CAPÍTULO 18.

Voltemos à continuação do relato. Quem atravessou o mar que já nos é conhecido, e viu em si mesmo perecer o egípcio, não só olha para Moisés como guia da virtude, como, sobre tudo, crê em Deus como diz o texto da história (Ex 14, 17). Confia também em Moisés, seu servidor. Vemos que também hoje sucede isto com quem verdadeiramente atravessou a água: estes se entregaram a Deus e, como diz o Apóstolo, confiam nos que em razão do sacerdócio cuidam das coisas divinas, e lhes obedecem (Hb 13, 17). Depois da passagem do mar, segue-se uma marcha de três jornadas (Ex 15, 22) durante a qual, acampados em um lugar, acharam água que, a principio, não parecia potável por causa de seu amargor; porem o bastão, sendo arrojado na água, converteu o líquido em potável para os que estavam sedentos (Ex 15, 23- 25). A narração está conforme com o que agora também sucede. A principio, a vida afastada dos prazeres parece desagradável e insossa a quem abandonou os prazeres egípcios que o escravizavam antes de atravessar o mar. Porém se o madeiro, isto é, o mistério da ressurreição, que teve começo por meio do madeiro, é arrojado à água, - ao ouvir madeiro entenderás evidentemente a cruz-, então a vida virtuosa, adoçada com a esperança dos bens futuros, se converte em mais doce e agradável que toda doçura que acaricia os sentidos com o prazer. A etapa seguinte da marcha, amenizada com palmeiras e fontes, repara o cansaço dos caminhantes. São doze as fontes de água, de corrente limpa e gratífica; setenta as palmeiras, grandes e frondosas, pois o tempo havia feito crescer as árvores (Ex 15, 27). Que encontramos nestas coisas, ao seguir o fio da narração? Que o mistério do madeiro, pelo qual a água da virtude se torna potável para os que têm sede, nos atrai com doze fontes e setenta palmeiras, isto é, com o ensinamento do Evangelho. Nele, as fontes são os doze Apóstolos que o Senhor escolheu para esta graça, fazendo brotar a palavra através deles como fontes, de forma que um dos profetas anunciou assim a graça que mana deles: Bendizei a Deus, o Senhor, nas assembléias, os das fontes de Israel (Sal 67, 27). As setenta palmeiras poderiam ser os apóstolos que, alem dos doze discípulos, receberam a imposição das mãos por toda terra e que numericamente são tantos como a história diz que eram as palmeiras.