A NOÇÃO DE SER QUE SE HARMONIZA COM A MORAL.

Resta agora relacionar as principais características da autêntica noção de ato de ser de modo a destacar seu papel de base e fundamento da atividade moral.

1) O ser é dinâmico e a profundidade desse dinamismo expressa-se justamente mediante a noção de ato.

2) Deus, o ato puro de ser, com um conteúdo e riqueza de perfeições infinitos, é causa exemplar, ou modelo, dos entes finitos, pois conhecendo-se infinitamente, conhece a infinita imitabilidade do seu Ser e expressa em Si mesmo as idéias das coisas que depois, se quiser, criará. Deus é, portanto, o fundamento ativo da possibilidade ideal do ser finito.

3) Deus é também causa eficiente dos seres finitos, pois, segundo a medida de suas idéias, faz fluir de um modo estável o ser, comunicando-o per participationem. Os seres finitos são reais, portanto, por serem pensados e enquanto são pensados e queridos por Deus.

4) É esse ato finito de ser que realiza o ente finito, atualizando também a essência, os acidentes, as potências operativas e os atos.

5) O ato de ser de cada ente é causa eficiente e causa final de toda a sua operatividade.

6) O ato de ser é ato de todos os atos do ente.

7) No homem, o ato de ser confere uma vida espiritual cujas operações próprias são o conhecimento e o amor.

8) O ato de ser do homem tem que ser visto como uma atividade que o mantém vivo continuamente e, através das potências operativas, se expande em atos. A unidade do homem e de toda a sua operação provém, pois, do seu ato de ser.

9) O homem, pelo seu ato de ser, possui apenas num sentido limitado -dado pela essência humanidade- o caráter de atualidade infinita que o ser tem por si; por isso, pode aperfeiçoar-se, intensificando e condensando a sua atualidade por meio dos atos segundos acidentais.

10) Os atos segundos acidentais que não intensifiquem a atualidade do ser do homem são imorais. É com eles que o homem se transforma no que Sartre, no seu desespero, definia exatamente como "um ser que não é o que é e é o que não é".