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Afirmamos nas razões expostas que Deus é a primeira causa e a origem
de todos os bens. Por ser fonte e princípio de todos, não pode
haver nenhum outro bem que o supere na excelência. Deus é,
portanto, o sumo bem. Nunca, por conseguinte, poderemos situar a
felicidade mais corretamente do que no sumo bem. Somente Deus é
feliz, portanto, de modo próprio e principal. Como poderá,
porém, ser feliz, aquele para quem ele próprio não é de seu
agrado? Quem quer que seja feliz, ama a si mesmo e ama aquilo que ele
próprio é.
Se, pois, o Pai, o Filho e o amor do Pai e do Filho são um, e
um só Deus; somente em Deus existindo verdadeira felicidade, é
necessário que cada uma das pessoas ame a si mesma e mutuamente a cada
uma das outras. Não haveria felicidade, mas, ao contrário, seria
a maior das infelicidades se as pessoas se dividissem por vontades
contrárias ao mesmo tempo em que pela natureza não se pudessem separar
umas das outras. Assim como, portanto, o Pai, o Filho e o amor do
Pai e do Filho são um só pela natureza, assim também não podem
não ser um só pela vontade e pelo amor. Amam-se por um só amor,
porque são um; outra coisa não é aquilo que cada pessoa ama nas
demais do que aquilo que cada uma ama em si própria, porque aquilo que
cada pessoa é não difere em sua proveniência daquilo que as demais
pessoas são. O que o Pai ama no Filho, isto também o Filho ama
em si mesmo; o que o amor do Pai e do Filho ama no Filho, isto o
Pai ama em si mesmo; o que o amor do Pai e do Filho ama no Pai,
isto também o Pai ama em si mesmo. O que o Pai e o Filho amam no
seu amor, isto o amor do Pai e do Filho ama em si mesmo. O que o
Pai ama em si mesmo, isto também ama no Filho e no seu amor. O que
o Filho ama em si mesmo, isto também ama no Pai e no seu amor. E o
que o amor do Pai e do Filho ama em si mesmo, isto também ama no
Filho e no Pai.
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