22. A Conferência Mundial de População de 1954.

Além dos trabalhos da Comissão Populacional, que do ponto de vista histórico se constituíam apenas em uma preparação de terreno e somente surtiriam maiores efeitos a longo prazo, a única atitude concreta da ONU no que diz respeito ao problema populacional foi a organização de uma Conferência Mundial sobre População, em 1954, realizada em Roma.

A Conferência foi organizada para ser um encontro puramente científico. Não passaria resoluções nem faria recomendações a governo algum. Esta decisão foi um reflexo da preocupação de governos e indivíduos responsáveis pela Conferência em evitarem que aflorassem assuntos indesejáveis, essencialmente o mesmo tipo de atitude que tinha estado presente um quarto de século antes e que tinha excluído Margareth Sanger de participar da própria conferência que ela havia organizado.

Entretanto, graças à influência dos que não compartilhavam de tais pontos de vista, vários aspectos do planejamento familiar foram introduzidos na Conferência. O Dr. Abraham Stone, que havia sido enviado à Índia três anos antes para assessoramento sobre o método do ritmo, foi convidado a apresentar um trabalho sobre técnicas contraceptivas mais modernas. Diversos outros trabalhos apresentados à Conferência discutiram os efeitos da prática contraceptiva sobre a taxa de natalidade.

Doze associados da recém fundada IPPF participaram do Congresso, metade dos quais apresentaram trabalhos. Até mesmo a própria IPPF já tinha sido convidada a participar oficialmente da Conferência na condição de observadora. Da Conferência participaram mais de 400 delegados de 80 países e colônias, e foram apresentados no total mais de 400 trabalhos. Apesar da introdução imprevista de temas sobre o controle da natalidade, estes trabalhos foram absorvidos pela avalanche daqueles sobre demografia da França e Estados Unidos, e a tônica da Conferência situou-se na pesquisa demográfica, casos em estudo e identificação de lacunas no conhecimento presente. O Papa Pio XII enviou uma mensagem da Santa Sé à Conferência.

A Conferência realizou um trabalho semelhante, em suas conseqüências, ao da Comissão Populacional, e não representou o primeiro passo para uma tomada de uma atitude concreta no ataque de um problema. Mas a Conferência foi importante sob outros aspectos, principalmente quanto a ter provado que era possível realizar uma conferência sobre população sob os auspícios da ONU, coisa que se tinha mostrado inviável em 1927.