11. A extensão.

A extensão é a propriedade que têm as substâncias materiais de serem constituídas de partes quantitativas. É um acidente inerente à substância por causa da matéria; porque a forma, que caracteriza e especifica a substância, é, por si mesma, independente da quantidade. Não é só a alma, seja vegetativa, seja sensitiva ou intelectual, que, como principio de unidade de ação e organização a que tudo ~ se submete, está toda presente em cada parte do corpo. Dá-se coisa análoga nos seres inanimados. Considerem-se, por exemplo, dum lado um miligrama, do outro lado uma tonelada de ferro. Formalmente, são equivalentes. Tão ferro é uma porção como a outra; porque ambas apresentam as mesmas propriedades características. Mas não é tanto ferro uma como a outra, porque é maior a porção de matéria que constitui a segunda. Assim, a substância, que em si mesma é uma, estende-se a partes atualmente, ou potencialmente, distintas.

A extensão é divisível indefinidamente, isto é, é sempre possível dividir uma porção de qualquer substância material nas partes de que, potencialmente, se compõe. Se a divisão, fisicamente, não pode levar-se além dum certo limite, é porque a estrutura da substância é tal que, passado esse limite, ela deixa de existir como substância; separam-se os constituintes da molécula ou do átomo, e obtém-se uma substância diferente. Se a divisão não se pode prosseguir, não é portanto por causa da extensão em si mesma, mas da constituição da substância que a ocupa.

Com a extensão dum corpo podemos relacionar a sua posição no espaço, que constitui um predicamento à parte. O lugar dum corpo, a posição que ocupa, definem-se, na linguagem de S. Tomás, pelo contorno dos corpos que o envolvem. Definição toda relativa, como se vê, que determina a posição dum ponto pela doutro ponto com que ele está em contacto. Claro que, determinando a posição dos corpos que envolvem o primeiro pela daqueles com que, por sua vez, estão em contacto, se pode conhecer a posição do corpo considerado relativamente a esses novos corpos, e assim sucessivamente. No tempo de S. Tomás aceitava-se uma cosmogonia segundo a qual o Universo era formado de esferas concêntricas. A posição de qualquer corpo podia portanto, em última análise, referir-se à primeira esfera, que envolvia todas as outras e suportava as estrêlas fixas. Essa esfera constituía assim um sistema de referência privilegiado, não por motivos de ordem metafísica, mas por motivos de ordem astronômica. Hoje, que a teoria das esferas foi desmentida pela observação, não podemos considerar privilegiado nenhum sistema de referência.

A filosofia tomista, como se vê, não se ocupa proprianente do espaço, mas das relações espaciais. O espaço, em abstrato, não é ser real, mas ser de razão. O que tem existência real são as substâncias, determinadas, em extensão e posição, pelas suas quantidades e pelas suas relações espadais.