Capítulo 24

O argumento da teoria da evolução, que expusemos acima, vem da Biologia. Vimos o que Parmênides provavelmente lhe teria respondido se estivesse vivo entre nós. Mas diante desta resposta de Parmênides a ciência moderna teria uma segunda objeção a fazer. Esta proviria não mais dos biólogos, mas dos físicos. Infelizmente não poderemos mais acompanhar este outro argumento com os detalhes que o tornariam claro, porque a formação dos alunos do curso magistral nesta matéria não lhes seria suficiente. Mas trata-se de algo tão importante que devemos deixar dito aqui alguma coisa, nem que seja para constar e ser aproveitado bem mais tarde quando, tendo os alunos melhores conhecimentos de Física e possivelmente lembrando-se desta aula, lhes viesse espontaneamente à inteligência este possível raciocínio que exporemos a seguir.

Conforme vimos, os biólogos concordariam com a constatação de Parmênides, embora não com a explicação para a qual ele parece se dirigir. Diriam que realmente é verdade o que Parmênides constata. Parmênides tem razão quando diz que o ser e o pensar são o mesmo. Isto, porém, nada tem de misterioso ou de extraordinário e se explicaria de um modo muito simples pela teoria da evolução.

Os físicos, porém, ao contrário, diriam que Parmênides não tem razão sequer em sua constatação mais elementar. Ao contrário do que diriam os biólogos num primeiro momento, para os físicos pareceria imediatamente claro que a mente humana não está adaptada, de maneira nenhuma, a todos os seres do universo. A justificativa desta afirmação depende do conhecimento de algo que, segundo os físicos, os biólogos não conhecem, ou pelo menos que não o conhecem enquanto biólogos, embora possam conhecê-lo circunstancialmente se conhecerem também alguma coisa de Física. Este algo surgiu quando os físicos analisaram o comportamento das partículas sub atômicas, um mundo tão pequeno que a nossa inteligência no nosso dia a dia não pode tomar contato direto, e com o qual nunca tomou contato a não ser nos últimos oitenta anos de pesquisa, um intervalo de tempo muito curto, principalmente se comparado com o da duração da história humana. Quando, conforme dizíamos, os físicos analisaram os fenômenos do mundo sub atômico, um mundo ao qual a inteligência humana nunca teve acesso senão nos últimos anos, um mundo que, portanto, não faz parte do meio ambiente em que se desenvolve a inteligência, os físicos afirmariam terem observado, ao contrário do que dizia Parmênides, muito coisa que é uma afronta ao bom senso intelectual. E, no entanto, estas coisas existem. Existiriam ali, dizem os físicos, coisas que são uma afronta à Lógica e que, no entanto, estão ali. E, se é assim, diriam os físicos, pode-se perguntar como é que ficaria a teoria de Parmênides diante destes fatos. Pois, se os físicos têm razão, então não se poderia dizer mais que o mesmo é o ser e o pensar. Não, pelo menos, no mundo sub atômico, mas bastaria esta exceção para invalidar o princípio de Parmênides.