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É Tarso, da Ásia Menor, colocada nas fraldas das montanhas do
Tauro, a cidade que se orgulha de ter sido o berço do grande
apóstolo S. Paulo, vaso de eleição na Igreja de.Cristo.
Hebreus emigrados da Galiléia, em Tarso habitavam seu pais. Foi
uma alegria imensa para tôda a família o nascimento daquele que,
circundado no oitavo dia, conforme prescrição hebréia, recebeu o
nome de SAULO - que quer dizer: "o filho obtido de Deus pela
prece". Prestavam assim os seus pais uma homenagem ao primeiro rei de
Israel da tribo de Benjamim à qual pertencia a família.
Em Tarso havia a sinagoga onde os de sua raça, os hebreus, oravam e
se formavam na religião mosaica; habitavam-na também muitos pagãos
adoradores do deus-Baal-Tarz (Senhor de Tarso).
Rivalizava Tarso com Atenas e Alexandria na disputa pela liderança
da cultura.
Desde a mais tenra idade sua educação se orientou para um grande
conhecimento das Escrituras, tendo freqüentado as escolas que eram
anexas à sinagoga. Na Epístola aos Romanos (7, 9-11)
descreve S. Paulo em linhas gerais esta sua primeira educação, o
tempo de sua inocência de criança, e gradativamente o conhecimento da
Lei: "Eu, porém, houve um tempo em que vivi sem lei. Veio
depois a Lei, e o pecado surgiu em mim. E eu morri! O mesmo
mandamento que deveria inundar-me de vida, soube-me a morte. O
pecado, a que o mandamento deu vulto, enganou-me por meio da Lei:"
Confessa, mais tarde, na Epístola aos Romanos sua profunda
amargura do homem "nascido sob o império da Lei", isto é, da lei
que escraviza, e a sua grande alegria pela redenção dela em Cristo.
Como florescia em Tarso a indústria de fiação, Saulo aprendeu
êste ofício, embora fosse de família rica e abastada, e se
distraía em tecer panos para tendas, trabalho que exercia mais tarde
com o fim de se sustentar e aos que ao seu lado conviviam.
Mais tarde, em sua mocidade, seus pais o enviam à cidade santa,
Jerusalém, para que possa se aperfeiçoar em seus estudos, na escola
do Templo, como aluno dos rabinos. ele mesmo 0 conta: "Eu sou
judeu, nascido em Tarso da Ciclícia, mas educado nesta cidade
(Jerusalém), aos pés de Gamaliel, segundo a verdade da lei de
nossos pais, zelador da lei..." (Atos 22, 3).
Homem de grande sabedoria, encontrou em Gamaliel um grande mestre.
No ponto de vista religioso, Israel se dividia em dois grupos: os
saduceus que eram aristocratas e que não admitiam muitas verdades já
criadas naqueles tempos como a imortalidade da alma, a vida futura; os
fariseus, ao contrário, passavam como grandes observadores das leis e
aparentemente se demonstravam como perfeitos em seus deveres, enquanto
suas ações eram viciadas pela presunção, soberba e amor próprio.
Não obstante, havia fariseus de boa fé e que inclusive se
converteram ao cristianismo e defenderam os apóstolos, como
Gamaliel, o mestre de Saulo.
Homem virtuoso, cheio de amor à justiça e temente a Deus, foi
Gamaliel quem interveio em favor dos apóstolos: "Varões
israelitas, considerai bem o que estais para fazer acêrca dêstes
homens... se esta obra vem dos homens, ela mesma se desfará; mas
se vem de Deus, não a podereis desfazer" (Atos 5, 35-39).
Tornou-se o discípulo grande admirador do mestre e "em breve
ultrapassou os colegas de sua idade" (Gal. I, 14) .
Terminado o seu curso, tinha êle perfeito e profundo conhecimento das
escrituras, como mais tarde se poderia ver em suas epístolas, cheias
de alusões e citações de quase todos os livros do Antigo
Testamento. Assim, hebreu, doutor da lei, cidadão romano,
torna-se êle um homem de religião, pregador da lei,
constituindo-se em perfeito imitador ele teu sábio e virtuoso mestre.
A Bíblia era para Saulo o maior tesouro do mundo. Manteve-se
solteiro para melhor dedicar-se ao estudo das Sagradas Escrituras.
E na Epístola aos Romanos (3,1) demonstra a enorme vantagem dos
judeus sôbre os pagãos, pois a êles foram confiados os oráculos de
Deus.
A Igreja de Cristo há pouco instituída, pequeno grão lançado por
Cristo na terra, ia-se desenvolvendo aos poucos, com reuniões e
planos de trabalhos, onde os obstáculos surgiam à medida que
aumentava o número dos discípulos. Os primeiros cristãos,
interpretando como preceito o conselho do Divino Mestre, levavam vida
em comum, e não se preocupavam com cousas materiais, E perseveravam
na doutrina dos apóstolos e na comum fração do pão e nas
orações" (Atos 2, 42). "Vendiam as suas propriedades e
os seus bens e distribuíam o preço por todos, segundo a necessidade
que cada um tinha" (Atos 2, 45).
Como não poderia deixar de acontecer, surgiram as dificuldades na
distribuição, pois muitos erros foram cometidos e "levantou-se uma
murmuração dos gregos contra os hebreus, porque suas viúvas eram
desprezadas na distribuição quotidiana" (Atos 6, 11). Os
apóstolos não poderiam deixar a palavra de Deus para servir às mesas
e assim, convocaram todos os fiéis em assembléia, para que
escolhessem os novos ministros que cuidariam da obra material.
Estêvão, escolhido juntamente com outros, cheio de fé e
fortaleza, ajuda os apóstolos na pregação da palavra de Deus.
Caluniado como blasfemo, levam-no aos tribunais, e pouco depois o
apedrejam. Saulo estava presente; aos seus pés colocaram as
testemunhas as suas vestes; e se não atirou pedras, pelo menos foi
cúmplice naquela morte. Gamaliel, seu mestre, já defendia os
apóstolos, mas êle, na boa fé e na ignorância como confessará
mais tarde, cheio de convicção farisaica e amor às letras sagradas,
torna-se perseguidor tenaz dos cristãos pois os julgava contra a lei
de seu povo.
A grande perseguição contra os apóstolos estava levantada. Saulo,
à frente dos fanáticos judeus, assolava a Igreja, entrava pelas
casas, onde com violência tirava homens e mulheres e os conduzia aos
cárceres.
É o grande perseguidor, que traz em si a flama de um grande herói,
arrebatado pelo ideal cuja causa abraçara: a destruição dos
apóstolos, desta Igreja que em tão pouco tempo já arregimentara
tantos adeptos.
Dêste modo, apresenta-se ao príncipe dos sacerdotes, pedelhe
cartas de recomendação para as Sinagogas de Damasco, e vai
continuar o trabalho iniciado, perseguindo a seita que se espalhava, e
conduzindo presos todos aquêles que soubesse seguidores da doutrina dos
apóstolos.
Saulo trazia em si o símbolo do fanatismo judaico que estava esmagado
em seu orgulho nacional. Os hebreus estavam sob o domínio dos
romanos. E todos esperavam que o Messias fosse de fato o libertador
do povo hebreu do jugo romano, um grande herói que libertaria a sua
Pátria .
Como os judeus, Saulo não poderia abraçar a idéia de que o
Messias já viera, como pregavam os apóstolos e que se deixara
crucificar em uma cruz, e não conseguira libertar a pátria. As
esperanças estariam frustradas e esta idéia trazia grande revolta ao
espírito de Saulo.
Seu ardor moço, sua inteligência admirada deveriam estar a serviço
da causa da pátria, cuja idéia de independência e liberdade era a
predominante, e estimulado pelos seus, Saulo se constitui como grande
adversário da doutrina e das idéias dos apóstolos.
Felizmente, não durou muito sua ação maléfica, pois a
inteligência e entusiasmo dêste jovem deveriam se estender a uma causa
mais nobre e justa. Não seria possível que tais qualidades se
perdessem, se colocassem a serviço do mal.
A Providência intervém e miraculosamente muda os planos e desvia os
caminhos daquêle que de perseguidor se torna o grande Apóstolo dos
gentios.
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