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A Indução é o raciocínio pelo qual, de casos particulares
suficientemente numerosos, se conclui para a lei geral que os rege.
Assim, tendo visto cair as pedras que largámos da mão,
concluímos, por indução, que toda a pedra que largarmos cairá.
É a indução que nos permite fazer da experiência a base do nosso
conhecimento intelectual. Os sentidos, que utilizamos na
observação, nunca podem dar-nos senão casos individuais; casos
numerosos, casos repetidos, embora, mas sempre individuais,
concretos, particulares. Ora a inteligência ocupa-se do universal.
É preciso que ela, por indução, veja o universal que se realiza no
concreto, para que os seres reais possam ser conhecidos
intelectualmente.
A abstração, a ação do intelecto agente na simples apreensão dum
objeto, é trabalho de indução. Como já disse, o intelecto
agente, despojando o objeto de tudo o que são determinações
secundárias, particularizadoras, revela-nos nele o tipo ideal que
realiza. Passamos assim do individual para o universal, da coisa,
tão complexa nos pormenores que excede a capacidade da nossa
inteligência, para a qüididade, que ë o objeto próprio desta. Da
mesma maneira, tudo quanto sabemos da realidade assenta numa
indução. Todas as ciências que se ocupam dos seres reais principiam
por uma fase de indução, que precede, necessariamente, a fase
dedutiva.
Só falta a indução nas ciências que tratam exclusivamente de seres
de razão, isto é, nas ciências matemáticas puras; ou melhor, a
indução só intervém nelas como base das noções mais simples, a de
número e a de dimensão, por exemplo. Nessas ciências, tudo se
conclui a partir das definições adoptadas, definições que têm o
caráter de princípios. Mas também, uma vez dadas as definições,
não há na matemática senão progresso formal. A matéria não se
enriquece; não há aquisição de novos conhecimentos objetivos; há
só a explicitação do que se continha nas definições. Nas
ciências objectivas, os raciocínios têm base experimental, e, seja
pela indução, seja pela dedução, vão-nos dando conhecimento de
que certas notas convêm a um objeto exterior a nós, do qual o
conceito que o representa no nosso espírito se aproxima cada vez mais.
Na matemática, o objeto, que é ser de razão, existe no nosso
espírito; não há mais a fazer do que desdobrá-lo.
A indução é portanto o processo intelectual pelo qual utilizamos a
experiência. Mas seria um erro supor que ela tem, unicamente, uma
base empírica. Tem base metafísica. Realmente, o termos visto
cair mil pedras não nos autoriza a prever a queda da milésima primeira
se não recorrermos à afirmação de que os fenômenos em que não
intervêm causas livres são regidos por leis necessárias, que os
reproduzem da mesma maneira em identidade de circunstâncias. Vimos
cair muitas pedras; que ficámos a saber, pela observação? Que
essas pedras caíram, mais nada. Não podemos dizer nada sobre as
pedras que ainda não vimos cair, se não partirmos do princípio de
que a mesma causa produz o mesmo efeito, quando outras causas não
intervêm a impedi-lo. Nisso, precisamente, consiste a indução,
que, portanto, se funda diretamente no princípio de
inteligibilidade, nessa verdade metafísica basilar que o intelecto
agente nos revela, com evidência, ao primeiro contacto com o mundo
exterior.
Como na dedução, há no raciocínio indutivo uma lógica natural,
suficiente para os casos da vida prática. Mas, enquanto que o
concurso da lógica dedutiva artificial é indispensável nos
raciocínios filosóficos, para evitar conclusões erradas, a
indução natural basta em quase todos os domínios de que a filosofia
se ocupa. O estudo da dedução tornou-se por isso necessário muito
mais cedo do que o da indução. Claro que nenhuma lógica seria
completa se não estudasse a indução; Aristóteles não deixou de
fazê-lo, embora mais rapidamente do que à dedução. Mas só b
grande desenvolvimento das ciências experimentais nos tempos modernos
deu ao estudo da indução toda a sua importância. Não admira por
isso que fosse este o único campo da lógica que fez, desde
Aristóteles, progressos fundamentais.
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