3. Sócrates.

Sócrates, voltando contra os sofistas a sua própria arma, a dialética, não só entravou a decadência, mas deu à filosofia o impulso que, com Platão e Aristóteles, a havia de levar ao apogeu. Nascido em 470, fazia uma idéia muito elevada de verdade e da moral. A falta de coerência e a venalidade dos sofistas indignavam-no; e passou toda a vida a combatê-los, vencendo-os na discussão. Quase só interrogava, mas de maneira a forçar o adversário a exprimir claramente as contradições internas do seu pensamento; filho duma parteira, comparava o seu método à arte da mãe, e chamava-lhe por isso a maiêutica (dum radical grego que significa parto). Manejava a ironia com mão de mestre; e nenhuma das contradições dos sofistas conseguia escapar à sua dialética.

Mas aos olhos do público, porque discutia com os sofistas, passava por sofista também. A isso deveu a sua perda, e aos despeitos a que a sua ação dava inevitavelmente lugar. Em 399, foi acusado de corromper a juventude, julgado e condenado à morte; na sua apologia, isto é, no discurso que fez em sua defesa, declarou em pleno tribunal que a pena que merecia era ser sustentado no Pritaneu, palácio onde Atenas recebia os hóspedes da cidade. Depois de ter recusado a fuga que os amigos tinham preparado, para não dar aos atenienses um mau exemplo de desobediência às leis, bebeu tranquilamente a cicuta, e morreu conversando com os discípulos acerca da imortalidade da alma.