|
Pax Christi.
No ano de mil quinhentos e noventa e oito, fui eleito na Congregação Provincial para ir tratar com
V. P. coisas de importância, para bem desta província do Brasil, e entre outros papéis levei um da vida do
Padre José de Anchieta, cujus memória in benedictiones est, escrita pelo Padre Quirício Caxa conforme as
informações muito certas, que o Padre Pero Rodrigues sendo provincial, lhe deu por escrito, de padres nossos
que com o Padre José trataram, em diversas casas desta costa..
Foi lida nos Colégios de Portugal, em Roma e outras partes com admiração dos nossos, e causou
novos desejos de perfeição ouvirem tão raros exemplos de virtude. Vendo eu isto fiz menção, por carta ao
mesmo padre, que tornando Sua Reverência a visitar visse se se podiam aquelas coisas do Padre José
confirmar mais e autorizar com testemunhos autênticos, de pessoas de fora da Companhia, (ainda que os dos
nossos padres e irmãos não são menos certos), porque tornando-se a escrever a mesma vida, teria mais
autoridade e causaria nos ânimos dos que a ouvissem maior devoção.
Pareceu ao padre o conselho, e quando tornei de Europa, achei em sua mão cinco feitos de
testemunhos autênticos, tirados juridicamente pelo prelado administrador do Rio de Janeiro, e vigários do seu
distrito, todos de pessoas antigas e graves, que conheceram e trataram muitos anos com o Padre José, assim
na Cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, como em quatro Capitanias em que o padre mais residiu.
Aos quais testemunhos ajuntando os dos nossos religiosos, autênticos também, e jurados diante de
mim, com testemunhos presentes, entreguei ao mesmo Padre Pero Rodrigues, pedindo-lhe aceitasse o trabalho
de escrever esta vida, conforme aos papéis e informações sobreditas. Aceitou o padre a empresa, e acabou com
muita diligência. Os originais autênticos, fiz guardar no cartório da Província.
Com esta vai uma cópia para consolação de V. P. e de toda nossa Companhia. Resta-me pedir ser
encomendado nos Santos Sacrifícios, e a bênção de V. P.
Da Bahia oito de maio de seiscentos e seis.
FERNÃO CARDIM
|
|