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Disse que o objeto da metafísica é o ser, em toda a sua
generalidade. É portanto do ser que devo ocupar-me em primeiro
lugar.
Antes de mais nada, que se entende por ser? É costume começar pela
definição dos termos que se vão empregar.
Mas há uma dificuldade insuperável quando se trata do ser; é a
impossibilidade de encontrar noções por meio das quais ele se possa
definir. A noção de ser é primária, em absoluto; é a mais geral
de todas, e envolve todas as outras na sua extensão. É a primeira
que o nosso espirito apreende nos objetos que considera; não
claramente, porque, como já disse, as raízes mais profundas do
nosso pensamento escapam a uma atenção desprevenida; mas, se
refletirmos, encontramo-la como última base de todas as nossas
noções, implicada em todas, não dependente de nenhuma. Por outros
termos: não podemos dar do ser uma definição em que ele não entre,
senão explícita, ao menos implicitamente.
Mas, se não podemos definir o ser, podemos dizer dele o suficiente
para que cada um possa saber qual é, de entre as noções existentes
no seu espirito, aquela que corresponde ao que a metafísica entende
por essa palavra, ou verificar se a noção a que tem dado esse nome é
realmente aquela de que a metafísica se ocupa. E então diremos que
ser é tudo aquilo a que compete existir. Isto, qualquer que seja a
forma de existência de que se trata; porque não deve esquecer-se a
analogia do ser de que já falei, e que nos diz que a noção de ser se
encontra realizada, nas diversas coisas, segundo maneiras
fundamentalmente diversas.
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