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Volvem os vaqueiros ao pouso e ali, nas redes bamboantes, relatando
as peripécias da vaquejada ou famosas aventuras de feira, passam as
horas matando, na significação completa do termo, o tempo, e
desalterando-se com a umbuzada saborosíssima, ou merendando a iguaria
incomparável de jerimum com leite.
Se a quadra é propícia, e vão bem as plantações da vazante, e
viça o panasco e o mimoso nas soltas dilatadas, e nada revela o
aparecimento da seca, refinam a ociosidade nos braços da preguiça
benfazeja. Seguem para as vilas se por lá se fazem festas de
cavalhadas e mouramas, divertimentos anacrônicos que os povoados
sertanejos reproduzem, intactos, com os mesmos programas de há três
séculos. E entre eles a exótica encamisada, que é o mais curioso
exemplo do aferro às mais remotas tradições. Velhíssima cópia das
vetustas quadras dos fossados ou arrancadas noturnas, na Península,
contra os castelos árabes, e de todo esquecida na terra onde nasceu,
onde a sua mesma significação é hoje inusitado arcaísmo, esta
diversão dispendiosa e interessante, feita à luz de lanternas e
archotes, com os seus longos cortejos de homens a pé, vestidos de
branco, ou à maneira de muçulmanos, e outros a cavalo em animais
estranhamente ajaezados, desfilando rápidos, em escaramuças e
simulados recontros, é o encanto máximo dos matutos folgazãos.
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