|
Não se julgue que chamar assim a atenção para a lição da história
é uma atitude pragmatista, que substitui o critério da utilidade dos
princípios ao da sua veracidade. Já disse acima que não é
possível convencer quem nega os princípios evidentes; mas é
possível mostrar-lhes que se contradizem, na teoria ou na prática;
é mesmo a única maneira de discutir com eles. E, para isso, nada
vale a prova histórica das contradições internas dos sistemas
fundados em princípios diferentes.
As filosofias que rejeitam os primeiros princípios evidentes são
suicidas; a sua evolução fatal é dirigida contra tudo o que
pretenderam fundar. A história o demonstra. Vemos que os sistemas
não-tomistas caem inexoravelmente no limbo das filosofias, pelo
tríplice caminho da divinização da inteligência, panteísmo, da
auto-negação da inteligência, materialismo, e da abdicação da
inteligência, pragmatismo e intuicionismo. A filosofia perene, pelo
contrário, vive desde sempre, pode dizer-se. Primeiro em estado
embrionário, no espírito de todos os que espontaneamente aplicaram os
primeiros princípios, e com eles abordaram o estudo do ser; com forma
organizada desde Aristóteles. Lentamente, trabalhosamente,
dolorosamente, vai resolvendo os problemas que aborda, sem ilusões
quanto à possibilidade de os resolver todos, tantos e tão profundos
eles são. Mas vive, e cresce.
Não deixemos portanto abalar a nossa confiança nos princípios
evidentes. Lembremo-nos de que as críticas que lhes dirigem, ou
são fundadas neles, e então são-lhes favoráveis, porque eles são
coerentes, ou noutros princípios, e valem então tanto como a base em
que assentam, isto é, coisa nenhuma. A nossa posição não é um
realismo ingênuo, como alguns julgam; é antes o realismo refletido
e consciente de quem sabe que todos os raciocínios se baseiam em
princípios, os dos nossos adversários como os nossos. Recusamos in
limine todo o convite, mesmo disfarçado, de abandonarmos os
princípios evidentes para depois procurarmos reencontrá-los. A
nossa resposta é a de Mac-Mahon: "J'y suis, j'y reste". A
natureza colocou-nos nesse terreno; não vemos motivo plausível de o
deixarmos.
Quem garante à criança recém-nascida que há um mundo distinto
dela, e, nesse mundo, uma mãe pronta a amamentá-la? A natureza,
não, evidentemente, de maneira consciente, mas no determinismo do
instinto. A criança estende a boquita, e mama, sem discutir. A
mesma natureza dá-nos os princípios, como base para toda a nossa
atividade intelectual. Se os não aceitarmos, temos, para sermos
coerentes, de desistir de pensar.
O homem faz parte do Universo. O pensamento é nele uma atividade
natural, para a qual a natureza lhe deu uma faculdade, a
inteligência, e bases, os primeiros princípios. Firmemo-nos
neles, solidamente, para abordarmos o estudo do ser.
|
|