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Expusemos até aqui o que é a contemplação segundo a filosofia
perene e como se estrutura a educação que tem esta contemplação como
seu objetivo final.
Dissemos, ademais, que existe um outro modo de contemplação, mais
elevado do que o precedente, descrito pela Revelação e pela
Tradição Cristã, diante do qual a contemplação descrita pela
filosofia, assim como a educação que ela pressupõe, pode ser vista
como uma preparação.
Ocorre, porém, que já aquela contemplação descrita pela
filosofia, juntamente com toda a educação que lhe serve de base e
seus diversos pressupostos, dos quais não se excluem os políticos,
é um ideal que se nos apresenta como desanimadoramente inacessível aos
homens que vivem na sociedade contemporânea e que são por ela
condicionados a buscarem metas muito diferentes para suas vidas como se
nelas consistisse toda a felicidade humana. Que dizer então daquela
outra descrita pela tradição cristã, que está tão mais além da
anterior e tão mais distante da compreensão dos homens?
Uma coisa é descrever o que são estas realidades, outra coisa é
ensinar os homens a alcançá-las. Onde encontrar os homens que as
possam ensinar? Onde encontrar os que se disponham ao desprendimento e
ao trabalho necessário para, com o auxílio da graça,
aprendê-las? Embora as Sagradas Escrituras afirmem que Deus quer
que todos cheguem ao conhecimento da verdade, poucas, de fato, são
as pessoas capazes de ensinar estas coisas; muito difícil é encontrar
quem as queira aprender ou motivá-los para tanto. E, ainda que se
as encontrem, maior dificuldade é promover o modo pelo qual este
ensino e este aprendizado possam ser efetivamente conduzidos à meta
desejada. E mesmo que se consiga tal coisa, a sociedade toda, no seu
conjunto, parece correr para institucionalizar-se em direções cada
vez mais opostas às metas desta forma de educação, tendendo com isto
a destruir com o decorrer do tempo as próprias bases em que se
fundamentaria qualquer trabalho educativo bem iniciado nesta direção.
Diante de um quadro como este, como proceder para ensinar estas coisas
aos homens?
A tradição cristã afirma que o problema não é novo nem recente.
Muitas iniciativas e tentativas já houve no sentido de levar os homens
ao conhecimento destas coisas, e todas elas malograram. Encontramos,
de um modo muito especial, este tema freqüentemente repetido nas
cartas de Santo Antão.
Antão nos fala primeiro de como a humanidade decaíu de um estado
original de perfeição espiritual; a partir daí, em vez de
procurarem retornar ao que haviam perdido, os homens passaram a se
distanciar cada vez mais profundamente do estado de que haviam caído.
Em sua bondade, continua Antão, Deus passou a enviar vários
profetas para ensina-los; todos eles, porém, tiveram que reconhecer
tratar-se de uma missão humanamente impossível. Fizeram o que
deveriam ter feito e partiram. Finalmente, o próprio Verbo de Deus
teve que se fazer carne, revestir-se de mortalidade e de
loucura,-esta é a expressão de que Antão se utiliza-, e assumir
pessoalmente esta missão impossível para os homens e assim poder
curá-los. "Nossas iniquidades produziram as suas humilhações,
mas as suas chagas foram a nossa cura", diz ainda Antão.
Esta missão do Verbo de Deus foi diferente de todas as demais que a
precederam, pois os que vieram antes do Cristo vieram e partiram.
Jesus, porém, na realidade não partiu; antes de subir ao Céu,
anunciou que fundaria uma Igreja e prometeu que ficaria presente nela
entre os homens para a realização de uma missão que Ele prometeu
cumprir até o fim dos tempos. Esta promessa do Cristo também não
era inteiramente uma novidade; seis séculos antes, o profeta Isaías
havia anunciado que Deus enviaria aos homens alguém "sobre quem
repousaria o seu espírito" (Is. 42, 1), e que este alguém
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"não se deixará abater
até que tenha implantado na terra o Direito,
e a sua doutrina,
que praias distantes esperam".
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Santo Antão também nos fala em suas cartas da missão do Cristo;
ele a situa, porém, no quadro maior do estado deplorável em que o
Cristo encontraria os homens ao iniciar esta missão:
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"Quero que saibais, meus filhos,
o quanto sofro por vós
quando vejo a profunda decadência
que a todos nós ameaça" (119).
"É muito importante
que vos interrogueis
acerca da natureza espiritual,
na qual não há mais
nem homem nem mulher,
mas somente uma essência imortal
que tem um começo e jamais terá fim.
Será uma obrigação para vós conhecê-la,
e como decaíu totalmente a esse ponto
de tamanha humilhação e imensa confusão,
num trânsito que não poupou a nenhum de vós.
Sendo imortal por essência,
foi por causa dela que Deus,
vendo-a infeccionada por uma praga irremediável,
e que, além disso,
aumentava prodigiosamente,
decidiu em sua clemência visitar suas criaturas" (120).
"Deus não veio somente uma vez
visitar suas criaturas" (121);
"desde as origens do mundo,
os que encontraram na Lei da Aliança
o caminho de seu Criador,
foram acompanhados por sua bondade,
sua graça e seu Espírito" (122).
"Mas a extensão do mal,
o peso do corpo,
as paixões perversas
tornaram impotentes a Lei da Aliança
e deficientes os sentidos interiores.
Impossível recobrar o estado da criação primeira" (123).
"Em sua bondade,
Deus então visitou suas criaturas
por meio de Moisés.
Este Moisés quiz curar esta profunda ferida
e levar-nos à comunhão original,
porém não conseguiu e partiu.
Depois dele vieram os profetas,
puseram-se a construir sobre os fundamentos
deixados por Moisés, mas,
sem chegar a curar a chaga profunda da família humana,
reconheceram sua incapacidade" (124).
"O Criador constatou que a chaga se envenenava
e que era necessário recorrer a um médico;
Jesus, já Criador dos homens,
vem ainda curá-los" (125);
"pois nenhuma criatura seria capaz
de curar a profunda ferida do homem.
Ele tomou sobre si esta missão,
nos reuniu de um extremo a outro do universo,
ressuscitou nosso espírito da terra
e nos ensinou que somos membros uns dos outros" (126).
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Eis, pois, o quadro encontrado pelo Messias ao iniciar a sua
missão. As expressões de que Antão se utiliza não são nada
alentadoras; ele nos fala, melhor ainda, tenta nos abrir os olhos
para a "profunda decadência que a todos nós ameaça", a "total
decadência a um estado de humilhação e confusão que não poupou a
ninguém", a "natureza espiritual infeccionada por uma praga
irremediável que aumenta prodigiosamente", a "ferida e a chaga
profunda que se envenena na família humana".
Como, pode-se perguntar, diante de um quadro como este, o Messias
espera ressuscitar o espírito dos homens da terra e ensiná-los a
buscarem de fato as coisas do alto?
Conforme já assinalamos, a missão do Messias possui profundas
diferenças diante de todas as demais que a precederam, e uma delas é
que o Cristo, à diferença dos profetas que antes dele vieram, não
veio e partiu, mas prometeu ficar para sempre. Esta promessa está
associada, conforme mencionaremos a seguir, ao mistério da Igreja.
De fato, Jesus afirmou explicitamente que fundaria uma Igreja.
Fêz isto quando o prometeu a São Pedro:
diz Jesus no Evangelho de Mateus,
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"e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja,
e as portas do inferno nunca prevalecerão
sobre ela".
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Ademais, as Sagradas Escrituras dizem que o Cristo se uniu à
Igreja que ele fundou como o esposo se une à esposa, e "que é
grande este mistério":
diz o apóstolo S. Paulo,
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"amai vossas mulheres,
como Cristo amou a Igreja
e se entregou por ela.
Assim também os maridos devem amar
as suas próprias mulheres,
como a seus próprios corpos, ... ,
como também faz Cristo com a Igreja,
porque somos membros de seu corpo.
Por isso deixará o homem o seu pai e a sua mãe,
e se ligará à sua mulher,
e serão ambos uma só carne.
É grande este mistério:
refiro à relação entre Cristo e a sua Igreja".
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Por estar assim unido à Igreja que Ele fundou, é que pôde o
Cristo, antes de ascender ao Céu, ordenar aos apóstolos que
ensinassem a sua doutrina a todos os povos, mas acrescentando a
promessa de que permaneceria com eles "até o fim dos tempos":
disse Jesus aos apóstolos, aos lhes dirigir as suas últimas
palavras,
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"e ensinai a todos os povos,
batizando-os em nome do Pai,
do Filho e do Espírito Santo,
ensinando-os a observar
todas as coisas que vos mandei.
E eis que estarei convosco todos os dias,
até a consumação dos tempos".
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Destas palavras deduz-se ter sido a intenção de Cristo fazer da
Igreja que ele fundou um instrumento de sua presença no mundo e que,
ademais, segundo as suas mesmas palavras, por promessa divina, seria
ele que na verdade ensinaria quando a Igreja ensinasse, estendendo
assim sua missão até o fim dos tempos. Já antes disso ele havia
dito aos apóstolos:
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"Quem vos ouve, a mim ouve".
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A promessa da presença do Cristo na Igreja pode parecer um pouco
desconcertante a um primeiro exame, pois a experiência histórica tem
mostrado que na Igreja se encontraram e se encontram muitas pessoas que
desmerecem os ensinamentos do Cristo, que não seguem o que Ele pediu
e até mesmo alguns que nem sequer entendem o que Ele ensinou.
Como se pode dizer que o Cristo esteja unido a uma Igreja em que há
homens como estes? Mais ainda, como pode ter prometido que através
dela ensinaria Ele próprio a todos os homens até o fim dos tempos?
Não poderia o Cristo ter se enganado? Não poderia ter acontecido
que a Igreja tenha se desviado do plano que o seu fundador tinha
reservado para ela? A Igreja não teria, talvez, deixado de ser
aquilo que o Cristo havia previsto para ela? O próprio Cristo, se
retornasse visivelmente algum dia ao mundo, não desconheceria a
Igreja como fruto de sua obra na terra?
Estas perguntas todas podem ser reunidas em uma só mais precisa:
Não teria o Cristo concebido a Igreja que estava fundando como uma
instituição constituída apenas por homens imaculados e sem defeito,
e por causa disso, com o desenrolar da história real da Igreja, que
a mostra constituída de homens de todos os tipos, não se teriam com
isto destruído os planos de Cristo para o gênero humano?
Trata-se de uma questão de extrema importância, pois ela se
relaciona, conforme veremos, com o tema da docência da
contemplação. Não podemos, pois, neste trabalho, deixá-la
passar sem exame.
Deve-se dizer, portanto, que um exame mais atento dos textos do
Evangelho mostra que Jesus Cristo, ao contrário do que comumente se
pensa a este respeito, não teve ilusões sobre o que seria o futuro da
instituição que estava fundando. Ao contrário, Cristo
evidentemente soube o que aconteceria ao longo da história da Igreja
e, não obstante isso, entregou sua vida para fundá-la. Se o que
tivesse acontecido depois não correspondesse ao seu objetivo, Ele,
que já o sabia de antemão, não teria pago um preço tão alto.
Numerosas passagens do Evangelho, de fato, todas elas escritas fora
de qualquer dúvida antes de todo o desenrolar da história da Igreja,
mostram com abundante evidência que Jesus soube o que aconteceria à
instituição que Ele estava prestes a fundar.
Destas, a passagem que é talvez a mais clara de todas está no
Evangelho de S. Mateus. Nela Jesus contou primeiro a seguinte
parábola:
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"O Reino dos Céus é semelhante
a um homem que plantou boa semente de trigo
no seu campo.
Enquanto o homem dormia,
veio o inimigo,
semeou o joio no meio do trigo,
e foi-se.
E, tendo crescido o trigo e dado o fruto,
apareceu também o joio.
Chegando os servos do pai de família,
disseram-lhe:
`Senhor, porventura não semeaste tu
boa semente de trigo no teu campo?
De onde veio, pois, o joio?'
Ele disse:
` Algum homem inimigo fêz isto'.
Os servos disseram-lhe:
` Quereis que vamos e o arranquemos? '
Ele respondeu-lhes:
` Não, para que talvez não suceda que,
arrancando o joio,
arranqueis juntamente com ele o trigo.
Deixai crescer uma e outra coisa até à ceifa,
e no tempo da ceifa direis aos segadores:
Colhei primeiramente o joio,
e atai-o em feixes, para queimar;
o trigo, porém, recolhei-o em meu celeiro".
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Ora, o que é impressionante nesta parábola é que, seis versos mais
adiante, o próprio Jesus, rogado pelos apóstolos, interpreta a
parábola que Ele havia exposto.
Na interpretação de Jesus, (Mt. 13,37-43), o homem que
semeou a boa semente de trigo é Ele próprio, Jesus Cristo.
O campo em que a semente foi lançada, ainda na interpretação de
Jesus, é o mundo.
A boa semente seriam os bons cristãos, os "filhos do Reino"
(Mt. 13, 38).
Logo depois que Ele, Jesus, houvesse semeado sua boa semente no
mundo, continua a interpretação de Jesus, durante a noite, viria o
demônio, o inimigo, que semearia uma outra semente diferente daquela
que havia sido semeada, no mesmo campo onde Jesus havia lançado a
sua. O joio, continua Jesus, são aqueles que são filhos do
demônio.
Porém, ao escolher para a sua parábola as figuras do trigo e do
joio, Jesus quiz dizer algo mais do que incluiu neste ponto em sua
interpretação da parábola, algo que era tão evidente para aqueles
homens que conviviam junto aos trigais da Palestina, que não
precisava ser mencionado. Jesus deixou de dizer que o joio é uma
planta igual ao trigo em todos os detalhes, e, portanto, impossível
de ser diferenciado do trigo, exceto por um detalhe: é na época da
colheita que o joio, que até aquele momento em nada se diferenciava do
trigo, que ele, o joio, ao contrário do trigo, não dá fruto algum
na espiga. Só, portanto, na colheita, quando ambas as plantas
estão maduras, é que é possível saber quem era o trigo e quem era o
joio.
Os primeiros cristãos já haviam percebido a importância desta
observação para o entendimento desta parábola de Cristo. Diz, de
fato, São Jerônimo, por volta do anos 400 DC, no seu
Comentário ao Evangelho de São Mateus, que
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"Entre o trigo e o joio,
enquanto ainda são erva,
e a cana ainda não produziu espiga,
há uma grande semelhança,
e não há nenhuma ou apenas uma pequeníssima diferença
para poderem ser diferenciados" (127).
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Ora, na continuação da interpretação da parábola do joio e do
trigo que Jesus ofereceu aos apóstolos, Ele diz que este "tempo da
ceifa é o fim do mundo" (Mt. 13, 39).
De modo que quer nos parecer que nesta parábola Jesus quiz relatar
toda a história da Igreja, pois ela se inicia com a semeadura, que
é a própria obra de Jesus enquanto Ele esteve na terra, e termina
com a ceifa, que é, nas suas palavras, o fim do mundo.
Jesus, portanto, soube que logo após a sua pregação a Igreja
atravessaria até o fim de sua história sérios problemas internos,
que a ela pertenceriam homens bons e maus, -filhos do Reino e filhos
do demônio, segundo suas palavras-, e que não seria possível uma
purificação radical dentro da Igreja porque a planta daninha que foi
semeada às escondidas seria exteriormente de muito difícil distinção
daquela que Ele mesmo havia semeado, a não ser, segundo a parábola
parece querer dar a entender, próximo ao fim dos tempos, quando esta
distinção começaria enfim a se tornar evidente. Até lá só o
Senhor sabe, com certeza, "quem são os seus" (II Tim. 2,
19), e os homens não conseguirão distinguir-se claramente uns dos
outros com precisão, nem separar-se completamente entre si sem
cometer erros e graves injustiças, piores do que haveria se não se
tentasse uma separação radical.
E, não obstante Jesus saber de tudo isto antes de morrer, apesar
disso ele ofereceu sua vida a Deus para que a Igreja fosse fundada.
Ele evidentemente julgou que valeria a pena pagar este preço; apesar
do joio estar misturado ao trigo, Jesus julgou que a Igreja estaria
suficientemente cumprindo o papel que Ele esperava dela e que motivou
sua vinda ao mundo.
A questão então é compreender que papel é este.
Na verdade, quando Jesus fundou a Igreja, fêz mais do que dar
início apenas a uma sociedade qualquer.
Se Jesus não prometeu a santidade ilimitada a todos quantos
pertencessem à Igreja, prometeu-lhe porém que sobre Pedro
edificaria a sua Igreja e
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"as portas do inferno
não prevaleceriam sobre ela".
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O sentido claro desta promessa não é a santidade dos que pertencem à
Igreja só por pertencerem a ela, mas que na Igreja construída por
Jesus sobre Pedro não seria possível vir a ser destruído nada do
que pertence à essência do Evangelho que Jesus quiz deixar no mundo
até o fim dos tempos. Se alguma coisa essencial ao Evangelho fosse
perdida com o decorrer da história entre aqueles que estão unidos à
Igreja fundada sobre Pedro, de tal maneira que aqueles que estivessem
buscando a plenitude do Evangelho se vissem obrigados a procurá-la em
outros lugares, esta promessa não teria sido cumprida.
Em outras palavras, Jesus está prometendo conservar intacta a sua
obra entre os homens até o fim dos tempos para todos aqueles que a
desejarem, e está dizendo, ademais, onde ela pode ser procurada com
o aval de sua promessa.
Entre as promessas de Cristo à Igreja temos também a já citada, a
de que Jesus permaneceria com ela todos os dias até o fim dos
séculos. Os bons não seriam separados dos maus, mas, apesar
disso, Cristo estaria sempre presente na Igreja.
Esta promessa se realizou de muitos modos, mais do que os que podem
ser abordados aqui; um deles, porém, havia sido profetizado mais de
seiscentos anos antes de Cristo, quando, falando sobre a obra do
Messias que haveria de vir, assim se expressou Isaías, falando em
nome de Deus:
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"Eis o meu servo, que eu amparo,
o meu eleito, a delícia do meu coração.
Coloquei sobre ele o meu espírito,
e ele levará o direito às nações.
Não gritará, nem levantará a voz,
não se fará ouvir pelas praças;
não quebrará a cana rachada,
nem apagará a mecha que ainda fumega.
Mas com firmeza promoverá o direito,
sem ceder, nem deixar-se abater,
até que tenha implantado o direito e a sua doutrina,
que praias distantes esperam".
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Nesta profecia Isaías não se refere apenas à vida terrena do
Cristo; durante a sua vida terrena o Cristo não levou o direito às
nações, pois limitou-se a ensinar em Israel. No entanto,
Isaías diz aqui do Messias que
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"Ele levará o direito às nações".
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Portanto, não pode estar se referindo apenas à vida terrena do
Cristo. De fato, o Cristo levou o direito divino às nações após
a sua morte e ressurreição, pela sua presença na Igreja, quando,
com firmeza e perseverança promoverá o direito, como diz o profeta,
|
"sem ceder, nem deixar-se abater"
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pelos pecados dos homens dos quais ele não prometeu deixar a Igreja
imaculada.
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"Não gritará, não levantará a voz,
não se fará ouvir pelas praças",
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mas na verdade é Ele o mestre que prega em meio ao joio e ao trigo da
Igreja, em que estão preservados os tesouros contidos no Evangelho;
Ele mesmo, que já havia dito no Evangelho de S. Mateus:
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"Não queirais ser chamados mestres,
porque um só é o vosso Mestre,
o Cristo".
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Este é o Cristo que
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"Não quebrará a cana rachada,
não apagará a tocha que fumega",
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da mesma forma que não dará ordem aos anjos para separarem o joio do
trigo enquanto o joio não se tornar claramente distinguível do trigo.
De fato, para que serve uma tocha que não está mais acesa, mas
apenas fumega? Para nada, assim como o joio. Porém, como ela não
está totalmente apagada, o Cristo não a apagará.
E para que serve uma cana rachada? É algo que, na realidade,
deveria ser jogado fora; como, porém, não está totalmente
quebrada, o Cristo, da mesma forma que na parábola do joio, não a
jogará, enquanto não terminar de se quebrar por si.
Finalmente, que significam aquelas palavras finais de Isaías sobre a
obra do Cristo, segundo as quais
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"não se deixará abater,
até que tenha implantado na terra
o direito e sua doutrina,
que praias distantes esperam",
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senão o mesmo que se observa, quando se examina mais profundamente a
história da Igreja, que há como que alguma coisa tentando
continuamente abrir caminho e irromper dentro desta história? É a
mesma coisa que se observa na história individual dos homens santos
que, dentro da Igreja, conseguiram encontrar o caminho de Cristo.
Deles é que Santo Antão dizia, no século IV, em uma carta aos
monges de Arsinoé:
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"Irmãos caríssimos,
a todos vós que vos preparais
para vos aproximardes do Senhor,
persuadí-vos bem que vosso ingresso
e vosso progresso na obra de Deus
não são obra humana,
mas intervenção do poder divino
que não cessa de vos assistir" (128).
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Referências X. 17
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(119) S.Antão: Epistola XX; PG 44, XXXX.
(120) Idem: Epistola XX; PG 44, XXXX. (121)
Idem: Epistola XX; PG 44, XXXX. (122) Idem:
Epistola XX; PG 44, XXXX. (123) Idem: Epistola
XX; PG 44, XXXX. (124) Idem: Epistola XX; PG
44, XXXX. (125) Idem: Epistola XX; PG 44,
XXXX. (126) Idem: Epistola XX; PG 44, XXXX.
(127) S. Jerônimo: Commentarium in Evangelium Matthei;
L. II, C. 13; PL 26, 93.
(128) S. Antão: Epistola II; PG 44, XXX.
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