|
O amor é a vida do coração e, portanto, sem amor é inteiramente
impossível que haja um coração que deseje viver.
Considera o que se segue daqui.
Se, de fato, a mente humana não pode existir sem amor, é
necessário que ame ou a si mesma ou a algo além de si mesma.
Como, porém, em si mesma não pode encontrar o perfeito amor, se se
amasse apenas a si mesma o amor feliz não existiria.
É necessário, portanto, se desejamos amar com felicidade, que
busquemos algo além de nós a que amemos. Se começarmos a amar,
porém, algo imperfeito fora de nós, estimularemos em nós o amor,
mas não excluiremos a nossa miséria.
Ninguém amará, portanto, com felicidade, até que o seu desejo
não se converta pelo amor ao verdadeiro e sumo bem.
Como, porém, somente Deus é o verdadeiro e sumo bem, amará com
felicidade apenas quem amar a Deus, e com tanta maior felicidade
quanto mais amplamente o amar.
Este, portanto, será o verdadeiro repouso de nosso coração,
quando nos estabelecermos pelo desejo no amor de Deus, nem mais nada
além dEle apetecermos mas, nEle já possuído, nos deleitarmos por
uma feliz segurança. Como Ele não estende o apetite para além
dEle, nem repele pelo temor, assim de certo modo nEle repousamos por
uma felicidade sem vexação.
A enfermidade da mente humana porém, não direi sempre, mas algumas
vezes, dificilmente pode fixar-se na doçura da divina
contemplação. Por este motivo, enquanto não o consegue, deve ser
acostumada por um certo estudo àquela estabilidade a qual ainda não é
capaz de alcançar. Isto é, se não podemos pensar sempre em Deus,
que pelo menos reprimamos nosso coração dos pensamentos ilícitos e
vãos, para que o possuamos na consideração das suas obras e de suas
maravilhas, até que, enquanto nos esforçarmos em ser sempre menos
instáveis, finalmente, no-lo concedendo Deus, sejamos capazes de
nos tornar verdadeiramente estáveis.
|
|