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No fim da sua vida Boécio foi caluniado, acusado de conspirar contra o rei dos
ostrogodos. Foi lançado a um cárcere enquanto aguardava a execução da sentença de
morte.
Ali no calabouço, enquanto esperava a morte, Boécio escreveu um livro que ficou na
história, chamado "A Consolação da Filosofia", no qual claramente aparece em
algumas de suas passagens a inspiração dos primeiros filósofos pre-socráticos e
pitagóricos.
Ele imagina, no início do livro, que tem a visão de uma formosa dama, que é a
Filosofia. Ela o vê aflito e chorando e com isto inicia-se um diálogo:
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- Por que choras, Boécio?
Por que os teus olhos
se convertem em fontes?
Conta-me tudo sinceramente,
não me ocultes nada.
Se desejas que o médico te dê o remédio,
deves declarar-lhe a ferida.
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Boécio então responde a estas palavras dando uma resposta que nada mais é do que o
ideal de vida dos pre-socráticos e mais especialmente de Pitágoras:
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- Por acaso há necessidade de explicações?
Por acaso este lugar não te diz nada?
Por acaso este é o lugar
onde todos os dias
eu estudava contigo
a respeito das coisas divinas e humanas?
Era este o rosto que eu tinha
quando eu contemplava
os segredos da natureza,
quando tu me mostravas
o curso das estrelas,
e instruindo-me nos costumes
me ensinavas a ordenar
toda a minha vida seguindo o exemplo
do concerto celeste?
Vejas em que foi dar o prêmio
de nossa inocência,
ser condenado à morte
por um falso delito.
Como se tu,
que estavas sempre junto de mim,
não me afastasses do desejo
das coisas mortais,
cada dia derramando
em meus ouvidos e em meus pensamentos
aquela sentença de Pitágoras,
que o homem há de servir a Deus
e não aos deuses,
e procurar assemelhar a sua vida à dEle!
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