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A sua biografia compendia e resume a existência da sociedade
sertaneja. Esclarece o conceito etiológico da doença que o vitimou.
Delineemo-la de passagem.
“Os Maciéis que formavam, nos sertões entre Quixeramobim e
Tamboril, uma família numerosa de homens válidos, ágeis,
inteligentes e bravos, vivendo de vaqueirice e pequena criação,
vieram, pela lei fatal dos tempos, a fazer parte dos grandes fastos
criminais do Ceará, em uma guerra de família. Seus êmulos foram
os Araújos, que formavam uma família rica, filiada a outras das
mais antigas do norte da província.
Viviam na mesma região, tendo como sede principal a povoação de
Boa Viagem, que demora cerca de dez léguas de Quixeramobim.
Foi uma das lutas mais sangrentas dos sertões do Ceará, a que se
travou entre estes dois grupos de homens, desiguais na fortuna e
posição oficial, ambos embravecidos na prática das violências, e
numerosos.” Assim começa o narrador consciencioso breve notícia
sobre a genealogia de Antônio Conselheiro. Os fatos criminosos a
que se refere são um episódio apenas entre as razzias, quase
permanentes, da vida turbulenta dos sertões. Copiam mil outros de
que ressaltam, evidentes, a prepotência sem freios dos mandões de
aldeia e a exploração pecaminosa por eles exercida sobre a bravura
instintiva do sertanejo. Luta de famílias — é uma variante apenas
de tantas outras, que ali surgem, intermináveis, comprometendo as
próprias descendências que esposam as desavenças dos avós, criando
uma quase predisposição fisiológica e tornando hereditários os
rancores e as vinganças.
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