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Afirma-se que a Divindade é o Bem essencial. Pois bem, o que tem
uma natureza distinta do bem é alheio ao bem, e o que é alheio ao bem
pertence à natureza do mal. Demonstra-se que o continente é maior
que o contido. Segue-se necessariamente que os que julgam que a
Divindade está contida em um limite, devem admitir também que está
abarcada pelo mal. Sendo evidentemente menor a natureza do contido que
a do continente, segue-se a superioridade do mais vasto. Portanto
quem encerra a Divindade em um limite estabelece que o bem está
dominada por seu contrário. Porem isto é absurdo. Não se
pensará, pois, em nenhum limite da natureza infinita. O que não
está limitado não tem uma natureza que possa ser compreendida. Eis
aqui porque todo o desejo do bem, que atrai para aquela ascensão,
cresce constantemente junto com a trajetória de quem se apressa para o
bem. Isto é ver realmente a Deus: não encontrar jamais a saciedade
do desejo. É totalmente inevitável que quem vir se inflame em desejos
de ver ainda mais, precisamente por causa daquelas coisas que é
possível ver. E desta forma nenhum limite interromperá o progresso
na ascensão a Deus, por não haver limite no bm, nem ser
interrompido por nenhuma fartura o aumento do desejo do bem. Qual é
aquele lugar perto de Deus? Que é a pedra? E qual é novamente a
fenda na pedra? Que é a mão de Deus que tapa a fenda da pedra?
Que é a passagem de Deus? Que são suas costas, cuja visão
promete Deus a Moisés quando pedia para ver sua face? É necessário
que cada um destes dons seja verdadeiramente grande e digno da
magnificência do doador, ao ponto de julgar uma promessa mais
esplêndida e elevada que todas as teofanias outorgadas já ao grande
servidor. Porem, como pode alguém deduzir destas palavras acima com
que Moisés pede subir depois de tantas ascensões, e a cuja subida
Aquele que faz cooperar todas as coisas para o bem de quem ama a Deus
(Rm 8, 28) conduz dizendo: Eis aqui um lugar junto de mim (Ex
33, 21)? Eis aqui uma interpretação que se harmoniza
facilmente com as coisas que já consideramos. Ao falar do lugar,
não delimita quantitativamente o que lhe mostra, pois não existe
medida do que carece de quantidade, mas conduz o ouvinte ao infinito
ilimitado por meio da consideração do limitado por uma medida. O
relato parece significar isto: Posto que o desejo te lança ao que
está adiante e não tens nenhuma fartura em tua corrida, e o bem não
tem limite algum, mas o desejo se orienta sempre àquilo que é ainda
maior, há tanto lugar junto a mim, que quem corre nele jamais poderá
alcançar o final da corrida. Porem, de outro ponto de vista, a
corrida é quietude. Coloca-te - diz - sobre a fenda (Ex 33,
21).
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