16. As virtudes morais.

Há hábitos que são necessariamente bons, ou porque orientam a vontade para o bem, ou porque pressupõem, por essência, uma boa disposição da vontade. Esses hábitos são as virtudes propriamente ditas, virtudes incondicionadas, digamos, e chamam-se virtudes morais.

Para S. Tomás, de acordo com o aforismo conhecido, a virtude está no meio. Mas não se entenda isso como significando que se deve ser bom a meias, que se deve ser nem bom nem mau. Não. Devemos ser o melhores possível; simplesmente, proceder bem é evitar excessos, qualquer dos quais basta para tornar maus os nossos atos. Assim, comer de mais é um mal; porque é procurar o alimento pelo prazer que dá, em vez de como meio de manter a saúde e a vida. Mas comer de menos também é um mal, porque põe a saúde em perigo. O meio que se procura não é portanto o meio entre a virtude e o vício, mas o meio entre excessos contrários em que consiste a virtude. Não resisto a transcrever as palavras de S. Tomás sobre o assunto, que são límpidas

"A medida e a regra dos movimentos da vontade perante os seus objetos é a razão. Ora qualquer bem sujeito a uma regra consiste na conformidade com essa regra [...]. O mal, pelo contrário, provém da discordância da regra, a qual tanto pode existir por se exceder a medida, como por não se atingir [...]. Donde manifestamente se conclui que a virtude moral consiste num meio-termo" [113].

Não há virtudes intelectuais sem virtudes morais. Os hábitos que têm esse nome, como disse, só são virtudes se a vontade os utilizar para o bem. Mas a reciproca não é verdadeira, pelo menos em absoluto. Pode haver virtude moral onde falta a ciência e a arte. O que é indispensável é a inteligência dos princípios, hábito natural, necessário para o exercício da razão e necessário portanto em todos os atos humanos.

As virtudes morais mais importantes são quatro, que se chamam cardiais, do latim cardines, gonzos, porque em torno delas, num sentido figurado, giram as restantes. Uma tem sede na inteligência, e é precisamente a inteligência posta ao serviço duma vontade reta para a direção da nossa vida; chama-se a prudência. As outras têm sede nas faculdades apetitivas. A primeira, a justiça., refere-se às nossas ações no que têm de exterior. As duas últimas referem-se ao domínio das paixões pela vontade; são a força, que regula as paixões do irascível, e a temperança, que regula as do concupiscível.