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As nossas idéias ligam-se em juízos, que são sentenças da
inteligência pelas quais afirmamos ou negamos duma coisa outras coisas
que conhecemos. Os juízos exprimem-se por proposições, em que os
conceitos que os compõem se chamam termos.
Na lógica aristotélica, reduzem-se todas as proposições,
explícita ou implicitamente, à forma de atribuição a um sujeito de
certo modo de existência que constitui o predicado. A forma de
existência atribuída pode ser a existência substancial, uma
qualidade, um qualificativo de quantidade, de lugar, de tempo, etc.
Em suma, a classificação dos predicados é idêntica à dos seres,
que, como já vimos, se agrupam nas dez categorias ou predicamentos;
o que não admira, visto alei do ser ditar a do nosso pensamento. A
atribuição pode ser a titulo acidental ou essencial, conforme o
predicado pertence ou não à essência do sujeito. Se é essencial,
e basta para caracterizar a essência, diz-se específico; se exprime
o que na espécie há de comum com outras espécies, é genérico; se
põe em relevo o que a distingue dessas outras espécies, é a título
de diferença específica. O predicado acidental é acidente próprio
se resulta necessariamente da essência do sujeito: no caso
contrário, é acidente estranho, ou acidente propriamente dito.
A proposição "Sócrates é homem" é portanto afirmação de
espécie; "Sócrates é animal", afirmação de gênero. Dizer
"Sócrates é racional" é afirmar a diferença específica. Em
"Sócrates é capaz de rir", o predicado é acidente próprio; em
"Sócrates é branco, acidente estranho.
Em toda a proposição se afirma, ou nega, que o predicado faz parte
da compreensão do sujeito, seja essencial, seja acidentalmente.
Assim, em "Sócrates é homem, afirma-se que a noção Sócrates
inclui as notas que constituem o tipo de ser homem. Correlativamente,
afirma-se ou nega-se que o sujeito faz parte da extensão do
predicado. A mesma proposição, por exemplo, diz-nos que
Sócrates pertence ao grupo de seres a que se aplica o conceito homem.
Há proposições em que o sujeito e o predicado são iguais em
compreensão e extensão. Essas proposições convertem-se em
identidades. São assim, por exemplo, as definições dos seres.
Numa definição, o predicado convém necessariamente ao sujeito, e
só ao sujeito. Em "o homem é um animal racional", todo o homem é
animal racional, todo o animal racional é homem; ou, o que tanto
vale, só o homem é animal racional, só o animal racional é homem.
A definição e o definido, o predicado e o sujeito, são
idênticos. No entanto, a definição aumenta o nosso conhecimento do
sujeito, porque o situa no conjunto dos seres, tornando explícito o
que era implícito; quer, como na definição que dei para exemplo,
indicando o gênero e a diferença especifica (definição
essencial), quer descrevendo suficientemente as suas propriedades
(definição descritiva).
As relações afirmadas pela proposição entre o sujeito e o predicado
podem existir ou não na realidade. No primeiro caso a proposição
diz-se verdadeira; no segundo, diz-se falsa. As proposições em
que o predicado faz parte da essência do sujeito, ou o sujeito é
exigido pela essência do predicado, são evidentemente verdadeiras;
são evidentes. Aquelas em que o sujeito e o predicado são noções
contraditórias são evidentemente falsas. As outras podem ser
verdadeiras ou falsas, e só a experiência permite decidir se são uma
ou outra coisa.
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