A CARIDADE: FONTE E CRITÉRIO DA MISSÃO

60. «A Igreja em todo o mundo - disse-o durante a minha visita ao Brasil - quer ser a Igreja dos pobres. Ela deseja extrair toda a verdade contida nas Bem-aventuranças, e em particular na primeira: "Bem-aventurados os pobres em espírito ...". Ela quer ensinar e pôr em prática esta verdade como Jesus, que veio fazer e ensinar».[113]

As jovens Igrejas, que, na sua maioria, vivem no meio de povos sofrendo de uma enorme pobreza, referem muitas vezes esta preocupação como parte integrante da sua missão. A Conferência dos Bispos latino-americanos, em Puebla, depois de ter recordado 0 exemplo de Jesus, escreve que «os pobres me recem uma atenção preferencial, seja qual for a situação moral ou pessoal em que se encontrem. Criados à imagem e semelhança de Deus, para serem seus filhos, essa imagem está ofuscada, e até ultrajada. Por isso, Deus toma a sua defesa e os ama. Daí resulta que os primeiros destinatários da missão são os pobres, sendo a sua evangelização, sinal e prova por excelência da missão de Jesus».[114]

Fiel ao espírito das Bem-aventuranças, a Igreja é chamada à partilha com os pobres e oprimidos de qualquer género. Assim exorto os discípulos de Cristo e as comunidades cristãs, desde as famílias às dioceses, das paróquias aos institutos religiosos, a fazerem uma sincera revisão da própria vida, na perspectiva da solidariedade com os pobres. Ao mesmo tempo, agradeço aos missionários que, com a sua presença amorosa e o seu serviço humilde, trabalham para o desenvolvimento integral da pessoa e da sociedade, levantando escolas, centros sanitários, leprosarias, casas de assistência para diminuidos físicos e anciãos, iniciativas para a promoção da mulher. Agradeço em particular, às religiosas, aos irmãos e aos leigos missionários, pela sua dedicação, enquanto encorajo os voluntários de Organizações não-governamentais, hoje cada vez mais numerosos, que se dedicam a estas obras de caridade e de promoção humana.

De facto são estas «obras de caridade» que dão testemunho da alma de toda a actividade missionária: o amor, que é e permanece o verdadeiro motor da missão, constituindo também «o único critério pelo qual tudo deve ser feito ou deixado de fazer, mudado ou mantido. É o princípio que deve dirigir cada acção, e o fim para o qual deve tender. Agindo na perspectiva da caridade ou inspirados pela caridade, nada é impróprio, e tudo é bom».[115]