O QUE É, DE QUE É, E POR QUE É O HOMEM.

Lúlio concebe o homem como um ser no qual alma e corpo se unem perfeitamente. Nele existe o vegetar, o sentir, o imaginar, o raciocinar e o movimento. A forma e a matéria do homem constituem o corpo no qual há sensibilidade e pela qual se possuem os cinco sentidos.

Vê-se, portanto, o corpo humano como sujeito da sensibilidade, mas trata-se de um corpo todo especial, de um corpo, como Lúlio diz, "vegetado, sensitivado, imaginado, raciocinado e movido para ser corpo humano[48]." A unidade domina todas as potências. Por exemplo, assim como a potência sensitiva, sendo única, diversifica-se através dos cinco sentidos corporais, da mesma maneira também por eles se diversifica a imaginação, retendo contudo a sua disposição, e influenciando no seu operar, embora de modo diferente, segundo o que a potência sensitiva tiver captado.

É pela razão que a alma é racional. Mas a razão tem memória, entendimento e vontade, e as três juntas constituem a alma racional. Por movimento, Lúlio entende a potência motiva, isto é, o movimento no qual o vegetativo, o sensitivo, o imaginativo, e o racional formam um todo único, dominando o racional todas as outras dimensões. Por isso, explica, diz-se que "a alma é forma do corpo, porque domina sobre tudo quanto de vegetativo, sensitivo e imaginativo há no homem, movendo a imaginativa a imaginar, a sensitiva a sentir, e a vegetativa a vegetar."[49]

As diversas atividades espirituais da alma radicam, como explica no livro D'home, em diferentes partes do cérebro, mas o "homem é homem" pela união substancial dos dois constitutivos, a alma e o corpo. O homem, portanto, é um ser composto pela união substancial de uma forma e uma matéria humanas que revelam a sua essência. Lúlio, pensador independente, põe a alma como uma única forma substancial, da qual provêm tanto as atividades intelectuais e espirituais como as sensíveis e as imaginativas.

A vida do homem caracteriza-se pela racionalidade, porque a alma racional traz consigo um tipo especial de vida espiritual que consiste na memória, no entendimento e na vontade. E esse tipo de vida é um modo especial de ser[50]. Por essa alma racional é que também têm ser, além dos atos estritamente espirituais, os atos corporais e os afetivos. Todos os atos do homem participam, segundo o mestre maiorquino, do duplo caráter intelectual e sensível de sua natureza.