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Estudado assim o que podem ser as formas puras, chega-se à
conclusão de que elas vêm completar de maneira grandiosa a ordem do
Mundo. Percorrendo os seres em escala ascendente, vemos primeiro os
seres inanimados, último reflexo de Deus, que se limitam, da sua
plenitude, a participar, simplesmente, na existência. Depois
encontramos as plantas, cujo ser, mais rico, já lhes dá a
possibilidade de sustentar e propagar a sua vida. Nos animais, que se
lhes seguem, a vida trasborda do seu ser; tomam contacto com os outros
seres, que conhecem da maneira mais exterior que é possível, pelos
sentidos. O homem, dotado de alma espiritual, já vai mais longe do
que os sentidos; no que os sentidos lhe trazem, vê a idéia que os
seres realizam. Os Anjos, sem corpo, conhecem a idéia
diretamente, e com tanta mais generalidade quanto mais vasta a sua
inteligência. Até que o mais perfeito dos Anjos, embora afastado
de Deus por todo o abismo que separa o finito do infinito, é já de
certo modo muito semelhante a Deus na simplicidade soberana do seu
conhecimento do Universo e da sua Causa, terminando assim o impulso
para Deus com que o Universo reflete o impulso generoso pelo qual
Deus o criou.
A certeza de que o quadro do Mundo criado ficaria incompleto, sem os
Anjos, naquilo mesmo que é a razão da existência de todos os seus
elementos, a ordem do conjunto, é suficiente para que a filosofia
possa presumir, independentemente dos motivos teológicos, que as
formas puras não só são possíveis, mas existem na realidade
[74].
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