15. S. Tomás de novo em Paris.

S. Tomás, que pelos seus comentários de Aristóteles tinha mostrado que os erros de Averrois, e os do próprio Aristóteles, eram incompatíveis com um aristotelismo bem compreendido, era a pessoa indicada para restabelecer a paz no meio parisiense, tão agitado. Por isso, a pretexto da doença dum mestre, os seus superiores mandaram-no de novo para Paris em 1269, apesar de ser contrário a todas as tradições da Ordem de S. Domingos chamar segunda vez um professor a ensinar nessa Universidade.

Os averroístas e os augustinistas, que se combatiam em todos os pontos de doutrina, uniam-se contra ele. Para os primeiros, S. Tomás era um traidor a Aristóteles; para os segundos, era solidário dos erros de Averrois. E ainda se lhes juntaram, de longe, Guilherme de S. Amour e os seus partidários exilados. De forma que S. Tomás, durante os anos de 1269 e 1270, teve de se defrontar com três grupos diferentes de adversários.

Contra os ataques de Guilherme de S. Amour e do seu amigo Nicolau de Lisieux, escreveu os opúsculos "da perfeição espiritual" e "contra os que desviam os homens da vida religiosa". Contra os augustinistas, que admitiam nos Anjos uma matéria não-corpórea, publicou a sua obra "das Substâncias separadas"; e, como eles confundiam a questão da eternidade do mundo com a da Criação (S. Tomás considerava a primeira como não demonstrável, mas também não impossível à luz da razão, e demonstrava a segunda), escreveu ainda o folheto, que denota, pelo nome, uma certa impaciência em se ver atacado por católicos ortodoxos como ele: "da Eternidade do Mundo, contra os murmuradores"; "contra murmurantes". Contra o orgulho dos averroístas, pregou aos estudantes o célebre sermão chamado "de vetula" o "sermão da velhinha", em que afirmava que uma velhinha cristã, conhecendo o catecismo, sabia mais acerca das questões essenciais da filosofia do que todos os filósofos da antiguidade; e respondeu diretamente ao livro de Siger de Brabante, "da Alma intelectual", com o seu opúsculo "da Unidade do intelecto, contra os Averroístas". S. Tomás empenhou-se a fundo nesse trabalho. Primeiro pela autoridade de Aristóteles, depois simplesmente pelo raciocínio, refutava completamente os erros de Siger; no fim, denunciava o escândalo da sua doutrina das duas verdades; e acabava por intimá-lo a não ensinar as suas opiniões a rapazes sem competência para as discutir, mas a vir impugnar, publicamente, as razões dos que o combatiam.

E de fato, nas disputas públicas, S. Tomás, que então estava no apogeu do seu talento, defrontava todos os adversários. Sem transigências, sem olhar a pessoas, mas, como sempre, com calma, de maneira objetiva, e dentro do maior respeito pelo adversário, explicava, respondia, rebatia argumentos, vencia quando não convencia.