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No século II aparecem os célebres apologistas, escritores
eméritos que escrevem aos não-cristãos, expondo de modo
compreensível e brilhante a doutrina da Igreja, defendendo-a das
objeções e respondendo ás calúnias pela sublimidade dos exemplos de
vida cristã de seus membros.
A Carta a Diogneto é um primor pelo estilo e pela descrição da
vida cristã daquela época. Infelizmente, não sabemos quem seja
êste Diogneto, como também é anônimo o autor.
Nesta nova modalidade de literatura vamos encontrar no século lI
grandes apologistas, como Aristides, S. Justino, Atenágoras,
Teófilo de Antioquia, Santo Irineu, Minúcio Félix,
São nomes que se sobressaem pelo esfôrço e dedicação em demonstrar
a sublimidade da doutrina cristã, e defendê-la das gratúitas
acusações.
Pelas duas apologias, pelo Diálogo de Trifon, obras magistrais que
nos legou, São Justino se celebrizou como um dos maiores apologistas
do cristianismo. Sua vida de santo e mártir o torna credor da
admiração e respeito das futuras gerações.
É a inteligência brilhante e jovem em busca da verdade, entregue á
filosofia, e que, amparada pela experiência de um ancião cristão,
chegou ao conhecimento de Deus.
Vagou Justino por várias escolas, pela estóica, peripatética,
pitagórica, platônica e desta à cristã foi um passo.
São notáveis as suas apologias, expondo a verdade do cristianismo
pelo cumprimento das profecias, a. falsidade de culto aos deuses, e a
santidade de vida dos cristãos.
Os acontecimentos do Antigo Testamento prefiguram a grandiosa
realidade do Nôvo Testamento.
O Diálogo de Trifon, filósofo judeu, é uma resposta aos judeus
que continuavam agarrados á lei judaica, desconhecendo a veracidade do
cristianismo.
No Império de Marco Aurélio, São Justino foi prêso, e
confessando com coragem a sua fé, teve sua cabeça cortada.
Atenágoras, filósofo de Ateiras e cristão, nos deixou obras
apologéticas importantes, com a "Legatio pro Christianis",
apologia perfeita, dirigida a Marco Aurélio em favor dos cristãos,
defendendo-os das falsas acusações. Em sua obra "'De
ressurrectione mortuorum", prova a ressurreição dos corpos, motivo
de escândalo para os pagãos.
Foi no auge das perseguições, quando a Igreja era dizimada em seus
membros, atacada em sua doutrina, que surgiu a grande figura de
Irineu, que feito bispo de Lião, defendeu o seu rebanho com extrema
dedicação e zêlo.
Por grande graça de Deus, recebeu a fé dos próprios pais, que já
eram cristãos, tendo sido educado num ambiente de fé e cristandade.
Recorda com carinho e emoção os anos da infância em que do santo
bispo Policarpo aprendera os ensinamentos que o santo recebera do
Apóstolo S. João.
Escreveu o "Tratado das heresias", em cinco livros, expondo e
refutando nos primeiros os erros dos herejes, especialmente os
gnósticos, pela Escritura e Tradição, mostrando esta como fonte
da verdade revelada. Nos demais livros de sua obra apresenta a
doutrina cristã, com precisão e clareza admiráveis, base do
pensamento cristão futuro. Morreu, talvez martirizado, no Império
de Séptimo Severo.
"Pérola da literatura apologética", no dizer de Renan, é o
“Octávio", de Minúcio Félix. Escrita em um latim primoroso e
poético, esta obra encanta pelo diálogo travado entre dois amigos que
se encontravam à beira mar: Octávio, que era cristão e o pagão
Cecílio. A atitude de Cecílio, saudando a estátua de um deus foi
motivo para uma discussão, onde predominou de uma parte a boa fé e o
desejo de conhecer a verdade, e de outra, a convicção firme, a fé
esclarecida, que dissipa as dúvidas do amigo e o conduz á verdade.
Dois rapazes que num momento de tranqüilidade, preparando-se para
uma atividade esportiva, à beira-mar, vão travar um diálogo que se
imortalizaria na literatura cristã. Cecílio e Octávio, de nobres
descendências, pertencem á sociedade romana, a famílias abastadas.
Octavio já fôra iluminado pela graça da fé cristã e Cecílio
ainda se conservava apegado à religião tradicional do Império, e
colocava muitas dúvidas na doutrina cristã, julgada por muitos na
ocasião como sociedade secreta, ímpia e criminosa.
Octávio,com delicadeza e convicção, expõe ao amigo a realidade do
Evangelho de Cristo, provando-lhe com argumentos convincentes a
existência de um só Deus, e o absurdo do culto aos deuses. O
diálogo se prolonga... Cecílio, com atenção e entusiasmo,
escuta as palavras amigas que lhe apontam horizontes até então
desconhecidos.
Não eram verdadeiras as histórias que se contavam dos cristãos, e
Otávio os defende de tantas acusações caluniosas e falsas,
demonstrando ao companheiro, de maneira elevada, os exemplos de vida
digna, heróica e santa dos cristãos.
Um raio de luz parece iluminar a inteligência de Cecílio, que se
desperta na ânsia suprema de saber mais e tudo conhecer dos cristãos e
de sua doutrina.
Era a graça de Deus, dom inesgotável da misericórdia divina que
recompensa a boa fé e dedicação daquele coração. Foi o primeiro
diálogo e uma introdução à verdade. Certamente, muitos outros
encontros se realizaram e os ensinamentos transmitidos aos poucos,
empolgavam sempre mais aquela alma que vencida pela graça, se
converteu, abraçando a fé cristã.
Foram as obras dos Padres da Igreja o fundamento sólido sôbre o
qual se firmou o pensamento cristão. Na construção de uma
literatura cristã, encontramos a base lançada pelos Apóstolos que
fixaram a doutrina do Salvador.
Vieram depois aquêles que foram discípulos dos Apóstolos e que
incrementaram esta literatura, legando-nos tesouros de inestimável
valor. Por fim, os apologistas que buscaram várias escolas
filosóficas aquilo que de certo lhes apresentavam, e criaram a
filosofia cristã que abriu às inteligências os mais profundos
caminhos para as investigações", obrigando-os, no dizer de
Daniel-Rops -, a perscrutar cada vez mais as verdades
sobrenaturais, fazendo do cristianismo o sistema de pensamento
religioso mais sólido do mundo, ao pé do qual são inconsistentes
tôdas as teologias pagãs."
Estávamos no fim do século II e no início do III. As
perseguições continuavam. A literatura cristã mostrava o vigor da
religião nova que, perseguida pelos podêres e negada pelos herejes,
lançava sôbre o mundo a revolução da Cruz.
E os Padres e escritores da Igreja, cheios de amor a Cristo,
legaram à posteridade obras magistrais, muitas delas assinadas com o
próprio sangue, marca indestrutível da fé e do heroísmo da
inteligência cristã.
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