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Por conseguinte, as colunas reluzentes de prata e recamadas de ouro,
os suportes e argolas e aqueles querubins que cobriam a arca com suas
asas e todas as outras coisas que contêm a descrição da tenda, se
alguém as considera tendo presentes as realidades do alto, são as
forças supramundanas que estão na tenda e que, conforme a vontade de
Deus, sustenta o universo. Ali estão nossos verdadeiros suportes,
que foram enviados para o serviço, por causa dos que hão de herdar a
salvação (Hb 1, 14), os quais aderidos a nossas almas como
anéis, elevam àcima da virtude os que estão Afixados à terra. O
texto, que chama querubim ao que cobre com suas asas os objetos
secretos colocados na arca da aliança (Ex 25, 18-20),
confirma a interpretação que fizemos da tenda. Sabemos que este é o
nome das potências que estão em torno da natureza divina, e que
Isaías e Ezequiel puderam vislumbrar (Is 6, 2 e Ez 10,
1-17). O fato de que a arca da aliança esteja oculta pelas asas
não deve produzir estranheza a quem ouve. De fato, está escrito em
Isaías simbolicamente o mesmo em relação às asas. O que aqui se
chama arca da aliança, ali é chamado face (Is 6, 2). Em um
lugar se oculta com as asas a arca, e em outro a face, significando o
mesmo, no meu entender, em ambos os lugares: que é inacessível a
contemplação das coisas inefáveis. E se ouvindo falar das lâmpadas
que surgem de um só pé e se dividem em muitos braços para que se
difunda por toda parte uma luz generosa e abundante, não errarás se
entenderes que nesta tenda brilham os variados fulgores do Espírito,
como diz Isaías ao dividir em sete as iluminações do Espírito
(Is 11, 2 e Ap 4, 5). Quanto ao propiciatório, penso que
sequer necessite de interpretação, uma vez que o Apóstolo já
colocou a descoberto seu sentido profundo quando disse: A quem Deus
propôs como propiciatório (Rm 3, 25). Por altar e
incensário, entendo a adoração das criaturas celestes que se realiza
continuamente naquela tenda. De fato, diz que não só a língua dos
que estão na terra e abaixo da terra (Flp 2, 10), mas também a
dos que estão nos céus dirige seu louvor àquele que é Princípio de
todas as coisas. Este é o sacrifício agradável a Deus: o fruto
dos lábios (Hb 13, 15 e Is 57, 19), como diz o
Apóstolo, e o bom perfume das orações (Ap 5, 8). E se entre
estes objetos se considera a pele tingida de vermelho e as crinas
entrelaçadas, tampouco se cortará a coerência de nossa
interpretação. Na visão das coisas divinas, o olhar profético
verá prefixada ali a paixão salvadora, conforme simboliza cada uma
das coisas enumeradas: na cor vermelha, o sangue; nas crinas, a
morte. No corpo, as crinas estão privadas de sensibilidade; por
esta razão se convertem em símbolo apropriado da morte.
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