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De tudo quanto falamos e das palavras de Hugo de São Vitor podemos
deduzir mais precisamente qual seja a importância do estudo para a vida
da fé. "É necessário levantar-se à oração e pedir a sua
graça", diz Hugo de São Vitor no Didascalicon, "sem a qual
nenhum bem pode ser alcançado e de cuja única boa vontade depende que
sejas conduzido ao efeito da boa obra". Entretanto, logo em seguida
ele acrescenta:
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"Não serás obrigado por ela,
serás ajudado.
Se apenas tu operares,
nada realizarás;
se apenas Deus operar,
nada merecerás".
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Ao dizer que é preciso levantar-se à oração para pedir a sua
graça, e que não seríamos obrigados por ela, mas ajudados, Hugo
quis dizer que a graça não dispensa a operação voluntária das
faculdades humanas. O papel da graça é, em primeiro lugar, o de
elevar sobrenaturalmente as faculdades da alma para torná-las capazes
dos atos da fé e da esperança. Com o advento da caridade, ela se
torna também, no dizer de Tomás de Aquino, uma qualidade da
própria alma, infundida em sua essência, que nos torna participantes
da natureza divina e conatural o exercício das virtudes. Mas, ainda
que conte com todo este auxílio, se o homem resolver "nada operar",
diz Hugo, "nada realizará". E se o homem for conduzido por uma
doutrina ou uma orientação errônea, poderá inclusive atrapalhar,
procurando não operar aquilo para o que a graça, sem obrigar, tende
ou inspira para o seu próprio desenvolvimento. É importante, por
este motivo, um conhecimento preciso não só da natureza e do
desenvolvimento da graça como também dos mistérios de Deus, a cuja
semelhança a graça existe para nos conduzir. Este é o papel do
estudo das Sagradas Escrituras e da ciência que dela deriva, da qual
dizia Santo Tomás de Aquino que seus principais assuntos são
justamente
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"os mistérios da fé
e a perfeição da vida cristã".
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É o papel também de uma direção espiritual consciente, isto é,
uma orientação pessoal por parte de alguém que conheça esta
ciência, tanto quanto possível, pelo estudo e pela experiência.
No caso da fé, que é a primeira manifestação da graça divina no
homem, é evidente que é muito mais fácil que o homem siga mais
docilmente a inclinação e a inspiração da graça se ele ou quem o
orienta, ou ambos, tiverem uma idéia precisa do que é a fé e das
suas possibilidades de desenvolvimento do que se eles tiverem uma idéia
vaga ou mesmo distorcida destas mesmas coisas. Será mais fácil que
eles descubram se na oração são sinceros ao pedirem a fé e o
Espírito Santo , sinceridade que é uma das condições
indispensáveis para a eficácia da oração, se tiverem este
conhecimento do que se a fé for para ambos pouco mais do que apenas um
nome ou um contentar-se em não negar o que Deus ensina.
O estudo das Sagradas Escrituras é, portanto, importante para a
santificação do homem, assim como o é também o estudo da ciência
sagrada. Se não o fossem, as Escrituras não teriam sido inspiradas
por Deus e os homens santos que houve na Igreja não teriam perdido
seu tempo ocupando-se com a ciência sagrada, tendo tantas coisas
importantes para fazer.
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