|
Os monumentos das Catacumbas não são os únicos que proclamam o
culto dos primeiros cristãos a Maria.
A invocação a Nossa Senhora se conclui dos escritos dos Santos
Padres, desde os primeiros, preocupados em demonstrar e defender as
prerrogativas da Santíssima Virgem.
Em muitas passagens dos Atos dos Apóstolos lemos que os cristãos
primitivos pediam aos seus irmãos que intercedessem por êles, porque
êstes irmãos eram discípulos e amigos de Cristo.
Seria inacreditável que não recorressem à intercessão de Maria, a
Mãe de Jesus, para alcançarem as suas graças.
Se muitos testemunhos vamos encontrar da crença e afirmação das
prerrogativas de Nossa Senhora, de sua Maternidade Divina,
Virgindade, antes, durante e depois do parto, documentos que nos
comprovem em escritos o culto de invocação a Maria, confessamos nos
ser difícil encontrá-los.
Isto porque nos ficaram pouquíssimas obras anteriores à paz da
Igreja, nos princípios do século IV, e em sua maior parte livros
de apologética e de controvérsias, nos quais dificilmente
encontraríamos de modo explícito o culto a Maria.
A princípio Maria ocupa lugar modesto e pouco se fala dela. Não
obstante, as afirmações dogmáticas da Santíssima Virgem se
encontram desde os primeiros tempos e na falta de documentos escritos da
invocação a Maria, delas deduzimos o grande aprêço que os fiéis
primitivos tinham para com a Mãe de Deus.
A primeva onda mariológica começa na idade apostólica e chega ao seu
auge com a definição da Maternidade Divina no Concílio de Éfeso,
no ano 431.
Três são as principais idéias mariológicas na época que precede o
citado concílio: A Mãe de Deus, a Virgem intacta, a Nova
Eva.
No Oriente, os Santos Padres colocam em relêvo a maternidade
divina. Para Santo Inácio, bispo de Antioquia, Jesus, o Filho
de Deus, foi verdadeiramente gerado, segundo a natureza humana, por
Maria (Aos Efésios 7,2).
São Justino Mártir escreve que Jesus, que é Deus, tomou de
Maria a natureza humana e nasceu dela como homem.
Santo Irineu propõe a mesma doutrina e a comprova com argumentos da
Sagrada Escritura e da Tradição Católica.
A Virgindade de Maria foi também defendida pelos Padres da
Igreja. Na carta aos Efésios, Santo Inácio afirma a virgindade
antes do parto e faz uma alusão à virgindade no parto. São Justino
nos deixou documentos com a mesma afirmação. Santo Irineu já
afirma explicitamente a Virgindade antes e no parto, e implicitamente
depois do parto.
A virgindade perpétua, antes, durante e depois do parto, será
afirmada mais tarde por Orígenes. São Pedro de Alexandria será o
primeiro a designar Maria com o nome de "Virgem". Exaltam a
perpétua virgindade Santo Efrém, Santo Epifânio, São João
Crisóstomo, São Gregório Taumaturgo e outros.
A idéia de Maria, a Nova Eva, encontra-se já no século II em
São Justino: "Cristo fêz-se homem por meio da Virgem, afim de
que a desobediência provocada pela serpente tivesse fim pela mesma via
por onde havia começado".
Santo Irineu desenvolve esta idéia e chama a Maria, a Advogada de
Eva".
Também alusões à santidade e realeza de Maria encontramos nos
Santos Padres. De modo explícito Santo Efrém fala que Maria é
imune de tôda mancha de culpa.
São Gregório invoca a Maria e afirma que por sua intercessão
recebera a verdadeira doutrina da fé sôbre a Santíssima Trindade.
Este fato pareceu tão natural que ninguém se admirou, o que prova
que o culto deprecatório à Mãe de Deus não era uma novidade na
Igreja.
No Ocidente, a Mariologia foi descrita pelos Santos Padres
realçando as prerrogativas de Nossa Senhora.
Tertuliano faz da maternidade divina o centro de sua Marïologia.
Santo Hipólito Romano é o primeiro a usar o têrmo "Theotocos",
isto é, Mãe de Deus. E a maternidade divina é exaltada por
Santo Ambrósio, Santo Agostinho, São Zenon e outros. Em
relação à virgindade perpétua, para Santo Hipólito Maria
Santíssima é a Virgem por antonomásia.
Santo Ambrósio faz da Virgindade perpétua de Maria o ponto central
de sua M ariologia. O mesmo ensinam outros Santos Padres, como
Santo Agostinho, e São Jerônimo, que foi o primeiro e o mais
forte apologista da virgindade perpétua de Maria.
Entre os ocidentais foi Tertuliano o primeiro a pôr em relêvo a
idéia de Maria, a Nova Eva. Santo Ambrósio, no notável
paralelismo Eva-M arfa, afirma que a Virgem concebeu a salvação
de todos. Fala depois sôbre a maternidade espiritual e universal de
Maria, fundamentando-a na doutrina paulina do Corpo Místico de
Cristo, que por Maria tornou-se cabeça universal da humanidade. A
idéia de Maria, a Nova Eva, encontra-se também em São Zenon,
São Jerônimo e Santo Agostinho. Como Santo Ambrósio,
fala-nos Santo Agostinho da maternidade espiritual de Maria, a
“Mãe dos membros de Cristo, que somos nós”.
A santidade e realeza de Maria são exaltadas especialmente por Santo
Ambrósio, Santo Agostinho e São Jerônimo.
Apresentam-na como o modêlo das Virgens, imune de qualquer mancha
de culpa e sempre "'na luz e nunca nas trevas".
Houve motivos que impedissem um mais notável desenvolvimento da
Mariolo gia em sua primeira fase, isto é, dos tempos apostólicos
até o Concílio de Éfeso. Primeiro, as contínuas perseguições
no Oriente e no Ocidente; depois, a atenção dos Padres voltada
quase exclusivamente para a figura de Cristo, centro da doutrina
cristã; em terceiro lugar, os erros cristológicos daqueles tempos.
É stes erros destruindo o verdadeiro homem, o verdadeiro Redentor,
comprometiam também indiretamente em Marfa a qualidade de Mãe, de
Virgem e de Nova Eva.
Contra os docetas que negavam a verdadeira humanidade de Cristo, os
Padres opuseram a real maternidade de Marfa. Contra os arianos que
negavam a divindade de Jesus, opuseram o seu nascimento virginal,
prodigioso. Contra o falso conceito de mediador e a multiplicidade de
mediadores, opuseram o plano divino no qual o nôvo Adão, Único
Mediador perfeito para reconciliar a Deus com os homens, está
associada a nova Eva, em oposição ao primeiro Adão e à primeira
Eva que com o pecado afastaram a Deus dos homens.
Embora sem caráter de novidade, o que prova a existência anterior do
culto a Maria, sua devoção espalhou-se extraordinàriamente,
quando o III Concílio Ecumênico, celebrado em Éfeso, em
431, profligando as heresias de Nestório e seus sequases, definiu
a Maternidade Divina de Maria.
No ano seguinte o Papa Sixto III consagrava em Roma a patriarcal
basílica de Santa Maria Maior. Igrejas e Santuários se
levantaram por todo o mundo em honra da Santíssima Virgem, Mãe de
Deus. Na liturgia da Igreja se introduziram as grandiosas festas de
Nossa Senhora, Rainha e Senhora do Universo.
Assim se explica a devoção a Marfa Santíssima, cujas raízes se
lançaram no início do cristianismo. O que cremos de Maria, o que
honramos em Maria, é aquilo mesmo, nem mais nem menos, que nossos
antepassados na fé creram e veneraram desde a origem da Igreja: a
Maternidade Divina e a Maternidade de graça da Maria, a Mãe de
Cristo Jesus e a Medianeira da salvação.
|
|