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Assim é que Moisés tira o povo do Egito. Do mesmo modo, todo o
que segue as pegadas de Moisés livra da tirania egípcia a todos
aqueles a quem chega a palavra. Penso que os que seguem a quem os
conduz à virtude não devem ser privados da riqueza egípcia, nem
carecer dos tesouros estrangeiros, mas devem levar consigo todas as
coisas que pertencem a seus adversários por empréstimo. Isto é o
que Moisés manda o povo fazer (Ex 12, 35-36). Que
ninguém, tomando isto ao pé da letra, entenda o propósito do
Legislador como se ele mandasse despojar os ricos e se convertesse
assim em condutor da injustiça. Ninguém que considere atentamente as
leis que seguem em continuação proibindo a injustiça contra os que
estão perto, tanto aos que estão acima como aos que estão abaixo,
diria na verdade que o Legislador tivesse ordenado isto, ainda que a
alguns pareça ser justo que, com este subterfúgio os israelitas
paguem a si mesmos os salários pelos trabalhos prestados aos
egípcios. Com efeito, uma ordem assim não estaria livre da
acusação de não estar limpa de mentira e engano. De fato, quem
toma uma coisa emprestada, e sendo alheia não a devolve a seu dono,
comete injustiça por priva-lo dela; e se esta coisa é sua, ao menos
é chamado mentiroso por enganar a quem a tinha com a esperança de
tirar proveito. Por esta razão, mais apropriada que a
interpretação literal, é a interpretação espiritual que exorta
aqueles que buscam uma vida livre através da virtude a abastecer-se
com a riqueza estrangeira na qual se glorificam os que são alheios à
fé. Assim ocorre com a ética, a física, a geometria, a
astronomia, a dialética e todas as demais ciências que são
cultivadas por quem não pertence à Igreja. O guia da virtude exorta
a toma-las de quem, no Egito, as possui em abundância, e a
usa-las quando forem necessárias a seu tempo, quando seja necessário
embelezar o divino templo do mistério com as riquezas da
inteligência. Na verdade, aqueles que haviam entesourado para si
esta riqueza a apresentaram a Moisés quando trabalhava na construção
da tenda do testemunho, prestando cada um sua contribuição para a
preparação das coisas santas. Podemos ver que isto também ocorre
hoje. Muitos apresentam à Igreja de Deus, como um dom, a cultura
pagã. Assim fez o grande Basilio que adquiriu formosamente a riqueza
egípcia no tempo de sua juventude, a dedicou a Deus, e embelezou com
esta riqueza o verdadeiro tabernáculo da Igreja.
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