C. Os atos, as paixões e os hábitos.


13. Os atos humanos.

Chamam-se atos humanos aqueles em que as nossas faculdades intervêm segundo a ordem da sua hierarquia; os que são escolhidos pela inteligência, ditados pela vontade, e executados pelas faculdades motoras.

Vejamos como S. Tomás analisa o ato humano típico. Escusado é dizer que poucas das nossas ações são assim tão reflectidas. As disposições do subconsciente resultantes de atos anteriores, os hábitos, dando à palavra o sentido que habitualmente tem, e não o sentido tomista, mais lato, de que adiante falarei, substituem-se em parte à atividade consciente em quase tudo quanto fazemos. Outras ações nossas procedem da sensibilidade, das paixões, que se sobrepõem à vontade e à inteligência. Não deixa, no entanto, de ter interesse o estudo do ato humano completo, de que as nossas ações são em geral reproduções parciais, mais ou menos imperfeitas.

A primeira fase do ato voluntário diz respeito à escolha do fim da ação. Quando se apresenta à inteligência um objeto desejável, a vontade é atraída para ele por um desejo vago, teórico, digamos. Isso move a inteligência a estudar a possibilidade e a conveniência de procurar obter o bem desejado, confrontando-o com outros bens, que poderiam também procurar-se, e entrando em conta, como já disse, com o agrado que um e outros despertam na vontade. É o juízo; se o resultado é favorável, a vontade forma a intenção de atingir esse fim.

Passa-se então à segunda fase, a da escolha dos meios. Pelo conselho, a razão procura os diferentes meios possíveis, considerando-os na generalidade; a vontade dá o seu consentimento. Segue-se o juízo prático da inteligência, que fixa, na especialidade, os meios preferíveis. Pela escolha, a vontade adopta esses meios como atos a realizar.

A última fase é a da realização. Chegado o momento, a inteligência lembra à vontade que deve ser conseqüente, e dar realização aos atos que escolheu; ao que a vontade corresponde mandando agir as faculdades executoras. Segue-se a ação destas; e, obtido o bem escolhido como fim, a vontade regozija-se da sua posse. Mas, salvo se esse fim é o bem supremo, o fim último, a sua satisfação é passageira e incompleta; logo se despertam nela novos desejos, e o processo repete-se, indefinidamente.