12. Os métodos da indução.

Os métodos da indução científica, segundo a sistematização de Francisco Bacon e Stuart Mill, são, resumidamente, os que seguem.

Os casos particulares, em que, como já disse, se funda a indução, são-nos fornecidos pela experiência. Esta consiste, antes de mais nada, na observação dos fatos, não provocados por nós, que se produzem à nossa volta. Como esses fatos, muitas vezes, são insuficientes para esclarecer todas as dúvidas, há necessidade de provocar outros análogos, em condições escolhidas por nós; isso constitui a experimentação. Como guia para a experimentação e para a interpretação dos fatos observados, torna-se muitas vezes necessário o recurso a uma ou mais hipóteses, isto é, a explicações que se nos afiguram possíveis, e que admitimos a título provisório, prontos a rejeitá-las ou a modificá-las se a experiência as não vier a confirmar.

Na experimentação, estuda-se o fenômeno considerado variando as condições em que se produz; forçando a experiência, para ver se ele se reproduz em condições diferentes; transportando-a para campos diferentes, no intuito de saber se ele se estende a esses novos campos; invertendo a experiência, para contra-prova; compelindo-a, isto é, provocando o desaparecimento do fenômeno (a designação é de Bacon); aplicando-a a casos da prática; reunindo-a com outras experiências, para saber se se reforçam; finalmente, tenteando, fazendo experiências como que ao acaso, para, possivelmente, descobrir domínios ainda inexplorados. São estes os pito processos enumerados por Bacon.

Coligido assim o material indispensável, trata-se de o interpretar, pelo recurso ao princípio fundamental da indução: fenômeno que se dá uma vez, dá-se todas as vezes que se reproduzirem, nas mesmas condições, os factores que nele influem. Conhecidas, portanto, as circunstâncias em que se fez cada urna das experiências, os factores que nelas concorreram, que se chamam os seus antecedentes, resta descobrir qual o antecedente, simples ou complexo, que existiu sempre que o fenômeno se produziu, e só quando ele se produziu [93]. Então, se de fato se enumeraram todos os antecedentes das experiências, e se agruparam em todas as combinações possíveis ao fazê-las, é lógico concluir que esse antecedente está ligado com o fenômeno por uma relação essencial, que é causa do fenômeno.

Na pesquisa do antecedente necessário, Stuart Mill distingue quatro métodos, que, de resto, raras vezes se aplicarão isolados, porque é preciso combiná-los para se completarem mutuamente. O primeiro é o método da concordância. Nele, procuram-se casos tão diferentes quanto possível em que se produza o fenômeno estudado. Se há um antecedente, e só um, comum a todos eles, pode-se concluir que é um antecedente necessário. Por este método, os Curie, verificando que as radiações descobertas por Becquerel se observavam sempre que na substância ensaiada existiam determinados elementos, independentemente da combinação em que se encontravam e de quaisquer outras condições, puderam concluir que elas eram propriedades atômicas desses elementos, a que chamaram radioativos.

O segundo método é o da ausência, contraprova do de concordância. Fazem-se duas experiências tão semelhantes quanto possível, mas numa das quais falte um antecedente, e só um, presente na outra. Se o fenômeno se realiza na experiência que contém esse antecedente, e não se realiza na outra, isso indica que há entre o antecedente considerado e o fenômeno um laço essencial. Assim se provou, por exemplo, que o mosquito é o agente de transmissão das febres palustres. Para experiência, fizeram-se dormir grupos de homens em camas que tinham sido ocupadas por impaludados. Mas, enquanto que os componentes dum dos grupos ficavam expostos às picadas dos mosquitos, os do outro eram protegidos por mosquiteiros. Só foram infeccionados os que pertenciam ao primeiro grupo.

O terceiro método é o das variações concomitantes. Consiste em fazer variar, uma a uma, as intensidades com que actuam os diferentes antecedentes das experiências. Se as variações dum, e só dum, afectam de maneira sistemática a intensidade do resultado, conclui-se que há entre eles relação essencial. Um exemplo notável deste método é a forma por que Pascal provou que a subida do mercúrio no barômetro é devida à pressão atmosférica, medindo a altura da coluna barométrica na base e no cume do Puy-de-Dôme, e verificando que ela baixava onde a pressão atmosférica era menor.

O último é o método dos resíduos. Quando se conhecem às relações entre o fenômeno estudado e alguns dos seus antecedentes, pode-se atribuir aos antecedentes restantes, ou a algum deles, a diferença entre o resultado obtido e os efeitos previstos dos primeiros. Foi assim que le Verrier, calculando as perturbações que os planetas então conhecidos provocavam no movimento de Urano, encontrou um resíduo, uma divergência entre os valores reais e os calculados, que atribuiu a um novo planeta, que veio efetivamente a ser descoberto no lugar indicado por ele, e se chamou Netuno. Anos depois, pelo mesmo método, e estudando a diferença que ficava entre os valores reais e os calculados, mesmo quando nestes se incluía a influência de Netuno, Lowell descobriu novo planeta, que só depois da sua morte veio a ser observado e a que deram o nome de Plutão.