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Uma das características marcantes da pedagogia moderna consiste no ter ela
conseguido dissociar, cada vez mais profundamente ao longo dos últimos 700 anos, o estudo
da busca de Deus.
Em sua época, Hugo de São Vitor organizou o estudo como um instrumento
de ascese cristã a ser utilizado conjuntamente com os demais meios para o desenvolvimento
da vida do espírito. Quatrocentos anos mais tarde, na época da Renascença, com o advento
da educação a que se chamou de humanista, o estudo passou a ser utilizado somente como
instrumento para a formação do caráter; se as escolas religiosas ainda orientavam os alunos
a respeito da vida espiritual, esta orientação era algo paralelo ou acrescentado à escola e
não tinha mais relação necessária com o estudo nela desenvolvido pelos alunos.
Mais recentemente, principalmente nos dois últimos séculos, abandonou-se
também o espírito da educação humanista e o objetivo mais importante do sistema escolar
deixou de ser a formação do caráter do aluno para se tornar a aquisição de determinadas
habilidades úteis para a sociedade ou exigidas pelo mercado de trabalho. A formação do
caráter passou a ser buscada, de modo principal, indiretamente através da aquisição e do
exercício destas habilidades. No mundo moderno, de fato, não é um conhecimento profundo
da natureza humana que determina como a escola deve ser organizada, mas são as diferentes
políticas de desenvolvimento e as diversas necessidades do mercado de trabalho que exigem
um determinado número de profissionais habilitados que ditam as orientações das políticas
educacionais.
Na educação vitorina, porém, o estudo é organizado de tal modo que se torna
parte integrante da ascese cristã. O estudo e a ascese não são atividades independentes nem
paralelas. Ao contrário, uma coisa faz parte da outra, a tal ponto que este pode ser
corretamente identificado como um dos elementos que distingüem o que se pode chamar de
espiritualidade vitorina, uma determinada forma de desenvolvimento da vida cristã que
inclui dentro dela a pedagogia, e que pode se desenvolver, como em um lugar próprio, em
uma escola.
Não é possível expor em poucas páginas a pedagogia vitorina, porque ela
não se encontra apenas nos textos especificamente dedicados por Hugo de São Vitor a este
assunto, mas está também espalhada em toda a sua obra, freqüentemente entrelaçada com
princípios de Filosofia e Teologia que pervadem não só os seus escritos como também os de
seu discípulo Ricardo de São Vitor, cuja obra, juntamente com a de Hugo, forma um só
conjunto.
Sendo assim, o que examinaremos em seguida, embora faça parte da
pedagogia de Hugo de São Vitor, não é um resumo da pedagogia vitorina, mas apenas um
apanhado de algumas observações retiradas de suas obras, das quais ele se utilizava para
orientar aqueles que tinham a intenção de se dedicar ao estudo da Ciência Sagrada no intuito
de buscarem a Deus.
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