CAPÍTULO 24

Na época em que surgiu a escola de Platão, porém, surgiu também um segundo tipo de escola.

Nesta época o sistema político que havia em Atenas era o que se chamava de Democracia. Embora tivesse seu nome em comum com o das modernas democracias, tratava-se no entanto de uma democracia muito mais radical do que as democracias que existem na atualidade. As democracias modernas, de fato, são democracias em que o povo não governa, mas indica quem são os que vão governar. Em Atenas, porém, não havia governantes indicados que decidissem as questões importantes. Era o próprio povo que, pelo voto, tomava ele próprio, reunido em Assembléia Popular, as decisões últimas em todos os assuntos vitais. Nestas assembléias, em que todos os cidadãos eram convocados, qualquer pessoa que quisesse falar poderia tomar a palavra; só depois de todos os interessados serem ouvidos se procederia a uma votação. Na prática, porém, em circunstâncias como esta, era freqüente que muitas questões fossem de fato decididas não pelo povo, mas por aqueles que eram os melhores oradores e que conseguiam convencer a multidão de que deveria-se votar em um ou outro sentido.

Foi neste ambiente que alguns filósofos de muito pouca categoria, homens que tinham tido algum contato com as escolas pitagóricas da Itália ou que haviam passado algum tempo junto a algum filósofo importante, ou que simplesmente haviam lido as obras de alguns filósofos e possuíam algum apreço superficial pelo assunto começaram a organizar um segundo tipo de escola que, ao contrário da anterior, não era para sempre ou para maior parte da vida, mas para alguns meses, um ano ou no máximo alguns poucos anos. Tinham uma determinada finalidade que não era a busca da sabedoria, eram pagas e era comum tentar-se cobrar o máximo possível, dependendo da fama do mestre e das condições do lugar. Estas escolas basicamente ensinavam a falar em público. Eram escolas de oratória.

As pessoas que organizaram as primeiras destas escolas de oratória ou que ministravam estes cursos foram chamados pelos verdadeiros filósofos de sofistas. A palavra sofista vem de `sofia', termo que em grego significa sabedoria; era a mesma raiz que também constituía a palavra filosofia, mas não designava agora mais a verdadeira filosofia, mas uma caricatura da sabedoria.

As escolas dos sofistas aceitavam jovens que tinham posses e durante três ou quatro anos estes aprendiam as regras do uso da linguagem, a falar e a escrever bem, a expressarem-se em público. Os discursos de professores e alunos eram anotados e depois analisados e criticados. Os alunos eram exortados a ler bastante livros, os quais então na Grécia eram provavelmente mais disponíveis do que em qualquer outra parte do mundo. Entre os livros que os alunos dos sofistas eram exortados a ler estavam inclusive os dos filósofos, não porém, tendo em vista a busca da verdade ou da sabedoria, mas para aumentar a bagagem cultural e poder com isto falar melhor em público, o que, de fato, era o objetivo final e mais importante de todos.

Falar bem em público era o objetivo mais importante de todos porque isto possibilitava retorno monetário e poder. Quem soubesse falar bem em público poderia com isto ser eleito para algum cargo, poderia convencer os cidadãos a decidirem as questões importantes conforme ele julgasse mais correto ou mais conveniente, inclusive decisões tais como a declaração ou a cessação de uma guerra.

Durante toda a antigüidade foram estes os dois modelos fundamentais de educação disponíveis, um quadro bem diverso do da educação moderna.