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Nada se sabe ao certo o papel que coube a Vicente Mendes Maciel,
pai de Antônio Vicente Mendes Maciel (o Conselheiro), nesta
luta deplorável. Os seus contemporâneos pintam-no como “homem
irascível mas de excelente caráter, meio visionário e desconfiado,
mas de tanta capacidade que sendo analfabeto negociava largamente em
fazendas, trazendo tudo perfeitamente contado e medido de memória,
sem mesmo ter escrita para os devedores”. O filho, sob a disciplina
de um pai de honradez proverbial e ríspido, teve educação que de
algum modo o isolou da turbulência da família. Indicam-no
testemunhas de vista, ainda existentes, como adolescente tranqüilo e
tímido, sem o entusiasmo feliz dos que seguem as primeiras escalas da
vida; retraído, avesso à troça, raro deixando a casa de negócio
do pai, em Quixeramobim, de todo entregue aos misteres de caixeiro
consciencioso, deixando passar e desaparecer vazia a quadra triunfal
dos vinte anos. Todas as histórias, ou lendas entretecidas de
exageros, segundo o hábito dos narradores do sertão, em que eram
muita vez protagonistas os seus próprios parentes, eram-lhe entoadas
em torno evidenciando-lhes sempre a coragem tradicional e rara. A
sugestão das narrativas, porém, tinha o corretivo enérgico da
ríspida sisudez do velho Mendes Maciel e não abalava o ânimo do
rapaz. Talvez ficasse latente, pronta a se expandir em condições
mais favoráveis. O certo é que falecendo aquele em 1855, vinte
anos depois dos trágicos sucessos que rememoramos, Antônio Maciel
prosseguiu na mesma vida corretíssima e calma. Arrostando com a
tarefa de velar por três irmãs solteiras revelou abnegação rara.
Somente depois de as ter casado procurou, por sua vez, um enlace que
lhe foi nefasto.
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