CAPÍTULO 9

Mas se Bernardo receava demasiado os perigos mundanos, existia ali perto o magnífico mosteiro de São Benigno, infinitamente caro ao seu coração por ser o santuário onde repousavam os restos mortais de sua mãe, ou o de Cluny, igualmente próximo, com as suas centenas de abadias dependentes, as quais haviam contribuído para a Igreja com tantos santos, papas célebres e bispos, durante os duzentos anos da sua existência. Ali os mais nobres empreendimentos de arte nos diferentes domínios da música, pintura, escultura e arquitetura, para não falar no grandioso cerimonial, dariam plena satisfação ao seu sentido estético.

Tudo isto, porém, não correspondia à vida monástica que Bernardo idealizara. Possuía demasiadas consolações naturais para oferecer, ao passo que a sua alma, como ele dizia para consigo, necessitava de um forte medicamento. Considerava-a muito brilhante, enquanto, segundo o seu pensar, um monge deveria possuir um instinto semelhante ao das toupeiras, um desejo de ocultar-se da luz do Sol e dos olhares dos homens e fim de dedicar-se inteiramente a Deus. `Ama passar desapercebido', que será mais tarde a sua recomendação aos outros, constituía agora o princípio que o guiava. Portanto, os seus pensamentos afastaram-se descontentes de Cluny para se ocuparem com outra casa religiosa, pobre e obscura e aparentemente prestes a extingüir-se, o mosteiro de Cister, cuja história de sua fundação é chagado o momento de contar.