11. A vontade.

Ao conhecimento intelectual, corresponde um apetite intelectual também, isto é, uma tendência para o fim proposto como tal pela inteligência.

Todo o ser é activo e tende para um fim. Se não conhece esse fim, procura-o naturalmente, sem necessidade, como já disse, para esse efeito, de existir nele alguma faculdade especial. Se conhece o fim próximo da sua ação, mas não o escolhe, se o fim lhe é dado do exterior, necessita duma faculdade que, a esse conhecimento do fim, responda com um impulso activo: é o apetite sensível. Se é o próprio ser que escolhe o seu fim próximo, porque sabe raciocinar e pesar os prós e os contras dos vários caminhos possíveis, precisa duma faculdade capaz de o impelir para o fim que escolheu: a vontade. A vontade é por isso a contrapartida, no terreno da atividade, da inteligência. Todo o ser intelectual é dotado de vontade, sob pena de imperfeição, de impotência para procurar o fim conhecido e escolhido. E, no homem, a observação confirma a existência dum principio de ação que quer o que a inteligência lhe mostra ser desejável; é a vontade intelectual, a vontade propriamente dita.

A vontade, portanto, procura atingir o fim; mas não delibera sobre ele. Não raciocina; é um erro supô-la a raciocinar, ou a inteligência a querer. Pensar assim é olhar a inteligência e a vontade como dois seres distintos, e não como o que realmente são; duas potências distintas dum mesmo ser, o homem, que pensa e age. A vontade quer o que a inteligência escolhe, e fá-lo executar.

Acrescente-se que, assim como a inteligência não recebe as idéias senão por intermédio dos sentidos, a vontade não move o nosso organismo senão por intermédio do apetite sensível. A execução do que ela determina é condicionada pela sensibilidade. E, como diz Aristóteles [82], o poder da vontade sobre a sensibilidade não é despótico, mas político. É agindo inteligentemente sobre as suas faculdades animais, disciplinando-as, educando-as, que o homem pode dominar o seu corpo e elevar a sua vida ao nível da sua humanidade.