6. Síntese dos três princípios.

Os três princípios enunciados podem sintetizar-se num só: o princípio metafísico de identidade, princípio ontológico, não lógico, isto é, relativo ao ser e não ao pensamento. Esse é então, absolutamente, o primeiro princípio da inteligência. Se não tratei dele em primeiro lugar foi para tornar mais clara a exposição.

Podemos com Maritain [28] formulá-lo da maneira seguinte: cada coisa é o que é. O enunciado não se compreende facilmente, à primeira vista; deve-se isto à extrema dificuldade de encontrar palavras que exprimam noções tão elementares como estas, coisas que, embora subjacentes a todos os nossos pensamentos, raras vezes aparecem neles de maneira explícita. Não se trata duma tautologia, duma simples repetição de palavras, como pode parecer. Aquele é tem significado muito diferente das duas vezes que aparece. Tem da primeira vez um sentido vago, geral; da segunda, um sentido bem determinado, preciso. Cada ser é; mas não é uma coisa qualquer, não é o que os outros seres são; é duma maneira que o caracteriza, duma maneira de ser sua. É, mas é o que é; é aquilo que o constitui em próprio, e não outra coisa.

Este princípio implica o reconhecimento, pelo homem, de que a lei do seu pensamento é ditada pela do ser, apreendido como existente na realidade exterior conhecida pelos sentidos. Implica a noção do existente, do real; isto é, o principio de realidade. Enuncia a lei do nosso raciocínio, que afirma o idêntico e nega o contraditório: o principio lógico de identidade, reverso do de contradição. E afirma, das coisas, a mesma lei; formula-a, até, nas coisas em primeiro lugar; subordina a lei do espírito à lei das coisas; é o princípio de inteligibilidade. É portanto com razão que se pode chamar-lhe a síntese dos três princípios.

E implica, também, a analogia do ser. Pode até servir de enunciado dessa analogia: cada coisa é o que é; cada coisa está sujeita à lei do ser, segundo a sua maneira de ser particular. O ser só pode atribuir-se-lhe segundo aquilo que a caracteriza, seguindo o que ela é. Cada coisa é, participa do ser, mas dum modo próprio, seu, que a distingue das outras coisas.

Quanto melhor se compreende, portanto, o enunciado deste princípio, mais ele nos aparece rico de sentido, apesar da aparente pobreza das palavras que o exprimem. E, de fato, nele está contido tudo quanto sabemos do ser, na sua universalidade; como sobre ele se funda tudo quanto podemos saber das suas particularizações. É o primeiro princípio universal, subjacente a toda a atividade da nossa inteligência [29]. Desdobrado, para as aplicações, nos múltiplos princípios evidentes, que resume num só.