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Se não podemos compreender Deus, ainda menos podemos falar dele
dando às palavras o sentido que têm quando se aplicam às coisas que
nos cercam. As palavras são sinais dos conceitos, e os nossos
conceitos são tirados do mundo em que vivemos. Se as tomarmos tais
quais, nenhuma, portanto, se pode aplicar a Deus. Por isso,
quando dizemos, por exemplo, que Deus é bom, não devemos esquecer
que a bondade de Deus é diferente da nossa; quando dizemos,
simplesmente, que Deus é, deve ser com a reserva de que a maneira de
ser de Deus não é a mesma das coisas criadas. Se quisermos manter
às palavras o seu significado habitual, só podemos, de Deus, dizer
isto: o Mundo existe, e não tem em si mesmo a razão suficiente da
sua existência.
S. Tomás, ao falar dos nomes divinos, insiste neste ponto, e
com razão, porque esquecê-lo é reduzir a teodicéia às
proporções dum antropomorfismo muito mesquinho. Perfilha a opinião
do Pseudo-Dionísio de que "tudo quanto afirmamos de Deus pode ser
dele negado com tanta ou mais razão, porque", diz, "todas as
palavras que empregamos, se as olharmos quanto ao seu modo de
significação, incluem uma imperfeição que não se encontra em
Deus, embora se encontre em Deus, de maneira eminente, a coisa que
a palavra significa [53]".
Em poucas palavras: nada se pode dizer, de Deus e das criaturas,
em sentido unívoco.
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