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Percorremos até aqui um longo caminho. Expusemos que o fim do
homem, sua verdadeira felicidade, está na contemplação, e que,
portanto, este é também o fim natural da educação; comparamos a
este fim diversos outros fins explicando porque seria contra a natureza
humana fazer deles o fim último da educação, ainda que seja isto o
que fazem freqüentemente os homens. Depois expusemos os pressupostos
históricos deste modo de entender a educação; expusemos também os
pressupostos psicológicos que o fundamentam. A seguir expusemos os
requisitos pedagógicos próximos de uma educação que tenha como meta
a contemplação, isto é, o cultivo da virtude e da inteligência.
Expusemos depois também outros requisitos mais remotos. Finalmente,
enquadramos tudo isto dentro de uma perspectiva metafísica mais ampla,
fundamento último da natureza humana e de sua educação.
Enquanto prosseguíamos em nossa exposição, o leitor deste trabalho
deve ter-se perguntado se um sistema educacional como o descrito neste
trabalho é algo efetivamente realizável. Certamente, considerado em
si mesmo, nada há nele que impeça de ser realizado; não parece
conter contradições internas e, historicamente, a Academia de
Platão e o Mosteiro de São Vitor foram exemplos de sua
factibilidade. Mas não é este o sentido da pergunta que o leitor
deve ter-se feito. Não se trata de saber se esta educação é
realizável quando considerada em si mesma, mas sim se ela é
realizável dentro do contexto de uma sociedade concreta como a do
Brasil, por exemplo, ou a de qualquer país do mundo. Como seria
possível implantar um sistema educacional como o descrito neste
trabalho? Haveria algum Ministro da Educação que se atreveria a
propor uma Lei de Diretrizes e Bases com fundamento neste trabalho?
E se houvesse, haveria algum Congresso que teria coragem de
aprová-lo? E ainda que a tivesse, como fazer para implantar tal
coisa? Onde encontrar os professores que sequer entendessem o que se
pretenderia? Quem iria formar tais professores? Haveria candidatos
para este Magistério? Ainda que os houvesse, a sociedade aceitaria
semelhante tipo de ensino? Seria pelo menos capaz de entendê-lo?
Não acabaria ela exigindo uma educação tal como era antes? Porque
se as escolas que temos hoje oferecem uma Pedagogia diferente da que
foi descrita neste trabalho é porque há motivos para tanto; há
necessidades sociais que precisam ser atendidas que fazem com que a
educação oferecida seja deste modo e não daquele outro.
Com isto entramos no próprio centro do presente capítulo. Como deve
organizar-se uma sociedade para que possa existir um sistema
educacional cuja meta final seja a contemplação da verdade?
Perguntar isto é perguntar pelos pressupostos políticos da educação
que viemos descrevendo neste trabalho.
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