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Nisso mesmo consiste a justiça de Deus. Dizer que a ordem do Mundo
é a melhor possível, é dizer que Deus pôs cada ser no lugar que
lhe compete, que deu a cada ser, em relação aos outros, o que
convém à sua natureza e às suas qualidades. Aprofundando, pode
dizer-se que a justiça de Deus está na conformidade absoluta, na
identidade, entre a sua inteligência e a sua vontade, que lhe faz
dispor as coisas segundo a ordem traçada pela sua infinita sabedoria.
A justiça divina é justiça distributiva em grau eminente, justiça que
consiste em dar a cada um conforme merece. A justiça comutativa, que
regula as trocas, não pode convir a Deus, que só dá, nunca
recebe. O que faz dizer a S. Tomás que só Deus é
verdadeiramente generoso [70],
porque só ele não recebe nada pelo
bem que faz, nem pagamento, - quem lhe poderia dar senão de que ele lhe
deu?-, nem recompensa, nem sequer a satisfação de ter feito o bem,
porque nada pode aumentar a felicidade inalterável de Deus.
E se observarmos que Deus dá a seres que, sem ele, nada
mereceriam, porque para merecer é preciso antes de mais nada existir,
e a existência vem de Deus como o resto, compreendemos que não é
possível deixar de atribuir a Deus a misericórdia. Por isso, se
não podemos marcar à ação de Deus uma finalidade distinta dele,
podemos dizer ao menos com S. Agostinho, citado por S. Tomás a
este propósito, que "o fim que Deus procura em nós é a sua
bondade, a qual, por sua vez, se encontra no nosso
bem[71]".
Quando digo o nosso bem, não me limito ao do homem, entendo o de
todos os seres, de cada um conforme o que é.
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