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Finda a Guerra do Peloponeso, e derrotados os atenienses, o general espartano
Lisandro impôs em Atenas um regime ditatorial em que trinta homens teriam inteira
autoridade sobre a vida dos cidadãos. Eram todos atenienses, mas eram pessoas tidas
como iníquas pelos seus concidadãos, por terem traído a causa pátria pela dos
espartanos. Este regime ficou sendo conhecido como o regime dos Trinta Tiranos, que
durou oito meses, até que Trasíbulo restaurasse novamente a democracia em Atenas.
Curiosamente, o principal homem dos trinta tiranos era Crítias, um ex-discípulo de
Sócrates, mas que em nada se comportava segundo o exemplo do mestre.
Começaram então os desterros e as mortes, e os Tiranos frequentemente davam ordens
a cidadãos honestos que eles próprios prendessem seus condidadãos para serem
levados ao suplício. Alguns testemunhos da época, embora talvez exagerados, dizem
que nestes oito meses em que durou o regime dos Trinta Tiranos morreu mais gente em
Atenas do que nos 28 anos da Guerra do Peloponeso.
Na História Universal de Cesare Cantú, este historiador diz que Sócrates,
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"vendo tantos cidadãos perecerem,
vítimas da crueldade dos Trinta,
ou serem exilados, dizia:
`O pastor que visse
todos os dias diminuir o seu rebanho
e se recusasse confessar
que era mau pastor,
não teria sinceridade;
menos ainda o teria
o governador de uma cidade,
que notando a diminuição
do número dos cidadãos,
negasse que governasse mal'".
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Os Trinta lhe ordenaram que guardasse silêncio e não conversasse com cidadão algum
menor de trinta anos; porém nem por isso ele deixava de falar com a mesma liberdade;
e quando lhe perguntavam se não receava que a franqueza dos seus discursos lhe
atraísse a desgraça, respondia:
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"Pelo contrário,
espero mil males;
mas nenhum seria igual
ao que eu cometeria,
fazendo uma coisa injusta",
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embora, rigorosamente falando, não seria uma injustiça calar onde não se espera fruto
algum das próprias palavras.
Em outra ocasião, os Trinta Tiranos exigiram de Sócrates que os ajudasse a prender
um tal de Leon de Salamina, e sequestrar todos os seus bens. Mesmo sabendo o que
poderia vir a lhe acontecer, Sócrates recusou, alegando não uma desculpa qualquer,
mas declarando que não o faria porque tratar-se-ia de uma injustiça.
Diz do fato Xenofonte:
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"Quando os Trinta lhe davam
ordens contrárias às leis,
não as acatava.
Assim, quando o proibiram
de falar com os jovens
e o encarregaram,
juntamente com outros cidadãos,
de conduzir um homem
que intentavam assassinar,
só ele se recusou a obedecer,
porque tais ordens não eram justas".
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