C. A indução.


11. O raciocínio indutivo.

A Indução é o raciocínio pelo qual, de casos particulares suficientemente numerosos, se conclui para a lei geral que os rege. Assim, tendo visto cair as pedras que largámos da mão, concluímos, por indução, que toda a pedra que largarmos cairá.

É a indução que nos permite fazer da experiência a base do nosso conhecimento intelectual. Os sentidos, que utilizamos na observação, nunca podem dar-nos senão casos individuais; casos numerosos, casos repetidos, embora, mas sempre individuais, concretos, particulares. Ora a inteligência ocupa-se do universal. É preciso que ela, por indução, veja o universal que se realiza no concreto, para que os seres reais possam ser conhecidos intelectualmente.

A abstração, a ação do intelecto agente na simples apreensão dum objeto, é trabalho de indução. Como já disse, o intelecto agente, despojando o objeto de tudo o que são determinações secundárias, particularizadoras, revela-nos nele o tipo ideal que realiza. Passamos assim do individual para o universal, da coisa, tão complexa nos pormenores que excede a capacidade da nossa inteligência, para a qüididade, que ë o objeto próprio desta. Da mesma maneira, tudo quanto sabemos da realidade assenta numa indução. Todas as ciências que se ocupam dos seres reais principiam por uma fase de indução, que precede, necessariamente, a fase dedutiva.

Só falta a indução nas ciências que tratam exclusivamente de seres de razão, isto é, nas ciências matemáticas puras; ou melhor, a indução só intervém nelas como base das noções mais simples, a de número e a de dimensão, por exemplo. Nessas ciências, tudo se conclui a partir das definições adoptadas, definições que têm o caráter de princípios. Mas também, uma vez dadas as definições, não há na matemática senão progresso formal. A matéria não se enriquece; não há aquisição de novos conhecimentos objetivos; há só a explicitação do que se continha nas definições. Nas ciências objectivas, os raciocínios têm base experimental, e, seja pela indução, seja pela dedução, vão-nos dando conhecimento de que certas notas convêm a um objeto exterior a nós, do qual o conceito que o representa no nosso espírito se aproxima cada vez mais. Na matemática, o objeto, que é ser de razão, existe no nosso espírito; não há mais a fazer do que desdobrá-lo.

A indução é portanto o processo intelectual pelo qual utilizamos a experiência. Mas seria um erro supor que ela tem, unicamente, uma base empírica. Tem base metafísica. Realmente, o termos visto cair mil pedras não nos autoriza a prever a queda da milésima primeira se não recorrermos à afirmação de que os fenômenos em que não intervêm causas livres são regidos por leis necessárias, que os reproduzem da mesma maneira em identidade de circunstâncias. Vimos cair muitas pedras; que ficámos a saber, pela observação? Que essas pedras caíram, mais nada. Não podemos dizer nada sobre as pedras que ainda não vimos cair, se não partirmos do princípio de que a mesma causa produz o mesmo efeito, quando outras causas não intervêm a impedi-lo. Nisso, precisamente, consiste a indução, que, portanto, se funda diretamente no princípio de inteligibilidade, nessa verdade metafísica basilar que o intelecto agente nos revela, com evidência, ao primeiro contacto com o mundo exterior.

Como na dedução, há no raciocínio indutivo uma lógica natural, suficiente para os casos da vida prática. Mas, enquanto que o concurso da lógica dedutiva artificial é indispensável nos raciocínios filosóficos, para evitar conclusões erradas, a indução natural basta em quase todos os domínios de que a filosofia se ocupa. O estudo da dedução tornou-se por isso necessário muito mais cedo do que o da indução. Claro que nenhuma lógica seria completa se não estudasse a indução; Aristóteles não deixou de fazê-lo, embora mais rapidamente do que à dedução. Mas só b grande desenvolvimento das ciências experimentais nos tempos modernos deu ao estudo da indução toda a sua importância. Não admira por isso que fosse este o único campo da lógica que fez, desde Aristóteles, progressos fundamentais.