3. A Santíssima Trindade.

A razão nos persuade que isto, bem de outra maneira, também é verdade no Criador.

Cremos que ele sempre tenha existido; é necessário, pois, confessarmos que Ele também sempre tenha possuído a sabedoria. Será coisa impossível, se dissermos que alguma vez ele tenha existido sem a sabedoria, descobrirmos quem depois o tornou sábio, ou de onde recebeu ele a sabedoria, sendo o maior dos absurdos e coisa alheia a toda a razão crer que aquele que é fonte e origem da sabedoria pudesse alguma vez ter existido sem ela. Sempre, por conseguinte, a sabedoria esteve nEle, sempre a sabedoria proveio dele, sempre a sabedoria esteve com Ele.

Sempre a sabedoria esteve nele, porque sempre a possuiu; sempre foi sábio. Sempre a sabedoria proveio dEle, porque a sabedoria que possui, ele mesmo a gerou. Sempre a sabedoria esteve com Ele, porque tendo-a gerado, esta não se dividiu de quem a gerou. Sempre foi gerada, e sempre é gerada; não tem início sendo gerada, nem fim tendo sido gerada; é sempre gerada, porque eterna; sempre tendo sido gerada, porque perfeita.

Há, pois, quem gerou e quem foi gerado. Quem gerou é o Pai; quem foi gerado é o Filho. Quem gerou, sempre gerou; é, portanto, Pai eterno. Do mesmo, quem foi gerado, sempre foi gerado; é, portanto, Filho coeterno ao Pai eterno.

Ademais, quem sempre possuiu a sabedoria sempre a amou. Aquele que sempre amou, sempre possuiu o amor. Assim, o amor é co-eterno ao eterno Pai e Filho. Todavia, o Pai não procede de ninguém, o Filho apenas do Pai, e o amor simultaneamente do Pai e do Filho.

Estabelecemos, porém, acima, que o Criador de todas as coisas possui verdadeira e suma unidade; é necessário, pois, que confessemos em Deus estes três serem um só em sua substância. Por outro lado, temos que quem foi gerado não pode ser o mesmo que aquele de quem foi gerado; nem quem procede daquele que gera e daquele que foi gerado pode ser o mesmo que o que gera ou o que foi gerado. Desta maneira, somos coagidos pela inexpugnável razão da verdade a reconhecer na divindade a trindade das pessoas e a unidade da substância. Na divindade a substância é uma só e comum para todas as três pessoas, assim como também é igual a eternidade e eterna a igualdade, a substância não podendo ser diversa para com cada uma das pessoas se é ela que lhes faz ser única e comum a divindade.

As três, portanto, são um, porque em três pessoas há uma só substância, mas as três não são um, porque assim como a distinção das pessoas não divide a unidade, assim a unidade da divindade não confunde a distinção das pessoas.