4. Causa final.

A causa final é aquela que é princípio de movimento e de repouso por modo de fim.

S. Tomás e Aristóteles dão uma primeira explicação do que seja a causa final nestes termos:

"Ao perguntarmos por que alguém caminha, respondemos convenientemente ao dizer:

`para que ganhe saúde'.

E, assim respondendo, opinamos ter colocado a causa. De onde que é patente que o fim é causa".

À primeira vista tal explicação parece uma simples ingenuidade. Mas o fato é que pode-se mostrar que a existência de uma causa eficiente exige a existência de uma causa final.

Quando a causa eficiente é um ser inteligente, um ser, portanto, dotado de vontade, é evidente a existência de uma causa final, pois os agentes inteligentes agem movidos pela vontade, e a vontade tende por natureza a um fim.

Existem também casos evidentes de agentes não inteligentes que agem tendo em vista um fim. Quando uma flecha é arremessada contra um alvo, o alvo é a causa final do movimento da flecha; embora a flecha não a conheça, foi movida por um agente inteligente que a conhecia.

Mas a verdade é que, dizem Aristóteles e S. Tomás, na natureza todos os agentes movem em direção a um fim, quer o conheçam, quer não o conheçam.

A razão é que, conforme explicamos na teoria da causalidade eficiente, a passagem da potência ao ato exige a intervenção de um agente que age em virtude de sua própria forma; ora, a cada forma se segue uma operação própria, de modo que esta forma já tem em si determinada uma direção em que irá operar. Esta direção é a causa final, quer o agente a conheça, quer não a conheça. Quando um ser inteligente age tendo em vista um fim, ele também está fazendo isto por uma operação que se segue a uma forma apreendida em sua inteligência; a causalidade final se segue à operação própria de uma forma exigida pela causalidade eficiente. A diferença é que, quando o agente é voluntário, ele conhece o fim; quando não, ele não o conhece.

A existência de uma causalidade final na natureza pode ser estabelecida pelo fato de que todos os movimentos na natureza se dão sempre ou na maior parte das vezes do mesmo modo: o fogo sempre esquenta, a pedra sempre cai, o botão da rosa sempre desabrocha, o Sol sempre ilumina, etc..

"Deve-se ter em mente, portanto",

diz S. Tomás no Comentário à Física,

"que sempre todo agente age em vista de um fim, aja ele pela natureza ou pelo intelecto" (1).

"As coisas que acontecem sempre ou freqüentemente o são pela natureza ou pelo que é proposto pelo intelecto. Portanto, nas coisas que acontecem sempre ou freqüentemente, estas coisas acontecem tendo em vista um fim" (2).

Por que, então, alguns agentes conhecem o fim enquanto outros não?

"É preciso que conheçam o fim aqueles agentes cujas ações não estão determinadas, mas que podem, ao contrário, dirigir-se a extremos opostos, como ocorre nos agentes voluntários; portanto, é necessário para estes que conheçam o fim, pelo qual determinam suas ações. Por outro lado, entre os agentes naturais, as ações já estão determinadas: não tem, portanto, necessidade de escolher entre as coisas que são meios de alcançar o fim.

Por esta razão, é possível que o agente natural tenda sem deliberação a um fim, caso em que tender a um fim não significa senão que ele tem inclinação natural a algo" (3).

Por tudo isto que se explicou, é evidente que as causas têm que ser quatro: material, formal, eficiente e final.

Referências

(1) In libros Physicorum Commentaria, L. II, l. 8, 211.
(2) Idem, L. II.
(3) De principiis naturae Opusculum.