13. Moralidade e conhecimento.

A moralidade formal, e portanto o mérito, está como disse na conformidade do nosso procedimento com a lei moral, tal como, de acordo com os elementos de que dispo¨ mos, se aplica ao nosso caso. Assim, por erro, quer quanto ao caso, quer quanto à lei, podemos praticar uma ação materialmente má que seja formalmente boa, ou uma ação materialmente boa mas formalmente má. A moralidade do nosso ato foi modificada pela ignorância da lei.

Como quanto à influência das paixões há dois casos a distinguir. Se a ignorância é inevitável, se não podemos, nem pudemos, conhecer o que manda a lei sobre o nosso caso, não é da nossa responsabilidade o lado material do ato que praticamos. Se, pelo contrário, a ignorância é propositada, possivelmente com a intenção de que nos sirva de desculpa, ou resulta de desleixo da nossa parte em nos instruirmos sobre a lei moral, somos responsáveis pelos nossos atos, na sua causa; e a responsabilidade existe na proporção em que a ignorância é voluntária.

A razão porque a ignorância desculpa a falta, razão que nos levou a distinguir a moralidade formal da material, é que a torna involuntária, por acidente. Nós não queremos o ato mau que de fato praticamos, mas o ato bom que julgamos praticar. Por isso, se fazemos o mal na ignorância de que é mal, mas com tal resolução que, se o soubéssemos, não deixaríamos de o fazer, a desculpa desaparece. A ignorância, nesse caso, não é causa do nosso ato, mas uma simples circunstância acessória.

Podemos, portanto, resumir desta maneira: Deve seguir-se uma consciência errônea; proceder contra ela seria, formalmente, e por isso moralmente, um mal. Mas devem fazer-se todos os esforços para conseguir uma boa formação da consciência; porque, caso contrário, o seu erro será culpa nossa, e o mal material que fazemos terá, como causa remota, a nossa vontade.

De resto, ninguém se deve entrincheirar no pretexto de que a consciência lhe indica um caminho para recusar o conselho de pessoas prudentes e bem formadas. O conselho dum homem de caráter, pela autoridade de quem c dá, é um elemento valioso de formação da consciência, num assunto tão delicado como a moral. A nossa consciência, que é, em última análise, a quem devemos obedecer, deve atender a ele, juntamente com os outros, e nunca rejeitá-lo in limine.