Capítulo 28

Cinqüenta anos depois do julgamento de Anaxágoras a memória desta fato ainda estava viva entre os atenienses, conforme mostra um acontecimento ocorrido durante o julgamento de outro filósofo diante de um tribunal exatamente composto como o que acabamos de descrever. Este filósofo foi Sócrates, e o seu julgamento foi posteriormente narrado por Platão em um de seus diálogos denominado "A Apologia de Sócrates". As acusações contra Sócrates eram variadas, mas dentre elas estava novamente a mesma acusação de que Anaxágoras havia sido, muitos anos antes, também réu. Durante o julgamento de Sócrates um dos acusadores, de nome Meleto, assim se expressou diante dos juízes:

"Atenienses, eis aqui diante de vós a Sócrates. Este homem é réu de pesquisar indiscretamente o que há sob a terra e nos céus, de fazer com que prevaleça a razão mais fraca e de ensinar aos outros o mesmo comportamento. Ele não crê, ademais, como toda a gente, que o Sol e a Lua são deuses, pois afirma que o Sol é pedra e que a Lua é terra".

A esta acusação Sócrates teria respondido assim:

"Estás sonhando, meu caro Meleto. Tu supões ainda estares acusando a Anaxágoras, envergonhando desta forma os aqui presentes, julgando-os tão ignorantes que não sabem que são os livros de Anaxágoras de Clazômenas que andam cheios destas teorias. Seria justo de mim que os jovens aprenderiam tais lições, sendo que eles podem, a qualquer momento, por apenas três dracmas, comprar os seus livros junto ao coro do teatro e depois rir do velho Sócrates que as quis passar como suas, justamente estas tão originais?"

Esta não foi a única acusação contra Sócrates, mas juntamente com ela, neste tribunal, Sócrates foi condenado à morte por uma diferença de trinta votos.