20. Conclusão.

Era justo terminar o estudo do tomismo por uma exposição rápida da moral natural segundo S. Tomás, embora este não possa dar toda a sua medida como moralista senão na moral cristã, visto que, em todos os casos práticos, o que interessa é a nossa posição, de fato, num mundo em que à Natureza se acrescenta a Graça, o não a situação hipotética num mundo sem sobrenatural.

A moral de S. Tomás aparece-nos muito humana, ao mesmo tempo profunda e moderada. Não há nela conflito entre o nosso dever e o desejo intimo da nossa natureza. O nosso dever é a obediência a Deus; o nosso desejo natural, por outro lado, é Deus, que nos fez para si. A lei da nossa ação é a lei eterna; mas revela-se-nos pela lei natural, de que derivam todas as leis humanas. Na moral tomista não há por isso nem a dureza de Kant nem o egoísmo dos epicuristas. Cumprindo o nosso dever, trabalhamos, inteligentemente, para a nossa felicidade. As duas coisas são inseparáveis; ligadas essencialmente, pela justiça de Deus que proporcionou harmoniosamente o que deu a cada tipo de ser com o que exigiu da sua natureza.

Acrescente-se que, quando se desce aos casos particulares, S. Tomás revela um espírito de análise fino e penetrante. Conhece, como ninguém, as oposições desconcertantes do caráter humano, a influência às vezes preponderante duma circunstância pequena, as forças e as fraquezas da inteligência e da vontade. O que tem feito pensar a muitos moralistas que S. Tomás é maior ainda na moral do que na metafísica.