26. A vida.

Dizem-se vivos os seres que se movem a si mesmos. Ora Deus é imutável; não é movido, nem se move, no sentido rigoroso da palavra. Vejamos portanto o que pode significar a vida, que atribuímos a Deus em grau eminente.

No mais baixo grau da escala dos seres vivos, vemos as plantas executar movimentos, de crescimento, assimilação e reprodução, regidos pela forma que da natureza receberam. Mais acima, encontramos os animais, que recebem dos sentidos o princípio determinante de cada ação particular, mas sem conhecerem o fim para o qual essa ação tende, fim que lhes é ditado pela natureza. Acima deles, há as criaturas racionais, que não só recebem das suas faculdades as formas das suas ações, mas conhecem e escolhem o fim próximo destas. Não podem, no entanto, escolher os primeiros princípios da sua inteligência, nem o último fim das suas ações, que é a realização plena da sua natureza.

Vemos, portanto, que à medida que subimos na escala dos seres vivos, encontramos um conhecimento cada vez mais perfeito e uma vontade cada vez mais autônoma. Não podemos por isso deixar de atribuir a vida, no grau supremo, a Deus, que, por ser idêntico à sua inteligência e à sua vontade, não é determinado por ninguém estranho nem quanto ao seu conhecimento nem quanto ao seu fim.