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Mas o pontificado de Nicolau V marcou época não apenas pela reconstrução da
cidade de Roma.
Antes de ser Papa ela havia sido um humanista. Ele percebeu com isto, e percebeu
melhor do que ninguém, os perigos que os desvios do movimento renascentista abriam
para a Igreja e para os homens.
Ao subir ao trono de Pedro tomou, como Papa, uma atitude diante do Renascimento
que levou até às últimas conseqüências. Foi uma atitude ao mesmo tempo muito
corajosa e muito perigosa, mas que talvez na época fosse a única coisa que poderia ter
sido feita com esperança de êxito.
Nicolau V decidiu que a própria Igreja deveria colocar-se à frente do movimento
renascentista e canalizá-lo para uma finalidade cristã.
Ele chamou nada menos do que todos os humanistas que lhe foi possível chamar do
norte da Itália para a cidade de Roma, para trabalharem com ele e sob o seu
patrocínio. Todos os sábios da Itália se dirigiram para Roma no tempo de Nicolau V,
disse um historiador da época, uma parte por iniciativa própria, outra parte chamada
pelo Papa que desejava vê-los trabalhando em Roma. Mesmo para aqueles que vieram
sem terem sido convidados o Papa providenciou trabalho regiamente recompensado.
Apesar da evidente integridade moral do Papa, este passava por cima de muitíssimas
coisas na vida destes humanistas que a outros cristãos deveriam constituir-se em
motivo para seríssimas desconfianças, como se estivesse simplesmente fechando os
olhos para os perigos que os humanistas da Renascença poderiam trazer à Igreja. Na
verdade o que ocorria era que Nicolau V tentava com isto aproximá-los e endereçar
estes homens por outros caminhos, homens que, mesmo sem a ajuda do Papa, já eram
por si sós pessoas influentes na sociedade da época.
Assim, além do projeto de construção da maior Basílica do mundo, Nicolau V
concebeu, com a assessoria dos humanistas que afluíam para Roma, organizar também
a maior biblioteca do mundo.
Enviou emissários à busca de manuscritos em todos os lugares do mundo que lhe
fossem acessíveis, por mais distantes que fossem. Enviou homens à Grécia, à
Inglaterra e à fronteira norte oriental do Império Germânico.
Quando aos sábios que haviam permanecido em Roma, empregou-os em sua maior
parte na tradução dos clássicos gregos, aos quais pagava com uma liberalidade maior
do que a de qualquer outro governante da época.
Nicolau V, no dizer de L. Pastor, derramou uma verdadeira chuva de ouro sobre os
eruditos, com a intenção declarada de traduzir toda a literatura da Grécia antiga. Mas,
juntamente com os textos da literatura pagã, recuperaram-se através deste imenso
esforço as obras completas de Santo Agostinho, grande parte dos escritos dos Santos
Padres do Oriente e do Ocidente, e os manuscritos mais antigos das Sagradas
Escrituras que o mundo moderno conheceu até à descoberta casual, em 1947, dos
manuscritos das cavernas do Mar Morto.
Estes manuscritos, adquiridos no mundo inteiro da época, eram traduzidos, corrigidos
e multiplicados na cidade de Roma por uma legião de eruditos, num esforço que deu
origem à Biblioteca Vaticana que existe até os dias de hoje, uma biblioteca que, nos
planos de Nicolau V, deveria ser pública e acessível a todos os homens de saber de
qualquer proveniência.
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