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A primeira realidade metafísica, suporte de toda a ordem moral, é o
ente.
O ente emerge pelo ato de ser. Todavia, esse emergir não deve ser
entendido como um mero manifestar-se, um mostrar-se ou patentear-se
do ente. O ato de ser estrutura intrinsecamente tudo o que se encontra
no ente. Convém, portanto, distinguir entre uma primeira
atualização pela qual o ato de ser realiza a essência, fazendo
surgir assim a substância -o ato de ser como ato da substância-, e
as sucessivas atualizações que fundamentarão toda a operatividade do
ente.
O ato de ser não é, contudo, um mero actus essentiae, é bem
mais:
Repare-se que no ente se encontram muitos atos: o ato fundamental e
primeiro, pelo qual o ente é; e todos os outros atos suplementares,
ou segundos, isto é, os atos entitativos acidentais e os operativos,
pelos quais o ente já constituído opera de um ou outro modo. O ato
de ser, o ato primeiro do ente, distingue-se de todos eles, porque
faz que o ente seja ente.
É justamente pelo seu ato de ser que o ente participa do ser. O ser
é ato, e de por si, tem uma plenitude infinita; e o ente, pelo seu
próprio ato de ser, recebe em parte, isto é, de um modo limitado,
essa plenitude do ser. Ao participar do ser, o ente não arranca uma
parte do ser, pois o ser não tem partes. O que ocorre é que o ser
é restringido na sua plenitude, de por si infinita, segundo a força
de apreensão da essência receptora. Todo o conteúdo real do ente
provém do ato de ser; a potencialidade da essência restringe e dá a
medida desse conteúdo. Por isso deve dizer-se que o ato de ser é
actus essentiae por ser ato de ser. As características reais do ser
vivo -o viver-, do ser inteligente -o pensar e o amar-, etc. por
exemplo, não têm sua causa eficiente na essência, mas no ser, no
ato de ser.
Como conseqüência dessa origem no ser do conteúdo do ente, embora
possa dizer-se que o ente tem o ser à medida da essência, o certo é
afirmar que os diferentes graus de ser que se encontram nos entes se
originam na participação no ser[2].
Mais ainda. O extremado dinamismo intrínseco ao ser, sua riqueza
-de por si infinita-, além de constituir o ente, constitui, ao
mesmo tempo, suas potências e os atos correspondentes. A última das
sucessivas atualizações que realizará o ato de ser é a de tornar
reais os atos que o ente põe mediante suas potências operativas.
Entra-se assim na consideração de outra das realidades metafísicas
básicas da vida moral: a causalidade eficiente.
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