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Petrarca havia aconselhado Bocaccio a dedicar-se ao estudo dos clássicos gregos e
latinos. Apesar disso, o próprio Petrarca não sabia ler grego. Ele possuía algumas
cópias das poesias de Homero as quais, embora as guardasse com muito carinho, não
era capaz de ler.
Este problema, no entanto, não era apenas de Petrarca. Na verdade, era dificílimo nos
anos 1300 encontrar alguém na Itália que conhecesse a língua grega.
Nem sempre havia sido assim. No antigo Império Romano, embora no Oriente
predominasse a língua grega e no Ocidente a latina, na cidade de Roma falava-se
fluentemente ambas as línguas.
Na época do início do Cristianismo as crianças dos nobres romanos costumavam ser
educadas por escravas gregas e, freqüentemente, por causa deste costume, aprendiam a
língua grega antes da latina. Entre o povo romano a língua grega era tão comum que na
própria Roma a Liturgia da Missa era celebrada em grego. Outro sinal do grau de
difusão da língua grega na cidade de Roma é constituído pelo fato de que, quando o
Apóstolo São Paulo quis escrever a sua Carta aos Romanos, redigiu-a em língua grega
e não na latina. A mesma coisa fêz São Marcos quando, estando em Roma, baseando-
se nos relatos de São Pedro que também lá estava, escreveu seu Evangelho para ser
lido pela comunidade romana. O Evangelho de São Marcos foi escrito em grego, e não
em latim.
Mas, aos poucos, o uso da língua grega foi diminuindo. Na Idade Média somente
alguns poucos eruditos conheciam esta língua, e até mesmo uma pessoa como Santo
Tomás de Aquino não sabia ler grego.
Nos decadentes anos de 1300 a situação ficou ainda pior. Encontrar na Itália alguém
que soubesse grego era algo como procurar uma agulha em um palheiro.
Em 1342 Petrarca, em seu amor à literatura antiga, havia começado a estudar grego
com um monge da Calábria. Logo em seguida, porém, este monge foi elevado à
dignidade episcopal e teve que interromper as aulas. Com isto Petrarca nunca mais
encontrou livros ou pessoas que pudessem lhe ensinar a língua grega.
Já o novo Bocaccio teve melhor sorte. Agora sob a orientação de Petrarca, conseguiu
entrar em contato na cidade de Milão com Leôncio Pilatos, um ex aluno daquele monge
calabrês que havia sido professor de Petrarca antes de se tornar bispo. Bocaccio levou
Leôncio Pilatos para Florença e persuadiu a Universidade desta cidade a abrir uma
cátedra de grego para ser ocupada por Pilatos. Petrarca ofereceu-se para pagar ele
próprio o salário do novo professor e enviou-lhe cópias gregas da Ilíada e da Odisséia
de Homero que ele próprio não conseguia ler para que fossem traduzidas para o Latim.
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