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A origem dos gregos é antiga, não tão antiga como a dos judeus, mas bem
anterior aos acontecimentos que acabamos de narrar. Entretanto, é apenas por esta época,
cerca de 600-500 AC, que eles passaram a ter importância no cenário dos acontecimentos
mundiais. Até então, as verdadeiras forças políticas do mundo eram os egípcios e os povos
mesopotâmicos.
O povo judeu politicamente era muito pouco importante; sua verdadeira
grandeza estava nas idéias e nas leis contidas nos livros do Antigo Testamento,
desconhecidas pelos povos da época, que iriam posteriormente revolucionar o mundo.
A origem dos gregos vem da Ilha de Creta. Por volta do ano 1.500 AC,
quando os judeus eram escravos no Egito, desenvolveu-se nesta ilha uma civilização de
marinheiros que construíam em Creta cidades famosas na antiguidade por não terem
muralhas. A ilha de Creta era muito comprida e ao mesmo tempo muito estreita. Seus muros
era a própria frota de seus navios. A civilização que nela se desenvolveu recebeu o nome de
Minóica.
Na época em que Moisés recebeu as tábuas da Lei no Monte Sinai, cerca de
1.200 Ac, uma terrível explosão de um vulcão na Ilha de Santorini obrigou o povo cretense a
fugir para o norte, fixando-se no sul da Grécia, num território chamado Peloponeso. Nele
fundaram a cidade de Micenas e passaram a ser conhecidos pelos historiadores como povo
micênico.
Por volta do ano 1.000 AC, pouco antes da época do rei Davi e Salomão,
outro povo vindo do norte da Europa, chamado de Aqueus, invadiu a Grécia e obrigou o
povo micênico a fugir novamente, espalhando-se pelo litoral da Anatólia, atual Turquia, para
a Fenícia, atual Líbano, para a Sicília, ilha ao sul da Itália, e para a Etrúria, no norte da
Itália, região onde atualmente fica a cidade de Pisa.
Por esta época foi escrito o primeiro clássico da língua grega, os poemas de
Homero conhecidos por Ilíada e Odisséia. No território da atual Grécia desenvolveram-se
diversas cidades independentes, como Atenas, Esparte e Tebas, das quais as mais
importantes foram Atenas e Esparta.
Esparta estava situada em uma Península grande que havia ao sul da Grécia
chamada de Peloponeso. No ano 800 AC um membro da família real de Esparta, chamado
Licurgo, que havia já ocupado o trono interinamente, após ter viajado por todo o mundo da
época, voltou a Esparta e fez uma reforma política na cidade na qual instituiu pela primeira
vez a educação por parte do governo às crianças, jovens e adultos. Era, porém, uma
educação puramente militar, que viria a ser a característica da cidade na Idade Antiga.
Quanto à cidade de Atenas, nada tinha de especial em relação às demais
cidades da Grécia até aproximadamente o ano 600 AC, quando Sólon, político ateniense,
implantou uma reforma agrária e instaurou o regime de governo democrático mais arraigado
que se tem notícia na história antiga. Foi justamente nesta época que surgiram os primeiros
filósofos.
O primeiro filósofo de que se tem notícia foi Tales de Mileto, amigo pessoal
de Sólon. Ele vivia na cidade de Mileto, cidade grega, embora não ficasse no território da
atual Grécia, mas no litoral oeste da Turquia, a chamada Grécia Antólia na Antiguidade, um
dos lugares para onde haviam fugido os povos micênicos quando da invasão dos Aqueus. Ao
que parece, os primeiros conhecimentos de Tales de Mileto foram adquiridos de uma viagem
de estudos que fez junto aos sábios do Egito. Nesta época, floresceram em Mileto e em suas
proximidades outros filósofos famosos, como por exemplo Anaximandro de Mileto.
Próximo do fim da vida de Tales e Anaximandro, um jovem nascido na Ilha
de Samos, situada entre o litoral da Grécia Anatólia e a Grécia propriamente dita, chamado
Pitágoras, chegou à cidade de Mileto para estudar com estes sábios. Pitágoras, ao que
parece, pois, foi discípulo de Tales e Anaximandro. Depois de ter estudado com eles, assim
como seus mestres, dirigiu-se ao Egito onde ficou cerca de duas décadas estudando com os
sábios daquela terra. Quando os persas derrotaram os egípcios e os levaram para o exílio na
Mesopotâmia, e com isto a civilização egípcia chegou ao seu fim, parece que Pitágoras, lá
estudante, tinha sido levado junto. Na Mesopotâmia, onde nesta época as maiores
civilizações do mundo antigo acabaram se reunindo, continuou estudando por mais uma
década. Voltou então para o seu povo no sul da Itália, lugar para onde também os povos
micênicos haviam fugido quatro séculos antes, e fundou pela primeira vez uma e depois
várias outras escolas de filosofia em que os alunos ingressavam para se dedicarem aos
estudos pelo restante de suas vidas.
Na época, pois, em que quase todo o Velho Testamento estava escrito e já
tinham vivido a maioria dos maiores profetas de Israel, a filosofia grega estava ainda em sua
segunda geração.
Foi então que os persas, que eram donos praticamente do mundo inteiro,
quiseram invadir e conquistar também a Grécia. Por volta do ano 490 AC ela tentou por três
vezes, com um exército fantástico de mais de um milhão de homens, subjugar os gregos. Por
inacreditável que possa parecer, este exército e sua armada naval foram derrotados nas três
tentativas pelos gregos graças a uma grande frota naval que os atenienses haviam construído
com o principal propósito de se defenderem.
Após terminar a guerra, à diferença do que costumava acontecer com outros
povos, um simples homem, chamado Heródoto, viajou pelo mundo inteiro às suas custas
entrevistando pessoas e conhecendo locais, apenas para escrever um livro contendo para a
posteridade a história das guerras dos gregos contra os persas. Seu livro, intitulado A
História de Horódoto, em estilo fluente e cativante, era lido em praça pública em Atenas tal
como há pouco tempo também se ouviam as novelas pelo rádio.
Acabadas as guerras contra os persas, Atenas não desmontou a sua frota. Em
vez disso, utilizou-a para montar um imenso império comercial entre a cidade de Atenas e
uma série de cidades chamadas colônias, fundadas pelos gregos pelo mar mediterrâneo
maios ou menos nos locais ou nas proximidades de onde tinham se instalado séculos antes os
povos micênicos. Atenas assim tinha colônias comerciais na Grécia Anatólia (Turquia), na
Fenícia (Líbano), nas Ilhas do mar Egeu, na cidade de Siracusa na Sicília, na cidade de
Nápoles na Itália, originalmente chamada Neapolis, nome que em grego significa Nova
Cidade, e no sul da França, território na Antiguidade conhecido como Gália, a cidade de
Marselha, também de fundação grega.
Nesta época governou a cidade de Atenas durante longos anos o grego
Péricles. Foi a época de maior prosperidade entre os gregos, também conhecida como época
de Péricles. Esta prosperidade não foi apenas material. Foi nesta época que apareceram os
grandes arquitetos gregos, os grandes escultores, como Fídias, os grandes autores de peças
teatrais, clássicas até hoje, como Ésquilo e Aristófanes. Todas as cidades gregas tinham
teatros públicos em que se representavamconstantemente peças teatrais acompanhadas de
corais em que se abordavam os grandes problemas da época. Elas representaram para o
povo grego aquilo que a televisao representa para o mundo de hoje.
Foi nesta época que entrou em Atenas o primeiro filósofo, chamado
Anaxágoras. Até aquele momento a filosofia somente se tinha desenvolvido na Grécia
Anatólia, originalmente, e no sul da Itália, por obra de Pitágoras. Anaxágoras entrou em
Atenas vindo da Anatólia, fixou residência durante algumas décadas na cidade e teve como
discípulo ao próprio Péricles, até ter sido expulso da cidade por um julgamento popular.
Somente alguns anos mais tarde entraria novamente um filósofo em Atenas, na pessoa de
Parmênides e Zenão de Eléia, estes vindos não da Anatólia, mas do sul da Itália, discípulos
de alunos das escolas pitagóricas.
As guerras contra os persas se deram por volta do ano 490 AC. A
prosperidade que se seguiu à vitória durou quase um século, durante a segunda metade da
qual Péricles governou Atenas. Por volta do ano 400 AC a cidade de Esparta, com receio do
poderio ateniense, começou uma guerra que se estendeu durante cerca de 30 anos entre
Esparta e Atenas e ficou conhecida com o nome de guerra do Peloponeso.
Por inacreditável que possa parecer, os atenienses que haviam conseguido
derrotar três vezes ao Império Persa, praticamente uma cidade contra o resto do mundo,
perderam a Guerra do Peloponeso diante da cidade de Esparta, basicamente pela submissão
das decisões da guerra à votação democrática que tinha se tornado lei na cidade. Tal como
na guerra anterior, que teve em Heródoto seu historiador, a guerra do Peloponeso foi narrada
em livro pelo general Tucídides, que em sua infância havia passado longas horas ouvindo em
praça pública a narração dos livros de Horódoto pela boca de seu autor. Esta obra, a Guerra
do Peloponeso, é considerada a obra de historiografia mais perfeita da Antiguidade.
Foi alguns anos antes da guerra do Peloponeso que entraram em Atenas,
vindos do sul da Itália, dois filósofos chamados Parmênides e Zenão. Ambos travaram
profundos debates com um jovem ateniense chamado Sócrates, homem pobre, filho de uma
parteira. Pouco tempo depois, Parmênides e Zenão se retiraram da cidade. Sócrates lutou
depois disso na guerra do Peloponeso. Finda a mesma, começou a fazer discípulos, entre os
quais estava Platão, jovem rico da alta política de Atenas.
No ano de 399 AC Sócrates foi condenado à morte e Platão, seu principal
discípulo, a partir daí abandonou Atenas e a vida pública, passando a viajar pelo mundo em
busca de conhecimento. Visitou entre outros locais o Egito e as escolas italianas dos
Pitagóricos. Voltou depois para Atenas e fundou, inspirado nas escolas pitagóricas, em um
bosque comprado de um homem chamado Academo, a primeira escola de filosofia que
existiu em território ateniense. Ficou conhecida como a Academia de Platão, por causa do
nome a quem tinha pertencido o terreno.
Foi aluno da Academia durante duas décadas o filho de um médico da corte
do Rei Felipe da Macedônia, o jovem Aristóteles. Quando da morte de Platão, Aristóteles
abandonou a Academia e fundou uma segunda escola de filosofia em Atenas, chamada
Escola Peripatética, por causa das aulas que eram dadas em pórticos. Tanto a escola
acadêmica como a peripatética não iriam morrer com os seus fundadores; quando da morte
de Platão e Aristóteles, os alunos escolheram um sucessor dentre eles para estes mestres e
desta maneira ambas as escolas duraram séculos. A Academia de Platão, em particular,
durou quase um milênio.
Mas, dizíamos, Aristóteles era filho de um médico da corte do rei da
Macedônia. Quem eram os macedônios? Era um grupo de povos que viviam ao norte da
Grécia em uma região montanhosa. O rei Felipe havia lutado quase por uma vida inteira para
unificá-los sob o seu comando. Para o seu filho Alexandre, porém, tinha ambições ainda
maiores. Informado pelo seu médico Nicômaco da sabedoria de Aristóteles, seu filho,
mandou-o vir de Atenas para ser educador de Alexandre. Após a morte de Felipe e
terminada a educação recebida por Aristóteles, Alexandre conquistou toda a Grécia,
inclusive Atenas e Esparta, e preparou-se para conquistar o mundo.
Tomou Alexandre depois da Grécia todos os portos da costa mediterrânea
da Pérsia, um após outro. Tomou depois o Egito. Sua intenção era poder depois atacar a
parte principal da Pérsia localizada na Mesopotâmia sem que ela pudesse atacar por mar os
gregos pela retaguarda.
A batalha final foi em Dardanelos, na qual a Pérsia foi vencida. Alexandre,
o Grande, agora era senhor do mundo conhecido na época, desde a Grécia até a fronteira
com a Índia.
Pouquíssimo tempo depois, porém, Alexandre morreu vítima de uma simples
febre. O príncipe herdeiro, ainda bebê, foi morto assim como toda a família de Alexandre
pelos generais que começaram a disputar o trono. Nenhum deles, porém, conseguiu ficar com
o império todo que Alexandre havia conquistado. Ptolomeu ficou com o Egito, Seleuco com
o Oriente, Antígono com a Síria e a Turquia, Casandro com a Macedônia. Mais tarde
Antígono foi derrotado militarmente e os seleucidas ficaram também com a Síria.
O resultado final foi a divisão do mundo inteiro em monarquias de reis
greco-macedônios.
O resultado, porém, que mais nos interessa deste processo político foi o
resultado cultural.
A primeira conseqüência cultural deste processo foi que a língua grega se
tornou a língua universal de todo o Oriente. Em todas as cidades importantes começaram a
surgir escolas de grego. Foram abertos teatros onde se apresentavam peças gregas,ginásios
de esporte se espalharam por estas cidades e adquiriu-se o gosto pelas obras de arte no
estilo grego. Os poetas, os filósofos e os historiadores gregos passaram a ser lidos em todo o
Oriente e na língua original. A cultura grega, muito superior e mais elaborada do que tudo
quanto existia no mundo da época começou a se impor emtodo lugar. No Egito foi construída
em Alexandria a maior biblioteca do mundo antigo, com acesso aberto ao público. Em outras
palavras, o que ocorreu no Oriente como conseqüência das conquistas de Alexandre foi o
processo de helenização do mundo oriental, sendo este período da história conhecido, por
causa disso, com o nome de período helenístico.
Este processo aconteceu também com o povo judeu que habitava na
Palestina. eles começaram a aprender o grego e a se esquecer do hebraico. Nesta época, os
últimos livros da Bíblia, tais como o Livro da Sabedoria e os Livros dos Macabeus, foram
escritos em grego e não em hebraico. O rei Ptolomeu do Egito convidou também neste
período 70 rabinos judeus para virem até Alexandria, capital do Egito, traduzir o Velho
Testamento do hebraico para o grego. Esta tradução, inicialmente feita a pedido e para a
leitura do rei Ptolomeu, acabou se tornando mais comum entre os judeus do que o próprio
original hebraico. Foi a primeira tradução da Bíblia de que a história tem notícia, chamada,
por causa de seus autores, de Versão dos Setenta ou Septuaginta.
Os judeus tiveram que sofrer muito sob o reinado dos governantes grego
macedônios que dominavam a Palestina. Ao contrário dos reis da dinastia dos Ptolomeus do
Egito, que com tanta reverência mandaram vir ao seu país os sábios judeus para traduzirem
as Leis de Moisés e os Escritos dos Profetas, os reis sob cuja jurisdição ficava a Palestina
viam com desprezo os costumes e as leis hebraicas. As perseguições que o povo judeu teve
que sofrer nesta época são narradas nos dois livros dos Macabeus, que não sem razão se
iniciam contando resumidamente a vida de Alexandre, o Grande, de como o mundo inteiro
veio a cair sob o domínio dos gregos e do governo dos generais de Alexandre.
Foi nesta época que começou a entrar em cena no palco dos acontecimentos
mundiais a terceira das civilizações que compuseram a nossa atual, a civilização romana.
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