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A extensão é a propriedade que têm as substâncias materiais de
serem constituídas de partes quantitativas. É um acidente inerente à
substância por causa da matéria; porque a forma, que caracteriza e
especifica a substância, é, por si mesma, independente da
quantidade. Não é só a alma, seja vegetativa, seja sensitiva ou
intelectual, que, como principio de unidade de ação e organização
a que tudo ~ se submete, está toda presente em cada parte do corpo.
Dá-se coisa análoga nos seres inanimados. Considerem-se, por
exemplo, dum lado um miligrama, do outro lado uma tonelada de ferro.
Formalmente, são equivalentes. Tão ferro é uma porção como a
outra; porque ambas apresentam as mesmas propriedades
características. Mas não é tanto ferro uma como a outra, porque é
maior a porção de matéria que constitui a segunda. Assim, a
substância, que em si mesma é uma, estende-se a partes atualmente,
ou potencialmente, distintas.
A extensão é divisível indefinidamente, isto é, é sempre
possível dividir uma porção de qualquer substância material nas
partes de que, potencialmente, se compõe. Se a divisão,
fisicamente, não pode levar-se além dum certo limite, é porque a
estrutura da substância é tal que, passado esse limite, ela deixa de
existir como substância; separam-se os constituintes da molécula ou
do átomo, e obtém-se uma substância diferente. Se a divisão não
se pode prosseguir, não é portanto por causa da extensão em si
mesma, mas da constituição da substância que a ocupa.
Com a extensão dum corpo podemos relacionar a sua posição no
espaço, que constitui um predicamento à parte. O lugar dum corpo,
a posição que ocupa, definem-se, na linguagem de S. Tomás,
pelo contorno dos corpos que o envolvem. Definição toda relativa,
como se vê, que determina a posição dum ponto pela doutro ponto com
que ele está em contacto. Claro que, determinando a posição dos
corpos que envolvem o primeiro pela daqueles com que, por sua vez,
estão em contacto, se pode conhecer a posição do corpo considerado
relativamente a esses novos corpos, e assim sucessivamente. No tempo
de S. Tomás aceitava-se uma cosmogonia segundo a qual o Universo
era formado de esferas concêntricas. A posição de qualquer corpo
podia portanto, em última análise, referir-se à primeira esfera,
que envolvia todas as outras e suportava as estrêlas fixas. Essa
esfera constituía assim um sistema de referência privilegiado, não
por motivos de ordem metafísica, mas por motivos de ordem
astronômica. Hoje, que a teoria das esferas foi desmentida pela
observação, não podemos considerar privilegiado nenhum sistema de
referência.
A filosofia tomista, como se vê, não se ocupa proprianente do
espaço, mas das relações espaciais. O espaço, em abstrato, não
é ser real, mas ser de razão. O que tem existência real são as
substâncias, determinadas, em extensão e posição, pelas suas
quantidades e pelas suas relações espadais.
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