CAPÍTULO 8

Para quem possuía semelhantes dons transcendentais, físicos, morais e intelectuais, não existia na Igreja ou no Estado posição que não estivesse ao seu alcance. Aguardavam-no brilhantes êxitos nos diversos campos da Teologia, Filosofia, Direito ou Letras, ou poderia ainda ter-se enfileirado na famosa galeria de clérigos políticos. Em qualquer profissão que escolhesse conseguiria certamente a imortalidade concedida pelo mundo. Afirmar que tais empreendimentos terrenos não lhe despertavam atrativos equivaleria negar que fosse humano. Constituiria uma depreciação do valor de seu sacrifício. Na realidade, sabemos que sentia forte inclinação por uma carreira literária. A ambição,

"a última enfermidade dos espíritos nobres",

parece ter sido o inimigo mais forte que encontrou; ambição, não de poder, mas de celebridade literária.

"Ó ambição",

exclama ele em uma carta ao Papa Eugênio,

"tormento dos teus devotos! Como dilaceras todos os que te amam e apesar disso continuam a amar-te!"

E no seu quarto Sermão relativo à ascensão, referindo-se em especial à ambição do saber, diz:

"Outro homem se sente ambicioso do saber que ensoberbece. Que trabalhos não terá que suportar! Que angústia e amargura de espírito! E, no entanto, pode-se dizer-lhe:

`Por mais que te esforces, nunca alcançarás o teu objetivo'.

Mas, ainda que consiga adquirir grande sabedoria, qual será o seu proveito? O Senhor disse:

`Destruirei a sabedoria dos sábios e reprovarei a prudência dos prudentes'".