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Junto com este prodígio observava-se outro. Todos os que haviam
saído para a coleta eram evidentemente diferentes em idades e forças.
Não obstante, não obtinha um mais e o outro menos conforme a
diferença de forças existente entre eles, mas o que era recolhido era
proporcional à necessidade de cada um, de forma que nem o mais forte
conseguia mais, nem o mais fraco tinha menos do que a medida justa.
Alem deste prodígio, a história narra outro: cada um recolhia para
o dia e não guardava nada para depois, e se alguém, por economia,
reservava algo do alimento do dia para o amanhã, o reservado se
tornava inútil para a alimentação, pois se tornava infectado de
bichos (Ex 16, 16 –24). Na história desse alimento deu-se
também este outro prodígio. Uma vez que um dia da semana era
celebrado com o descanso conforme uma disposição antiga, no dia
anterior, embora caísse o mesmo alimento dos dias precedentes e o
esforço de quem o recolhia fosse também o mesmo, resultava que a
quantidade era o dobro da habitual, de forma que não tinham nenhum
pretexto para não cumprir a lei do descanso. O poder divino se
mostrou ainda mais plenamente nisto; enquanto as sobras se tornavam
inúteis nos outros dias, só o armazenado no dia anterior ao
Sábado, assim se chamava o dia de descanso, se mantinha sem
corrupção, de modo que em nada parecia mais estragado em relação à
véspera (Ex 16, 25- 30). Houve uma guerra deles contra um
povo estrangeiro. A narração chama amalecitas aos que se uniram
então contra eles. Foi naquela ocasião que os israelitas se
organizaram pela primeira vez no sentido de batalha: não foram
lançados à luta todos em um exército completo, mas foram
selecionados por seu valor, e os escolhidos foram designados para a
peleja. Nesta peleja Moisés mostrou uma nova forma de luta:
enquanto Josué, que era quem guiava o povo depois de Moisés,
comandava a batalha aos amalecitas, Moisés, fora da luta, a partir
de uma colina, olhava para o céu enquanto, de um lado e de outro, o
assistiam dois de seus familiares (Ex 17, 8-10). Sabemos
pela história que, entre as coisas que então aconteceram, teve lugar
este prodígio: Se Moisés mantinha as mãos elevadas ao céu, seu
exército cobrava forças contra os inimigos: porem, se os abaixava,
também o exército cedia ao assalto dos estrangeiros. Ao perceberem
isto, os que assistiam a Moisés, colocando-se de um lado e de
outro, sustentavam-lhe as mãos quando por alguma causa desconhecida
elas se tornavam pesadas e difíceis de se mover. E como eles eram
fracos para mante-lo em posição ereta, escoraram sua posição com
uma pedra, e conseguiram que Moisés mantivesse as mãos levantadas ao
céu com este apoio. Feito isto, os estrangeiros foram dominados
pelas forças dos israelitas (Ex 17, 11-13). A nuvem que
guiava o caminhar do povo permanecia no mesmo lugar; era preciso que
também não se movesse o povo, já que não havia guia para seu
caminhar. Desta forma tinham abundância para viver sem esforço:
acima o ar fazia chover sobre eles um pão preparado; e abaixo a pedra
lhes proporcionava água; a nuvem aliviava os inconvenientes do ar
livre, pois durante o dia se convertia em anteparo contra o calor do
sol e durante a noite dissipava a escuridão iluminando com seu fogo.
Por esta razão não lhes era penoso deter-se naquele deserto ao pé
do monte em que se havia instalado o acampamento.
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