13. Quinta Conferência Internacional Neo Malthusiana.

Muita coisa havia mudado durante o período de dez anos transcorrido entre a Quarta Conferência Neo Malthusiana de Dresden em 1911 e a Quinta que se realizava agora, em 1922, na cidade de Londres.

Tudo faz pensar que a maioria, senão a totalidade dos líderes e participantes ativos do movimento em favor do controle da natalidade eram há tempo altamente simpatizantes com a idéia da legalização do aborto, mas tinham se calado deliberadamente sobre este assunto para não atrair a antipatia para um movimento que estava tentando firmar-se com tanta dificuldade. Entretanto, dois anos antes desta Quinta Conferência o aborto havia sido legalizado na União Soviética sem restrições. O fato pesou na balança. Durante o congresso, quando ninguém o esperava, Stella Browne, uma das participantes que posteriormente ficou bem conhecida como pessoa desinibida, levantou a voz e se tornou a primeira pessoa a exigir publicamente a reforma da lei do aborto:

"Na minha opinião",

iniciou ela,

"como feminista e como comunista, a fundamental importância e valor do controle da natalidade consiste no alargamento da extensão da escolha e da liberdade humanas, e no seu significado de auto determinação para as mulheres".

Ela prosseguiu o discurso elogiando "a experiência única da União Soviética na construção de uma nova civilização", incluindo a legalização do aborto. No continente europeu a "agitação conduzida pelas feministas de esquerda e por diversos proeminentes socialistas" estava trabalhando no sentido da legalização segundo o modelo soviético. Ela insistiu que não estava ali

"para reivindicar o direito moral ao aborto, embora eu esteja profundamente convicta de que se trata de um direito primário da mulher".

Finalmente, concluíu a apresentação com um triunfante epitáfio para

"os códigos antigos, as superstições decadentes e os danos resultantes de uma velha e teórica moralidade que estão perdendo toda a santidade que elas jamais tiveram".

Consta que toda esta apologia foi pessimamente recebida pelas suas colegas, mas nos escritos que estas nos deixaram a respeito do evento, ficou registrado também que nos anos subseqüentes "a maioria delas acabou lhe agradecendo pela sua ousadia".

Além dos pronunciamentos ousados de Stella Browne, a Quinta Conferência contou com a presença de Annie Porritt, que administrava para Margareth Sanger a revista Birth Control Review fundada alguns poucos anos antes. Annie Porritt explicou no congresso a estratégia mais apropriada para obter publicidade no movimento pelo controle da natalidade, apontando a perseguição como o melhor meio, mencionando como exemplos o já histórico julgamento de Annie Besant e Charles Bradlaugh em 1879, a "publicidade de mártir" obtida através das prisões de Margareth Sanger e as grandes vantagens que a Liga Americana para o Controle da Natalidade conseguiu quando da invasão policial do Hotel Plaza:

"As Igrejas, principalmente a Igreja Católica Romana, vieram a ajudar o movimento pelos vigorosos ataques sobre o mesmo",

explicou a conferencista.

Como conclusão, Annie explicou que uma boa publicidade deveria suscitar intensas emoções, forçar os neutros a tomarem partido e também ser capaz de se opor às críticas.

No término do congresso Margareth Sanger prontificou-se em organizar a Sexta Conferência Neo Malthusiana em Nova York dali a três anos. A forte influência que Margareth Sanger já exercia sobre o movimento já se havia feito notar até no nome da quinta conferência que acabava de se encerrar, no qual havia-se acrescentado uma expressão por ela cunhada anos antes. O evento, que a seguir o padrão dos anteriores, deveria ter-se chamado simplesmente de Quinta Conferência Internacional Neo Malthusiana, foi de fato realizado como Fifth International Neo Malthusian and Birth Control Conference.