C. Os Anjos.


16. Introdução.

Pode legitimamente hesitar-se sobre se o estudo dos Anjos pertence ou não exclusivamente à teologia. A maior parte dos autores que escrevem sobre a filosofia tomista entendem que sim, e, nos seus livros, nem se referem aos Anjos. Realmente, a existência dos Anjos só se pode provar pela Revelação, o que parece dar razão aos que assim pensam. Mas a possibilidade da existência de inteligências puramente espirituais pede ser prevista pela filosofia; prova-o o fato de alguns filósofos da antigüidade, entre eles Aristóteles, sem conhecerem a Revelação cristã, as terem admitido, baseando-se em critérios muito variados. Por outro lado, há razões de conveniência que tornam a existência dos Anjos pelo menos muito provável, mesmo independentemente da teologia; e essas razões filiam-se de tal maneira nas grandes linhas do pensamento de S. Tomás que não falar nos Anjos é mutilar a síntese tomista, tão equilibrada e ampla.

Pensa assim Gilson, que, no seu curso, reserva um capítulo inteiro à angelologia, e, a meu ver, pensa bem. O estudo dos Anjos, quando mais não seja, esclarece muitas noções importantes, muitas diretrizes fundamentais, da ontologia tomista. Por isso me pareceu conveniente tratar aqui desse assunto, muito rapidamente.