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Alexandre VI era, na verdade, um homem bom.
Pode-se perceber isso pelo carinho com que sua eleição ao pontificado foi recebida
pelo povo romano e pelos governos da época, pelas esperanças que esta eleição havia
suscitado, apesar do que depois se seguiu; pela humildade com que ele reconheceu os
seus erros e pela sinceridade com que ele propôs emendar-se; pela religiosidade e
pelo sentimento de piedade que de fato ele possuía.
A maioria de nós hoje também somos homens bons. Deve-se, porém, chamar a atenção
destes mesmos homens de que esta não é a bondade de que fala o Evangelho.
Não é este o fogo que Jesus veio trazer sobre a terra, fogo que ele tanto desejou que se
acendesse e se espalhasse entre os homens (Lc. 12, 49).
Se tudo o que conhecemos como bondade não passa disto, jamais seremos capazes de
compreender por que as Sagradas Escrituras dizem que o mundo está envolto em
trevas, e qual é a luz que o Evangelho diz que Jesus veio trazer aos homens (Mt. 4, 16).
Na verdade, se nossa bondade se resumir apenas a esta que quase todos nós temos,
jamais entraremos no Reino dos Céus. Não é esta a bondade que Jesus veio ensinar
que deve ser imitada, aquela bondade pela qual o próprio Deus é bom, e que faz a
felicidade dos santos no paraíso (Mt. 6, 48). Não é esta a bondade daqueles de quem
Jesus diz no Evangelho que
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"aos que o acolheram,
deu-lhes o poder de se tornarem
filhos de Deus,
os quais não do sangue,
nem da carne,
mas de Deus nasceram",
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dos quais São Bento diz que
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"apoderou-se deles
o desejo de caminhar para a vida eterna,
e por isso lançaram-se como que de assalto
ao caminho estreito
do qual disse o Senhor:
`Estreito é o caminho
que conduz à vida'".
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À estreiteza deste caminho corresponde nos homens uma igual estreiteza de mente
quando não são capazes de perceber que aquilo que usualmente é tido como bondade
não é mais do que uma caricatura da bondade de que fala Jesus.
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