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Sócrates, voltando contra os sofistas a sua própria arma, a
dialética, não só entravou a decadência, mas deu à filosofia o
impulso que, com Platão e Aristóteles, a havia de levar ao
apogeu. Nascido em 470, fazia uma idéia muito elevada de verdade
e da moral. A falta de coerência e a venalidade dos sofistas
indignavam-no; e passou toda a vida a combatê-los, vencendo-os na
discussão. Quase só interrogava, mas de maneira a forçar o
adversário a exprimir claramente as contradições internas do seu
pensamento; filho duma parteira, comparava o seu método à arte da
mãe, e chamava-lhe por isso a maiêutica (dum radical grego que
significa parto). Manejava a ironia com mão de mestre; e nenhuma
das contradições dos sofistas conseguia escapar à sua dialética.
Mas aos olhos do público, porque discutia com os sofistas, passava
por sofista também. A isso deveu a sua perda, e aos despeitos a que
a sua ação dava inevitavelmente lugar. Em 399, foi acusado de
corromper a juventude, julgado e condenado à morte; na sua apologia,
isto é, no discurso que fez em sua defesa, declarou em pleno tribunal
que a pena que merecia era ser sustentado no Pritaneu, palácio onde
Atenas recebia os hóspedes da cidade. Depois de ter recusado a fuga
que os amigos tinham preparado, para não dar aos atenienses um mau
exemplo de desobediência às leis, bebeu tranquilamente a cicuta, e
morreu conversando com os discípulos acerca da imortalidade da alma.
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