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Entre as promessas que Jesus fêz à Igreja temos também a já citada, a de que Jesus
permaneceria com ela todos os dias até o fim dos séculos; os bons não seriam
separados dos maus mas, apesar disso, Cristo estaria sempre presente na Igreja.
Esta promessa se realizou de muitos modos. Um deles, porém, havia sido profetizado
mais de seiscentos anos antes de Cristo quando, falando sobre a obra do Messias que
haveria de vir, assim se expressou Isaías, falando em nome de Deus:
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"Eis o meu servo, que eu amparo,
o meu eleito, a delícia do meu coração.
Coloquei sobre ele o meu espírito,
e ele levará o direito às nações.
Não gritará, nem levantará a voz,
não se fará ouvir pelas praças;
não quebrará a cana rachada,
nem apagará a mecha que ainda fumega.
Mas com firmeza promoverá o direito,
sem ceder, nem deixar-se abater,
até que tenha implantado o direito,
e a sua doutrina, que praias distantes esperam".
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Nesta profecia Isaías não se refere apenas à vida terrena de Cristo; durante a sua vida
terrena Cristo não levou o direito divino às nações, mas limitou-se a ensinar em Israel.
No entanto, Isaías diz aqui do Messias que
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"Ele levará o direito às nações".
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Portanto, não pode estar se referindo apenas à vida terrena de Cristo. De fato, Cristo
levou o direito divino às nações após a sua morte e ressurreição, pela sua presença na
Igreja, quando com firmeza e perseverança promoverá o direito, como diz o Profeta,
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"sem ceder, nem deixar-se abater"
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pelos pecados dos homens dos quais ele não prometeu deixar a Igreja imaculada.
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"Não gritará, não levantará a voz,
não se fará ouvir pelas praças",
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mas na verdade é Ele o Mestre que prega em meio ao joio e o trigo da Igreja, em que
estão preservados os tesouros contidos no Evangelho; Ele mesmo que já havia dito, em
Mateus 23, 8:
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"Não queirais ser chamados mestres,
porque um só é o vosso Mestre,
o Cristo".
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Este é o Cristo que
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"Não quebrará a cana rachada,
não apagará a tocha que fumega",
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da mesma forma que não dará ordem aos anjos para separarem o joio do trigo enquanto
o joio não se tornar claramente distingüível do trigo.
De fato, para que serve uma tocha que não está mais acesa, mas apenas fumega? Para
nada, assim como o joio. Porém, enquanto ela não estiver totalmente apagada, o Cristo,
diz Isaías, não a apagará.
E para que serve uma cana rachada? É algo que, na realidade, deveria ser jogado fora;
como, porém, ainda não está totalmente quebrada, mesmo que inútil, Cristo, da mesma
forma que na parábola do joio, não a jogará, enquanto não terminar de se quebrar por
si.
Finalmente, o que significam aquelas palavras finais de Isaías sobre a obra de Cristo,
segundo as quais
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"não se deixará abater,
até que tenha implantado na terra o direito
e sua doutrina,
que praias distantes esperam",
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senão o mesmo que se observa, quando se examina mais profundamente a história da
Igreja, que há como que alguma coisa tentando continuamente abrir caminho e irromper
dentro desta história?
A mesma coisa se observa também na história individual dos homens santos que,
dentro da Igreja, conseguiram encontrar o caminho do Cristo. Dele é que Santo Antão
dizia, no século IV, em uma carta aos monges de Arsinoé:
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"Irmãos caríssimos,
a todos vós que vos preparais
para vos aproximardes do Senhor,
persuadí-vos bem que vosso ingresso
e vosso progresso na obra de Deus
não são obra humana,
mas intervenção do poder divino
que não cessa de vos assistir".
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