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No mosteiro beneditino de Gandersheim - na época de nossa educadora
(em torno do ano 1000) um importante centro cultural, onde havia
monjas de cultura esplendorosa - Rosvita, após um hiato de
séculos, re-inventa o teatro, re-introduz a composição teatral no
Ocidente. E compõe seis peças de caráter educativo (Sapientia,
por exemplo, traz embutida toda uma aula de matemática!) - que
combinam drama e comédia. Entre inúmeras outras situações
cômicas, destacamos aqui a hilariante seqüência das cenas IV a
VII da peça Dulcício.
O governador pagão, Dulcício , está encarregado da impossível
tarefa de demover três virgens cristãs - Ágape, Quiônia e Irene
– de sua fé. Confiante em seu poder de sedução e atraído pela
beleza das moças, manda trancafiá-las na despensa, ao lado da
cozinha do palácio, e, de noite – enquanto elas cantam hinos a seu
Deus -, Dulcício vai invadir a despensa, mas tomado de súbita
loucura, equivoca-se e entra na cozinha e acaba, sofregamente,
abraçando e beijando os caldeirões e panelas, tomando-as pelas
prisioneiras, que o espiam pelas frestas e vêem-no cobrir-se de
fuligem etc. Só quem ignora o papel do lúdico na pedagogia medieval
pode se surpreender que uma mulher, uma monja, numa composição
devota, para ser encenada no mosteiro, inclua uma cena “escabrosa”
como essa.
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