3. São Justino mártir (século II).

No século seguinte na Palestina, temos um sábio convertido ao Cristianismo, que havia sido filósofo e passado por quase todas as principais escolas de filosofia da tradição grega. Após ter passado pelos filósofos platônicos, encontrou os cristãos. Segundo as suas próprias palavras,

"Um fogo então acendeu-se em minha alma; fui invadido pelo amor aos profetas e por aqueles que haviam amado a Cristo. Refletindo sobre as suas palavras, concluí que somente esta era a filosofia verdadeira e útil".

PG 6, 492

Justino era o seu nome. Convertido ao Cristianismo, mudou-se para Roma, onde, pelo contexto dos escritos que deixou, pode presumir- se que chegou a ser presbítero na Igreja de Roma. Nesta cidade escreveu numerosos textos, vários dos quais defendendo os cristãos contra as calúnias que lhes eram levantadas; por causa deles, foi preso e martirizado nos meados do século segundo. De São Justino, que já havíamos citado anteriormente, temos uma outra passagem em que ele nos descreve como é a celebração da Missa:

"Nós, depois de ter batizado àquele que acreditou e que se uniu a nós, o levamos para junto dos que chamamos irmãos, ali onde estão reunidos para rezar fervorosamente. Acabadas as preces, apresenta-se àquele que preside entre os irmãos pão e um cálice de água e vinho misturado com água. Quando o recebeu, louva e glorifica ao Pai de todas as coisas em nome do Filho e do Espírito Santo, e faz uma longa ação de graças, porque por Ele nos tornamos dignos destas coisas. Depois que o que preside termina a ação de graças e todo o povo tiver aclamado, os que entre nós se chamam diáconos dão a cada um dos presentes uma parte do pão e do vinho e água eucaristizados, que também são levados aos ausentes.

Este alimento se chama entre nós Eucaristia, da qual a nenhum outro é lícito participar a não ser àquele que crê nossa doutrina ser verdadeira e que foi purificado pelo Batismo para o perdão dos pecados e para a regeneração, e que vive como Cristo ensinou. Porque estas coisas não as tomamos como pão ordinário, nem bebida ordinária, mas assim como o Verbo de Deus tendo-se encarnado Jesus Cristo Nosso Salvador, teve carne e sangue para nossa salvação, assim também foi nos ensinado que o alimento eucaristizado, mediante a palavra da oração dEle procedente, alimento de que nosso sangue e nossa carne se nutrem com fim a nossa transformação, é a carne e o sangue daquele Jesus que se encarnou.

E no dia chamado do Sol realiza-se uma reunião num mesmo lugar de todos os que habitam nas cidades ou nos campos. Lêem-se os comentários dos Apóstolos ou os escritos dos profetas, enquanto o tempo o permitir. Em seguida, quando o leitor tiver terminado a leitura, o que preside, tomando a palavra, exorta a imitar estas coisas sublimes.

Depois nos levantamos todos juntos e recitamos orações; e como já dissemos, ao terminarmos a oração, são apresentados pão e vinho e água, e o que preside eleva, segundo o poder que há nele, orações e igualmente ações de graças e o povo aclama, dizendo amén. Então distribui-se e faz-se a cada um participante das coisas eucaristizadas, e aos ausentes se as envia por meio de diáconos.

E nos reunimos todos no dia do Sol, porque é o primeiro dia no qual Deus, mudando as trevas e a matéria, criou o mundo, e Jesus Cristo, Nosso Salvador, no mesmo dia ressuscitou entre os mortos".

Apologia Primeira
PG 6, 428-432

Em outra passagem, desta vez do Diálogo com Trifão, São Justino explica que este rito eucarístico é, segundo a doutrina cristã, verdadeiro sacrifício:

"Assim como aquele Jesus, que é chamado sacerdote pelo profeta, assim também nós, os que pelo nome de Jesus como um só homem acreditamos em Deus Criador de todas as coisas, somos a verdadeira raça sacerdotal de Deus, segundo nos atesta o mesmo Deus ao dizer que

`em todo lugar entre os gentios há quem lhe ofereça sacrifícios agradáveis e puros'.

Mal. 1, 11

Ora, Deus não recebe de ninguém sacrifícios, a não ser por meio de seus sacerdotes. De todos os sacrifícios por meio deste nome, os quais ordenou Jesus que se fizessem, a saber, na Eucaristia do pão e do cálice, sacrifícios que fazem os cristãos em todos os lugares da terra, já de antemão testifica Deus que lhe são agradáveis. Em troca, rejeita aqueles que vós fazeis, e por meio dos vossos sacerdotes, dizendo:

`E vossos sacrifícios não aceitarei de vossas mãos, pois desde a saída do Sol até o seu ocaso meu nome é glorificado entre as nações, enquanto que vós o profanais'.

Mal. 1, 10".

Diálogo com Trifão
PG 6, 640-641