|
Segue a boiada vagarosamente, à cadência daquele canto triste e
preguiçoso. Escanchado, desgraciosamente, na sela, o vaqueiro,
que a revê unida e acrescida de novas crias, rumina os lucros
prováveis: o que toca ao patrão, e o que lhe toca a ele, pelo trato
feito. Vai dali mesmo contando as peças destinadas à feira;
considera, aqui, um velho boi que ele conhece há dez anos e nunca
levou à feira, mercê de uma amizade antiga; além um mumbica
claudicante, em cujo flanco se enterra estrepe agudo, que é preciso
arrancar; mais longe, mascarado, cabeça alta e desafiadora,
seguindo apenas guiado pela compressão dos outros, o garrote bravo,
que subjugou, pegando-o, de saia, de derrubando-o, na caatinga;
acolá, soberbo, caminhando folgado, porque os demais o respeitam,
abrindo-lhe em roda um claro, largo pescoço, envergadura de
búfalo, o touro vigoroso, inveja de toda a redondeza, cujas armas
rígidas e curtas relembram, estaladas, rombas e cheias de terra,
guampaços formidáveis, em luta com os rivais possantes, nos
logradouros; além, para toda a banda, outras peças, conhecidas
todas, revivendo-lhe todas, uma a uma, um incidente, um pormenor
qualquer da sua existência primitiva e simples.
E prosseguem, em ordem, lentos, ao toar merencório da cantiga, que
parece acalentá-los, embalando-os com o refrão monótono:
|
Ê cou mansão...
Ê cou... ê cão!
|
|
ecoando saudoso nos descampados mudos...
|
|