UM CHOQUE GALVÂNICO NA EXPEDIÇÃO COMBALIDA

Na tarde de 11 de julho, porém, um vaqueiro, escoltado por três praças de cavalaria, apareceu inesperadamente no acampamento. Trazia um ofício do coronel Medeiros notificando a sua vinda e requisitando forças necessárias à proteção de grande comboio que puxava.

Foi um choque galvânico na expedição combalida.

Não há descrevê-lo. De uma à outra ponta das alas, correu, empolgante, a nova auspiciosa e transfigurados os rostos abatidos, corretas as posturas dobradas, movendo-se febrilmente em alacridade imensa, exposta em abraços, em gritos, em estrepitosas exclamações, entrecruzaram-se, em todos os sentidos os lutadores. Desdobraram-se as bandeiras. Ressoaram os clarins, tocando a alvorada. Formaram as bandas de todos os corpos. Restrugiram hinos... O vaqueiro rude, vestido de couro, montado no campeão suarento e resfolegante, empunhando ao modo de lança a guiada longa, olhava surpreendido para tudo aquilo. A sua corpulência de atleta contrastava com os corpos mirrados que turbilhonavam em roda. Lembrava um gladiador possante entre boximanos irrequietos. A torrente ruidosa das aclamações rolou até a sanga do hospital de sangue. Os doentes e os moribundos calaram os gemidos — transmudando-os em vivas...

O nordeste soprando rijo ruflava as bandeiras ondulantes; e arremessava sobre o arraial, misturadas, baralhadas, as notas metálicas das bandas marciais e milhares de brados de triunfo...

Descia a noite. De Canudos ascendia — vibrando longamente pelos descampados num ondular sonoro, que vagarosamente avassalava o silêncio dos ermos e se extinguia a pouco e pouco em ecos indistintos refluindo nas montanhas longínquas — o toque da Ave-Maria...