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Assim lhes construiu a tenda e lhes transmitiu as leis, estabelecendo
o sacerdócio conforme o que lhe havia sido ensinado por Deus. Depois
fez que se realizassem os trabalhos materiais conforme a instrução
divina: a tenda, os vestíbulos, todas as coisas interiores, o altar
de incenso, o altar dos holocaustos, o lampadário, os tapetes, as
cortinas, o propiciatório no interior do santuário, os ornamentos
sacerdotais, os perfumes, os diversos sacrifícios, as
purificações, os ritos de ação de graças, de impetração contra
os males, de expiação dos pecados; tendo ordenado todas estas coisas
da maneira devida, suscita contra si a inveja de seus íntimos, essa
enfermidade tão familiar à natureza dos homens. De fato, tanto
Aarão, honrado com a dignidade do sacerdócio, como também sua
irmã Maria, movida por uma inveja especificamente feminina contra a
honra que Deus havia dado a ele, disseram coisas que moveram Deus a
castigar este pecado. Nesta ocasião, Moisés se mostrou digno de
admiração por sua mansidão, pois enquanto Deus queria castigar a
ilógica inveja, ele antepunha a natureza à cólera e intercedia
perante Deus por sua irmã (Nm 12, 1-13). A plebe se
entregou novamente à desordem. O começo do pecado foi a desmedida
nos prazeres do ventre. Não lhes bastava viver saudável e
agradavelmente do alimento que lhes vinha de cima, mas o desejo de
iguarias e a ânsia de comer carne os fizeram preferir a perpétua
escravidão do Egito aos bens que já tinham. Moisés falou com Deus
a respeito da paixão que se havia abatido sobre eles, e este, ao lhes
conceder alcançar precisamente aquilo que desejavam, os ensinou que
não era conveniente se comportar assim. De fato, de improviso fez
cair no acampamento uma multidão de pássaros que voavam em grande
número a rés do solo, com o que facilmente caçados saciou o desejo
dos que ansiavam por carne fresca (Nm 11, 4-6 e 31-32).
Para uma grande parte deles, o excesso de comida transformou o
equilíbrio dos humores de seus corpos em vômitos corrompidos, e a
saciedade se converteu em enfermidade e morte. Seu exemplo foi
suficiente para levar a temperança a eles mesmos e aos que os assistiam
(Nm 11, 33-34). Então Moisés enviou exploradores àquela
região que, segundo a promessa divina, esperavam habitar. Como nem
todos contaram a verdade, mas alguns deram notícias falsas e más, o
povo se encheu de ira contra Moisés mais uma vez. Aqueles que
desconfiaram da ajuda divina, Deus castigou não lhes deixando ver a
terra que lhes havia prometido (Nm 13, 1-14, 38). Ao
prosseguir sua marcha através do deserto, faltou novamente a água e,
juntamente com ela, lhes faltou a lembrança do poder de Deus. Na
verdade, o prodígio da rocha que já havia tido lugar, não lhes foi
suficiente para crer que nada do necessário lhes faltaria agora, mas,
afastando-se das mais saudáveis esperanças, propalaram ultrajes
contra Deus e contra Moisés até o ponto em que mesmo Moisés
pareceu se deixar levar pela desconfiança do povo. Não obstante,
novamente realiza o milagre transformando em água aquela rocha bruta
(Nm 20, 2-11). Mais uma vez, o prazer vulgar da comida
despertou neles o desejo de fartar-se e, embora ainda não lhes
faltasse nenhuma das coisas necessárias para a vida, sonharam com a
saciedade do Egito. Os jovens rebeldes foram corrigidos com castigos
mais severos, ao lhes inocular veneno as serpentes mordendo-os em um
ataque mortal (Nm 21, 4-6). Posto que um após outro
sucumbiam à serpente, o Legislador, movido pelo conselho divino,
fez uma figura de serpente em bronze e mandou colocá-la no alto para
que estivesse à vista de todo o acampamento. E assim deteve o dano
que estes animais faziam ao povo, e pôs fim a sua destruição. Com
efeito, quem olhava para a imagem da serpente feita de bronze não
tinha porque temer nenhuma mordida da serpente verdadeira, porque o
olhar debilitava o veneno com uma misteriosa resistência (Ex 21,
7-9).
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