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Na verdade, não só tem sabor de pão, como se converte também em
leite e em carne e em legumes e em tudo aquilo que se adapte e seja
apetecível para quem o recebe, como ensina o divino apóstolo Paulo,
que preparou aos seus uma mesa assim, convertendo a palavra em comida
sólida e de carne para os mais perfeitos, em legumes para os mais
frágeis, e em leite para as crianças (Rm 14, 2 e 1Co 3, 2
e Hb 5, 12). As maravilhas que nos mostra a história em torno
daquele alimento são ensinamentos para a vida virtuosa. Pois diz que
a todos se oferecia uma participação igual no alimento, e que a
diferença de forças em quem o recolhia não implicava em excesso ou em
falta do necessário. Isto, a meu ver, é um conselho oferecido a
todos: que quem procura as coisas materiais necessárias para viver
não ultrapasse os limites da necessidade, mas que saiba bem que, para
todos, a medida natural do alimento é a satisfação da necessidade
diária. Ainda que se preparem muito mais coisas que o necessário, o
estômago não tem uma natureza capaz de ultrapassar suas próprias
medidas, nem de se dilatar conforme a abundância do preparado, mas
que, como diz a história, nem o que colhia mais tinha de sobra, não
tinha, de fato, onde guardar a sobra, nem o que colhia pouco estava
desprovido, pois a necessidade se reduzia acomodando-se ao
encontrado. Enquanto para os que guardavam o supérfluo, o excesso se
convertia em viveiro de vermes. Com isto a Escritura indica de algum
modo aos avarentos que todo o supérfluo amontoado pela paixão da
avareza, no dia seguinte, isto é, na vida futura, se converterá em
vermes para quem o reuniu. Ao ouvir isto, sabes perfeitamente que com
este verme se designa o verme que não tem fim, gerado pela avareza.
O fato de que o guardado só se conserve livre da corrupção no
sábado introduz um conselho: que existe um tempo em que convém
utilizar o trabalho de possuir aquelas coisas que, entesouradas, não
se corrompem; elas nos serão proveitosas quando, havendo concluído
esta vida de preparação, depois da morte, nos encontremos no
descanso. Não é por acaso que o dia anterior ao sábado é chamado
- e é realmente - parasceve, dia de preparação para o sábado.
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