CAPÍTULO 5.

De fato, há algo carnal e incircunciso nos ensinamentos gerados pela filosofia; quando isto é cortado, o que fica é de pura razão judía. Por exemplo, a filosofia pagã disse que a alma era imortal. Este é um fruto conforme à piedade. Porem ela ensina também que transmigra de uns corpos a outros, e que passa da natureza racional para a irracional : isto é uma incircuncisão carnal e estrangeira. E assim muitas outras coisas. Diz que existe Deus, porem pensa que é material. Confessa que existe o demiurgo, porem que necessita de uma matéria prévia para fazer o mundo. Concede que é bom e poderoso, porem que obedece em muitas coisas à necessidade do destino. E se alguém se detivesse em cada questão, poderia ver como, na filosofia pagã, os formosos ensinamentos se encontram maculados com acréscimos absurdos que, se fossem cortados ao meio, o anjo de Deus lhes seria propício, alegrando-se do fruto legítimo destes ensinamentos. Mas temos que voltar à seqüência do texto, de forma que também a nós, que estamos perto da luta com os egípcios, nos saia ao encontro a ajuda fraterna. Recordamos, com efeito, que desde o princípio da vida virtuosa tem lugar para Moisés um encontro hostil e guerreiro : o do egípcio que oprimia o hebreu e o do hebreu que lutava contra seu compatriota (Ex 2, 11-15).