3. A proposição.

As nossas idéias ligam-se em juízos, que são sentenças da inteligência pelas quais afirmamos ou negamos duma coisa outras coisas que conhecemos. Os juízos exprimem-se por proposições, em que os conceitos que os compõem se chamam termos.

Na lógica aristotélica, reduzem-se todas as proposições, explícita ou implicitamente, à forma de atribuição a um sujeito de certo modo de existência que constitui o predicado. A forma de existência atribuída pode ser a existência substancial, uma qualidade, um qualificativo de quantidade, de lugar, de tempo, etc. Em suma, a classificação dos predicados é idêntica à dos seres, que, como já vimos, se agrupam nas dez categorias ou predicamentos; o que não admira, visto alei do ser ditar a do nosso pensamento. A atribuição pode ser a titulo acidental ou essencial, conforme o predicado pertence ou não à essência do sujeito. Se é essencial, e basta para caracterizar a essência, diz-se específico; se exprime o que na espécie há de comum com outras espécies, é genérico; se põe em relevo o que a distingue dessas outras espécies, é a título de diferença específica. O predicado acidental é acidente próprio se resulta necessariamente da essência do sujeito: no caso contrário, é acidente estranho, ou acidente propriamente dito.

A proposição "Sócrates é homem" é portanto afirmação de espécie; "Sócrates é animal", afirmação de gênero. Dizer "Sócrates é racional" é afirmar a diferença específica. Em "Sócrates é capaz de rir", o predicado é acidente próprio; em "Sócrates é branco, acidente estranho.

Em toda a proposição se afirma, ou nega, que o predicado faz parte da compreensão do sujeito, seja essencial, seja acidentalmente. Assim, em "Sócrates é homem, afirma-se que a noção Sócrates inclui as notas que constituem o tipo de ser homem. Correlativamente, afirma-se ou nega-se que o sujeito faz parte da extensão do predicado. A mesma proposição, por exemplo, diz-nos que Sócrates pertence ao grupo de seres a que se aplica o conceito homem.

Há proposições em que o sujeito e o predicado são iguais em compreensão e extensão. Essas proposições convertem-se em identidades. São assim, por exemplo, as definições dos seres. Numa definição, o predicado convém necessariamente ao sujeito, e só ao sujeito. Em "o homem é um animal racional", todo o homem é animal racional, todo o animal racional é homem; ou, o que tanto vale, só o homem é animal racional, só o animal racional é homem. A definição e o definido, o predicado e o sujeito, são idênticos. No entanto, a definição aumenta o nosso conhecimento do sujeito, porque o situa no conjunto dos seres, tornando explícito o que era implícito; quer, como na definição que dei para exemplo, indicando o gênero e a diferença especifica (definição essencial), quer descrevendo suficientemente as suas propriedades (definição descritiva).

As relações afirmadas pela proposição entre o sujeito e o predicado podem existir ou não na realidade. No primeiro caso a proposição diz-se verdadeira; no segundo, diz-se falsa. As proposições em que o predicado faz parte da essência do sujeito, ou o sujeito é exigido pela essência do predicado, são evidentemente verdadeiras; são evidentes. Aquelas em que o sujeito e o predicado são noções contraditórias são evidentemente falsas. As outras podem ser verdadeiras ou falsas, e só a experiência permite decidir se são uma ou outra coisa.