|
Muito antes de Sócrates, já desde o século VII antes de
Cristo, houve na Grécia pensadores dignos, pela sua categoria, do
título de filósofos. Mas os seus sistemas rudimentares, incapazes
de abraçar, mesmo de longe, a infinita complexidade das coisas
reais, eram todos, inevitavelmente, unilaterais e incompletos; não
viam senão um dos aspectos da realidade. Os primeiros jônios,
Tales de Mileto, Anaximandro, Anaxímenes, dos séculos VII e
VI, olharam só à experiência sensível, e procuraram entre as
coisas materiais um princípio único de tudo: a água, o ar, ou um
indeterminado, mistura de todos os contrários.
Pitágoras, no século VI, ensina que a realidade está no
número; e funda uma escola em que a sua filosofia toma quase o aspecto
duma religião, com uma iniciação, um culto, e o respeito absoluto
pela tradição doutrinária do mestre. No período seguinte, a
oposição aparente ante a evolução e o ser dá origem à formação
de duas escolas opostas. Um jônio, Heráclito de Éfeso, do fim do
século VI e princípio do V, considera que só a mudança é real;
a sua filosofia é a da evolução; "nunca", diz ele, "nos
banhamos duas vezes no mesmo rio". Parmênides, pouco posterior,
ocupa-se do ser, mas sem entrar em conta com a diversidade das
maneiras de ser das coisas. Olha o ser em absoluto, considera-o
eterno e imutável, e nega a possibilidade do movimento. Os seus
discípulos são conhecidos pelos eleatas: um deles, Zenão de
Eléia, tenta demonstrar pelo absurdo que Aquiles nunca poderia,
correndo, alcançar uma tartaruga.
Ainda no século V, os atomistas, principal dos quais é
Demócrito, procuraram uma conciliação supondo o Universo
constituído por átomos; cada átomo apresenta os caracteres do ser de
Parmênides, e associa-se aos outros ao acaso, de modo sempre
variado, explicando-se assim a possibilidade do movimento; o próprio
conhecimento se explica por uma associação de átomos. Os atomistas
admitiam o valor da experiência; um deles, Anaxágoras, atribuía a
uma inteligência a ordem do mundo.
Os sofistas, finalmente, nos séculos V e IV representam a
decadência depois deste primeiro esforço, imperfeito mas já muito
notável. Vulgarizadores ambulantes mais do que filósofos, é fama
que não procuravam, na filosofia, um meio de atingir a verdade; viam
nela uma maneira de conseguir fortuna e influência; ensinavam, por
bom preço, a forma de vencer nas discussões, com razão ou sem ela.
Os mais famosos foram Protágoras e Górgias.
|
|