CAPÍTULO 31

Ora, aconteceu que no ano de 1048 DC, tendo morrido o Papa que havia sucedido a Gregório VI, o papa de quem Hildebrando havia sido o capelão, e estando Hildebrando ainda no mosteiro de Cluny, o Imperador Henrique III escolheu seu primo Bruno, bispo de Toul na Lorena, uma região situada entre o Sacro Império e a França, para ser o próximo Papa.

Independentemente do fato de ser o primo do Imperador, Bruno havia dado provas de ser um bispo exemplar, durante as mais de duas décadas em que esteve à frente da Diocese de Toul.

Já designado Papa pelo Imperador, a caminho de Roma, o bispo Bruno encontrou-se com o monge Hildebrando e com São Hugo, o abade de Cluny. Em uma conversa particular, estes fizeram ver ao bispo Bruno que, pelos cânones da época, ainda que nomeado pelo Imperador, enquanto Bruno não fosse aceito pelo povo e pelo clero de Roma ele não poderia considerar-se ainda verdadeiro Papa. Bruno reconheceu que os dois estavam com a razão e fêz questão de entrar em Roma não como Pontífice, mas como simples peregrino, recusando-se a exercer qualquer ato como Papa enquanto não obtivesse a confirmação de sua nomeação por parte do clero romano, quando então tomou o nome de Leão IX.

Não quis porém Leão IX, mais tarde São Leão IX, entrar em Roma sem ter levado consigo ao monge Hildebrando como seu secretário particular. Esta decisão foi providencial pois, segundo os historiadores da época, Hildebrando passou a ser o principal inspirador das decisões mais importantes do pontificado de Leão IX e dos quatro Papas que viriam depois dele.

Com a colaboração de Hildebrando, Leão IX passou a reunir regularmente o clero de Roma em sínodos, aos quais foram convidados od bispos das vizinhanças e também os superiores dos mosteiros sujeitos à Abadia de Cluny. As decisões tomadas nestes sínodos eram levadas posteriormente aos lugares de origem dos bispos e dos abades presentes.

A idéia prosperou e Leão IX começou a viajar por toda a Europa celebrando sínodos semelhantes com os bispos e abades locais, instituindo a reforma, punindo abusos e depondo bispos indignos. Nos seus cinco anos de pontificado, num tempo em que as comunicações eram precárias e as estradas inseguras e em que se viajava apenas a pé ou a cavalo, Leão IX atravessou os Alpes três vezes em longas viagens, percorrendo e celebrando sínodos nas dioceses da França e do Sacro Império. Mais tarde, nos lugares em que ele não podia voltar, os sínodos continuaram regularmente sob a supervisão de uma rede de legados pontifícios que ele instituíu e que se tornaram, muito tempo depois, os atuais núncios apostólicos.

Muitos destes legados foram monges cluniacienses; o próprio Hildebrando desempenhou diversas vezes este papel.

Gradativamente, diz o historiador P. Hughes,

"toda a Igreja Ocidental passou a compreender, naquele contato pessoal com o Papa, que a Sé Romana se entregava de corpo e alma à restauração da vida cristã e à supressão dos vergonhosos abusos que haviam se tornado uma segunda natureza em toda a parte".