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Se é certo que a ciência - ao contrário da Filosofia - comporta
aplicações práticas, é certo também que - igualmente pela própria
natureza das coisas - não compete a ela, mas à Filosofia, distinguir
entre o bom e mau uso dos conhecimentos científicos, o significado
para o homem que trazem consigo[331].
A Filosofia, como dissemos alhures[332], transcende o âmbito dos
aspectos parciais (próprio das ciências particulares) e situa-se no
do homem enquanto homem.
Desse modo, quando falamos em "bom" deste ou daquele particular ponto
de vista, devemos lembrar-nos de que se trata de um "bom" relativo e
que, estritamente falando, bom é somente o que se conforma com o
homem visto enquanto totalidade de seu ser pessoal.
Até que ponto essa lembrança é hoje oportuna e onde pode levar-nos a
moderna miopia cientificista, tudo isso torna-se muito claro quando
consideramos dois breves depoimentos contemporâneos (tipicamente
contemporâneos) recolhidos por Pieper[333].
O primeiro expressa o que sentiam alguns físicos ante a possibilidade
de construir a bomba atômica do ponto de vista técnico um trabalho
fascinante ("From a technical point of view it was a sweet and lovely
and beautiful job")[334].
"Uma mera tarefa de desenvolvimento da ciência". Desse modo o
inventor da napalm - é o segundo depoimento - interpretou seu
trabalho quando confrontado com fotografias de homens queimados pela
sua bomba. Uma tarefa que ele se declarava disposto a reassumir a
qualquer momento.
Talvez o mais grave em tudo isto seja o fato de que nosso tempo mal
consiga expressar o que há de errado nesses inquietantes depoimentos:
que estamos hipertrofiando aspectos parciais e deixando de ver o
essencial, inacessível à ciência.
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