|
Quando Aristóteles quiz mostrar o que é o sentido, diz S.
Tomás, afirmou primeiro que
|
"é necessário colocar
como pertencendo à natureza
universal e comum de todo sentido
que o sentido é algo
capaz de receber a forma sem a matéria,
assim como a cera recebe uma marca de um anel
sem o seu ferro ou o seu ouro" (16).
|
|
Isto, porém, continua S. Tomás, é comum a todo paciente.
Todo paciente recebe algo do agente na medida em que este é agente.
Ora, todo agente age pela sua forma, não pela sua matéria.
Portanto, todo paciente recebe a forma sem receber a matéria
(17).
Já vimos na teoria da causalidade, conforme exposto no Apêndice ao
capítulo II do presente trabalho, que em toda mutação encontra-se
um sujeito em que ocorre uma passagem da privação de uma forma à
forma à qual tende o movimento. Ademais, toda mutação necessita de
uma causa eficiente, que é o agente. O sujeito ou paciente recebe na
mutação uma forma de um agente que provoca esta mutação na medida em
que ele possui esta forma. Assim, por exemplo, um objeto quente
provoca num objeto frio uma mutação do frio para o quente
comunicando-lhe uma forma que possui, que é a qualidade quente; mas
é evidente neste exemplo que o paciente recebeu uma forma do agente sem
receber a matéria deste agente, e que, além disso, o exemplo não
envolvia os sentidos presentes nos animais e no homem.
Que há, pois, de específico no sentido que não há nas demais
mutações? A diferença, diz S. Tomás, está
a forma (18).
Nas demais mutações a forma que é recebida do agente passa a ter no
paciente o mesmo modo de ser que tinha no agente. Isto ocorre porque
nestas mutações o paciente tem a mesma disposição à forma que
também tem o agente. A forma é recebida no paciente do mesmo modo
como estava no agente.O paciente não recebe a mesma matéria que
individuava o agente, mas sua própria matéria se torna, de uma certa
maneira, a mesma, na medida em que adquire uma disposição material
semelhante àquela que havia no agente (19).
No caso dos sentidos, porém, a forma é recebida no paciente segundo
um outro modo de ser que não o que havia no agente. A disposição
material do paciente, que aqui são os sentidos, não é semelhante à
do agente. Por isso a forma é recebida no paciente sem a matéria,
na medida em que o paciente se assemelha ao paciente apenas segundo a
forma, não segundo a matéria. É por este modo especial que o
sentido recebe a forma sem a matéria, porque a forma possui modos de
ser diversos no sentido e nas coisas sensíveis (20).
Referências
|
(16) In librum De Anima Commentarium, L. II, l. 24, 551.
(17) Idem, loc. cit.. (18) Idem, L. II, l. 24,
552. (19) Idem, loc. cit.. (20) Idem, L. II, l.
24, 553.
|
|
|
|