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Essa "abertura para a totalidade", esse "não deixar de considerar
nada" serão constitutivos da Universidade porque o são do próprio
homem.
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Acadêmico significa exatamente que a verdadeira riqueza do homem
consiste em compreender o ser, as coisas em si; a nobreza do homem se
funda em que ele seja capax universi, capaz de se apoderar do todo,
convenire cum ommni ente[259].
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Repitamos ainda uma vez: discutir o ser e os fins da Educação é
discutir em que consiste afinal a verdadeira riqueza do homem, ou
seja, aquilo que por natureza o homem está chamado a ser.
Ora, um observador atento reparará que as expressões de S. Tomás de
Aquino "convenire cum omni ente" e "capax universi", recolhidas na
citação anterior, são as mesmas que se empregam (em outras obras de
Pieper) para caracterizar não já a Universidade mas a própria
essência do espírito: "A alma espiritual - diz S. Tomás na sua
pesquisa sobre a verdade - está essencialmente disposta a 'convenire
cum omni ente' (...) o ser espiritual 'é capaz de apreender a
totalidade do real'"[260]. E "ser capaz de conhecimento espiritual
quer dizer: viver diante e em meio à realidade total. O espírito, e
só ele, é capax universi"[261].
Em Wahrheit der Dinge[262], seguindo ainda o primeiro artigo do De
Veritate, Pieper mostra que o princípio da verdade ontológica é uma
afirmação antropológica: o transcendental verum - ao contrário de
ens, res e unum - contém em si uma relação do ente a outro, ao
interior de outro ente, ou mais precisamente, à inteligência (no que
verum se distingue de aliquid, pois este também expressa relação, mas
somente de delimitação externa de um ente com respeito a outro).
Tal como em outras questões fundamentais, "pode-se até mesmo dizer
que a vertente antropológica dessa doutrina (sobre a verdade das
coisas) não poderia ser construída a não ser sobre fundamentos
teológicos (o Logos criador como fundamento da verdade das
coisas)"[263]. Daí que nosso próximo tópico seja dedicado ao
conceito de criação.
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