CAVANDO O PRÓPRIO TÚMULO

Preparavam, junto ao santuário, o último reduto — uma escavação retangular e larga. Abriam o próprio túmulo. Batidos de todos os lados, iriam recuando, palmo a palmo, braço a braço, todos, para aquela cova onde se sepultariam, indomáveis.

Escavavam, buscando a água que lhes faltava, cacimbas profundas. As mulheres, e as crianças, e os velhos, e os enfermos, colaboravam nestes trabalhos brutos. Mal reprofundavam, porém, além de dous metros os estratos duríssimos, filtrados pelos últimos estagnados do rio. Alcançavam-nos, às vezes; para vê-los, uma hora depois, extintos, sugados na avidez de esponja da atmosfera exsicada. E começou logo a torturá-los a sede, avivada pelas comoções e pela canícula queimosa. O combate fez-se-lhes, então, um divertimento lúgubre, um atenuante a maiores misérias. Atiravam desordenadamente, a esmo, sem o antigo rigor da pontaria, para toda a banda, num dispêndio de munições capaz de esgotar o arsenal mais rico. Os que se encurralavam na igreja nova continuavam varejando os altos, enquanto os demais tolhiam de frente, a dous passos, os batalhões entranhados no casario. Aí se realizavam episódios brutais. A apertura do campo e o estreito das bitesgas, impropriando o movimento às seções mais diminutas, davam à luta o traço exclusivo de uma bravura feroz. Alguns oficiais, ao avançarem, desapertavam os talins e jogavam a um lado a espada. Batiam-se a faca.

Mas a empresa tornara-se, ao cabo, dificílima. A constrição do sítio condensara nas casas os que se defendiam e estes, enchendo-as, opunham resistência crescente. Quando cediam num ou noutro ponto, os vencedores tinham, ainda, inopinadas surpresas. A traça dos sertanejos colhia-os mesmo naquele transe doloroso.