4.2. Abertura para o Todo: Essência do Espírito

Essa "abertura para a totalidade", esse "não deixar de considerar nada" serão constitutivos da Universidade porque o são do próprio homem.

Acadêmico significa exatamente que a verdadeira riqueza do homem consiste em compreender o ser, as coisas em si; a nobreza do homem se funda em que ele seja capax universi, capaz de se apoderar do todo, convenire cum ommni ente[259].

Repitamos ainda uma vez: discutir o ser e os fins da Educação é discutir em que consiste afinal a verdadeira riqueza do homem, ou seja, aquilo que por natureza o homem está chamado a ser.

Ora, um observador atento reparará que as expressões de S. Tomás de Aquino "convenire cum omni ente" e "capax universi", recolhidas na citação anterior, são as mesmas que se empregam (em outras obras de Pieper) para caracterizar não já a Universidade mas a própria essência do espírito: "A alma espiritual - diz S. Tomás na sua pesquisa sobre a verdade - está essencialmente disposta a 'convenire cum omni ente' (...) o ser espiritual 'é capaz de apreender a totalidade do real'"[260]. E "ser capaz de conhecimento espiritual quer dizer: viver diante e em meio à realidade total. O espírito, e só ele, é capax universi"[261].

Em Wahrheit der Dinge[262], seguindo ainda o primeiro artigo do De Veritate, Pieper mostra que o princípio da verdade ontológica é uma afirmação antropológica: o transcendental verum - ao contrário de ens, res e unum - contém em si uma relação do ente a outro, ao interior de outro ente, ou mais precisamente, à inteligência (no que verum se distingue de aliquid, pois este também expressa relação, mas somente de delimitação externa de um ente com respeito a outro).

Tal como em outras questões fundamentais, "pode-se até mesmo dizer que a vertente antropológica dessa doutrina (sobre a verdade das coisas) não poderia ser construída a não ser sobre fundamentos teológicos (o Logos criador como fundamento da verdade das coisas)"[263]. Daí que nosso próximo tópico seja dedicado ao conceito de criação.