IIIª Parte. F.


CAPÍTULO 74

Vamos descrever a seguir o surgimento, a educação e os interesses de uma nova classe intelectual que se formou durante a Renascença. Seus membros costumam ser referidos pela História com o nome de humanistas.

O primeiro dos humanistas foi o italiano Francesco Petrarca, que viveu durante a primeira metade dos anos 1300.

Petrarca era um homem nitidamente imbuído de ideais cristãos, não obstante nele já se encontrarem uma série de características que se chocam com esta postura. Diz dele Pastor no volume primeiro da "História dos Papas".

"Nem sequer Petrarca ficou imune do fermento de seu século. Encontramos neste poeta traços que contrastam com suas idéias fundamentais de fiel cristão. Tais são, por exemplo, seu desprezo altivo pela escolástica assim como pela Idade Média, da qual foi um dos primeiros, por assim dizer, a acreditar na fábula das trevas da Idade Média, e a sua doentia sede de glória".

"É um triste espetáculo ver um homem tão elevado intelectualmente como Petrarca sonhar com coroas de louros, favores de príncipes, ovações populares e correr atrás do fantasma da glória junto a cortes de príncipes moralmente muito degradados".

"Característica dos humanistas que vieram depois dele foi um amor próprio desmedido; extremamente vaidosos e necessitados de fama, não se julgavam jamais suficientemente reconhecidos. Suas bocas e suas penas estavam cheios de belas frases, mas ao mesmo tempo eles eram sumamente ávidos de dinheiro e de vida faustosa, de honras e de admiração, mendigos dos favores dos grandes e dos ricos, e insuportáveis uns aos outros, prontos para qualquer intriga, para qualquer calúnia, para qualquer maldade desde que fosse para arruinar um odiado concorrente. Iniciou-se uma evolução sem limites do individualismo, da qual despontou uma multifacetada ânsia de glória que chegou a extremos satânicos".