2. Os pré-socráticos.

Muito antes de Sócrates, já desde o século VII antes de Cristo, houve na Grécia pensadores dignos, pela sua categoria, do título de filósofos. Mas os seus sistemas rudimentares, incapazes de abraçar, mesmo de longe, a infinita complexidade das coisas reais, eram todos, inevitavelmente, unilaterais e incompletos; não viam senão um dos aspectos da realidade. Os primeiros jônios, Tales de Mileto, Anaximandro, Anaxímenes, dos séculos VII e VI, olharam só à experiência sensível, e procuraram entre as coisas materiais um princípio único de tudo: a água, o ar, ou um indeterminado, mistura de todos os contrários.

Pitágoras, no século VI, ensina que a realidade está no número; e funda uma escola em que a sua filosofia toma quase o aspecto duma religião, com uma iniciação, um culto, e o respeito absoluto pela tradição doutrinária do mestre. No período seguinte, a oposição aparente ante a evolução e o ser dá origem à formação de duas escolas opostas. Um jônio, Heráclito de Éfeso, do fim do século VI e princípio do V, considera que só a mudança é real; a sua filosofia é a da evolução; "nunca", diz ele, "nos banhamos duas vezes no mesmo rio". Parmênides, pouco posterior, ocupa-se do ser, mas sem entrar em conta com a diversidade das maneiras de ser das coisas. Olha o ser em absoluto, considera-o eterno e imutável, e nega a possibilidade do movimento. Os seus discípulos são conhecidos pelos eleatas: um deles, Zenão de Eléia, tenta demonstrar pelo absurdo que Aquiles nunca poderia, correndo, alcançar uma tartaruga.

Ainda no século V, os atomistas, principal dos quais é Demócrito, procuraram uma conciliação supondo o Universo constituído por átomos; cada átomo apresenta os caracteres do ser de Parmênides, e associa-se aos outros ao acaso, de modo sempre variado, explicando-se assim a possibilidade do movimento; o próprio conhecimento se explica por uma associação de átomos. Os atomistas admitiam o valor da experiência; um deles, Anaxágoras, atribuía a uma inteligência a ordem do mundo.

Os sofistas, finalmente, nos séculos V e IV representam a decadência depois deste primeiro esforço, imperfeito mas já muito notável. Vulgarizadores ambulantes mais do que filósofos, é fama que não procuravam, na filosofia, um meio de atingir a verdade; viam nela uma maneira de conseguir fortuna e influência; ensinavam, por bom preço, a forma de vencer nas discussões, com razão ou sem ela. Os mais famosos foram Protágoras e Górgias.