|
Porém, ao perseguir este seu objetivo final, Quintiliano foi mais longe. De fato, logo a
seguir, na introdução do Livro I, ele continua:
|
"Mas o orador que desejamos assim instituir
é o orador perfeito,
que não pode existir de modo algum
se ele não for um homem bom.
Por isto exigiremos dele não apenas
uma exímia habilidade no falar,
mas também todas as demais
virtudes da alma.
De fato, não posso admitir,
como alguns fazem,
que se deixe como matéria
própria de filósofos
o estudo do que seja a vida
reta e honesta,
a sabedoria e a moral,
porque o homem verdadeiramente útil
aos seus concidadãos,
o homem verdadeiramente civilizado
e perito na administração
das coisas públicas e privadas,
capaz de retamente governar uma cidade
pelos seus conselhos,
de instituir as leis,
de corrigir a administração da justiça,
este homem, sem dúvida alguma,
não é outro senão o perfeito orador.
Assim, embora usarei nesta obra
muitas coisas que são encontradas
nos livros dos filósofos,
afirmo que,
pelo direito e pela verdade,
estas coisas pertencem ao nosso domínio
e pertencem de modo próprio
à arte oratória".
|
|
O que vemos aqui é a amplidão da perspectiva educacional de um texto que a princípio
se anunciava apenas como tratando de oratória. Quintiliano declara que não deseja
formar apenas o homem perito na arte de falar mas, para obter este resultado, ele quer
formar também o homem bom, e nisto vemos a influência que ele recebe da educação
dos filósofos, de onde ele diz que tomou emprestado quanto é necessário para a
formação do homem bom, o que ele já considera como coisa sua e não mais dos
filósofos.
A seguir Quintiliano critica os professores de oratória que, antes dele, não conseguiam
enxergar estas coisas que ele acabava de expor:
|
"Ademais, conforme Cícero mostrou
já bastante abertamente,
o ofício do sábio e do orador
são tão unidos em sua natureza
e tão igualmente inseparáveis na vida prática
que o sábio não pode ser distinguido
do verdadeiro orador.
Se em algumas ocasiões,
no estudo da oratória,
se estabeleceu uma separação como esta,
isto ocorreu a partir do momento em que
a palavra se tornou
uma profissão lucrativa.
Quando as pessoas começaram a abusar
dos benefícios da eloqüência
abandonaram também com isto
o cuidado pelos costumes
e a moral foi negligenciada
por aqueles que passavam
por oradores.
Mas, assim abandonada,
a eloqüência se tornou presa
dos engenhos mais medíocres.
Na verdade,
o orador deve ser
um homem que mereça verdadeiramente
o nome de sábio,
e deve ser perfeito não apenas
em seus costumes,
como também na ciência
e em todas as formas de eloqüência".
|
|
|
|