7. As coisas e a ciência de Deus.

Pelas idéias, Deus conhece todas as coisas. E, visto que as Idéias exprimem todas as maneiras por que a perfeição divina é participável, Deus conhece todo o possível. Conhece a infinidade dos seres possíveis, tenham ou não tido, venham ou não a ter realização atual. Não é para isso necessário supor realizado em Deus um infinito numérico; porque Deus conhece tudo no ato simples em que se conhece a si mesmo, exaustivamente.

As coisas que constituem um certo e determinado Universo, conhece-as Deus como existentes realmente, e existentes por decreto livre da sua vontade. Como a vontade de Deus é idêntica à sua ciência, vimos na última lição que não há em Deus distinção real de essência e atributos, podemos dizer que a ciência de Deus é a causa das coisas. Deus conhece as coisas tais como as fez, e portanto tais como são; ou, indiferentemente, as coisas são tais como Deus as conhece. O conhecimento que delas tem em si mesmo é exaustivo, porque elas recebem de Deus tudo quanto são, tudo quanto têm. Deus conhece-as no mais íntimo do seu ser, visto que lhes conhece o ser na fonte, na nascente. Conhece-as nas suas singularidades, no que caracteriza cada uma em particular. Conhece-as no que as distingue. Conhece-as nas suas atividades, na sua sucessão, nas suas deficiências, não porque conheça a privação como tal, visto que a privação não é um ser, mas porque conhecer perfeitamente o limitado é conhecer também o seu limite. Conhece-as nas suas relações, ia dizer: principalmente nas suas relações, porque é a ordem do seu conjunto que torna o Mundo digno de ser criado por Deus.

Enfim, Deus conhece o Mundo que existe, tal como existe. E a ciência que dele tem vem de Deus, não do Mundo. Nem a título de coisa conhecida o Universo criado pode influir em Deus.