CAPÍTULO 10.

Vejamos claramente pelo Apóstolo quem é o entregue à "paixão vergonhosa": quem não quis guardar o verdadeiro conhecimento de Deus (Rm 1, 28). Não significa que Deus o entrega à paixão para castiga-lo por não ter querido conhece-lo, mas que o não falar reconhecido a Deus se converte para ele em motivo de cair em uma vida sensual e vergonhosa. É como se alguém dissesse que o sol fez cair uma pessoa no buraco porque não o viu. Nós não pensaríamos que o astro, cheio de ira, tenha lançado no buraco quem não o tenha querido ver, senão que esta expressão deve ser entendida corretamente no sentido de que a privação de luz tenha sido a causa da queda no buraco daquele que não o viu. Talvez seja esta a forma correta de entender as palavras do Apóstolo: que os que não tinham o conhecimento de Deus foram entregues às paixões vergonhosas e que o tirano egípcio foi endurecido por Deus, não como se a dureza tivesse sido introduzida no coração do Faraó pelo querer divino, mas sim no sentido de que por livre escolha, por sua inclinação para o mal, não acolheu a palavra que abranda a dureza. Também é assim com o bastão da virtude ao mostrar-se ante os egípcios, faz o hebreu livre da vida das rãs e, ao contrário, mostra o egípcio cheio desta praga. Chega então um momento em que Moisés estende as mãos sobre estes, e produz o desaparecimento das rãs (Ex 8, 9). Podemos ver que isto também acontece agora. De fato, quem conheceu a extensão das mãos do Legislador, - compreendes muito bem o que te diz este símbolo, entendendo como Legislador o verdadeiro Legislador, e pela extensão das mãos Aquele que estendeu suas mãos na cruz-, estes, ainda que até pouco tempo tenham vivido em pensamentos sujos e próprios de rãs, se olham para quem estende suas mãos em seu favor, são libertados dessa companhia perversa, pois a paixão morre e se dissolve. De fato, para os que foram sanados desta enfermidade, depois da morte desses movimentos próprios de répteis, a lembrança das coisas vividas anteriormente parece desagradável e fora de lugar, pois repugna a suas almas por causa da vergonha, conforme diz o Apóstolo a quem, depois de abandonar a maldade, busca a virtude: Que frutos recebestes então das coisas que agora vos envergonham? (Rm 6, 21). Entendemos de forma parecida o fato de que, por obra do bastão, o dia se escureceu aos olhos dos egípcios, enquanto seguia brilhando com o sol para os olhos dos hebreus (Ex 10, 21-22).