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Contra eles, lutavam os averroistas, que defendiam Aristóteles, e
ao mesmo tempo as interpretações de Averrois, com todos os seus
erros. Além de negar a imortalidade da alma, como já disse,
Averrois ensinava o fatalismo mais absoluto: os acontecimentos eram
ditados, inexoravelmente, pelos movimentos dos astros. Negava a
Providência, a Criação, o livre arbítrio. E tinha como ponto
de fé que a inteligência de Aristóteles era a maior que a humanidade
tinha produzido ou podia produzir; do que resultava a impossibilidade
de combater, ou corrigir, as suas idéias filosóficas.
Os averroístas latinos, Boécio de Dácia, Bernier de
Nivelles, chefiados por Siger de Brabante, dominavam a Faculdade
das Artes da Universidade de Paris. O mais espantoso de tudo, é
que esses homens eram católicos. Aceitavam todos esses erros,
contrários à fé; e, para conciliar as duas coisas, admitiam a
existência de duas verdades distintas, diferentes, opostas mesmo,
uma filosófica, outra teológica. Assim, ensinavam o fatalismo, a
negação da liberdade humana, como racionalmente demonstrados em
filosofia, e, ao mesmo tempo, a Providência, o livre arbítrio,
como verdades de fé; acrescentando, para sossegar a consciência,
que, na prática, nos devemos guiar pela fé e não pela razão.
É difícil saber até que ponto era sincera a atitude dos averroístas
latinos. De qualquer forma, ela revoltava a consciência do público
católico, que se inclinava a ver nos augustinistas os únicos
defensores da religião, por serem adversários irredutíveis do
averroísmo; só num ponto os dois grupos estavam de acordo: era em
identificarem Aristóteles com Averrois.
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