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Em fevereiro de 1969 o Conselho Populacional
ocupava um exemplar inteiro de uma de suas publicações
oficiais que mais circulam em todo o mundo e também no
Brasil, o Studies In Family Planning, para, num estudo
assinado por Bernard Berelson, o próprio presidente da
entidade, replicar ao trabalho de K. Davis e os que a ele se
seguiram.
Uma das particularidades deste texto que logo se
fazem notar é que, embora seja uma réplica, o mesmo não
parece preocupado em demonstrar a validade ou invalidade dos
argumentos do famoso demógrafo. Como poderemos notar a
seguir, há passagens onde o Conselho parece mesmo concordar
com as hipóteses básicas de K. Davis. Logo após o início da
replica, Bernard Berelson faz uma revisão o mais possível
exaustiva de todos os trabalhos surgidos na linha do de K.
Davis e cataloga todas as propostas práticas sugeridas pelos
mesmos para além do planejamento familiar. No total, somam 29
propostas. O ponto central da argumentação do Conselho
Populacional é o exame da viabilidade prática destas
propostas, chegando à conclusão de que não são fáceis de
serem transpostas para a realidade, e que, neste sentido, a
mais viável de todas as propostas é o planejamento familiar.
Mas com isto não houve réplica real ao trabalho original. A
suposta réplica ignorou o ponto principal do trabalho de K.
Davis. Ao argumentar mostrando as dificuldades práticas
envolvidas nas propostas de controle demográfico que vão para
além do planejamento familiar, nada mais fêz do que mostrar
algo que o autor original já havia apontado. Na vida real,
este modo de discordar concordando é resultado, na maioria
das vezes, do confronto entre um interlocutor inteligente e
outro ignorante; mas, considerando-se o alto gabarito do
Conselho Populacional e o caráter oficial desta réplica,
fica-se a duvidar sobre as verdadeiras intenções deste
posicionamento. É significativo acrescentar também que o
exame das justificativas apontadas pelo Conselho Populacional
para mostrar a relativa inviabilidade de várias das 29
propostas para além do planejamento familiar antes leva o
leitor a concluir pelas suas viabilidades do que pelo
contrário. Se levarmos em conta que o Conselho Populacional
construíu ao longo de sua história uma tradição de
posicionamentos tomados com requintes de diplomacia, bem
diversamente do que ocorre com a IPPF, chega-se facilmente a
suspeitar de uma ambigüidade proposital nesta réplica.
Formalmente, trata-se de um documento que declara aos
governos do mundo inteiro com os quais o Conselho se
relaciona que, na opinião da entidade, K. Davis é um radical
e o Conselho não pensa como ele;.mas para aqueles que estão
neste meio e sejam bons entendedores, o documento mostra ao
mesmo tempo que o Conselho Populacional não está muito longe
dos pontos de vista de K. Davis.
A réplica do Conselho Populacional ao trabalho de
K. Davis foi apresentada pela primeira vez pessoalmente pelo
presidente da entidade em uma conferência internacional
realizada na atual Bangladesh. Conforme o The United
Nations and the Population Question,
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"Bernard Berelson, presidente do
Conselho Populacional, replicou as
várias propostas para se tornarem
os programas populacionais mais
eficazes em um discurso
pronunciado na International
Family Planning Conference de
Dacca, em janeiro de 1969. O
trabalho foi depois reimpresso no
Studies In Family Planning de
fevereiro de 1969. É irônico, ele
afirmou, que mal o planejamento
familiar tenha sido aceito como um
direito humano pelos principais
órgãos do sistema das Nações
Unidas, outros estão procurando
remover este direito. Ele
argumentou que nenhuma das
propostas que haviam sido
levantadas satisfaziam os
critérios básicos de
disponibilidade e viabilidade
tecnológicas, viabilidade
política, praticabilidade
administrativa, possibilidades
econômicas, aceitabilidade ética e
presumível eficácia. Ele, em vez
disto, encorajou os atuais
programas de planejamento familiar
a serem implementados mais
energicamente".
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Vamos examinar, porém, em leitura direta este trabalho tal
como se encontra no Studies In Family Planning.
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