14. O averroísmo latino.

Contra eles, lutavam os averroistas, que defendiam Aristóteles, e ao mesmo tempo as interpretações de Averrois, com todos os seus erros. Além de negar a imortalidade da alma, como já disse, Averrois ensinava o fatalismo mais absoluto: os acontecimentos eram ditados, inexoravelmente, pelos movimentos dos astros. Negava a Providência, a Criação, o livre arbítrio. E tinha como ponto de fé que a inteligência de Aristóteles era a maior que a humanidade tinha produzido ou podia produzir; do que resultava a impossibilidade de combater, ou corrigir, as suas idéias filosóficas.

Os averroístas latinos, Boécio de Dácia, Bernier de Nivelles, chefiados por Siger de Brabante, dominavam a Faculdade das Artes da Universidade de Paris. O mais espantoso de tudo, é que esses homens eram católicos. Aceitavam todos esses erros, contrários à fé; e, para conciliar as duas coisas, admitiam a existência de duas verdades distintas, diferentes, opostas mesmo, uma filosófica, outra teológica. Assim, ensinavam o fatalismo, a negação da liberdade humana, como racionalmente demonstrados em filosofia, e, ao mesmo tempo, a Providência, o livre arbítrio, como verdades de fé; acrescentando, para sossegar a consciência, que, na prática, nos devemos guiar pela fé e não pela razão.

É difícil saber até que ponto era sincera a atitude dos averroístas latinos. De qualquer forma, ela revoltava a consciência do público católico, que se inclinava a ver nos augustinistas os únicos defensores da religião, por serem adversários irredutíveis do averroísmo; só num ponto os dois grupos estavam de acordo: era em identificarem Aristóteles com Averrois.