CAPÍTULO 62

Que dizer então dos sintomáticos sistemas de segurança destes governantes?

Jacó Burckhardt, na "Civilização da Renascença na Itália", descreve como era organizada a segurança de Filippo Maria, o último governante da dinastia dos Visconti em Milão:

"O que pode a paixão do temor fazer com um homem de talento incomum e elevada posição pode ser visto no caso de Filippo Maria com perfeição matemática. Todos os recursos do estado foram devotados para o único fim de promover a sua segurança pessoal, embora felizmente seu cruel egoísmo não tivesse degenerado em uma sede de sangue sem propósito. Ele vivia na cidadela de Milão cercado por magníficos jardins, árvores e gramados. Durante anos ele não pôs os pés na cidade, fazendo suas excursões apenas no campo, onde ficavam diversos de seus esplêndidos castelos. Quem quer que entrasse na cidadela era vigiado por centenas de olhos. Era proibido até permanecer próximo às janelas, pelo receio de que pudessem ser dados sinais aos que estivessem do lado de fora. Os que eram admitidos entre os acompanhantes do príncipe eram submetidos a uma série das mais rigorosas revistas. Este era o homem que comandava longas e difíceis guerras, que lidava habitualmente com afazeres políticos de primeira importância, que diariamente mandava emissários plenipotentes por todas as partes da Itália. Sua segurança era construída sobre o fato de que nenhum de seus servos podia confiar em nenhum outro, que todos os seus condottieri eram constantemente vigiados e enganados por espiões, que os embaixadores e oficiais mais elevados eram confinados e mantidos isolados por intrigas artificialmente alimentadas e, em particular, sobre o artifício de associar um homem honesto com um patife. Seria interessante acrescentar que, ao morrer, Filippo Maria Visconti foi sucedido no poder pelo seu condottiere, Francesco Sforza, um general cuja fama militar era tão grande que várias vezes venceu batalhas apenas fazendo saber ao inimigo que quem estava no comando adversário era ele próprio".