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O primeiro grau da humildade é a obediência sem demora. É peculiar
àqueles que estimam nada haver mais caro do que o Cristo; por causa
do santo serviço que professaram, por causa do medo do inferno ou por
causa da glória da vida eterna, desconhecem o que seja demorar na
execução de alguma coisa, logo que ordenada pelo superior, como
sendo por Deus ordenada. Deles diz o Senhor:
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"Logo ao ouvir-me, obedeceu-me".
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E, do mesmo modo, diz aos doutores:
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"Quem vos ouve, a mim ouve".
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Pois são estes mesmos que, deixando imediatamente as coisas que lhe
dizem respeito e abandonando a própria vontade, desocupando logo as
mãos e deixando inacabado o que faziam, seguem com seus atos, tendo
os passos já dispostos para obediência, a voz que ordena. E, como
que num só momento, ambas as coisas, a ordem recém dada do mestre e
a perfeita obediência do discípulo, são realizadas simultaneamente e
rapidamente, na prontidão do temor de Deus. Apodera-se deles o
desejo de caminhar para a vida eterna; por isso, lançam-se como que
de assalto ao caminho estreito do qual diz o Senhor:
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"Estreito é o caminho
que conduz à vida".
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e assim, não tendo como norma de vida a própria vontade, nem
obedecendo aos próprios desejos e prazeres, mas caminhando sob o
juízo e domínio de outro e vivendo em comunidade, desejam que um
Abade lhes presida. Imitam, sem dúvida, aquela máxima do Senhor
que diz:
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"Não vim fazer a minha vontade,
mas a d'Aquele que me enviou".
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Mas essa mesma obediência somente será digna da aceitação de Deus
e doce aos homens se o que é ordenado for executado sem tremor, sem
delongas, não mornamente, não com murmuração, nem com resposta de
quem não quer. Porque a obediência prestada aos superiores é
tributada a Deus. Ele próprio disse:
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"Quem vos ouve, a mim ouve".
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E convém que seja prestada de boa vontade pelos discípulos, porque
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"Deus ama aquele que dá com alegria".
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Pois, se o discípulo obedecer de má vontade e se murmurar, mesmo
que não com a boca, mas só com o coração, ainda que cumpra a
ordem, não será mais o seu ato aceito por Deus que vê seu coração
a murmurar. Por tal ação não consegue graça alguma e, mais
ainda, incorre no castigo dos murmuradores se não se emendar pela
satisfação.
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