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Do que até aqui consideramos, decorre o sexto capítulo de Offenheit
für das Ganze, que seguiremos neste tópico.
Nesse capítulo encontra-se
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a única sugestão concreta e organizacional que quero fazer no que
tange à reforma da Universidade. Ela se refere à abertura de um
espaço na própria estrutura da Universidade para uma discussão que se
situa para além da divisão entre Faculdades e disciplinas[342].
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É próprio da Universidade a educação filosófica, a discussão aberta à
totalidade do real, de questões que digam respeito ao "homem em si",
temas que interessam a várias áreas e sempre de novo dão lugar à
discussão (como já dissemos anteriormente, a abertura para o todo não
consiste numa justaposição de especialistas) como, por exemplo, a
discussão da legitimidade das línguas artificiais, do significado da
verdade, do alcance do conhecimento, do valor da tradição etc.
O objetivo da educação filosófica, diz Pieper, é precisamente
preparar o espírito para a discussão dessas questões; discussão cujo
paradigma se encontra na Universidade medieval (uma vez afastado o
infundado preconceito de que a Universidade medieval impunha a seus
alunos uma verdade acabada e global), sobretudo em Paris.
É óbvio que a proposta do restabelecimento da quaestio disputata da
Idade Média não significa imitação da forma concreta em que esses
debates se realizavam (ainda que Pieper faça notar que certas "regras
do jogo" da disputa medieval não devam de modo algum ser
subestimadas: especialmente aquela que impõe a necessidade de, no
diálogo, não responder a um argumento, pergunta ou objeção de
interlocutor sem antes ter exposto a argumentação do oponente por si
mesmo e recebido a explícita aprovação do adversário a essa
formulação).
O colóquio, a disputatio, dependerá fundamentalmente do espírito das
pessoas que participam.
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Só as pessoas que constituem a Universidade é que podem realizar essa
abertura para a totalidade de que estamos falando. É necessário,
pois, que os estudantes, por mais que se limitem a um aspecto
parcialmente formulado da realidade (aliás pela sua própria
disciplina científica), individualmente sejam postos em condições,
sejam estimulados, continuamente provocados, compelidos pelo próprio
espírito da instituição, a olhar, de modo pessoal, o todo do mundo e
da existência[343].
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O que caracteriza, pois, o genuíno professor universitário é a
capacidade e o preparo para promover e participar desses debates. Um
preparo que - mais que a competência científica - pressupõe a
capacidade de reconhecer que os resultados particulares do próprio
trabalho de pesquisa são aptos à consideração global. Numa palavra,
que saiba encarar e dialogar filosoficamente sobre sua especialidade.
Esclarece, finalmente, em breves palavras, que esse apelo à
consideração do todo nada tem a ver com proselitismos: também
aqui[344] o essencial é a atitude do professor como homem. E,
dificilmente, poder-se-iam estabelecer critérios comportamentais que
assegurassem, do ponto de vista administrativo, uma pureza no ideal
universitário.
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Nem é necessário dizer que isso (o apelo à consideração do todo) de
modo algum significa sinal livre nem sequer tolerância com a
imposição de confessionalismos privados; a Filosofia comporta seu
próprio modo de discrição. O que ela exige do professor é uma
perfeita independência no modo de responder, enquanto docente, à
questão referente à coesão total do mundo[345].
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