V. O Ser.

A. As Divisões do Ser.


1. O Ser.

Disse que o objeto da metafísica é o ser, em toda a sua generalidade. É portanto do ser que devo ocupar-me em primeiro lugar.

Antes de mais nada, que se entende por ser? É costume começar pela definição dos termos que se vão empregar.

Mas há uma dificuldade insuperável quando se trata do ser; é a impossibilidade de encontrar noções por meio das quais ele se possa definir. A noção de ser é primária, em absoluto; é a mais geral de todas, e envolve todas as outras na sua extensão. É a primeira que o nosso espirito apreende nos objetos que considera; não claramente, porque, como já disse, as raízes mais profundas do nosso pensamento escapam a uma atenção desprevenida; mas, se refletirmos, encontramo-la como última base de todas as nossas noções, implicada em todas, não dependente de nenhuma. Por outros termos: não podemos dar do ser uma definição em que ele não entre, senão explícita, ao menos implicitamente.

Mas, se não podemos definir o ser, podemos dizer dele o suficiente para que cada um possa saber qual é, de entre as noções existentes no seu espirito, aquela que corresponde ao que a metafísica entende por essa palavra, ou verificar se a noção a que tem dado esse nome é realmente aquela de que a metafísica se ocupa. E então diremos que ser é tudo aquilo a que compete existir. Isto, qualquer que seja a forma de existência de que se trata; porque não deve esquecer-se a analogia do ser de que já falei, e que nos diz que a noção de ser se encontra realizada, nas diversas coisas, segundo maneiras fundamentalmente diversas.