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Entre as nossas faculdades e as nossas ações interpõem-se os nossos
hábitos, no sentido tomista de disposições estáveis, de
propensões a proceder duma maneira de preferência a outra. Os
hábitos orientam a nossa ação, embora não a determinem, no sentido
rigoroso da palavra, porque isso compete, em cada caso, à decisão
da vontade. Devem, por isso, classificar-se em bons e maus os que
governam os nossos atos morais. Os hábitos bons chamam-se virtudes,
os hábitos maus chamam-se vícios.
Há, na inteligência, um certo número de hábitos, que, não
sendo necessariamente bons, são no entanto auxiliares no bem se uma
vontade reta os orientar para bom fim. São, digamos, virtudes
condicionadas, virtudes impropriamente ditas. S. Tomás distingue
três no que se refere ao pensamento, e uma no que se refere à
ação. As primeiras são a inteligência, a sabedoria e a ciência;
a última é a arte.
A inteligência, hábito natural, pelo menos na sua forma
implícita, que não deve confundir-se com a faculdade do mesmo nome
que é a sua sede, consiste no conhecimento dos primeiros princípios,
especulativos ou práticos. A sabedoria e a ciência referem-se ao
conhecimento das conseqüências dos princípios. Mas, enquanto que a
sabedoria se ocupa
das últimas conseqüências, e portanto, visto que a nossa
inteligência retrocede dos efeitos às causas, das causas primeiras,
a ciência ocupa-se das conseqüências dos princípios num assunto
determinado. Daí resulta que a sabedoria é só uma, e deve orientar
todo o nosso pensamento; enquanto que a ciência se especializa por
assuntos, e só se aplica à sua especialidade.
A arte, no sentido lato, que compreende as belas-artes e as artes
mais modestas dos artífices, ensina-nos a aplicar, ao que estamos
fazendo, os conhecimentos que possuímos. Para ser artista, de
fato, artista produtivo, não basta ter idéias gerais sobre a arte;
não basta saber, é preciso saber fazer.
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