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Nossa contemplação, sem dúvida, versa na imaginação quando é
conduzida à consideração da forma e da imagem das coisas visíveis,
quando com admiração observamos e observando admiramos as coisas
corporais que percebemos com os sentidos corpóreos o quanto são
muitos, o quanto são grandes, o quanto são diversos, o quanto são
belos ou agradáveis, e em todas estas coisas veneramos com admiração
a potência, a sabedoria e a bondade daquela superessência criadora,
e a admiramos com veneração.
O segundo modo de contemplação é o que consiste na imaginação,
embora proceda e seja formado pela razão, o que se realiza quando
aquilo que considera na imaginação e que já dissemos pertencer ao
primeiro gênero de contemplação, buscamos e investigamos a razão,
ou melhor, descoberta e conhecida, à trazemos à nossa consideração
com admiração. No primeiro gênero admiramos as próprias coisas,
no segundo admiramos a sua razão, sua ordem, sua disposição e a
causa de cada coisa, comparamos o seu modo e a utilidade, especulamo-
las e admiramo-las. E, embora sob certos aspectos a contemplação
pela qual buscamos a razão das coisas visíveis pareça estar na
razão, todavia corretamente dizemos estar situada mais na
imaginação, porque tudo o que nela buscamos ou encontramos
raciocinando, a elas sem dúvida acomodamos as coisas que tratamos pela
imaginação quando insistimos neste raciocínio sobre elas e por causa
delas.
Dissemos que o terceiro gênero de contemplação é o que se forma na
razão segundo a imaginação. Isto ocorre quando pelas semelhanças
das coisas visíveis levantamos a especulação às coisas invisíveis.
Esta especulação consiste na razão, porque ela insiste pela
intenção e pela investigação somente em coisas que excedem a
imaginação. É dita, porém, formar-se segundo a imaginação
porque é pela imagem e semelhança das coisas visíveis que é trazida
a esta especulação.
O quarto gênero de contemplação é aquele que se forma na razão e
segundo a razão. Ele ocorre quando, removido todo ofício da
imaginação, a alma se dirige somente a coisas que a imaginação não
conhece, mas que a mente recolheu pelo raciocínio ou compreendeu pela
razão. Insistimos nesta especulação quando conhecemos pela
experiência as coisas que em nós são invisíveis, e entendemos pela
inteligência as coisas que conduzimos à consideração, e pela
consideração destas coisas levantamos a contemplação às almas
celestes e aos bens supremos da inteligência.
O quinto gênero de contemplação é o que está acima da razão, mas
não além da razão. A mente se ergue a esta forma de contemplação
quando conhecemos pela revelação divina aquilo que nenhuma razão
humana pode compreender plenamente e que não podemos investigar de modo
íntegro por nenhum de nossos raciocínios. Tratam-se daquelas coisas
que cremos e provamos pela autoridade das divinas escrituras sobre a
natureza divina e sua simples essência. Embora estas coisas estejam
acima da razão, não se deve reputá-las estarem além da razão,
pois aquilo que aqui é apreendido pela agudeza da inteligência não
pode ser contradito pela razão; ao contrário, com uma certa
facilidade ela pode chegar a assentí-las e atestá-las.
O sexto gênero de contemplação é aquele que versa sobre as coisas
que estão acima da razão, e que parecem estar além ou mesmo contra a
razão. Neste que é o supremo e o mais digno de todos os modos de
contemplação a alma verdadeiramente exulta e tripudia quando conhece
pela irradiação da luz divina e considera aquelas coisas de que a
razão humana reclama, como são quase todas as coisas de que somos
ordenados a crer sobre a Trindade das Pessoas. Sobre estas coisas,
quando se consulta a razão humana, esta nada mais (parece) poder
fazer do que contradizê-las.
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