7. A disposição dos tempos.

Isto foi o que dissemos da disposição dos lugares. O que diremos da disposição dos tempos?

Quem poderá admirar suficientemente com que admirável razão a providência divina distinguiu o curso dos tempos? Eis que após a noite vem o dia, para que o trabalho exercite os que descansavam no ócio; após o dia segue-se a noite, para que o repouso acolha os que vêm retemperar as forças. Não é sempre dia, não é sempre noite, nem sempre dias iguais ou noites iguais, para que um trabalho imoderado não consuma os fracos, ou um repouso contínuo não debilite a natureza, ou a identidade perpétua não gere o tédio na alma. A alternância dos dias e das noites de um certo modo renova os seres vivos, e as quatro estações do ano que se sucedem entre si transformam a aparência do mundo inteiro.

Primeiro, uma renovação causada pela temperatura moderada da primavera faz com que o mundo renasça, o qual, depois, rejuvenesce pelo calor do verão. Vindo o outono, alcança sua maturidade; sobrevindo o inverno, declina para a deficiência. Sempre chega à deficiência, para que sempre depois possa ser renovado, porque se o antigo não definhasse, não poderia o novo surgir para ocupar o seu lugar. E também é admirável em tudo esta disposição que os próprios tempos guardem as alternâncias de sua mutabilidade por uma lei imutável, de maneira que nunca falhem no cumprimento de seus ministérios, nem por correrem ao contrário confundam a ordem de sua primeira instituição.