20. S. Alberto Magno e S. Tomás.

De S. Alberto Magno, de S. Tomás, e dos averroístas latinos seus contemporâneos, já falei suficientemente na primeira lição. O primeiro, como disse, foi um enciclopédico; seguia Aristóteles, que compreendia num sentido perfeitamente cristão; no entanto, em filosofia, o seu esforço é mais superficial, menos profundo, do que o de S. Tomás.

S. Tomás foi, para Aristóteles, o discípulo raro, que assimila as raízes da doutrina do mestre; o discípulo que compreende, continua, e corrige onde é preciso. É da sua filosofia que vamos tratar, e não vale por isso a pena falar dela aqui. Basta citar, como exemplo no seu poder de síntese, a maneira magistral por que, como adiante veremos, resolve, em visão de conjunto duma unidade admirável, a questão dos universais, o problema da distinção das substâncias individuais, em Deus, nos Anjos, no homem e nas coisas, e o do conhecimento, com toda a generalidade [22].

S. Tomás aliava ao respeito de Aristóteles pela realidade o misticismo filosófico de Platão. Olhando o aristotelismo dum ponto de vista mais elevado, mostrou que ele se concilia bem com o que há de verdadeiramente superior na filosofia platônica, e só se opõe às quimeras que Platão tinha introduzido no seu sistema. E, como quereria Pascal, o ponto de conciliação das duas doutrinas tradicionalmente opostas encontrou-o no terreno da mais rigorosa ortodoxia cristã.