|
No livro "O Cura d'Ars - São João Batista Maria
Vianney", de Francis Trochu, cap. 13, lemos o seguinte:
|
"Um sacerdote instruído, meu amigo,
contava o Padre Cirilo Faivre,
missionário de S. Cláudio,
assegurou-me que,
tendo recorrido ao P. Vianney
para resolver um caso de teologia
dos mais complicados,
não pode sair do pasmo ante a facilidade
com que o servo de Deus lhe deu a solução exata.
A chave deste enigma no-la deu o próprio Cura d'Ars
quando depois disse em seu catecismo:
'Os que são guiados pelo Espírito Santo
têm idéias exatas.
Eis porque há tantos ignorantes
que vêem mais longe do que os sábios'".
|
|
Este exemplo manifesta que este dom é comum a todas as formas de
santidade, e necessário inclusive para se poder alcançá-la. A
afirmação do Cura D'Ars não pareceria nada de extraordinário
teria se tivesse partido de S. Tomás de Aquino, mas torna-se
notável sendo citada como proveniente de alguém que passou para a
história com a fama de ser o exemplo da incapacidade de estudar e de um
reduzido quociente de inteligência. S. João Vianney viveu na
França logo após a revolução francesa, não conseguia aprender as
declinações do Latim nem reproduzir os casos das aulas de Moral por
mais esforço que empregasse. Ordenado padre, apenas por
consideração à incomum piedade que manifestava, foi enviado a uma
aldeia minúscula do interior da França onde seus superiores pensavam
que nada de errado se pudesse fazer que tivesse conseqüências muito
sérias, mas mesmo assim foi proibido durante algum tempo de ouvir as
confissões de seus próprios aldeões. No entanto, quando começou a
pregar, a França passou a peregrinar àquela aldeia para ouvir o
cura; e quando começou a confessar, muitas carruagens tiveram que ser
estabelecidas regularmente para conduzir a Ars os peregrinos dos
lugares mais distantes que desejavam confessar-se com ele. A
afirmação do Cura, segundo o biógrafo Trochu a chave do seu
enigma, de que "os que são guiados pelo Espírito Santo têm
idéias exatas", na realidade, objetivamente falando, nada possui de
notável. Notável seria se o Cura d'Ars tivesse declarado o
contrário. Mas elas são notáveis subjetivamente, em relação a
nós, por não conhecermos estas coisas e nos admirarmos que tais
testemunhos sejam comuns a todos os santos.
Aqueles que examinaram os sermões do Cura d'Ars procurando o que
havia neles que atraía multidões de toda a França e causando as
conversões mais espetaculares e impossíveis relatam que nada
encontraram nestes textos que não pudesse ter sido encontrado nos
sermões comuns aos padres do interior da França daquela época.
Onde está então a inteligência do Cura d'Ars, se perguntam
eles, neste caso? Esta objeção significa apenas que o Cura d'Ars
não tinha cabedal especial de conhecimentos teológicos, não tinha
habilidade ao escolher as palavras ou dispor as frases segundo leis de
retórica que ele não conseguia memorizar ou obedecer. Nada disto,
porém, é a inteligência ou o dom da inteligência. O Cura d'Ars
não sabia combinar as palavras mas tinha uma apreensão claríssima da
verdade; com isto, porém, possuía algo muito mais valioso para quem
havia sido incumbido da missão de ensinar.
|
|