MISSIONÁRIOS E INSTITUTOS AD GENTES

65. Entre os agentes da pastoral missionária, hoje como no passado, ocupam um lugar de importância fundamental, aquelas pessoas e instituições às quais o Decreto Ad Gentes dedica um capítulo, especial sob o título: «os missionários».[127] A propósito disso, impõe-se uma reflexão profunda, sobretudo para os próprios missionários, que, devido às alterações no contexto da missão, podem ser induzidos a não compreenderem já o sentido da sua vocação, a não saberem já aquilo que hoje a Igreja espera especificamente deles.

Ponto de referência são estas palavras do Concílio: «embora o compromisso de difundir a fé recaia sobre todos os discípulos de Cristo, na medida das suas possibilidades, Cristo Senhor, do meio da multidão dos seus seguidores, sempre chama aqueles que quer, para conviverem com Ele e os enviar a pregar aos não cristãos. Por isso, Ele, por acção do Espírito Santo que distribui como quer os seus carismas para o bem das almas, acende no coração dos indivíduos a vocação missionária e, ao mesmo tempo, suscita no seio da Igreja aquelas instituições que assumem como dever específico a tarefa da evangelização, que diz respeito a toda a Igreja».[128]

Trata-se, portanto, de uma «vocação especial», modelada a partir da dos apóstolos, e que se manifesta na totalidade com que se orienta o compromisso para o serviço da evangelização dos não cristãos: é compromisso que envolve toda a pessoa e vida do missionário, exigindo-lhe uma doacção de forças e de tempo sem limites. Aqueles que estão dotados dessa vocação, «enviados pela legítima autoridade, vão ter, por espírito de fé e obediência, com aqueles que se encontram longe de Cristo, entregando-se exclusivamente àquela obra para a qual, como ministros do Evangelho, foram assumidos».[129] Os missionários devem meditar no dom recebido e na resposta que ele implica e actualizar a sua formação doutrinal e apostólica.

66. Os Institutos Missionários devem empregar todos os recursos necessários, tirando proveito da sua experiência e criatividade na fidelidade ao seu carisma originário, para prepararem adequadamente os candidatos, e assegurarem o restabelecimento das energias espirituais, morais e físicas dos seus membros.[130] Sintam-se parte viva da comunidade eclesial e trabalhem em comunhão com ela. De facto, cada Instituto nasceu para a Igreja e deve enriquecê-la com as características próprias, segundo 0 seu espírito particular e sua especial missão, e os próprios Bispos são os guardiões dessa fidelidade ao carisma originário.[131]

Os Institutos missionários, de uma forma geral, nasceram nas Igrejas de antiga tradição cristã, e historicamente foram instrumentos da Congregação da Propaganda Fide, em vista da difusão da fé e da fundação de novas Igrejas. Eles acolhem hoje, numa medida sempre maior, candidatos provenientes das jovens Igrejas que eles fundaram, enquanto surgem novos institutos, precisamente nos países que antes só recebiam missionários e hoje já os enviam também. É de louvar esta dupla tendência, que demonstra a validade e actualidade da vocação missionária específica destes Institutos, hoje ainda «absolutamente necessários»: [132] não apenas para a actividade missionária ad gentes como é sua tradição, mas também para a animação missionária, tanto nas Igrejas de antiga tradição cristã, como nas mais jovens.

A vocação especial dos missionários ad vitam, isto é, por toda a vida, mantém toda a sua validade: representa o paradigma do compromisso missionário da Igreja, que sempre tem necessidade de doacções radicais e totais, de ímpulsos novos e corajosos. Os missionários e as missionárias, que consagraram a vida toda ao testemunho de Cristo ressuscitado entre os não cristãos, não se deixem, pois, atemorizar por dúvidas, incompreensões, recusas, perseguições. Rejuvenesçam a graça do seu carisma específico, e retomem corajosamente o seu caminho, preferindo - em espírito de fé, obediência e comunhão com os Pastores - os lugares mais humildes e difíceis.