|
Parece, porém, que a justiça provenha de méritos precedentes,
como pode ser visto no caso do centurião Cornélio, narrado no
décimo de Atos. Suas orações obtiveram- lhe que pela pregação
de Pedro se convertesse e recebesse a fé. Esta fé proveio da
graça, mas a graça foi alcançada pelas obras.
SOLUÇÃO.
Não se pode dizer que a graça ou a justiça provenha das obras pois,
se assim fosse, o homem poderia justificar-se pelas obras sem a
graça, o que não pode ser. Ora, o fato de Cornélio ter orado
para que recebesse a fé isto já sucedia por causa de uma graça
precedente, pela qual lhe foi também concedida uma graça maior, que
foi a graça justificante. Não foi, de fato, inteiramente sem a
graça que ele creu em um só Deus e, como dizem os doutores,
possuía fé na Encarnação, embora ainda não soubesse que o Verbo
se tivesse encarnado, o que veio a saber depois pela pregação de
Pedro.
Deve-se notar que uma é a compunção da inveja, pela qual alguém
se compunge, se aflige e se consome por causa dos bens alheios; outra
é a compunção da culpa pela qual alguém é atormentado na própria
consciência, como Judas, que se enforcou no laço pelo seu crime.
Outra, finalmente, é a compunção da graça, que ou é a dos
principiantes, que se arrependem dos males para que deles se
abstenham, ou é a dos perfeitos, que reverenciam a Deus por amor.
|
|