Capítulo 11

Pitágoras, ao que parece, tendo sido primeiramente discípulo de Anaximandro de Mileto, conterrâneo e contemporâneo de Tales, e tendo depois passado mais de duas décadas estudando entre os sábios do Egito e depois mais uma década e pouco entre os sábios da Pérsia, quando voltou para a sua pátria e lhe perguntaram o que era ser filósofo, respondeu com a seguinte comparação:

"A sociedade humana assemelha-se à grande assembléia dos gregos por ocasião dos Jogos Olímpicos. Aí alguns aparecem com a intenção de alcançar vitórias e louros, outros procuram vender suas mercadorias, e outros cuidam de comprar as coisas de que precisam. Há, entretanto, uma categoria de pessoas",

diz Pitágoras,

"justamente as mais distintas e de máximo engenho, que não buscam aplausos nem vantagens, mas que comparecem aos jogos como expectadores e examinam cuidadosamente as coisas que se passam. Pois isso mesmo",

continua Pitágoras,

"é o que ocorre na vida. Uns se apegam exclusivamente à glória, outros ao dinheiro. Há, porém, um punhado de pessoas espalhado pelo mundo que se desapegam de tudo para observarem curiosamente a natureza. Estes são os filósofos, e assim como a atitude mais distinta nos Jogos Olímpicos é a do puro espectador, assim na vida a contemplação e o estudo da natureza sobrepujam os outros tipos de atividade. O filósofo é o espectador da natureza, o homem que examina curiosamente como as coisas se passam".