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Não parece ser verdade o que está escrito:
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"Não há quem entenda,
nem quem busque a Deus",
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pois muitos naquele povo possuem entendimento de Deus, isto é,
sabiam ser Ele uno, criador e onipotente. Se dissermos que não
entendiam porque não entendiam perfeitamente, assim também os homens
da graça, porque ainda não entendem perfeitamente senão pela fé,
também podem ser ditos não entenderem.
SOLUÇÃO.
Alguém pode ser dito não entendedor porque, ainda que conheça Deus
na majestade, todavia não o conhece na humildade e na piedade. Ou
também pode-se dizer que alguém não entende Deus perfeitamente
porque, ainda que tenha alguma notícia, todavia não a possui pela
experiência da caridade. Pode-se ainda dizer que alguém não
entende Deus perfeitamente porque Ele não é apenas o Criador de
todas as coisas, mas é também o autor de toda a justiça, o que os
judeus não entendem. Constituindo eles mesmos a sua justiça, não
se submetem à justiça de Deus. Ao contrário, de certo modo
fazem-se Deus a si mesmos, ao dizerem ser justificados pela própria
virtude sem a graça de Deus, afirmando serem os autores da justiça
que Deus pode realizar. De onde que o Apóstolo diz:
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"No Evangelho revela-se
a justiça de Deus,
não do homem".
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E em outro lugar
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"Agora a justiça de Deus manifestou-se
sem a lei".
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E se algumas vezes lemos sobre a justiça do homem, como quando Davi
freqüentemente diz "minha justiça", esta deve ser entendido ser
justiça do homem enquanto recebida, e justiça de Deus enquanto
dada.
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