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A conhecida sentença de Píndaro, "homem, torna-te o que és",
estimulando à pessoa a elevar-se no seu próprio ser segundo as leis
que nele se encontram impressas, constitui, de fato, um exato resumo
da lei moral.
Certamente, tornar-se aquilo que se é coincide com chegar à
plenitude do próprio ser; consiste em possuir plenamente o seu ser,
de tal modo que não lhe falte nem se lhe possa acrescentar mais nada.
Eqüivale a estar completamente feito. E é justamente este o
objetivo da moral.
Ora, expressar o conteúdo da moral dizendo "torna-te o que és"
supõe aceitar uma noção de ser que, entre outras coisas, admita que
o homem possa exercer o seu ser segundo graus diferentes de perfeição
sem deixar de ser, em nenhum momento, aquilo que ele é.
Pretende-se nestas linhas, que necessariamente terão um conteúdo
sintético -mas que se manterão sempre na ótica da filosofia do ser[1]
na qual o realismo moral é solidário e dependente do gnoseológico
-[EJP1], mostrar:
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1) que as realidades básicas da moral harmonizam-se apenas com
aquelas metafísicas denominadas do ser, que concebem o ser como a
primeira perfeição, que contém e origina todas as outras. Qualquer
afastamento, por pequeno que seja, dessas metafísicas do ser, assim
entendidas, conduzirá, mais cedo ou mais tarde, à implosão do
sistema moral que tivesse pretendido assentar-se numa noção de ser
diferente;
2) que a noção do ser implícita nos escritos de Tomás de
Aquino, ao reduzir todas as perfeições ao ser, supera a concepção
formalista do ser e permite uma compreensão adequada das realidades
básicas da vida moral. O posterior abandono da noção tomista de
ser, de fato, mergulhou o homem moderno numa cisão entre pensamento e
vida, causador de graves problemas de ordem moral e social;
3) e que a noção do ser que se extrai da obra de Raimundo Lúlio
não difere essencialmente daquelas apresentadas pelas metafísicas do
ser, e por isso a moral luliana sobre ela assente é uma moral
permanente e adequada à pessoa humana.
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