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Se as nossas palavras, portanto, não podem aplicar-se a Deus e às
criaturas em sentido unívoco, as que dizemos de Deus também não
são equívocas. Aplicam-se a Deus por analogia.
Já vimos que o ser, e todos os transcendentais, são noções
análogas. Manifestam-se nas diversas coisas de maneiras
essencialmente diversas, essencialmente, está bem dito, porque é
precisamente essa diversidade que distingue entre si as essências das
coisas. Temos agora de estender a analogia além de todo o limite,
de a alargar até à exclusão de toda a maneira de ser particular
[56].
E então podemos dizer que Deus é Deus, fazendo do verbo
uma simples cópula verbal que não pretende obrigar Deus a ser à
nossa maneira; e que, em Deus ser Deus, há, num sentido pleno,
eminente, transcendente, divino, tudo quanto significamos de real ao
dizer que alguma coisa existe, e é boa, verdadeira, forte ou bela.
Não devemos perder isto de vista no que se segue. Vamos falar dos
"atributos" de Deus. Ao fazê-lo, devemos afastar toda a idéia
de que há em Deus atributos distintos da sua essência. A bondade de
Deus não é distinta de Deus; é um aspecto segundo o qual o Mundo
depende dele, e que nós distinguimos porque o nosso espírito, feito
para a análise, não poda conhecer o simples senão sob a aparência
da composição. Deus é bom à maneira divina, isto é, na
plenitude e na simplicidade da sua essência. E o que digo da bondade
digo-o de todos os outros atributos. É preciso ressalvar a analogia
de todos os termos por que o designamos.
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