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Não surpreende que para lá convergissem, partindo de todos os
pontos, turmas sucessivas de povoadores convergentes das vilas e
povoados mais remotos.
Diz uma testemunha: “Alguns lugares desta comarca e de outras
circunvizinhas, e até do Estado de Sergipe, ficaram desabitados,
tal a aluvião de famílias que subiam para os Canudos, lugar
escolhido por Antônio Conselheiro para o centro de suas operações.
Causava dó verem-se expostos à venda nas feiras, extraordinária
quantidade de gado cavalar, vacum, caprino, etc., além de outros
objetos, por preços de nonada, como terrenos, casas, etc. O anelo
extremo era vender, apurar algum dinheiro e ir reparti-lo com o Santo
Conselheiro.”
Assim se mudavam os lares.
Inhambupe, Tucano, Cumbe, Itapicuru, Bom Conselho, Natuba,
Maçacará, Monte Santo, Jeremoabo, Uauá, e demais lugares
próximos; Entre Rios, Mundo Novo, Jacobina, Itabaiana e
outros sítios remotos forneciam constantes contingentes. Os raros
viajantes que se arriscavam a viagens naquele sertão topavam grupos
sucessivos de fiéis que seguiam, ajoujados de fardos, carregando as
mobílias toscas, as canastras e os oratórios, para o lugar eleito.
Isoladas a princípio, essas turmas adunavam-se pelos caminhos,
aliando-se a outras, chegando, afinal, conjuntas, a Canudos.
O arraial crescia vertiginosamente, coalhando as colinas.
A edificação rudimentar permitia à multidão sem lares fazer até
doze casas por dia; — e, à medida que se formava, a tapera colossal
parecia estereografar a feição moral da sociedade ali acoutada. Era
a objetivação daquela insânia imensa. Documento iniludível
permitindo o corpo de delito direto sobre os desmandos de um povo.
Aquilo se fazia a esmo, adoudadamente.
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