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Quando o profeta considera o tabernáculo celestial, o contempla
através destes símbolos. Se depois considera a tenda inferior,
posto que muitas vezes a Igreja é chamada Cristo por Paulo,
poderíamos entender, com todo o direito, que estes nomes designam os
servidores do divino mistério, os que a palavra chama também colunas
da Igreja, julgando que estes nomes designam os apóstolos, os
mestres e os profetas (Col 1, 18 e 1Co 12, 12 e Ef 1,
23 e Ga 2, 9). Com efeito, não só são colunas da Igreja
Pedro, João e Tiago, nem só João Batista foi lâmpada que
ilumina, senão que todos os que com seu esforço sustêm a Igreja e
os que, por suas obras, se convertem em luminárias, são chamados
colunas e lâmpadas (Jo 5, 35). Vós sois a luz do mundo (Mt
5, 14), disse o Senhor aos Apóstolos. E o divino Apóstolo,
dirigindo-se a outros, manda novamente que sejam colunas, dizendo :
Sede firmes e inquebrantáveis (1Co 15, 58). E edificou
Timóteo como coluna formosa, fazendo-o, como disse com suas
próprias palavras, coluna e fundamento da verdade (1Tm 3,
15). Neste tabernáculo, vemos oferecidos perpetuamente, de
manhã e à tarde, o sacrifício de louvor e o incenso da oração
(Hb 13, 15). O grande Davi nos dá a entender isto dirigindo
a Deus o incenso da oração em perfume e suavidade, e oferecendo o
sacrifício com a elevação das mãos (Sal 140, 2 e Ef 5,
2). Ao ouvir falar de peles, se reconhecerá facilmente os que se
purificam da mancha dos pecados na água sacramental. Piscina era
João, purificando no Jordão com o batismo de penitência; piscina
era Pedro, que conduziu até a água três mil pessoas, e isto de uma
só vez; piscina de Candace foi Felipe, e todos os que causam a
graça em quantos recebem a participação do dom (At 2, 41 e At
8, 27-40). Talvez não nos afastemos do conveniente se
interpretarmos que os tapetes, que unidos entre si rodeiam
circularmente a tenda, significam a unanimidade de amor e de paz entre
os crentes, pois Davi o entende assim quando diz: Fiz da paz teus
limites (Sal 147, 14). A pele tingida de vermelho e as
cobertas de crinas para completar o adorno da tenda, poderiam ser
entendidas respectivamente como a mortificação da carne de pecado
(Rm 8, 3) - da que é símbolo a pele tingida de vermelho -, e
a austeridade da vida em continência, coisas com as quais o
tabernáculo da Igreja se embeleza especialmente. As peles, com
efeito, que não têm em si mesmas a força vital que provem da
natureza, se torna colorida com a imersão na tinta vermelha, a qual
ensina que a graça que floresce por meio do Espírito não nasce
senão naqueles que deram morte ao pecado em si mesmos. E se com o
tecido vermelho se designa no relato o pudor casto, isto deixamos ao
juízo de quem queira pensar assim. O trançado de crinas, que
proporciona um tecido áspero e grosso, alude à áspera austeridade
que debilita nossas paixões familiares. A vida em virgindade, que
mortifica a carne de quem assim vive, mostra em si todos estes traços
(1Co 9, 27). O fato de que o interior da tenda, que se chama
Santo dos Santos, esteja vedado à maioria, não pensamos que destoe
da coerência de nossa interpretação. Pois na verdade é coisa
santa, e coisa santa entre as santas, intangível e inacessível à
maioria, a verdade dos seres. Posto que está colocada na parte mais
íntima e secreta da tenda do mistério, nós não devemos nos ocupar
inoportunamente do conhecimento dos seres que estão alem de nossa
compreensão, crendo sim que o procurado existe, ainda que não seja
patente aos olhos de todos, mas que permanece inefável nas regiões
secretas do espírito.
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