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"E vós, montes de Israel, estendei os vossos ramos,
florescei e dai frutos ao meu povo de Israel".
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Irmãos caríssimos, os lugares, assim como os tempos,
também têm as suas significações. Assim como pela
manhã entendemos o conhecimento da verdade, pelo meio dia
o amor da virtude, pela tarde a ignorância, pela meia
noite a malícia, pela luz a justiça e pelas trevas a
culpa, assim também entendemos pelo campo a liberdade,
pela colina a boa ação, pela montanha a contemplação e
pelo céu a bem aventurança. Pelo vale, porém, a
iniquidade, pelo abismo o desespero e pelo inferno a
condenação.
O campo, constituído por uma igualdade, possui acima de
si três lugares dotados de significação, que são a
colina, a montanha e o céu, e três outros abaixo, que
são o vale, o abismo e o inferno.
O campo significa a liberdade, pois assim como aquele que
está no campo possui a faculdade, se a tanto não o
impede algum outeiro, de dirigir-se segundo queira para
diante ou para trás, à direita ou à esquerda, assim
também aquele que verdadeiramente é livre possui o poder
de fazer o que mais lhe agrada.
A colina, que se levanta apenas um pouco sobre a
planície da terra, exprime a boa ação, pela qual nos
elevamos do que é terreno.
A montanha, que mais se aproxima das nuvens, designa a
contemplação, a qual, elevando-nos para o alto, nos
exalta à visão dos bens celestes.
O céu, por ser o lugar da bem aventurança, não
inconvenientemente significa a própria bem aventurança.
O vale, por se dirigir para baixo, significa a
iniquidade, a qual conduz os maus para as coisas
inferiores.
O abismo significa o desespero, para o qual os iníquos
descem, partindo do vale da iniquidade. Por isto é que
está escrito:
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"O ímpio, depois de ter caído no abismo dos pecados,
tudo despreza".
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Já o inferno, por ser um lugar de condenação,
significa a própria condenação.
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"E vós, montes de Israel, estendei os vossos ramos,
florescei e dai frutos".
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Os montes de Israel são os justos que alcançaram a
contemplação, os quais, pelo amor do próximo,
estendem os seus ramos, isto é, seus santos e frutuosos
pensamentos, procedentes da raiz da fé e do tronco da boa
vontade, florescem pelos bons princípios, dão frutos
pela consumação e produzem folhas pela boa ação.
Três parecem ser, com razão, os principais gêneros de
árvores que nascem, crescem, estendem seus ramos,
florescem, dão fruto e produzem folhas nos montes de
Israel. O primeiro é a oliveira, o segundo é a
videira e o terceiro é a figueira. A oliveira significa
a misericórdia, porque assim como o azeite excede os
demais licores, assim a misericórdia precede as demais
virtudes. A videira significa a sabedoria, porque o
vinho, moderadamente tomado, aguça o engenho. A
figueira, pela doçura de seus frutos, designa a doçura
interior. Costuma-se associar a misericórdia ao Pai,
a sabedoria ao Filho, e a doçura ao Espírito Santo.
O Pai, pois, planta a oliveira, o Filho a videira, e
o Espírito Santo a figueira. Deve-se saber, no
entanto, que ainda que façamos tais distinções nas
associações destas três virtudes, não se deve
entender, porém, que haja alguma divisão na operação
das três pessoas.
O profeta, deplorando nos réprobos a infrutuosidade
destas três virtudes, disse:
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"A figueira não florescerá, as vinhas não
germinarão, e faltará o fruto da oliveira".
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A oliveira significa, portanto, a misericórdia; a
videira, a sabedoria, e a figueira a doçura interior.
Haverá talvez outras árvores nos montes de Israel,
pelas quais são figuradas outras virtudes, assim como
pelo buxo, por causa de seu verdor, designa- se a fé;
pelo cedro, por causa de sua altura, a esperança; pelo
pinheiro, a reta repreensão; e pela murta, designa-se
a temperança.
Estendamos, irmão, nossos ramos, floresçamos e demos
fruto, para que não ocorra que Nosso Senhor nos
encontre infrutuosos, nos corte e nos queime. O
Evangelho, de fato, nos avisa que
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"o machado já está posto à raiz das árvores".
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Frutifiquemos, pois, como a oliveira, a videira e a
figueira. Há alguns, no entanto, que dão frutos
plenos de amargor. Destes é que se encontra escrito:
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"O seu vinho é fel de dragões, e veneno incurável de
áspides".
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Nós, porém,
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"como a oliveira verdejante na casa do Senhor, esperemos
na misericórdia de Deus",
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o qual vive e reina, pelos séculos dos séculos.
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