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Um exame superficial diria que o livro de Josué é essencialmente uma
narrativa de uma série de batalhas empreendidas pela conquista da
Palestina. De fato, o enredo histórico deste livro é este, mas
ele é apenas a superfície da obra. Tal como o livro de Josué, a
vida de todo homem sobre a terra também é uma série de batalhas
empreendidas por alguma finalidade, mas em muitas destas vidas há uma
essência que está muito além da narrativa histórica destas lutas.
Sem dúvida alguma, Josué foi uma destas vidas.
Principal personagem do livro que leva o seu nome, Josué foi o
sucessor de Moisés no comando do povo judeu. Seu livro narra como o
povo escolhido, após 40 anos de estadia no deserto, atravessou o
rio Jordão e, em uma série de campanhas militares, nas quais
freqüentemente entravam em condições de inferioridade, venceram e
dominaram os povos que habitavam a terra prometida. Muito faltava
ainda para que se completasse a conquista desta região quando Josué
veio a falecer.
A morte do valoroso comandante deixava para os que ficavam muitos
problemas pendentes; além das conquistas a fazer, as terras já
conquistadas teriam que ser defendidas contra os inimigos e seria de se
esperar que Josué, antes de morrer, deixasse orientações precisas
sobre a necessidade de se formar um exército regular, como mantê-lo
bem treinado, fortemente armado e ocupando todas as posições
estratégicas. Josué, porém, não fêz nada disso; o grande
estrategista, vencedor de inúmeras batalhas impossíveis, em suas
últimas palavras mostrou pouca ou mesmo nenhuma preocupação a
respeito de questões militares. Em vez disso, deixou aos israelitas
conselhos bastante diversos como sendo o seu testamento:
disse Josué em seu leito de morte,
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"de idade muito avançada,
e hoje entro no caminho de toda a terra.
Vós vedes o que o Senhor vosso Deus
fêz a todas as nações circunvizinhas,
e como Ele mesmo combateu por vós.
Posto que restam ainda muitas nações a vencer,
o Senhor vosso Deus as exterminará
e as retirará de vossa vista,
e vós possuireis este país,
como Ele vos prometeu.
Somente será preciso que sejais fortes e solícitos
em observar todas as coisas que estão escritas
no livro da Lei de Moisés,
e que permaneçais unidos ao Senhor vosso Deus,
como tendes feito até este dia.
Então o Senhor vosso Deus exterminará
à vossa vista nações grandes e fortíssimas,
e ninguém vos poderá resistir.
Um só de vós porá em fuga mil homens dos inimigos,
porque o Senhor vosso Deus combaterá por vós,
como prometeu.
Somente tende grandíssimo cuidado
em amar o Senhor vosso Deus,
em cumprir o mandamento
e a Lei que Moisés, servo do Senhor,
vos prescreveu,
isto é, que ameis o Senhor vosso Deus,
que andeis em todos os seus caminhos,
observeis os seus mandamentos,
estejais unidos a Ele
e o sirvais de todo o vosso coração
e toda a vossa alma".
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Eis a alma de Josué, um exemplo de fé, através do qual as
Escrituras nos querem ensinar a nós, homens de hoje. Em suas
últimas palavras, depois de nos ter ensinado pelo testemunho de sua
vida, Josué nos propõe o mesmo ensinamento que Jesus nos deu no
Sermão da Montanha:
diz Jesus,
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"que não semeiam nem ceifam,
nem fazem provisões nos celeiros,
e contudo vosso pai celeste as sustenta.
Porventura não valeis vós
muito mais do que elas?
Considerai como crescem
os lírios do campo;
não trabalham nem fiam,
e no entanto nem Salomão,
em toda a sua glória,
se vestiu como um deles.
Se, pois, Deus veste assim
uma erva do campo,
que hoje existe,
e amanhã é lançada no forno,
quanto mais a vós,
homens de pouca fé!
Buscai, pois, em primeiro lugar
o Reino de Deus e a sua justiça,
e todas as demais coisas
vos serão acrescentadas".
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Vemos, pois, que a mensagem do livro de Josué é a mesma que a do
Sermão da Montanha, e que estão muito longe da verdade aqueles que
imaginam que, enquanto o Antigo Testamento nos fala de guerras, o
Novo nos fala da vida do espírito.
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