2. O fim último da nossa ação.

Toda a ação tende para um fim, conhecido do agente ou desconhecido, conforme a natureza deste. A nossa atividade não escapa à regra. Temos energias e faculdades dispostas para um fim determinado; a Natureza exige que elas se apliquem à sua obtenção.

Há uma hierarquia dos fins; isto é, as ações tendem para fins próximos, subordinados a fins mais remotos, todos submetidos, num ser dotado de unidade substancial, a um único fim que é o fim último do agente. A nossa inteligência dita-nos o fim próximo das nossas ações; mas, por ser uma faculdade que nos pertence por natureza, não pode escolher o fim desta. Existe para a obtenção do nosso fim natural; não pode sobrepor-se àquilo para que é determinada. Por isso, apesar de sermos criaturas racionais, o nosso fim último não é escolhido livremente por nós; é-nos marcado pela nossa natureza.

A natureza impele cada agente a prosseguir o seu fim de acordo com a sua maneira de ser particular. No homem, ser consciente, a tendência natural para o seu fim manifesta-se pelo descontentamento quando se afasta dele, pela alegria quando dele se aproxima, pela satisfação total, pelo repouso completo, quando o atinge. A obtenção do seu fim último é por isso para o homem a felicidade, a bem-aventurança; se o fim é aquele a que tem direito pela sua natureza, chama-se a sua bem-aventurança natural.

A filosofia moral, como ciência prática, é o estudo do que devem ser as nossas ações para nos aproximarem 'do nosso fim último, pelos meios que nos pertencem por natureza. Conhecido o fim último, ensina-nos a escolher o fim concreto de cada ação, e a dispor convenientemente os meios de que podemos lançar mão para o obter [108].