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O estudo da filosofia natural dentro dos quadros tomistas é
especialmente interessante porque permite avaliar, melhor do que
qualquer outro, o bem-fundado dos princípios que fixam a orientação
do tomismo. Realmente, as ciências físico-químicas evolucionaram
desde o tempo de S. Tomás além de tudo quanto seria lícito supor.
Na ontologia e na teodicéia não surgiram, na época moderna,
soluções nem dificuldades essencialmente novas. Na psicologia,
apesar da enorme massa de conhecimentos de pormenor que os novos
métodos de observação permitiram obter, não se descobriu nada que
alterasse as linhas gerais da psicologia antiga. Na própria
crítica, embora esta tomasse um desenvolvimento que ninguém na
Idade-Média poderia suspeitar, os argumentos fundamentais são os
mesmos dos cépticos, que já Aristóteles combatia. Mas a física e
a química fizeram progressos extraordinários. Abriram domínios
inteiramente novos; revelaram inúmeros fatos desconhecidos;
arquitectaram teorias ao pé das quais nos parecem ridículas as
adoptadas pelos sábios da antigüidade. Pois o tomismo, liberto da
ganga dos exemplos escolhidos numa física caduca, mostra-se capaz de
abordar os novos domínios, de assimilar os novos fatos e as novas
teorias. É de notar, por exemplo, que a definição aristotélica do
tempo, velha de tantos séculos, enquadra perfeitamente os fatos em
que se baseiam as teorias relativistas, que contrariam a definição de
Newton, muito mais moderna. Deve isso ser para nós mais uma prova
de que não há no tomismo petição de princípio oculta, nem vício
de raciocínio fundamental, e de que os princípios evidentes não
conduzem a conclusões que os fatos possam contradizer.
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