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Aproveitando este tumulto, os jagunços fuzilavam-nos a salvo e sem
piedade. A breve trecho os combatentes, que não tinham o anteparo
dos espaldões, acumularam-se às abas das vivendas ainda intactas,
ou alongaram-se, distanciados, pelos becos da parte conquistada —
evitando a zona perigosa. Esta, porém, alastrava-se. Baqueavam
combatentes para além das trincheiras; caíam inteiramente fora da
órbita flamejante do combate e, como nos maus dias da primeira semana
do assédio, a mínima imprevidência e o mais rápido afastamento
daqueles abrigos frágeis eram uma temeridade.
O capitão-secretário de comando da 2a coluna, Aguiar e Silva,
quando lhe passava por perto um pelotão em marcha, retirou-se por um
instante do cunhal que o acobertava e, para animar o ataque, tirou
entusiasticamente o chapéu, levantando um viva à República. Mas
não pronunciou as últimas sílabas. Varou-o uma bala, em pleno
peito, derribando-o.
O comandante do 25a, major Henrique Severiano, teve idêntico
destino. Era uma alma belíssima, de valente. Viu em plena refrega
uma criança a debater-se entre as chamas. Afrontou-se com o
incêndio. Tomou-a nos braços: aconchegou-a do peito — criando
com um belo gesto carinhoso o único traço de heroísmo que houve
naquela jornada feroz — e salvou-a.
Mas expusera-se. Baqueou, malferido, falecendo poucas horas
depois.
E assim por diante. O combate transformara-se em tortura inaturável
para os dous antagonistas.
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