16. A infinidade.

Também quanto à infinidade se deve fazer uma distinção. Há a considerar o infinito potencial, que exprime só a possibilidade dum acréscimo indefinido, e o infinito em ato, a plenitude do ser, possuída sem limites. A primeira forma de infinidade não traduz nenhuma perfeição; não diz senão o que uma coisa não é, e podia ser. A segunda é a perfeição total; é só ela que devemos atribuir a Deus.

A infinidade de Deus, portanto, não é senão a negação de todo e qualquer limite ao seu ser. Pelo que já disse, facilmente se estabelece que Deus é infinito. Uma limitação pode vir duma causa exterior; mas Deus, Causa Primeira, não está sujeito a nenhuma outra, e nenhuma por isso pode limitá-lo. O ser duma coisa é ainda limitado pela sua essência; o que uma coisa pode ser sem se desmentir mede o ser que nela pode ser recebido. Mas em Deus não há dualidade de essência e existência; a sua essência identifica-se com o seu ser, que por isso não pode limitar. Deus não tem portanto limite, nem extrínseco, nem intrínseco; é infinito.

Há uma objeção contra a infinidade de Deus que facilmente se resolve. Pode parecer que o ser das coisas limita o ser de Deus; que o que nós somos, o que são as coisas distintas de Deus, falta a Deus. Mas não devemos esquecer que Deus é transcendente; que vive num plano diverso do nosso. O ser de Deus não é o nosso ser. São valores heterogêneos entre os quais não há adição. Deus é o seu ser; nós temos o nosso, emprestado, de certo modo. Deus e nós não é mais de que Deus só, porque o nosso ser depende de Deus, essencialmente; também a luz do Sol não é aumentada pela da Lua, que não passa de luz do Sol que a Lua refletiu.