|
É, pois, confiando plenamente no Espírito da verdade, que eu entro
na posse da rica herança dos pontificados recentes. Esta herança
acha-se fortemente radicada na consciência da Igreja de maneira
absolutamente nova, nunca dantes conhecida, graças ao II Concílio
do Vaticano, convocado e inaugurado por João XXIII e, em
seguida, concluído felizmente e actuado com perseverança por Paulo
VI, cuja actividade eu próprio pude observar de perto. Fiquei
sempre maravilhado com a sua profunda sapiência e com a sua coragem, e
igualmente com a sua constância e paciência no difícil período
posconciliar do seu Pontificado. Como timoneiro da Igreja, barca de
Pedro, ele sabia conservar uma tranquilidade e um equilíbrio
providenciais mesmo nos momentos mais críticos, quando parecia que ela
estava a ser abalada por dentro, mantendo sempre uma inquebrantável
esperança na sua compacidade. Aquilo, de facto, que o Espírito
disse à Igreja mediante o Concílio do nosso tempo, e aquilo que
esta Igreja diz a todas as Igrejas não pode — apesar das inquietudes
momentâneas — servir para outra coisa senão para uma compacidade mais
maturada ainda de todo o Povo de Deus, bem consciente da sua missão
salvífica.
Desta consciência contemporânea da Igreja precisamente, Paulo VI
fez o primeiro tema da sua fundamental Encíclica, que se inicia com
as palavras Ecclesiam Suam; e seja-me permitido fazer referência e
pôr-me em conexão, antes de mais nada, com esta Encíclica, neste
primeiro e, por assim dizer, inaugural documento do presente
Pontificado. Com as luzes e com o apoio do Espírito Santo a
Igreja tem uma consciência cada vez mais aprofundada quer pelo que se
refere ao seu mistério divino, quer pelo que se refere à sua missão
humana, quer mesmo, finalmente, quanto a todas as suas fraquezas
humanas: esta consciência, precisamente, é e deve permanecer a
primeira fonte do amor por esta Igreja, assim como o amor, da sua
parte, contribui para consolidar e para aprofundar tal consciência.
Paulo VI deixou-nos o testemunho de uma consciência da Igreja
assim, extremamente perspicaz. Através das multíplices e não raro
sofridas componentes do seu Pontificado, ele ensinou-nos o amor
destemido pela Igreja, a qual — como afirma o Concílio — é
«sacramento, ou sinal, e instrumento da íntima união com Deus e da
unidade de todo o género humano».
|
|