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A atividade dum organismo diferenciado como o do homem é
extraordinariamente complexa. É por isso também muito complexo o
estudo das suas faculdades. Aqui, no entanto, não interessa
analisar pormenorizadamente a questão. Basta falar em geral das
classes em que se podem agrupar as faculdades da alma humana.
Podemos começar pelas atividades que, duma forma ou doutra, se
encontram em todos os seres vivos, e constituem o que se chama a vida
vegetativa. Dividem-se em dois grandes grupos, a que correspondem a
faculdade nutritiva e a faculdade reprodutiva.
A primeira tem por fim a conservação da vida do indivíduo a que
pertence. Compreende, como o nome indica, a nutrição propriamente
dita, isto é, a assimilação dos alimentos, pela qual o organismo,
apropriando-se da matéria que constituía estes, a converte na sua
própria substância. Nesse processo, a matéria dos alimentos
conserva as qualidades que os caracterizavam, e que passam à
integrar-se na harmonia regida pela alma; mas os elementos perdem a
sua categoria de seres autônomos, de substâncias.
A faculdade nutritiva compreende também todas as outras operações
por que o organismo se utiliza da matéria e das energias existentes no
meio ambiente, e rejeita o que já não lhe serve; respiração,
eliminação, etc. Compreende toda a atividade interna necessária
para assegurar aquilo a que os médicos chamam o metabolismo do corpo
vivo, isto é, a incessante renovação das suas partes à custa das
permutas com. o meio que o rodeia. Podemos acrescentar ainda a esta
faculdade a que produz o crescimento do organismo ainda incompleto.
Trata-se, como se vê, duma faculdade complexa, que daria a um
fisiologista assunto para muitos volumes. O filósofo pode
contentar-se com considerá-la em conjunto, visto todas as atividades
que dela dependem terem um único fim: conservar a vida do organismo.
A faculdade reprodutiva, pela sua finalidade, já excede o
indivíduo, e procura o bem da espécie. Tende à formação dum
germe, duma semente, porção de matéria disposta de maneira a dar
origem, com o concurso dum meio apropriado, que, em muitos casos,
lhe é assegurado pela própria faculdade reprodutiva, a um organismo
vivo, semelhante ao que o produziu. Por isso podemos dizer que no
germe existe, virtualmente, a espécie, ou, como os escolásticos,
que nele actua a virtude da espécie.
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