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Entretanto a vila de Itapicuru esteve para ser o fecho da sua carreira
extraordinária. Foi, ali, naquele mesmo ano, entre o espanto dos
fiéis, inopinadamente preso. Determinara a prisão uma falsidade,
que o seu modo de vida excepcional e as antigas desordens domésticas de
algum modo justificavam: diziam-no assassino da esposa e da própria
mãe.
Era uma lenda arrepiadora.
Contavam que a última, desadorando a nora, imaginara perdê-la.
Revelara, por isto, ao filho, que era traído; e como este,
surpreso, lhe exigisse provas do delito, propôs-se apresentá-las
sem tardança. Aconselhou-o a que fantasiasse qualquer viagem,
permanecendo, porém, nos arredores, porque veria, à noite,
invadir-lhe o lar o sedutor que o desonrara. Aceito o alvitre, o
infeliz, cavalgando e afastando-se cerca de meia légua, torceu
depois de rédeas, tornando, furtivamente, por desfreqüentados
desvios, para uma espera adrede escolhida, de onde pudesse observar
bem e agir de pronto.
Ali quedou longas horas, até lobrigar, de fato, noite velha, um
vulto aproximando-se de sua vivenda. Viu-o achegar-se
cautelosamente e galgar uma das janelas. E não lhe deu tempo para
entrar. Abateu-o com um tiro. Penetrou, em seguida, de um salto,
no lar e fulminou com outra descarga a esposa infiel, adormecida.
Voltou, depois, para reconhecer o homem que matara... E viu com
horror que era sua própria mãe, que se disfarçara daquele modo para
a consecução do plano diabólico.
Fugira, então, na mesma hora, apavorado, doudo, abandonando
tudo, ao acaso, pelos sertões em fora... A imaginação popular,
como se vê, começava a romancear-lhe a vida, com um traço vigoroso
de originalidade trágica.
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