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Há hábitos que são necessariamente bons, ou porque orientam a
vontade para o bem, ou porque pressupõem, por essência, uma boa
disposição da vontade. Esses hábitos são as virtudes propriamente
ditas, virtudes incondicionadas, digamos, e chamam-se virtudes
morais.
Para S. Tomás, de acordo com o aforismo conhecido, a virtude
está no meio. Mas não se entenda isso como significando que se deve
ser bom a meias, que se deve ser nem bom nem mau. Não. Devemos ser
o melhores possível; simplesmente, proceder bem é evitar excessos,
qualquer dos quais basta para tornar maus os nossos atos. Assim,
comer de mais é um mal; porque é procurar o alimento pelo prazer que
dá, em vez de como meio de manter a saúde e a vida. Mas comer de
menos também é um mal, porque põe a saúde em perigo. O meio que
se procura não é portanto o meio entre a virtude e o vício, mas o
meio entre excessos contrários em que consiste a virtude. Não
resisto a transcrever as palavras de S. Tomás sobre o assunto, que
são límpidas
"A medida e a regra dos movimentos da vontade perante os seus objetos
é a razão. Ora qualquer bem sujeito a uma regra consiste na
conformidade com essa regra [...]. O mal, pelo contrário,
provém da discordância da regra, a qual tanto pode existir por se
exceder a medida, como por não se atingir [...]. Donde
manifestamente se conclui que a virtude moral consiste num meio-termo"
[113].
Não há virtudes intelectuais sem virtudes morais. Os hábitos que
têm esse nome, como disse, só são virtudes se a vontade os utilizar
para o bem. Mas a reciproca não é verdadeira, pelo menos em
absoluto. Pode haver virtude moral onde falta a ciência e a arte. O
que é indispensável é a inteligência dos princípios, hábito
natural, necessário para o exercício da razão e necessário portanto
em todos os atos humanos.
As virtudes morais mais importantes são quatro, que se chamam
cardiais, do latim cardines, gonzos, porque em torno delas, num
sentido figurado, giram as restantes. Uma tem sede na inteligência,
e é precisamente a inteligência posta ao serviço duma vontade reta
para a direção da nossa vida; chama-se a prudência. As outras
têm sede nas faculdades apetitivas. A primeira, a justiça.,
refere-se às nossas ações no que têm de exterior. As duas
últimas referem-se ao domínio das paixões pela vontade; são a
força, que regula as paixões do irascível, e a temperança, que
regula as do concupiscível.
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