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A rainha das virtudes, para S. Tomás, é a prudência.
Realmente, é ela que regula o exercício de todas as outras, que,
sem ela, não chegam a ser virtudes, porque não produzem frutos
bons. O esforço do imprudente para o bem não passa de zelo
intempestivo; pode ser meritório, mas é inútil ou prejudicial.
A palavra prudência não tem, para S. Tomás, a vaga tonalidade
de receio que lhe dá a linguagem vulgar. A prudência é a virtude
que nos ensina a proporcionar os meios aos fins. Pode aconselhar-nos
a ser destemidos como a ser cautelosos, a intervir ou a não intervir,
conforme as circunstâncias.
S. Tomás compara a prudência a uma arte, e, pela definição que
dá, faz dela a arte de bem proceder [114]. De fato, a prudência
tem todos os caracteres duma arte. Não lhe bastam conhecimentos
teóricos; é preciso saber aplicá-los aos casos que se apresentam,
saber atender, com equilíbrio, a todas as condições, mesmo, e
talvez principalmente, às que não se podem pôr em equação. Como
a arte, como o bom gosto, que é uma arte, a prudência sabe pesar
todos os elementos que influem no caso particular que estuda,
avaliá-los pelo seu justo valor, e utilizá-los para a aplicação
da regra geral que interessa ao caso.
Como vícios contrários à prudência, podem apontar-se a
imprudência propriamente dita, a negligência, e as falsas
prudências que põem a inteligência ao serviço, não do nosso
verdadeiro fim, mas de qualquer bem sensível armado,
injustificavelmente, em fim último.
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