CAPÍTULO 3

Os Concílios Ecumênicos são, em princípio, reuniões de todos os bispos da Igreja para tratar de problemas de relevância para o Cristianismo. A autoridade excepcional que uma reunião como esta tem dentro da Igreja, porém, provém das próprias palavras de Jesus com que ele se dirigiu primeiro a São Pedro, e depois aos seus apóstolos em conjunto.

De fato, em Mateus 16, 18-19 Jesus havia dito a São Pedro:

"Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela. Dar-te-ei as chaves do Reino dos Céus, e o que ligares na terra ficará ligado nos céus; e o que desligares na terra será desligado nos céus".

Com estas palavras, Jesus prometeu que ratificaria as decisões de Pedro, após a sua morte e a fundação da Igreja como sendo suas próprias decisões. O que ele ligasse na terra, seria ligado no céu, e o que ele desligasse na terra, seria desligado no céu.

Mais tarde, falando aos Apóstolos, Jesus repetiu esta mesma expressão, dando aos Apóstolos, e neles à Igreja, o poder de ligar e desligar. Disse ele:

"Tudo o que ligardes na terra, será ligado no céu; e tudo o que desligardes na terra, será desligado no céu".

Mt. 18, 18

Desde o início do Cristianismo este poder de ligar e desligar foi utilizado pela Igreja. Logo nos primeiros anos de sua existência, surgiu uma controvérsia doutrinal entre os cristãos que vinham do paganismo e os cristãos que vinham do Judaísmo. Dizem os Atos dos Apóstolos então que

"Reuniram-se os Apóstolos e os presbíteros para examinar esta questão".

Atos 15, 6

Intervieram na discussão primeiro São Pedro, depois Barnabé e São Paulo, e finalmente São Tiago, citando uma controvérsia que havia tido com São Pedro. A decisão final constou de uma carta circular em que se lia que a solução apresentada era o que

"havia parecido bem ao Espírito Santo e aos Apóstolos e presbíteros reunidos".

Atos 15, 28

Ainda hoje lê-se no Código de Direito Canônico, bastante em conformidade com as duas passagens citadas de Jesus que, por instituição divina, a suprema autoridade da Igreja está no Romano Pontífice,

"ao qual pertence o múnus concedido pelo Senhor de forma singular a Pedro, o primeiro dos Apóstolos, para ser transmitido aos seus sucessores",

Cânon 331

e também no colégio de todos os bispos da Igreja em união com o Sumo Pontífice (Cânon 336).

Um Concílio Ecumênico é uma das formas em que pode se expressar a suprema autoridade da Igreja que reside no colégio de todos os bispos da Igreja em união com o Sumo Pontífice. Não é necessário que estejam presentes de fato todos os bispos do mundo, coisa que até hoje nunca foi possível de acontecer, embora nos dois últimos concílios tenha-se chegado bem perto disto. Basta que os que estejam presentes constituam uma representação qualificada da Igreja universal, capaz de interpretar o pensamento e a vontade de todo o corpo episcopal, sob a presidência efetiva do Sumo Pontífice. Nestas condições, o que esta assembléia decide goza do poder de ligar e desligar no céu e na terra concedido por Jesus a Pedro e aos Apóstolos.