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Neste capítulo trataremos de algumas constantes metodológicas de
Pieper. Note-se, porém, que falar de "metodologia" quando nos
referimos a um pensador como Pieper é impróprio na medida em que esse
termo sugira operacionalidade ou qualquer tipo de procedimento
rígido. Pois, na realidade, filosofar é, para Pieper, "um processo
existencial que se desenvolve no centro do espírito, um ato
espontâneo que arranca da vida interior"[58].
Aliás, como se poderia falar em metodologia (em sentido próprio e
rigoroso) numa obra que tão acertadamente foi qualificada como de
insight e sabedoria?[59]
Isto estabelecido, passemos a analisar algumas constantes
"metodológicas" pieperianas.
Comecemos pelo fenômeno. No já citado estudo filosófico sobre o
sagrado, encontramos, explicitada pelo próprio autor, o voltar-se
para o fenômeno como uma de suas atitudes habituais enquanto
filósofo: "Como sempre, começaremos por apontar do melhor modo
possível a resposta (a uma indagação filosófica) dirigindo a atenção
ao fenômeno, isto é, àquilo que se manifesta"[60].
E, de fato, logo a seguir, recolhe situações (muitas delas vividas
pelo próprio autor) onde se manifesta o tema que se propôs, no caso,
o sagrado: a obrigação de descalçar-se para entrar em uma mesquita
(em atenção ao lugar), a proibição de fumar aos sábados em Israel (em
atenção ao tempo sagrado) etc.
Desde o mais minúsculo artigo ao mais volumoso livro, sempre a
análise pieperiana se alimenta da manifestação, do fenômeno: o
insight e a sabedoria se encontram justamente em trazer à
consideração aquilo que realmente é significativo e em saber
encontrar aí a profunda dimensão filosófica.
Com o fenômeno, Pieper traz a colorida viveza do concreto, da
experiência, o que torna a leitura algo fascinante, que se impõe com
o peso ds realidade, não permitindo sequer o aparecimento da célebre
objeção contra a obscuridade dos filósofos, homens - assim se formula
a irônica objeção - "com os pés firmemente cravados... nas
nuvens"[61].
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