24. A omnipotência.

Visto Deus não ser limitado por nada, e ser de Deus que as coisas recebem tudo quanto são, devemos dizer que Deus pode tudo quanto quer, que é omnipotente.

O nome de potência, dado assim ao poder divino, não deve induzir-nos em erro. Não se trata, como em nós, duma faculdade pela qual somos causa, em potência, de efeitos determinados, e que passa ao ato quando, efetivamente, estamos a produzir esses efeitos. A potência de Deus é puramente ativa; só lhe corresponde mudança no objeto da sua ação, em nós. Deus não muda quando atua: é Motor Imóvel. A sua ação é simples e imutável, e idêntica à essência divina; Deus age sem restrições quanto ao tempo, que não o abrange, e os termos ação e potência, como todos os outros, só se lhe podem aplicar por analogia.

Ao contrário de alguns teólogos e filósofos, entre os quais, até certo ponto, Scot e Descartes, S. Tomás diz com Aristóteles e S. Agostinho que Deus não pode o absurdo. E a razão é simples. Não poder o absurdo não diminui a omnipotência de Deus, porque o absurdo não é nada; pura e simplesmente, não é. Conceber o absurdo é uma fraqueza da nossa inteligência, que começa por considerar separadamente os elementos duma definição contraditória, e só quando os quer ligar reconhece a sua impossibilidade. Uma inteligência mais perfeita, mais sintética, nunca pensaria o absurdo como possível; nem sequer se lhe poria uma questão que é, afinal, a da possibilidade do impossível.

Afastado assim de Deus o que não passa duma imperfeição nossa, podemos dizer sem restrições que Deus pode tudo, absolutamente tudo.