PLANO DO ASSALTO

Delineou-se o ataque. Ficariam na Favela cerca de 1.500 homens sob o mando geral do general Savaget, guardando a posição: 2ª e 7ª Brigadas dos coronéis Inácio Henrique de Gouveia e Antonino Nery, a última recém- formada, assim como a de artilharia, que secundaria o ataque num bombardeio firme.

A 1ª coluna, dirigida pelo general Barbosa, marcharia na frente para o combate encalçada logo pela ala de cavalaria e uma divisão de dous Krupps de 7 1/2. A 2ª acompanhá-la-ia fechando a retaguarda. Entravam na ação 3.349 homens repartidos em cinco brigadas: a 1ª, do coronel Joaquim Manuel de Medeiros, composta de dous batalhões apenas, o 14º e 30º, respectivamente comandados pelos capitão João Antunes Leite e tenente-coronel Antônio Tupi Ferreira Caldas; a 3ª, do tenente-coronel Emídio Dantas Barreto, reunia o 5º, 7º, 9º e 25º, todos chefiados por capitães, Antônio Nunes de Sales, Alberto Gavião Pereira Pinto, Carlos Augusto de Souza e José Xavier dos Anjos; a 4ª, do coronel Carlos Maria da Silva Teles, formava-se com o 12º e o 31º sob o mando dos capitães José Luís Buchelle e José Lauriano da Costa; a 5ª, do coronel Julião Augusto da Serra Martins, que substituíra o general Savaget na direção da 2ª coluna, estava sob o comando do major Nonato Seixas e constituía-se com o 35º e 40º Batalhões do major Olegário Sampaio e capitão J. Vilar Coutinho; e, finalmente, a 6ª, do coronel Donaciano de Araújo Pantoja, com o 26º e 32º comandados pelo Capitão M. Costa e major Colatino Góis. O 5º de Polícia baiana, chefiado pelo capitão do exército Salvador Pires de Carvalho Aragão, acompanhava, autônomo, a 2ª coluna.

O tenente-coronel Siqueira de Meneses, com um contingente reduzido, enquanto o grosso da expedição atacasse devia operar ligeira diversão à direita, sobre os contrafortes da Fazenda Velha. Definidos os lutadores, via-se que ali estavam alguns para os quais o sertão de Canudos era um campo estreito: Carlos Teles, uma altivez sem par sangrando sob o cilício da farda, lembrava o belo episódio do cerco de Bajé; Tupi Caldas — nervoso, irrequieto e bulhento, trazia invejável reputação de coragem da refrega mortífera de Inhanduí, contra os federalistas do Sul; Olímpio da Silveira, o chefe da artilharia, com o seu facies de estátua, — face bronzeada vincada de linhas imóveis — realizava a criação rara de um lutador modesto, impassível diante da glória e diante do inimigo, seguindo retilineamente pela vida entre o tumulto das batalhas, como obediente a uma fatalidade incoercível. Nos menos graduados uma oficialidade moça, ávida de renome, anelando perigos, turbulenta, jovial, destemerosa: Salvador Pires, comandante do 5º de Polícia, que ele mesmo formara com os tabaréus robustos escolhido nos povoados do S. Francisco; Wanderley, destinado a tombar heroicamente no último passo de uma carga temerária; Vieira Pacheco, o gaúcho intrépido que chefiava o esquadrão de lanceiros; Frutuoso Mendes e Duque Estrada, que desarticulariam pedra por pedra os muros da igreja nova; Carlos de Alencar, cujo comando se extinguiria pela morte de todos os soldados da ala de cavalaria que dirigia; e outros... Toda essa gente aguardava com impaciência o combate. Porque o combate era a vitória decisiva. Segundo o velho hábito, os lutadores recomendaram aos que permaneceriam na Favela que tivessem pronto o almoço, para quando tornassem da empresa fatigante...