|
Se em vez das mudanças das coisas considerarmos a sua existência,
temos a segunda via. Os seres estão ligados uns aos outros pelos
laços da causalidade eficiente; isto é, a existência duma coisa
depende da de outra coisa, sem a qual a primeira não poderia existir.
Se a existência dessa, por sua vez, depende da duma terceira, e
assim sucessivamente, a existência de todas está dependente da duma
Primeira Causa, que, para ser primeira, tem de ser Causa
não-causada, e portanto transcendente às outras: Deus.
Como no caso anterior, não podemos aqui remontar ao infinito. A
existência de cada termo da série está dependente da de todos os
anteriores. Suprimido o primeiro, o Primeiro por essência, que
existe sem causa, por si mesmo, suprimem-se todos os outros; e esses
outros existem, o Mundo existe; logo, Deus existe.
Para o que se segue, é importante que fique bem compreendido qual a
espécie de causas de que trata este argumento. Não interessam as
causas da produção, mas as da existência, pelo menos da existência
como causa; do que se trata não é de sucessão no tempo, mas de
subordinação causal. Acerca dum homem, por exemplo, não importa o
ele ter nascido doutro homem; porque a morte do pai não arrasta a do
filho. Avô, pai, filho, são causas encadeadas no tempo, que se
vão substituindo sucessivamente, sem que essa substituição altere a
posição do problema. O que aqui interessa é a existência da
humanidade em conjunto. E essa depende dos agentes naturais, das
propriedades dos corpos que o ser vivo utiliza, alimentos que o
sustentam, ar que respira, radiações que aproveita, das forças da
natureza que convergem num organismo, de acordo com a lei própria da
sua existência, e concorrem para a conservação da sua vida. A sua
falta é que traria consigo, inevitavelmente, a desaparição da
humanidade.
|
|