|
No deserto de Scete moravam os mais ilustres Pais de monges e de toda
a perfeição. Entre todas aquelas exímias flores, rescendia de modo
mais suave, tanto pela ascese quanto pela contemplação, o abade
Moisés.
Desejoso de ser formado à sua escola, fui à sua procura no deserto,
em companhia do santo abade Germano. Com este, desde os primeiros
exercícios da milícia espiritual, vivi em tão estreita companhia,
tanto no mosteiro como no deserto, que todos diziam, para significar a
nossa amizade e comum propósito, que éramos um só espírito e uma
só alma em dois corpos.
Juntos, rogamos com muitas lágrimas ao mesmo abade uma conversa de
edificação. Bem conhecíamos o seu rigor e sabíamos que não
consentia em abrir as portas da perfeição senão àqueles que a
desejavam com fé e a procuravam de coração contrito. Pois não
devia acontecer que a mostrasse a quem não a queria ou que só
mornamente a desejasse, expondo, assim, a indignos, que as
acolheriam com fastio, aquelas realidades necessárias que só devem
ser reveladas a quem tem sede de perfeição, pois, do contrário,
pareceria ele incorrer no vício de vanglória ou mesmo no crime de
traição.
Cansado de nossos rogos, ele, afinal, começou a falar.
|
|