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11. Que dizer então das objecções, atrás
referidas, relativamente à missão ad gentes?
Respeitando todas as crenças e todas as sensibilidades,
devemos afirmar antes de mais, com simplicidade, a nossa
fé em Cristo, único Salvador do homem — fé que
recebemos como um dom do Alto, sem mérito algum da nossa
parte. Dizemos com S. Paulo: «eu não me envergonho
do Evangelho, o qual é poder de Deus para salvação de
todo o crente» (Rm 1, 16). Os mártires
cristãos de todos os tempos — também do nosso — deram e
continuam a dar a vida para testemunhar aos homens esta
fé, convencidos de que cada homem necessita de Jesus
Cristo, o Qual, destruindo o pecado e a morte,
reconciliou os homens com Deus.
Cristo proclamou-se Filho de Deus, intimamente unido
ao Pai e, como tal, foi reconhecido pelos discípulos,
confirmando as suas palavras com milagres e sobretudo com a
ressurreição. A Igreja oferece aos homens o
Evangelho, documento profético, capaz de corresponder
às exigências e aspirações do coração humano: é e
será sempre a «Boa Nova». A Igreja não pode
deixar de proclamar que Jesus veio revelar a face de
Deus, e merecer, pela cruz e ressurreição, a
salvação para todos os homens.
À pergunta porquê a missão?, respondemos, com a fé e
a experiência da Igreja, que abrir-se ao amor de
Cristo é a verdadeira libertação. N'Ele, e só
n'Ele, somos libertos de toda a alienação e extravio,
da escravidão ao poder do pecado e da morte. Cristo é
verdadeiramente «a nossa paz» (Ef 2,14), e «o
amor de Cristo nos impele» (2 Cor 5, 14), dando
sentido e alegria à nossa vida. A missão é um problema
de fé, é a medida exacta da nossa fé em Cristo e no
Seu amor por nós.
A tentação hoje é reduzir o cristianismo a uma
sabedoria meramente humana, como se fosse a ciência do
bom viver. Num mundo fortemente secularizado, surgiu uma
«gradual secularização da salvação», onde se
procura lutar, sem dúvida, pelo homem, mas por um homem
dividido a meio, reduzido unicamente à dimensão
horizontal. Ora nós sabemos que Jesus veio trazer a
salvação integral, que abrange o homem todo e todos os
homens, abrindo-lhes os horizontes admiráveis da
filiação divina.
Porquê a missão? Porque a nós, como a S. Paulo,
«nos foi dada esta graça de anunciar aos gentios a
insondável riqueza de Cristo» (Ef 3, 8). A
novidade de vida n'Ele é «Boa Nova» para o homem
de todos os tempos: a ela todos são chamados e
destinados. Todos, de facto, a buscam, mesmo se às
vezes confusamente, e têm o direito de conhecer o valor
de tal dom e aproximar-se dele. A Igreja, e nela cada
cristão, não pode esconder nem guardar para si esta
novidade e riqueza, recebida da bondade divina para ser
comunicada a todos os homens.
Eis por que a missão, para além do mandato formal do
Senhor, deriva ainda da profunda exigência da vida de
Deus em nós. Aqueles que estão incorporados na Igreja
Católica devem-se sentir privilegiados, e, por isso
mesmo, mais comprometidos a testemunhar a fé e a vida
cristã como serviço aos irmãos e resposta devida a
Deus, lembrados de que «a grandeza da sua condição
não se deve atribuir aos próprios méritos, mas a uma
graça especial de Cristo; se não correspondem a essa
graça por pensamentos, palavras e obras, em vez de se
salvarem, incorrem num julgamento ainda mais severo». [20]
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