5. Deus, Supremo Ser.

A quarta via é platônica. A sua integração no conjunto das cinco vias mostra bem a harmonia da síntese feita por S. Tomás dos sistemas de Aristóteles e Platão.

Ao tratar do ser, falei dos transcendentais, perfeições que, como a verdade, a beleza, a unidade, a bondade, e outras muitas de menor importância, não são próprias a esta ou àquela espécie em particular, mas são gerais, acompanhando o ser em todas as suas manifestações, e realizando-se em todas, como ele, analogicamente, recortando-se como ele de acordo com as essências das coisas em que são recebidas. Os transcendentais encontram-se em tudo quanto existe, mas em grau diverso, nuns mais, noutros menos. Há portanto algum ser em que existem em grau supremo, e esse ser é o mesmo para todas, visto que, como dissemos, a verdade, o bem, e os outros transcendentais são desdobramentos da noção do ser, e existem no mesmo grau em que este existe.

Ora, assim como, nas vias anteriores, o primeiro termo das séries que consideramos não é só primeiro pelo seu número de ordem, mas, por ser primeiro, transcendente aos outros, também aqui a Perfeição Suprema não tem só um primado de categoria; é a fonte das perfeições dos outros seres. Realmente, se uma perfeição, que em si mesma nada limita, existe limitada num ser determinado, é porque é medida pela potência que a contém, pela essência do ser considerado. Num ser imperfeito há portanto a dualidade da potência, que fixa um termo à perfeição, e da perfeição em ato, que, visto nenhuma potência poder passar-se ao ato a si mesma, tem origem estranha. Como o fato se repete com todos os seres imperfeitos, e não podemos, aqui também, remontar ao infinito, as perfeições de todos têm de vir, no fim de contas, do Ser soberanamente perfeito, que não pode ser só o mais perfeito relativamente, mas é perfeito em absoluto, Perfeição ilimitada.