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Com efeito, quem estava livre de culpa permanecia incólume, enquanto
que com a mesma força, ao mesmo tempo e no mesmo lugar, era castigado
o culpado. Ao comando de Moisés todo tipo de água se converteu em
sangue para o Egito, ao ponto de que também os peixes morressem por
causa da densidade carnosa em que se havia transformado a água; o
sangue, por outro lado, voltava a se converter em água para os
hebreus, quando a tomavam. Aqui os magos reaparecem para simular, na
água que tinham os hebreus, a aparência de sangue (Ex 7,
20-22). Sucedeu o mesmo com as rãs que invadiram o Egito: sua
aparição até uma proliferação de tal magnitude não pode ser
avaliada como uma conseqüência da natureza, mas que o comando dado à
espécie das rãs modificou a natureza conhecida destes animais. Todo
o Egito foi atormentado por estes animais que invadiram inclusive as
casas, enquanto a vida dos hebreus se mantinha limpa dessas coisas
repugnantes (Ex 7, 25-29). Da mesma forma, a atmosfera não
permitia aos egípcios nenhuma distinção entre a noite e o dia;
permaneciam em um obscuridade uniforme, enquanto para os hebreus, nas
mesmas circunstâncias, nada havia mudado em relação ao habitual. E
do mesmo modo com relação a todas as demais coisas: o granizo, o
fogo, os mosquitos, as pústulas, as moscas, a nuvem de gafanhotos.
Cada uma, segundo sua própria natureza, feriu os egípcios; os
hebreus, ao contrário, sabiam do sofrimento de seus vizinhos por
rumores e relatos, pois não experimentaram em si mesmos o ataque
dessas calamidades. Depois, a morte dos primogênitos fez mais clara
a diferença entre o povo hebreu e o egípcio: uns se desfaziam em
lamentações pela perda dos seres mais queridos (Ex 12, 29);
os outros permaneciam em total tranqüilidade e segurança, porque
tinham a salvação confirmada pela aspersão do sangue e por haverem
marcado as portas com sangue, como senha, em cada um dos lados das
ombreiras e no montante que as unia (Ex 10, 21-23). Depois
disso, enquanto os egípcios estavam abatidos pelo desastre dos
primogênitos e choravam sua desgraça, solitários ou todos juntos,
Moisés começou a dirigir o êxodo dos israelitas, após haver
advertido que levassem consigo, como empréstimo, a riqueza dos
egípcios. Quando já se passavam três dias de caminho fora do
Egito – conta-nos a história – pareceu insuportável ao Egípcio
que Israel não permanecesse na escravidão e, havendo mobilizado
todos os seus súditos para a guerra, correu atras do povo com sua
cavalaria. Este, quando viu o arrancar da cavalaria e da infantaria,
sendo inexperiente nas artes da guerra e estando pouco acostumado a
estes espetáculos, deixou-se levar imediatamente pelo medo e
rebelou-se contra Moisés. A história conta também este feito
paradoxal de Moisés: que sua atividade foi dupla. Com efeito, com
a voz e a palavra dava ânimo aos israelitas e os exortava a ter boas
esperanças, e ao mesmo tempo apresentava a Deus suas súplicas em seu
coração em favor daqueles que se encontravam em tal apuro, e era
instruído por meio do conselho divino sobre como poderia fugir de tal
perigo (Ex 12, 31-14, 5). Pois Deus mesmo, como conta a
história, escutava sua voz silenciosa. Uma nuvem guiava o povo por
virtude divina, não por sua própria natureza. Sua substância, com
efeito, não era formada por alguns vapores ou exalações como
resultado de que o ar se houvesse feito mais denso por causa de
substância úmida e de sua compressão pelos ventos, mas era algo
muito maior e que excedia a compreensão humana. Como atesta a
Escritura, aquela nuvem era um prodígio tal que, quando os raios do
sol brilhavam abrasadores, se convertia em uma proteção para o povo,
fazendo sombra para os que estavam em baixo e umedecendo o calor
excessivo do ar com uma água fina; durante a noite se transformava em
fogo, iluminando os israelitas com o resplendor de sua própria luz
desde o entardecer até o nascimento do dia (Ex13, 21-23).
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