12. A Providência.

A Providência é o governo do Mundo por Deus. Torna-se evidente se nos lembrarmos de que Deus dispôs todas as coisas em vista da ordem do Mundo, e portanto marcou os fins a atingir às causas de maneira a obter os efeitos que achou convenientes.

Não devemos supor a Providência um governo imposto ao Mundo do exterior, um constrangimento que violente o curso natural dos acontecimentos. Não. A Providência é precisamente a boa disposição das finalidades e das causalidades naturais para o fim que Deus deseja. Deus obtém os efeitos que procura pelo jogo das causas naturais. É o autor da Natureza, e dispôs as relações entre as causas de maneira a produzirem, elas próprias, o resultado conveniente. Assim, normalmente, são as conseqüências das nossas ações que nos premiam ou castigam; chama-se a isso a justiça imanente.

Deus, é evidente também, depois do que disse, previu todos os efeitos da ordem que estabeleceu, mesmo os mais insignificantes. Por isso a sua providência estende-se a todas as coisas. E não suponhamos que, se Deus às vezes suspende o curso natural dos acontecimentos, isso implica modificação da ordem providencial. Nada impede que, excepcionalmente, para conseguir um efeito extraordinário, Deus suspenda uma lei da Natureza. A possibilidade do milagre é conseqüência da omnipotência divina, e a sua realidade afirmada pela experiência histórica e atual. Deus pode fazer que uma causa produza um efeito diferente daquele que normalmente produziria; mas esse efeito extraordinário é previsto por Deus desde sempre. É alheio à lei da Natureza, mas tão primitivo como ela na intenção de Deus. Não é um retoque à Providência, introduzido posteriormente. A vontade de Deus não procede assim; é imutável e superior ao tempo; em visão de conjunto, engloba, nos seus desígnios, o natural e o sobrenatural.