3. Deus, Primeira Causa.

Se em vez das mudanças das coisas considerarmos a sua existência, temos a segunda via. Os seres estão ligados uns aos outros pelos laços da causalidade eficiente; isto é, a existência duma coisa depende da de outra coisa, sem a qual a primeira não poderia existir. Se a existência dessa, por sua vez, depende da duma terceira, e assim sucessivamente, a existência de todas está dependente da duma Primeira Causa, que, para ser primeira, tem de ser Causa não-causada, e portanto transcendente às outras: Deus.

Como no caso anterior, não podemos aqui remontar ao infinito. A existência de cada termo da série está dependente da de todos os anteriores. Suprimido o primeiro, o Primeiro por essência, que existe sem causa, por si mesmo, suprimem-se todos os outros; e esses outros existem, o Mundo existe; logo, Deus existe.

Para o que se segue, é importante que fique bem compreendido qual a espécie de causas de que trata este argumento. Não interessam as causas da produção, mas as da existência, pelo menos da existência como causa; do que se trata não é de sucessão no tempo, mas de subordinação causal. Acerca dum homem, por exemplo, não importa o ele ter nascido doutro homem; porque a morte do pai não arrasta a do filho. Avô, pai, filho, são causas encadeadas no tempo, que se vão substituindo sucessivamente, sem que essa substituição altere a posição do problema. O que aqui interessa é a existência da humanidade em conjunto. E essa depende dos agentes naturais, das propriedades dos corpos que o ser vivo utiliza, alimentos que o sustentam, ar que respira, radiações que aproveita, das forças da natureza que convergem num organismo, de acordo com a lei própria da sua existência, e concorrem para a conservação da sua vida. A sua falta é que traria consigo, inevitavelmente, a desaparição da humanidade.