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Então, tendo uma base sólida sobre a qual trabalhar, S. Tomás
começou a escrever os seus comentários de Aristóteles. Não
"retocava" Aristóteles de acôrdo com idéias estranhas à filosofia
deste; cingia-se, com o maior rigor, aos princípios adotados por
ele; procurava compreender o seu pensamento, dentro do maior respeito
pelo Mestre, e da maior benevolência; e, se alguma coisa tinha de
modificar, era de acordo com os princípios do aristotelismo, não
contra eles. Por exemplo: na "Metafísica", Aristóteles ensina
que Deus só se conhece a si mesmo, S. Tomás acrescenta
simplesmente: mas "conhecendo-se a si mesmo, conhece tudo [2]";
o que, deve notar-se, justifica de maneira que afasta todo o
panteísmo.
Podemos dizer portanto, sem paradoxo, que a obra de S. Tomás é
mais aristotélica do que a do próprio Aristóteles.
Neste espírito, de 1265 a 1268, S. Tomás comentou a
Física, a Metafísica, e os livros de Aristóteles sobre o homem e
a moral. Treze comentários ao todo, em que a obra de Aristóteles
aparecia libertada dos erros que os defeitos de tradução e os
comentários dos árabes lhe tinham introduzido; libertada também dos
erros que o próprio Aristóteles, por falta de aplicação rigorosa
dos seus princípios, tinha deixado nalguns pontos; continuada e
magnificamente completada por um discípulo digno do Mestre; enfim,
com uma unidade, uma coerência, um acabamento, que até hoje não
foram excedidos.
Não admira por isso que os comentários de S. Tomás tenham
justificado perante a Igreja a filosofia de Aristóteles. Se a
vitória não foi total, neste momento, e a luta continuou em
diferentes pontos, como já vamos ver, foi porque muitos doutores se
quiseram mostrar fieis às interpretações de Averrois; mas, para a
Igreja, a causa estava julgada; o Roma nunca mais proibiu o ensino
do aristotelismo.
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