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Entretanto, com a subida ao trono do novo imperador
Yongtsching, surgiu para o cristianismo na China uma época de
grandes provações e perseguições. Já como príncipe herdeiro o
filho de Kang-hi não fizera nenhum mistério da sua aversão
aos europeus e à sua religião; depois da sua subida ao trono,
porém, pareceu ele dar ouvido apenas às insinuações dos seus
conselheiros inimigos dos cristãos.
“Os europeus” , declarava agora o censor imperial Fan em
um memorial, “ ensinam uma religião falsa e perigosa. Afirmam
que o Senhor do Céu nasceu em uma região chamada Yu-ya-a, na
época em que Han-gai-ti governava a China. Mais ainda, que
ele tomou o sangue de uma virgem santa chamada Ma-li-ya e
formou assim o seu corpo humano. Que, com o nome de Ye-su,
viveu trinta e três anos e depois foi imolado na cruz pelos
pecados dos homens. Nós não temos essa crença e nem tão pouco
a recebemos dos antigos. Aqueles que aceitam essa lei recebem
um chamado batismo; os cristãos mais antigos são iniciados
nos mistérios secretos e bebem a sagrada substancia. Eu não
sei que espécie de feitiçaria será essa. Eles não observam os
usos do império, mas possuem os seus livros e os seus ritos
próprios. Acaso isso não significa subverter a forma de
governo! Porventura não é suficiente a nossa antiga doutrina!
Já existe um grande número de cristãos nas imediações da
corte, e se não se puser um cobro imediato à sua atividade,
eles acabarão inundando o império.”
O tribunal dos ritos em Pequim, por sua vez, instaurou
um processo contra o cristianismo, e como o imperador
estivesse mal disposto com relação aos missionários, a corte
judiciaria decidiu contra os europeus e sua religião. Yong-
tching lavrou, dentro em breve, um edito, em conseqüência do
qual numerosíssimas igrejas e paróquias cristãs foram
destruídas, trezentos mil chineses encarcerados e obrigados à
abjuração.
Essa situação difícil, no entretanto, o que fez foi
proporcionar aos jesuítas na corte imperial uma nova
oportunidade para demonstrar o que eles eram capazes de
realizar pela maior glória de Deus; o desfavor do novo
soberano era para eles apenas um incentivo a mais para
aumentarem a sua capacidade até ao sumo grau e, por esse
meio, salvar do soçobro o fruto de um trabalho longo e
cansativo.
Quando, pouco tempo depois da subida ao trono de Yong-
tching, chegou a Pequim uma embaixada russa, com o fito de
concluir um importante tratado comercial com o governo
chinês, foram, de novo, os padres jesuítas os únicos em
condições de poder negociar com os delegados russos.
Tratando-se então de organizar a primeira embaixada chinesa
para a Rússia, foram os padres, tão somente, que souberam
quais as instruções que deviam ser dadas à legação, e de que
maneira a credencial para o Czar deveria ser redigida, afim
de que fosse aceita favoravelmente em S. Peterburgo.
No fim de contas os jesuítas realizaram quase que com
inteira autonomia as dificeis negociações com os
plenipotenciários russos, e obtiveram um tratado mais
favorável para a China do que o haviam esperado em Pequim.
Não podia deixar de acontecer que esse sucesso contribuísse
para que o imperador viesse a formar uma melhor opinião
acerca dos missionários, e, nessa ocasião, o padre Parrenin
obteve uma suavização enorme das medidas decretadas contra os
cristãos.
Yong-tching não havia herdado o interesse científico do
pai e não possuía nenhuma compreensão para a matemática e a
astronomia. Mas, agora, acabou reconhecendo que os jesuítas
entendiam mais da administração do estado do que os seus
próprios ministros; por isso, daí por diante, ele passou a
tratar os missionários muito amigavelmente e lhes permitiu
até mesmo que mandassem vir da Europa para a corte mais dois
padres da Ordem.
Assim haviam os jesuítas conquistado de novo uma posição
influente, e o favor imperial, do qual eles agora podiam se
alegrar outra vez, protegeu em medida significativa também as
comunidades cristãs em todo o império. Pois com isso não
apenas as ordens de perseguido haviam sido substancialmente
suavizadas; também os mandarins nas províncias não ousavam
agir com todo o rigor contra uma religião cujos sacerdotes
gozavam em Pequim de tão alto prestígio.
Sob o governo de Kien-long, o subsequente imperador
mandchú, a situação dos missionários e dos seus cristãos iria
piorar de novo, substancialmente. Kien-long, de resto, tinha
para com a religião estranha, que lhe parecia perigosa aos
interesses do Estado, apenas ódio e desconfiança, e assim foi
que ele, dentro em breve, decretou medidas que visavam um
extermínio completo do cristianismo. Dessa feita a situação
pareceu sumamente desesperadora e, pois, agora, nem um só
dentre os ministros e grandes podia se atrever a fazer
ponderações ao imperador e induzi-lo à suavização de seus
decretos. Aquilo que Kien-long ordenava devia ser executado
sem tardança, e sua palavra tinha que ser considerada como
sabedoria suprema, como ordem direta do céu.
Pois esse quarto soberano da dinastia dos mandchús era
mais orgulhoso de que mesmo os mais orgulhosos dentre os
Mings o haviam sido. Vivia em rigoroso isolamento no seu
palácio, cujas salas continham tudo quanto fora fabricado na
China, Japão e Índia, em obras darte magníficas e magníficas
preciosidades. Rodeado apenas por suas mulheres e eunucos,
Kien-long vivia, qual um deus, entregue à sua própria
adoração. Quando os ministros e príncipes lhe apresentavam os
seus relatórios, então eram obrigados, deitados no solo, o
rosto colado à terra, a esperar, silenciosos, as ordens do
imperador, e a executá-las ao pé da letra, qual se fossem
instruções divinas.
Se sucedia que Kien-long abandonava alguma vez o
palácio, para percorrer as ruas da capital, então, já na
véspera, soldados a cavalo irrigavam todo o caminho que o
imperador pensava percorrer, e cuidavam de que todas as lojas
se fechassem, todas as janelas e portas fossem veladas com
espesso pano, afim de que nenhum mortal lograsse por os olhos
no sublime soberano.
Assim é que, durante muito tempo, os jesuítas não
encontraram nenhuma oportunidade para falar ao potentado,
imbuído de sua divindade, e para induzi-lo a uma atitude mais
branda com relação à religião cristã. Na verdade os padres
detinham ainda em suas mãos a presidência do tribunal
matemático, pois, agora como antes, ninguém, a não ser eles,
conhecia o cálculo exato do calendário anual. Assim é que o
presidente jesuíta do tribunal podia também, juntamente com
alguns outros dignatários, apresentar relatórios ao
imperador, uma vez que outra; mas ele também tinha que se
estender no chão a fio comprido, e o imperador o favorecia
com um olhar amigável ou com uma palavra branda tanto quanto
os outros mandarins.
Embora os outros padres, que tinham chegado a Pequim,
levando em conta a permissão concedida pelo antigo imperador,
houvessem podido, em conseqüência disso, permanecer ali e
demonstrar muitas vezes suas habilidades diplomáticas e
matemáticas, mesmo assim isso não causou no imperador
impressão alguma. Com a indiferença de um filho dos deuses
verdadeiramente sublime, tomava ele conhecimento de todos os
serviços que lhe prestavam sem dar uma só palavra e, em
nenhum momento, considerava necessário mostrar-se reconhecido
a isso por meio de um favor especial.
Mas, justamente no momento em que se tinha a impressão
de que toda a influencia dos jesuítas na China se tornara sem
mais esperanças, foi que veio em ajuda dos padres,
precisamente o conceito de divindade de Kien-long,
concedendo-lhes a oportunidade de alimentá-la. Kien-long, na
verdade, tinha sempre a impressão de que o seu palácio e seus
jardins, apesar das preciosidades que continham, não eram
suficientemente magníficos para servir como sitio de moradia
ao mais sublime filho dos deuses. Incessantemente estava ele
a imaginar como poderia aperfeiçoar mais ainda a suntuosidade
do seu lugar de permanência terrena.
Mandou revestir as paredes dos seus aposentos de ouro
puro e pedras preciosas e, depois, por cima dessa camada de
ouro, foram pintadas paisagens com pássaros e flores pelos
melhores pintores do império. Cuidado especial, porém,
dedicou ele à preparação da sua residência estival de Yoen-
ming-yoen. Os jardins, com os quais estavam ligados os
inúmeros pavilhões e templos do palácio, excediam a tudo
quanto jamais houvesse sido construído em qualquer parte do
mundo; já que a natureza, somente, não podia satisfazer o
gosto do imperador, haviam sido arranjados aí montes, vales,
bosques e rios artificiais; através de vales amáveis
serpenteavam agora, em inflexões artificiais arroios grandes
e pequenos ; ora estreitavam-se-lhes as margens entre colinas
e penhascos artificiais, ora se ampliavam eles em lagos,
sobre os quais balançavam-se barcas suntuosas.
Sobre uma ilha rochosa colocada no meio de um desses
lagos, erguia-se o grande palácio com mais de cem aposentos ;
daí podiam-se avistar, perfeitamente, os outros edifícios, em
número de mais de duzentos. Galerias, alamedas, terraços,
anfiteatros, bosques de flores e pontes, tudo isso se unia
para formar um quadro de sedução inexcedível.
Mas, apesar disso, o imperador não se mostrava ainda
satisfeito e, constantemente, mandava procurar pintores,
jardineiros e técnicos, que estivessem em condições de
enfeitar com mais beleza ainda as paredes das casas de
recreio, tornar as paisagens artificiais dos seus jardins
ainda mais alegres. Esses pintores, jardineiros e mecânicos,
porém, eram ao mesmo tempo as únicas criaturas que tinham
livre ingresso em todas as partes do palácio imperial. Como
Kien-long, além disso, vigiasse pessoalmente os diversos
trabalhos, esses operários e artistas eram os únicos que
estavam em situação de entrever o soberano em estreita
vizinhança.
Quando os jesuítas se inteiraram dessa paixão do
imperador, não se passou muito tempo e, de repente, pareceu
que a Sociedade de Jesus não era mais do que um grêmio de
pintores e arquitetos, e que o cristianismo fosse,
exclusivamente, uma doutrina esotérica de jardinagem. Como o
imperador estivesse descontente com os parques existentes até
então, os seus ministros esquadrinharam toda Pequim em busca
dos melhores artistas em jardinagem, depois os jesuítas
alardearam, imediatamente, que não havia segredo dessa arte
que eles não dominassem de maneira completíssima.
Quando Kien-long, depois, procurava outra vez alguém que
pudesse embelezar os açudes e arroios, os jesuítas mandaram
lhe comunicar que ninguém melhor do que eles sabia trabalhar
com essas obras hidráulicas. Eram retratistas, quando o
imperador andava em busca de algum, e quando ele queria
enfeitar as suas paredes com pássaros e flores, logo se
encontrava um padre, que entendia justamente dessas coisas e
de maneira excelente.
Dentro em pouco a casucha situada junto à entrada dos
jardins da residência de verão e destinada aos diversos
operários e técnicos, abrigava uma turba de missionários
jesuítas e agora também pertenciam os padres ao número dos
raros felizardos, a quem era permitido residir na proximidade
imediata do sublime filho dos deuses.
Dado que eles, agora, tinham de trabalhar nos aposentos
mais íntimos da residência do imperador, e depois nos jardins
ou nos pavilhões da família imperial, entraram eles em toda a
parte, puderam ver o palácio inteiro e nada mais ficou oculto
aos seus olhos. Assim é que conseguiram ver também aquela
estranha cidade privada, que Kien-long mandara erigir para si
mesmo e que não tinha igual no mundo inteiro. Kien-long
concebera a idéia de se compensar do rigoroso isolamento que
a dignidade do seu cargo lhe impunha, de maneira original, e
assim é que mandara construir no interior do seu palácio uma
cidade artificial, que servia apenas para o seu divertimento.
Havia ali muralhas, torres, becos, praças, templos,
átrios, mercados, lojas e palácios em perfeita forma; até um
porto especial fora construído. Se o imperador tinha desejo
de ver como, na verdade, transcorria a vida dos seus súditos,
então dirigia-se a essa cidade particular e fazia com que os
seus eunucos representassem uma peça da vida diária chinesa.
Esses eunucos se travestiam de mercadores, operários ou
soldado; era um que conduzia um carrinho de mão, era outro
que levava cestos, eram navios que chegavam ao porto, eram
barracas que se abriam, mercadores que celebravam as suas
mercadorias, o povo que afluía para as casas de chá e
tabernas, mascates e mercadores que trafegavam por ali, gente
a discutir, a gritar e a fazer alarido, e até mesmo os
batedores de carteira entravam em ação eram presos, levados à
presença do juiz e castigados com bastonadas.
Quando, agora, o imperador encontrava seus novos
pintores, construtores e mecânicos, ora aqui ora ali durante
o trabalho, acontecia muitas vezes que ele os favorecesse com
uma interpelação, lhes distribuísse, pessoalmente,
incumbências referentes à maneira pela qual desejava que isso
ou aquilo fosse ornamentado, ou sucedia também que ele
deixasse cair uma palavra de satisfação pelos serviços deles.
Constituía isso uma distinção, em troca da qual um chinês
qualquer teria dado todos os seus haveres, e agora os
jesuítas desfrutavam dessa felicidade imensurável, eles, os
pregadores de uma religião, que, ao mesmo tempo, vinha sendo
perseguida em todo o império com rigor implacável!
Sim, o imperador agora vinha até mesmo e cada vez com
mais freqüência, aos aposentos e parques, em que os jesuítas
trabalhavam e, dentro em breve, ofereceu-se aos padres a
oportunidade de poderem pedir graças para os perseguidos
cristãos chineses. De uma feita estava o padre Castiglione
ocupado justamente com um fresco num dos aposentos imperiais,
quando Kien-long entrou ali e manifestou o seu contentamento.
Eis que o missionário se rojou aos pés do Imperador e
estendeu-lhe uma petição a favor dos cristãos chineses; Kien-
long recebeu-a amavelmente e disse: “Vou ler a tua petição,
fica tranqüilo e continua pintando!” Se bem que não tivesse
ele se decidido a revogar as determinações anteriores,
resolveu, no entretanto, dado que os frescos de Castiglione o
tinham contentado tanto, dar ordem aos seus ministros para
que suspendessem a perseguição aos cristãos, até segunda
ordem.
Os padres Sickelpart, Panzi, Salusti e Poirot pintavam
incansavelmente, em parte a óleo sobre o vidro, em parte a
aquarela sobre seda, retratos, paisagens, frutas, pássaros e
peixes; Sickelpart com a sua arte provocou em tal medida o
agrado do imperador, que foi elevado à categoria de mandarim
de primeira classe. O padre Brossard, por sua vez, esforçou-
se e com sucesso, por conquistar o favor do imperador,
mediante trabalhos de vidro de especial finura. Dentro em
breve Kien-long incumbiu os jesuítas da direção de uma
academia de pintura, que foi instalada em um edifício próximo
ao palácio e na qual, agora, alunos chineses passaram a se
educar nas artes européias.
Muitas vezes era dificílimo o satisfazer sempre os
caprichos do imperador e o adaptar-se, sem oposição, a todos
os seus mutáveis desejos. Um dos padres informou, nessa
ocasião, melancolicamente, à pátria: “ Todos os nossos
trabalhos são inspecionados pelo imperador. Primeiramente nós
fazemos esboços que ele muitas vezes modifica, conforme bem
lhe aprouver; que essa modificação seja boa ou má, isso é
coisa que somos obrigados a aceitar caladinhos, pois aqui o
imperador é quem entende melhor de tudo.”
Quando, uma vez, alguns príncipes tártaros rebeldes
haviam dado a conhecer a sua submissão, o padre Atiret
recebeu, subitamente, a ordem para se dirigir ao castelo de
caça Dje-hol na Tartaria, pois o imperador queria que fosse
registrada em um quadro a cerimônia da submissão. Chegado a
Dje-hol, o pobre padre viu tantos semblantes, trajes e
solenidades na sua frente que, durante muito tempo, não
atinou com a maneira por que iria representar tudo isso em um
quadro.
Mas, apenas a cerimonia da submissão dos príncipes
tártaros chegara ao fim, e eis que também já um ministro
transmitia ao missionário a ordem de começar, imediatamente,
a feitura do quadro, dado que o imperador queria ver o
trabalho pronto ainda na noite do mesmo dia. Atiret pintou
como um desesperado; no meio do quadro colocou ele o
imperador metido em vestes suntuosas, em torno dele desenhou
com toda a presteza algumas centenas de figuras. Logo depois
já aparecia de novo o ministro e informava que o imperador
desejava ver o quadro. O desenho de Atiret satisfez de tal
maneira a Kien-long, que ele exclamou muitas vezes: “ Hen
hão!” , “muito bom!”.
O padre, esgotado que estava, tinha ido descansar, mas
já de madrugada foi chamado de novo ao palácio, no qual o
imperador acabara de nomear mandarins justamente a onze dos
príncipes tártaros recém submetidos; por isso os seus
retratos deveriam ser pintados a toda a pressa. Que outra
coisa mais restava ao desventurado missionário, senão
executar também essa nova ordem, para glória de Deus?
Dirigiu-se ele, assim, para a sala em que os onze tártaros já
estavam à espera dele, e começou a pintar o primeiro.
Enquanto estava trabalhando, os outros príncipes comprimiam-
se em torno dele e sobrecarregavam-no com perguntas de toda a
espécie; ele tinha que arranjar respostas para eles e, além
disso, continuar pintando sem cessar e, nem sequer por um
gesto, lhe era licito dar a perceber o seu desagrado. Seis
dias se passaram assim, até que, realmente, os onze retratos
ficaram prontos. Os tártaros foram tomados de extrema
admiração pela semelhança de seus retratos, olhavam uns para
os outros e explodiam em ruidosas gargalhadas quando
comparavam os traços dos seus semblantes com os retratos. ‘
Retornando a Pequim, Kien-long desejou que fossem
aprontadas algumas gravuras em cobre, como lembrança da
conquista de Turkestão e nos quais deveriam ser representados
os acontecimentos principais dessa expedição. Nenhum dos
padres havia, jamais, se ocupado com trabalhos dessa
natureza, e assim é que se encontraram completamente
perplexos, a princípio, diante dessa inesperada incumbência.
Mas, depois, o padre Renoit resolveu aprender nos livros a
arte da gravação em cobre e, por fim, conseguiu, realmente,
fabricar cento e quatro folhas grandes, as quais foram
impressas na França e muito agradaram ao Imperador. A todo o
instante surgiam novas encomendas, que deviam ser executadas
imediatamente; até mesmo o padre Atiret, já ancião e
gravemente enfermo, viu-se obrigado a pintar o soberano em
poses sempre novas, ora a cavalo, ora sentado, ora de pé.
“Estar acorrentado dia após dia” , escreveu o padre
atormentado de morte, para os seus irmãos em Roma, “ ter
apenas os domingos e dias santos livres para as adorações e,
além disso, não poder pintar coisa alguma de acordo com o
gosto da gente, tudo isso me incitaria a regressar à Europa,
e quanto mais depressa melhor; mas eu me lembro de que o meu
pincel está sendo de alguma utilidade para a religião e
dispõe o imperador favoravelmente para com os missionários.
Isso e mais a esperança de poder ver o céu no fim dos meus
afãs e trabalhos, é o único atrativo que aqui me retém e aos
demais irmãos.”
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