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Quando estava sob a condição de colônia inglesa, o
sub continente indiano, constituído pelas áreas atualmente
pertencentes à Índia, Paquistão e Bangladesh, formavam um
único território. Sua população era basicamente uma mistura
de hinduístas e muçulmanos.
Com a independência em 1947, a colônia foi
repartida em duas grandes porções, uma para abrigar a fração
hinduísta da população, que veio a ser a Índia, e outra para
abrigar a parte muçulmana, que veio a ser o antigo Paquistão,
dividido em duas porções, o Paquistão Ocidental e o Paquistão
Oriental. A partição foi acompanhada por um movimento de
muçulmanos da Índia para o Paquistão e de hinduístas do
Paquistão para a Índia de aproximadamente 10 milhões de
pessoas para cada lado, e de uma carnificina, em sua maior
parte inteiramente fora da possibilidade de controle das
autoridades, devida às rivalidades existentes entre os dois
contingentes, que chegou a mudar a cor da água de alguns rios
para vermelho. Dos locais em que já se esperava que isto
viesse a acontecer, somente a cidade de Calcutá, muito
próxima do Paquistão Oriental, esteve sob controle graças
apenas ao prestígio moral de que gozava a pessoa do Mahatma
Ghandi, cuja presença física naquela cidade havia sido
implorada por este motivo pelas autoridades indianas e evitou
que a tragédia tomasse proporções impossíveis de serem
previstas. Atualmente o Paquistão Oriental proclamou sua
independência adotando o nome de Bangladesh.
O sub continente indiano é a região do terceiro
mundo que possui registros demográficos sistemáticos mais
antigos do que qualquer outra. A Coroa Inglesa impôs um
sistema uniforme de registros civis já desde 1864, e esta
medida foi acompanhada por censos sistemáticos de 10 em 10
anos. A característica mais marcante de seu crescimento
populacional é o padrão acentuadamente cíclico que o mesmo
apresenta até 1931, conforme pode ser visto pelos dois
gráficos expostos nas duas páginas seguintes. Estas
flutuações não são devidas a oscilações na natalidade, mas à
ocorrência de períodos de mortalidade devastante, duas fomes
e uma grande epidemia. Não obstante tais flagelos,
entretanto, a mortalidade foi ainda assim extremamente alta
durante todo o período. Até 1920 a expectativa média de vida
estava entre 20 e 25 anos. Nos vinte anos seguintes, até
1940, foi situar-se em torno de 30 anos.
O último grande empecilho à explosão populacional
do subcontinente indiano foi a epidemia de 1918. Comparadas
com esta e as duas fomes que a precederam, todas as desgraças
que ali ocorreram depois da segunda guerra mundial são
episódios significativamente menores.
Segundo os estudiosos do assunto, os movimentos
oscilantes da população indiana até 1931 apresentam uma
concordância acentuada com as hipóteses de Malthus e, além
disso, deviam ser, até certo ponto, bastante semelhantes aos
que deveriam estar ocorrendo na Europa antes do século
dezoito. A comparação com a Europa, porém, não é inteiramente
exata. Na Europa uma grande parte das oscilações era devido a
respostas racionais da população perante a situação
particular de cada período sob forma de uma variação na baixa
proporção de pessoas que se casavam e na elevada idade do
casamento. Isto, na teoria de Malthus, corresponde a deter o
crescimento populacional pelos métodos chamados nesta teoria
de preventivos. Em contraposição, no subcontinente indiano o
casamento era praticamente universal e sua idade média para
as mulheres girava em torno dos dezessete anos. Na teoria de
Malthus, tal situação implicava que o crescimento
populacional seria detido pelos métodos que ele denominava de
positivos, isto é, fomes, guerras, epidemias, etc..
Após a independência, na década de 1960, o
casamento na Índia continuou sendo tão universal como antes e
sua idade média baixou para entre quinze e meio e dezesseis
anos. Estudiosos de demografia estimaram que apenas pela
elevação da idade média dos casamentos de 16 para 20 anos
conseguiria-se um decréscimo na taxa de natalidade da ordem
de 10 a 20%. Durante a década de 60 a taxa de crescimento
demográfico da Índia esteve em torno de 2,5% ao ano e era
devida principalmente à queda da mortalidade, e não a uma
elevação da natalidade. A taxa de natalidade estava em torno
de 38 por mil.
Comparados com a Índia, Paquistão e Bangladesh
apresentam uma situação demográfica mais delicada, devido à
estrutura islamítica de sua sociedade, cuja fertilidade é
maior. Mesmo antes da divisão do subcontinente indiano entre
Índia e Paquistão os muçulmanos cresciam mais depressa do que
os hinduístas. A questão religiosa e cultural, entretanto,
não foi a única causa em jogo. Enquanto na década de 60 a
taxa da natalidade na Índia era de 38 por mil, nesta mesma
época ela oscilava nos países muçulmanos entre 40 e 60. Para
Paquistão e Bangladesh em conjunto esta taxa era calculada em
43,5. Os fatores principais que levavam a estas taxas eram
semelhantes aos da Índia: a ampla difusão e precocidade do
casamento acrescidos ao fato de que no Paquistão e em
Bangladesh não existiam restrições religiosas para o
casamento após a morte de um dos cônjuges, como existiam na
Índia. Como no caso da Índia, estimou-se que a taxa de
natalidade poderia ser reduzida em 30% se a idade média dos
casamentos pudesse ser elevada de 5 anos. A taxa de
crescimento líquido para Paquistão e Bangladesh em conjunto
era de 2,8% ao ano, comparados com os 2,5% da Índia. Para
completar a análise do quadro populacional apresentado por
estes países, deve acrescentar-se que Bangladesh tinha uma
população equivalente à do Paquistão Ocidental em uma área
sete vezes menor.
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