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A concepção de Pieper a cujo estudo dedicamos este trabalho é a de
que as características da educação universitária são as mesmas do
filosofar: "Formação acadêmica significa o mesmo que formação
filosófica"[184].
Dois parágrafos decisivos, que condensam em si muito do essencial que
vamos desenvolver neste e nos próximos capítulos, são os que se
encontram em Musse und Kult, onde categoricamente se afirma:
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Falar do lugar e do direito da Filosofia é, ao mesmo tempo, falar de
nada mais nada menos que do lugar e do direito da Universidade, da
formação acadêmica, e da formação em geral no sentido próprio da
palavra, a saber, naquele sentido pelo qual, por princípio a formação
se distingue da simples instrução profissionalizante e a ultrapassa.
Instruído é o funcionário e a instrução (profissional) se caracteriza
por dirigir-se a um aspecto parcial e específico no ser humano e, ao
mesmo tempo, a um determinado setor recortado do mundo. Já a formação
se dirige ao todo: culto e formado é aquele que sabe o que acontece
com o mundo em sua totalidade. A formação atinge o homem todo
enquanto é capax universi, enquanto é capaz de apreender a totalidade
das coisas que são[185].
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Em busca do genuíno conceito de Universidade em Was heisst
Akademisch?, Pieper inicialmente mostra a continuidade histórica -
quanto ao ideal do espírito acadêmico - que se dá no Ocidente desde a
Academia de Platão até as universidades de hoje: não é por acaso que
chamamos nossas atuais instituições de ensino superior de acadêmicas.
E, além disso, a escola de Platão tem sido, ao longo da História,
constantemente apontada como paradigma de todas as escolas superiores
do Ocidente[186].
Em que consiste esse caráter paradigmático?
Como vimos, o homem, por natureza, tende para a contemplação (o que
se mostra na índole teorética do filosofar) e a Universidade realiza
(deve realizar) em termos institucionais este anseio fundamental da
natureza humana. Daí que a Academia de Platão - para além da mera
continuidade histórica e independentemente de quais tenham sido suas
formas, programas de ensino e didática - constitua, em seu núcleo
mais essencial, um modelo atemporal, válido também para o nosso
tempo: "o modo filosófico de encarar o mundo"[187].
De tal modo que "uma formação não baseada na Filosofia, não
perpassada de Filosofia, não pode ser chamada de acadêmica"[188].
Naturalmente, teremos de explicitar esse paralelismo entre o
filosofar e a educação universitária: tal é a tarefa que nos
propusemos.
Tendo já indicado algumas características do filosofar (transcender o
mundo do trabalho e possuir caráter teorético), façamos a
transposição à Educação.
Na medida em que se aplica à Educação e à Universidade, "teoria" se
traduzirá por "artes liberais".
Pois acadêmico significa filosófico e filosófico significa
essencialmente (entre outras coisas) teorético e, portanto, algo
voltado unicamente para a captação da realidade e alheio a fins
práticos, e este é o sentido das artes liberais.
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