3.7. Artes Liberais e Formação Profissional

Ao contrário do que possa patecer à primeira vista, quando se propõe uma Pedagogia das Artes Liberais, não se está, de modo algum, a descuidar a formação do profissional competente. Pois tal formação ocorre apesar de (ou, como se corrige Pieper nessas ocasiões: "apesar de", não: "precisamente por"[209]) não se estar diretamente a buscá-la.

Uma importante distinção feita por Pieper a propósito dessa e de outras realidades humanas é a que se dá entre "não querer que algo ocorra" e "querer que algo não ocorra": a sentença "Quem quiser salvar sua vida perdê-la-á" não vige só no âmbito religioso, mas também em muitas outras situações do homem, onde aquilo que se busca diretamente não se obtém; há bens que só alcançamos como dons, "por assim dizer, como fruto de uma procura endereçada para outra finalidade"[210].

Assim, por exemplo, no seu estudo sobre a virtude da fortaleza, recolhe a constatação feita pela Psicologia: "nunca o eu está tão exposto como quando solícito pela sua própria proteção"[211].

No que toca ao nosso caso,

naturalmente a "habilidade" profissional do médico, do cientista, do jurista é um fruto altamente desejável do estudo acadêmico. Mas não será o caso de que tal habilidade enquanto supera o nível do medíocre e do que é possível alcançar por um aprendizado meramente técnico, dependa, de fato, de um aprofundamento de admiração e totalmente desinteressado e despreocupado dos fins práticos, no terreno puramente "teorético" do ser? Será que a utilidade prática não depende, justamente, de que a teoria seja antes realizada em toda a sua pureza?[212]

Um estudo que visa obter a utilidade prática e por isso se estrutura de modo a excluir o elemento acadêmico-teorético não consegue obter sequer o fim útil que almejava.

A excessiva especialização - e o excesso está também na recusa do caráter liberal do estudo - leva à ruína não só do espírito acadêmico, mas também da qualificação profissional especializada que se propunha.