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Não podemos demonstrar aqui o que Parmênides responderia aos físicos. Não teríamos
conhecimentos suficientes para acompanhar todo o raciocínio. Mas é tão importante a
resposta que não podemos deixar de citá-la, ainda que seja para ser entendida em uma
outra época, quando e se tivermos melhores conhecimentos nesta área. Parmênides
responderia que todos sabem que quando um físico trabalha, ele primeiro observa um
fenômeno qualquer em seu laboratório e sobre este fenômeno constrói uma teoria que é
costumeiramente chamada de modelo matemático daquele fenômeno. Ele vê uma
partícula desviando-se, imagina que existam forças atuando sobre esta partícula e
imagina também uma fórmula matemática que descreva o comportamento destas forças.
O fenômeno é apenas a partícula que se desvia. O modelo, isto é, as coisas que o físico
não via, mas que supôs que existissem para poder explicar os fatos, são tanto as forças
como as fórmulas matemáticas que as descrevem.
Ora, analisando os exemplos que os físicos teriam a apresentar para sustentarem a
explicação que eles deram sobre a teoria de Parmênides constataríamos que as
contradições a que os físicos estariam se referindo, supondo que elas realmente
existam, nunca aparecem nos fenômenos, mas apenas nos modelos. Ora, é muito comum
no mundo da ciência tomar os modelos pelas realidades. No seu trabalho cotidiano os
cientistas freqüentemente trocam com espantosa facilidade uma pela outra e deixam de
se lembrar quando estão trabalhando com a realidade e quando estão trabalhando com
o modelo. Quantos de nós, por exemplo, não nos referimos à força da gravidade como
se ela fosse uma realidade? No entanto, um pouco de reflexão nos mostrará que ela é
apenas um modelo, e não uma realidade; a realidade sobre a qual ela foi construída é
somente a queda dos corpos. Não há nenhum indício direto de que exista uma realidade
tal como a força da gravidade, ela não passa de uma hipótese inteligente para explicar
a queda dos corpos. Feitas estas distinções, ocorre agora observar que recentemente na
história da Física moderna muitas vezes um modelo aparentemente ilógico, mas que
explicava corretamente algum fenômeno, foi substituído posteriormente por outro
modelo mais engenhoso, que explicava o mesmo fenômeno de maneira igualmente
correta, mas que era menos atentatório à lógica. Nunca, porém, foi visto, nem mesmo
na Física das partículas sub atômicas, nenhum fenômeno que em si contivesse uma
contradição de lógica. De modo que, portanto, a objeção dos físicos, segundo
Parmênides, na realidade não existiria.
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