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Grande coisa queremos recomendar, se todavia pudermos o que queremos.
Deus onipotente, que de nada necessita, porque Ele é o sumo e
verdadeiro bem, o qual nem pode receber de outrem algo pelo qual
cresça, já que todas as coisas provém dEle, nem pode perder algo
do que é seu pelo qual venha a morrer, já que nEle imutavelmente
consistem todas as coisas, Ele mesmo criou o espírito racional apenas
pela caridade, movido por nenhuma necessidade, para que o fizesse
participante de sua própria bem aventurança.
Para que ele, porém, fosse capaz de fruir de tanta bem
aventurança, fêz nele o amor espiritual, um certo paladar do
coração pelo qual este fosse sensibilizado ao gosto da doçura
interior, na medida em que por este amor saboreasse a alegria de sua
felicidade e a Ele inerisse por um infatigável desejo. Pelo amor,
portanto, Deus uniu a si a criatura racional para que, sempre
inerindo a Ele, dEle sugasse de algum modo pelo afeto o próprio bem
pelo qual seria beatificado, dEle o bebesse pelo desejo e nEle o
possuísse pelo gozo.
Suga, ó pequena abelha, suga; suga e bebe a inenarrável suavidade
de tua doçura. Submerge-te e plenifica-te, porque Ele não pode
falhar se tu não começares a te enfastiar. Adere e inere, toma e
frui; se o gosto for sempiterno, sempiterna será também a bem
aventurança.
Não nos envergonhemos e não nos arrependamos de ter feito esta
palavra de amor; não nos arrependamos de onde procede tanta
utilidade, não nos envergonhemos de onde procede tanta honestidade.
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