|
Enquanto OLIVI censurava aos filósofos seu saber praticamente sem
utilidade, Roger BACON (+ 1292) punha mãos à obra para
reformar a ciência, a fim de que ela, finalmente, viesse a ser
útil. Raimundo LÚLIO (+ 1316) seguiu-o. Mas tudo o que
fez foi original. Carl PRANTL denominava-o "talentoso
cabeça-dura" [1] ou, mais brevemente, "semilouco"[2] ; o
próprio LÚLIO denominava-se o "louco": "Jo sóc Ramon lo
foll" (Blanquerna c. 79). Caracterizava-se como "vir
phantasticus" para demonstrar, então, que a verdadeira compreensão
é considerada fantasia. LÚLIO foi um outsider; sua obra
demonstra a riqueza da paisagem histórica no começo do século
XIV. Os juízos sobre ele estendem-se do "semilouco" de
PRANTL ao elogio segundo o qual LÚLIO seria o mais
conseqüente e homogêneo de todos os filósofos cristãos (E. W.
PLATZECK). Em muitas exposições do pensamento medieval -
p. ex., no opúsculo de Josef PIEPER sobre a escolástica
[3] - procura-se em vão pelo nome de LÚLIO. Esse silêncio
é, em todo caso, injustificado, quando se fez uma avaliação
histórica ou de examinar a conexão entre as Idades Média e
Moderna: LÚLIO foi uma fonte essencial para Giordano
BRUNO; Nicolau de CUSA não possuía tantos textos de nenhum
outro pensador quanto de LÚLIO; DESCARTES polemizava
contra ele; LEIBNIZ e LESSING estudaram-no. Não se
pode prescindir do Lulismo nas discussões sobre o método científico
do início da Idade Moderna. No século XIV ele foi ao encontro
dos movimentos de reforma joaquimitas. A ciência escolástica de
Paris encarava-o de modo preconceituoso, se bem tenha havido lá
tentativas regulares de elucidar de forma sistemática a doutrina de
LÚLIO. Em 1376, chegou-se a uma condenação papal de teses
lulianas que, porém, seria suspensa em 1419. A repercussão de
LÚLIO associou-se, freqüentemente, a experimentos de alquimia.
Contudo, ele próprio nada tinha que ver com isso, sim, porém, com
a astrologia e uma reforma da medicina.
Na investigação científica, a imagem de LÚLIO é oscilante, e
é difícil informar-se sobre ele com base nas próprias fontes - a
envergadura de seus escritos já assusta: o catálogo de suas obras
conta, segundo PLATZECK, 292 títulos. Foram escritas
parte em latim, parte em catalão. LÚLIO também escreveu em
árabe, mas esses textos se perderam ou foram preservados apenas em
traduções. Essa massa enorme é difícil de dominar; ajuizá-la
exigiria a competência não apenas de um historiador da filosofia, mas
também a de um romanista - LÚLIO é tido como o pai da literatura
catalã - e a de um historiador da ciência. Vários textos ainda
não foram editados. Mas o estudo de LÚLIO tem-se tornado mais
fácil nos últimos decênios: a grande edição de Mogúncia,[4]
que era rara, está novamente disponível desde 1965, numa
reimpressão em 8 volumes. As obras tardias de LÚLIO aparecem,
ininterruptamente, nos marcos da Opera Latina,[5] e também seus
escritos catalães podem ser estudados.[6] Uma introdução à vida
e ao pensamento de LÚLIO encontra-se no esboço de autobiografia
(Vita coetanea), publicado em alemão, em 1964, em
Düsseldorf (E. W. PLATZECK), e cujo texto crítico em
latim está disponível, desde 1980[7] . Quem quiser
iniciar-se no pensamento de LÚLIO, pode agora utilizar os
excertos de seus escritos que Nicolau de CUSA compilou para si
mesmo[8] . A elucidação do conteúdo do pensamento de LÚLIO
também fez alguns progressos[9] .
|
|