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Era urgente uma intervenção mais enérgica do governo.
Impunham-na, do mesmo passo, as apreensões crescentes, as últimas
peripécias da luta e a própria insciência sobre o curso real das
operações. As opiniões como sempre disparatavam, discordes. Para
a maioria os rebeldes contavam com elementos sérios. Era evidente.
Não se compreendia que batidos em todas as ordens do dia —
heroicamente escritas — eles, tendo ainda franca a fuga para os
sertões de São Francisco, onde não havia descobri-los,
esperassem, pertinazes, no arraial, que se lhes fechassem, pelo
complemento do assédio, as derradeiras saídas. Deduziam-se,
lógicos, corolários graves. À parte a hipótese do sobre-humano
devotamento, fazendo-os sucumbir em massa sob os escombros dos templos
consagrados, imaginavam-se-lhes traças guerreiras formidáveis
embaralhando de todo a estratégia regular. O número, que se dizia
diminuto, dos que permaneciam em Canudos arrostando tudo, era,
certo, um engodo armado a arrastar para ali exclusivamente o exército
e iludi-lo em combates estéreis, até que se congregassem, noutros
lugares, fortes contingentes para o assalto final, por toda a banda,
sobre os sitiantes, pondo-os entre dous fogos. Contravinham,
porém, juízos mais animadores. O coronel Carlos Teles, em carta
dirigida à imprensa, afirmou de maneira clara o número reduzido de
jagunços — duzentos homens válidos, talvez sem recursos nenhuns —
abastecidos e aparelhados apenas do que haviam tomado às anteriores
expedições. O otimismo, de fato exageradíssimo, do valente,
porém, afogou-se na incredulidade geral. Aniilavam-no todos os
fatos e sobretudo aquelas irrupções diárias de feridos, abalando num
crescendo a comoção nacional.
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