CAPÍTULO 9

A seguir foi a vez de Guido. O caso era um pouco delicado pois, além de casado, possuía filhos, o mais novo dos quais ainda de peito. O atentado para separar laços tão sagrados parece-nos hoje extremamente cruel, se não mesmo criminoso, mas devemos recordar-nos que Bernardo era um santo de Deus e agia por inspiração divina. Guido, homem de caráter profundamente religioso, vencido pela sua urgência, prometeu ingressar no convento com a condição que a sua jovem esposa, Isabel, desse o seu consentimento. Era este um duro sacrifício para pedir à pobre esposa e mãe. No entanto, Bernardo não hesitou. Em sua opinião nenhum sacrifício era excessivo desde que fosse dedicado a Deus e à eternidade. Porém Isabel rejeitou a resposta com indignação. Consentir em renunciar ao marido que adorava e ao pai dos seus desamparados filhos? Nunca. Bernardo então assegurou-lhe que não haveria necessidade disso, pois antes da próxima Páscoa Guido ficaria livre para seguir a sua vocação por consentimento de sua esposa ou por sua morte.

E realmente assim sucedeu. Isabel adoeceu pouco depois e, prestes a expirar, mandou chamar o seu inflexível cunhado. Quando este chegou ela exprimiu-lhe o seu arrependimento por se haver oposto à vontade de Deus. Guido agora tinha o seu consentimento para ingressar no convento. Depois desta cena principiou a melhorar e não tardou a ficar completamente restabelecida. Por volta de 1114 retirou-se para o convento de Jully, uma casa beneditina dependente de Molesmes, onde veio a tornar-se superiora.