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Dissemos que a virtude é um hábito eletivo que opera segundo a razão
reta, coisa possível nas virtudes morais por estarem elas no apetite
que é racional por participação, cabendo à razão reta determinar a
escolha do termo médio da operação, afastando-a tanto do excesso
como do defeito.
Para completar o quadro das virtudes principais, iremos agora
investigar as virtudes intelectuais pelas quais a própria razão é
retificada (121).
A. A prudência e o intelecto dos primeiros princípios dos
operáveis.
Há duas virtudes intelectuais às quais cabe a retificação da razão
naquilo que é necessário à operação das virtudes morais, e ambas
têm como sujeito a razão prática.Estas virtudes são a prudência e
o intelecto dos primeiros princípios dos operáveis.
A prudência retifica a razão prática acerca dos operáveis que são
meios para se alcançarem os fins últimos das operações humanas.
Já o intelecto dos primeiros princípios dos operáveis é um hábito
semelhante àquela outra virtude de que já falamos anteriormente e que
também se denomina intelecto; estamos nos referindo ao intelecto dos
primeiros princípios das demonstrações, cujo sujeito é a razão
especulativa e, conforme o próprio nome indica, diz respeito aos
primeiros princípios das demonstrações. Assim como pelo intelecto
dos primeiros princípios das demonstrações a razão especulativa se
encontra corretamente disposta à apreensão dos primeiros princípios
dos silogismos ou raciocínios, pelo intelecto dos primeiros
princípios dos operáveis a razão prática se encontra corretamente
disposta à inteligência dos fins das operações humanas retificadas
pela prudência.
Prudência e intelecto dos princípios dos operáveis têm assim em
comum a retificação da razão prática; mas diferem pelo objeto a que
se referem e pelo modo como operam.
De fato, na prudência pressupõe-se uma certa investigação do
raciocínio que é denominado conselho; já no intelecto dos primeiros
princípios dos operáveis não há raciocínio nem conselho. Ninguém
se aconselha acerca dos fins que, nas operações, são os primeiros
princípios; os fins são pressupostos pelas ações e a eles somos
inclinados por modo de natureza; somente nos aconselhamos acerca dos
meios necessários para obter os fins; se alguma vez raciocinamos para
investigar qual o fim a que devemos tender, é porque este fim, na
verdade, não era o fim último de nossas ações.
Portanto, prudência e intelecto dos princípios dos operáveis são
virtudes que trabalham de modo essencialmente diverso; a prudência diz
respeito àqueles operáveis em que o homem, para agir conforme sua
natureza racional, deve fazer eleição e, portanto, fazer intervir a
razão prática no conselho incluído nesta eleição; já o intelecto
dos princípios dos operáveis apreende estes primeiros princípios por
uma certa conaturalidade para com eles.
Assim se expressa a este respeito Tomás de Aquino na Summa
Theologiae:
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"Na razão especulativa
há coisas naturalmente conhecidas,
acerca das quais é a virtude do intelecto,
e há também outras que são conhecidas
através das anteriores,
que são as conclusões,
acerca das quais é a ciência.
Assim também na razão prática
preexistem certas coisas
que são como princípios naturalmente conhecidos,
que são os fins (últimos) das virtudes morais,
(conhecidos pelo intelecto
dos primeiros princípios dos operáveis),
pois os fins estão para o que é operável
assim como os princípios estão
para o que é especulativo.
Há também na razão prática outras coisas
que são como que as conclusões,
que são as coisas que se ordenam aos fins,
às quais chegamos (por uma investigação
que parte como pressuposto) dos próprios fins.
A prudência diz respeito a estas coisas,
aplicando os princípios universais
às conclusões particulares dos operáveis" (122).
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Pertence, portanto, ao homem prudente, por faculdade deste hábito,
que ele possa bem aconselhar-se a respeito das ações que se ordenam
ao fim último das virtudes (123).
B. A prudência toma seus princípios dos hábitos das virtudes
morais, e não diretamente do intelecto dos primeiros princípios dos
operáveis.
Ocorre, porém, que segundo a doutrina de S. Tomás de Aquino e
Aristóteles, a prudência não toma os primeiros princípios que
pressupõe para sua operação diretamente do intelecto dos primeiros
princípios dos operáveis, mas faz isto apenas de modo mediato,
através dos hábitos das virtudes morais cujo sujeito são as forças
apetitivas.
É por isto que o Comentário à Ética afirma que a prudência
necessita da temperança, e das demais virtudes morais também, como
salvadora de seus princípios (124).
A temperança, diz o Comentário, tem em grego um nome que significa
"salvadora da prudência".
De fato, a temperança, na medida em que modera as deleitações e as
tristezas do tato, salva a estimação dos fins por causa dos quais se
fazem os operáveis. Os fins em vista dos quais são feitos os
operáveis são princípios dos operáveis, por se acharem em relação
aos operáveis assim como os princípios para com as demonstrações.
Ora, quando há uma veemente deleitação ou tristeza, parecerá ao
homem que é ótimo aquilo pelo qual conseguirá a deleitação ou
fugirá da tristeza. Assim, corrompido o julgamento da razão, não
parecerá verdadeiro ao homem o fim que é princípio da prudência
acerca do operável existente, nem apetecerá este fim, nem lhe
parecerá que é necessário escolher e operar todas as coisas por causa
do fim verdadeiro, mas sim por causa do deleitável. Assim, de
fato, qualquer malícia ou hábito vicioso corrompe os princípios das
ações humanas, na medida em que corrompe a reta estimação do fim.
Ora, esta corrupção é maximamente impedida pela temperança. De
onde que se conclui que a prudência necessita da temperança como uma
salvadora de seus princípios (125).
Por isso, embora a prudência esteja no intelecto prático como em seu
sujeito, por causa do que é dita virtude intelectual, todavia não é
virtude intelectual como outras virtudes intelectuais que o são somente
com a razão. Este é o caso da arte e da ciência, mas, no caso da
prudência, esta virtude requer a mais a retidão do apetite.
Sinal de que isto é assim é que o hábito que está apenas na razão
pode ser trazido ao esquecimento, assim como a arte e a ciência, a
não ser que seja hábito natural, como o intelecto. Mas a prudência
não se dá ao esquecimento por falta do costume; ao contrário,
somente é abolida pela cessação do apetite reto, o qual, enquanto
permanece, é continuamente exercido nas coisas que são da
prudência, de tal maneira que chegar-se ao esquecimento não é
possível (126).
C. Extensão da prudência.
A prudência diz respeito tanto ao universal como ao singular, pois a
obra do prudente é bem aconselhar. Ora, ao aconselhar-se, alguém
pode errar de duas maneiras, isto é, tanto acerca do universal como
acerca do particular. É necessário, portanto, que a prudência seja
diretiva tanto do universal como do singular (127).
É sinal de que a prudência não seja somente acerca do universal, mas
também acerca do particular, o fato dos jovens conseguirem tornar-se
doutos em matemática e geometria e até sábios no que diz respeito a
estas ciências, mas não parecer que se tornem prudentes. A causa
disso está justamente em que a prudência é também acerca dos
singulares que só se fazem conhecidos através da experiência. Ora,
os jovens não podem ser experientes, porque para a experiência
requer-se uma multidão de tempo (128).
D. Necessidade da prudência para a operação humana perfeita.
Para a perfeição de qualquer operação humana requer-se não apenas
o hábito da virtude moral, mas também o hábito da virtude da
prudência. De fato, duas coisas são necessárias na obra da
virtude: a primeira é que o homem tenha uma reta intenção do fim, o
que é feito pela virtude moral, na medida em que esta inclina o
apetite para o fim devido; a segunda é que o homem se encontre
corretamente disposto acerca das coisas que se relacionam com o fim, o
que é feito pela prudência, a qual é bem aconselhante, julgante e
preceptiva das coisas que se relacionam para com o fim. Assim, à
obra da virtude concorrem a prudência, que é perfectiva do que é
racional por essência, e a virtude moral, que é perfectiva da parte
apetitiva da alma, que é racional por participação (129).
E. Natureza da prudência.
Deste modo, para que o homem seja virtuoso requer- se a virtude moral
que faz a eleição reta quanto à intenção do fim, enquanto que as
coisas que são feitas por causa do fim já não pertencem à virtude
moral, mas à virtude da prudência que encontra os caminhos que
conduzem ao fim.
Para entendermos melhor a natureza da prudência, deve-se dizer que
na raiz da virtude da prudência encontra-se um princípio operativo
que é chamado dinótica (130).
A prudência não é totalmente a mesma coisa que a dinótica;
todavia, a prudência não pode existir sem a dinótica.
Dinótica significa engenhosidade ou indústria, e é um princípio
operativo tal que por ela o homem pode operar as coisas que se ordenam
à intenção que o homem pressupõe, seja boa ou má, alcançando o
fim através destas coisas que são operadas (131).
Se a intenção é boa, tal engenhosidade é louvável; se a
intenção é má, tal engenhosidade é reprovável.
Só quando a este princípio cognoscitivo que é a dinótica se
acrescenta a virtude moral é que o hábito que daí surge passa a ser
chamado de virtude da prudência.
F. Necessidade das virtudes morais para a operação da prudência.
A dinótica somente pode ser chamada de prudência se for acompanhada
da presença das virtudes morais que a ordenam a um fim bom e
louvável. Sem as virtudes morais, pode existir a dinótica, mas ela
não constituirá mais a prudência, nem sequer terá natureza de
virtude.
A razão desta afirmação é evidente.
Toda virtude se relaciona para com o bem. Ora, assim como os
silogismos ou raciocínios especulativos tem seus princípios, assim
também é princípio dos demais operáveis que tal ou qual fim seja
tido como bom e ótimo. Deste modo, ao que é temperante será ótimo
e será um princípio alcançar o termo médio da concupiscência do
tato. Mas isto somente parecerá ótimo ao virtuoso que possui o
correto julgamento acerca dos fins, já que a virtude moral faz a reta
intenção acerca do fim, enquanto que a malícia, oposta à virtude,
perverte o julgamento da razão e faz mentir acerca dos fins, que são
princípios acerca do que é prático (132). Ora, ninguém pode
raciocinar corretamente se errar acerca dos princípios. Portanto,
como pertence ao prudente raciocinar corretamente acerca dos
operáveis, torna- se manifesto que é impossível ser prudente aquele
que não é virtuoso, assim como não pode ter ciência aquele que
errar acerca dos princípios da demonstração (133).
Fica assim demonstrado como não pode existir a virtude da prudência
sem as virtudes morais.
G. Necessidade da prudência para a operação das virtudes morais.
Acabamos de expor como S. Tomás de Aquino mostrou ser impossível
existir a virtude da prudência sem as virtudes morais.
Mas ele também, logo a seguir, nos mostra o outro lado da questão,
e afirma que do mesmo modo não podem existir as virtudes morais sem a
prudência.
De fato, assim como a prudência pressupõe a dinótica, assim
também as virtudes morais pressupõem as virtudes naturais.
As virtudes morais são as virtudes perfeitas. Elas, porém,
pressupõem a existência de virtudes naturais assim como a prudência
pressupõe a dinótica. Do mesmo modo como a dinótica não é
totalmente a mesma coisa que a prudência, mas algo situado em sua
raiz, assim também as virtudes naturais não são totalmente a mesma
coisa que as virtudes morais, mas algo situado na raiz das mesmas.
A realidade das virtudes naturais é evidente pelo fato de que os
costumes singulares das virtudes ou dos vícios parecem existir em
alguns homens naturalmente; de fato, imediatamente desde o seu
nascimento alguns homens parecem ser justos, temperantes ou fortes por
uma disposição natural, pela qual são inclinados à obra das
virtudes.
Estas virtude naturais podem originar-se no homem de três modos.
Primeiro, por parte da razão, pois existem no homem por natureza os
primeiros princípios dos operáveis humanos, como por exemplo, que a
ninguém se deve maltratar, e assim por diante.
Segundo, as virtudes naturais podem originar-se por parte da
vontade, que é por si mesma naturalmente movida ao bem inteligido,
como a um objeto próprio; estes dois primeiros modos são comuns a
todos os homens.
Há ainda um terceiro modo pelo qual uma virtude natural pode
originar-se no homem, o qual é por parte do apetite sensitivo, na
medida em que por uma compleição natural alguns são mais dispostos à
ira, outros à concupiscência ou a outras paixões, alguns mais e
outros menos (134).
Mas a virtude moral, que é a virtude perfeita, está para a virtude
natural assim como a prudência está para a dinótica. Prudência e
dinótica, conforme já explicado, embora não sejam inteiramente a
mesma coisa, todavia têm alguma semelhança entre si. A prudência
não pode existir sem a dinótica e é mais do que a dinótica: a
prudência acrescenta à dinótica o fato de não poder se realizar sem
a virtude moral, a qual não é necessária à dinótica (135).
Assim também ocorre com a virtude moral.
Embora alguns sejam naturalmente fortes ou justos, todavia requer-se
naqueles que são naturalmente tais algo para que estas virtudes
naturais existam em nós segundo um modo mais perfeito, porque estes
hábitos naturais mostram-se ser nocivos a não ser que esteja presente
a discrição do intelecto.
Assim como no movimento corporal, se o corpo é movido fortemente sem
estar a vista a dirigi-lo, aquilo que é movido é fortemente lesado,
assim também se alguém possuir uma forte inclinação à obra de
alguma virtude moral e não usar discrição na obra daquela virtude
moral, acontecerá uma grave lesão ou do próprio corpo, como
naqueles que são inclinados à abstinência de alimentos sem
discrição, ou nos bens exteriores, como naqueles que são inclinados
à liberalidade, e assim por diante nas demais virtudes.
Mas se o intelecto coexiste na operação de tais inclinações, de
maneira que o homem passe a operar com discrição, então suas
operações muito diferirão segundo a excelência da bondade, e o
hábito que será responsável por tais operações feitas com
discrição será própria e perfeitamente virtude.
Ora, é isto que são as virtudes morais, pois somente elas são
própria e perfeitamente virtudes.
Assim, portanto, como na parte operativa da alma há duas espécies
de princípios operativos, que são a dinótica e a prudência, assim
também na parte apetitiva da alma haverá duas espécies de princípios
operativos, que são a virtude natural e a virtude moral, e esta
última, conforme acabamos de demonstrar, não pode existir sem a
prudência (136).
De onde que se conclui de tudo quanto foi dito que não é possível
homem algum ser bom segundo a virtude moral sem a prudência, nem
também ser prudente sem a virtude moral (137).
H. Interdependência entre as diversas virtudes.
Chegando a este ponto do Comentário à Ética, considerando que
nenhuma virtude moral pode se dar sem a prudência nem a prudência pode
se dar sem a virtude moral, S. Tomás, seguindo a Aristóteles,
pergunta se é possível ao homem possuir alguma virtude sem possuir
também as demais.
De fato, pareceria, diz ele, que as virtudes morais possam ser
separadas entre si, de tal maneira que uma virtude possa ser possuída
sem a outra; pois vemos que um mesmo homem não é inclinado a todas as
virtudes, mas um à liberalidade, outro à temperança, e assim por
diante.
Isto acontece porque é fácil alguém ser conduzido àquilo ao qual é
naturalmente inclinado, porém é difícil conseguir algo contra o
impulso da natureza.
Se, portanto, algum homem está naturalmente disposto a uma virtude e
não a outra, alcançará esta virtude à qual está naturalmente
disposto enquanto que não alcançará outra virtude à qual não esteja
naturalmente disposto.
Portanto, parece possível possuir alguma virtude sem possuir as
outras (138).
Porém, se analisarmos mais atentamente este argumento, diz Tomás
de Aquino, veremos que o que foi dito é correto no que diz respeito
às virtudes naturais, não porém no que diz respeito às virtudes
morais.
De fato, nenhuma virtude moral pode ser possuída sem a prudência, e
assim, quando a prudência, que é uma só virtude, existe em
alguém, simultaneamente existirão com ela todas as demais virtudes
morais, das quais nenhuma existiria se a prudência não existisse.
Se houvesse diversas prudências acerca das matérias das diversas
virtudes morais, assim como há diversos gêneros de coisas
artificiais, não haveria impedimento para uma virtude moral existir
sem que uma outra existisse, cada uma delas tendo a prudência a si
correspondente.
Mas isto não pode ser, porque os princípios da prudência são os
mesmos para toda a matéria moral, e portanto, por causa da unidade da
prudência, todas as virtudes morais são conexas entre si (139).
Este argumento de S. Tomás no Comentário à Ética poderá ficar
mais claro se entendermos melhor a natureza da unidade da prudência,
que é o que faz com que todas as virtudes morais sejam conexas entre
si.
A unidade da prudência é mais facilmente compreendida se nos
lembramos que a prudência é na realidade uma forma de conhecimento,
assim como as ciências e as artes. Ela é, de fato, enumerada entre
as virtudes intelectuais, assim como as ciências, as artes e o
intelecto. Mas ela é mais semelhante às ciências e às artes do que
ao intelecto, porque o intelecto diz respeito ao conhecimento imediato
dos princípios indemonstráveis em que se baseiam os demais
conhecimentos, enquanto que a prudência, as ciências e as artes
dizem respeito a certos conhecimentos que não são imediatos no homem,
mas que se originam a partir do conhecimento de determinados princípios
apreendidos como verdadeiros.
Assim, o objetivo da prudência é um determinado conhecimento, isto
é, o conhecimento do termo médio das ações humanas operadas pelas
virtudes morais, não porém naquelas ações que são os fins últimos
destas virtudes morais, mas naquelas que se ordenam a estes fins.
A prudência difere da ciência por ser a ciência um conhecimento cuja
finalidade é o próprio conhecimento, enquanto que a prudência é um
conhecimento cuja finalidade é a ação, nisto se assemelhando à
arte, que é um conhecimento cuja finalidade é a obra de arte.
A principal diferença, porém, entre a prudência enquanto
conhecimento e as ciências e as artes enquanto conhecimento é bastante
outra, e consiste no seguinte: enquanto os princípios do conhecimento
que é a ciência e as artes são princípios que residem também na
inteligência, os princípios do conhecimento que é a prudência não
estão na inteligência, mas nas corretas inclinações das virtudes
morais.
A prudência, assim, é uma espécie de ciência prática cujos
primeiros princípios, à diferença das demais ciências, não estão
na esfera da inteligência, mas na das virtudes morais, as quais se
referem às paixões e operações humanas.
Ora, ocorre que a experiência mostra existir uma manifesta conexão
entre as paixões e operações que se dão na vida humana: de uma
paixão se origina outra, e das paixões se originam operações e vice
versa, de tal modo que toda a matéria das virtudes morais é um
conjunto de muitas partes mutuamente ordenadas.
Por esta razão as matérias das diversas virtudes morais não se
ordenam entre si como diversas ciências cujas matérias são desconexas
uma da outra, mas como os diversos princípios de uma mesma ciência.
Portanto, assim como um geômetra que errasse sobre um dos princípios
da geometria não poderia pretender o conhecimento da ciência
geométrica, porque tal erro se estenderia a toda esta ciência, assim
também não pode ser dito prudente, isto é, alguém que possui o
conhecimento de fazer retas eleições em matéria moral, aquele que
errasse acerca de um só dos princípios em que se baseia tal
conhecimento, pois o defeito da prudência em uma parte da matéria
moral induziria ao erro em todas as suas demais partes (140).
Daqui se segue que, quanto à correta inclinação do termo médio,
todas as virtudes crescem no homem simultaneamente em igualdade de
proporção, assim como os dedos de uma mão, embora, materialmente
falando, um homem possa ser mais disposto, pela natureza ou pelo
costume, ao ato de uma determinada virtude do que de outra (141).
Se, pois, o homem se tornar prudente, possuirá todas as demais
virtudes simultaneamente; se não se tornar prudente, porém, poderá
possuir alguma inclinação especial à paciência ou à temperança,
mas estas não serão verdadeiras virtudes, por causa do defeito da
eleição reta proveniente da prudência, que será corrompida pela
falta das demais virtudes morais (142).
Referências
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(121) In libros Ethicorum Expositio, L. VI, l. 1,
1109; l. 1, 1113.
(122) Summa Theologiae, IIa IIae, Q. 47 a.6.
(123) Idem, loc. cit.. In libros Ethicorum Expositio, L.
VI, l. 4, 1162.
(124) Idem, L. VI, l. 4, 1169. (125) Idem,
L. VI, l. 4, 1169-1170. (126) Idem, L. VI,
l. 4, 1174. (127) Idem, L. VI, l. 7, 1212.
(128) Idem, L. VI, l. 7, 1208. (129) Idem,
L. VI, l. 10, 1268-1269. (130) Idem, L.
VI, l. 10, 1271-1272. (131) Idem, L. VI,
l. 10, 1272-1273. (132) Idem, L. VI, l.
10, 1273-1274. (133) Idem, L. VI, l. 10,
1274. (134) Idem, L. VI, l. 11,
1276-1277. (135) Idem, L. VI, l. 10,
1273. (136) Idem, L. VI, l. 11,
1278-1280. (137) Idem, L. VI, l. 11,
1285. (138) Idem, L. VI, l. 11, 1286.
(139) Idem, L. VI, l. 11, 1287.
(140) Summa Theologiae, Ia IIae, Q. 65 a.1, ad 3.
Idem, Ia IIae, Q. 65 a.1, ad 4.
(141) Idem, Ia IIae, Q. 66 a.2. (142) Idem, Ia
IIae, Q. 65 a.1.
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