CAPÍTULO 34.

Concorda esta interpretação com as coisas já ditas a respeito de Aarão, quando, por ocasião de seu encontro com Moisés, o reconhecemos como o que socorre e protege, o que realiza juntamente com ele os prodígios contra os egípcios. O conhecemos justamente como superior, já que a natureza angélica e incorpórea foi feita antes que a nossa; como irmão, obviamente, pelo parentesco de sua natureza intelectual com nossa natureza intelectual. Existe a objeção de como se pode tomar em seu sentido melhor o encontro de Aarão, que se converteu para os israelitas em servidor da idolatria? Porem, neste lugar, o texto explica claramente o equívoco da "irmandade", pois o significado desta palavra não é o mesmo em todos os lugares, já que toma este nome em sentidos opostos. Um é o irmão que abate o tirano egípcio, e outro o que faz uma cópia do ídolo para os israelitas, ainda que seja idêntico o nome de ambos. Contra irmãos desta classe impunha Moisés a espada. O que ordena aos demais, sem dúvida o estabelece também para si mesmo. A destruição de um irmão desta classe é a aniquilação do pecado. Com efeito, todo o que faz desaparecer o mal metido dentro de si pela sedução do adversário, este matou em si mesmo o que vivia pelo pecado. Nosso ensinamento em torno disto se confirma ainda mais, se colocarmos a relação de alguns outros elementos do relato com a interpretação espiritual. Dissemos, de fato, que foi ordem daquele Aarão que eles se desprendessem de suas arrecadas. O desprendimento destas se converteu na matéria do ídolo (Ex 32, 2-3). Que diremos? Que Moisés havia adornado as orelhas dos israelitas com adorno de arrecadas, que é a Lei, e que o falso irmão, pela desobediência, tira o adorno colocado nas orelhas e faz com ele um ídolo. A primeira entrada do pecado foi o tirar as arrecadas, isto é, a decisão de desobedecer ao preceito. Como julgar a serpente como amiga e vizinha dos primeiros pais, a ela que sugeriu como coisa útil e boa afastar-se do mandado de Deus? Isto é o livrar as orelhas das arrecadas do preceito (Rm 10, 17). Portanto, quem tiver matado tais irmãos, amigos e vizinhos ouvirá da Lei aquela palavra que conta o relato que disse Moisés aos que haviam matado a estes: Cada um de vós consagrou hoje as suas mãos ao Senhor, matando seu filho, e seu irmão, para vos ser dada a benção (Ex 32, 29). Penso que a recordação daqueles que consentiram no pecado se introduziu oportunamente no discurso. Aprendemos assim que as tábuas feitas por Deus, nas quais havia sido gravada da lei divina, caíram na terra das mãos de Moisés e, quebrando-se pela dureza do solo, Moisés as refaz, embora não sejam inteiramente as mesmas, mas só o escrito nelas. Com efeito, tendo tomado as tábuas da matéria daqui de baixo, as apresenta ao poder de quem grava nelas a Lei, e assim atrai de novo a graça levando a Lei em tábuas verdadeiras, ao haver gravado Deus sua palavra na pedra. Guiados por estas coisas, talvez seja possível alcançar alguma inteligência da providência de Deus em nosso favor. Com efeito, se o divino Apóstolo disse a verdade chamando tábuas os corações (2Co 3, 3), isto é, a parte superior da alma - e sem dúvida diz a verdade aquele que sonda pelo Espírito as profundezas de Deus (1Co 2, 10) -, pode-se deduzir conseqüentemente que, no princípio, a natureza humana estava sem fraturas e era imortal, moldada pelas mãos divinas e embelezada com os caracteres não escritos da Lei, pois fisicamente estava dentro de nós uma vontade conforme à Lei, no afastamento do mal e no honrar à Divindade.