SERMO XX. SOBRE QUALQUER ALMA FIEL.

"Pequena é a abelha entre os voláteis; o seu fruto, contudo, possui o princípio da doçura".

Ecles. 11, 3

Caríssimos, os menores feitos dos santos nos oferecem, nas Sagradas Escrituras, muitos e grandes ensinamentos. Do mesmo modo, as que parecem as menores entre as criaturas são às vezes as que nos oferecem os maiores exemplos de virtude.

A abelha, de fato, embora seja pequena entre os voláteis, pela sua natureza e pelos seus feitos nos oferece uma grande exortação para a justiça. Esta de que nos fala a Escritura de hoje no-la é apresentada como pequena entre os voláteis. Ela própria carrega a água necessária para a elaboração de sua obra, possui ira por sua natureza e ferrão, pelo qual exerce o castigo. Não coabita, produz cera e produz mel. Possui patas, possui asas e emite zumbido. Imita o seu guia e é veloz em seu vôo. Todas estas coisas que dissemos da abelha podemos também, no sentido espiritual, entendê-las convenientemente de qualquer alma fiel.

A alma fiel é pequena pela humildade, não desejando saber, mas temer as coisas elevadas. Quanto mais se sente sublime pela justiça, tanto maior é o seu esforço em humilhar-se.

Carrega a água para a sua obra, compungindo-se tanto pelo seu pecado como pelo prêmio futuro.

Possui ira, irando-se com justiça contra os maus.

Possui ferrão com o qual pica, punindo o mal não apenas em si, como também, tanto quanto o pode, nos demais.

Não coabita, coibindo a si mesma do prazer ilícito.

Produz a cera, demonstrando aos demais, pela sua santidade, os modos da justiça.

Secreta o mel, acumulando, tal como a abelha, nos recônditos do coração, a doçura da caridade.

Possui patas, caminhando de virtude em virtude e de boa obra em boa obra.

Possui asas quando voa, pela contemplação, das coisas inferiores às superiores.

Emite seu zumbido quando em tudo dá graças ao Criador.

Segue o seu guia ao imitar humildemente quem quer que lhe seja maior.

É, finalmente, veloz por ser expedita em todo exercício da virtude e em toda exibição da boa obra.

Imitemos, irmãos caríssimos, esta abelha, para que mereçamos possuir o princípio da doçura pela medula da caridade e pela doçura da suprema bem aventurança.

Contamos, para tanto, com o auxílio daquele que vive e reina, por todos os séculos dos séculos.

Amén.