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Há em todas as coisas uma tendência a atingir o fim que, de acordo
com a sua natureza, lhes compete, a que podemos chamar um apetite
natural. Nos seres inteligentes, essa tendência é consciente, é
tendência para um fim conhecido como tal, e chama-se vontade.
Assim, como, portanto, por analogia, atribuímos a Deus a
inteligência, devemos atribuir-lhe também a vontade.
Simplesmente, como o fim, a causa final, é a "causa das causas",
e Deus é a Primeira Causa, em absoluto, não podemos supor à sua
vontade um fim distinto dela. Deus é o seu próprio fim, como é o
seu próprio conhecimento; é auto-suficiente sob todos os aspectos.
E se Deus quer outras coisas, distintas de si, é tomando-se a si
mesmo como fim; quer que existam, diz S. Tomás, "porque convém
à divina bondade que outros seres dela participem" [63].
A vontade de Deus é livre? Sem dúvida nenhuma. Uma vontade
diz-se livre quando não é determinada por nenhuma causa exterior na
escolha dos seus meios; e Deus não pode ser determinado por
ninguém. Pode objetar-se com a imutabilidade divina, que parece
tornar necessário que Deus queira tudo quanto quer. De fato, o fim
da vontade divina, por ser o próprio Deus, como já disse, é
necessário, duma necessidade intrínseca, que é a de Deus; mas os
meios que escolhe não o são, falando em absoluto. Se Deus quer
uma coisa, é evidentemente necessário que a queira, como é
necessário que um homem esteja sentado, quando está sentado; mas é
uma necessidade que vem precisamente de Deus querer isso; não impede
a liberdade do decreto da vontade divina que escolhe essa coisa.
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