TERCEIRA SOLUÇÃO

EM RESPOSTA À TERCEIRA QUESTÃO, devemos dizer que a vida contemplativa dos homens santos pressupõe o amor do objeto contemplado do qual ela surge. Segue-se daqui que, como a vida contemplativa consiste na operação que é mais intencionada, deve ser também acerca do objeto mais amado, que é Deus. De onde que a vida contemplativa consiste principalmente em uma operação da inteligência acerca de Deus. Lemos, de fato em São Gregório que

"a vida contemplativa suspira ver apenas o seu Criador, a saber, Deus".

No entanto, na medida em que se ordenam a Deus, o contemplativo considera também outras coisas. Considera as criaturas, admirando nelas a majestade, a sabedoria e a bondade divinas, a partir de cujas reflexões cresce em seu amor a Deus. Considera também seus próprios pecados, dos quais sua alma purificou-se para poder ver a Deus.

A própria palavra contemplação significa aquele ato principal pelo qual o homem contempla a Deus em si mesmo, enquanto que especulação designa melhor o ato pelo qual alguém vê a Deus, como em um espelho, nas coisas criadas. Do mesmo modo, a felicidade do contemplativo de que os filósofos falam também consiste na contemplação de Deus. De fato, conforme diz Aristóteles em sua Ética,

"A contemplação consiste no ato da mais elevada faculdade que há em nós, isto é, a inteligência; e também no mais nobre objeto, que é Deus".

Este é o motivo pelo qual os filósofos reservavam a última parte de suas vidas para a contemplação das coisas divinas, enquanto que no tempo precedente dedicavam-se ao estudo das demais ciências de modo que, partindo destas especulações, pudessem estar melhor capacitados para o estudo da divina.

Quanto à primeira objeção, deve-se dizer que não há nenhuma ordem natural entre os atos da vida ativa como há entre os atos da vida contemplativa. Portanto, não se pode dizer com rigor que a vida ativa consiste principalmente em algum ato único. Em relação a um homem individual, porém, a vida ativa consistirá principalmente no ato que ele mais freqüentemente pratica, na medida em que alguns dão maior atenção às obras de justiça, outros às de auto domínio, e assim sucessivamente.

À segunda objeção respondemos que Aristóteles, na autoridade mencionada, refere-se à Filosofia estritamente considerada, isto é, o conhecimento das coisas divinas, que é chamada pelo nome especial de Filosofia Primeira.

Nossa resposta à terceira objeção é que embora o contemplativo ocasionalmente considere aqueles gêneros de contemplação que Ricardo de São Vítor enumera, a vida contemplativa, no entanto, não consiste principalmente neles.