25. O amor.

A palavra amor designa em nós coisas muito diferentes. Há o amor-paixão em que o espírito, como o nome indica, tem um papel passivo, ímpeto veemente da sensibilidade que ofusca a inteligência e se sobrepõe à vontade, e há o amor propriamente dito, primeiro movimento da vontade, que nela desperta o impulso para o bem que o amor tem por objeto. Esse amor, que num homem é sempre acompanhado dum elemento sensível, pode ainda ser de desejo, pelas coisas que procuramos para bem nosso ou dos nossos amigos, ou de amizade, por aquelas a quem estamos irmanados, unidos, por algum laço, e cujo bem desejamos como o nosso próprio.

O amor-paixão não convém de forma alguma a Deus, que é incorpóreo. Mas o amor propriamente dito convém-lhe eminentemente, sem mistura, claro está, de sensibilidade, que não pode existir em quem não tem corpo. Por causa da simplicidade divina, devemos identificar o amor, em Deus, com a sua própria essência. Como objeto do seu amor, Deus tem-se antes de mais nada a si mesmo. Mas tem, ainda, amor de desejo a todas as coisas, visto que as quer, não porque precise delas, mas para que nelas se possa reflectir a sua bondade. E, di-lo a teologia, tem amor de amizade pelas criaturas racionais, unidas a ele pela participação, dada ou prometida, na sua própria bem-aventurança.