18. A eternidade.

Quando pensamos na eternidade, vem-nos irresistivelmente ao espírito a idéia duma duração indefinida, dum tempo que nunca começou e há-de durar para sempre. Semelhante eternidade não pode atribuir-se a Deus. É um infinito potencial; equivale a supor a vida de Deus correndo como a nossa, constituída por instantes sucessivos, vividos um de cada vez. A eternidade de Deus identifica-se com a sua imutabilidade, e, nunca é de mais repetí-lo, com todos os outros atributos divinos. Consiste em estar Deus fora do tempo; é, na frase inexcedivelmente feliz de Boécio, a posse total, inteira e simultânea duma vida sem limites [60]". Por isso diz Sertillanges que, por paradoxal que pareça, a melhor imagem que podemos formar da eternidade é o ponto, que não tem dimensões, e não a reta, que se prolonga indefinidamente nos dois sentidos [61].

Deus é eterno porque é imutável. Para ele não há tempo. O tempo mede a evolução das coisas; ora em Deus nada evoluciona. E a nossa evolução não pode medir a vida divina; todas as coisas, sejam de ontem, de hoje ou de amanhã, dependem igualmente de Deus por tudo quanto são, na sua evolução também. Por parte de Deus, nada muda nessa relação de dependência, que da sua imutabilidade suspende as nossas mudanças. Deus não está por isso sujeito ao tempo, seja a que titulo for. Nada o relaciona especialmente com um instante particular. O nosso tempo não pode medí-lo.

A eternidade é portanto transcendente ao tempo. Se partimos deste, é porque a negação do tempo em Deus é a única via pela qual podemos abordar a sua eternidade.