21. A existência dos Anjos.

Estudado assim o que podem ser as formas puras, chega-se à conclusão de que elas vêm completar de maneira grandiosa a ordem do Mundo. Percorrendo os seres em escala ascendente, vemos primeiro os seres inanimados, último reflexo de Deus, que se limitam, da sua plenitude, a participar, simplesmente, na existência. Depois encontramos as plantas, cujo ser, mais rico, já lhes dá a possibilidade de sustentar e propagar a sua vida. Nos animais, que se lhes seguem, a vida trasborda do seu ser; tomam contacto com os outros seres, que conhecem da maneira mais exterior que é possível, pelos sentidos. O homem, dotado de alma espiritual, já vai mais longe do que os sentidos; no que os sentidos lhe trazem, vê a idéia que os seres realizam. Os Anjos, sem corpo, conhecem a idéia diretamente, e com tanta mais generalidade quanto mais vasta a sua inteligência. Até que o mais perfeito dos Anjos, embora afastado de Deus por todo o abismo que separa o finito do infinito, é já de certo modo muito semelhante a Deus na simplicidade soberana do seu conhecimento do Universo e da sua Causa, terminando assim o impulso para Deus com que o Universo reflete o impulso generoso pelo qual Deus o criou.

A certeza de que o quadro do Mundo criado ficaria incompleto, sem os Anjos, naquilo mesmo que é a razão da existência de todos os seus elementos, a ordem do conjunto, é suficiente para que a filosofia possa presumir, independentemente dos motivos teológicos, que as formas puras não só são possíveis, mas existem na realidade [74].