NOTAS SOBRE A PRÁTICA
DA ORAÇÃO


CAPÍTULO 1

A Revelação nos exorta insistentemente a que dirijamos nossa atenção à Palavra de Deus. Diz ela na pessoa do Messias:

"O Senhor deu-me uma língua erudita, para saber sustentar com a palavra o que está cansado. Ele me chama pela manhã, pela manhã chama aos meus ouvidos, para que eu o ouça como a um mestre. O Senhor Deus abriu-me o ouvido, e eu não o contradigo, não me retirei para trás".

Is. 50, 4-5

Pouco depois, porém, ela mesma pergunta para nós:

"Qual de vós teme o Senhor, qual de vós ouve a voz de seu Servo?"

Is. 50, 10

No Evangelho ela também nos mostra, através da história de Maria, como nisto o Messias é um exemplo para os homens. Maria, no Evangelho de Lucas, é louvada por ter feito precisamente aquilo que Isaías havia predito que haveria de ser feito pelo próprio Cristo:

"Maria, sentada aos pés do Senhor, ouvia a sua palavra.

Marta, porém, afadigando-se muito na contínua lida da casa, pediu ao Senhor que dissesse à irmã para ajudá-la.

O Senhor, respondendo, disse-lhe:

`Marta, Marta, afadigas-te e andas inquieta com muitas coisas. Uma só coisa é necessária; Maria escolheu a melhor parte, que não lhe será tirada' ".

Lc. 10, 39-42

Sem dúvida, era à mesma coisa que o Salmista se referia, quando dizia:

"Quanto eu amo a tua Lei, Senhor! Ela é minha meditação todo o dia. Os meus olhos antecedem as vigílias noturnas, para meditar as tuas palavras. Se a tua Lei não fosse a minha delícia, eu já teria perecido na minha aflição. Mesmo que os príncipes se sentem e falem contra mim, o teu servo todavia medita nas tuas determinações. A explicação das tuas palavras ilumina, ensina os inexperientes. Pus a minha esperança na tua Palavra, as tuas prescrições constituem a minha herança para sempre. Irrompam os meus lábios em um hino, quando me ensinares os teus estatutos".

Salmo 118

E era por causa da Palavra, também, que Jesus nos chamava de amigos:

"Não vos chamo mais de servos, porque o servo não sabe o que o seu amo faz; mas eu vos chamo de amigos, porque tudo o que eu ouvi do Pai, eu vo-lo dei a conhecer".

Jo. 15, 15

Jesus, dizendo que Ele próprio tinha ouvido tudo o que nos deu a conhecer, dá-nos a entender o quanto queria oferecer-se como exemplo para que nós também aprendêssemos a ouvir.

A Revelação nos ensina, no entanto, que Jesus queria que nós ouvíssemos a sua Palavra porque deste modo, por meio de sua graça, Ele poderia erguer nossa mente ao ato da fé:

"Tudo isto foi escrito",

diz São João para explicar a Palavra,

"para que vós creiais que Jesus é o Cristo, Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais a vida eterna em seu nome".

Jo. 20, 31

De fato, em muitíssimas passagens deste mesmo Evangelho, Jesus nos diz que para possuir a vida eterna é preciso aprender a ouvir e aprender a crer:

"Quem ouve a minha Palavra e crê naquele que me enviou, tem a vida eterna, e passou da morte para a vida".

Jo. 5, 24

Aprendemos com isto que o ouvir da Palavra e a experiência da fé devem andar sempre juntos, conforme no-lo diz também o Evangelho de São João:

"Não rogo somente por eles, mas por todos aos que hão de crer em mim, por causa da sua Palavra".

Jo. 17, 20

E também:

"Muitos creram nEle, por causa da sua Palavra".

Jo. 4, 41



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