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DOENTE DE CÂMARAS DE SANGUE
João Soares, morador na Vila de São Paulo, de que se tem feito
menção em outros lugares, veio à Capitania do Espírito Santo, onde estava o
Padre José, e aí adoeceu mui gravemente de câmaras de sangue; e apertou a
doença tanto com ele, que já ninguém fazia caso da sua vida.
Veio um dia o Padre José visitá-lo, e assentando-se na cama, lhe disse:
"filho, não vos levanteis mais, porque confio em Deus que sarareis". E correu-lhe a
mão pelo corpo, e logo com ajuda de Deus se lhe estancaram as câmaras, e se lhe
foi o fastio que também o atribulava, e logo comeu, e bebeu de um frasco de vinho
tinto, que o padre lhe mandara com outras coisas.
Ido o padre da casa do enfermo, chegou o Administrador Bartolomeu
Simões Pereira a visitá-lo, e perguntando-lhe como estava, respondeu João
Soares: "depois que o Padre José aqui chegou, cessou a doença, não me levantei
mais, com me levantar a noite passada cento e tantas vezes". Disse então o
Administrador: "quem podia alcançar isso de Deus, senão o Padre José?"
DE SUAS RELÍQUIAS PARA TODAS AS DOENÇAS, EM ESPECIAL DOR DE CABEÇA
Pela fama de sentidade do padre José, confirmada com tão notáveis
exemplos quotidianos de sua rara virtude e obras milagrosas, que Deus, por este
vaso escolhido fazia, muitas pessoas tomavam por devoção de se ajudarem das
relíquias do vestido do padre, para suas enfermidades, em especial para dor de
cabeça, como algumas pessoas o juram em seus testemunhos, terem-no ouvido e
visto em outras, e ainda experimentado em si mesmas.
Uma delas diz que, estando com uma dor mui aguda em uma ilharga,
entrou o Padre José a visitá-la, e lhe rogou deixasse por a manga da roupeta
donde tinha a dor, com que incontinenti se achou bem e livre da pontada.
DOENÇA DE COBRELO
Há uma grave doença, que chamam de cobrelo (1), que dando na parte
direita, com grandes dores vai cingindo uma pessoa pela cinta, com um vergão de
um dedo, e em chegando ponta com ponta, não há ordinariamente remédio de vida.
Desta doença ia mal tratado o nosso Irmão Francisco Dias,
acompanhando no navio de casa ao Padre José, no ano de mil quinhentos e
setenta e sete. E chegando à Capitania de Porto Seguro, por não haver ali
remédios humanos, determinou de se entregar só à Divina Providência, e aos
remédios espirituais.
E assim pediu ao Padre José, lhe fosse o dia seguinte dizer uma missa a
Nossa Senhora da Ajuda. Respondeu o padre: "untem-vos primeiro com o azeite do
Santíssimo Sacramento, que se não agravará a Mãe de pedirem primeiro socorro
ao Filho". E assim se fez, e logo abrandou algum tanto a dor.
No dia seguinte foi o padre a Nossa senhora a dizer uma missa, e dita
ela se foi o irmão lavar na fonte de Nossa Senhora, e logo se desfez e
desapareceu o cobrelo, e cessou a dor, no que se viu ser esta obra de Deus, feita
por intercessão da Virgem gloriosa, intervindo a oração do padre e a fé do irmão,
que me referiu a mim este caso no ano de seiscentos e cinco.
(1) É o que no Brasil, atualmente, se chama "cobreiro". A cópia de Évora
acrescenta: "doença a que chamam vulgarmente de cobrelo ou colubre" - anais
B.N., XIX, 42.
DOENTE DE ASMA
Estando o Padre José na fazenda de Magé, distrito do Rio de Janeiro,
veio ter com ele um homem, muito maltratado de asma havia muitos anos; o padre
lhe disse que fosse beber em uma fonte, que está na mesma fazenda, junto a um
engenho, e que rezasse cinco vezes o Padre Nosso e cinco Ave Marias, à honra
das cinco chagas de Nosso Senhor Jesus Cristo, e que logo seria são.
Fê-lo assim, e incontinenti sarou, sem nunca mais lhe tornar o mal. Este
homem é morador no Rio de Janeiro, por nome Baltazar Martins Florença.
ALEIJADO QUE ANDAVA EM MULETAS
Outro vizinho da mesma cidade, por nome Francisco Domingues, jura em
seu testemunho que andando em muletas, por não poder dar um passo sem elas,
foi ao Colégio visitar ao Padre José, o qual mandou que deixasse as muletas; e
dizendo que não podia andar sem elas, o padre lhe deu um bordão.
Deixou as muletas e levou o bordão, e daí por diante se foi achando
bem, até que de todo sarou, sem lhe vir mais a dita doença; mas o bordão ainda
traz consigo em memória do benefício recebido de Deus, por orações de seu servo
José, e o mostrou quando deu este testemunho diante do administrador Mateus da
Costa Aborim.
DE UM EXCOMUNGADO
Outra vez vindo o padre da Bahia, e querendo entrar na Capitania do
Espírito Santo, se levantou uma mui grave tempestade, que não deixou entrar o
navio; disse então o padre: "algum excomungado vem aqui, venha a mim que eu o
absolverei".
Veio logo um homem Ter com o padre, que tinha tomado um livro da
mesa do Governador Dom Francisco de Sousa, e publicando-se carta de
excomunhão, não quis sair a ela. Deu o livro ao padre e recebeu a absolvição.
Cessou a tempestade, e acudiu vento em popa que o meteu pela barra adentro.
AMANSA UM BOI BRAVO
Foi o Padre José com o Padre Vicente Rodrigues, a confessar a gente
da fazenda e engenho de Magé, que pouco há nomeamos; andavam para meter na
moenda um boi muito bravo, e não podiam. Chegou-se o padre ao curral, e deitou
uma bênção ao boi, com que ficou tão manso que logo se foi à canga, e um
negrinho o meteu nela.
NÃO TOCOU O BICHO NA SUA LETRA
Até nos papéis e escritos do Padre José, faz Deus maravilhas. O padre
Jerônimo Rodrigues, andando na missão dos Carijós, em uma carta que escreve ao
Padre Provincial Fernão Cardim, da Lagoa dos Patos, a vinte e seis de novembro
de seiscentos e cinco, depois de escrever uma perda que tiveram de cartapácios,
breviário e outras coisas necessárias, diz assim: "mas consolamo-nos muito,
porque vindo entre estes livros que de todo se perderam, algumas coisinhas do
nosso bendito Padre José, nenhuma delas se perdeu, e comendo o bicho um
cartapácio, tanto que chegou a uma folha onde estava um hino escrito de letra do
padre, não foi mais por diante, deixando atrás muitas comidas: Sit nomen Dei
benedictum in sanctis suis".
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