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Entretanto, se as vias a seguir, para as quais o Concílio do nosso
século orientou a Igreja, vias que nos indicou na sua primeira
Encíclica o saudoso Papa Paulo VI, permanecerão de modo
perduradoiro exactamente as vias que nós todos devemos seguir, ao
mesmo tempo nesta nova fase podemos justamente interrogar-nos: Como?
De que maneira será conveniente prosseguir? O que será necessário
fazer, para que este novo advento da Igreja, conjugado com o já
iminente fim do segundo Milénio, nos aproxime d'Aquele que a
Sagrada Escritura chama «Pai perpétuo», Pater futuri saeculi?
Esta é a pergunta fundamental que o novo Sumo Pontífice tem de
pôr-se, desde o momento em que aceitou, em espírito de obediência
de fé, o chamamento em conformidade com a ordem mais de uma vez
dirigida a Pedro: «Apascenta os meus cordeiros» ; o que quer
dizer: «Sê pastor do meu rebanho»; e depois: «... e tu, uma
vez convertido, confirma os teus irmãos».
É precisamente aqui neste ponto, caríssimos Irmãos, Filhos e
Filhas, que se impõe uma resposta fundamental e essencial, a saber:
a única orientação do espírito, a única direcção da
inteligência, da vontade e do coração para nós é esta: na
direcção de Cristo, Redentor do homem; na direcção de Cristo,
Redentor do mundo. Para Ele queremos olhar, porque só n'Ele,
Filho de Deus, está a salvação, renovando a afirmação de
Pedro: «Para quem iremos nós, Senhor? Tu tens as palavras de
vida eterna».
Através da consciência da Igreja, tão desenvolvida pelo
Concílio, através de todos os graus desta consciência, através de
todos os campos de actividade onde a Igreja se afirma presente, se
encontra e se consolida, devemos tender constantemente para Aquele
«que é a Cabeça», para «Aquele de quem tudo provém e nós somos
criados para Ele», para Aquele que é, ao mesmo tempo, «o caminho
e a verdade» e «a ressurreição e a vida», para Aquele ao ver o
Qual vemos o Pai, para Aquele, enfim, que devia ir, deixando-nos
— entende-se aqui a alusão à sua morte na Cruz e depois à sua
Ascensão ao Céu — para que o Consolador viesse a nós e continue a
vir constantemente como o Espírito da verdade. N'Ele estão
«todos os tesouros da sabedoria e da ciência» e a Igreja é o seu
Corpo. A Igreja «em Cristo é como que um sacramento, ou sinal,
e instrumento da íntima união com Deus e da unidade de todo o género
humano»; e disto é Ele a fonte! Ele mesmo! Ele o Redentor!
A Igreja não cessa de ouvir as suas palavras, continuamente as relê
e reconstrói com a máxima devoção todos os pormenores da sua vida.
Estas palavras são escutadas também pelos não cristãos. A vida de
Cristo fala ao mesmo tempo também a muitos homens que ainda não se
acham em condições de repetir com Pedro: «Tu és o Cristo, o
Filho de Deus vivo». Ele, Filho de Deus vivo, fala aos homens
também como Homem: é a sua própria vida que fala, a sua
humanidade, a sua fidelidade à verdade e o seu amor que a todos
abraça. Fala, ainda, a sua morte na Cruz, isto é, a
imperscrutável profundidade do seu sofrimento e do seu abandono. A
Igreja não cessa nunca de reviver a sua morte na Cruz e a sua
Ressurreição, que constituem o conteúdo da vida quotidiana da mesma
Igreja. De facto, é por mandato do próprio Cristo, seu Mestre,
que a Igreja celebra incessantemente a Eucaristia, encontrando nela
«a fonte da vida e da santidade», o sinal eficaz da graça e da
reconciliação com Deus e o penhor da vida eterna. A Igreja vive o
seu mistério e nele vai haurir sem jamais se cansar, e busca
continuamente as vias para tornar este mistério do seu Mestre e
Senhor próximo do género humano: dos povos, das nações, das
gerações que se sucedem e de cada um dos homens em particular, como
se repetisse sempre, seguindo o exemplo do Apóstolo: «Tomei a
resolução de não saber, entre vós, outra coisa, a não ser Jesus
Cristo, e Jesus Cristo crucificado». A Igreja permanece na
esfera do mistério da Redenção, que se tornou precisamente o
princípio fundamental da sua vida e da sua missão.
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