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É principalmente da metafísica que tratei nestas lições. Depois da
lição presente, sobre o conceito de filosofia, que voluntariamente
desenvolvi bastante, porque sei por experiência que nada vale uma
questão bem posta logo de início, falarei da evolução da
filosofia, desde a origem aos nossos dias. O desenvolvimento da
filosofia é como que um grande diálogo, em que perguntas e respostas
se sucedem, às vezes, com séculos de intervalo; nada, como a
história da filosofia, pode dar uma idéia justa da dificuldade e da
delicadeza dos problemas que ela estuda. Depois tratarei da
metafísica: os primeiros princípios, o ser, Deus, a Criação.
Terminarei por falar da psicologia, da lógica, da filosofia
natural, da moral filosófica. Não me ocuparei da apologética,
porque a suponho conhecida de todos com mais desenvolvimento do que aqui
lhe poderia dar.
Darei sempre preferência ao ponto de vista propriamente filosófico
sobre o ponto de vista histórico, isto é, só acessoriamente me
preocuparei com dizer os termos em que S. Tomás formulou uma tese,
as obras em que a tratou, se ela é ou não original de S. Tomás,
etc. Procurarei dar uma idéia tanto quanto possível exata da
posição tomista, sem entrar em pormenores, mas esforçando-me
sempre por deixar bem compreendido o que é fundamental.
Não insistirei também sobre o aspecto que tomavam as questões no
ambiente científico do tempo de S. Tomás. Olharei as questões em
si mesmas e, só onde isso me parecer indispensável, falarei
rapidamente das suas relações com os problemas que hoje nos
preocupam.
Quase não tocarei nos assuntos que estão ainda em plena
elaboração, e são discutidos, às vezes vivamente, entre os
modernos tomistas. São pontos secundários, e pareceu-me que
insistir neles só poderia servir para criar confusão, sem proveito.
Quanto ao vocabulário, procurarei evitar igualmente dois extremos:
um, usar exclusivamente a terminologia escolástica, com risco de
tornar as minhas palavras incompreensíveis para quem não esteja
familiarizado com ela; o outro, pô-la completamente de parte,
perdendo uma oportunidade de facilitar, para o futuro, o estudo das
obras mais desenvolvidas, que a utilizam.
Enfim, tentei fazer uma iniciação no tomismo, que fornecesse um
núcleo de idéias simples, claras e sólidas, capaz de ser completado
por estudos posteriores, na medida das possibilidades e dos gostos de
cada um; que indicasse as grandes linhas da filosofia tomista,
apontasse os seus horizontes, e, tanto quanto possível, despertasse
o desejo de a conhecer melhor.
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