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Era justo terminar o estudo do tomismo por uma exposição rápida da
moral natural segundo S. Tomás, embora este não possa dar toda a
sua medida como moralista senão na moral cristã, visto que, em todos
os casos práticos, o que interessa é a nossa posição, de fato,
num mundo em que à Natureza se acrescenta a Graça, o não a
situação hipotética num mundo sem sobrenatural.
A moral de S. Tomás aparece-nos muito humana, ao mesmo tempo
profunda e moderada. Não há nela conflito entre o nosso dever e o
desejo intimo da nossa natureza. O nosso dever é a obediência a
Deus; o nosso desejo natural, por outro lado, é Deus, que nos fez
para si. A lei da nossa ação é a lei eterna; mas revela-se-nos
pela lei natural, de que derivam todas as leis humanas. Na moral
tomista não há por isso nem a dureza de Kant nem o egoísmo dos
epicuristas. Cumprindo o nosso dever, trabalhamos,
inteligentemente, para a nossa felicidade. As duas coisas são
inseparáveis; ligadas essencialmente, pela justiça de Deus que
proporcionou harmoniosamente o que deu a cada tipo de ser com o que
exigiu da sua natureza.
Acrescente-se que, quando se desce aos casos particulares, S.
Tomás revela um espírito de análise fino e penetrante. Conhece,
como ninguém, as oposições desconcertantes do caráter humano, a
influência às vezes preponderante duma circunstância pequena, as
forças e as fraquezas da inteligência e da vontade. O que tem feito
pensar a muitos moralistas que S. Tomás é maior ainda na moral do
que na metafísica.
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