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A moralidade formal, e portanto o mérito, está como disse na
conformidade do nosso procedimento com a lei moral, tal como, de
acordo com os elementos de que dispo¨ mos, se aplica ao nosso caso.
Assim, por erro, quer quanto ao caso, quer quanto à lei, podemos
praticar uma ação materialmente má que seja formalmente boa, ou uma
ação materialmente boa mas formalmente má. A moralidade do nosso
ato foi modificada pela ignorância da lei.
Como quanto à influência das paixões há dois casos a distinguir.
Se a ignorância é inevitável, se não podemos, nem pudemos,
conhecer o que manda a lei sobre o nosso caso, não é da nossa
responsabilidade o lado material do ato que praticamos. Se, pelo
contrário, a ignorância é propositada, possivelmente com a
intenção de que nos sirva de desculpa, ou resulta de desleixo da
nossa parte em nos instruirmos sobre a lei moral, somos responsáveis
pelos nossos atos, na sua causa; e a responsabilidade existe na
proporção em que a ignorância é voluntária.
A razão porque a ignorância desculpa a falta, razão que nos levou a
distinguir a moralidade formal da material, é que a torna
involuntária, por acidente. Nós não queremos o ato mau que de fato
praticamos, mas o ato bom que julgamos praticar. Por isso, se
fazemos o mal na ignorância de que é mal, mas com tal resolução
que, se o soubéssemos, não deixaríamos de o fazer, a desculpa
desaparece. A ignorância, nesse caso, não é causa do nosso ato,
mas uma simples circunstância acessória.
Podemos, portanto, resumir desta maneira: Deve seguir-se uma
consciência errônea; proceder contra ela seria, formalmente, e por
isso moralmente, um mal. Mas devem fazer-se todos os esforços para
conseguir uma boa formação da consciência; porque, caso
contrário, o seu erro será culpa nossa, e o mal material que fazemos
terá, como causa remota, a nossa vontade.
De resto, ninguém se deve entrincheirar no pretexto de que a
consciência lhe indica um caminho para recusar o conselho de pessoas
prudentes e bem formadas. O conselho dum homem de caráter, pela
autoridade de quem c dá, é um elemento valioso de formação da
consciência, num assunto tão delicado como a moral. A nossa
consciência, que é, em última análise, a quem devemos obedecer,
deve atender a ele, juntamente com os outros, e nunca rejeitá-lo in
limine.
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