CAPÍTULO 28.

Por conseguinte, as colunas reluzentes de prata e recamadas de ouro, os suportes e argolas e aqueles querubins que cobriam a arca com suas asas e todas as outras coisas que contêm a descrição da tenda, se alguém as considera tendo presentes as realidades do alto, são as forças supramundanas que estão na tenda e que, conforme a vontade de Deus, sustenta o universo. Ali estão nossos verdadeiros suportes, que foram enviados para o serviço, por causa dos que hão de herdar a salvação (Hb 1, 14), os quais aderidos a nossas almas como anéis, elevam àcima da virtude os que estão Afixados à terra. O texto, que chama querubim ao que cobre com suas asas os objetos secretos colocados na arca da aliança (Ex 25, 18-20), confirma a interpretação que fizemos da tenda. Sabemos que este é o nome das potências que estão em torno da natureza divina, e que Isaías e Ezequiel puderam vislumbrar (Is 6, 2 e Ez 10, 1-17). O fato de que a arca da aliança esteja oculta pelas asas não deve produzir estranheza a quem ouve. De fato, está escrito em Isaías simbolicamente o mesmo em relação às asas. O que aqui se chama arca da aliança, ali é chamado face (Is 6, 2). Em um lugar se oculta com as asas a arca, e em outro a face, significando o mesmo, no meu entender, em ambos os lugares: que é inacessível a contemplação das coisas inefáveis. E se ouvindo falar das lâmpadas que surgem de um só pé e se dividem em muitos braços para que se difunda por toda parte uma luz generosa e abundante, não errarás se entenderes que nesta tenda brilham os variados fulgores do Espírito, como diz Isaías ao dividir em sete as iluminações do Espírito (Is 11, 2 e Ap 4, 5). Quanto ao propiciatório, penso que sequer necessite de interpretação, uma vez que o Apóstolo já colocou a descoberto seu sentido profundo quando disse: A quem Deus propôs como propiciatório (Rm 3, 25). Por altar e incensário, entendo a adoração das criaturas celestes que se realiza continuamente naquela tenda. De fato, diz que não só a língua dos que estão na terra e abaixo da terra (Flp 2, 10), mas também a dos que estão nos céus dirige seu louvor àquele que é Princípio de todas as coisas. Este é o sacrifício agradável a Deus: o fruto dos lábios (Hb 13, 15 e Is 57, 19), como diz o Apóstolo, e o bom perfume das orações (Ap 5, 8). E se entre estes objetos se considera a pele tingida de vermelho e as crinas entrelaçadas, tampouco se cortará a coerência de nossa interpretação. Na visão das coisas divinas, o olhar profético verá prefixada ali a paixão salvadora, conforme simboliza cada uma das coisas enumeradas: na cor vermelha, o sangue; nas crinas, a morte. No corpo, as crinas estão privadas de sensibilidade; por esta razão se convertem em símbolo apropriado da morte.