14. Conclusão.

O estudo da filosofia natural dentro dos quadros tomistas é especialmente interessante porque permite avaliar, melhor do que qualquer outro, o bem-fundado dos princípios que fixam a orientação do tomismo. Realmente, as ciências físico-químicas evolucionaram desde o tempo de S. Tomás além de tudo quanto seria lícito supor. Na ontologia e na teodicéia não surgiram, na época moderna, soluções nem dificuldades essencialmente novas. Na psicologia, apesar da enorme massa de conhecimentos de pormenor que os novos métodos de observação permitiram obter, não se descobriu nada que alterasse as linhas gerais da psicologia antiga. Na própria crítica, embora esta tomasse um desenvolvimento que ninguém na Idade-Média poderia suspeitar, os argumentos fundamentais são os mesmos dos cépticos, que já Aristóteles combatia. Mas a física e a química fizeram progressos extraordinários. Abriram domínios inteiramente novos; revelaram inúmeros fatos desconhecidos; arquitectaram teorias ao pé das quais nos parecem ridículas as adoptadas pelos sábios da antigüidade. Pois o tomismo, liberto da ganga dos exemplos escolhidos numa física caduca, mostra-se capaz de abordar os novos domínios, de assimilar os novos fatos e as novas teorias. É de notar, por exemplo, que a definição aristotélica do tempo, velha de tantos séculos, enquadra perfeitamente os fatos em que se baseiam as teorias relativistas, que contrariam a definição de Newton, muito mais moderna. Deve isso ser para nós mais uma prova de que não há no tomismo petição de princípio oculta, nem vício de raciocínio fundamental, e de que os princípios evidentes não conduzem a conclusões que os fatos possam contradizer.