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Os métodos da indução científica, segundo a sistematização de
Francisco Bacon e Stuart Mill, são, resumidamente, os que
seguem.
Os casos particulares, em que, como já disse, se funda a
indução, são-nos fornecidos pela experiência. Esta consiste,
antes de mais nada, na observação dos fatos, não provocados por
nós, que se produzem à nossa volta. Como esses fatos, muitas
vezes, são insuficientes para esclarecer todas as dúvidas, há
necessidade de provocar outros análogos, em condições escolhidas por
nós; isso constitui a experimentação. Como guia para a
experimentação e para a interpretação dos fatos observados,
torna-se muitas vezes necessário o recurso a uma ou mais hipóteses,
isto é, a explicações que se nos afiguram possíveis, e que
admitimos a título provisório, prontos a rejeitá-las ou a
modificá-las se a experiência as não vier a confirmar.
Na experimentação, estuda-se o fenômeno considerado variando as
condições em que se produz; forçando a experiência, para ver se
ele se reproduz em condições diferentes; transportando-a para campos
diferentes, no intuito de saber se ele se estende a esses novos
campos; invertendo a experiência, para contra-prova;
compelindo-a, isto é, provocando o desaparecimento do fenômeno (a
designação é de Bacon); aplicando-a a casos da prática;
reunindo-a com outras experiências, para saber se se reforçam;
finalmente, tenteando, fazendo experiências como que ao acaso,
para, possivelmente, descobrir domínios ainda inexplorados. São
estes os pito processos enumerados por Bacon.
Coligido assim o material indispensável, trata-se de o interpretar,
pelo recurso ao princípio fundamental da indução: fenômeno que se
dá uma vez, dá-se todas as vezes que se reproduzirem, nas mesmas
condições, os factores que nele influem. Conhecidas, portanto, as
circunstâncias em que se fez cada urna das experiências, os factores
que nelas concorreram, que se chamam os seus antecedentes, resta
descobrir qual o antecedente, simples ou complexo, que existiu sempre
que o fenômeno se produziu, e só quando ele se produziu [93].
Então, se de fato se enumeraram todos os antecedentes das
experiências, e se agruparam em todas as combinações possíveis ao
fazê-las, é lógico concluir que esse antecedente está ligado com o
fenômeno por uma relação essencial, que é causa do fenômeno.
Na pesquisa do antecedente necessário, Stuart Mill distingue quatro
métodos, que, de resto, raras vezes se aplicarão isolados, porque
é preciso combiná-los para se completarem mutuamente. O primeiro é
o método da concordância. Nele, procuram-se casos tão diferentes
quanto possível em que se produza o fenômeno estudado. Se há um
antecedente, e só um, comum a todos eles, pode-se concluir que é
um antecedente necessário. Por este método, os Curie, verificando
que as radiações descobertas por Becquerel se observavam sempre que
na substância ensaiada existiam determinados elementos,
independentemente da combinação em que se encontravam e de quaisquer
outras condições, puderam concluir que elas eram propriedades
atômicas desses elementos, a que chamaram radioativos.
O segundo método é o da ausência, contraprova do de concordância.
Fazem-se duas experiências tão semelhantes quanto possível, mas
numa das quais falte um antecedente, e só um, presente na outra. Se
o fenômeno se realiza na experiência que contém esse antecedente, e
não se realiza na outra, isso indica que há entre o antecedente
considerado e o fenômeno um laço essencial. Assim se provou, por
exemplo, que o mosquito é o agente de transmissão das febres
palustres. Para experiência, fizeram-se dormir grupos de homens em
camas que tinham sido ocupadas por impaludados. Mas, enquanto que os
componentes dum dos grupos ficavam expostos às picadas dos mosquitos,
os do outro eram protegidos por mosquiteiros. Só foram infeccionados
os que pertenciam ao primeiro grupo.
O terceiro método é o das variações concomitantes. Consiste em
fazer variar, uma a uma, as intensidades com que actuam os diferentes
antecedentes das experiências. Se as variações dum, e só dum,
afectam de maneira sistemática a intensidade do resultado, conclui-se
que há entre eles relação essencial. Um exemplo notável deste
método é a forma por que Pascal provou que a subida do mercúrio no
barômetro é devida à pressão atmosférica, medindo a altura da
coluna barométrica na base e no cume do Puy-de-Dôme, e
verificando que ela baixava onde a pressão atmosférica era menor.
O último é o método dos resíduos. Quando se conhecem às
relações entre o fenômeno estudado e alguns dos seus antecedentes,
pode-se atribuir aos antecedentes restantes, ou a algum deles, a
diferença entre o resultado obtido e os efeitos previstos dos
primeiros. Foi assim que le Verrier, calculando as perturbações
que os planetas então conhecidos provocavam no movimento de Urano,
encontrou um resíduo, uma divergência entre os valores reais e os
calculados, que atribuiu a um novo planeta, que veio efetivamente a
ser descoberto no lugar indicado por ele, e se chamou Netuno. Anos
depois, pelo mesmo método, e estudando a diferença que ficava entre
os valores reais e os calculados, mesmo quando nestes se incluía a
influência de Netuno, Lowell descobriu novo planeta, que só depois
da sua morte veio a ser observado e a que deram o nome de Plutão.
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