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Frei Tomás de Aquino celebrava a missa na capela do convento de
São Tiago, no morro de Santa Genoveva, em Paris. Não tinha
nem coroinha nem assistência. Era seis horas da manhã de um dia um
tanto frio, em princípios de março. A capela estava gelada. As
mãos do monge tornavam-se insensíveis quando, conforme o ritual,
mantinha-as levantadas por muito tempo. Era-lhe quase impossível
virar as páginas do missal. Ao contato, a prata da patena e do
cálice parecia queimar.
Lá fora ainda estava escuro, de modo que as duas velas e a lâmpada
do Santíssimo constituíam a única iluminação.
Frei Tomás lera a Epístola e o Evangelho do dia. Era urna missa
sem Credo, e ele sentia-se como que só quando a missa não era
dedicada a um santo, como naquele dia, 7 de março. Faltava-lhe
ânimo, já que sozinho devia repetir o tremendo sacrifício do
Calvário: mas agora confortou-se pensando que condividia a solidão
justamente com a primeira Vítima.
Tomou com alegria o cálice, a patena e a hóstia, e rogou a Deus
aceitasse o sacrifício oferecido pelos seus pecados e pelos de todos os
fiéis cristãos vivos e mortos. Um leve tremor sacudiu-o quando
pronunciou as palavras liturgias: "Concedei-nos, ó Deus, pelo
mistério desta água e deste vinho, sermos participantes da divindade
daquele que se dignou revestir-se de nossa humanidade".
Tomás não viu abrir-se a porta nem entrar um fradezinho cuja cabeça
enorme contrastava com o corpo pequeno, parecendo sustentada
diretamente pelas pernas. Sem ruído, mestre Alberto colocou-se no
último banco e começou a rezar.
Frei Tomás não o viu nem mesmo quando, voltando-se, convidou os
invisíveis fiéis a rezar para que o seu sacrifício fosse recebido
pelo Pai onipotente. Como das outras vezes, quando disse o Orate,
fratres, na igreja vazia, pensou nos próprios irmãos. Nesses
momentos orava por eles com grande fervor; agora, porém, para
desapontamento seu, não sentiu maior fervor murmurando os nomes de
Landolfo e de Rinaldo. Havia no ar, ou melhor, em seu coração,
um estranho silêncio do qual surgiu o tenebroso pensamento de que os
irmãos não deviam ser nomeados nas orações para os vivos, e sim nas
dos defuntos juntamente com os pais e Marta, cujo falecimento lhe
havia sido anunciado há três meses pelas beneditinas de Cápua.
Afastou esse pensamento e rezou pela irmã Adelásia, por Teodora e
seu marido, pelas populações de Aquino, Roca-sêca e São
João, por frei João de Wildhausen, geral da Ordem, por frei
Reginaldo de Piperno e por mestre Alberto, pelos franciscanos
Boaventura na Itália e Rogério Bacon na Inglaterra, pelo prior e
confrades do convento de São Tiago, pelo povo de Paris,
especialmente por madame Fourchon, que tinha perdido os três filhos
na cruzada e estava muito enferma, pelo estudante de teologia Etienne
Fripet, para que sua memória e inteligência lhe permitissem superar
os exames ... assim havia prometido à madame Fourchon e ao jovem
Fripet.
No entanto, três outros frades tinham entrado na capela para celebrar
a missa, e o murmúrio de suas vozes chegava até ele como o conforto
dos amigos na hora da dor.
Depois aproximou-se o momento em que Deus desceria ao altar sob as
espécies de pão e vinho, e quando Tomás pronunciou as
antiquíssimas palavras sagradas, tudo em volta empalideceu e se
apagou. E Deus desceu numa plácida doçura, enchendo o mundo com a
sua bênção e presságio de delícias num mundo futuro.
Frei Tomás, em adoração, rogou que seu sacrifício fosse levado
ao Altíssimo pelas mãos dos anjos, orou a Deus que se lembrasse dos
que tinham morrido antes dele ... e murmurou os nomes de seu pai, de
sua mãe, de Marta e do velho irmão Landolfo, morto quinze dias
antes.
Nesse ponto todo som se suspendeu, . e um movimento iniciou-se entre
ele e o céu. Sem levantar os olhos, ele viu o teto da capela
retrair-se em alturas nebulosas. A treva cindiu-se, a cortina
vermelha do tabernáculo aumentou, a cor aos poucos mudou-se num
branco leitoso, depois condensou-se em forma de um livro luminoso com
tantas folhas quantas são as estrêlas, e todas as páginas estavam
escritas em caracteres luminosos e vivos. E todas aquelas letras de
ouro cintilante e de azul ondeante formavam nomes e, embora estes
fossem em número infinito, só dois pôde ele ler: eram os nomes de
seus irmãos Landolfo e Rinaldo. O livro foi-se dissolvendo
enquanto a rápida revelação voltou ao céu e a treva retornava sôbre
o altar, deixando reaparecer as duas velas que, com a pálida luz do
Santíssimo, constituíam a única iluminação.
Batendo no peito, como estatui a liturgia, frei Tomás pediu a Deus
lhe concedesse, e a todos os outros pecadores, um lugar entre os
apóstolos e mártires. Depois comungou.
Pouco depois estava na sacristia onde outros frades se paramentavam
para a missa. Mal tinha tirado os paramentos quando entrou mestre
Alberto e, dirigindo-se diretamente a ele, sussurrou:
- Tenho notícias para ti, meu filho, notícias graves.
Tomás exclamou:
- Meus irmãos estão no céu.
Alberto olhou para ele espantado:
- Já o sabias?
- Sim.
- Desde quando?
- Há meia hora.
Ambos fizeram o sinal da cruz.
- Orei Conrado mandou justiçá-los - comunicou Alberto.
- Landolfo era rude, mas tinha bom coração - disse Tomás. E
Rinaldo era um homem genial: a certo momento esperei mesmo que
escrevesse um grande poema, talvez em torno de coisas maiores. Muitas
vezes orei para que assim fosse. Escrevê-lo-á no Paraíso, e
nossa mãe e Marta terão muito prazer.
Alberto apertou-lhe a mão em silêncio, voltou-se e começou a
preparar-se para a missa, enquanto Tomás voltava à capela, para
fazer a ação de graças, e Sómente depois trancar-se-ia em sua
cela. Só então chorou.
- Eis, agora podeis vê-lo - disse mestre Alberto. - Sinto não
tenha sido possível ontem à noite, quando chegastes. Era a hora do
grande silêncio.
- Padre, já lho dissestes? - perguntou Piers.
- Sim. Se quiserdes, levai convosco o escudeiro: gostará de o ver
também. A terceira porta à direita é a do horto; lá o
encontrareis.
Piers inclinou-se instintivamente diante daquele estranho homenzinho
de cabeça enorme: não o conhecia, mas ninguém podia deparar com
Alberto de Ratisbona sem sofrer-lhe o fascínio, que já tinha feito
dele uma figura legendária. Ainda bem que o prior tinha-lhe mostrado
o caminho, dado que naquele embaraço de edifícios cinzentos e
amarelos, era fácil perder-se. Um frade leigo, aberta a porta,
havia-os conduzido através de um verdadeiro dédalo de corredores,
jardins, plantações e passagens expostas às intempéries.
O horto não estava muito verde, pois a estação ainda ia no
início, mas o sol estava morno e no ar vibrava um quê de primavera.
Piers viu alguns frades que iam e vinham nas pequenas alamedas, lendo
o breviário e rodando o rosário entre os dedos. Nenhum deles falava
e o único ruído era o dos passos no cascalho. Parecia entrar num
país de sonho, sem qualquer contato com o mundo exterior.
O enorme frade que se aproximava, coroa de cabelos interrompida aos
lados da testa e um pequeno topete no meio, permaneceu estranho até
que Piers não viu seus olhos: eram os de Teodora, ou pelo menos
muito parecidos. E eis o sorriso, aquele sorriso sempre igual.
"Não pareceria seu irmão", pensou Piers, "mas talvez seu pai ou
algo mais". Outros pensamentos, porém, cada qual mais estranho,
tumultuavam em seu cérebro. Surpreendeu-se em desejando que aquele
homem, tão bondoso e forte, fosse seu pai: parecia-lhe estar em
casa, ainda mais que dois braços estendidos davam-lhe as
boas-vindas, como se o estivessem esperando há muito. Quisera
atirar-se de joelhos, como o filho pródigo, e, tremendo todo,
debulhou-se em lágrimas.
- Benvindo, querido amigo, - disse Tomás. - Deus vos abençoe
por tudo que fizeste em favor dos meus.
Cego pelas lágrimas e profundamente comovido, Piers suspirou:
- Padre ... padre Tomás, onde está Deus?
- Muito perto, neste momento.
- Fiz tudo para salvá-los, padre Tomás. Duas vezes estive a
ponto de o conseguir. Tínhamos arranjado dinheiro para comprar as
sentinelas, e estas levaram o dinheiro e nada fizeram. Depois,
quando tínhamos arregimentado cinqüenta homens dispostos a assaltar a
prisão, chegou a notícia que no leito de morte o imperador tinha dado
uma anistia geral. Decidimos aguardar ainda dois dias, mas no dia
seguinte soube-se que rei Conrado revogara a anistia. Então
tentamos o assalto, mas muito tarde: eles já tinham sido executados,
e ,muitos outros com eles. Soubemo-lo durante o combate. Depois
chegaram tropas em socorro dos guardas e nós tivemos que retirar-nos.
Calou-se. Depois de um longo silêncio, Tomás perguntou com voz
tranqüila:
- Por que, meu bom amigo, tentastes salvá-los?
- Por quê? Eu fora dependente da vossa família, vira a dor de
vossas irmãs e queria poupar-lhes mais. Tinham perdido quase tudo,
vós estáveis no convento e o conde San Severino era muito jovem e
além disso tinha de ocupar-se da condessa Teodora. Pelo menos esses
dois estão em segurança. Em Verona soube que tinham chegado à
Espanha.
- E o devem a vós.
- Mas em Verona não consegui nada. Desiludi-os, e a vós todos.
- De modo algum - retificou Tomás sério. - Quando alguém fez
tudo que podia, o bom ou mau resultado não contam. Vós cumpristes a
vossa missão.
- Assim falava a vossa irmã, soror Maria de Getsêmani.
- E assim é. Não vos recrimineis quando não tendes culpas.
Deplorai, porém, a vossa verdadeira culpa.
- Isto é?
- Perguntastes: "Onde está Deus?". Queríeis dizer: "Por
que Deus permitiu que Landolfo e Rinaldo morressem?". E talvez
mais: "Por que Deus não me ajudou a libertá-los?".
Pretendestes que fosse feita a vossa vontade no céu e na terra porque
o vosso propósito vos parecia bom. Mas os caminhos do Senhor não
são os nossos. Ele queria Landolfo e Rinaldo no paraíso.
Piers baixou a cabeça:
- Frei Tomás, vós não vistes o que eu vi. A Itália está sob
o domínio da loucura. A águia maior morreu, mas as águiazinhas
são quase piores. Por toda parte há lágrimas, sangue, desespero.
Minha própria vida pareceu-me insensata, e de fato o é. Eis,
confessar-vos-ei, não consigo capacitar-me de que Deus exista.
- Não é necessário que eu exista, - respondeu Tomás calmamente
- não é necessário que vós existais. Deus, porém, deve
existir, porque doutro modo nada mais poderia existir. Dificilmente
poderíeis duvidar da vossa existência: seria contrariar o princípio
de contradição. Se realmente não existísseis, como poderíeis
duvidar de alguma coisa? Vós, portanto, existis, mas vossa
existência não é autônoma. Vós a recebestes dos pais e
ancestrais, do ar que respirais, dos alimentos e das bebidas que
tomais. Os rios, eles também receberam a existência, e assim os
montes. a própria terra e todo o resto do universo. Ora, se o
universo inteiro é um sistema de recebedores de existência deve haver
também um doador. r se, por sua vez, esse doador tivesse recebido a
existência, não seria o doador, mas um outro seria o doador de todos
que recebem. Logo, o primeiro doador deve possuir uma existência
autônoma. Deve ser a existência. Esse doador nós o chamamos
Deus. Podeis contradizer?
- Não posso contradizer, - respondeu Piers - mas não me
satisfaz. E não pode satisfazer a nenhum daqueles que sofrem.
- Vós, então, não perguntais se Deus existe, mas por que existe
o sofrimento. Que significa sofrer? Qual é a causa do sofrimento,
qual a sua conseqüência? Quando as partes que deveriam estar unidas
estão separadas e impedidas na sua tendência de reunir-se, temos o
sofrimento do qual deriva a dor. Um golpe de espada separa tecidos,
músculos e tendões que deveriam estar unidos, e isso causa o
sofrimento e a dor. Ou então, duas pessoas se amam, estão
separadas e não podem unir-se: deriva disso sofrimento e dor.
"E se as partes que deveriam estar unidas'', pensou Piers "se os
homens que deveriam estar juntos são separados para sempre? Se entre
eles a barreira é intransponível e tão alta que lhes impeça de se
darem conta que deveriam estar unidos.. . até que seja muito tarde e
sua vida desperdiçada?" E disse em voz alta:
- Por que deve acontecer tudo isso? Por que o que deveria estar
unido é separado? Explicastes-me qual é a causa do sofrimento e
como a dor é-lhe conseqüência, mas não me explicastes por que
Deus permite a causa, isto é, a separação.
- Toda dor humana - explicou Tomás - tem origem na dor primitiva,
na separação do homem de Deus.
Piers parou de repente, e só então percebeu estavam passeando pára
baixo e para cima, no horto. Viu Robin um pouco longe, sentado num
banco e pensou: "Esqueci-o completamente". Tomás lia nele como
num livro aberto.. Sabia que Piers não percebera troca de olhares
entre ele e Robin. especialmente aquela com a qual o escudeiro
implorava ajuda do frade para o seu patrão. E agora disse:
- O sol lhe fará bem.
Piers retomou a caminhada e perguntou:
- O afastamento do homem de Deus é a história do pecado original
rio paraíso terrestre, não?
- Sim.
- Coisas longínquas, padre Tomás. Que temos nós com isso:'
- Diante de Deus o tempo não existe: foi ontem e será amanhã.
- Não entendo.
- Compreendereis logo. Nós lemos a história do pecado no
Gênesis, mas também os antigos, os gregos e outros povos,
lembravam-se dele, e chamavam "idade de ouro" o tempo do paraíso
terrestre. Lembrais as palavras da serpente: "Comei e
tornar-vos-ei como Deus"? Nós comemos, e com aquele ato de
rebelião afastamo-nos de Deus: cortamos o laço entre o mundo
natural e o sobrenatural.
- E por isso fomos expulsos do paraíso e tivemos de sofrer e morrer.
Foi esta a resposta de Deus.
- Não, amigo, esta foi a conseqüência inevitável da nossa
ação. Deus, porém, deu outra resposta que se chama Cristo.
Seguiu-se uma pausa. Piers suspirou e no seu suspiro estavam a
Inglaterra e Foregay e a voz cavernosa e impaciente do velho padre
Thornton: Agnus Dei, qui tollis peccata mundi, miserere nobis. E
a mãe que lia, sentada ereta no banco da igreja, um livro de missa
que sabia de cor, enquanto o pequeno Piers esperava impaciente que
tudo acabasse e se pudesse ir almoçar.
Tomás disse:
- Nosso Senhor tomou sôbre si toda a dor daquele afastamento.
Medianeira entre Deus e o homem é a cruz.
"Soror Maria de Getsêmani" pensou Piers. "Padre Thornton e
soror Maria de Getsêmani: um espaço de vinte anos entre um e outra
... e no entanto vivem juntos em minha mente. Pode ser que exista
realmente um mundo fora do tempo".
- Dessa maneira a vida sobrenatural foi dada novamente ao homem, -
prosseguiu Tomás. - E assim Deus é a preciosa gleba em que
prospera a semente humana, que tem três raízes com que se agarra ao
solo: a fé, a esperança e a caridade. E todas três são atos de
vontade: vontade de crer na verdade revelada por Deus, vontade de
confiar nas promessas de Cristo, vontade de ver em Deus o
Bem-supremo.
- Parece-me que estou compreendendo - disse Piers francamente. -
Seria como ... o juramento de fidelidade da criatura... diante do
amor de Deus.
E reviu o irresistível sorriso que introduzia num jubiloso mistério.
- Agora compreendereis também - prosseguiu Tomás - que sofrer
significa ajudar Nosso Senhor a carregar a cruz. Se o amais, como
podeis desejar subtrair-vos à dor? Quem ama não quer ignorar os
sofrimentos do seu amor.
- E verdade, - murmurou Piers - é verdade.
- O homem ama tantas coisas: a riqueza, o poder, uma mulher. Mas
se quisésseis dizer numa só palavra o que o homem deseja, seja como
for, como vos exprimiríeis?
- A felicidade - respondeu Piers após breve reflexão. - O homem
quer ser feliz.
- De acordo, mas o que é a felicidade?
- Não o sei. Sei apenas o que seria para mim...
- Então existe algo que vós desejais mais de qualquer outra coisa.
- Sim, mas não a terei nunca.
- E se a tivésseis, seríeis feliz?
- De certo.
- Mas se a tivésseis, e devêsseis temer que pudessem vo-la
arrebatar, seríeis ainda feliz?
- Não creio. Em todo caso, não o seria inteiramente.
- ,Então estamos de acordo no afirmar que a felicidade consiste em
possuir o bem desejado, qualquer que seja, sem receio de o perder: é
isso?
- Sim.
- Ora, na vida terrena temos não só o temor, mas a certeza de a
perder, esta vida, porque um dia deveremos morrer. Logo, a
verdadeira felicidade completa e perpétua não a podemos encontrar
aqui. Nem poderia ser de outro modo, porque felicidade perpétua não
é senão uma outra maneira de se designar Deus. - Os olhos de
Tomás brilhavam. Compreendeis, agora? O desejo da felicidade
perpétua está sempre no homem, em todos os homens. Mas depois do
primeiro pecado este desejo desviou-se, e tolamente nós consideramos
que a felicidade seja ora isto ora aquilo: o ouro ou o poder ou a
união com outra criatura, enquanto na realidade só a podemos
encontrar em Deus. Amar a Deus, eis o verdadeiro objetivo do
homem. "Ama e faze o que quiseres", diz Santo Agostinho. E
Nosso Senhor disse: "Buscai antes de tudo o reino de Deus, e o
resto vos será dado por acréscimo".
- Frei Tomás, - murmurou Piers - creio ... creio que pela
primeira vez em minha vida consigo pensar. Não vos afasteis! Quero
dizer ... deixai-me ficar aqui convosco.
- Esta é precisamente a nossa atividade - explicou Tomás
serenamente. - Nós queremos ensinar os homens a pensar. Mas não
me tenhais em demasiada estima, porque a nossa fé não se funda no
pensamento humano, mas sim no que o próprio Deus nos ensinou.
Todavia é confortador saber que temos a razão do nosso lado, e não
contra nós, como tantos falsos filósofos pretendem.
Ouviu-se o som do sino. -
- E Deus que chama - explicou Tomás, cujos olhos estavam
irrequietos. - Vem, meu amigo.
Também Robin levantou-se do banco e os seguiu, enquanto de todo
lado chegavam frades tranqüilos e sem pressa, mas bastante velozes.
Piers viu-os organizar-se em fila e esperou que Tomás entrasse
nela. f,
Robin alcançou-o:
- Senhor ...
- Dize.
- Parece-me satisfeito. Vê-se que o consolastes.
Piers olhou-o em silêncio e, pela primeira vez após muitos meses,
pôs-se a rir.
Depois entraram na capela.
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