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Interrompamos, porém, este respigar em ruínas. Mais uma vez, no
decorrer dos sucessos que nos propusemos narrar, forramo-nos à
demorada análise de acontecimentos que fogem à escala superior da
história. As linhas anteriores têm um objetivo único: fixar, de
relance, símiles que se emparelham na mesma selvatiqueza. A rua do
Ouvidor valia por um desvio das caatingas. A correria do sertão
entrava arrebatadamente pela civilização adentro. E a guerra de
Canudos era, por bem dizer, sintomática apenas. O mal era maior.
Não se confinara num recanto da Bahia. Alastrara-se. Rompia nas
capitais do litoral. O homem do sertão, encourado e bruto, tinha
parceiros porventura mais perigosos.
Valerá a pena defini-los?
A força portentosa da hereditariedade, aqui, como em toda a parte e
em todos os tempos, arrasta para os meios mais adiantados — enluvados
e encobertos de tênue verniz de cultura — trogloditas completos. Se
o curso normal da civilização em geral os contém, e os domina, e os
manieta, e os inutiliza, e a pouco e pouco os destrói,
recalcando-os na penumbra de uma existência inútil, de onde os
arranca, às vezes, a curiosidade dos sociólogos extravagantes ou as
pesquisas da psiquiatria, sempre que um abalo profundo lhes afrouxa em
torno a coesão das leis, eles surgem e invadem escandalosamente a
História. São o reverso fatal dos acontecimentos, o claro-escuro
indispensável aos fatos de maior vulto.
Mas não têm outra função, nem outro valor; não há
analisá-los. Considerando-os, o espírito mais robusto permanece
inerte a exemplo de uma lente de flintglass, admirável no refratar,
ampliadas, imagens fulgurantes, mas imprestável se a focalizam na
sombra.
Deixemo-los; sigamos.
Antes, porém, insistamos numa proposição única: atribuir a uma
conjuração política qualquer a crise sertaneja, exprimia palmar
insciência das condições naturais da nossa raça.
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