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Aristóteles era enciclopédico. Mais ainda do que a filosofia,
interessavam-no a física e as ciências naturais. Conseguiu exceder
a ciência dos seus contemporâneos em todos os campos menos na
matemática. No entanto, a sua física tem defeitos fundamentais,
explicáveis pela deficiência dos instrumentos de que podia dispor.
Supunha, por exemplo, que a Terra ocupava o centro do Universo, e
que os astros, de matéria incorruptível diferente da dos corpos
terrenos, estavam fixados em esferas concêntricas, cada uma das quais
imprimia movimento à de ordem imediatamente inferior.
Admitia, ainda, que os corpos se dividiam em pesados e leves, os
primeiros com tendência a aproximar-se do centro da Terra, os
segundos com tendência a afastar-se dele. Em fisiologia, não
conhecia a circulação do sangue, etc. Seja como for, a obra de
Aristóteles como físico, e principalmente como naturalista, é
notável para o tempo.
Não julgo obra do acaso que os dois maiores representantes da
filosofia do ser, Aristóteles e S. Tomás, não tenham sido,
unicamente, filósofos. O primeiro, como já disse, era acima de
tudo físico e naturalista; isso deve tê-lo levado, mesmo em
filosofia, a respeitar os fatos observados. O segundo foi discípulo
dum físico e naturalista notável também, S. Alberto Magno, e,
de intenção, era principalmente teólogo; por muito parodoxal que
isso pareça, a sua formação teológica deve ter desenvolvido nele o
sentido das realidades.
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