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Para começar, é evidente que não podemos, simultaneamente,
afirmar e negar a mesma coisa.
Sabemos isso; é um conhecimento direto, imediato. Qualquer pessoa
no uso da razão, e que preste atenção ao que diz, sabe, por
exemplo, que não deve, não pode, dizer que o cavalo branco de
Napoleão não era branco.
É o princípio de contradição, ou de não-contradição, como
também lhe chamam, primeiro princípio da lógica, que nele funda
todas as suas leis. Tem por contrapartida o princípio lógico de
identidade, que nos diz que devemos afirmar todas as proposições em
que o sujeito e o predicado são idênticos, ou em que um deles é
exigido pela definição do outro; que, por exemplo, devemos
necessariamente dizer: o cavalo branco de Napoleão era branco.
O princípio de identidade é evidente por si mesmo, como o de
contradição. Mas pode reconduzir-se a este. Com efeito, admitir
que podemos negar que o cavalo branco de Napoleão era branco, é
admitir que podemos dizer: o cavalo branco de Napoleão não era
branco, o que é afirmar e negar ao mesmo tempo. O princípio de
contradição impede-nos de admitir isso; e obriga-nos, portanto, a
afirmar o contrário.
Sobre este princípio podemos fundar também muitos outros princípios
evidentes por si mesmos, que por isso consideramos como derivados
dele. S. Tomás costuma citar como exemplo o que diz que "o todo é
maior do que qualquer das suas partes". Pode reduzir-se ao
princípio de identidade, por exemplo, pelas considerações
seguintes: o todo é constituído pela parte considerada mais as outras
partes; ser maior do que uma coisa é ser igual a ela mais alguma outra
coisa; logo, o todo, que é a parte mais as outras partes, é igual
à parte mais alguma coisa, e portanto maior do que ela [27].
É da mesma ordem o princípio de que duas coisas iguais a uma terceira
são iguais entre si, e outros princípios da matemática. Resultam,
como o de contradição e o de identidade, duma evidência de ordem
lógica.
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