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O diálogo prosseguia desta forma quando Sócrates passou a dar a Zenão uma resposta
que posteriormente a história da Filosofia demonstrou estar no caminho certo.
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"O problema de seu argumento",
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continuou Sócrates,
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"é que não há nada de estranho
em que cada ser seja
ao mesmo tempo
um e muitos.
Só a pura idéia abstrata da unidade
é que é perfeitamente una.
Os demais seres participam
desta unidade perfeita.
Isto é, eles possuem uma parte
da perfeição da unidade
que a idéia da unidade possui por inteiro.
Se eles possuem apenas uma parte
da perfeição que está contida
na idéia da unidade,
é porque eles não são perfeitamente unos:
cada ser tem que ser,
desta maneira,
um sob certos aspectos
e muitos sob outros aspectos.
Agora, eu ficaria admirado
e realmente perplexo
se você pudesse me provar
não que os seres,
que apenas participam da idéia da unidade,
são ao mesmo tempo um e muitos,
mas que a própria idéia da unidade
possui ao mesmo tempo
unidade e multiplicidade,
ou que a própria idéia da multiplicidade
possui ao mesmo tempo multiplicidade e unidade.
Se você puder me provar
que o absolutamente um são muitos,
e que o absolutamente múltiplo é um,
isto me espantaria.
Eu ficaria deveras surpreso em ouvir
que as próprias idéias de cada coisa
possuem qualidades opostas,
mas não se uma pessoa quiser me provar
que eu, Sócrates,
sou ao mesmo tempo um e muitos.
Porque eu, Sócrates, de fato,
sob certos aspectos sou muitos,
pois tenho dois braços, e não um,
e tenho cabeça, tronco e membros,
e órgãos diversos
e partes diferentes do corpo
que são muitas.
Portanto, eu não posso negar
que eu participo da idéia de multiplicidade.
Mas só a idéia da multiplicidade
é totalmente múltipla sem unidade alguma;
desta perfeição da multiplicidade que ela tem,
eu tenho apenas uma participação.
Mas, por outro lado,
eu também sou um,
porque aqui estão sete pessoas
e eu sou apenas uma.
Portanto, eu também não posso negar
que eu participo também da unidade perfeita
que há na idéia de unidade.
Mas só a idéia da unidade é totalmente una
sem multiplicidade alguma.
Os objetos visíveis possuem apenas
uma parte desta unidade
que só se realiza perfeitamente
na idéia da unidade.
Só na idéia da unidade
temos uma unidade pura,
completa, total,
sem mistura com multiplicidade alguma.
Assim, quando uma pessoa mostra
que tais coisas como a madeira,
as pedras, e outras,
sendo muitas, são também uma só,
eu admito que ela está mostrando
a coexistência do uno e do múltiplo,
mas ela não está mostrando
que esta multiplicidade é a unidade
e a unidade é a multiplicidade.
Isto apenas está mostrando
que estes seres participam
imperfeitamente da verdadeira unidade
e da verdadeira multiplicidade,
e ela não está com isto mostrando um paradoxo,
mas uma verdade evidente.
Eu novamente lhe repito, Zenão,
que eu ficaria perplexo
se você pudesse me mostrar
que alguém conseguiu encontrar
nas próprias idéias da unidade e multiplicidade,
nestas idéias que são apreendidas pela mente,
estas mesmas características
que você diz encontrar nos objetos visíveis".
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