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Pergunta-se se Cristo, obedecendo a Deus Pai, mereceu algo.
Alguns querem provar que nada mereceu, nem segundo a humanidade, nem
segundo a divindade. Deus, dizem, não pode receber algo de
alguém; nem também alguém pode adquirir primeiro um débito para que
Deus faça aquilo que Ele faz. Nada, portanto, pode ser merecido.
Semelhantemente, na medida em que Cristo é homem, é bom e ama, e
não pode não ser bom nem não amar; se, portanto, é bom e ama
necessariamente, como pode merecer algo?
SOLUÇÃO.
Merecer possui uma dupla significação. Dizemos, de fato, alguém
merecer quando pela boa obra se torna digno de algo de que antes não
era digno; segundo esta significação parece-nos que Cristo não
mereceu nada, nem segundo a divindade, nem segundo a humanidade,
mesmo em sua própria morte. Diz-se também alguém merecer quando
faz algum bem que seja digno de remuneração, segundo o que também
Deus pode ser dito merecer, concedendo-nos benefícios pelos quais
somos obrigados a louvá-lo eternamente e Cristo, segundo a
humanidade, mereceu para nós em sua paixão que fôssemos introduzidos
na vida eterna. Antes disso já havia merecido muito para nós; mas a
paixão não foi somente preciosa, mas também o preço do mundo.
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