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Nosso breve discurso te ofereceu, homem de Deus, estas coisas sobre
a perfeição da vida virtuosa, apresentando-te a vida do grande
Moisés como modelo evidente de bondade, para que cada um de nós,
imitando suas ações, copie em si mesmo os traços da beleza que nos
foi mostrada. E de que Moisés tenha conseguido realizar a
perfeição que é possível, que testemunho mais digno de fé
poderíamos encontrar senão a palavra divina, quando diz: Eu te
conheço pelo teu nome e tu achaste graça diante de mim (Ex 33,
12 e 17)? Também o fato de que seja chamado amigo de Deus pelo
próprio Deus (Ex 33, 11), e o fato de que tendo escolhido
perecer junto com os demais se Deus não se aplacasse com benevolência
daquilo que o havia ofendido, Deus deteve sua ira contra os israelitas
ao modificar seu próprio juizo para não entristecer o amigo (Ex
32, 7-14). Todos estes testemunhos são uma clara
demonstração de que a vida de Moisés alcançou o limite mais elevado
da perfeição. Posto que investigávamos qual é a perfeição da
vida virtuosa e, pelo que já dissemos, descobrimos esta perfeição,
é hora, nobre homem, de que olhes para o modelo e, aplicando a tua
vida quanto temos contemplado nos acontecimentos históricos com
interpretação espiritual te faças ser conhecido de Deus (Ex 33,
12 e 17) e assim te convertas em seu amigo. A perfeição
consiste verdadeiramente nisto: em afastar-se da vida de pecado não
por temor servil do castigo, e em fazer o bem não pela esperança do
prêmio, negociando com a vida virtuosa com disposição e ânimo
interessado e mercantilista, mas consiste em que, olhando mais alem de
todos os bens que nos estão preparados em esperança segundo a
promessa, não tenhamos como temível mais que ser repudiados da
amizade de Deus, e não julguemos respeitável e amável para nós
senão o chegar a ser amigos de Deus. Isto é, em minha opinião, a
perfeição da vida. Encontrarás isto quando tua mente se elevar às
coisas mais altas e divinas, sei bem que encontrarás muitas. Isto
servirá claramente de proveito para todos.
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