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As primeiras notícias do desastre prolongaram por muitos dias a
agitação em todo o país. A parte de combate do major Cunha
Matos, deficientíssima, mal indicando as fases capitais da ação,
eivada de erros singulares, tinha apenas a eloqüência do alvoroço
com que fora escrita. Incutia nos que a liam o pensamento de uma
hecatombe, ulteriormente agravada de outras informações. E estas,
instáveis, acirrando num crescendo a comoção e a curiosidade
públicas, desencontradamente, lardeadas de afirmativas
contraditórias, derivavam pelos espíritos inquietos num desfiar de
conjecturas intermináveis.
Não havia acertar no abstruso das opiniões com a mais breve noção
sobre as cousas. Ideavam-se sucessos sofregamente aceitos com todos
os visos de realidade, até que outros, diversos, os substituíssem,
dominando por um dia ou por uma hora as atenções, e extinguindo-se
por sua vez diante de outras versões efêmeras. De sorte que num
alarma crescente — do boato medrosamente boquejado no recesso dos lares
à mentira escandalosa rolando com estardalhaço pelas ruas, se
avolumaram apreensões e cuidados. Era uma tortura permanente de
dúvidas cruciantes. Nada se sabia de positivo. Nada sabiam mesmo os
que haviam compartido o revés. Na inconsistência dos boatos, uma
informação única tomava os mais diversos cambiantes.
Afirmava-se: o coronel Tamarindo não fora morto; salvara-se
valorosamente, com um punhado de companheiros leais, e estava a
caminho de Queimadas. Contravinha-se: salvara-se mas estava
gravemente ferido em Maçacará, onde chegara exausto.
Depois uma afirmativa lúgubre: o infeliz oficial fora de fato
trucidado. E assim em seguida. Agitavam-se idéias alarmantes: os
sertanejos não eram “um bando de carolas fanáticos”; eram um
“exército instruído, disciplinado” — admiravelmente armados de
carabinas Mauser, tendo ademais artilharia, que manejavam com
firmeza. Alguns dos nossos, e entre eles o capitão Vilarim, haviam
sido despedaçados por estilhas de granadas...
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