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Dizem-se vivos os seres que se movem a si mesmos. Ora Deus é
imutável; não é movido, nem se move, no sentido rigoroso da
palavra. Vejamos portanto o que pode significar a vida, que
atribuímos a Deus em grau eminente.
No mais baixo grau da escala dos seres vivos, vemos as plantas
executar movimentos, de crescimento, assimilação e reprodução,
regidos pela forma que da natureza receberam. Mais acima, encontramos
os animais, que recebem dos sentidos o princípio determinante de cada
ação particular, mas sem conhecerem o fim para o qual essa ação
tende, fim que lhes é ditado pela natureza. Acima deles, há as
criaturas racionais, que não só recebem das suas faculdades as formas
das suas ações, mas conhecem e escolhem o fim próximo destas. Não
podem, no entanto, escolher os primeiros princípios da sua
inteligência, nem o último fim das suas ações, que é a
realização plena da sua natureza.
Vemos, portanto, que à medida que subimos na escala dos seres
vivos, encontramos um conhecimento cada vez mais perfeito e uma vontade
cada vez mais autônoma. Não podemos por isso deixar de atribuir a
vida, no grau supremo, a Deus, que, por ser idêntico à sua
inteligência e à sua vontade, não é determinado por ninguém
estranho nem quanto ao seu conhecimento nem quanto ao seu fim.
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