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Ocorreu porém, que apesar da peste não escolher entre pessoas e ter atingido entre um
terço e metade da população da Europa, por outros motivos a doença atacou de modo
preferencial ao clero e aos membros mais empreendedores da sociedade.
A explicação deste estranho paradoxo se deve, no que diz respeito ao clero, à
existência de uma obrigação moral do clero de não abandonar as cidades em épocas de
epidemia para poder, deste modo, garantir-se a administração dos Sacramentos aos
moribundos. A doença, porém, desta vez era tão contagiosa e a ignorância sobre as
suas verdadeiras causas e os meios que poderiam tê-la evitado era tão total que a
melhor parte do clero morreu prestando assistência aos moribundos. Muitos dos que
sobraram foram os sacerdotes que, não tendo a coragem de cumprir com o seu dever,
haviam fugido para o campo.
No que diz respeito aos homens mais empreendedores da sociedade, o paradoxo
também se explica pelo fato de que eram estes os que tinham organizado os negócios
nas cidades, como estabelecimentos de comércio ou pequenas manufaturas. Justamente
por causa disso eram os que mais relutavam em abandonar tudo e fugir para o campo.
Os que fugiam para o campo eram, preferencialmente, aqueles que nada tinham a
perder se não ficassem na cidade porque não haviam sido capazes de construir nada
que pudesse ser perdido.
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