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Colocadas as coisas deste modo, devemos agora considerar uma objeção a toda esta
argumentação, objeção esta que seria de se esperar principalmehte do homem
moderno.
Concordamos, dirá o homem moderno típico, concordamos que a Educação é de fato
uma instituição da natureza. Os filósofos têm razão. O homem quando nasce não pode
viver sozinho, precisa de acompanhamento e da tutela dos pais antes de poder viver a
própria vida.
Mas não há nada de extraordinário nisso.
Outros animais também dão este acompanhamento aos seus filhotes, embora em menos
anos ou mesmo apenas em alguns meses, tais como os gatos, os cachorros e os leões.
Nestes casos este acompanhamento pouco se parece com aquilo que costumamos
entender pelo nome de educação no seu sentido mais pleno. Estes animais amamentam
seus filhotes durante algum tempo e desenvolvem, inclusive, um trabalho de
ambientação dos filhotes ao mundo que está à sua volta antes de os deixarem livres
para viverem suas próprias vidas. No entanto, não há nada de extraordinário nisso.
Trata-se apenas um instinto biológico de sobrevivência. Não se pode dizer que se trate
de educação em seu verdadeiro e pleno sentido, trata-se de algo que não ultrapassa os
limites dos instintos animais. Certamente, dirá o homem moderno, quando a
humanidade surgiu pela primeira vez na natureza, provavelmente ela não terá feito, em
matéria de educação, também muito mais do que isto pelos seus filhotes. Se aceitamos
estas hipóteses, deveremos então dizer que a educação que veio mais tarde não é uma
instituição da natureza, mas uma elaboração posterior do homem, um artifício, uma
invenção humana.
Os filósofos gregos, se estivessem visos, deveriam saber que os homens modernos
foram acostumados a pensar que quando a humanidade surgiu sobre a terra sua situação
não era melhor do que a dos macacos em geral. Assim como os macacos viviam nas
árvores, assim também homens modernos pensam que os primeiros homens viviam nas
cavernas. O homem moderno imagina que os primeiros homens, quando nasciam,
viviam com os pais apenas para aprender a sobreviver. A educação daquela época,
portanto, não poderia ser mais do que a luta elementar pela sobrevivência. Se existe
uma educação instituída pela natureza, dirá o homem moderno, parece evidente que ela
somente poderia se estender até aí. Todo o resto do que conhecemos hoje como
educação é uma invenção posterior do homem.
Sendo assim, continuaria o homem moderno, a teoria que foi apresentada pelos
filósofos gregos deve ser atribuída a um exagero por parte deles. Neste sentido não há,
para a mente do homem de hoje, nem pode haver, nenhuma mensagem especial objetiva
na educação. Dentro do ponto de vista da natureza, a educação não pode ultrapassar os
limites do instinto elementar pela sobrevivência.
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