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Tomás é muito estrito no uso da palavra "sinônimo": para ele,
são sinônimas somente palavras de significados absolutamente
equivalentes, isto é, que não só indicam a mesma realidade
(res), mas também o mesmo aspecto, a mesma ratio. Diz, por
exemplo: "Embora essas palavras signifiquem a mesma realidade, não
são sinônimas porque não a enfocam sob o mesmo aspecto"[14].
Assim, para Tomás, duas (ou mais) palavras são sinônimas se (e
somente se...) em quaisquer contextos puderem ser comutadas sem real
alteração de sentido: o exemplo que dá, no Comentário às
Sentenças, é tunica, vestis e indumentum. O que quer que se
afirme (ou negue) de tunica, será afirmado (ou negado...)
também de vestis[15]. É como trocar "meia-dúzia" por
"seis"... Nós, hoje, com me-nos precisão, admitimos como
sinônimas justamente palavras que - embora com diferentes títulos ou
ênfases - apontam para a mesma realidade. Assim, de "sinônimo",
diz o Aurélio: "palavra que tem quase (sic) a mesma significação
que outra". Já o Larousse, explicita melhor: "mots qui se
présentent dans la langue avec des sens très proches et qui se
différencient entre eux par une nuance (trait particulier)". Já o
Oxford distingue e registra dois sentidos, o estrito e o lato:
"Synonym - 1. Strictly, a word having the same sense as another
(in the same language); but more usually (grifo nosso), either or
any of two or more words (in the same language) having the same
general sense, but possessing each of them meanings which are not
shared by the other or others, or having different shades of meaning
(grifo nosso) or implications appropriate to different contexts:
e.g. serpent, snake; ship, vessel etc.".
Para Tomás, pelo contrário, como dizíamos, duas palavras podem
referir-se à mesma e única realidade e, no entanto, não serem
sinônimas: porque diferentes são suas rationes. É o caso, por
exemplo, dos diversos nomes pelos quais designamos a Deus ou seus
atributos (Criador, Onipotente, a Bondade, a Justiça etc.):
todos incidem sobre a mesma realidade, mas não são
sinônimos[16]. Seja como for, do ponto de vista metodológico,
são de especial interesse para o filósofo, dois pontos: 1) a busca
de contextos da linguagem comum em que uma palavra não pode - sem
alteração de sentido - ser substituída por nenhum "sinônimo":
este é um fecundo procedimento para atinar com a realidade
antropológica significada pelo vocábulo e 2) O segundo ponto a
destacar é o fato de que cada "sinônimo" tem sua ratio, aponta para
um determinado aspecto diferente da mesma e única realidade: tal como
quando falamos em "casa", "lar", "domicílio" ou
"residência". Em si, a realidade a que se referem estas palavras
é a mesma e única edificação - na Rua Tal, número tal -, mas
ninguém diz "domicílio, doce domicílio", nem a Prefeitura cobra
impostos sobre meu lar, etc.[17]. Essa multiplicidade de formas
de linguagem para a mesma res tem importância na análise que Tomás
faz do amor.
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