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Data daí a sua existência dramática. A mulher foi a sobrecarga
adicionada à tremenda tara hereditária, que desequilibraria uma vida
iniciada sob os melhores auspícios.
A partir de 1858 todos os seus atos denotam uma transformação de
caráter. Perde os hábitos sedentários. Incompatibilidades de
gênio com a esposa ou, o que é mais verossímil, a péssima índole
desta, tornam instável a sua situação.
Em poucos anos vive em diversas vilas e povoados. Adota diversas
profissões.
Nesta agitação, porém, percebe-se a luta de um caráter que se
não deixa abater. Tendo ficado sem bens de fortuna, Antônio
Maciel, nesta fase preparatória de sua vida, a despeito das
desordens do lar, ao chegar a qualquer nova sede de residência procura
logo um emprego, um meio qualquer honesto, de subsistência. Em
1859, mudando-se para Sobral, emprega-se como caixeiro.
Demora-se, porém, pouco ali. Segue para Campo Grande, onde
desempenha as funções modestas de escrivão do Juiz de Paz. Daí,
sem grande demora, se desloca para Ipu. Faz-se solicitador, ou
requerente no fórum.
Nota-se já em tudo isto um crescendo para profissões menos
trabalhosas, exigindo cada vez menos a constância do esforço; o
contínuo despear-se da disciplina primitiva, a tendência acentuada
para a atividade mais irrequieta e mais estéril, o descambar para a
vadiagem franca. Ia-se-lhe ao mesmo tempo, na desarmonia do lar, a
antiga serenidade.
Este período de vida mostra-o, todavia, aparelhado de sentimentos
dignos. Ali estavam, em torno, permanentes lutas partidárias
abrindo-lhe carreira aventurosa, em que poderia entrar como tantos
outros, ligando-se aos condutícios de qualquer conquistador de
urnas, para o que tinha o prestígio tradicional da família.
Evitou-as sempre. E na descensão contínua, percebe-se alguém
que perde o terreno, mas lentamente, reagindo, numa exaustão
dolorosa.
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