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Vejamos claramente pelo Apóstolo quem é o entregue à "paixão
vergonhosa": quem não quis guardar o verdadeiro conhecimento de Deus
(Rm 1, 28). Não significa que Deus o entrega à paixão para
castiga-lo por não ter querido conhece-lo, mas que o não falar
reconhecido a Deus se converte para ele em motivo de cair em uma vida
sensual e vergonhosa. É como se alguém dissesse que o sol fez cair
uma pessoa no buraco porque não o viu. Nós não pensaríamos que o
astro, cheio de ira, tenha lançado no buraco quem não o tenha
querido ver, senão que esta expressão deve ser entendida corretamente
no sentido de que a privação de luz tenha sido a causa da queda no
buraco daquele que não o viu. Talvez seja esta a forma correta de
entender as palavras do Apóstolo: que os que não tinham o
conhecimento de Deus foram entregues às paixões vergonhosas e que o
tirano egípcio foi endurecido por Deus, não como se a dureza tivesse
sido introduzida no coração do Faraó pelo querer divino, mas sim no
sentido de que por livre escolha, por sua inclinação para o mal,
não acolheu a palavra que abranda a dureza. Também é assim com o
bastão da virtude ao mostrar-se ante os egípcios, faz o hebreu livre
da vida das rãs e, ao contrário, mostra o egípcio cheio desta
praga. Chega então um momento em que Moisés estende as mãos sobre
estes, e produz o desaparecimento das rãs (Ex 8, 9). Podemos
ver que isto também acontece agora. De fato, quem conheceu a
extensão das mãos do Legislador, - compreendes muito bem o que te
diz este símbolo, entendendo como Legislador o verdadeiro
Legislador, e pela extensão das mãos Aquele que estendeu suas mãos
na cruz-, estes, ainda que até pouco tempo tenham vivido em
pensamentos sujos e próprios de rãs, se olham para quem estende suas
mãos em seu favor, são libertados dessa companhia perversa, pois a
paixão morre e se dissolve. De fato, para os que foram sanados desta
enfermidade, depois da morte desses movimentos próprios de répteis,
a lembrança das coisas vividas anteriormente parece desagradável e
fora de lugar, pois repugna a suas almas por causa da vergonha,
conforme diz o Apóstolo a quem, depois de abandonar a maldade, busca
a virtude: Que frutos recebestes então das coisas que agora vos
envergonham? (Rm 6, 21). Entendemos de forma parecida o fato
de que, por obra do bastão, o dia se escureceu aos olhos dos
egípcios, enquanto seguia brilhando com o sol para os olhos dos
hebreus (Ex 10, 21-22).
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