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A Providência é o governo do Mundo por Deus. Torna-se evidente
se nos lembrarmos de que Deus dispôs todas as coisas em vista da ordem
do Mundo, e portanto marcou os fins a atingir às causas de maneira a
obter os efeitos que achou convenientes.
Não devemos supor a Providência um governo imposto ao Mundo do
exterior, um constrangimento que violente o curso natural dos
acontecimentos. Não. A Providência é precisamente a boa
disposição das finalidades e das causalidades naturais para o fim que
Deus deseja. Deus obtém os efeitos que procura pelo jogo das causas
naturais. É o autor da Natureza, e dispôs as relações entre as
causas de maneira a produzirem, elas próprias, o resultado
conveniente. Assim, normalmente, são as conseqüências das nossas
ações que nos premiam ou castigam; chama-se a isso a justiça
imanente.
Deus, é evidente também, depois do que disse, previu todos os
efeitos da ordem que estabeleceu, mesmo os mais insignificantes. Por
isso a sua providência estende-se a todas as coisas. E não
suponhamos que, se Deus às vezes suspende o curso natural dos
acontecimentos, isso implica modificação da ordem providencial.
Nada impede que, excepcionalmente, para conseguir um efeito
extraordinário, Deus suspenda uma lei da Natureza. A possibilidade
do milagre é conseqüência da omnipotência divina, e a sua realidade
afirmada pela experiência histórica e atual. Deus pode fazer que uma
causa produza um efeito diferente daquele que normalmente produziria;
mas esse efeito extraordinário é previsto por Deus desde sempre. É
alheio à lei da Natureza, mas tão primitivo como ela na intenção
de Deus. Não é um retoque à Providência, introduzido
posteriormente. A vontade de Deus não procede assim; é imutável e
superior ao tempo; em visão de conjunto, engloba, nos seus
desígnios, o natural e o sobrenatural.
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