OS SOFISTAS


Capítulo 1

Vimos, nas notas precedentes, como Parmênides e Zenão de Eléia expuseram a sua doutrina em Atenas, como foram ouvidos por Sócrates e os comentários que este fez a respeito.

Perante Zenão que dizia que não era possível existir a multiplicidade porque, se ela existisse, cada coisa seria ao mesmo tempo uma e muitas, Sócrates retrucou que nenhuma coisa visível, mesmo que seja uma, é a unidade. Cada coisa visível participa imperfeitamente da perfeita unidade que só existe na idéia da unidade. Só a idéia da unidade é absolutamente una, sem mistura com multiplicidade alguma. Só ela é perfeitamente una. As coisas que vemos à nossa volta têm, cada qual, em si mesma, uma parte da perfeição da unidade que a idéia de unidade tem e, portanto, não podem ser, justamente por isto, perfeitamente unas. Ora, se não são perfeitamente unas, têm que ser em parte unas e em parte múltiplas, e é por isso que cada coisa é, ao mesmo tempo, uma e muitas. Não há contradição nisto. Haveria contradição, diz Sócrates, apenas se alguém conseguisse provar que até na própria idéia abstrata de unidade existe simultaneamente unidade e multiplicidade.