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Reúnem-se neste volume, com as adições e as modificações
aconselhadas pela experiência, os textos das lições de filosofia
tomista realizadas por mim, na sede da Juventude Universitária
Católica do Pôrto, de Janeiro a Maio de 1942.
Essas lições, que não foram doze, mas quase o dobro, por depressa
se ter reconhecido que a matéria que no texto constitui uma lição é
demasiada para uma sessão só, destinavam-se aos filiados da JUC,
e, além destes, a todas as pessoas que pelo assunto se pudessem
interessar. A natureza do público fixava a índole que deviam ter.
A assistência, composta na sua maior parte de alunos e alunas da
nossa Universidade, tinha nível intelectual elevado, mas
preparação filosófica deficiente. Em tudo o que pertencesse
propriamente à filosofia, era por isso necessário que começassem
pelo princípio, fixando cautelosamente as noções basilares antes de
fundar sobre elas qualquer desenvolvimento. Por outro lado, não
deviam limitar-se às idéias gerais. Deviam atingir o essencial dos
principais problemas filosóficos, indicando, tanto quanto possível
com clareza e concisão, a maneira por que os resolve a filosofia
tomista. Deviam também abordar, embora de leve, os assuntos
relacionados com questões científicas familiares àqueles que as
ouviam, de forma a estabelecer o contato entre a filosofia e as
ciências especializadas que têm lugar tão importante na cultura dos
nossos dias. Finalmente, sem deixar o campo da filosofia, deviam
chamar a atenção para a maneira por que a teologia pode completar o
estudo de certos assuntos que a filosofia só aborda parcialmente, e
mostrar assim que não há, como pensaram alguns dos adversários de
S. Tomás, duas verdades distintas, uma filosófica, outra
teológica, mas uma verdade só, parte da qual acessível à razão
fundada na experiência, parte à razão fundada na Revelação.
Ao fazer estas lições, sabia a quem me dirigia. Agora, publicadas
em volume, não me é possível saber a que mãos irão parar. Se for
às mãos dum católico, inclinado a olhar com simpatia a filosofia
tomista, por causa da aprovação que a Igreja lhe tem manifestado
publicamente, não quero deixar de lhe apontar o exemplo de S.
Tomás, que nunca hesitou em abordar, com a maior objetividade, os
grandes problemas intelectuais do seu tempo, convicto de que todos, se
forem encarados com largueza de vistas, se podem resolver dentro da
mais rigorosa ortodoxia. Se for às de um não católico, disposto,
pelo mesmo motivo, a ver o tomismo com desconfiança, devo
lembrar-lhe insistentemente que não se trata, para S. Tomás, de
proselitismo, mas duma tentativa honesta, dum esforço sincero de
compreensão da realidade. Quando S. Tomás pretende convencer, e
fá-lo sempre com firmeza e simplicidade, não é para chamar os
outros ao seu campo, mas para lhes levar o que, segundo pensa
convictamente, é a expressão da verdade.
A exemplo de S. Tomás, também eu não defendo o sistema tomista
por espírito de partido, mas por julgar que esse sistema, pelo menos
nas suas grandes linhas, e compreendido no seu espírito mais do que
nas palavras que às vezes podem traí-lo, se deve considerar
verdadeiro. Dar-me-ei por satisfeito se tiver despertado em alguém
o desejo de conhecer mais aprofundadamente o tomismo. S. Tomás é
um pensador que só lucra em ser conhecido de perto. Não faltam
hoje, felizmente, exposições boas e desenvolvidas da sua filosofia,
algumas das quais indico na bibliografia com que fecha este volume.
Também há edições de algumas obras, suas, preparadas
especialmente para um público moderno, às quais se pode ir procurar,
na fonte, a expressão do seu pensamento. Para umas e outras remeto
todos aqueles a quem esta exposição rápida do tomismo não puder
satisfazer.
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