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Devemos considerar ainda, quanto à relação entre a fé e a
Palavra, que a Revelação manifesta claramente que Deus deseja que
aprendamos a amar, além dEle mesmo, algumas outras coisas pelas
quais, vindo a conhecer através destas o que é o amor, possamos
aprender a amar a Deus em si mesmo.
É neste sentido que Deus nos deixou, para que aprendamos a amar,
cada vez mais profundamente, dia após dia, em uma prática religiosa
constante, o Sacramento da Eucaristia, a pessoa do cônjuge para os
que vivem no Sacramento do Matrimônio, e a sua própria Palavra.
Se devemos amar o cônjuge como Cristo e a Igreja se amam, isto
significa que devemos amá-lo como Cristo e os santos se amaram.
Quanto à Palavra, os escritos dos Santos Padres testemunham uma
relação entre estes homens justos e a Palavra de Deus muitíssimo
semelhante àquela que se espera que exista entre um cristão e a
Eucaristia, pela qual eles se uniam, através do amor, à sua
Palavra também com a inteligência e a memória. Com isto Deus nos
ensina, através de coisas mais sensíveis, o que é o amor, para que
possamos depois transferir este amor a Ele em si mesmo.
Para alcançar o que significa esta transferência, devemos considerar
que há três formas de amor, todas elas autênticas. Existe em
primeiro lugar o amor servil, existe também o amor filial e existe o
amor dos esposos.
Os servos também amam, e podem amar muito. O amor servil consiste
naquele pelo qual, por um grande amor, evita-se o pecado e conduz-se
uma vida corretíssima e exemplar.
O amor filial já não se contenta em cumprir o que é formalmente
preceituado. Ele intui, em uma formidabilíssima extensão, tudo
aquilo que Deus mais desejaria sem que no-lo tenha preceituado mais
diretamente. O amor filial se alimenta da prática das virtudes que
consistem em fazer o bem que, pelo menos aparentemente, não foi
estritamente exigido, e principalmente o bem de ensinar. O amor
filial cumpre também de modo mais perfeito a vida correta que o amor
servil já cumpria. Pode haver heroísmo tanto no amor servil quanto
no amor filial.
O amor dos esposos é aquele pelo qual, já não contentes em apenas
evitar o pecado e praticar a virtude ainda mais intensamente do que no
amor servil e filial, queremos também e principalmente a própria
pessoa de Deus. Isto significa, no céu, a visão beatífica e, na
terra, a firmeza, a constância e a pureza da fé. Embora a pessoa
de Deus e a fé sejam coisas distintas, na prática é através da fé
que ocorre nesta vida o contato espiritual com Deus e com Cristo
ressuscitado. Quem verdadeiramente conhece a fé, portanto, tanto
quanto é possível ao homem, conhece a Deus.
Deus, por conseguinte, quer que aprendamos a amar a sua Palavra por
ser o caminho pelo qual aprendemos a amar a Deus e Cristo ressuscitado
que se nos entregam nesta vida através da fé e na outra através do
conhecimento, conforme Ele mesmo no-lo diz quando afirma que
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"Nisto consiste a vida eterna,
que te conheçam a ti,
único Deus verdadeiro,
e aquele que enviaste,
Jesus Cristo".
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