1.2. "Filosofar" ou "Filosofia"?

Em capítulos posteriores, analisaremos os componentes do ato de filosofar (análise que dará acesso à essência do homem e à da Universidade), e este é o momento de discutir uma questão prévia de decisiva importância: por que Josef Pieper distingue filosofar de Filosofia?[47]

Com efeito, nem sempre Filosofia pode ser empregado no sentido de filosofar. Pois "Filosofia" pode indicar meramente uma disciplina ao lado de outras disciplinas (Matemática, Física, etc.), enquanto "filosofar" é uma atitude interior, um "modo de olhar" para o mundo e a realidade: "Filosofar é antes uma atitude humana fundamental diante do mundo (...) Filosofar e estudar Filosofia são duas coisas diferentes, e uma pode até ser obstáculo para a outra...[48]

E pode muito bem dar-se o caso de "a Filosofia enquanto 'matéria' ser estudada de maneira bem pouco filosófica"[49] (naturalmente, pode ocorrer também, que a disciplina "Filosofia" seja estudada, pesquisada e lecionada com o genuíno espírito do filosofar. É nesse sentido que falamos de "Filosofia da Educação" ou "Filosofia da Universidade" de Pieper, etc.)

É nesse contexto que se compreende o episódio que Pieper recolhe em sua autobiografia. Por ocasião das Bonner Hochschulwochen de 1947, convidado para proferir quatro conferências (que constituem o livro Was heisst Philosophieren?), quis denominá-las precisamente: "Que significa filosofar?"; mas os organizadores acharam essa formulação "insólita" e, a contragosto, teve de intitulá-las: "Introdução à Filosofia"[50].

Esse filosofar constituirá o coração da Filosofia da Educação pieperiana (o filosofar educacional de Pieper, naturalmente, desemboca numa Filosofia da Educação) e mostrar isto é o objetivo deste trabalho.