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O que foi dito não parecerá obscuro a quem acolheu com retidão o
mistério de nossa fé. Há certamente um só ser entre todos, que
existia antes dos séculos e que foi criado nos últimos tempos, embora
não tivesse necessidade de ser criado no tempo (Col 1, 17).
Com efeito, como teria tido necessidade de nascimento temporal Aquele
que existia antes dos tempos e dos séculos? Por nós, que por causa
de nossa inconsideração nos havíamos afastado do ser, aceitou ser
criado como nós para levar novamente a ser ao que se havia afastado do
ser. Este é o Deus Unigênito, que abarca em si mesmo o universo,
e que plantou sua tenda de campanha entre nós (Jo 1, 14). Ao
ouvir chamar tenda a um bem tão elevado, não se turbe o amigo de
Cristo, como se com o significado desta expressão se diminuísse a
grandeza da natureza de Deus. Não existe nenhum outro nome digno
para expressar esta natureza, pois todos são igualmente incapazes de
uma definição adequada, sejam aqueles que valorizamos pouco, sejam
aqueles com os quais cremos vislumbrar algo da grandeza dos conceitos.
Assim como todos os demais nomes, cada um com significado parcial,
são empregados piedosamente para indicar o poder de Deus - como
médico, pastor, protetor, pão, videira, caminho, porta,
mansão, água, pedra, fonte e todos os demais nomes que se usam para
Ele -, assim também agora, o chamamos tenda em um sentido digno de
Deus. De fato, o poder que contem o universo inteiro, no qual
habita toda a plenitude da divindade (Col 2, 9), a proteção
comum de tudo, que abrange o universo, é chamado tenda com todo o
direito. Porem é necessário que a visão esteja em harmonia com este
nome, isto é, que cada uma das coisas vistas nos leve à
consideração de um conceito digno de Deus. E posto que o grande
Apóstolo diz que o véu da tenda inferior é a carne (Hb 10,
20) por estar tecida de fios diferentes que indicam - penso - a
substância dos quatro elementos, talvez também ele tenha tido a
visão da tenda nos santuários celestiais, quando por meio do
Espírito lhe foram revelados os mistérios do paraíso (2Co 12,
4), será oportuno, partindo desta interpretação de uma parte,
harmonizar com ela a contemplação da toda a tenda. O simbolismo da
tenda pode ser esclarecido por meio das mesmas palavras do Apóstolo.
Pois em algum lugar diz do Unigênito, ao que conhecemos designado
como tenda: Tudo foi criado por Ele, as coisas visíveis e as
invisíveis, os tronos, as potestates, os principados, as
dominações, as virtudes (Col 1, 16).
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