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Os animais são substâncias dotadas de vida sensitiva. Alem das que
citei a propósito das plantas, pertencem a esta modalidade de vida
mais as seguintes funções: o conhecimento sensível dos objetos, o
apetite sensível, a faculdade locomotora. A sensibilidade
compreende, com formas e desenvolvimentos muito diferentes de espécie
para espécie: os sentidos externos, a consciência sensível ou senso
comum, imaginação, a estimativa, e a memória. O apetite
sensível divide-se em irascível e concupiscível.
De tudo isso já falei quando me referi à atividade sensível do
homem, e não preciso de repetir o que então disse. Por outro lado,
tudo o que disse das plantas se aplica também à vida vegetativa dos
animais. Basta por isso lembrar aqui o seguinte:
A forma substancial do animal é a única que actua a matéria que
compõe o seu corpo. Tem o nome de alma sensitiva, e regula toda a
vida do animal. As formas dos compostos químicos existentes no
corpo, as das células que o compõem, a alma vegetativa, existem
nela virtualmente; não têm existência autônoma. É a alma
sensitiva que exige, para o exercício da sua atividade, que o corpo
seja gerado, se desenvolva e nutra. A essa alma sensitiva
sobrepõem-se formas acidentais, faculdades, hábitos,
disposições. Mas tudo o que é essencial na vida do animal é regido
por ela.
Como a alma vegetativa das plantas, a alma sensitiva dos animais não
excede a potência da matéria. Por isso, passa ao ato logo que está
suficientemente disposta a matéria do corpo, sob a ação dos agentes
naturais e do germe, e dissolve-se por acidente quando o corpo é
destruído.
O conhecimento sensível e o apetite sensível estão estreitamente
relacionados. Para que o animal possa, conscientemente, tender para
um objeto, é preciso antes de mais nada que o conheça. Está
também estreitamente relacionada com essas a faculdade locomotora.
Realmente, o conhecimento, em algumas espécies menos diferenciadas;
está reduzido ao tacto; então, à locomoção não ultrapassa a
vizinhança imediata do animal, que, pelo tacto, não pode conhecer
senão os objetos próximos. Noutros, há o ouvido, a vista; a
locomoção tem um raio de ação praticamente ilimitado, porque o
animal pode conhecer os objetos distantes.
Analogamente ao que já fiz notar a respeito das plantas, o tomismo
não olha o animal como um autômato, mas como um verdadeiro ser vivo,
dotado de conhecimento e de apetite. Recusa-lhe a direção
consciente e livre da sua vida, porque essa exige o conhecimento do fim
para que ela tende, conhecimento intelectual que o animal não tem.
Mas não lhe nega uma certa autonomia na escolha dos seus atos, obra
da estimativa, guiada pelos hábitos instintivos ou adquiridos pela
educação. Enfim, considera-os semelhantes a nós em tudo o que
não depende essencialmente das faculdades intelectuais, ou não é
exigido pela existência dessas faculdades.
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