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Símbolo indestrutível da vida dos cristãos nos primeiros tempos, as
catacumbas romanas se estendem pela Roma subterrânea, através de
imensas galerias que atestam a grande fidelidade da Igreja primitiva.
Perseguida sôbre a terra, impedida de oferecer a Deus o santo
sacrifício à luz do sol, a cristandade se colocou sob a terra,
desceu à profunda cidade subterrânea, escondendo-se de seus algozes
tiranos e entregando-se à vida recolhida de oração.
Designavam as catacumbas, primeiramente, o cemitério subterrâneo
situado sob a Via Ápia junto à Basílica de São Sebastião. Por
existir perto daí uma depressão do terreno, êste cemitério se
chamou catacumba do grego kaia, perto de, e kimbos, cavidade. O
mesmo nome se estendeu depois a todos os cemitérios subterrâneos de
Roma.
Já no Egito e na Fenícia há muito se construíram os cemitérios
subterrâneos e em outras partes encontram-se também vestígios de
semelhantes necrópoles.
São as catacumbas de Roma as mais importantes, as mais gigantescas
do mundo e dentre as mais antigas encontram-se as de Comodila, na
Via Ostiense, onde repousou o corpo de São Paulo, as de Santa
Priscila, Santa Domitila, São Clemente e São Sebastião.
Durante as perseguições, os cristãos se reuniam nas catacumbas para
praticar seus cultos. Aí se fazia também a catequese, e à sombra
dos milhares de mártires que sacrificaram sua vida por Cristo, os
cristãos hauriam a fôrça e resistência para suportarem as
perseguições e o martírio.
Flávia Domitila, a sobrinha de Vespasiano, que se tornou cristã,
mandou cavar em terrenos de sua propriedade uma sepultura para membros
de sua família, que eram cristãos.
Ao lado, mandou cavar galerias funerárias para os cristãos que
pertenciam às classes mais humildes. E foi assim que se multiplicaram
estas necrópoles subterrâneas ao longo das estradas romanas, e que se
alargavam sempre mais com o crescimento constante da Igreja.
Em alguns pontos êstes corredores chegam a ter cinco andares e os mais
fundos têm mais de vinte metros de profundidade. As catacumbas se
estendem mais ou menos ao longo de 1200 quilômetros de
comprimento.
São lugares maravilhosos, onde não sabemos o que mais admirar: se a
constância dos cristãos que aí recolhidos vivia ma sua fé, se a
imensidade dêstes cemitérios, com as suas salas vastas, ou se as
grandes decorações e pinturas, que a arte cristã primitiva aí
gravou, retratando cenas do Antigo Testamento, ou então as mais
belas passagens do Evangelho de Cristo.
As numerosíssimas inscrições que se encontram nas catacumbas
apresentam grande importância histórica, porque revelam documentos
sôbre a vida e fé dos primeiros cristãos, confirmando que os dogmas
da Igreja primitiva eram substancialmente os mesmos da Igreja atual.
Além disto, as numerosas pinturas nos permitem estudar a singeleza da
arte cristã primitiva.
O fato dos cristãos terem descido às catacumbas, para honrarem os
santos mártires, celebrarem os seus sagrados mistérios, e aí
encontrarem um abrigo que os garantiria em meio às perseguições,
não nos permite concluir que nos primeiros tempos êste era o seu
único "modus vivendi".
Se assim o fôsse, como poderíamos explicar o seu crescimento, não
apenas na própria sociedade romana, como também sua progressiva
difusão por todo o Império?
E Tertuliano, o grande escritor eclesiástico, desfaz qualquer
dúvida, quando afirma: "Nós, os cristãos, não vivemos à
margem do mundo. Freqüentamos o Foro, os balneários, as
oficinas, as lojas, os mercados, as praças públicas. Somos
marinheiros, soldados, agricultores e negociantes".
Na Carta a Diogneto, afirma-se que "os cristãos não se
diferenciam das demais pessoas, nem pelas vestes, habitação, nem
pelos alimentos."
Mas apesar de tudo isto, as dificuldades eram inevitáveis entre os
cristãos e a sociedade pagã, e aumentavam sempre, dada a influência
cada vez maior da nova doutrina.
E foi assim que os cristãos começaram com suas reuniões
clandestinas, favorecidos pela lei romana que respeitava como sagradas
as propriedades onde dormiam os mortos.
As catacumbas tornaram-se em nossos tempos centro de curiosidade e de
visitas de todos aquêles que vão à cidade eterna.
Através dos ambulacros podem-se observar os grandes nichos que se
cavaram ao longo das paredes. Aí estiveram os corpos dos mártires do
cristianismo, e de respeito e veneração cobrimos êstes lugares
santificados pela presença dos heróis da fé cristã.
Assim são as catacumbas, "verdadeiras cidades da noite e da
morte", no dizer de Daniel-Rops, terra santa que nos lembra o
frescor da caridade e fidelidade de nossos primeiros irmãos cristãos.
Aí se encontram as mais belas inscrições que foram gravadas pelo
sangue dos mártires do cristianismo ! Os seus nomes permaneceram
sôbre um pedaço de argila ou em pedras, como verdadeiros símbolos de
uma época de fé e fortaleza, para a admiração da posteridade.
São as catacumbas a imagem da Igreja primitiva, onde se conservam as
mais belas relíquias do cristianismo.
Relíquias dos corpos dos santos mártires, relíquias da pujança e
vitalidade do cristianismo que surgiu glorioso das catacumbas romanas
para conquistar o mundo.
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