Capítulo 18

Qual a relação entre estas considerações e o que dizíamos anteriormente de Platão?

Acabamos de afirmar que a Educação é uma instituição da natureza. Ora, se isto é assim, isto é, se a Educação é uma das instituições da natureza, conclui-se que ela só poderá ser filosóficamente considerada dentro do contexto geral da contemplação da natureza. E foi exatamente isto que, conforme veremos, Platão fêz.

Porém, o que já vimos é que Platão deseja que os governantes sejam homens de virtude, ou que os homens de virtude sejam aqueles que assumam o poder público. Cabe então agora a pergunta: Insere-se isto dentro da idéia que parece existir por trás da natureza? Teria previsto a natureza uma instituição não inventada pelo homem que o conduzisse naturalmente a uma vida de virtude?

Mas acontece que Platão não se limitou a exigir dos governantes uma vida de virtude. Ele exigiu também a Filosofia, como se não fosse possível ser virtuoso sem ser filósofo. Cabe então novamente outra pergunta: Se isto é verdade, será então a Filosofia uma outra instituição da natureza? E se for, qual é a relação exata que a natureza estabeleceu entre a virtude e a Filosofia? E, mais ainda, como construir um sistema educacional baseado nisto?

Conforme veremos nas notas seguintes, Platão foi mais longe que todos os seus predecessores na resposta a estas perguntas e, inteiramente fundamentado nelas, levantou as bases de um modo se entender a Educação que, desenvolvendo-se ou simplesmente reaparecendo em seus princípios ao longo da história, produziu muito mais fruto do que hoje em dia geralmente supomos ter acontecido.

São Paulo, 28 de novembro de 1989.