4. A Indonésia.

A situação demográfica da Indonésia é considerada mais delicada do que a do Paquistão e Bangladesh. A Indonésia é constituída por um vasto arquipélago e é o maior país muçulmano do mundo. Dois terços de sua população está concentrada predominantemente nas ilhas de Java e Madura, mas estas duas ilhas representam juntas apenas um onze avos da área total do arquipélago. Já no século dezenove a taxa de crescimento demográfico de Java andava em torno de dois por cento ao ano. Conscientes pelo menos do aspecto geral desta configuração demográfica, os colonizadores holandeses tentaram encorajar a migração de Java para outras ilhas, sem porém, obterem nisto qualquer sucesso significativo, pois os interesses das companhias exportadoras holandesas na ilha incentivavam o crescimento populacional e a migração proveniente de outras ilhas. Na Indonésia aqueles que se ocupam com a análise das questões demográficas, associadas ao elevado índice de crescimento populacional, referem também constantemente, à diferença de países como Ïndia, Paquistão e China, a questão da redistribuição da população pela área total do arquipélago, em grande parte despovoado.

A seguir expõe-se uma análise da questão populacional na Indonésia, tal como se encontra nos textos de demografia, bastante semelhante, nos seus aspectos gerais, às que costumam ser feitas para grande parte dos países do terceiro mundo. A primeira constatação é que a alta taxa de natalidade, combinada com a decrescente taxa de mortalidade estava produzindo, na década de 60, uma alteração sempre crescente na distribuição de faixas etárias, o que pode ser facilmente percebido comparando-se a distribuição indonesiana com a distribuição australiana. Em 1961 42% da população indonesiana estava compreendida entre as idades de 0 a 15 anos e 2,5% tinham idade superior a 65 anos. No mesmo ano a Austrália tinha cerca de 30% de sua população compreendida na faixa etária de 0 a 15 anos e 8,5% tinham idade superior a 65 anos. Isto significa que num país como a Indonésia a taxa de natalidade tende a crescer ainda mais porque uma fração maior da população está chegando à idade do casamento. Com isto a taxa de crescimento populacional bruto tende a crescer, o que altera ainda mais a distribuição de faixas etárias, o que altera por sua vez ainda mais a taxa de natalidade e assim sucessivamente. Isto significa também que apenas se a taxa de fertilidade diminuir em um ritmo superior a um dado mínimo ela deixará de ser compensada pelo acréscimo da natalidade devido à distribuição de faixas etárias em que há predomínio das menores idades. Do ponto de vista político isto significa que para se manter, por exemplo, um padrão estacionário na Educação não é suficiente um programa constante de investimentos; a constância dos investimentos na educação produzirá apenas um declínio do nível da mesma. Para manter uma oferta educacional de padrão constante serão necessários investimentos sempre crescentes, e para uma elevação do nível da educação serão necessários investimentos crescentes a uma taxa mais alta. Da mesma forma, taxas elevadas de crescimento demográfico exigem, para sustentar o crescimento econômico líquido necessário para os países que procuram sair do subdesenvolvimento, taxas ainda mais elevadas de crescimento econômico. Se a nação for incapaz de alcançar tais taxas, ainda que haja efetivo crescimento econômico, este não compensará o aumento populacional. O crescimento econômico, entretanto, costuma vir acompanhado de melhoramentos que levam a uma redução da taxa de mortalidade, fenômeno observado em todos os países do mundo, o que tende a aumentar o crescimento demográfico exigir para a saída do subdesenvolvimento uma taxa de crescimento econômico ainda maior. Tais problemas não são peculiares apenas à Indonésia. Na década de sessenta eles eram comuns a todos os gigantes asiáticos a que já se fêz referência neste capítulo.