XI. O Mundo Material.

A. Metafisica e Natureza.


1. A filosofia e as ciências naturais.

Como disse na segunda lição, não está fora do âmbito da filosofia o estudo de nenhuma classe de seres. É por isso razoável que, depois de ter estudado o ser, a sua Causa transcendente e a sua dependência essencial dessa Causa, as substâncias espirituais, e o homem, na sua essência, no seu modo de conhecer e no seu pensamento, eu me ocupe dos seres que constituem o mundo material; que estude a Natureza, objeto dum capitulo especial da filosofia, a filosofia natural.

O mundo material, nos seus diferentes aspectos, ó estudado pelas chamadas ciências naturais, no sentido mais largo: física, química, biologia, etc. Vamos por isso "caçar no mesmo terreno" que essas ciências; e, para evitar duplicações de trabalho e conflitos de competência, convém antes de mais nada distinguir bem o que interessa à filosofia do que interessa às outras ciências.

Não falta quem considere a filosofia natural um somatório, uma compilação, das conclusões das ciências particulares. Para os que assim pensam, a filosofia depende dessas ciências, e recebe delas, sem os discutir, os conhecimentos parciais que totaliza e ordena.

Não foi no entanto a essa ciência eclética que demos o nome de filosofia. Ao definir a filosofia, dissemos que ela se caracteriza pelo seu objeto formal, que é o estudo de todos m seres em relação às primeiras causas. É por isso totalmente diferente o aspecto que, num objeto qualquer, interessa à filosofia e às ciências naturais. Estas olham as coisas no que têm de especial, pelo seu lado particular, na sua dependência das causas próximas; a filosofia olha-as no que lhes pertence como seres, existência, especificação por uma essência, causalidade, etc., e na sua dependência das causas universais.

A filosofia natural, tal como a entendemos, funda-se por isso diretamente nas coisas. Não depende por essência das ciências particulares. Pode tomar a marcha seguida por estas como guia do seu próprio caminho; pode servir-se dos cactos estudados por elas para exemplificar as conclusões a que chega. Mas não deixa com isso de ser autônoma; de ser única no seu campo; de elaborar o assunto de que se ocupa desde os fatos à conclusão. Por isso, já o disse, como ciência de base mais larga e mais sólida, pode apontar às outras ciências, como errado, o que nelas contradiga as suas próprias conclusões.

Não vou portanto fazer um resumo das ciências naturais, o que, para mais, mesmo resumindo além dos limites admissíveis, não poderia tentar-se numa lição. Vou resumir outro assunto mais limitado: as questões principais que, na Natureza, interessam à filosofia.