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É nos Atos dos Apóstolos que encontramos a última menção de
Maria Santíssima na Sagrada Escritura, quando reunida se achava
com os apóstolos e outras piedosas mulheres no Cenáculo: "Todos
êstes perseveravam unânimes na oração, juntamente com as mulheres e
Maria, Mãe de Jesus, e com seus irmãos" (Atos I, 14).
Depois, nada mais se encontra que se refira diretamente a Maria. Na
Igreja nascente, a vida de Maria se confundia com as próprias obras
de Jesus, e certamente, de modo muito íntimo, Maria participou de
tôdas as atividades dos apóstolos, tomando parte em suas reuniões e
confortando-os com sua presença. E Nosso Senhor conservou ainda
sua Mãe Divina na terra por algum tempo, para que ela fosse a força
e o conforto da Igreja nascente.
Assim, foi a vida de Maria, círculo luminoso de irradiação que se
desenvolveu sempre. Mãe de Jesus, o Filho do carpinteiro,
acompanhou-O em sua infância e adolescência, comprazendo-se do
convívio de seu amado Jesus. Mãe do Messias, nos dias de sua vida
pública, seus olhos O seguiam erre suas caminhadas, era. tre a
incredulidade de muitos e a fé de outros, até que ao pé da Cruz
tornou-se a Mãe do Redentor.
Ei-la, agora, como centro espiritual da Igreja fundada por seu
Divino Jesus, que a confiou à sua materna proteção, pelas
palavras d a Cruz: "Mulher, eis aí teu filho".
A Igreja nascente dava ela a sua vida consagrada a Jesus e à sua
obra, o interêsse pelas atividades e sofrimentos dos apóstolos por
amor de Jesus, e sobretudo as suas orações elevadas a Deus a cada
instante.
Estava sempre ao lado dos apóstolos e dos fiéis, em suas reuniões,
na comum fração do pão e na oração. "E perseveravam na doutrina
dos Apóstolos e na comum fração do pão e nas orações" (Atos
II, 42).
E que alegria para os apóstolos, consôlo em suas lutas, a companhia
de Maria, entusiasmando-os na missão que Jesus lhes confiara.
Da Mãe carinhosa recebera a Igreja os primeiros cuidados. Foi ela
quem a embalou no seu berço glorioso de seus primeiros tempos. Maria
ainda vivera algum tempo, amparada por especial auxílio divino, pois
a separação do Filho minava-lhe as fôrças e a intensidade de suas
dores nela refletia com singular violência.
Por amor de Jesus, suportara em seu coração as maiores dores
possíveis a uma criatura e os sofrimentos se renovaram ao ver as
perseguições movidas contra os apóstolos, os fiéis e a Igreja.
O amor que Maria consagrava a seu Filho a inflamava na ânsia de O
ver, e suspirava por encontrar-se com ele no céu. Mãe e Filho
deviam unir-se na glória, do mesmo modo que nos sofrimentos, como
verdadeiros membros da humanidade. A morte de Maria não foi
conseqüência do pecado, como nas demais criaturas, pois jamais
existiu em sua alma a menor mancha da culpa. Foi antes o seu desejo
ardente de ser em tudo conforme a seu Jesus. Foi, na afirmação
piedosa, um doce sono. Maria fechou seus olhos na terra, para os
abrir no céu, no encontro com o seu Divino Jesus.
Do alto do céu, após a sua Assunção gloriosa, Maria mergulha o
seu olhar no mistério do reino, na vida da Igreja.
"Associada como Mãe e Ministra ao Rei dos Mártires, na obra
inefável da Redenção, quando 0 oferecera no Calvário ao Eterno
Pai, fazendo o holocausto de todo o seu direito materno e de seu
maternal amor, estaria assim, como escreve Pio XII na Encíclica
Mystici Corporis Christi, associada para sempre a Cristo, com um
poder, por assim dizer, infinito, na distribuição das graças
decorrentes da Redenção".
A maternidade que Jesus lhe confiara do alta da Cruz, tinha agora,
com a Assunção aos céus, o seu complemento e coroação.
Medianeira de tôdas as graças, Maria começou a ser desde os tempos
primitivos invocada pelos fiéis, que reconheciam seu poder de
intercessão.
Embora não tenhamos dados para provar que Ela tenha sido objeto de
honras nos três primeiros séculos, afirmações inumeráveis se
encontram de sua maternidade divina e demais prerrogativas, e da
veneração que lhe tinham os fiéis.
As palavras e testemunhos do discípulo a quem Jesus amou com
predileção em sua vida na terra, e que foram louvores tecidos a
Maria, como Mãe de Jesus, ouvidas elas pelos fiéis, se
espalharam por tôda parte como precioso tesouro, e jamais deixaram de
se ouvir.
As vozes que se ergueram pela terra, na Ásia, África e na Europa,
são unânimes em glorificar a mulher que pelo "fiat" da
Anunciação se tornara a Mãe de Deus. Os discípulos de S.
João receberam dêle estes ensinamentos e os transmitiram íntegros
às futuras gerações.
A história nos demonstra a antiguidade do culto de Maria.
Sua devoção foi recomendada pelo próprio Cristo, quando no-la deu
por Mãe na pessoa de João. Cresceu esta devoção através dos
séculos, especialmente após o Concílio de Éfeso,em 431,
quando Nestório foi condenado, e proclamada a Maternidade Divina de
Maria.
A raiz desta devoção a encontramos nos primeiros tempos.
Maria Santíssima fôra sempre entre os fiéis motivo de amor e de
confiança. Vozes de protestos se levantaram por tôda parte, quando
Nestório atacou o fundamento de suas prerrogativas, a Maternidade
Divina. E Nestório foi condenado.
Os cristãos, solícitos em glorificar os mártires, como nos
demonstra a infinidade de testemunhos, jamais descuidariam do culto à
sua Rainha e Mãe. O culto a Maria, que se revelou no mundo com
tanto esplendor e refulgência a partir do século V, seria
impossível, se fôsse desconhecido no início da Igreja.
Nos monumentos das Catacumbas e nos escritos dos Santos Padres da
Igreja, vamos encontrar as afirmações da sólida devoção a Maria
Santíssima nos primeiros séculos de nossa era.
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