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Ora, ocorreu então que em 1454, justamente no auge do movimento renascentista
italiano, bem além dos Alpes, em território alemão, Gutemberg inventou a imprensa.
Seu primeiro livro editado foi a Bíblia, mas logo em seguida a nova invenção passou a
ser utilizada principalmente para a difusão dos livros que propagavam as idéias
renascentistas.
Assim, aos poucos, mas em um crescendo sempre maior, o que foi se difundindo pela
Europa através da imprensa não foram principalmente as Sagradas Escrituras com que
Gutemberg inaugurou o seu invento, nem a Filosofia Grega, nem o ideal cristão, mas o
espírito do humanismo renascentista.
Dificilmente poderia ter sido encontrada uma hora mais inoportuna para a imprensa ter
sido inventada. Tivesse ela sido inventada antes, dois séculos antes de 1450, ou então
depois, dois séculos depois de 1450, e a história da humanidade talvez tivesse seguido
rumos completamente diferentes.
Se a imprensa tivesse sido inventada dois séculos antes, isto é, em 1250, época em que
haviam acabado de falecer homens como São Bernardo, Hugo de São Vitor, São
Francisco de Assis, São Domingos, Santo Antônio de Lisboa, e em que viviam São
Boaventura e Santo Tomás de Aquino, o Renascimento não teria surgido e a
humanidade teria evoluído segundo uma concepção de vida totalmente diversa da que
temos hoje.
Se a imprensa tivesse sido inventada dois séculos depois, isto é, em 1650, certamente
não nos é possível conjecturar o que ela teria difundido ao ter surgido. Mas é quase
certo que, sem o auxílio da imprensa, em duzentos anos o espírito renascentista teria se
apagado na Itália por si só e dado lugar a alguma outra coisa que não necessariamente
o que teria sido o seu desdobramento lógico.
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