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No século seguinte na Palestina, temos um sábio convertido ao
Cristianismo, que havia sido filósofo e passado por quase todas as
principais escolas de filosofia da tradição grega. Após ter passado
pelos filósofos platônicos, encontrou os cristãos. Segundo as suas
próprias palavras,
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"Um fogo então acendeu-se em minha alma;
fui invadido pelo amor aos profetas
e por aqueles que haviam amado a Cristo.
Refletindo sobre as suas palavras,
concluí que somente esta
era a filosofia verdadeira e útil".
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Justino era o seu nome. Convertido ao Cristianismo, mudou-se para
Roma, onde, pelo contexto dos escritos que deixou, pode presumir-
se que chegou a ser presbítero na Igreja de Roma. Nesta cidade
escreveu numerosos textos, vários dos quais defendendo os cristãos
contra as calúnias que lhes eram levantadas; por causa deles, foi
preso e martirizado nos meados do século segundo. De São Justino,
que já havíamos citado anteriormente, temos uma outra passagem em que
ele nos descreve como é a celebração da Missa:
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"Nós, depois de ter batizado
àquele que acreditou e que se uniu a nós,
o levamos para junto dos que chamamos irmãos,
ali onde estão reunidos para rezar fervorosamente.
Acabadas as preces,
apresenta-se àquele que preside entre os irmãos
pão e um cálice de água e vinho misturado com água.
Quando o recebeu,
louva e glorifica ao Pai de todas as coisas
em nome do Filho e do Espírito Santo,
e faz uma longa ação de graças,
porque por Ele nos tornamos dignos destas coisas.
Depois que o que preside termina a ação de graças
e todo o povo tiver aclamado,
os que entre nós se chamam diáconos
dão a cada um dos presentes
uma parte do pão e do vinho e água eucaristizados,
que também são levados aos ausentes.
Este alimento se chama entre nós Eucaristia,
da qual a nenhum outro é lícito participar
a não ser àquele que crê nossa doutrina ser verdadeira
e que foi purificado pelo Batismo
para o perdão dos pecados e para a regeneração,
e que vive como Cristo ensinou.
Porque estas coisas não as tomamos como pão ordinário,
nem bebida ordinária,
mas assim como o Verbo de Deus tendo-se encarnado
Jesus Cristo Nosso Salvador,
teve carne e sangue para nossa salvação,
assim também foi nos ensinado que o alimento eucaristizado,
mediante a palavra da oração dEle procedente,
alimento de que nosso sangue e nossa carne se nutrem
com fim a nossa transformação,
é a carne e o sangue daquele Jesus que se encarnou.
E no dia chamado do Sol realiza-se uma reunião
num mesmo lugar de todos os que habitam
nas cidades ou nos campos.
Lêem-se os comentários dos Apóstolos
ou os escritos dos profetas,
enquanto o tempo o permitir.
Em seguida,
quando o leitor tiver terminado a leitura,
o que preside, tomando a palavra,
exorta a imitar estas coisas sublimes.
Depois nos levantamos todos juntos
e recitamos orações;
e como já dissemos,
ao terminarmos a oração,
são apresentados pão e vinho e água,
e o que preside eleva,
segundo o poder que há nele,
orações e igualmente ações de graças
e o povo aclama, dizendo amén.
Então distribui-se e faz-se a cada um
participante das coisas eucaristizadas,
e aos ausentes se as envia por meio de diáconos.
E nos reunimos todos no dia do Sol,
porque é o primeiro dia no qual Deus,
mudando as trevas e a matéria,
criou o mundo,
e Jesus Cristo, Nosso Salvador,
no mesmo dia ressuscitou entre os mortos".
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Apologia Primeira
PG 6, 428-432
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Em outra passagem, desta vez do Diálogo com Trifão, São
Justino explica que este rito eucarístico é, segundo a doutrina
cristã, verdadeiro sacrifício:
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"Assim como aquele Jesus,
que é chamado sacerdote pelo profeta,
assim também nós,
os que pelo nome de Jesus
como um só homem acreditamos em Deus
Criador de todas as coisas,
somos a verdadeira raça sacerdotal de Deus,
segundo nos atesta o mesmo Deus ao dizer que
`em todo lugar entre os gentios
há quem lhe ofereça sacrifícios
agradáveis e puros'.
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Ora, Deus não recebe de ninguém sacrifícios,
a não ser por meio de seus sacerdotes.
De todos os sacrifícios por meio deste nome,
os quais ordenou Jesus que se fizessem,
a saber,
na Eucaristia do pão e do cálice,
sacrifícios que fazem os cristãos em todos os lugares da terra,
já de antemão testifica Deus que lhe são agradáveis.
Em troca, rejeita aqueles que vós fazeis,
e por meio dos vossos sacerdotes, dizendo:
`E vossos sacrifícios não aceitarei de vossas mãos,
pois desde a saída do Sol até o seu ocaso
meu nome é glorificado entre as nações,
enquanto que vós o profanais'.
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Mal. 1, 10".
Diálogo com Trifão
PG 6, 640-641
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