C. As virtudes.


15. As virtudes intelectuais.

Entre as nossas faculdades e as nossas ações interpõem-se os nossos hábitos, no sentido tomista de disposições estáveis, de propensões a proceder duma maneira de preferência a outra. Os hábitos orientam a nossa ação, embora não a determinem, no sentido rigoroso da palavra, porque isso compete, em cada caso, à decisão da vontade. Devem, por isso, classificar-se em bons e maus os que governam os nossos atos morais. Os hábitos bons chamam-se virtudes, os hábitos maus chamam-se vícios.

Há, na inteligência, um certo número de hábitos, que, não sendo necessariamente bons, são no entanto auxiliares no bem se uma vontade reta os orientar para bom fim. São, digamos, virtudes condicionadas, virtudes impropriamente ditas. S. Tomás distingue três no que se refere ao pensamento, e uma no que se refere à ação. As primeiras são a inteligência, a sabedoria e a ciência; a última é a arte.

A inteligência, hábito natural, pelo menos na sua forma implícita, que não deve confundir-se com a faculdade do mesmo nome que é a sua sede, consiste no conhecimento dos primeiros princípios, especulativos ou práticos. A sabedoria e a ciência referem-se ao conhecimento das conseqüências dos princípios. Mas, enquanto que a sabedoria se ocupa

das últimas conseqüências, e portanto, visto que a nossa inteligência retrocede dos efeitos às causas, das causas primeiras, a ciência ocupa-se das conseqüências dos princípios num assunto determinado. Daí resulta que a sabedoria é só uma, e deve orientar todo o nosso pensamento; enquanto que a ciência se especializa por assuntos, e só se aplica à sua especialidade.

A arte, no sentido lato, que compreende as belas-artes e as artes mais modestas dos artífices, ensina-nos a aplicar, ao que estamos fazendo, os conhecimentos que possuímos. Para ser artista, de fato, artista produtivo, não basta ter idéias gerais sobre a arte; não basta saber, é preciso saber fazer.