4. Atitude mundial em 1950 em relação às questões populacionais.

Para todos os efeitos práticos, nas classes dirigentes e entre os estudiosos do mundo inteiro tudo se passava, em 1950, como se não existisse a questão demográfica.

O declínio da mortalidade nos países subdesenvolvidos estava ocorrendo tão rapidamente que o seu significado não foi entendido de imediato. O primeiro número do boletim das Nações Unidas sobre população publicado em 1951 dizia que "qualquer expectativa de uma taxa constante de crescimento populacional no futuro seria irrealística". Afirmava-se que apesar da contínua redução da mortalidade na Àsia poder vir a causar um "estouro" na população, tal acontecimento seria improvável. A América Latina era considerada como tendo ultrapassado o seu período de máximo crescimento. Na Europa o medo da depopulação continuava e ainda eram comum medidas pró natalistas. Aos poucos que começavam a apresentar pontos de vista opostos opunham-se as recentes descobertas e conquistas no campo agronômico. Os primeiros relatórios da FAO, organização das Nações Unidas que trata com as questões agrícolas, que datam de 1950, eram altamente otimistas quanto a este aspecto.

O país onde inicialmente se colocaram mais claramente as questões demográficas foi a Índia, em parte devido à delicadeza que estas assumiam naquele país, em parte por ser o único país do terceiro mundo que possuía, até 1950, estrutura suficiente para levantar dados confiáveis sobre sua população. O assunto, porém, não era levado a público pelas autoridades indianas por motivos políticos, pois estava-se tramitando o processo de independência da Índia e as autoridades locais não queriam fornecer argumentos à Inglaterra para que fosse rebatida a opinião de que a pobreza da Índia era causada pela exploração imperial. Mas as linhas fundamentais da questão já estavam bem definidas e já no fim da primeira guerra mundial eram abertas Ligas Neo Malthusianas em Madras. Em 1930 o estado de Mysore abria a primeira clínica de controle de natalidade financiada pelos cofres públicos do mundo. Em 1931 a Liga Neo Malthusiana de Madras contava em seu quadro de associados dois marajás, três juízes da Corte Suprema e mais meia dúzia de homens importantes na vida pública. Tudo isto levou a que o governo indiano se tornasse, em 1951, logo após a independência, o primeiro governo do mundo a promulgar uma política nacional para reduzir a taxa de crescimento populacional.

Por volta de 1950 foi que se expandiu de modo muito rápido, principalmente nos Estados Unidos, o estudo da demografia. Os demógrafos americanos vieram a se tornar os expoentes mundiais na pesquisa das possibilidades de projetar-se uma transição demográfica rápida nos países subdesenvolvidos. Fundações americanas e várias universidades estavam iniciando as pesquisas pioneiras dos fatores econômicos, sociais e psicológicos que determinam o comportamento dos padrões da fertilidade.