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Hugo de São Vitor nasceu na Saxônia, que hoje faz parte do território da
Alemanha, no ano de 1096. Ainda jovem sentiu a vocação religiosa e mudou-se para Paris
com a intenção de ingressar no Mosteiro de São Vitor, no qual residiu até a sua morte em
1141. Ele viveu, portanto, na primeira metade do século dos anos 1100.
A época em que viveu Hugo de São Vitor foi uma das mais importantes da
história da civilização ocidental, pois foi nela que começaram a se organizar as nações que
hoje fazem parte da Europa.
Mil e cem anos antes da época de Hugo, quando nasceu Jesus Cristo, não
existiam Inglaterra, França, Alemanha, Portugal nem tantos outros países da Europa. Na
época de Cristo a Europa, o norte da África e o Oriente Médio constituíam um todo
conhecido como Império Romano. A ausência de fronteiras e as facilidades de comunicação
dentro de um império tão grande muito auxiliou para que o cristianismo se propagasse mais
facilmente por todo o mundo civilizado daquele tempo.
Entretanto, a partir dos anos 400 e durante vários séculos que se seguiram,
muitas hordas de bárbaros provenientes da Europa Oriental e do interior da Ásia passaram a
invadir o território do Império Romano que acabou aos poucos se esfacelando. Embora
tivesse havido algumas épocas de calma, as invasões e as desordens que resultaram delas só
puderam começar a ser definitivamente controladas, possibilitando a organização daquelas
que são as atuais nações da Europa, na época de Hugo de São Vitor. Entre o ano 1100,
próximo ao nascimento de Hugo, e o ano 1300, próximo à morte de Santo Tomás de Aquino,
houve um extraordinário renascimento da civilização na Europa em todos os aspectos,
incluindo a vida religiosa, a teologia e a educação. Pertencem a este período da história as
vidas de São Francisco de Assis e de São Domingos.
No início deste período, no ano 1100, São Vitor era o nome de uma
capelinha situada nos arredores de Paris e freqüentada por pessoas que vinham, longe do
tumulto da cidade, consagrar algum tempo à meditação e à oração. Em 1108, com o fim de
melhor poder dedicar-se às coisas de Deus, um sacerdote professor da escola anexa à
Catedral de Notre Dame, chamado Guilherme de Champeaux, transferiu-se para lá junto com
vários de seus alunos. Mesmo residindo em São Vítor, Guilherme continuou sendo
procurado, não só pelo seu exemplo, como também pelos seus ensinamentos, que não deixou
de ministrar. Assim surgiu ali o mosteiro de São Vítor.
Quando Hugo pediu para ser admitido no mosteiro de São Vitor, Guilherme
já não residia mais nele. Tinha sido promovido a bispo e havia deixado outros em seu lugar,
encarregados do governo do mosteiro. Algum tempo depois a tarefa de organizar a escola de
Teologia anexa ao mosteiro seria confiada a Hugo de São Vitor.
Raras vezes na história humana uma escolha pôde ter sido tão feliz. No
mosteiro organizava-se uma grande biblioteca que daria acesso a Hugo ao que de melhor
havia sido escrito pela tradição cristã. A fama de São Vitor já havia atravessado as
fronteiras e espalhava-se por toda a Europa; ela trazia ao mosteiro, de todas as partes,
estudantes de notável talento, como tinha sido o caso do próprio Hugo, que para lá se tinha
dirigido proveniente do Sacro Império Germânico, de Ricardo de São Vitor, que ali chegou
proveniente da Escócia, e de Pedro Lombardo, que vinha do norte da Itália encaminhado por
São Bernardo. Já é coisa rara que um talento da envergadura de Hugo, homem de inteligência
brilhante, santidade manifesta e notável vocação docente se veja diante de tantos e tão
excelentes recursos materiais e humanos; mais raro ainda é que alguém nestas condições se
veja encarregado de, além de ensinar, organizar também a escola. Esta tarefa suplementar
obrigou Hugo adicionalmente a explicar aos alunos como se deveria estudar, aos professores
como se deveria ensinar e à escola como se deveria organizar, e isto não para obter algum
diploma, que naquela época ainda de nada valiam, mas para, a partir de um sólido
conhecimento das Sagradas Escrituras e das obras dos Santos Padres, empreenderem a busca
da santidade. O conjunto da obra de Hugo de São Vitor mostra que ele elaborou um sistema
de Pedagogia em que o estudo de torna um instrumento de ascese em perfeita consonância
com os ensinamentos do Novo Testamento a respeito da fé, da graça e da oração, da
necessidade da graça para a prática das virtudes e dos frutos que se esperam do
desenvolvimento da vida espiritual.
Hugo de São Vítor mostrou, em suma, como se organiza o estudo, o ensino e
a escola para que, sem deixar de ser uma escola, nem perder nenhuma das características que
tradicionalmente se atribuem a uma escola, ela tenha como meta a santidade. Esta meta não é
algo acrescentado ou justaposto ao que já seria a escola, mas é aquilo que dita a própria
essência de sua organização e de seus métodos.
Hugo mostrou ainda que se isto pode ser possível, é porque esta é a
verdadeira e legítima finalidade da escola. São as outras escolas, e não esta, que
representam um desvio do verdadeiro ideal do ensino.
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