15. A verdade do Tomismo.

Quero ainda tratar duma última questão.

Chamei verdadeira à filosofia entendida à maneira tomista; é indispensável precisar bem o sentido em que isso se deve compreender. Não podemos duvidar da verdade dos seus princípios, que são os princípios fundamentais da própria razão humana. Não podemos também duvidar da veracidade das suas conclusões principais, baseadas diretamente sobre os princípios, por meio de raciocínios poucos e simples. Mas, à medida que se encadeiam os raciocínios em que se fundam as conclusões mais particulares, a possibilidade de erro aparece. Há o perigo duma omissão involuntária, ou duma observação errada dos fatos concretos. Por isso falando da verdade do tomismo, não quero dizer que tudo o que exponho seja certo, muito embora me limite às teses importantes. Pelo contrário: chamo expressamente a atenção para o fato de poder haver no que digo, e no que dizem S. Tomás o os seus discípulos categorizados, erros ainda não verificados até hoje, embora não seja nas questões capitais. S. Tomás assim pensava: A inteligência, dizia, "não pode errar a respeito daquelas proposições que conhece apenas compreende a significação dos termos, como os primeiros princípios; e daí provém a verdade [...] das suas conclusões"; mas "pode errar, quando ordena uma coisa a outra, por composição ou divisão de idéias, ou raciocínio [...]. Pode também enganar-se sobre o que uma coisa é"; porque "a definição duma coisa é falsa a respeito doutra [21]".

Finalmente, quero lembrar que ninguém deve julgar-se obrigado, pelo fato de ser católico, a adotar a filosofia tomista. À Igreja, como Igreja, não compete julgar uma filosofia do ponto de vista filosófico. Pode declarar que as suas teses contrariam, ou não, as verdades reveladas; pode reconhecer que elas se prestam bem ou mal a auxiliar o estudo da teologia; e, por estes dois aspectos, a Igreja tem recomendado o tomismo, com insistência. Pelo Código de Direito Canónico, manda ensiná-lo nos seminários; tem-no louvado altamente pela boca dos Papas, na Encíclica "Aeterni Patris" de Leão XIII, por exemplo; formulou, oficialmente, as suas teses principais, as "24 Teses Tomistas", aprovadas por Pio X. Mas não liga o tomismo à fé. Não priva nenhum católico do direito de seguir outra filosofia, se for igualmente isenta de erro em questões de fé; e já tem declarado isentas de erro, em matéria religiosa, outras filosofias além da de S. Tomás.

Não é a Igreja, diremos nós, é a razão quem impede que se possa elaborar uma filosofia substancialmente diferente do tomismo. Substancialmente, porque as mesmas verdades basilares podem talvez traduzir-se em termos bastante diferentes na aparência. É a lição que podemos colher da atitude constante de S. Tomás para com os sistemas dos outros filósofos.