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Avancemos com a continuação do texto, tendo bem presente o que já
explicamos: que o mesmo Moisés ou aquele que a sua imitação se
eleva na virtude, depois de haver fortalecido sua alma com uma
prolongada vida elevada e reta, e com a iluminação recebida do alto,
considera como uma injustiça de sua parte não guiar seus compatriotas
a uma vida livre. Moisés saindo a seu encontro infunde-lhes um
desejo mais forte de liberdade pondo diante deles a gravidade dos
padecimentos. A quando está perto de libertar seu povo do mal, traz
a morte a todo primogênito egípcio (Ex 12, 29),
indicando-nos deste modo que é necessário destruir o mal em seu
primeiro broto, pois do contrário é impossível escapar da vida
egípcia. Parece-me importante não deixar passar este pensamento sem
refletir sobre ele. Pois se alguém considerar só o sentido literal,
como poderá manter uma interpretação digna de Deus nos
acontecimentos narrados? É injusto o egípcio e em seu lugar é
castigado seu filho recém nascido que por sua tenra idade não pode
distinguir entre o bem e o mal. Sua vida é alheia à paixão
malvada, pois a infância não dá lugar à paixão, nem estabelece
diferença entre a direita e a esquerda; unicamente ergue os olhos ao
peito de sua nutriz, para expressar sua dor só dispões de suas
lágrimas e, se consegue o que deseja sua natureza, mostra sua alegria
com um sorriso. Onde está a justiça, se este cumpre o castigo pela
maldade paterna? Onde a piedade? Onde Ezequiel clamando que a alma
que peca, esta morrerá e não será responsável o filho, mas o pai
(Ez 18, 20)?
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