18. O valor desta lição.

Não se julgue que chamar assim a atenção para a lição da história é uma atitude pragmatista, que substitui o critério da utilidade dos princípios ao da sua veracidade. Já disse acima que não é possível convencer quem nega os princípios evidentes; mas é possível mostrar-lhes que se contradizem, na teoria ou na prática; é mesmo a única maneira de discutir com eles. E, para isso, nada vale a prova histórica das contradições internas dos sistemas fundados em princípios diferentes.

As filosofias que rejeitam os primeiros princípios evidentes são suicidas; a sua evolução fatal é dirigida contra tudo o que pretenderam fundar. A história o demonstra. Vemos que os sistemas não-tomistas caem inexoravelmente no limbo das filosofias, pelo tríplice caminho da divinização da inteligência, panteísmo, da auto-negação da inteligência, materialismo, e da abdicação da inteligência, pragmatismo e intuicionismo. A filosofia perene, pelo contrário, vive desde sempre, pode dizer-se. Primeiro em estado embrionário, no espírito de todos os que espontaneamente aplicaram os primeiros princípios, e com eles abordaram o estudo do ser; com forma organizada desde Aristóteles. Lentamente, trabalhosamente, dolorosamente, vai resolvendo os problemas que aborda, sem ilusões quanto à possibilidade de os resolver todos, tantos e tão profundos eles são. Mas vive, e cresce.

Não deixemos portanto abalar a nossa confiança nos princípios evidentes. Lembremo-nos de que as críticas que lhes dirigem, ou são fundadas neles, e então são-lhes favoráveis, porque eles são coerentes, ou noutros princípios, e valem então tanto como a base em que assentam, isto é, coisa nenhuma. A nossa posição não é um realismo ingênuo, como alguns julgam; é antes o realismo refletido e consciente de quem sabe que todos os raciocínios se baseiam em princípios, os dos nossos adversários como os nossos. Recusamos in limine todo o convite, mesmo disfarçado, de abandonarmos os princípios evidentes para depois procurarmos reencontrá-los. A nossa resposta é a de Mac-Mahon: "J'y suis, j'y reste". A natureza colocou-nos nesse terreno; não vemos motivo plausível de o deixarmos.

Quem garante à criança recém-nascida que há um mundo distinto dela, e, nesse mundo, uma mãe pronta a amamentá-la? A natureza, não, evidentemente, de maneira consciente, mas no determinismo do instinto. A criança estende a boquita, e mama, sem discutir. A mesma natureza dá-nos os princípios, como base para toda a nossa atividade intelectual. Se os não aceitarmos, temos, para sermos coerentes, de desistir de pensar.

O homem faz parte do Universo. O pensamento é nele uma atividade natural, para a qual a natureza lhe deu uma faculdade, a inteligência, e bases, os primeiros princípios. Firmemo-nos neles, solidamente, para abordarmos o estudo do ser.