|
De que critério dispomos para saber se os nossos juízos são
verdadeiros ou não?
Alguns juízos resultam diretamente duma percepção sensível.
Então, se se trata dum sentido que se pronuncia sobre o seu objeto
próprio imediato, a verdade do juízo é evidente para nós.
Sentimos que o objeto é aquilo que o afirmamos ser; no sentido mais
lato da palavra, vemos que ele é assim na intuição sensível. A
qualidade do objeto que sentimos impõe-se-nos do exterior; sabemos
assim que o nosso juízo é conforme com a realidade.
Outros juízos são conclusões duma sério de raciocínios. Temos
então, para julgar da sua veracidade, a evidência do princípio que
é a lei fundamental do pensamento, o princípio de contradição.
Temos também a evidência de que essa lei do pensamento é ditada pela
lei do ser, isto é, a evidência de que a realidade é inteligível.
Essas evidências garantem-nos a validade objectiva do nexo que liga a
conclusão com as premissas. Essas, em última análise, são sempre
fatos observados, garantidos pela evidência dos sentidos. Podemos
por isso dizer que são verdadeiros os nossos juízos, quando todos os
passos que conduzem do objeto à conclusão são evidentes. O
critério da verdade é a evidência, sob todas as suas formas:
intuição sensível, intuição intelectual, evidência lógica;
evidência simples ou complexa, imediata ou mediata.
Para exemplificar, vejamos como se adquire uma certeza tão simples
como a que tem cada um de nós de que há-de morrer um dia, de que ó
mortal. Sabemos por experiência, nossa e de todos os séculos, que
os homens das gerações precedentes morreram todos. Dai concluímos,
por indução, que o homem, o ser do tipo caracterizado por estas e
aquelas notas, é mortal. Depois verificamos, também pela
observação, que apresentamos as notas que distinguem o homem, que
somos homens. Por dedução, concluímos que somos mortais. Para à
consciência que temos da verdade deste nosso juízo, concorrem
portanto, como disse acima, a evidência do testemunho dos sentidos,
a das leis da lógica, a da inteligibilidade do ser.
Claro que quem negar a evidência, toda ou em algumas das suas
modalidades, fica sem possibilidade de apreciar a veracidade dos seus
pensamentos. A lógica material prende-se por isso com a critica, de
que já tratei suficientemente. Basta aqui lembrar o seguinte: Não
admira que fiquem fechados dentro de si mesmos aqueles que, por uma
decisão arbitrária e injustificável, começam por cortar as pontes
que os ligam com o exterior; também o maníaco, que parte do
princípio de que é paralítico, fica impossibilitado de andar
enquanto respeitar o princípio que escolheu, embora, fisicamente, o
possa fazer. O problema idealista, já o disse, é um
pseudo-problema; só se põe para quem rejeita os meios que tem de o
evitar. Nenhum idealista nos pode por isso impor a sua posição,
como ninguém pode impor-nos que cortemos as pernas para depois vermos
se podemos andar.
|
|