16. O significado da justificação pela fé.

Explicamos ao longo deste livro, em primeiro lugar, que é através da fé que se alcança a graça do Espírito Santo.

Dissemos depois, porém, que para crer é necessária esta mesma graça que se alcança através da fé.

Estas duas afirmações não são contraditórias porque, conforme explica Santo Tomás no Comentário à Epístola aos Romanos, a graça do Espírito Santo não se alcança através da fé como se pela fé estivéssemos merecendo a graça e a justificação que vem juntamente com ela, mas, muito diferentemente, pela fé se alcança a graça e a justificação porque a própria fé é o início da justificação que em nós é operada pela graça:

"Diz São Paulo na Epístola aos Romanos que Abraão creu em Deus e isto lhe foi tido em conta para a justiça, e que a fé é imputada como justiça não aos que operam, mas aos que crêem em Deus que justifica o ímpio (Rom. 8, 3-5). Isto significa que segundo o propósito da graça de Deus a fé é imputada para justiça aos que crêem em Deus que justifica o ímpio não de tal modo que pela fé se mereça a justiça, mas porque o próprio crer é o primeiro ato da justiça que Deus opera neles".

Santo Tomás de Aquino
Com. a Romanos, C. 4, l. 1

Também no início do Comentário ao Credo Santo Tomás de Aquino fêz uma afirmação muito semelhante a esta, ao dizer que a fé já é a própria vida eterna que se inicia em nós:

"Pela fé se inicia em nós a vida eterna",

diz Tomás de Aquino,

"pois a vida eterna nada mais é do que conhecer a Deus. De fato, diz o Senhor no Evangelho de São João:

`Esta é a vida eterna: que te conheçam a ti, único Deus verdadeiro'.

Ora, este conhecimento de Deus se inicia em nós pela fé".