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Cinqüenta anos depois do julgamento de Anaxágoras a memória desta fato ainda estava
viva entre os atenienses, conforme mostra um acontecimento ocorrido durante o
julgamento de outro filósofo diante de um tribunal exatamente composto como o que
acabamos de descrever. Este filósofo foi Sócrates, e o seu julgamento foi
posteriormente narrado por Platão em um de seus diálogos denominado "A Apologia
de Sócrates". As acusações contra Sócrates eram variadas, mas dentre elas estava
novamente a mesma acusação de que Anaxágoras havia sido, muitos anos antes,
também réu. Durante o julgamento de Sócrates um dos acusadores, de nome Meleto,
assim se expressou diante dos juízes:
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"Atenienses, eis aqui
diante de vós a Sócrates.
Este homem é réu de pesquisar indiscretamente
o que há sob a terra e nos céus,
de fazer com que prevaleça
a razão mais fraca
e de ensinar aos outros
o mesmo comportamento.
Ele não crê, ademais,
como toda a gente,
que o Sol e a Lua são deuses,
pois afirma que o Sol é pedra
e que a Lua é terra".
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A esta acusação Sócrates teria respondido assim:
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"Estás sonhando, meu caro Meleto.
Tu supões ainda
estares acusando a Anaxágoras,
envergonhando desta forma os aqui presentes,
julgando-os tão ignorantes
que não sabem que são
os livros de Anaxágoras de Clazômenas
que andam cheios destas teorias.
Seria justo de mim
que os jovens aprenderiam tais lições,
sendo que eles podem,
a qualquer momento,
por apenas três dracmas,
comprar os seus livros junto ao coro do teatro
e depois rir do velho Sócrates
que as quis passar como suas,
justamente estas tão originais?"
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Esta não foi a única acusação contra Sócrates, mas juntamente com ela, neste tribunal,
Sócrates foi condenado à morte por uma diferença de trinta votos.
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