II.3. ROSVITA DE GANDERSHEIM

No mosteiro beneditino de Gandersheim - na época de nossa educadora (em torno do ano 1000) um importante centro cultural, onde havia monjas de cultura esplendorosa - Rosvita, após um hiato de séculos, re-inventa o teatro, re-introduz a composição teatral no Ocidente. E compõe seis peças de caráter educativo (Sapientia, por exemplo, traz embutida toda uma aula de matemática!) - que combinam drama e comédia. Entre inúmeras outras situações cômicas, destacamos aqui a hilariante seqüência das cenas IV a VII da peça Dulcício.

O governador pagão, Dulcício , está encarregado da impossível tarefa de demover três virgens cristãs - Ágape, Quiônia e Irene – de sua fé. Confiante em seu poder de sedução e atraído pela beleza das moças, manda trancafiá-las na despensa, ao lado da cozinha do palácio, e, de noite – enquanto elas cantam hinos a seu Deus -, Dulcício vai invadir a despensa, mas tomado de súbita loucura, equivoca-se e entra na cozinha e acaba, sofregamente, abraçando e beijando os caldeirões e panelas, tomando-as pelas prisioneiras, que o espiam pelas frestas e vêem-no cobrir-se de fuligem etc. Só quem ignora o papel do lúdico na pedagogia medieval pode se surpreender que uma mulher, uma monja, numa composição devota, para ser encenada no mosteiro, inclua uma cena “escabrosa” como essa.