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Aristóteles escreveu muitos livros destinados ao público culto.
Todos se perderam; os seus contemporâneos louvavam-nos, além do
mais, pela beleza do estilo. Escreveu também livros didáticos, e
esses chegaram quase todos até nós; são apontamentos sumários das
lições que dava, sem quaisquer preocupações literárias.
Expôs a lógica em diversos livros, que formam, em conjunto, o
"Organon". Tratou da Física em oito livros, da Química em
dois, da Meteorologia em quatro, da Astronomia noutros quatro, dos
seres vivos em geral em três, e dos animais em dezesseis. Além
disso estudou a Psicologia humana em cinco tratados, e escreveu livros
sobre a Política, a Retórica e a Poética; do último só restam
fragmentos. Finalmente ocupou-se da Moral em dez livros que dedicou
ao seu filho, e chamados por isso "Ética a Nicômaco"; e escreveu
os doze livros da Metafísica.
Habent sua fata libelli. Os livros de Aristóteles têm uma
história acidentada, importante pela repercussão que teve na
evolução da filosofia. Depois que Aristóteles saiu de Atenas
passaram para a posse do seu sucessor no Liceu, o filósofo
Teofrasto. Por morte deste, os herdeiros, com medo de que lhos
confiscassem para a célebre biblioteca dos reis de Pérgamo,
esconderam-nos num subterrâneo, onde ficaram esquecidos. Quase
200 anos mais tarde, foram encontrados e vendidos a um rico
bibliófilo, que fez deles uma edição (manuscrita, claro está),
muito imperfeita. Quando Sila entrou em Atenas, 87 anos antes de
Cristo, apossou-se deles e levou-os para Roma como um troféu.
Aí, Andrônico de Rodes publicou-os, numa edição que ficou
clássica. As obras de Aristóteles espalharam-se então no mundo
culto. Estudaram-nas largamente, principalmente à Lógica e à
Física, e comentaram-nas, salientando-se entre todos os
comentários feitos no século II por Alexandre de Afrodísias, que
mereceu ser chamado o "segundo Aristóteles".
O nome de Metafísica dado à filosofia primeira deve-se a um acaso
relacionado com a edição de Andrônico de Rodes. Este publicou os
livros que dela tratam a seguir aos que tratam da Física, e
chamou-lhes por isso metafísica (meta ta physiki: depois da
física); o nome ficou, porque admite também o sentido "para além
da física", muito apropriado.
Com a invasão dos Bárbaros, que trouxe consigo uma ignorância
geral da língua grega, as obras de Aristóteles ficaram perdidas para
o Ocidente. Salvou-se parte da Lógica, traduzida para latim por
Boécio, cerca do ano 500 depois de Cristo. Mas, no Oriente,
foram traduzidas para siríaco no século V; e em Bagdad, no século
VIII traduziram-nas novamente, do siríaco para o árabe.
Finalmente, no fim do século XII, começaram a aparecer na
Europa as primeiras traduções do árabe para o latim, dando origem
ao conflito de que já falei; como disse, foi S. Tomás quem
conseguiu as primeiras traduções latinas feitas diretamente do grego.
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