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De fato, há algo carnal e incircunciso nos ensinamentos gerados pela
filosofia; quando isto é cortado, o que fica é de pura razão
judía. Por exemplo, a filosofia pagã disse que a alma era imortal.
Este é um fruto conforme à piedade. Porem ela ensina também que
transmigra de uns corpos a outros, e que passa da natureza racional
para a irracional : isto é uma incircuncisão carnal e estrangeira.
E assim muitas outras coisas. Diz que existe Deus, porem pensa que
é material. Confessa que existe o demiurgo, porem que necessita de
uma matéria prévia para fazer o mundo. Concede que é bom e
poderoso, porem que obedece em muitas coisas à necessidade do
destino. E se alguém se detivesse em cada questão, poderia ver
como, na filosofia pagã, os formosos ensinamentos se encontram
maculados com acréscimos absurdos que, se fossem cortados ao meio, o
anjo de Deus lhes seria propício, alegrando-se do fruto legítimo
destes ensinamentos. Mas temos que voltar à seqüência do texto, de
forma que também a nós, que estamos perto da luta com os egípcios,
nos saia ao encontro a ajuda fraterna. Recordamos, com efeito, que
desde o princípio da vida virtuosa tem lugar para Moisés um encontro
hostil e guerreiro : o do egípcio que oprimia o hebreu e o do hebreu
que lutava contra seu compatriota (Ex 2, 11-15).
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