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Toda a ação tende para um fim, conhecido do agente ou desconhecido,
conforme a natureza deste. A nossa atividade não escapa à regra.
Temos energias e faculdades dispostas para um fim determinado; a
Natureza exige que elas se apliquem à sua obtenção.
Há uma hierarquia dos fins; isto é, as ações tendem para fins
próximos, subordinados a fins mais remotos, todos submetidos, num
ser dotado de unidade substancial, a um único fim que é o fim último
do agente. A nossa inteligência dita-nos o fim próximo das nossas
ações; mas, por ser uma faculdade que nos pertence por natureza,
não pode escolher o fim desta. Existe para a obtenção do nosso fim
natural; não pode sobrepor-se àquilo para que é determinada. Por
isso, apesar de sermos criaturas racionais, o nosso fim último não
é escolhido livremente por nós; é-nos marcado pela nossa natureza.
A natureza impele cada agente a prosseguir o seu fim de acordo com a
sua maneira de ser particular. No homem, ser consciente, a
tendência natural para o seu fim manifesta-se pelo descontentamento
quando se afasta dele, pela alegria quando dele se aproxima, pela
satisfação total, pelo repouso completo, quando o atinge. A
obtenção do seu fim último é por isso para o homem a felicidade, a
bem-aventurança; se o fim é aquele a que tem direito pela sua
natureza, chama-se a sua bem-aventurança natural.
A filosofia moral, como ciência prática, é o estudo do que devem
ser as nossas ações para nos aproximarem 'do nosso fim último,
pelos meios que nos pertencem por natureza. Conhecido o fim último,
ensina-nos a escolher o fim concreto de cada ação, e a dispor
convenientemente os meios de que podemos lançar mão para o obter
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