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Infelizmente o apóstolo não teve continuadores. Salvo raríssimas
exceções, o missionário moderno é um agente prejudicialíssimo no
agravar todos os desequilíbrios do estado emocional dos tabaréus.
Sem a altitude dos que o antecederam, a sua ação é negativa:
destrói, apaga e perverte o que incutiram de bom naqueles espíritos
ingênuos os ensinamentos dos primeiros evangelizadores, dos quais não
tem o talento e não tem a arte surpreendente da transfiguração das
almas. Segue vulgarmente processo inverso do daqueles: não aconselha
e consola, aterra e amaldiçoa; não ora, esbraveja. É brutal e
traiçoeiro. Surge das dobras do hábito escuro como da sombra de uma
emboscada armada à credulidade incondicional dos que o escutam. Sobe
ao púlpito das igrejas do sertão e não alevanta a imagem arrebatadora
dos céus; descreve o inferno truculento e flamívomo, numa algaravia
de frases rebarbativas a que completam gestos de maluco e esgares de
truão.
É ridículo, e é medonho. Tem o privilégio estranho das bufonerias
melodramáticas. As parvoíces saem-lhe da boca trágicas.
Não traça ante os matutos simples a feição honesta e superior da
vida — não a conhece; mas brama em todos os tons contra o pecado;
esboça grosseiros quadros de torturas; e espalha sobre o auditório
fulminado avalanches de penitências, extravagando largo tempo, em
palavrear interminável, fungando as pitadas habituais e engendrando
catástrofes, abrindo alternativamente a caixa de rapé e a boceta de
Pandora...
E alucina o sertanejo crédulo; alucina-o, deprime-o,
perverte-o.
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