B. O que podemos conhecer de Deus.


8. O nosso conhecimento e Deus.

Que poderemos nós conhecer desse Deus que demonstramos existir? Não falo, visto estar a tratar de filosofia, dos conhecimentos supra-naturais, baseados na Revelação; falo só do conhecimento fundado nas nossas faculdades naturais. Poderão, estes dar-nos de Deus um conhecimento adequado, que nos permita compreendê-lo?

A compreensão dum objeto consiste no conhecimento da sua essência, e, para a nossa inteligência discursiva, em saber o que caracteriza a sua espécie, o gênero a que ela pertence, a diferença que a distingue das outras espécies do mesmo gênero. Ora Deus aparece-nos como fonte de todo o ser; não pode estar incluído em nenhuma das suas divisões. É transcendente a todas as coisas, tem de o ser, como vimos, para poder ser Primeiro, em absoluto. Está fora e acima das categorias, dos gêneros, das espécies. Está fora dos quadros segundo os quais se articula o nosso pensamento. Não podemos, por isso, ter a pretensão de o compreender. É, de resto, natural, que o perfeito exceda a capacidade duma inteligência limitada, imperfeita, como é a nossa.

S. Tomás não cai por isso na ilusão cartesiana de supor que se pode compreender a essência divina a ponto de deduzir dela as leis do mundo criado. Di-lo claramente, no trecho seguinte: "a nossa inteligência sabe o que uma coisa é [...] quando concebe, a respeito dessa coisa, uma forma inteligível que corresponde à sua natureza. Ora, segundo o que dissemos, tudo quanto a nossa inteligência concebe acerca de Deus não basta para o representar. Deus fica-nos sempre oculto, e, nesta vida, o supremo conhecimento que podemos ter dele é saber que excede todos os nossos pensamentos [52].