4. Do que se ocupa.

Disse que a filosofia estuda o Universo. Primariamente, é do mundo sensível que se ocupa, porque é esse o primeiro que conhecemos. Os seres inanimados, com as transformações que sofrem e as leis que os regem; as plantas, seres vivos que se nutrem o reproduzem; os animais, que se movem, dotados de sensibilidade mais ou menos desenvolvida, e de conhecimento capaz de dirigir a sua atividade; finalmente, o corpo humano, são coisas que os sentidos nos revelam, diretamente, e que a filosofia estuda, do seu ponto de vista próprio.

Mas a reflexão abre ao homem um campo totalmente diverso. O homem vê-se pensar; e pode estudar as condições em que o pensamento é possível, e estudar-se a si mesmo como ser pensante. Consegue assim, de si mesmo, conhecimentos que nunca obteria dos outros homens, o que pode generalizar aos outros na medida em que os vê iguais a si. E todos estes conhecimentos entram na filosofia, se forem vistos à maneira filosófica.

Mais: a filosofia pode investigar se são possíveis inteligências imateriais, e como poderão ser. Não pode talvez demonstrar propriamente a sua existência; mas pode mostrar que, sem ela, fica incompleto o conjunto dos seres, e concluir que ela é, pelo menos, muito provável. Por outro lado, dada a sua existência, que a teologia afirma, pode a filosofia estabelecer a maneira por que se distinguem e subordinam, o seu processo de conhecimento, etc.

Finalmente, a filosofia pode remontar à Causa de todos os seres, ver em que provas se funda a sua existência, e o que podemos saber a seu respeito, partindo do que sabemos das coisas.

Ocupa-se portanto a filosofia dos corpos materiais, vivos ou inanimados, do homem, dos Anjos, de Deus, numa palavra, pretende tratar de todo o ser, de tudo quanto existe, no que é, nas suas condições de existência, nas suas mudanças, nas suas relações com os outros seres; pretende tratar do que é, foi ou há-de ser; de tudo o que pode ser, até porque a simples possibilidade também é matéria de especulação filosófica; e, sempre, quer considere o ser, atual ou possível, na realidade das coisas, quer o considere simplesmente na inteligência.