27. Pascal.

A influência de Descartes sobre os seus contemporâneos foi imensa. Mas não conseguiu convencer Pascal, grande matemático como ele. Este, inteligência extraordinariamente lúcida e precoce, pode dizer-se que se formou a si mesmo, independentemente de qualquer escola. Com palavras certeiras, criticou Descartes, mostrando a diferença entre o espírito matemático e o "esprit de finesse", necessário para filosofar. Insistiu, por outro lado, no mistério que nos envolve, e que nenhuma inteligência humana pode supor dominar; mistério que não se encontra só no Universo exterior, onde o homem está como que suspenso entre o infinitamente grande e o infinitamente pequeno, mas existe na própria natureza humana, rica de contrastes que, pensa Pascal, só o dogma cristão do pecado original permite explicar.

Pascal fez uma análise penetrante de todas as dificuldades, fundando-se em princípios sólidos. A sua morte prematura, com 39 anos de idade, em 1662, impediu-o de a coroar por uma obra construtiva; é de supor que ela tivesse feição apologética, mas de recear, por outro lado, que a eivassem os preconceitos jansenistas.