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Pieper está convencido, é aliás um tema de extraordinária importância
em sua filosofia (e a ele ainda voltaremos), de que a Filosofia está
dotada de uma "estrututura de esperança", isto é, jamais se poderá
dar resposta cabal a uma indagação filosófica; que é, portanto, um
assunto coletivo, a ser tratado em forma de diálogo ou
discussão[62]. "E, precisamente por isso, (...um tema filosófico) há
de ser examinado, desde o começo, como Quaestio Disputata, isto é, de
modo tal, que a cada momento sinta-se a presença dos que pensam de
outra maneira"[63].
O que afirmamos acima sobre o diálogo e a impossibilidade de dar
resposta cabal, de esgotar um assunto filosófico não significa,
evidentemente, que na quaestio disputata não se deva tomar uma
posição e defendê-la: não se trata, de modo algum, de agnosticismo.
Podemos conhecer a verdade, mas não podemos esgotá-la. E, já que o
homem pode conhecer a verdade (e na medida em que o pode fazer) a
discussão filosófica chega a uma determinatio, a uma conclusão.
Pieper considera tão importante o tema da quaestio disputata que
chega a afirmar que nele se condensa e se põe em evidência o que há
de paradigmático em S. Tomás[64].
Em seu ciclo de doze conferências, originalmente intitulado
Introdução a S. Tomás de Aquino - onde explicitamente pretende
mostrar em que e por que S. Tomás é o doutor universal da
Cristandade[65] - dedica toda uma conferência - a sétima -
exclusivamente ao espírito da quaestio disputata, princípio de
renovação da Universidade de hoje[66].
Dentre as características da quaestio disputata de S. Tomás de Aquino
(e que se torna em Pieper uma das constantes de seus livros),
destacamos a de dar voz ao adversário com toda a honestidade,
formulando sem distorções, exageros ou ironia (o que, em geral, nem
sempre ocorre nas polêmicas e debates de hoje), as posições
contrárias às que se defendem.
E - nessa sétima conferência - registra que em S. Tomás a
objetividade chega a tal ponto que o leitor menos avisado pode tomar
como do Aquinate aquilo que ele recolhe dos adversários a modo de
objeção. A propósito, em outra obra[67] lembra o triste exemplo do
tão celebrado Carl Prantl, que interpretou como se fosse a posição de
S. Tomás objeções brilhantemente por ele apresentadas às suas
próprias teses.
Torna-se dispensado dizer que, tal como S. Tomás[68], Pieper não
entende por quaestio disputata nada que tenha a ver com sutilezas
enfadonhas e estéreis[69].
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