CAPÍTULO 11

Foi destes seis gêneros de contemplação que Moisés falou, segundo me parece, sob a descrição material daquela arca que o Senhor lhe havia mandado fazer. Primeiramente Deus lhe ordenou fazer

"uma arca de pau de acácia, de dois côvados e meio de comprimento, um côvado e meio de largura e altura de um côvado e meio".

Ex. 25, 10

Este é o primeiro gênero de contemplação. Depois estabeleceu que

"Revesti-la-ás de ouro puríssimo por dentro e por fora".

Ex. 25, 11

Este é o segundo gênero de contemplação. Em terceiro lugar,

"Farás sobre a arca uma coroa de ouro em roda",

Ex. 25, 11

que é o terceiro gênero de contemplação. O quarto gênero de contemplação entendêmo-lo como sendo o propiciatório, (uma como bandeja que deveria ser posta sobre a arca, cobrindo-a em toda a sua extensão):

"Farás também o propiciatório de ouro puríssimo; o seu comprimento terá dois côvados e meio, e a largura um côvado e meio".

Ex. 25, 17

O quinto e o sexto gênero de contemplação é designado pelos dois querubins que deveriam ser postos sobre o propiciatório, o qual, por sua vez, deveria ser colocado sobre a arca:

"Farás também dois querubins de ouro batido nas duas extremidades do oráculo. Um querubim esteja de um lado e outro esteja de outro. Estes querubins terão as asas estendidas para cima, cobrindo com elas o propiciatório, e estejam olhando um para o outro com os rostos voltados (para baixo) para o propiciatório, com o qual deve estar coberta a arca. De cima do propiciatório te darei as minhas ordens, e do meio dos querubins, e te direi todas as coisas que por meio de ti intimarei aos filhos de Israel".

Ex. 25, 17-22

Se examinarmos o modo como a arca deveria ser fabricada, verificaremos que de todas as seis partes a serem feitas somente a primeira é de madeira, enquanto que todas as demais são de ouro. Assim também todas as coisas de onde provém o primeiro gênero de contemplação são nos dadas pelos sentidos corpóreos, e as representamos pela imaginação segundo o quisermos. Todas as demais de onde se originam as seguintes são recolhidas pela razão ou são compreendidas pela simples inteligência. Pensa, portanto, quanta é a diferença entre a madeira e o ouro. A madeira são as coisas que estão submetidas à imaginação; o ouro, as coisas que estão submetidas ao intelecto. O ouro refulge por si com grande claridade; a madeira em si nada possui de claridade senão aquilo que o fogo acende. Assim também a imaginação não possui em si nenhuma luz de prudência, nada tem de claro, a não ser que costuma estimular a razão ao discernimento e dirigir a investigação à ciência.

Corretamente também o segundo gênero de contemplação, no qual se busca a razão das coisas visíveis, é figurado no revestimento da madeira com ouro. O que mais não é assinalar a razão das coisas visíveis e imagináveis do que revestir a madeira com ouro?

A coroa da arca representa o terceiro gênero de contemplação em que costumamos subir ao invisível através do visível. O propiciatório é superposto à madeira da arca por todos os lados e por isso convenientemente figura aquele gênero de contemplação que excedendo toda a imaginação utiliza a razão segundo a razão.