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Quando, através da experiência da família humana, em contínuo
aumento a ritmo acelerado, penetramos no mistério de Jesus Cristo,
compreendemos com maior clareza que, na base de todas aquelas vias ao
longo das quais — de acordo com a sapiência do Sumo Pontífice
Paulo VI — a Igreja dos nossos tempos deve prosseguir, existe uma
única via: é a via experimentada de há séculos, e é, ao mesmo
tempo, a via do futuro. Cristo Senhor indicou esta via sobretudo,
quando — como ensina o Concílio — «pela sua Encarnação, Ele,
o Filho de Deus, se uniu de certo modo a cada homem». A Igreja
reconhece, portanto, como sua tarefa fundamental fazer com que uma tal
união se possa actuar e renovar continuamente. A Igreja deseja
servir esta única finalidade: que cada homem possa encontrar Cristo,
a fim de que Cristo possa percorrer juntamente com cada homem o caminho
da vida, com a potência daquela verdade sobre o homem e sobre o
mundo, contida no mistério da Encarnação e da Redenção, e com a
potência do amor que de tal verdade irradia. Sobre o pano de fundo
dos sempre crescentes processos na história, que na nossa época
parecem frutificar de modo particular no âmbito de vários sistemas,
de concepções ideológicas do mundo e de regimes, Cristo torna-se,
de certo modo, novamente presente, malgrado todas as suas aparentes
ausências, malgrado todas as limitações da presença e da actividade
institucional da Igreja. E Jesus Cristo torna-se presente com a
potência daquela verdade e daquele amor que n'Ele se exprimiram como
plenitude única e que não se pode repetir, se bem que a sua vida na
terra tenha sido breve e ainda mais breve a sua actividade pública.
Jesus Cristo é a via principal da Igreja. Ele mesmo é a nossa via
para «a casa do Pai» e é também a via para cada homem. Por esta
via que leva de Cristo ao homem, por esta via na qual Cristo se une a
cada homem, a Igreja não pode ser entravada por ninguém. Isso é
exigência do bem temporal e do bem eterno do mesmo homem. Por
respeito a Cristo e em razão daquele mistério que a vida da mesma
Igreja constitui, esta não pode permanecer insensível a tudo aquilo
que serve o verdadeiro bem do homem, assim como não pode permanecer
indiferente àquilo que o ameaça. O II Concílio do Vaticano, em
diversas passagens dos seus documentos, deixou bem expressa esta
fundamental solicitude da Igreja, a fim de que «a vida no mundo
/seja/ mais conforme com a dignidade sublime de homem» , em todos os
seus aspectos, e por tornar essa vida «cada vez mais humana». Esta
é a solicitude do próprio Cristo, o Bom Pastor de todos os
homens. Em nome de uma tal solicitude, conforme lemos na
Constituição pastoral do Concílio, «a Igreja que, em razão da
sua missão e competência, de modo algum se confude com a comunidade
política nem está ligada a qualquer sistema político determinado, é
ao mesmo tempo o sinal e a salvaguarda do carácter transcendente da
pessoa humana».
Aqui, portanto, trata-se do homem em toda a sua verdade, com a sua
plena dimensão. Não se trata do homem «abstracto», mas sim real:
do homem «concreto» , «histórico». Trata-se de «cada» homem,
porque todos e cada um foram compreendidos no mistério da Redenção,
e com todos e cada um Cristo se uniu, para sempre, através deste
mistério. Todo o homem vem ao mundo concebido no seio materno e nasce
da própria mãe, e é precisamente por motivo do mistério da
Redenção que ele é confiado à solicitude da Igreja. Tal
solicitude diz respeito ao homem todo, inteiro, e está centrada sobre
ele de modo absolutamente particular. O objecto destes cuidados da
Igreja é o homem na sua única e singular realidade humana, na qual
permanece intacta a imagem e semelhança com o próprio Deus. O
Concílio indica isto precisamente, quando, ao falar de tal
semelhança recorda que o homem é «a única criatura sobre a terra a
ser querida por Deus por si mesma». O homem tal como foi «querido»
por Deus, como por Ele foi eternamente «escolhido», chamado e
destinado à graça e à glória, este homem assim é exactamente
«todo e qualquer» homem, o homem «o mais concreto», «o mais
real»; este homem, depois, é o homem em toda a plenitude do
mistério de que se tornou participante em Jesus Cristo, mistério de
que se tornou participante cada um dos quatro biliões de homens que
vivem sobre o nosso planeta, desde o momento em que é concebido sob o
coração da própria mãe.
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