11. A analogia.

Se as nossas palavras, portanto, não podem aplicar-se a Deus e às criaturas em sentido unívoco, as que dizemos de Deus também não são equívocas. Aplicam-se a Deus por analogia.

Já vimos que o ser, e todos os transcendentais, são noções análogas. Manifestam-se nas diversas coisas de maneiras essencialmente diversas, essencialmente, está bem dito, porque é precisamente essa diversidade que distingue entre si as essências das coisas. Temos agora de estender a analogia além de todo o limite, de a alargar até à exclusão de toda a maneira de ser particular [56]. E então podemos dizer que Deus é Deus, fazendo do verbo uma simples cópula verbal que não pretende obrigar Deus a ser à nossa maneira; e que, em Deus ser Deus, há, num sentido pleno, eminente, transcendente, divino, tudo quanto significamos de real ao dizer que alguma coisa existe, e é boa, verdadeira, forte ou bela.

Não devemos perder isto de vista no que se segue. Vamos falar dos "atributos" de Deus. Ao fazê-lo, devemos afastar toda a idéia de que há em Deus atributos distintos da sua essência. A bondade de Deus não é distinta de Deus; é um aspecto segundo o qual o Mundo depende dele, e que nós distinguimos porque o nosso espírito, feito para a análise, não poda conhecer o simples senão sob a aparência da composição. Deus é bom à maneira divina, isto é, na plenitude e na simplicidade da sua essência. E o que digo da bondade digo-o de todos os outros atributos. É preciso ressalvar a analogia de todos os termos por que o designamos.