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Ao contrário do que costuma-se supor, não é na
Àsia que se encontram as maiores taxas de crescimento
demográfico do mundo, e sim na América Latina.
Enquanto que na década de 60 a Índia crescia a
2,5% ao ano e a maior taxa de crescimento asiático não
chegava aos 3%, praticamente todos os países da América
Latina ao norte do Paraguai cresciam a pelo menos 3% ao ano e
a maioria daqueles situados ao norte da Venezuela cresciam a
pelo menos 3,5% ao ano. A maior das taxas pertencia a El
Salvador, com 3,7% ao ano. As perspectivas futuras de
crescimento eram ainda maiores porque juntamente com a
diminuição das taxas de mortalidade, enquanto que na
Indonésia 42% da população tinha menos do que 15 anos, tal
proporção atingia mais de 50% em alguns países da América
Latina, principalmente na América Central. Apenas ao sul do
Paraguai as tendências populacionais tendiam a assemelhar-se
aos padrões europeus.
A situação geral da América Latina, entretanto,
deferia muito da asiática porque, embora esta não fosse a
única diferença, ela estava praticamente despovoada no início
do século e na década de 60 ainda existiam enormes extensões
de terra desabitada, sendo sua densidade demográfica uma das
menores do mundo.
Uma situação típica do que ocorria na América
Latina na década de 60 está mostrada na figura seguinte, em
que se comparam as taxas de natalidade e mortalidade da
Suécia e do México, e a diferença entre estas duas taxas,
dada pela área hachurada, que representa a taxa líquida de
crescimento. Verifica-se, no caso do México, tanto o
decréscimo da mortalidade como o acréscimo da natalidade,
pelos motivos já explicados.
Outra diferença entre o quadro populacional
apresentado pela América Latina e Àsia pode ser encontrada no
índice de crescimento urbano. A América Latina apresenta o
mais alto índice de crescimento urbano do mundo. O fenômeno
das megalópoles não é encontrado na proporção com que ocorre
na América Latina em nenhum outro lugar do mundo. Além das
cidades alcançarem proporções gigantescas, a taxa de
crescimento médio de todas as zonas urbanas da América Latina
juntas estava, no início da década de 60, em torno de 4,5% ao
ano.
O quadro populacional da América Latina e da Àsia
ainda diferem entre si quanto ao modo com que seus problemas
econômicos e sociais, relacionados com a questão demográfica,
eram encarados pelos especialistas dos países desenvolvidos.
A Àsia, e em particular a Índia, tendia a ser vista como uma
nação que conta com um potencial humano e uma infra estrutura
considerável, sendo, porém, vítima de uma situação
calamitosa. Depois dos Estados Unidos e da União Soviética, a
Ïndia era, na década de 60, o país que contava com o maior
número de médicos, cientistas e engenheiros do mundo. A luta
da nação indiana contra a pobreza era vista pelo mundo
desenvolvido como um teste para verificar-se se uma nação
concebida democraticamente poderia enfrentar e vencer, e de
uma maneira igual ou superior aos países comunistas com
problemas semelhantes, uma situação de baixa
industrialização, urbanização e educação, sem as quais não
seria possível superar a miséria. Já os países latino
americanos eram vistos como países do futuro, ricos em
recursos naturais e potencial energético, mas com a
verdadeira origem de seus problemas residindo na
desorganização e na corrupção de seus governos, inábeis, sem
discernimento e estabilidade para desenvolverem corretamente
os esforços necessários na área educacional, agrícola e
industrial.
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