|
Fala Ovídio Pires de Campos:
|
"Uma das principais causas da crise
em que se debate o nosso ensino secundário
vem a ser, na minha opinião,
as sucessivas e nem sempre felizes reformas
com que os Governos da República
o sacodem de quando em quando.
Cada governo, ou cada presidência,
julga de bom tom administrativo
promover a reforma de nossa instrução pública,
que vai vivendo, assim,
em uma permanente instabilidade,
golpeado, aqui e ali,
por uma verdadeira e bem característica
obsessão reformista.
É um erro, um erro gravíssimo,
como está na consciência de todo mundo,
este suceder quase matemático
das reformas de quatro em quatro anos.
Nada mais razoável,
e de acordo com as leis
da evolução e do progresso,
que um certo regime de ensino venha a sofrer,
pela ação do tempo,
as devidas correções,
que acaso a sua prática e aplicação apontem.
Será, de quando em vez,
uma simples questão de retoque.
Mas o que se está habituado
a presenciar entre nós
não é bem isso,
porém coisa muito mais séria:
posta em execução uma dada reforma do ensino,
antes mesmo que se verifiquem seus resultados
através de uma experiência,
decreta-se uma outra que não raro
muda inteiramente a face das coisas,
quer dizer, que segue uma orientação
completamente diferente.
É comum, por este nosso mau vêzo,
passar-se da noite para o dia
a um regime diametralmente oposto:
hoje, na vigência de uma reforma,
vive-se na mais ampla liberdade de freqüência;
amanhã, vigorando outra,
leva-se ao máximo arrocho
a obrigatoriedade dessa mesma freqüência.
Daí naturalmente a anarquia e a desordem,
quando não são os protestos
das partes interessadas e mais afetadas,
a que se seguem, como corolários forçados,
os célebres avisos ministeriais interpretativos,
os quais, pela sua abundância,
passam muitas vezes a constituir uma nova reforma,
que fica subsistindo ao lado da outra.
E assim temos vivido estes últimos decênios,
acumulando erros sobre erros,
na doce ilusão
de que vamos melhorando
e aperfeiçoando nosso ensino
com essa pletora de leis e decretos”.
|
|
|
|