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Visto Deus não ser limitado por nada, e ser de Deus que as coisas
recebem tudo quanto são, devemos dizer que Deus pode tudo quanto
quer, que é omnipotente.
O nome de potência, dado assim ao poder divino, não deve
induzir-nos em erro. Não se trata, como em nós, duma faculdade
pela qual somos causa, em potência, de efeitos determinados, e que
passa ao ato quando, efetivamente, estamos a produzir esses efeitos.
A potência de Deus é puramente ativa; só lhe corresponde mudança
no objeto da sua ação, em nós. Deus não muda quando atua: é
Motor Imóvel. A sua ação é simples e imutável, e idêntica à
essência divina; Deus age sem restrições quanto ao tempo, que não
o abrange, e os termos ação e potência, como todos os outros, só
se lhe podem aplicar por analogia.
Ao contrário de alguns teólogos e filósofos, entre os quais, até
certo ponto, Scot e Descartes, S. Tomás diz com Aristóteles e
S. Agostinho que Deus não pode o absurdo. E a razão é simples.
Não poder o absurdo não diminui a omnipotência de Deus, porque o
absurdo não é nada; pura e simplesmente, não é. Conceber o
absurdo é uma fraqueza da nossa inteligência, que começa por
considerar separadamente os elementos duma definição contraditória,
e só quando os quer ligar reconhece a sua impossibilidade. Uma
inteligência mais perfeita, mais sintética, nunca pensaria o absurdo
como possível; nem sequer se lhe poria uma questão que é, afinal,
a da possibilidade do impossível.
Afastado assim de Deus o que não passa duma imperfeição nossa,
podemos dizer sem restrições que Deus pode tudo, absolutamente
tudo.
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