Capítulo 14

O primeiro sofista famoso mencionado na história foi Protágoras. Como todos os demais sofistas, seus objetivos pedagógicos eram utilitários. Dizia que a filosofia devia ser estudada apenas na época da juventude e que se torna inútil quando cultivada além de determinados limites, porque impede o homem de se tornar habilidoso nos negócios públicos e na vida humana. Não se deve perder tempo, diz Protágoras, especulando sobre a natureza, sobre o mundo nem sobre os deuses.

"Eu não sei se existem ou não existem deuses",

diz também Protágoras,

"a questão é obscura e a vida humana é curta".

O importante é viver, e na vida política o importante não é possuir a verdade, mas ser capaz de convencer o público de que tal ou determinada coisa é verdadeira.

Diz dele H.Marrou:

"Ele não tinha a seus alunos nenhuma verdade a ser ensinada, mas apenas a terem sempre razão em qualquer circunstância".

"Protágoras tomou emprestado de Zenão de Eléia",

continua Marrou,

"seus procedimentos polêmicos e sua dialética rigorosa, esvaziando-os, porém, daquilo que lhes dava sua seriedade".

Diógenes Laércio, na biografia de Protágoras, diz que ele foi o primeiro pensador a sustentar que sempre, em qualquer questão, existem dois lados opostos um ao outro e que devem ser ambos considerados. Ademais, ele partia do princípio de que

"o homem é a medida de todas as coisas, das coisas que são e das coisas que não são",

e que, além disso,

"tudo é verdade".

Estes princípios são explicados assim por Platão, que viveu depois de Protágoras:

"Para Protágoras, assim como cada coisa parece para mim, assim é para mim, e assim como parece para ti, assim é para ti porque tanto eu sou homem como tu és homem".

Quando Protágoras diz então que o homem é a medida de todas as coisas, não está se referindo à espécie humana, mas a cada homem individualmente considerado. Com isto ele introduziu a relativização da verdade. O princípio de Protágoras é a mesma coisa que a negação da verdade.

Protágoras, ademais, se vangloriava de ser

"capaz de converter em forte a razão débil",

fosse qual fosse a razão débil.

Protágoras dizia ainda que ele queria

"ensinar a sabedoria, tanto na maneira de administrar a casa própria como os negócios públicos, isto é, a maneira de agir e falar para poder governar uma cidade".