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Também quanto à infinidade se deve fazer uma distinção. Há a
considerar o infinito potencial, que exprime só a possibilidade dum
acréscimo indefinido, e o infinito em ato, a plenitude do ser,
possuída sem limites. A primeira forma de infinidade não traduz
nenhuma perfeição; não diz senão o que uma coisa não é, e podia
ser. A segunda é a perfeição total; é só ela que devemos
atribuir a Deus.
A infinidade de Deus, portanto, não é senão a negação de todo e
qualquer limite ao seu ser. Pelo que já disse, facilmente se
estabelece que Deus é infinito. Uma limitação pode vir duma causa
exterior; mas Deus, Causa Primeira, não está sujeito a nenhuma
outra, e nenhuma por isso pode limitá-lo. O ser duma coisa é ainda
limitado pela sua essência; o que uma coisa pode ser sem se desmentir
mede o ser que nela pode ser recebido. Mas em Deus não há dualidade
de essência e existência; a sua essência identifica-se com o seu
ser, que por isso não pode limitar. Deus não tem portanto limite,
nem extrínseco, nem intrínseco; é infinito.
Há uma objeção contra a infinidade de Deus que facilmente se
resolve. Pode parecer que o ser das coisas limita o ser de Deus; que
o que nós somos, o que são as coisas distintas de Deus, falta a
Deus. Mas não devemos esquecer que Deus é transcendente; que vive
num plano diverso do nosso. O ser de Deus não é o nosso ser. São
valores heterogêneos entre os quais não há adição. Deus é o seu
ser; nós temos o nosso, emprestado, de certo modo. Deus e nós
não é mais de que Deus só, porque o nosso ser depende de Deus,
essencialmente; também a luz do Sol não é aumentada pela da Lua,
que não passa de luz do Sol que a Lua refletiu.
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