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No décimo capítulo do Livro I, Quintiliano afirma também que para a formação do
orador é necessário que não apenas que ele conheça os preceitos da gramática e da
oratória, assim como os preceitos da ciência moral e que ele próprio se torne um
homem bom, mas também que se exige dele o conhecimento de todas as demais artes:
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"O que eu tinha a dizer
sobre o ensino da Gramática,
que deve preceder na criança
o da Retórica,
o indiquei o mais brevemente possível,
não procurando fazer uma exposição completa,
o que não teria mais fim,
mas apontar o que é mais necessário.
Devo acrescentar também uma palavra
sobre as demais artes nas quais julgo
que devem ser instruídas as crianças
antes que passem do professor de gramática
para o professor de retórica,
para que elas possam percorrer
todo aquele círculo de conhecimentos
que os gregos denominam
de enciclopédia.
De fato, ouve-se objetar,
por parte de algumas pessoas,
de que serviria para defender uma causa
ou uma sentença diante do Senado,
saber como construir
um triângulo equilátero
sobre uma dada linha?
Ou em que ajudaria
a defender melhor um réu
ou a aconselhar melhor um governante
distinguir os sons da cítara
pelos seus nomes e intervalos?
Não é possível citar um grande número
de homens competentes no Fórum
que nunca estudaram Geometria
e que nada ouviram de música
a não ser o prazer que a melodia
oferece ao ouvido comum?
Eu respondo a isso,
em primeiro lugar,
aquilo que Cícero declara
tão freqüentemente
no seu livro escrito a Bruto:
não estamos descrevendo a formação
do orador que existe,
mas daquele tipo ideal de orador perfeito
que nada deixa a desejar.
Os que formam os sábios,
sábios que devem ser
um todo plenamente acabado e,
como eles próprios dizem,
como que deuses mortais,
não satisfeitos de os iniciarem
nas ciências divinas e humanas,
os fazem passar igualmente por várias outras,
até mesmo fúteis,
consideradas em si mesmas.
São, por exemplo,
certas sutilidades da Lógica.
Tais coisas ninguém acredita
que sejam capazes de formar
um homem sábio,
mas o fato é que o sábio por excelência
deve ser infalível
até nas mais mínimas coisas.
Da mesma forma,
o orador por excelência
deve ser um sábio.
O que o tornará assim
não é o professor de Geometria,
nem o professor de Música,
nem os demais conhecimentos
de que eu vou falar,
mas todas estas artes
o ajudarão a tornar-se perfeito".
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