11. Os "Comentários" de S. Tomás.

Então, tendo uma base sólida sobre a qual trabalhar, S. Tomás começou a escrever os seus comentários de Aristóteles. Não "retocava" Aristóteles de acôrdo com idéias estranhas à filosofia deste; cingia-se, com o maior rigor, aos princípios adotados por ele; procurava compreender o seu pensamento, dentro do maior respeito pelo Mestre, e da maior benevolência; e, se alguma coisa tinha de modificar, era de acordo com os princípios do aristotelismo, não contra eles. Por exemplo: na "Metafísica", Aristóteles ensina que Deus só se conhece a si mesmo, S. Tomás acrescenta simplesmente: mas "conhecendo-se a si mesmo, conhece tudo [2]"; o que, deve notar-se, justifica de maneira que afasta todo o panteísmo.

Podemos dizer portanto, sem paradoxo, que a obra de S. Tomás é mais aristotélica do que a do próprio Aristóteles.

Neste espírito, de 1265 a 1268, S. Tomás comentou a Física, a Metafísica, e os livros de Aristóteles sobre o homem e a moral. Treze comentários ao todo, em que a obra de Aristóteles aparecia libertada dos erros que os defeitos de tradução e os comentários dos árabes lhe tinham introduzido; libertada também dos erros que o próprio Aristóteles, por falta de aplicação rigorosa dos seus princípios, tinha deixado nalguns pontos; continuada e magnificamente completada por um discípulo digno do Mestre; enfim, com uma unidade, uma coerência, um acabamento, que até hoje não foram excedidos.

Não admira por isso que os comentários de S. Tomás tenham justificado perante a Igreja a filosofia de Aristóteles. Se a vitória não foi total, neste momento, e a luta continuou em diferentes pontos, como já vamos ver, foi porque muitos doutores se quiseram mostrar fieis às interpretações de Averrois; mas, para a Igreja, a causa estava julgada; o Roma nunca mais proibiu o ensino do aristotelismo.