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Que outras coisas são estas a que Alcebíades se refere?
Conta a história que, durante a Guerra do Peloponeso, travou-se uma batalha em Délio.
Dela participaram novamente Alcebíades e Sócrates. Conta o fato assim Plutarco:
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"De outra feita, feria a batalha de Délio,
quando batiam os atenienses em retirada,
Alcebíades ia montado,
enquanto Sócrates retirava a pé
com poucos outros.
Quando Alcebíades o viu,
não passou à frente,
mas cavalgou ao seu lado
e o defendeu do inimigo,
que os ia acossando
e eliminando em grande número".
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Mas no Banquete de Platão, o próprio Alcebíades dá uma versão mais completa do
ocorrido. Ouçamos o que ele tem a nos dizer:
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"Ainda mais, senhores,
valia a pena observar Sócrates
quando o exército batia em retirada
fugindo de Délio.
Acontece, com efeito,
que desta vez eu estava ao seu lado.
Eu tinha um cavalo;
ele, apenas o seu equipamento de infantaria
(isto é, dos soldados que combatem a pé).
Sócrates ia se retirando,
junto com Laques,
quando os demais homens
já tinham debandado.
Eu os vi por acaso,
e mal os vi,
exortei-os a ter coragem,
prometendo não abandoná-los.
Ali, melhor do que na batalha de Potidéia,
pude examinar a Sócrates,
pois eu tinha menos o que temer por ir montado.
Em primeiro lugar,
quanto a sua inteligência superava
a do seu colega que ele amparava!
Ele caminhava como aqui,
empertigado e lançando os olhos para os lados, observando de soslaio,
serenamente,
amigos e inimigos,
deixando claro a todos,
mesmo bem de longe,
que se alguém tocasse na sua pessoa,
defender-se-ia com grande vigor.
Por isso retirava-se ele em segurança
com o seu companheiro.
De fato, na guerra,
quase nem tocam em pessoas
que procedem desta forma,
mas perseguem
aos que fogem desordenadamente".
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E quem era Laques, que Sócrates amparava? Este companheiro Laques, de que fala
Alcebíades, não é outro senão Xenofonte, o discípulo de Sócrates, também soldado
naquela batalha, pois nós lemos em Diógenes Laércio, na sua biografia de Sócrates, o
relato deste mesmo caso, em que se conta que o colega que Sócrates amparava era na
realidade Xenofonte, que havia caído de seu cavalo, quando Sócrates, parou, voltou
atrás e o amparou em uma retirada a pé.
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