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Pode legitimamente hesitar-se sobre se o estudo dos Anjos pertence ou
não exclusivamente à teologia. A maior parte dos autores que
escrevem sobre a filosofia tomista entendem que sim, e, nos seus
livros, nem se referem aos Anjos. Realmente, a existência dos
Anjos só se pode provar pela Revelação, o que parece dar razão aos
que assim pensam. Mas a possibilidade da existência de inteligências
puramente espirituais pede ser prevista pela filosofia; prova-o o fato
de alguns filósofos da antigüidade, entre eles Aristóteles, sem
conhecerem a Revelação cristã, as terem admitido, baseando-se em
critérios muito variados. Por outro lado, há razões de
conveniência que tornam a existência dos Anjos pelo menos muito
provável, mesmo independentemente da teologia; e essas razões
filiam-se de tal maneira nas grandes linhas do pensamento de S.
Tomás que não falar nos Anjos é mutilar a síntese tomista, tão
equilibrada e ampla.
Pensa assim Gilson, que, no seu curso, reserva um capítulo inteiro
à angelologia, e, a meu ver, pensa bem. O estudo dos Anjos,
quando mais não seja, esclarece muitas noções importantes, muitas
diretrizes fundamentais, da ontologia tomista. Por isso me pareceu
conveniente tratar aqui desse assunto, muito rapidamente.
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