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Canudos, velha fazenda de gado à beira do Vaza-Barris, era, em
1890, uma tapera de cerca de cinqüenta capuabas de pau-a-pique.
Já em 1876, segundo o testemunho de um sacerdote, que ali fora,
como tantos outros, e nomeadamente o vigário de Cumbe, em visita
espiritual às gentes de todo despeadas da terra, lá se aglomerava,
agregada à fazenda então ainda florescente, população suspeita e
ociosa, “armada até aos dentes” e “cuja ocupação, quase
exclusiva, consistia em beber aguardente e pitar uns esquisitos
cachimbos de barro em canudos de metro de extensão” de tubos
naturalmente fornecidos pelas solanáceas (canudos-de-pito),
vicejantes em grande cópia à beira do rio. Assim, antes da vinda do
Conselheiro, já o lugarejo obscuro — e o seu nome claramente se
explica — tinha, como a maioria dos que jazem desconhecidos pelos
nossos sertões, muitos germens da desordem e do crime. Estava,
porém, em plena decadência quando lá chegou aquele em 1893;
tijupares em abandono; vazios os pousos; e, no alto de um esporão da
Favela, destelhada, reduzida às paredes exteriores, a antiga
vivenda senhoril, em ruínas... Data daquele ano a sua
revivescência e crescimento rápido. O aldeamento efêmero dos
matutos vadios, centralizado pela igreja velha, que já existia, ia
transmudar-se, ampliando-se em pouco tempo, na Tróia de taipa dos
jagunços.
Era o lugar sagrado, cingido de montanhas, onde não penetraria a
ação do governo maldito. A sua topografia interessante modelava-o
ante a imaginação daquelas gentes simples como o primeiro degrau,
amplíssimo e alto, para os céus...
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