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Que aprendemos com estas palavras? A ter um só fim durante a vida:
ser chamados servidores de Deus por nossas ações. Assim pois,
quando tiveres vencido todos os inimigos, - o egípcio, o amalecita,
o idumeu, o madianita -, quando tiveres atravessado o mar, quando
tiveres sido iluminado pela nuvem, quando estivers adoçado pelo
lenho, quando tiveres bebido da rocha, quando tiveres provado o
alimento do manjar celestial, e pela pureza e inocência tiveres aberto
um caminho para a subida da montanha; quando, uma vez chegado ali,
tiveres sido instruído no mistério divino pelo som das trombetas, e
nas trevas que impedem ver te tiveres aproximado de Deus por meio da
fé e ali se te hajam dado a conhecer os mistérios da tenda e da
dignidade do sacerdócio; Quando te tenhas convertido em escultor de
teu próprio coração a ponto de fazer gravar nele pelo mesmo Deus os
oráculos divinos; quando tiveres destruído o ídolo de ouro, isto
é, quando tiveres feito desaparecer de tua vida a paixão da
ambição; quando te hajas elevado de forma que apareças invencível
à feitiçaria de Balaam, - ao ouvir falar de feitiçaria entendas o
variado engano desta vida, através da qual os homens, como se
houvessem bebido de alguma taça de Circe, extraviando-se da própria
natureza, tomam as formas de animais irracionais-, quando tiveres
passado por tudo isto, e tiveres floreado em ti o ramo do sacerdócio
sem que hajas tomado nenhuma umidade da terra para germinar, mas por
ter dentro de si o poder de dar fruto, o fruto da amêndoa, cujo
primeiro contato é áspero e desagradável, porem cujo interior é
doce e comestível; quando tiveres elevado até a aniquilação, -
sepultado sob a terra como Datan ou consumido pelo fogo como Coré-,
tudo aquilo que se opõe a tua dignidade, então te haverás aproximado
do fim. Entendo por fim aquilo por cuja causa se faz tudo, como o fim
da agricultura é o gozo dos frutos, o fim da construção de uma casa
é habita-la, o fim do comércio é enriquecer-se e o de todos os
esforços desportivos é a coroa de vencedor. O fim da vida superior
é ser chamado servidor de Deus, e, junto com isto, o não estar
sepultado sob um sepulcro, isto é, o levar uma vida despida e livre
de cargas malvadas. O relato oferece outro traço deste serviço:
seus olhos não se apagaram e não se corrompeu seu rosto (Dt 34,
7). O olho que sempre havia permanecido aberto à luz, como poderia
ser obscurecido pelas trevas às quais era estranho? Quem houver
conservado durante toda sua vida a incorrupção não experimenta em si
mesmo nenhuma corrupção. De fato, aquele que chegou a ser
verdadeiramente imagem de Deus e não se afastou o mínimo do projeto
divino, chega a si os traços e concorda totalmente na semelhança com
o arquétipo, pois tem embelezada a própria alma com a incorrupção,
a imutabilidade e a ausência de qualquer mistura com o mal.
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