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Disse que a filosofia procura levar o seu conhecimento tão longe
quanto o permitem os nossos recursos naturais. A filosofia
caracteriza-se por essa restrição, que a distingue da teologia.
A teologia também quer levar o nosso conhecimento aos seus últimos
limites; também ela estuda o mundo, o homem, os Anjos e Deus,
procurando compreender aquilo de que se ocupa; mas serve-se da
Revelação. Nos capítulos em que há verdades reveladas, consegue
resultados que a Filosofia não pode atingir, e, mesmo os que são
acessíveis a esta, consegue-os com uma facilidade, uma certeza, uma
segurança, bem diferentes das hesitações e demoras do esforço
filosófico. Mas a Revelação excede a natureza humana; é
sobrenatural, no verdadeiro sentido da palavra. Deus revela-se por
pura bondade, gratuitamente; o fato de sermos homens não nos dá
direito à revelação, e a ciência teológica, fundada nela, excede
aquilo que o homem, naturalmente, pode conhecer.
Não quero dizer que a teologia não seja racional; é-o, em todo o
desenvolvimento dos raciocínios a que à Revelação serve de base,
como na aceitação da Verdade revelada, ato eminentemente razoável,
pelos motivos em que se funda. Não quero dizer, também, que o
filósofo deva evitar chegar até ela; pelo contrário. Ela também
é sabedoria, de ordem mais elevada do que a filosófica, porque não
é humana, mas divina pela sua origem. Mas, desde o momento em que o
conhecimento passa o limite do que se pode saber a partir dos
princípios naturalmente evidentes e da observação, muda de gênero,
e deixa de ser filosófico para passar a ser teológico.
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