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Após três séculos de lutas pela sua sobrevivência, em que Nosso
Senhor permitiu as maiores provações que mais a solidificariam, a
Igreja pôde respirar tranqüila e refletir nas palavras do seu
Fundador: "Tende confiança, eu venci o mundo".
Sem dúvida, a vitória viera com Constantino, que deu aos súditos
liberdade de culto, protegeu os cristãos, os admitiu na Côrte e
mandou erguer por tôda parte belas Igrejas e Basílicas, na
consagração do cristianismo.
A sociedade romana entrava em sua decadência e cedia lugar à
sociedade cristã, cujos costumes puros e sadios iriam dignificar a
pessoa humana. Era a evidência dos valores do homem,
sobrenaturalizados pela doutrina cristã.
As virtudes que poderiam se encontrar no mundo pagão são reavivadas e
reanimadas pelo cristianismo, espiritualmente valorizadas, ao lado de
muitas outras até então desconhecidas e que' tinham a sua base na
humildade, que inclina o homem a se estimar em seu justo valor e a
buscar o abatimento e o desprêso. E a Igreja soube preparar a
renovação que teve em vista, fundando instituições que
correspondessem às exigências do homem "nôvo", e procurando
impregnar de princípios a sociedade pagã na qual ia exercendo a sua
influência.
E no plano social, a Igreja, consagrada pelas grandes e magistrais
Encíclicas dos Papas, como a última de João XXIII, "Mater
et Magistra", fêz valer sempre a sua autoridade, e desde os
primeiros séculos a encontramos na luta pela justiça e pela
eqüidade, afastando a miséria, e exigindo o mínimo de confôrto
necessário à dignidade humana.
Documentos dos Santos Padres alardeiam esta preocupação da
Igreja, e as Cartas do Papa Clemente, segundo sucessor de Pedro,
e a Didaqué mostram êste cuidado para com a missão da caridade.
"'Há um motivo, exclama Santo Ambrósio, que nos deve impelir a
todos para a caridade; é a piedade para com a miséria alheia e o
desejo de a aliviar, na medida e até acima de nossas fôrças".
Os Papas dos três primeiros séculos foram solícitos na caridade e
no socôrro aos miseráveis, e no século IV a ação social da
Igreja se faz presente de modo admirável, socorrendo os povos,
instituindo nas grandes cidades, como Roma e Alexandria, as suas
obras de assistência, como hospitais, asilos de órfãos e velhos.
Os escravos eram tratados com mansidão e postos em liberdade.
"Entre nós, diz Lactâncio, ninguém estabelece diferença entre
senhores e escravos".
O papel da mulher é dignificado no mundo e foi a Igreja que a
engrandeceu perante a sociedade e a colocou no justo e digno lugar que
ainda hoje ocupa, como a gurdiã das mais nobres virtudes. A virtude
da virgindade foi exaltada, e o casamento, santificado pela união dos
esposos num amor mútuo, e indissolúvel, como o próprio Cristo ama
a sua Igreja.
Lançados os princípios, os costumes da sociedade forçosamente se
renovariam. Erguem-se os Bispos contra os jogos que no mundo
pagão, ao invés de distrair os espíritos, eram motivos de chacinas
e crimes, e em breve êles vão desaparecer. A sociedade pagã
viciada comprazia-se diante dos divertimentes da arena e do
anfiteatro, espetáculos monstruosos e desumanos, verdadeiras
aberrações para uma sociedade civilizada. Manifesta a Igreja a sua
indignação contra tudo isto, condenando êstes divertimentos nocivos
e criminosos.
O Igreja lutou contra êles e conseguiu o seu triunfo total.
Vitória que veio aos poucos, concretizando-se quando decisiva se
tornou no mundo a influência da Igreja, que renovou as bases humanas
e dignificou os seus verdadeiros valores.
Juliano, o apóstata, tudo fizera para restituir Roma ao paganismo.
Fôra impotente diante da firmeza do cristianismo, cujo princípios
construíram o seu esplendor.
No meio da glória de suas conquistas, ferido mortalmente em uma
batalha, na sua raiva contra Cristo, recolhe Juliano o sangue que
lhe escorria da ferida e lançando-o como desafio ao céu, brada:
"Tu venceste, Galileu"!
Com a sua morte o paganismo chegava ao seu final.
Surgiu Teodósio, um dos melhores Príncipes que regeram o Império
Romano. A verdadeira Roma era já a Roma cristianizada,
transformada pelo Evangelho de Cristo. Príncipe cristão, tinha
por conselheiros a Santo Ambrósio, o grande bispo do Milão, e a
Dâmaso, o mais notável Papa do século.
Em 380, promulga em Tessalonica o edito que torna o cristianismo
religião oficial do Estado. "Todos os povos devem aderir à fé
transmitida aos romanos pelo Apóstolo Pedro, que professam o
Pontífice Romano Dâmaso, e o bispo Pedro de Alexandria, isto
é, reconhecer a Santíssima Trindade do Pai, do Filho e do
Espírito Sinto". "Todos os povos do Império devem aderir à fé
cristã",
O cristianismo conquistou a sociedade cuja renovação vinha preparando
desde a sua origem.
O Império chegava à sua decadência, fruto dos desmandos de muitos
de seus Imperadores, e evitá-la já era impossível. Fôra minada
a sua cidadela pelo luxo e sêde do gôzo, e agora se destrói a antiga
civilização romana esmagada pela invasão dos bárbaros.
Roma, a Rainha do Império, perdeu a sua soberania absoluta, viu
quebrado o cetro de seu poder temporal, mas conquistou um império mais
glorioso e mais nobre: o império sôbre as almas, tornando-se o
centro do catolicismo.
Fecham-se para a Igreja as primeiras páginas de um livro glorioso
que ela escreveu com a fé de seus primeiros cristãos, com o heroísmo
de seus mártires, com a sabedoria e inteligência de seus escritores:
" A Igreja Primitiva".
Estava cumprida a sua primeira grande missão, misteriosamente ajudada
por um poder sobrenatural."
A Igreja continuará a escrever novas páginas, na obra maravilhosa
de 20 séculos de existência. São as mais belas páginas de amor
cristão e santidade, que se opõem à falsidade, ao ateísmo, ao
absurdo de uma volta ao paganismo, páginas gloriosas da divindade da
Igreja, instituída por Nosso Senhor Jesus Cristo, que com ela
estará todos os dias, até à consumação dos séculos: "Usque ad
consummationem saeculi"!
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