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O Segundo Livro das Crônicas narra a história de Salomão e dos
dezenove reis que o sucederam no trono de Judá. Aparentemente
trata-se de uma outra interminável sucessão de guerras. Mas sob a
superfície deste enredo a obra utiliza-se precisamente destes fatos
como de um instrumento para nos transmitir verdades e ensinamentos mais
profundos.
Já mencionamos no início deste livro que Salomão foi figura de
Cristo, e que certos fatos narrados pelas Escrituras a seu respeito
são na realidade profecias sobre Cristo. Dele Deus havia prometido
a Davi:
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"Nascer-te-á um filho,
que será um homem de paz;
edificará uma casa ao meu nome,
ele será meu filho,
e eu serei seu pai,
e firmarei o trono de seu reino
sobre Israel para sempre".
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Ora, logo no início de seu reinado, subindo ao trono de seu pai
Davi ainda muito jovem, Salomão dirigiu-se a Deus pedindo-lhe
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"sabedoria e entendimento,
para saber conduzir-se bem
diante do povo".
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Estes são os principais dons do Espírito Santo, e a Escritura,
comentando este pedido de Salomão, afirma que
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"agradou ao Senhor esta oração,
por ter Salomão pedido tal coisa".
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Tal como fêz Salomão, consta que Jesus exortava aos seus
discípulos que, quando orassem, pedissem a Deus a graça do
Espírito Santo:
diz Jesus,
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"sabeis dar coisas boas
aos vossos filhos,
quanto mais o vosso Pai
que está nos céus
dará o Espírito Santo
aos que lho pedirem?"
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A oração que o próprio Deus insiste em pedir que lhe façam não
pode deixar de ser atendida. Deus, de fato, não tardou em responder
à oração de Salomão:
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"Visto que foi esta
a petição que me fizeste",
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disse o Senhor a Salomão,
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"visto que não pediste para ti
nem longa vida,
nem riquezas,
nem a morte de teus inimigos,
mas pediste a Sabedoria,
dou-te um coração tão cheio
de sabedoria e de entendimento
que ninguém antes de ti foi semelhante,
nem se levantará outro depois de ti".
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À semelhança de Salomão, o Novo Testamento também afirma de
Cristo Jesus que nele
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"estão escondidos todos os tesouros
da sabedoria e da ciência".
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"Ele (também) edificará uma casa ao meu nome", prometeu o
Senhor a Davi. A profecia cumpriu-se; Salomão edificou o templo
de Jerusalém, Jesus edificou a sua Igreja. Em uma carta que
escreveu ao rei de Tiro, reproduzida no Segundo Livro das
Crônicas, Salomão explicou seus objetivos ao empreender a
construção do templo:
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"A casa que pretendo edificar
deve ser grande",
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diz Salomão,
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"visto que o nosso Deus é grande
sobre todos os deuses.
Quem poderá ser capaz
de lhe edificar uma casa digna dele,
se o céu e os céus dos céus
não o podem conter?
Faço-o, porém,
somente para que nele
se queime incenso na sua presença".
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Ora, o incenso é uma figura da caridade, aquele fogo que Jesus diz
ter vindo espalhar sobre a terra (Lc. 12, 49), e estar na
presença de Deus é uma virtude muito próxima da fé. De fato, diz
a Escritura, quando Abraão chegou à idade de noventa e nove anos o
Senhor apareceu-lhe e lhe disse:
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"Eu sou o Deus onipotente,
anda na minha presença
e sê perfeito".
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Concedia Deus com estas palavras a Abraão a graça de viver na sua
presença, uma graça também concedida ao profeta Elias, segundo ele
próprio o declara: "Viva o Senhor, em cuja presença eu estou"
(I Reis 17,1; 18,15). Da presença de Deus também o
salmista se admira:
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"Senhor,
tu me sondas, me conheces,
tu me conheces
quando me sento
e quando me levanto.
De longe penetras os meus pensamentos,
vês claramente quando ando
e quando repouso,
observas todos os meus caminhos.
Para onde irei
a fim de ficar longe de teu espírito?
E para onde fugirei
de tua presença?
Se subo aos céus, tu lá estás;
se me prostrar nos infernos,
neles te encontras presente.
Se eu disser:
`Ao menos as trevas me encobrirão,
e, em vez de luz,
me envolverá a noite',
as mesmas trevas
não são escuras para ti,
e a densa escuridão
é para ti como a luz.
É demasiado admirável para mim
esta ciência,
é sublime,
não posso atingí-la".
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Quando Salomão, pois, declara ter construído o Templo de
Jerusalém para que ali se queimasse incenso na presença do Senhor,
estava na realidade descrevendo a fé animada pela caridade de que fala
São Paulo na Epístola aos Gálatas, aquela virtude que torna os
homens justos e faz deles templos do Espírito Santo, motivo pelo
qual Jesus também edificou a sua Igreja:
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"Aproximai-vos de Cristo",
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diz São Pedro,
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"pedra viva,
eleita e estimada por Deus,
também vós,
como pedras vivas.
Vinde formar um templo espiritual
para um sacerdócio santo,
a fim de oferecer sacrifícios espirituais,
agradáveis a Deus por Jesus Cristo.
Sois uma estirpe eleita,
sacerdócio real,
gente santa,
povo trazido à salvação,
para tornardes conhecidos
os prodígios dAquele
que vos chamou das trevas
para a luz admirável".
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