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Desencadeara-se em Roma mais uma feroz perseguição decretada pelo
impiedoso Marco Aurélio, Imperador Romano, e dentre as numerosas
vítimas da fúria sanguinária, Policarpo, Bispo de Smirna, é
mais um herói mártir que dignifica a Igreja dos primeiros tempos do
cristianismo.
Teve a dita de ser discípulo do Apóstolo São João Evangelista
de quem recebeu os primeiros ensinamentos da fé pela qual morreria com
coragem e heroísmo.
Sagrado Bispo, foi-lhe confiada a diocese de Smirna,
administrando-a como verdadeiro apóstolo, com energia e caridade,
pela palavra e pelo exemplo.
O decreto de perseguição chega à Ásia, e o Bispo Policarpo pôde
preludir suas conseqüências, quando vê doze cristãos, ovelhas
suas, atirados às feras pelos seus perseguidores. Vendo o seu
rebanho em perigo, Policarpo redobra os seus esforços, confortando
suas ovelhas .e incentivando-as ao martírio. . É o Pastor
vigilante pelo seu rebanho e que vai dar a vida pelas suas ovelhas,
como o fizera Nosso Senhor, o Bom Pastor por excelência.
Foram os próprios cristãos que o esconderam em um sítio, fora da
cidade, quando terrivelmente se incrementou a perseguição.
Entretanto, seu martírio lhe fôra revelado em sonho, tendo visto
seu travesseiro rodeado pelo fogo.
"Meus amigos, diz êle, sei que serei condenado à morte pelo fogo.
Deus seja bendito, porque se digna conceder-me a coroa do
martírio". Poucos dias após, é prêso e conduzido ao anfiteatro,
onde se realizava uma sessão de jogos com a presença do procônsul
Quadrato.
Com calma e tranqüilidade admiráveis, Policarpo contempla de um
lado o magistrado romano que o interroga; de outro, a multidão em
gritos, quase a rugir. Pedem que insulte a Cristo e o renegue.
Suas respostas são firmes e decisivas: "Há oitenta e seis que o
sirvo e nunca me fêz mal. Por que hei de blasfemar contra o meu Rei
e Senhor?"
- "Tenho as feras á minha disposição", resmunga o magistrado.
- "Que elas venham! Sou cristão, não as temo."
O procônsul, vendo a sua fé inquebrantável, sabendo que as feras
não o amedrontam, decreta que êle morra pelo fogo.
Mas nem o fogo é capaz de perturbar o espírito de Policarpo; ao
contrário, mais o inflamaria no amor de Deus.
- "Ameaças-me com um fogo que arde uma hora e depois se apaga, e
nada sabes daquele fogo eterno que é preparado para os rrnpios.
Vamos, não te demores, manda vir as feras, ou faze o que quiseres.
Sou cristão e não abandonarei a Cristo."
Anunciada a sentença, a multidão de pagãos e judeus conduz a lenha
para a imolação do mártir. Antes que o corpo se queimasse, seus
olhos se erguem para o céu e seus lábios entoam um hino de louvor a
Deus pela glória do martírio que o torna digno de participar do
cálice de Cristo para a ressurreição na vida eterna.
As chamas se elevaram com violência, o fogo contornou e,
miraculosamente sem o queimar, envolveu o corpo do Mártir.
Resplandeceu luminoso, ante a admiração de todos que viam o poder de
Deus, não permitindo que aquelas chamas queimassem o santo bispo,
cuja santidade, à semelhança da prata e do ouro, mais se depurava e
purificava no fogo.
Ofuscado pela cegueira e pela paixão, seus inimigos não quiseram
reconhecer o poder de Deus que se manifestava de modo admirável.
Recebe o algoz a ordena de matá-lo com espada e assim se completa o
seu martírio.
Policarpo era já velho, quase nonagenário, mas não há idade para
se dar testemunho da fé e Deus dá sempre fôrça, mesmo aos mais
fracos, para o seu combate.
Sua vida e sua morte nos são confirmados por Atas autênticas de seus
escritos contemporâneos. E Santo Irineu, um dos seus discípulos,
relembra em seus escritos os sábios ensinamentos dêste grande Mestre
do Cristianismo, uma das mais venerandas figuras de Mártires da
antiguidade cristã.
À luz do mundo, anunciou Policarpo a fé no Cristo, e confessou "o
Senhor diante dos homens:" Agora, "o Senhor o confessa diante de
seu Pai celeste".
A Igreja de Cristo presta a sua carinhosa homenagem a êste santo,
cuja festa se celebra no dia 26 de janeiro, na comemoração de seu
martírio, nascimento para a glória.
Uma auréola de imortalidade glorifica o velho Bispo de Smirna, cujo
martírio contribui para consolidar a fé cristã e demonstrar ao mundo
de que é capaz o Cristianismo sempre vivo na santidade de seus
membros.
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