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De S. Alberto Magno, de S. Tomás, e dos averroístas latinos
seus contemporâneos, já falei suficientemente na primeira lição.
O primeiro, como disse, foi um enciclopédico; seguia
Aristóteles, que compreendia num sentido perfeitamente cristão; no
entanto, em filosofia, o seu esforço é mais superficial, menos
profundo, do que o de S. Tomás.
S. Tomás foi, para Aristóteles, o discípulo raro, que assimila
as raízes da doutrina do mestre; o discípulo que compreende,
continua, e corrige onde é preciso. É da sua filosofia que vamos
tratar, e não vale por isso a pena falar dela aqui. Basta citar,
como exemplo no seu poder de síntese, a maneira magistral por que,
como adiante veremos, resolve, em visão de conjunto duma unidade
admirável, a questão dos universais, o problema da distinção das
substâncias individuais, em Deus, nos Anjos, no homem e nas
coisas, e o do conhecimento, com toda a generalidade [22].
S. Tomás aliava ao respeito de Aristóteles pela realidade o
misticismo filosófico de Platão. Olhando o aristotelismo dum ponto
de vista mais elevado, mostrou que ele se concilia bem com o que há de
verdadeiramente superior na filosofia platônica, e só se opõe às
quimeras que Platão tinha introduzido no seu sistema. E, como
quereria Pascal, o ponto de conciliação das duas doutrinas
tradicionalmente opostas encontrou-o no terreno da mais rigorosa
ortodoxia cristã.
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