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"Cantai ao Senhor um cântico novo, porque operou
maravilhas".
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O Senhor operou maravilhas na criação do mundo, opera
maravilhas na redenção do gênero humano.
Operou maravilhas na criação do mundo criando as coisas
terrestres e as coisas celestes, as inferiores e as
superiores, as visíveis e as invisíveis, as corporais e
as espirituais. Operou também maravilhas nas coisas
criadas, nos elementos e nos elementados, nas coisas
simples e compostas, nas causas e nas eficiências, nas
naturezas e nas formas, nas figuras e nas cores, na
vegetação do que germina e na fecundidade do que gera.
Operou maravilhas na redenção do gênero humano
assumindo a carne, padecendo fome e sede, operando
milagres, morrendo, ressuscitando, subindo ao céu,
concedendo a graça do Espírito Santo, perdoando as
culpas, justificando os ímpios, fazendo bem aventurados
aos miseráveis.
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"Cantai ao Senhor um cântico novo, porque operou
maravilhas".
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O cântico é a vida. O cântico novo é a vida nova.
O cântico velho, a vida velha. A vida nova é a
justiça, a vida velha é a culpa.
O canto, porém, se distingue de três modos: há o
canto grave, o canto agudo e o canto super agudo. O
canto grave significa a vida dos cônjuges, o agudo a dos
continentes, o superagudo a das virgens.
Quem vive bem, canta bem; quem vive mal, canta mal,
pois está em dissonância. Estão em dissonância com
este canto os avarentos, os ladrões, os gatunos, os
impuros, os fornicadores, os adúlteros, os
preguiçosos, os homossexuais, os perjuros, os
mentirosos, os homicidas. Estão também em dissonância
com este canto muitos que foram sublimados às sagradas
ordens e que deveriam habitar em casas de marfim, isto
é, observar a castidade, como os subdiáconos, os
diáconos, os presbíteros, os bispos, os arcebispos, e
talvez os homens apostólicos, os cônegos regulares, os
monges, os eremitas e os reclusos. De todos estes alguns
estão em dissonância com o louvor divino porque, embora
sejam cristãos de nome, são todavia pagãos em sua
vida. Embora tenham uma reta fé de Deus, trata-se,
todavia, de uma fé morta, porque não possuem obras.
Estão, portanto, em dissonância com o cântico do
louvor de Deus, porque
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"Não é belo o louvor na boca do pecador".
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Todos estes cantam o cântico velho, que mais significa a
tristeza do que a alegria. De homens que louvam deste
modo está escrito:
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"`De que me serve a mim a multidão das vossas
vítimas?'
diz o Senhor.
`Não quero mais holocaustos de carneiros, nem gordura
de animais nédios, nem sangue de bezerros, nem de
cordeiros, nem de bodes. Quando vínheis à minha
presença, quem pediu tais ofertas às vossas mãos, para
que andásseis a passear nos meus átrios? Não
ofereçais mais sacrifícios em vão; o incenso é para
mim abominação. A neomênia e os sábados, e as outras
festividades não as posso já sofrer; os vossos
ajuntamentos são iníquos. A minha alma aborrece as
vossas calendas e as vossas solenidades; elas
tornaram-se-me molestas, estou cansado de as suportar.
E, quando estenderdes as vossas mãos, apartarei de vós
os meus olhos; e quando multiplicardes as vossas
orações, não as atenderei, porque as vossas mãos
estão cheias de sangue'".
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"As vossas mãos estão cheias de sangue",
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diz Isaías, isto é, estão cheias de pecado. E diz
também o Senhor por meio do profeta Malaquias:
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"Eis que eu vos lançarei o braço, e atirarei sobre
vosso vulto o esterco de vossas solenidades, e se vos
apegará a vós, diz o Senhor".
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Por meio de outro profeta diz também o Senhor de tais
homens:
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"Julgavam possuir vasos de cântico como Davi".
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De fato, cantando palavras de louvor divino com vozes
sutis, utilizando-se de duas ou três modulações
diversas,
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"julgavam possuir vozes de cântico como Davi",
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porque consideravam-se ser verdadeiros louvadores de
Deus. Suas vozes, porém, não agradavam a Deus,
porque suas vidas O desagradavam.
Nós, portanto, irmãos caríssimos, cantemos ao
Senhor conforme nos preceitua o salmista:
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"Deus é rei de toda a terra, salmodiai com
sabedoria".
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O que é salmodiar com sabedoria? Não sejamos entregues
às más obras, ao salmodiar não estejamos atentos a
palavras ociosas, não sejamos curiosos pelo vão olhar,
não sejamos dissolutos pelo riso, inconstantes e errantes
pelo pensamento e pelo discurso. Cantemos como certo
poeta no-lo ensina:
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"Em todas estas horas, seja a mesma a voz do coração e
da boca. A voz é agradável ao coro, quando o coração
o é ao corista".
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Cantemos, portanto, ao Senhor um cântico novo porque
operou maravilhas, e não somente porque operou mas
também porque operará maravilhas. Operou duas
maravilhas principais, a primeira na criação do mundo,
a segunda na redenção do gênero humano. E haverá de
operar outras duas, a primeira na renovação do criado,
a segunda na glorificação do redimido. No fim dos
tempos, quando fizer novas todas as coisas, operará
então maravilhas na renovação do criado. Quando disser
aos eleitos:
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"Vinde, benditos de meu Pai, recebei o Reino que vos
está preparado desde a criação do mundo",
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operará então maravilhas na glorificação do redimido.
A esta glorificação digne-se de nos conduzir Jesus
Cristo, Nosso Senhor, que vive e reina.
Amén.
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