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A Eucaristia desde os primeiros dias da Igreja foi de suma
importância para os cristãos e centro de todos os seus cultos. A
reunião litúrgica, que nos descrevem os Atos dos Apóstolos, era a
celebração da Santíssima Eucaristia. São cerimônias simples a
princípio, que renovam a última ceia, como o Divino Mestre
recomendara aos Apóstolos: "Fazei isto em memória de mim:"
Aos poucos estas cerimônias eucarísticas, a união dos fiéis com
Cristo pela comunhão, recebem maiores solenidades, especialmente na
sua preparação que consiste em preces e súplicas. Textos sublimes
do Antigo Testamento, como as preces dos Salmos, são incluídos
nas cerimônias eucarísticas, bem como passagens da vida de Nosso
Senhor e que se encontram nos Evangelhos.
A estas celebrações se deu o nome de Missa. Nos tempos mais
antigos em que o grego era língua oficial dos cristãos, estas
cerimônias se chamavam Eucaristia, e às vêzes eulogia, que
significa bênção. O nome que prevaleceu nas épocas posteriores foi
o de "Missa".
Estudando os antigos escritos dos Padres da Igreja, e vendo as
pinturas das catacumbas, podemos ter uma idéia do que consistia a
missa nos primeiros tempos cristãos, no fim do século II ou início
do século III.
Estas cerimônias eram celebradas em casas particulares, onde se
reuniam os fiéis; muitas destas casas eram doadas às comunidades que
as transformavam em Igrejas. Estas se tornavam cada vez mais vastas,
pois aumentava sempre o número dos fiéis. As igrejas surgiram
numerosas, pois durante as perseguições decretos foram assinados
pelos Imperadores, para que elas fôssem destruídas.
Muitas vêzes as missas eram celebradas nas catacumbas, especialmente
quando violentas eram as perseguições, e lá se refugiavam os
fiéis. Também na comemoração de um mártir, nos dias de sua
festa, os sacrifícios eucarísticos eram celebrados em seu louvor
diante de seu túmulo.
Com maiores solenidades eram celebradas as missas de domingo, quase
sempre à meia noite, terminando ao despontar da alvorada. Ainda hoje
se celebram missas à meia noite, como no Natal, relembrando as
antigas tradições.
A Missa, como ainda hoje, se dividia em duas grandes partes. A
primeira podiam assistir os catecúmenos, aquêles que se preparavam
para o batismo. O celebrante se conservava voltado para o povo,
saudando-o várias vêzes, durante a cerimônia. As orações ao pé
do altar não existiam, e o Intróito sòmente apareceu no século
IV, com os cânticos de salmos, enquanto o celebrante se dirigia ao
altar. A Missa dos Catecúmenos era de orações e de instrução.
Pedia-se a Deus pelos catecúmenos, para que suas preces fôssem
acolhidas e êles instruídos na doutrina e nos mandamentos do Senhor;
pedia-se pelos recém-batisados, pelos doentes, escravos, pelos
mártires que aguardavam o suplício. A estas súplicas feitas pelo
diácono, os fiéis respondiam com as palavras gregas que ainda
conservamos na missa: Kyrie eleison! Senhor, tende compaixão de
nós!
O celebrante, logo depois, recitava a oração da missa na súplica
geral por todos, que no final respondiam: "Amém".
Colocado em lugar mais elevado o leitor lia para todos trechos do
Antigo Testamento, passagens das Epístolas de S. Paulo, e de
outros apóstolos, dos Padres da Igreja, dos Atos dos Apóstolos,
ou narrativas dos mártires.
A leitura do Evangelho era feita por um diácono e os fiéis de pé e
atentamente a escutavam. Terminada a leitura, o celebrante fazia os
comentários sôbre o trecho lido, ou escolhia um pregador para fazer a
homilia.
Assim termina a Missa dos Catecúmenos, que reproduz, por assim
dizer, a liturgia das sinagogas. O Credo que era recitado apenas nas
profusões de fé ou em alguma outra circunstância, só mais tarde é
introduzido na missa.
A segunda parte é a Missa dos Fiéis; os catecúmenos se retiravam
era Igreja. A liturgia atual da missa conserva quase tôdas as
cerimônias antigas na preparação e realização do augusto
sacrifício.
Na missa cios fiéis encontram-se as três partes essenciais do
sacrifício: o ofertório, a consagração e a comunhão.
Antes do ofertório, os fiéis levavam até o altar a matéria do
sacrifício: o pão e o vinho. O simbolismo sublime desta
cerimônia, em que os fiéis depositam no cibório a hóstia para a sua
comunhão, é, como se vê, costume antigo na Igreja, revivido hoje
nas Procissões do Ofertório, já comuns em muitos lugares.
Os antigos fiéis, além do pão e vinho para a consagração,
ofereciam esmolas para os pobres, viúvas e para as obras de caridade.
Os diáconos separavam as ofertas, depositando o vinho e o pão sôbre
o altar.
Pelas orações chamadas secretas, o sacerdote, como ainda hoje,
pedia ao Senhor que em troca dos dons terrenos, concedesse ao povo os
dons do Céu.
Aproximando-se o momento mais solene de tôda a cerimônia, o
celebrante convidava os fiéis à piedade e ao fervor: "Corações ao
alto!” "Temo-los no Senhor!” “Dêmos graças a Deus.”
“Isto é digno e justo!" "Verdadeiramente”, continuava o
sacerdote, “é digno e justo que vos rendamos graças, ó Senhor,
Santo, Pai Todo Poderoso e Eterno". O prefácio é um cântico
de triunfo e de glória, é um convite à união com as hierarquias dos
anjos, para bendizer e louvar a Deus. Termina pelo Sanctus, que é
um hino celestial: "Santo, Santo, Santo é o Senhor Deus dos
exércitos. Os céus e a terra estão cheios da vossa glória.
Hosana no alto dos céus. Bendito seja o que vem em nome do Senhor.
Hosana no alto dos céus". É um cântico sublime que os
bemaventurados cantam no céu, como descreve São João, na visão
do Apocalipse.
Pinturas nas catacumbas nos mostram o sacerdote com as mãos estendidas
sôbre o pão e o vinho para tomar posse sôbre a vítima, pronunciando
depois as palavras solenes da Consagração, exatamente as mesmas
proferidas por Cristo na última ceia.
A Última parte é a comunhão. O sacerdote, como fêz Cristo,
parte o pão: é a fração do pão, com que também se designava a
missa outrora. A Didaqué nos fala da prece da unidade, que se
pronunciava então: "Assim como êste pão estava, nos seus
elementos, disperso pelas colinas e se encontra agora reunido,
permiti, Senhor, que a nossa Igreja se reuna desde as extremidades
ela torra..."
A comunhão era dada sob as duas espécies do pão e do vinho. O
sacerdote oficiante dava aos fiéis a hóstia sagrada, pronunciando as
palavras: Coreus Christi. E o fiel respondia: Amém! O diácono
trazia o cálice que contém o precioso sangue: Sanguis Christi calix
vitae, e o comungante bebia um pouco.
A última prece era o agradecimento a Deus pelas graças e
benefícios, pela comunhão recebida. "Ite, missa est!"
Prostrados os fiéis recebiam a bênção do celebrante, e a Missa
chegava ao seu final.
Assim se celebravam nos primeiros tempos as santas missas, sacrifício
único da Nova Lei em que Jesus Cristo, pelo ministério do
sacerdote, se oferece e se imola no altar sob as espécies do pão e do
vinho, para reconhecer o supremo domínio de Deus e nos serem
aplicados os méritos de sua paixão e morte de cruz.
Na assistência piedosa à santa missa, e na participação ativa
dela, encontravam os primeiros cristãos a fôrça que os animava à
santidade de vida e ao martírio. Possuíam Cristo em suas almas e
nada seria capaz de os perturbar.
A Missa que hoje se celebra é essencialmente a mesma dos primeiros
tempos do cristianismo: Renovação do Sacrifício do Calvário. E
a liturgia atual conserva as antigas cerimônias, tão ricas em seus
simbolismos.
Desde a origem da Igreja incessantemente se renova sôbre os nossos
altares o sacrifício de Cristo, em tôdas as épocas, do Oriente ao
Ocidente, do nascer ao pôr do sol, santificando as almas e
espalhando para tôda a humanidade os frutos abundantes de vida e
salvação do Sacrifício do Cordeiro de nossa Redenção.
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