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Cristo ressuscitado aparecera pela última vez aos seus discípulos
momentos antes de sua ascensão para o Pai.
Pedra recebera a confirmação do Primado na Igreja, após a
tríplice profissão de amor. "Apascenta as minhas ovelhas."
A Igreja estava estabelecida e Pedro constituído o seu fundamento e
rocha inabalável, o Pastor Supremo.
Jesus dá aos seus Apóstolos as últimas recomendações e ordens:
"Ide por todo o mundo, pregai o Evangelho a toda criatura. O que
crer e for batizado será salvo; o que, porém, não crer, será
condenado" (S. Marcos XVI, 15-16). "E o Senhor
Jesus, depois que (assim) lhes falou, elevou-se ao céu e está
sentado à direita de Deus" (S. Marcos XVI, 19).
Os Apóstolos abatidos pela separação do Mestre, porém confiantes
na sua proteção, voltam para o Cenáculo, à espera do cumprimento
da promessa de Cristo: A vinda do Divino Paráclito."
A Ressurreição de Cristo dissipara em seus espíritos qualquer
dúvida e já não são os mesmos homens tímidos e covardes que se
reuniram no Cenáculo após os acontecimentos da Paixão.
Nos Atos dos Apóstolos encontramos preciosíssimo documento das
primeiras atividades apostólicas, e da vida desta primeira comunidade
que é a sementeira da doutrina cristã. O autor dos Atos (1,
15) diz que o número de fiéis reunidos era de cento e vinte. S.
Paulo (I Cor. XV, 6) escreve serem mais de quinhentos os
irmãos que viram a Cristo Ressuscitado. E os Apóstolos iniciam os
seus trabalhos. Pedro se levanta e propõe se escolha dentre os
irmãos reunidos um substituto para Judas.
`Tendo o Colégio Apostólico apresentado dois candidatos,
"José, que era chamado Bársabas, o qual tinha por sobrenome o
justo, e Matias, tiraram seus nomes à sorte, e caiu a sorte em
Manas e foi associado aos onze Apóstolos" (Atos 1,
23-26).
Depois da .descida do Divino Espírito Santo, quando Pedro fêz o
primeiro discurso, contam-nos os Atos que, duma só vez, três mil
pessoas se converteram, e mais tarde, êste número se elevava a cinco
mil.
Nada conhecemos sôbre a organização da Igreja. Entretanto,
podemos fazer uma idéia de que ela se tenha estabelecido como sociedade
organizada, como se prova pelos sucessos alcançados. O próprio
Cristo demonstrara aos seus Apóstolos, durante a sua pregação
evangélica, o seu esfôrço de organização, e lhes dera princípios
sólidos e métodos de ação. "Foi Cristo, conforme expõe
Daniel-Rops, o mais sábio dos fundadores, o mais completo dos
educadores, e o mais eficaz homem de ação. Deu aos seus discípulos
um ensino concreto, digno .de uma escola de quadros ou dum curso de
propaganda e, enfim, ensinou-lhes uma tática".
Não sabemos com precisão quais os ritos e práticas da primitiva vida
religiosa. Pela leitura dos Atos dos Apóstolos encontramos três
ritos que caracterizavam as primeiras comunidades: o batismo, a
imposição das mãos e a refeição em comum.
O batismo era indispensável para aquêles que se tornavam cristãos e
por êle eram admitidos no seio da comunidade.
Pedro em seu primeiro discurso prega a necessidade do batismo: "cada
um de vós seja batisado em nome d.e Jesus Cristo para remissão de
vossos pecados e recebereis o dom do Espírito Santo" (Atos II,
38) .
Após o batismo fazia-se a cerimônia da imposição das mãos. este
costume, cujos exemplos já os encontramos no Antigo Testamento, era
familiar a Jesus, como vemos nos Evangelhos.
A imposição das mãos feita pelos Apóstolos seria a transmissão
dos dons que receberam do Espírito Santo, dons de luz, fortaleza,
sabedoria e graça.
Por fim, a refeição em comum: "E perseveravam na doutrina dos
Apóstolos, na comum fração do pão e nas orações," (Atos
II, 42). Entende-se aqui a verdadeira refeição, pois no
versículo 46 o texto é formal: "files tomavam o seu alimento".
Se as refeições em comum indicam sempre entre os judeus uma
cerimônia de união, quando se partia o pão, consagrando-o ao
Senhor, no uso cristão há um sentido bem superior. É a relação
que deveria existir entre estas cerimônias e a lembrança de Cristo.
Os esforços destas primeiras comunidades são no sentido de colocar em
prática tudo aquilo que aprenderam de Jesus.
Muitos de seus membros conheceram a Nosso Senhor e recordam as
passagens mais belas de sua existência.
Reunidos em vida comum, os fiéis levavam uma existência de união
fraterna e de santidade. "E a multidão dos que criam tinha um só
coração e uma só alma; e nenhum dizia ser sua cousa alguma daquelas
que possuía, mas tudo entre êles era comum" (Atos IV, 32).
Aos pés dos Apóstolos depunham todo dinheiro apurado na venda de
seus bens. E os Atos, que descrevem a atitude corajosa e desprendida
-de José chamando o Barnabé, que vendeu tudo que tinha, o seu
campo, e depôs aos pés dos Apóstolos o seu preço, narram a
atitude vergonhosa e fraca de dois esposos, Ananias e Safira, que
retiveram parte do apurado na venda de seus bens, mentindo haverem
entregue tudo, e que foram fulminados pela justiça divina.
Cada vez maior era o número de fiéis e êste desenvolvimento vai
exigir das autoridades judaico-religiosas as mais severas atitudes.
Após a cura do paralítico realizada por Pedro junto ao Templo, os
Apóstolos são levados aos tribunais, proibidos de pregar e ensinar a
doutrina cristã. "Não podemos deixar de falar das cousas que temos
visto e ouvido", (Atos IV, 32) foi a resposta firme dos
Apóstolos.
A severidade é cada vez maior para com a comunidade cristã. A luta
das autoridades em Jerusalém e demais localidades é no sentido de
obstar por todos os meios a propaganda da mensagem cristã.
Vão se iniciar as perseguições, pois é necessário aniquilar esta
doutrina que anuncia já ter vindo o Messias Salvador, na pessoa de
Cristo, que fora crucificado pelos judeus. Os milagres de Cristo
confirmam a sua divindade; os milagres operados pelos Apóstolos
afirmam o seu poder e :a realidade da doutrina que anunciam, mas as
autoridades judaicas estão ofuscadas pela ambição e pelos crimes.
Perseguidos em Jerusalém, os fiéis de Cristo vão se espalhar,
levando consigo o facho da doutrina evangélica que há de incendiar
primeiramente o Império Romano, depois o mundo todo, no fogo da
caridade e do verdadeiro amor de Cristo.
Assim se contam os primeiros dias dos cristãos em Jerusalém, berço
da primeira comunidade, ainda reunidos os Apóstolos, que pouco
depois partiam na conquista do mundo para Jesus Cristo.
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