5. Os animais.

Os animais são substâncias dotadas de vida sensitiva. Alem das que citei a propósito das plantas, pertencem a esta modalidade de vida mais as seguintes funções: o conhecimento sensível dos objetos, o apetite sensível, a faculdade locomotora. A sensibilidade compreende, com formas e desenvolvimentos muito diferentes de espécie para espécie: os sentidos externos, a consciência sensível ou senso comum, imaginação, a estimativa, e a memória. O apetite sensível divide-se em irascível e concupiscível.

De tudo isso já falei quando me referi à atividade sensível do homem, e não preciso de repetir o que então disse. Por outro lado, tudo o que disse das plantas se aplica também à vida vegetativa dos animais. Basta por isso lembrar aqui o seguinte:

A forma substancial do animal é a única que actua a matéria que compõe o seu corpo. Tem o nome de alma sensitiva, e regula toda a vida do animal. As formas dos compostos químicos existentes no corpo, as das células que o compõem, a alma vegetativa, existem nela virtualmente; não têm existência autônoma. É a alma sensitiva que exige, para o exercício da sua atividade, que o corpo seja gerado, se desenvolva e nutra. A essa alma sensitiva sobrepõem-se formas acidentais, faculdades, hábitos, disposições. Mas tudo o que é essencial na vida do animal é regido por ela.

Como a alma vegetativa das plantas, a alma sensitiva dos animais não excede a potência da matéria. Por isso, passa ao ato logo que está suficientemente disposta a matéria do corpo, sob a ação dos agentes naturais e do germe, e dissolve-se por acidente quando o corpo é destruído.

O conhecimento sensível e o apetite sensível estão estreitamente relacionados. Para que o animal possa, conscientemente, tender para um objeto, é preciso antes de mais nada que o conheça. Está também estreitamente relacionada com essas a faculdade locomotora. Realmente, o conhecimento, em algumas espécies menos diferenciadas; está reduzido ao tacto; então, à locomoção não ultrapassa a vizinhança imediata do animal, que, pelo tacto, não pode conhecer senão os objetos próximos. Noutros, há o ouvido, a vista; a locomoção tem um raio de ação praticamente ilimitado, porque o animal pode conhecer os objetos distantes.

Analogamente ao que já fiz notar a respeito das plantas, o tomismo não olha o animal como um autômato, mas como um verdadeiro ser vivo, dotado de conhecimento e de apetite. Recusa-lhe a direção consciente e livre da sua vida, porque essa exige o conhecimento do fim para que ela tende, conhecimento intelectual que o animal não tem. Mas não lhe nega uma certa autonomia na escolha dos seus atos, obra da estimativa, guiada pelos hábitos instintivos ou adquiridos pela educação. Enfim, considera-os semelhantes a nós em tudo o que não depende essencialmente das faculdades intelectuais, ou não é exigido pela existência dessas faculdades.