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Esta doutrina de Aristóteles está também de acordo com uma resposta de Santo Tomás
de Aquino a uma Questão Quodlibetal.
Este termo, que vem do latim Quodlibet e que significa "qualquer que seja", origina-
se de um exercício das universidades medievais em que um mestre era colocado diante
de muitos alunos e estes poderiam fazer-lhe uma pergunta qualquer que fosse diante da
qual o mestre deveria responde-lhes logo em seguida com coerência, qualquer que
fosse a pergunta, e esclarecer todas as objeções.
Ora, aconteceu certo dia um fato cujo texto original não temos diante de nós e que
portanto não transcreveremos com as mesmas palavras. Em um destes exercícios um
aluno se levanta e pergunta a Tomás de Aquino:
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"Mestre,
o que é mais forte
sobre o homem,
o rei,
a verdade,
o vinho
ou as mulheres?"
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Uma pergunta aparentemente absurda, desconexa, onde os termos da questão nenhuma
relação parecem ter uns para com os outros.
Bem diversa, porém, deve ter sido a reação de Tomás à pergunta que lhe havia sido
formulada, a julgar pelo que a história nos reporta sobre a sua pessoa. Em sua habitual
simplicidade, Tomás deve ter sido fulminado pelo alcance com que lhe pareceu ter
sido formulada a questão.
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"É preciso primeiramente",
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respondeu Tomás,
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"fazer algumas distinções.
De fato, observamos que no homem
existem diversas potências.
Consideremos, em primeiro,
a potência concupiscível.
Ela está relacionada com o desejo venéreo.
Sobre ela, enquanto tal,
age a mulher.
Segundo um determinado aspecto, portanto,
do ponto de vista da potência concupiscível,
a mulher é a maior força
que existe sobre o homem.
Consideremos, em segundo,
a potência irascível,
relacionada com o temor da morte.
Sobre ela, enquanto tal,
age o rei,
através de seus exércitos.
Segundo um determinado aspecto, portanto,
do ponto de vista da potência irascível,
o rei é a maior força
que existe sobre o homem.
Consideremos, em terceiro,
a imaginação.
Sobre ela age, enquanto tal,
o vinho,
pelo seu efeito embriagante.
Segundo um determinado aspecto, portanto,
do ponto de vista da imaginação,
o vinho é a maior força
que existe sobre o homem.
Consideremos, em quarto,
a potência intelectiva,
cujo bem, enquanto tal,
é a verdade.
Segundo este determinado aspecto,
portanto,
do ponto de vista da potência intelectiva,
a verdade é a maior força
que existe sobre o homem.
Considerando, porém,
que o homem é um animal racional,
em que, portanto,
todas as potências estão naturalmente ordenadas
a uma submissão à inteligência,
deve-se dizer que,
não sob um determinado aspecto,
mas simplesmente falando,
é a verdade a maior força
que existe sobre o homem".
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