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Chamam-se atos humanos aqueles em que as nossas faculdades intervêm
segundo a ordem da sua hierarquia; os que são escolhidos pela
inteligência, ditados pela vontade, e executados pelas faculdades
motoras.
Vejamos como S. Tomás analisa o ato humano típico. Escusado é
dizer que poucas das nossas ações são assim tão reflectidas. As
disposições do subconsciente resultantes de atos anteriores, os
hábitos, dando à palavra o sentido que habitualmente tem, e não o
sentido tomista, mais lato, de que adiante falarei, substituem-se em
parte à atividade consciente em quase tudo quanto fazemos. Outras
ações nossas procedem da sensibilidade, das paixões, que se
sobrepõem à vontade e à inteligência. Não deixa, no entanto, de
ter interesse o estudo do ato humano completo, de que as nossas ações
são em geral reproduções parciais, mais ou menos imperfeitas.
A primeira fase do ato voluntário diz respeito à escolha do fim da
ação. Quando se apresenta à inteligência um objeto desejável, a
vontade é atraída para ele por um desejo vago, teórico, digamos.
Isso move a inteligência a estudar a possibilidade e a conveniência
de procurar obter o bem desejado, confrontando-o com outros bens, que
poderiam também procurar-se, e entrando em conta, como já disse,
com o agrado que um e outros despertam na vontade. É o juízo; se o
resultado é favorável, a vontade forma a intenção de atingir esse
fim.
Passa-se então à segunda fase, a da escolha dos meios. Pelo
conselho, a razão procura os diferentes meios possíveis,
considerando-os na generalidade; a vontade dá o seu consentimento.
Segue-se o juízo prático da inteligência, que fixa, na
especialidade, os meios preferíveis. Pela escolha, a vontade adopta
esses meios como atos a realizar.
A última fase é a da realização. Chegado o momento, a
inteligência lembra à vontade que deve ser conseqüente, e dar
realização aos atos que escolheu; ao que a vontade corresponde
mandando agir as faculdades executoras. Segue-se a ação destas;
e, obtido o bem escolhido como fim, a vontade regozija-se da sua
posse. Mas, salvo se esse fim é o bem supremo, o fim último, a
sua satisfação é passageira e incompleta; logo se despertam nela
novos desejos, e o processo repete-se, indefinidamente.
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