20. Começa a falar-se do aborto nos Estados Unidos.

Um ano antes da resolução do Congresso da Reforma Sexual de 1929, Margareth Sanger, num livro sobre controle da natalidade, intitulado Motherhood in Bondage, expressou algumas opiniões sobre o aborto. Até aquela época o movimento americano, para não atrair animosidades, tinha sido muito mais ferreamente oposto a tratar deste assunto do que o movimento inglês e europeu.

Em seu livro de 1928 Margareth Sanger classifica o aborto como um "remédio desesperado" que um maior conhecimento sobre controle de natalidade poderia evitar. Referindo-se ao feto abortado como a "um fruto imaturo", Sanger menciona com óbvia descrença a posição de que o aborto é pecaminoso. De seu ponto de vista, "o aspecto revoltante desta prática reside no vasto número de parteiras e aborteiros que se engordam sobre a miséria infindáveis de mãe agrilhoadas". As mulheres que praticam o aborto em si mesmas são tratadas muito respeitosamente, até mesmo com certa admiração, apesar do que o uso de contraceptivos é visto como um melhor caminho.

Dois anos depois, em 1930, a Liga Americana para o Controle da Natalidade patrocinou a Conferência Internacional sobre o Controle da Natalidade, com uma sessão dedicada ao tema do aborto. Embora segundo o presidente da conferência, T. H. van de Velde, o objetivo desta sessão seria o de "discutir principalmente os meios de evitar o aborto", sem misturar outros assuntos, já que o movimento pelo controle da natalidade seria publicamente reprovado se começasse a favorecer o aborto, a conferência seguia rumos inesperados e mostrava que o assunto tinha o seu próprio dinamismo.

Em 1931 o Comitê Nacional para a Saúde Materna, outra das organizações de Margareth Sanger, começou a interessar-se pelo problema do aborto. Cinco anos mais tarde, em 1936, este comitê patrocinou a publicação do livro do Dr. Taussig "O Aborto Espontâneo e Provocado: Aspectos Médicos e Sociais". Este livro representou a primeira petição pública realizada nos Estados Unidos pelo relaxamento das leis contra o aborto. A lei deve concordar com "a opinião das massas", diz o livro. O primeiro requisito é a "consideração pela saúde da mãe e, secundariamente, o respeito pelo feto não nascido como organismo vivo, capaz, se protegido, de se desenvolver num indivíduo de valor para a comunidade". A proposta de Taussig vinha revestida de uma linguagem que dava a entender que o seu respeito pela vida fetal era baseado no respeito ao valor potencial do indivíduo para a comunidade.

O livro de Taussig teve uma influência enorme no subseqüente movimento pró aborto, apesar de não ter conduzido imediatamente à formação de uma organização especializada nesta campanha. Até a aprovação final da legalização do aborto a obra serviu como uma referência fundamental para o movimento pró aborto americano.