8. As obras de Aristóteles.

Aristóteles escreveu muitos livros destinados ao público culto. Todos se perderam; os seus contemporâneos louvavam-nos, além do mais, pela beleza do estilo. Escreveu também livros didáticos, e esses chegaram quase todos até nós; são apontamentos sumários das lições que dava, sem quaisquer preocupações literárias.

Expôs a lógica em diversos livros, que formam, em conjunto, o "Organon". Tratou da Física em oito livros, da Química em dois, da Meteorologia em quatro, da Astronomia noutros quatro, dos seres vivos em geral em três, e dos animais em dezesseis. Além disso estudou a Psicologia humana em cinco tratados, e escreveu livros sobre a Política, a Retórica e a Poética; do último só restam fragmentos. Finalmente ocupou-se da Moral em dez livros que dedicou ao seu filho, e chamados por isso "Ética a Nicômaco"; e escreveu os doze livros da Metafísica.

Habent sua fata libelli. Os livros de Aristóteles têm uma história acidentada, importante pela repercussão que teve na evolução da filosofia. Depois que Aristóteles saiu de Atenas passaram para a posse do seu sucessor no Liceu, o filósofo Teofrasto. Por morte deste, os herdeiros, com medo de que lhos confiscassem para a célebre biblioteca dos reis de Pérgamo, esconderam-nos num subterrâneo, onde ficaram esquecidos. Quase 200 anos mais tarde, foram encontrados e vendidos a um rico bibliófilo, que fez deles uma edição (manuscrita, claro está), muito imperfeita. Quando Sila entrou em Atenas, 87 anos antes de Cristo, apossou-se deles e levou-os para Roma como um troféu. Aí, Andrônico de Rodes publicou-os, numa edição que ficou clássica. As obras de Aristóteles espalharam-se então no mundo culto. Estudaram-nas largamente, principalmente à Lógica e à Física, e comentaram-nas, salientando-se entre todos os comentários feitos no século II por Alexandre de Afrodísias, que mereceu ser chamado o "segundo Aristóteles".

O nome de Metafísica dado à filosofia primeira deve-se a um acaso relacionado com a edição de Andrônico de Rodes. Este publicou os livros que dela tratam a seguir aos que tratam da Física, e chamou-lhes por isso metafísica (meta ta physiki: depois da física); o nome ficou, porque admite também o sentido "para além da física", muito apropriado.

Com a invasão dos Bárbaros, que trouxe consigo uma ignorância geral da língua grega, as obras de Aristóteles ficaram perdidas para o Ocidente. Salvou-se parte da Lógica, traduzida para latim por Boécio, cerca do ano 500 depois de Cristo. Mas, no Oriente, foram traduzidas para siríaco no século V; e em Bagdad, no século VIII traduziram-nas novamente, do siríaco para o árabe. Finalmente, no fim do século XII, começaram a aparecer na Europa as primeiras traduções do árabe para o latim, dando origem ao conflito de que já falei; como disse, foi S. Tomás quem conseguiu as primeiras traduções latinas feitas diretamente do grego.