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Moisés novamente inunda o deserto para eles por meio da pedra (Nm
20, 2-11 e Ex 17, 1-7). Este relato, em sua
interpretação espiritual, nos ensina como é o sacramento da
penitência. Com efeito, aqueles que depois de haver experimentado a
água da pedra se voltam para o ventre, a carne e os prazeres
egípcios, são castigados com a ânsia da participação dos bens.
Porem graças ao arrependimento lhes é possível encontrar de novo a
rocha que abandonaram, e abrir de novo o veio de água e saciar-se
novamente da fonte. A pedra o outorga isto àquele Moisés que
acreditou que a exploração de Josué era mais verdadeira que a de
seus adversários, que via o ramo de uvas (Jo 15, 1) pendente em
nosso favor, e que de novo fez com a vara que a pedra manasse para
eles. O povo ainda não havia aprendido a seguir as pegadas da
grandeza de Moisés. Ainda se deixa arrastar para baixo, para os
desejos servis, e se inclina aos prazeres egípcios. O relato mostra
através destas coisas que a natureza humana é propensa a esta paixão
acima de todas as demais, capaz de sucumbir à enfermidade por mil
caminhos. Moisés, como médico que impede com sua arte que o mal
vença sempre, não permite que a enfermidade predomine sobre eles a
ponto de causar a morte (Nm 21, 6-9). Posto que a
concupiscência de coisas absurdas engendrou serpentes cuja mordida era
portadora de morte ao introduzir o veneno em quem era alcançado por
seus dentes, o grande Legislador neutralizou com a imagem de uma
serpente a força das feras verdadeiras. Talvez seja tempo de revelar
mais claramente o enigma. Existe uma só proteção contra estas
perversas paixões: a purificação de nossas almas que tem lugar
através do mistério da piedade. Entre as coisas que cremos no
mistério, é ponto capital a fé na Paixão Daquele que por nós
aceitou o padecimento. A cruz, com efeito, é um padecimento; quem
olha para ela, como explica o relato, não é atingido pelo veneno da
concupiscência (Nm 21, 9 e Jo 3, 15). Olhar para a cruz
não é outra coisa que converter a vida inteira de cada um em
crucificação e morte ao mundo (Ga 6, 14), inamovível por
qualquer pecado, crucificando verdadeiramente as próprias carnes com o
temor de Deus, como diz o profeta (Sal 119, 120). O cravo
que sujeita a carne é a continência. E posto que a concupiscência
de coisas absurdas faz sair da terra serpentes portadoras de morte, -
todo rebento da concupiscência é uma serpente-, a Lei nos mostra o
que se revela no madeiro. Este é figura de serpente, porem não é
serpente, como também disse o grande Paulo: Em semelhança da carne
de pecado (Rm 8, 3). A verdadeira serpente é o pecado; quem
marcha junto do pecado se reveste da natureza da serpente. Assim
pois, o homem é libertado do pecado por aquele que tomou sobre si a
aparência de pecado e se fez igual a nós que nos havíamos
transformado em imagem da serpente. Por ele é evitada a morte
proveniente das mordidas, porem não são aniquiladas as feras. Chamo
feras à concupiscência. Com efeito, a má morte dos pecadores não
tem força contra aqueles que olham para a cruz, ainda que a
concupiscência contra o espírito, que está metida dentro da carne,
não tenha sido destruída de tudo (Ga 5, 16-17). Também os
crentes se deixam sentir muitas vezes as mordidas da concupiscência,
porem quem olha para aquele que foi levantado no madeiro evita a
paixão, dissolvendo o veneno com o temor do preceito, como se fosse
um antídoto.
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