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Das mais belas do cristianismo é a história de Estêvão, diácono
escolhido pelos apóstolos, o primeiro a derramar o sangue por
Cristo, inaugurando a série gloriosa e ininterrupta de uma legião de
mártires que no decorrer dos séculos se imolariam pela fé e por
Cristo.
Protomártir do cristianismo, em Estêvão admiramos a força e o
valor do jovem que não recua diante de seus inimigos, e, favorecido
pela graça de Deus, deixa que se derrame seu sangue novo e que seus
membros sejam lapidados pelos judeus em plena primavera da vida.
As queixas dos helenistas contra os hebreus, de que suas viúvas eram
desprezadas nas distribuições quotidianas, foram o motivo que levou
os apóstolos a proporem aos demais fiéis a escolha de diáconos que se
encarregariam de distribuição material. Foram escolhidos em numero
de sete: Estêvão, Filipe, Procor, Nicanor, Tímon,
Parmenas e Nicolau, grego convertido.
A primeira missão dêstes homens era a administração material da
comunidade; depois ocupar-se-iam também da pregação na ajuda aos
apóstolos, que sobre êles impuseram as suas mãos, chamando sobre
êles a graça do Espírito Santo.
Êstes homens, mais novos, de ampla visão, de grandes iniciativas,
menos apegados às tradições judaicas, vão dar um grande impulso e
vigor à consolidação da doutrina no seio da Igreja nascente.
A história de Estêvão mostra-nos a atividade e ação vigorosa dos
diáconos. "E a palavra do Senhor frutificava, e multiplicavase
muito o número dos discípulos em Jerusalém." (Atos VI,
7).
Decidido em seus argumentos, de poder atrativo em suas eloqüentes
pregações, Estêvão, helenista, encarna um espírito novo,
pronto a confundir os velhos crentes, cujas teorias e crenças combate
acremente, com firmeza e inteligência, sem que êles lhe possam
oferecer resistência.
Conduzem-no até o Sinédrio, acusando-o de blasfemar contra o
lugar santo e a lei, contra Deus e Moisés. Aí, perante o
príncipe dos sacerdotes, em discurso rigoroso e entusiasmado, acusa a
nação que fôra predestinada, mas se mostrara infiel, censurando os
antepassados de Israel que mataram os que prediziam a vinda do justo,
e aos fanáticos judeus de terem sido os traidores e homicidas daquele
que trouxera a salvação.
Para os judeus aquilo fôra mais do que uma provocação e vociferam
contra êle, enraivecendo-se.
Estêvão, tranqüilo, fixa no céu os seus olhos, "onde vê a
glória de Deus e Jesus que estava em pé à direita de Deus. E
disse: Eis que vejo os céus abertos e o Filho do homem em pé à
mão direita de Deus" (Atos VII, 55).
As pedras cortam seu corpo jovem de verdadeiro atleta da fé.
Arrastam-no com violência para fora da cidade e o apedrejam. As
pedras cortam o seu corpo jovem de verdadeiro atleta da fé. A um
canto um estudante fariseu contempla tôda a cena, guardando as roupas
dos carrascos: era Saulo. Estêvão ainda encontra fôrças para
orar: "Senhor Jesus, recebe o meu espírito. E, pôsto de
joelhos, clamou em alta voz, dizendo: "Senhor, não lhes imputes
este pecado. E, tendo dito isto, adormeceu no Senhor" (Atos
VII, 58-59).
Estêvão, para conquistar a coroa de seu nome (Stefanos = a
coroa), combateu com as armas do amor: o amor que venceu os judeus
que o assassinavam; o amor na prece pelos que o lapidavam,
intercedendo pelos seus algozes. O ódio cruel de Saulo foi
transformado pelo amor da oração de Estêvão, e aquêle que fôra
seu perseguidor na terra, é hoje o seu companheiro no céu.
Esta a história de Santo Estêvão que deu ao cristianismo 0
primeiro testemunho de fidelidade. Com singeleza e inspiração os
Atos dos Apóstolos nos descrevem o seu martírio, cujo sangue foi
semente fértil de um cristianismo pujante, a cada instante selado como
sangue vigoroso de milhares e milhares de mártires, num testemunho
vibrante de fé e da verdadeira vida da Igreja, de quem foi Santo
Estêvão o protomártir, o primeiro da série gloriosa que proclama a
grandeza da vida futura no céu. Pela sua posse, cheios de fé nas
palavras de vida eterna -do Divinio Mestre, na esperança de
alcançarem a glória e se unirem para sempre ao seu Deus pela
caridade, sacrificam a sua vida, tudo que lhes passa dar a terra, e
se oferecem a Deus como verdadeiras vítimas imoladas no altar da
renúncia e do amor cristão.
No sangue .do santo levita Estêvão, "a Igreja oferece as
primícias do martírio a Cristo, o Rei dos Mártires."
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