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O olho da alma de Moisés, instruído nestas coisas e em outras
semelhantes, purificado pela visão do tabernáculo e elevado por tais
maravilhas, novamente ascende ao cume de outros conhecimentos, ao ser
instruído sobre as vestimenta sacerdotal. A ela pertencem a túnica,
o efod, aquele peitoral que brilhava com os múltiplos fulgores das
pedras, o turbante em torno da cabeça e a lâmina (Ex 28, 36)
que estava em cima; os calções, as romãs, as campainhas.
Depois, por cima de tudo, o oráculo com o juízo, e a verdade que
aparece em um e em outro (Ex 28, 30); e, em fim, as
correntinhas que unem ambas as partes e nas quais estão inscritos os
nomes dos patriarcas. Os nomes mesmo das vestimentas fazem supérflua
uma consideração total e particularizada de cada detalhe. Com
efeito, que vestes corporais têm como nome juízo, oráculo ou
verdade? Isto nos demonstra claramente que a palavra, por meio destas
coisas, não nos está descrevendo uma vestimenta perceptível com os
sentidos, mas um ornamento da alma tecido com a prática da virtude.
Jacinto é a tinta da túnica que cai até os pés. Alguns dos que
nos precederam na interpretação dizem que o relato, com esta tinta,
designa o ar. De minha parte, não seria capaz de decidir com
exatidão se a plenitude desta cor tem algo em comum com a cor do ar.
Contudo, não repudio esta interpretação, pois seu sentido é
coerente com uma aplicação à vida virtuosa, já que significa que
quem quer consagrar-se a Deus e oferecer seu próprio corpo para o
sacrifício e converter-se em vítima viva do sacrifício vivo e do
culto espiritual (Rm 12, 1), não deve danificar sua alma com a
vestimenta de uma vida dissipada e carnal, mas fazer leves como uma
teia de aranhas, pela natureza dos costumes, todas as vestes da vida,
e aproximar de si o que leva ao alto, o que é leve e aéreo, para
tecer de novo esta natureza corporal, de forma que, quando ouvirmos a
trombeta escatológica, nos encontremos sem carga e leves à voz de
quem convoca e, levantados ao ar, sejamos elevados juntamente com o
Senhor (1Ts 4, 17), sem que nenhum peso nos arraste para a
terra (1Co 15, 42-44). Quem conforme a exortação do
Salmista fez adelgaçar sua alma como a aranha (Sal 38, 12),
se revestiu daquela túnica arejada que vai da cabeça aos pés. Com
efeito, a Lei não quer que a virtude esteja mutilada. As campainhas
de ouro colocadas entre as romãs designam o esplendor das boas obras.
Com efeito, duas são as coisas com as quais se realiza a virtude:
com a fé em Deus e com uma vida segunda a consciência. O grande
Paulo aplica estas romãs e estas campainhas à vestidura de Timóteo
ao dizer que deve ter fé e consciência reta (1Tm 1, 19).
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