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A descida dos santos padres ao Egito pode ser considerada como tendo
se realizado a este mundo, concedida pela providência divina para a
iluminação e a instrução do gênero humano. Por meio deles seriam
ajudadas as demais almas iluminadas, e foi a eles que foi concedida em
primeiro lugar a palavra de Deus. Somente este, ademais, é o povo
que é dito ver a Deus, que é o que significa o nome de Israel
quando traduzido.
É, portanto, conseqüente que adaptemos e interpretemos segundo este
entendimento o castigo do Egito com as dez pragas para que permitisse a
saída do povo de Deus, assim como os acontecimentos com o povo no
deserto, a construção do tabernáculo pela congregação de todo o
povo, a urdidura das vestimentas sacerdotais e o demais que se diz das
vestes do ministério. Verdadeiramente, conforme foi escrito, estas
coisas contém em si a sombra e a forma das coisas celestes. Paulo,
de um modo manifesto, afirma dos que são do povo de Israel que eles
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"servem à sombra e à imagem
das coisas celestes".
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Na própria Lei encontram-se as leis e as instituições pelas quais
deve-se viver na terra santa. São também feitas ameaças aos que
tiverem prevaricado da mesma e colocam-se diversos gêneros de
purificação aos que necessitam de purificação ou aos que mais
freqüentemente se maculam. Por meio destas purificações podem
alcançar aquela única purificação depois da qual não é mais
lícito macular-se.
Este povo é recenseado, mas não todos. O preceito divino
estabelece que as almas infantis ainda não estão no tempo de serem
recenseadas (Num 1, 2-3); não o estão também aquelas almas
que são súditas de outras como à sua cabeça, as quais são chamadas
de mulheres. Numeram-se somente os homens, as mulheres não sendo
contadas no número que é ordenado por Deus que seja recenseado.
Porém fica também manifesto que elas não podem ser numeradas
extrinsecamente, mas que estão incluídas no número daqueles que são
chamados de homens. São principalmente os que são aptos para lutar
nas guerras israelíticas os que são incluídos no santo número,
aqueles que podem guerrear contra os adversários e inimigos que o Pai
submeteu ao seu Filho sentado à sua direita para que destrua todo
principado e potestade. Este número é o dos seus soldados que,
militando para Deus e não se misturando nos negócios seculares,
vencem os adversários do Reino. São aqueles que, revestidos pelo
escudo da fé, vibram a lança da sabedoria, aqueles nos quais brilha
o elmo da esperança e da salvação e por cuja armadura da caridade
Deus defende todo o peito. Parece-me que os que Deus preceitua nos
livros divinos que sejam recenseados sejam soldados que se preparam para
tais guerras. Destes, porém, são apontados como muito mais
resplandecentes e perfeitos aqueles dos quais se diz que até os cabelos
de suas cabeças são numerados (Mt. 10, 30). Quanto aos que
foram punidos pelos pecados e cujos corpos caíram no deserto, estes
parecem ter semelhança com os que, tendo-se adiantado não pouco, no
fim não puderam alcançar a perfeição por diversas causas. Diz-se
deles que murmuraram, cultuaram os ídolos, fornicaram ou fizeram
outras coisas que não é lícito à mente conceber.
Não considero também vazio de mistério que alguns, tendo muito gado
e animais, se adiantaram e arrebataram antecipadamente um lugar apto ao
pasto e à alimentação de seus animais, os quais lutaram nas guerras
de Israel antes que todos. Pedindo eles mesmos este lugar a
Moisés, foram separados dos demais além do Jordão e segregados da
possessão da terra santa (Num. 32). O Jordão pode ser visto,
segundo a forma das coisas celestes, regar e inundar as almas sedentas
e os sentidos que lhes são adjacentes.
Não me parece ocioso também que o próprio Moisés tenha ouvido de
Deus as coisas que são descritas no Levítico, enquanto que no
Deuteronômio o povo torna-se ouvinte de Moisés, dele aprendendo as
coisas que não pôde ouvir de Deus. Por este motivo o Deuteronômio
é dito segunda lei, o que a alguns parece significar que, cessando a
primeira Lei que havia sido dada a Moisés, tivesse se formado uma
segunda Lei, entregue de um modo especial por Moisés a Josué seu
sucessor, o qual cremos ser a forma de nosso Salvador, por cuja
segunda lei, que são os preceitos evangélicos, todas as coisas são
conduzidas à perfeição.
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