OS “SERENOS”

Busquemos um exemplo único, o último.

Em 1850 os sertões de Cariri foram alvorotados pelas depredações dos Serenos, exercitando o roubo em larga escala.

Aquela denominação indicava companhias de penitentes que à noite, nas encruzilhadas ermas, em torno das cruzes misteriosas, se agrupavam, adoudadamente, numa agitação macabra de flagelantes, impondo-se o cilício dos espinhos, das urtigas e outros duros tratos de penitência. Ora, aqueles agitados saíram certo dia, repentinamente, da matriz do Crato, dispersos, em desalinho — mulheres em prantos, homens apreensivos, crianças trementes — em procura dos flagícios duramente impostos. Dentro da igreja, missionários recém-vindos haviam profetizado próximo fim do mundo.

Deus o dissera — em mau português, em mau italiano e em mau latim — estava farto dos desmandos da terra... E os desvairados foram pelos sertões em fora, esmolando, chorando, rezando, numa mândria deprimente, e como a caridade pública não os podia satisfazer a todos, acabaram — roubando.

Era fatal. Os instrutores do crime foram, afinal, infelicitar outros lugares e a justiça a custo reprimiu o banditismo incipiente.