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A primeira organização diretamente especializada
na queda das restrições legais ao aborto foi a Abortion Law
Reform Association, abreviada como ALRA. Durante os
levantamentos feitos para a realização deste trabalho pudemos
encontrar um relatório escrito pelos próprios integrantes da
entidade sobre o modo como se procedeu à fundação da mesma.
Segundo relato dos membros da ALRA, no dia 24 de
janeiro de 1936 um grupo de mulheres reuniu-se informalmente
no restaurante Ridgeway, em Londres, para discutir a formação
de uma sociedade cujo objetivo seria a mudança da "lei atual
sobre o aborto substituindo-a por outra libertando a
profissão médica de todas as restrições legais, exceto
aquelas requeridas por considerações médicas e
humanitárias". Foi decidido fundar uma organização que
levaria as verdadeiras dimensões deste problema social
perante o público.
No dia 17 de fevereiro daquele ano estas mesmas
pessoas se encontraram novamente na casa de Clinton Chance,
um corretor de fundos públicos, possuidor de avançadas
posições sobre a reforma sexual e tesoureiro da Sociedade
Eugênica. Fundaram uma sociedade a que denominaram Abortion
Law Reform Association, escolhendo como presidente a esposa
de Clinton Chance, Janet Chance. Junto com Janet Chance, a
organização tem considerado Stella Browne e Alice Jenkins
como seus principais fundadores.
Janet Chance, a presidente, era filha de um
ministro presbiteriano de Edimburgo. Em 1931 ela havia
publicado um livro chamado "O Custo da Moral Inglesa",
apresentado pelos seus publicadores como sendo um livro
"calculado para levantar as mais agudas controvérsias".
Neste livro Janet expunha os resultados danosos da moralidade
inglesa convencional e, mais particularmente, seus efeitos
nas mulheres. Pedia que elas exigissem os mesmos direitos aos
prazeres sexuais que os homens consideravam para si mesmos
como coisa pacífica. No livro Janet denunciava também as
Igrejas de todas as denominações como os principais agentes
propagadores da miséria sexual.
Dois anos depois Janet publicava outro livro
chamado "Crime Intelectual", onde afirmava:
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"As crenças religiosas não contém
apenas, aqui e ali, alguns erros
intelectuais. Não. As crenças
religiosas são crimes
intelectuais!"
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No livro ridicularizavam-se as pessoas que ensinam religião
às crianças com "idéias românticas sobre a vida tais como
a existência de um Pai divino".
Durante alguns anos Janet Chance havia organizado
e operado o Centro de Educação Sexual, uma organização
pioneira em aconselhamento sexual. No decorrer de seu
trabalho Janet ficou alarmada com a alta incidência de
tentativas de aborto. De vinte e uma clientes que tinham
estado pelo menos uma vez grávidas, dezesseis tinham tomado
pílulas ou drogas ou de alguma maneira haviam tentado
interromper a gravidez sem aconselhamento médico.
Stella Browne ficou sendo a vice presidente da
ALRA. Nascida no Canadá, foi educada em Oxford, no continente
europeu. Ganhava a vida ensinando e traduzindo livros para o
inglês, dentre os quais se destacam livros sobre reforma
sexual que criaram polêmica na época. Ficou famosa por ter
sido, em 1922, a primeira pessoa a exigir em público a
reforma da lei do aborto.
Alice Jenkins foi escolhida para o cargo de
secretária honorária da organização. Mãe de três filhos e
esposa de um corretor de seguros, Alice tinha participado
anteriormente de outros movimentos para o controle da
natalidade. Já havia participado de diversos comitês e era
pessoa de experiência em trabalhos desta natureza. Foi ela
quem supria os talentos administrativos necessários para
manter a organização em andamento.
Através da ALRA estas três vidas ficaram unidas
durante as duas décadas seguintes, em uma "continuidade
notável" e voluntária, apesar dos períodos de falta de
recursos monetários, guerra, e da doença e morte trágica de
dois filhos. Esta continuidade foi rompida após duas décadas
por causa da morte da presidente e da vice presidente, mas
Alice Jenkins viveu até oito semanas após a legalização do
aborto na Inglaterra. Foi esta continuidade que contribuíu
decisivamente para a estabilidade da ALRA em seus primeiros
anos e formou a base para o seu trabalho posterior.
Segundo um texto da própria ALRA, as demais
mulheres do primitivo comitê "eram muito semelhantes em
seus passados e em seus pontos de vista. Em sua maioria
eram membros ativos do Partido Trabalhista, ativas no
campo do controle da natalidade e também livre-
pensadoras, que viam a religião como o principal
obstáculo obstáculo à plena emancipação das mulheres".
Entre elas estava Dora Russel, a segunda esposa recentemente
divorciada do filósofo inglês Bertrand Russel.
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