidade
desprezando outros, trazer à luz certas características de alguma coisa fazendo
abstração das demais.
Como exemplo de abstração podemos considerar uma simples realidade de nosso
trabalho. No nosso trabalho diário nossos chefes não se interessam e não se ocupam
com nossas vidas particulares. Estas não interessam à empresa; somos remunerados
não pelo que valemos como seres humanos, mas pelo que valemos como profissionais;
a empresa vê a nós, seres humanos, apenas como profissionais. Qualquer outra
realidade que em nós esteja presente, a empresa é cega para ela. Ela faz abstração do
ser humano que há em nós, e só considera o profissional. Este é, assim, um exemplo de
abstração, prático e elementar.
Mas no exemplo que demos anteriormente, em que de José Albuquerque da Silva
passamos para homem, mamífero, animal, ser vivo, ser corporal e finalmente, ser,
demos um exemplo não só de crescente generalidade, como também de crescente
abstração.
Porque quando dizemos José da Silva, queremos dizer este indivíduo em particular.
Quando dizermos "homem", porém, já estamos fazendo abstração de tudo quanto José
da Silva tinha de especial que o diferencia de outros homens. Quando dizemos
mamífero, estamos fazendo abstração de tudo quanto diferencia José da Silva não
somente dos outros homens, mas também dos cachorros, das baleias e dos gatos.
Quando dizemos "animal", estamos fazendo abstração de tudo quanto diferencia José
da Silva não só dos cachorros e das baleias, mas também dos insetos, dos peixes e das
aves. Ao dizermos animal, ficamos apenas com as características de José da Silva que
são comuns a todos os animais: a capacidade de reagir ao mundo exterior, a
capacidade de se locomover, de se alimentar, de crescer, de reproduzir-se, e outras.
Estas características são comuns de fato ao José da Silva e aos cachorros, às baleias,
aos insetos, aos peixes, às aves e a todos os animais.
Mas quando chegamos ao topo da escada, e dizemos "ser", estamos abstraindo de José
da Silva todas as características que ele não tem em comum com todos os outros seres,
sejam eles quais forem. Já abstraímos tudo, exceto aquilo que existe de mais profundo
em cada coisa, esta coisa tão misteriosa e intrigante que é o ser.
O ser é, assim, não só o conceito mais geral possível, mas também o mais abstrato de
todos.
|
|