3. O mestre de S. Tomás.

O mestre escolhido para completar a formação de S. Tomás era o mais notável do seu tempo: S. Alberto Magno. Tinha o estofo dum sábio, pela sua erudição, pela sua curiosidade universal, pelo seu espírito observador. Dedicou-se às ciências naturais; nesse campo, estudou experimentalmente a química; observou a vida das plantas e dos animais, tendo corrigido os livros de Aristóteles em mais dum ponto; e não se poupou a viagens para poder ver, pessoalmente, os efeitos de algum fenômeno meteorológico ou sísmico, ou ouvir o testemunho das pessoas que a ele tinham assistido. Em filosofia, seguia as idéias de Aristóteles; como os livros deste eram então mal vistos pela igreja, as suas obras filosóficas não tomam propriamente a forma de comentários de Aristóteles, mas expõem as doutrinas aristotélicas, corrigidas do que lhe parecia incompatível com o cristianismo, por uma ordem paralela à que Aristóteles tinha adotado. Em teologia, publicou uma "Summa Theologiae", que é uma primeira tentativa do que S. Tomás veio a realizar depois dele.

Mas a grande obra da sua vida é a educação de S. Tomás, seu discípulo predileto. De pouco tempo precisou para lhe reconhecer o valor, apesar da modéstia proverbial de S. Tomás. Diz a tradição, que acompanha sempre a memória dos grandes homens, que os condiscípulos deste lhe tinham posto o nome de boi mudo, por ser corpulento e de poucas palavras; o que S. Alberto teria comentado dizendo: "Ele ainda há-de encher o mundo com os seus mugidos".

De 1245 a 1248, S. Alberto ensinou S. Tomás na Universidade de Paris. Nesse último ano, tendo de partir para Colónia onde ia fundar um "estudo geral" da Ordem, S. Alberto fez-se acompanhar de S. Tomás, que de então até 1252 foi, ao mesmo tempo, seu colaborador e seu discípulo. Mais tarde ainda, por várias vezes, teve ocasião de colaborar com S. Tomás, direta ou indiretamente, nas lutas em que este andou empenhado. Sobreviveu-lhe, apesar de 19 anos mais velho. E um dos últimos atos que se conhecem da sua vida é a viagem que fez a Paris, com 71 anos, em 1277, para defender a doutrina de S. Tomás, já morto, contra os ataques do Bispo do Paris, Estêvão Tempier.