|
Enquanto os últimos escolásticos, esquecendo as verdadeiras
relações entre as duas ciências, supunham a física de Aristóteles
consequência necessária da sua metafísica, os adversários caíam no
mesmo erro, com sinal contrário, e criavam uma metafísica fundada
nos métodos da ciência nova. Foi a obra de Descartes, iniciador do
que se convencionou chamar a filosofia moderna.
Descartes, um dos maiores matemáticos de todos os tempos, fez tábua
rasa de tudo o que o tinha precedido, e resolveu partir da dúvida
universal. Impôs à metafísica o método da matemática, isto é,
deduções sucessivas a partir de princípios pouco numerosos, e sem
recurso à experiência. Só não duvida da sua existência, visto
que pensa; do "penso, logo existo", faz a posição inicial de todo o
seu sistema; é o célebre "cogito" de Descartes. Da idéia de
Deus, que tem, e que, entende, por ser idéia do perfeito, não
pode ter uma causa imperfeita, conclui que Deus existe. Como o
cogito, de que não consegue duvidar, é uma idéia clara e distinta,
todas as idéias claras e distintas são verdadeiras também; a
veracidade divina garante-lhe que não há nisso ilusão. Fica assim
estabelecida a existência do seu próprio corpo e a do mundo exterior.
Do fato de pensar, tira Descartes a conclusão de que a sua essência
é o pensamento; é a alma. E conclui ainda que o pensamento é
independente do corpo, e as idéias inatas; mas que a alma dirige o
corpo, por meio dos espíritos animais, sopro muito sutil que parte
do cérebro, e se encaminha, pelos nervos, para os músculos.
Quanto aos animais, são puros autômatos, verdadeiras máquinas sem
vida nem sensibilidade.
Das suas teorias filosóficas, Descartes tentou deduzir uma física,
uma cosmologia, e uma fisiologia. Mas as teorias que estabeleceu
mostraram-se quase todas caducas. No entanto, a sua contribuição
para a ciência é grande, em certos ramos da física.
Falarei mais demoradamente de Descartes quando tratar dos primeiros
princípios [24].
|
|