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Quando pensamos na eternidade, vem-nos irresistivelmente ao espírito
a idéia duma duração indefinida, dum tempo que nunca começou e
há-de durar para sempre. Semelhante eternidade não pode
atribuir-se a Deus. É um infinito potencial; equivale a supor a
vida de Deus correndo como a nossa, constituída por instantes
sucessivos, vividos um de cada vez. A eternidade de Deus
identifica-se com a sua imutabilidade, e, nunca é de mais
repetí-lo, com todos os outros atributos divinos. Consiste em estar
Deus fora do tempo; é, na frase inexcedivelmente feliz de Boécio,
a posse total, inteira e simultânea duma vida sem
limites [60]".
Por isso diz Sertillanges que, por paradoxal que pareça, a melhor
imagem que podemos formar da eternidade é o ponto, que não tem
dimensões, e não a reta, que se prolonga indefinidamente nos dois
sentidos [61].
Deus é eterno porque é imutável. Para ele não há tempo. O
tempo mede a evolução das coisas; ora em Deus nada evoluciona. E a
nossa evolução não pode medir a vida divina; todas as coisas, sejam
de ontem, de hoje ou de amanhã, dependem igualmente de Deus por tudo
quanto são, na sua evolução também. Por parte de Deus, nada
muda nessa relação de dependência, que da sua imutabilidade suspende
as nossas mudanças. Deus não está por isso sujeito ao tempo, seja
a que titulo for. Nada o relaciona especialmente com um instante
particular. O nosso tempo não pode medí-lo.
A eternidade é portanto transcendente ao tempo. Se partimos deste,
é porque a negação do tempo em Deus é a única via pela qual
podemos abordar a sua eternidade.
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