TRIUNFOS PELO TELÉGRAFO

Estes fatos chegavam às capitais da República e dos Estados inteiramente baralhados.

Do exposto pode bem inferir-se que era isto inevitável.

Quando os próprios lidadores mal rastreavam, na discordância dos sucessos, um juízo qualquer sobre a própria situação, é natural que os que atentavam, de longe, para o drama imerso na profundura dos sertões, desandassem em conjecturas sobre instáveis, falsas. Falou-se a princípio na vitória. A travessia de Cocorobó, anteriormente sabida, pressagiava que o exército houvesse abatido, de um salto, os rebeldes. Notícias esparsas provindas do campo de ação, ou telegramas incisivos, marcavam além disto, à luta, um desenlace em três dias. Volvidos, porém, quinze, patenteou-se a inanidade de esforços dos que se haviam entrado do capricho de fantasiar triunfos. Viu-se que os jagunços haviam mais uma vez vingado o círculo cortante das baionetas. De sorte que enquanto a expedição se exauria no ermo da Favela e ia tombar, exaurida por um sangria profunda, num trecho de Canudos — a opinião nacional, pela imprensa, extravagava, balanceando as mais aventurosas hipóteses que ainda saltaram pelos prelos.

O espantalho da restauração monárquica negrejava, de novo, no horizonte político atroado de tormentas. A despeito das ordens do dia em que se cantava vitória, os sertanejos apareciam como os chouans depois de Fontenay.

Olhava-se para a História através de uma ocular invertida: o bronco Pajeú emergia com o facies dominador de Chatelineau. João Abade era um Charette de chapéu de couro.

Depois do dia 18 a ansiedade geral cresceu. A notícia do acometimento, como a dos anteriores, principiando num entoar de vitória, descambava depois, a pouco e pouco, recortando-se de lancinantes dúvidas, até quase à convicção de uma derrota. Chegavam, todavia, da zona das operações, telegramas paradoxais e deploravelmente extravagantes.

Calcavam-se numa norma única — Bandidos encurralados! Vitória certa! Dentro de dous dias estará em nosso poder a cidadela de Canudos! Fanáticos visivelmente abatidos!

Mais verídicos, porém, começaram desde o dia 27 de julho a seguir para o litoral, demandando a capital da Bahia — os documentos vivos da catástrofe (...)