CAPÍTULO 120

Durante aqueles setenta anos de exílio na França, que se iniciaram praticamente no ano 1300, a cidade de Roma havia permanecido quase ao abandono.

Enquanto neste mesmo período as cidades no norte da Itália prosperavam pelo comércio e pela independência de fato que gozavam dentro do Império Germânico a que nominalmente pertenciam, e com isto se criava o clima político propício ao advento da Renascença, na cidade de Roma ocorreu o processo inverso.

Roma não era um centro comercial. Na verdade, desde as invasões dos bárbaros que provocaram a queda do Império Romano, havia perdido o seu antigo esplendor e era, de fato, uma cidade pobre. Na época do Império Romano haviam sido construídos aquedutos que levavam água para todos os bairros da cidade; com a invasão dos bárbaros estes aquedutos foram destruídos e nunca mais reconstruídos. Durante a Idade Média a população da maioria dos bairros de Roma tinha que ir buscar pessoalmente a sua água para uso doméstico no rio Tibre.

A monumental Basílica de São Pedro, atualmente a maior igreja do mundo, não existia em 1450. No seu lugar havia um templo bem mais modesto que o Imperador Constantino havia construído, mais de um milênio antes, nos anos 300 DC, sobre o túmulo de São Pedro, que já ameaçava desabar. As catedrais da maioria das cidades do norte da Itália em 1450 eram muito mais imponentes do que qualquer igreja de Roma.

De que vivia a cidade de Roma durante a Idade Média? Não era, conforme vimos, um centro comercial, nem mesmo durante os 150 primeiros anos do Renascimento. Sua Agricultura era insignificante. Roma vivia, em pequena parte, da criação de gado e de ovelhas, e principalmente das rendas da Igreja, cuja sede ela hospedava.

Mas quando, no início dos anos 1300, a Cúria Pontifícia se transferiu durante setenta anos para a França, a cidade perdeu sua principal entrada de recursos e iniciou um caminho não só para uma maior pobreza como também para a desordem política.

Duas famílias, os Colonna e os Orsini, durante os setenta anos do exílio papal na França e os quarenta do Cisma que se seguiu apoderaram-se do controle da política romana. Em volta de Roma, os governantes dos territórios que pertenciam aos Estados Pontifícios, nominalmente vigários dos Papas, de fato se tornaram novos senhores feudais com poderes ditatoriais, em uma época em que o feudalismo desaparecia da Europa. Em volta de Roma o banditismo apoderou-se das estradas acabando com o pouco comércio que ainda lá existia.

Quando em 1417 e em território alemão o Concílio de Constança elegeu como Papa a Martinho V, não obstante ser ele um romano da família dos Colonna, durante três anos não conseguiu entrar na cidade de Roma devido à falta de segurança nas estradas. Até 1420 teve que governar a Igreja desde Gênova e Florença.

Em 1420, quando conseguiu finalmente entrar em Roma,

"as condições da cidade, a dilapidação dos prédios e o próprio povo o deixaram chocado. A capital do Cristianismo era uma das menos civilizadas cidades da Europa",

diz o historiador Will Durant. O Papa, ademais, não possuía exército próprio e, para poder gozar de um mínimo de segurança em uma cidade nestas condições, teve que designar para os cargos chaves da administração pessoas de sua própria família, os Colonna.

O Papa Eugênio IV, franciscano, sucessor de Martinho V, julgando que seu predecessor houvesse transferido muita propriedade da Igreja para a família dos Colonna, chegou a ordenar que uma parte fosse restituída. O resultado foi um levante popular em que o Papa Eugênio, sem ter nenhum lugar seguro para refugiar-se, viu-se obrigado a fugir de Roma através do rio Tibre em um simples bote acossado não por algum formidável exército armado de canhões, mas apenas por uma multidão armada de paus e pedras. E, antes de poder voltar para Roma, teve que governar a Igreja durante nove anos desde a cidade de Florença.