QUESTÃO CENTÉSIMA QUINQUAGÉSIMA.

Pergunta-se se Cristo, obedecendo a Deus Pai, mereceu algo. Alguns querem provar que nada mereceu, nem segundo a humanidade, nem segundo a divindade. Deus, dizem, não pode receber algo de alguém; nem também alguém pode adquirir primeiro um débito para que Deus faça aquilo que Ele faz. Nada, portanto, pode ser merecido. Semelhantemente, na medida em que Cristo é homem, é bom e ama, e não pode não ser bom nem não amar; se, portanto, é bom e ama necessariamente, como pode merecer algo?

SOLUÇÃO.

Merecer possui uma dupla significação. Dizemos, de fato, alguém merecer quando pela boa obra se torna digno de algo de que antes não era digno; segundo esta significação parece-nos que Cristo não mereceu nada, nem segundo a divindade, nem segundo a humanidade, mesmo em sua própria morte. Diz-se também alguém merecer quando faz algum bem que seja digno de remuneração, segundo o que também Deus pode ser dito merecer, concedendo-nos benefícios pelos quais somos obrigados a louvá-lo eternamente e Cristo, segundo a humanidade, mereceu para nós em sua paixão que fôssemos introduzidos na vida eterna. Antes disso já havia merecido muito para nós; mas a paixão não foi somente preciosa, mas também o preço do mundo.