5. Filosofia e Razão.

Disse que a filosofia procura levar o seu conhecimento tão longe quanto o permitem os nossos recursos naturais. A filosofia caracteriza-se por essa restrição, que a distingue da teologia.

A teologia também quer levar o nosso conhecimento aos seus últimos limites; também ela estuda o mundo, o homem, os Anjos e Deus, procurando compreender aquilo de que se ocupa; mas serve-se da Revelação. Nos capítulos em que há verdades reveladas, consegue resultados que a Filosofia não pode atingir, e, mesmo os que são acessíveis a esta, consegue-os com uma facilidade, uma certeza, uma segurança, bem diferentes das hesitações e demoras do esforço filosófico. Mas a Revelação excede a natureza humana; é sobrenatural, no verdadeiro sentido da palavra. Deus revela-se por pura bondade, gratuitamente; o fato de sermos homens não nos dá direito à revelação, e a ciência teológica, fundada nela, excede aquilo que o homem, naturalmente, pode conhecer.

Não quero dizer que a teologia não seja racional; é-o, em todo o desenvolvimento dos raciocínios a que à Revelação serve de base, como na aceitação da Verdade revelada, ato eminentemente razoável, pelos motivos em que se funda. Não quero dizer, também, que o filósofo deva evitar chegar até ela; pelo contrário. Ela também é sabedoria, de ordem mais elevada do que a filosófica, porque não é humana, mas divina pela sua origem. Mas, desde o momento em que o conhecimento passa o limite do que se pode saber a partir dos princípios naturalmente evidentes e da observação, muda de gênero, e deixa de ser filosófico para passar a ser teológico.