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No entanto, S. Tomás estava esquecido no mundo dos filósofos, a
ponto de Víctor Cousin, que, para mais, era eclético, ficar
surpreendido, ao encontrar num alfarrábio os livros "dum tal
Aquinate", de os achar originais e profundos. Por sua vez, o
tomismo perdia contato com o mundo, não estudando os problemas que os
novos tempos faziam surgir.
Foi o Papa Leão XIII quem chamou de novo para ele as
atenções, com a sua encíclica "Aeterni Patris", de 4 de
Agosto de 1879. Por meio dela, logo no segundo ano do seu
pontificado, o grande Papa recomendava aos católicos, padres ou
leigos, o estudo da filosofia tomista. De entre os que acorreram ao
seu apelo, deve salientar-se o futuro Cardial Mercier, que iniciou
o ensino do tomismo na Universidade de Lovaina em 1880. Com
desassombro, como queria o Papa, abordou o estudo, à luz dos
princípios tomistas, do largo campo aberto pelas ciências modernas;
e, ao mesmo tempo, o estudo crítico dos sistemas filosóficos do
século XIX e dos séculos precedentes, o Cardeal Mercier criou
escola; dos seus discípulos diretos em Lovaina, os principais são o
cônego Nijs e Monsenhor Noel.
O neotomismo é já hoje uma grande e esperançosa realidade. Em
quase todos os países está bem representado, e em alguns
brilhantemente. Podem citar-se, em França, o dominicano
Sertillanges, professor de filosofia no Instituto Católico de
Paris; Gilson, professor de filosofia tomista na Sorbonne;
Maritain, o mais conhecido, talvez, dos tomistas da atualidade;
Gonzague Truc, Jolivet. Na Alemanha, mencione-se Monsenhor
Grabmann; em Itália, o P. Gemelli, franciscano, e Masnovo.
Permito-me destacar, de entre os que conheço, Sertillanges na
metafísica, e Gilson na questão da critica; mas isso não passa,
evidentemente, duma opinião pessoal.
O neo-tomismo é um movimento, não é uma filosofia diferente da
tomista. Não pretende, pelo nome, distinguir-se do tomismo
antigo, mas continuá-lo em todos os assuntos de que S. Tomás não
pôde tratar. Quer realizar, no século XX, o ideal sempre novo da
filosofia perene.
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