4. As Universidades no tempo de S. Tomás.

Terminada a sua educação em Colônia, S. Tomás foi mandado para Paris, a fim de conquistar aí os graus universitários. A Universidade de Paris era a primeira de todas, na antiguidade e no prestígio; e a Ordem de S. Domingos tinha por praxe não aceitar para mestres senão os graduados lá. O nome de Universidade sugere-nos irresistivelmente uma organização oficial, com o seu corpo docente nomeado e pago pelo Estado, com as suas Faculdades instaladas cada uma em seu edifício de aspecto monumental, com a sua administração mais ou menos centralizada e burocratizada. Não é assim, ainda hoje, em muitos países; não era assim, de forma alguma, na Europa do tempo de S. Tomás. Em volta das escolas das catedrais, tinham-se agrupado escolas similares; e, como se estava em época de corporativismo, os professores e os alunos dessas escolas reuniam-se em corporação. "Universitas Magistrorum et Scholarium", que regulava a disciplina e fixava os programas, mas não nomeava nem pagava os professores. A Universidade dividia-se em Faculdades, que agrupavam os professores e os alunos duma especialidade; em Paris, havia a de Teologia, a de Filosofia, chamada das Artes, a de Direito, e a de Medicina. No entanto, o ensino realizava-se nas diversas escolas federadas, que conservavam a sua autonomia.

A conquista dos graus, na Faculdade de Teologia, estava ao tempo subordinada às regras seguintes. Depois dum exame preliminar, o candidato defendia, durante três Quaresmas seguidas, três teses que lhe davam direito, sucessivamente, aos graus de "Bacharel bíblico", "Bacharel sentenciário", e "Bacharel formado". Conseguido o primeiro destes graus, abria um curso sob a direcção dum Mestre, e tomando para texto o Livro das Sentenças de Pedro Lombardo. De 15 em 15 dias em média, defendia publicamente as suas opiniões, sobre assuntos marcados de antemão, contra quem quisesse atacá-las: o público culto do tempo apreciava muito essas disputas, feitas segundo as regras minuciosas em uso na Escola, que não permitiam que se vencesse um argumento à força de pulmão, nem que se ocultasse com a beleza da forma a pobreza dum raciocínio; mas que, quando começaram a ser procuradas como fim e não como meio, degeneraram em abuso, e foram uma das causas da decadência da Escolástica. Passados dois, anos, o candidato sujeitava-se a quatro argumentações, para obter o grau de Licenciado; e, depois da sua primeira lição pública, muito solene, recebia finalmente o grau de Doutor.