26. Descartes.

Enquanto os últimos escolásticos, esquecendo as verdadeiras relações entre as duas ciências, supunham a física de Aristóteles consequência necessária da sua metafísica, os adversários caíam no mesmo erro, com sinal contrário, e criavam uma metafísica fundada nos métodos da ciência nova. Foi a obra de Descartes, iniciador do que se convencionou chamar a filosofia moderna.

Descartes, um dos maiores matemáticos de todos os tempos, fez tábua rasa de tudo o que o tinha precedido, e resolveu partir da dúvida universal. Impôs à metafísica o método da matemática, isto é, deduções sucessivas a partir de princípios pouco numerosos, e sem recurso à experiência. Só não duvida da sua existência, visto que pensa; do "penso, logo existo", faz a posição inicial de todo o seu sistema; é o célebre "cogito" de Descartes. Da idéia de Deus, que tem, e que, entende, por ser idéia do perfeito, não pode ter uma causa imperfeita, conclui que Deus existe. Como o cogito, de que não consegue duvidar, é uma idéia clara e distinta, todas as idéias claras e distintas são verdadeiras também; a veracidade divina garante-lhe que não há nisso ilusão. Fica assim estabelecida a existência do seu próprio corpo e a do mundo exterior.

Do fato de pensar, tira Descartes a conclusão de que a sua essência é o pensamento; é a alma. E conclui ainda que o pensamento é independente do corpo, e as idéias inatas; mas que a alma dirige o corpo, por meio dos espíritos animais, sopro muito sutil que parte do cérebro, e se encaminha, pelos nervos, para os músculos. Quanto aos animais, são puros autômatos, verdadeiras máquinas sem vida nem sensibilidade.

Das suas teorias filosóficas, Descartes tentou deduzir uma física, uma cosmologia, e uma fisiologia. Mas as teorias que estabeleceu mostraram-se quase todas caducas. No entanto, a sua contribuição para a ciência é grande, em certos ramos da física.

Falarei mais demoradamente de Descartes quando tratar dos primeiros princípios [24].