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Uma planta é uma substância dotada de vida vegetativa. As
principais funções correspondentes a essa modalidade da vida são,
como já disse ao falar do homem, a nutrição, o crescimento e a
reprodução. Podemos enumerá-las por esta ordem, visto que
nutrição tem por fim assegurar o pleno desenvolvimento do organismo,
e o organismo está plenamente desenvolvido quando está apto para a
reprodução. Ao período adulto, que é o da reprodução,
segue-se a decadência do organismo, e depois a morte.
Como substâncias materiais que são, as plantas compõem-se de dois
princípios: a matéria-prima e a forma substancial. A
matéria-prima provém do exterior, dos seres materiais que constituem
o meio que rodeia a planta, o solo, ar, onde existe unida a outras
formas substanciais. A operação pela qual a matéria, perdendo
essas outras formas, passa a ser regida pela forma da planta, e
portanto a fazer parte da própria substância desta, chama-se a
assimilação.
A forma substancial da planta chama-se alma vegetativa. Ë só uma
por planta, como já disse; há na planta outras formas, mas são
formas acidentais, sobrepostas à alma vegetativa, e a que serve de
suporte o conjunto matéria-prima e forma substancial. Esta une-se
diretamente à matéria-prima. Tudo o que há de essencial na
disposição da planta é regido por ela. Os elementos que constituem
a planta, compostos químicos, células, etc., não existem como
seres autônomos, mas como partes diferenciadas dum todo. Não
existem formalmente, na planta, mas virtualmente. Queremos dizer com
isso que há na planta unidade de existência e de ação, que esses
elementos, longe de terem uma forma própria que a forma da planta
submeta e violente, concorrem, mantendo as propriedades que teriam se
fossem seres autônomos, para o bem da planta em conjunto. É a forma
da planta que exige a complexidade da sua estrutura; que dá à
matéria, numa parte umas propriedades, noutra parte propriedades
diferentes,
A organização que a forma comunica à matéria é tal que as ações
exteriores a que normalmente está submetida concorrem também para a
vida da planta. E é essa a única fonte de energia de que a planta
dispõe. Vive do que recebe de fora, gasto dia a dia, ou acumulado
no organismo. A teoria tomista da vida é por isso um justo meio entre
o automatismo, que reduz o ser vivo a um agregado acidental de partes
agindo, sem motivo, em conjunto, e um animismo exagerado, que,
fazendo da forma, não uma lei de atividade, mas um motor, a
materializa no fim de contas, visto torná-la homogênea da matéria.
Não há na atividade vegetativa nada que dispense o concurso da
matéria. É portanto uma atividade que está na matéria em
potência. Daí se conclui que a alma vegetativa, seu princípio,
existe em potência na matéria, e passa ao ato quando a matéria, sob
a ação do germe e do meio que o rodeia, está suficientemente
disposta para isso. Da mesma maneira, dissolvido o corpo, a alma
vegetativa, que em si mesma é incorruptível, dissolve-se por
acidente, e, deixando de existir em ato, volta a existir unicamente
em potência.
Se uma parte, destacada da planta, e colocada em condições
favoráveis, adquire vida autônoma e dá origem a uma nova planta, é
porque a disposição que a matéria dessa parte tinha acidentalmente
era suficiente para assegurar o mínimo de atividade necessária à vida
vegetativa. Então, a alma vegetativa que, como disse, existe em
potência na matéria, em toda a matéria, passa ao ato sob a ação
dos agentes externos. É um caso de reprodução por acidente, por
meios diferentes daqueles que a Natureza destinou para esse fim.
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