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Na realidade, para entender este paradoxo, é necessário fazer um esforço para
reportarmo-nos à situação dos anos 1450. Este número tão baixo de livros explica,
dentre outras coisas, porque o Renascimento até 1450 praticamente não se difundiu
para fora da Itália.
O que acontecia é que em 1450 não existia ainda a imprensa, e todos os livros tinham
que ser copiados à mão.
Já citamos anteriormente que Poggio Bracciolini declarou haver gasto 53 dias de
trabalho para fazer uma cópia das Instituições Oratórias de Quintiliano, uma obra que
tem aproximadamente o tamanho de um Novo Testamento. Daqui pode-se deduzir que,
para obter uma única cópia completa da Bíblia requeria-se, naquele tempo, quase um
ano de trabalho. É claro que, em uma situação como esta, a multiplicação dos livros
seria muito difícil.
Esta imensa dificuldade para se multiplicarem os livros tinha uma outra conseqüência
muito difícil de ser avaliada pelos homens de hoje. Por causa dela, em 1450, as
pessoas que desejassem estudar estavam em uma dependência quase total dos
professores, que geralmente também eram as únicas pessoas que possuíam os livros
sobre os assuntos que ensinavam e, mesmo assim, os possuíam não para vender, mas
para consultar ou serem copiados à mão. Desta maneira, se alguém, em algum país da
Europa, fosse tocado pela febre da Renascença e desejasse tornar-se um humanista,
teria que se dirigir primeiro à Itália para, junto dos humanistas italianos, ser admitido
às suas amizades e passar com eles longos anos. Se retornasse ao seu país de origem
somente poderia levar consigo, como material escrito, uma parcela muito pequena do
que tivesse aprendido.
É evidente que em um contexto como este dificilmente a Renascença se espalharia para
fora da Itália.
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