|
Os três princípios enunciados podem sintetizar-se num só: o
princípio metafísico de identidade, princípio ontológico, não
lógico, isto é, relativo ao ser e não ao pensamento. Esse é
então, absolutamente, o primeiro princípio da inteligência. Se
não tratei dele em primeiro lugar foi para tornar mais clara a
exposição.
Podemos com Maritain [28] formulá-lo da maneira seguinte: cada
coisa é o que é. O enunciado não se compreende facilmente, à
primeira vista; deve-se isto à extrema dificuldade de encontrar
palavras que exprimam noções tão elementares como estas, coisas
que, embora subjacentes a todos os nossos pensamentos, raras vezes
aparecem neles de maneira explícita. Não se trata duma tautologia,
duma simples repetição de palavras, como pode parecer. Aquele é
tem significado muito diferente das duas vezes que aparece. Tem da
primeira vez um sentido vago, geral; da segunda, um sentido bem
determinado, preciso. Cada ser é; mas não é uma coisa qualquer,
não é o que os outros seres são; é duma maneira que o caracteriza,
duma maneira de ser sua. É, mas é o que é; é aquilo que o
constitui em próprio, e não outra coisa.
Este princípio implica o reconhecimento, pelo homem, de que a lei do
seu pensamento é ditada pela do ser, apreendido como existente na
realidade exterior conhecida pelos sentidos. Implica a noção do
existente, do real; isto é, o principio de realidade. Enuncia a
lei do nosso raciocínio, que afirma o idêntico e nega o
contraditório: o principio lógico de identidade, reverso do de
contradição. E afirma, das coisas, a mesma lei; formula-a,
até, nas coisas em primeiro lugar; subordina a lei do espírito à
lei das coisas; é o princípio de inteligibilidade. É portanto com
razão que se pode chamar-lhe a síntese dos três princípios.
E implica, também, a analogia do ser. Pode até servir de
enunciado dessa analogia: cada coisa é o que é; cada coisa está
sujeita à lei do ser, segundo a sua maneira de ser particular. O ser
só pode atribuir-se-lhe segundo aquilo que a caracteriza, seguindo o
que ela é. Cada coisa é, participa do ser, mas dum modo próprio,
seu, que a distingue das outras coisas.
Quanto melhor se compreende, portanto, o enunciado deste princípio,
mais ele nos aparece rico de sentido, apesar da aparente pobreza das
palavras que o exprimem. E, de fato, nele está contido tudo quanto
sabemos do ser, na sua universalidade; como sobre ele se funda tudo
quanto podemos saber das suas particularizações. É o primeiro
princípio universal, subjacente a toda a atividade da nossa
inteligência [29]. Desdobrado, para as aplicações, nos
múltiplos princípios evidentes, que resume num só.
|
|