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Durante aqueles setenta anos de exílio na França, que se iniciaram praticamente no
ano 1300, a cidade de Roma havia permanecido quase ao abandono.
Enquanto neste mesmo período as cidades no norte da Itália prosperavam pelo
comércio e pela independência de fato que gozavam dentro do Império Germânico a
que nominalmente pertenciam, e com isto se criava o clima político propício ao
advento da Renascença, na cidade de Roma ocorreu o processo inverso.
Roma não era um centro comercial. Na verdade, desde as invasões dos bárbaros que
provocaram a queda do Império Romano, havia perdido o seu antigo esplendor e era,
de fato, uma cidade pobre. Na época do Império Romano haviam sido construídos
aquedutos que levavam água para todos os bairros da cidade; com a invasão dos
bárbaros estes aquedutos foram destruídos e nunca mais reconstruídos. Durante a Idade
Média a população da maioria dos bairros de Roma tinha que ir buscar pessoalmente a
sua água para uso doméstico no rio Tibre.
A monumental Basílica de São Pedro, atualmente a maior igreja do mundo, não existia
em 1450. No seu lugar havia um templo bem mais modesto que o Imperador
Constantino havia construído, mais de um milênio antes, nos anos 300 DC, sobre o
túmulo de São Pedro, que já ameaçava desabar. As catedrais da maioria das cidades
do norte da Itália em 1450 eram muito mais imponentes do que qualquer igreja de
Roma.
De que vivia a cidade de Roma durante a Idade Média? Não era, conforme vimos, um
centro comercial, nem mesmo durante os 150 primeiros anos do Renascimento. Sua
Agricultura era insignificante. Roma vivia, em pequena parte, da criação de gado e de
ovelhas, e principalmente das rendas da Igreja, cuja sede ela hospedava.
Mas quando, no início dos anos 1300, a Cúria Pontifícia se transferiu durante setenta
anos para a França, a cidade perdeu sua principal entrada de recursos e iniciou um
caminho não só para uma maior pobreza como também para a desordem política.
Duas famílias, os Colonna e os Orsini, durante os setenta anos do exílio papal na
França e os quarenta do Cisma que se seguiu apoderaram-se do controle da política
romana. Em volta de Roma, os governantes dos territórios que pertenciam aos Estados
Pontifícios, nominalmente vigários dos Papas, de fato se tornaram novos senhores
feudais com poderes ditatoriais, em uma época em que o feudalismo desaparecia da
Europa. Em volta de Roma o banditismo apoderou-se das estradas acabando com o
pouco comércio que ainda lá existia.
Quando em 1417 e em território alemão o Concílio de Constança elegeu como Papa a
Martinho V, não obstante ser ele um romano da família dos Colonna, durante três anos
não conseguiu entrar na cidade de Roma devido à falta de segurança nas estradas. Até
1420 teve que governar a Igreja desde Gênova e Florença.
Em 1420, quando conseguiu finalmente entrar em Roma,
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"as condições da cidade,
a dilapidação dos prédios
e o próprio povo
o deixaram chocado.
A capital do Cristianismo
era uma das menos civilizadas
cidades da Europa",
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diz o historiador Will Durant. O Papa, ademais, não possuía exército próprio e, para
poder gozar de um mínimo de segurança em uma cidade nestas condições, teve que
designar para os cargos chaves da administração pessoas de sua própria família, os
Colonna.
O Papa Eugênio IV, franciscano, sucessor de Martinho V, julgando que seu
predecessor houvesse transferido muita propriedade da Igreja para a família dos
Colonna, chegou a ordenar que uma parte fosse restituída. O resultado foi um levante
popular em que o Papa Eugênio, sem ter nenhum lugar seguro para refugiar-se, viu-se
obrigado a fugir de Roma através do rio Tibre em um simples bote acossado não por
algum formidável exército armado de canhões, mas apenas por uma multidão armada
de paus e pedras. E, antes de poder voltar para Roma, teve que governar a Igreja
durante nove anos desde a cidade de Florença.
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