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"O Altíssimo santificou o seu tabernáculo".
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Irmãos caríssimos, o tabernáculo do Senhor, isto
é, a santa Igreja, possui suas pedras, seu cimento,
seus fundamentos, suas paredes, seu teto, seu
comprimento, largura e altura, seu santuário, seu
coro, sua nave, seu átrio, seu altar, sua torre, seus
sinos que soam, suas janelas de vidro, sua pintura
interior e exterior, suas doze velas, seu pontífice que
a dedica. Todas estas coisas que mencionamos são plenas
de sacramentos, e são para nós documentos de realidades
espirituais. Cada uma de suas pedras são cada um
daqueles que crêem em Cristo, quadradas e firmes,
quadradas pela estabilidade da fé, firmes pela virtude da
paciência. O cimento é a caridade, que acomoda entre
si cada um dos indivíduos, os une e vivifica e, para que
não destoem entre si por alguma discórdia, nivela-os em
um mesmo plano. Os fundamentos são os profetas e os
apóstolos, conforme está escrito:
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"Edificados sobre o fundamentos dos apóstolos e dos
profetas, sendo o mesmo Jesus Cristo a principal pedra
angular".
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As paredes são os contemplativos, edificados sobre o
fundamento de Cristo, que se afastam do que é terreno e
aderem ao que é celeste. O teto neste edifício
espiritual não se destaca por estar no alto, mas por
pender para baixo, por diferir no material de que é feito
o restante do edifício, e por possuir uma disposição
distante e dessemelhante do mesmo: são os ativos,
próximos das ações terrenas, menos preocupados com as
coisas celestes por causa de suas imperfeições, que
administram as coisas terrenas conforme as necessidades do
próximo. O comprimento da santa Igreja é considerado
segundo a longa duração do tempo; a largura, segundo a
multidão do povo; a altura, segundo a diferença dos
méritos. De fato, a Igreja se estende em comprimento
segundo três tempos, o tempo da lei natural, o tempo da
lei escrita e o tempo da graça, que abarca desde o
primeiro até o último justo. Estende-se também em
largura, na medida em que se dilata pela numerosidade de
muitos povos. Ergue-se em altura, na medida em que se
eleva pela diferença entre os menores e os maiores.
Podemos também dizer que o comprimento da santa Igreja
vai do oriente até o ocidente, e sua largura do
setentrião até o meridião. De seu comprimento foi
dito:
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"Virão muitos do oriente e do ocidente que se sentarão
com Abraão, Isaac e Jacó no reino dos céus".
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De sua largura foi dito:
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"Eu direi ao aquilão: dá-mos cá; e ao meio dia:
não os retenha; traze os meus filhos de países remotos,
e minhas filhas das extremidades da terra".
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E de ambos foi dito:
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"Levanta-te e recebe a luz, Jerusalém, levanta em
roda os olhos, e vê: teus filhos virão de longe, e
tuas filhas surgirão de todos os lados".
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A altura também pode ser considerada segundo os graus de
dignidade. A Igreja de fato se ergue para o alto na
medida em que sobre os leigos está colocada a ordem
sacerdotal, e sobre a sacerdotal a episcopal, e sobre
esta a arquiepiscopal, e sobre todas finalmente está
colocado o Papa, bispo dos romanos. O sacrário
significa a ordem das virgens; o coro, a ordem dos
continentes; a nave, a ordem dos casados. O
santuário, de fato, é mais estreito do que o coro, e o
coro é mais estreito do que a nave, assim como menor é o
número das virgens do que o dos continentes, e o dos
continentes menor do que o dos casados. O lugar do
santuário também é mais sagrado do que o coro, e o do
coro mais do que o da nave, assim como o coro das virgens
possui maior dignidade do que a ordem dos continentes e a
ordem dos continentes possui maior dignidade do que a dos
casados. O átrio são os falsos cristãos, que foram
santificados pelo fato de terem sido batizados, mas são
plenos da podridão dos cadáveres por estarem plenos da
corrupção dos vícios. Deste átrio foi escrito:
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"Mas o átrio, que está fora do templo, deixa-o de
parte e não o meças, porque ele foi dado aos gentios";
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pois os falsos cristãos serão condenados juntamente com
os gentios, e serão entregues aos demônios para serem
punidos.
O altar é Cristo, sobre o qual oferecemos não apenas o
sacrifício das boas obras, mas também das orações,
quando dizemos, na celebração da missa:
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"... por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho,
na unidade do Espírito Santo".
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A torre da Igreja é o nome do Senhor, sobre o qual
está escrito:
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"O nome do Senhor é uma torre fortíssima, a ele se
acolhe o justo e encontra um refúgio elevado".
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Os sinos são os pregadores, que anunciam a palavra de
Deus. As janelas de vidro são os homens espirituais,
pelos quais resplandece sobre nós o conhecimento divino.
A pintura interior significa a pureza do coração; a
exterior, a pureza do corpo. As doze velas são os doze
apóstolos, que pregaram pelas quatro partes do mundo o
estandarte da cruz e a fé na paixão de Cristo.
A estes segue-se o pontífice, que significa o próprio
Cristo, que circundou a sua Igreja, primeiro no tempo
da lei natural ensinando-a através dos patriarcas,
depois no tempo da lei escrita ensinando-a pelos profetas
e finalmente, no tempo da graça, por si próprio,
circundando-a e nela entrando, externamente ensinando-a
pela doutrina, internamente santificando-a pela graça.
No primeiro circuito ele disse:
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"Não comereis carne com sangue".
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No segundo disse:
No terceiro disse:
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"Ouvistes o que foi dito aos antigos: `Não
matarás'. Eu, porém, vos digo que todo aquele que se
irar contra seu irmão será réu de julgamento".
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Muitos julgam estarem contidos no interior deste edifício
pela santidade, estando na realidade longe e afastados
dele pela maldade. Fora dele estão os impuros, os
fornicadores, os concubinários, os adúlteros, os
incestuosos, os ébrios, os usurários, os avarentos,
os ladrões, os desonestos, os possuídos pelo ódio, os
homicidas, os mentirosos, os perjuros, e todos aqueles
que
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"chamam ao seu irmão de louco",
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e que
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"olham para uma mulher cobiçando-a".
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Estes não são nem pedras, pois não participam da
caridade. Procuremos, pois, irmãos, viver uma tal
vida que possamos ser pedras de Deus. Que a isto se
digne de nos ajudar aquele que vive e reina por todos os
séculos dos séculos.
Amén.
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