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É a árvore sagrada do sertão. Sócia fiel das rápidas horas
felizes e longos dias amargos dos vaqueiros. Representa o mais
frisante exemplo de adaptação da flora sertaneja. Foi, talvez, de
talhe mais vigoroso e alto — e veio descaindo, pouco a pouco, numa
intercadência de estios flamívomos e invernos torrenciais,
modificando-se a feição do meio, desinvoluindo, até se preparar
para a resistência e reagindo, por fim, desafiando as secas
duradouras, sustentando-se nas quadras miseráveis, mercê da energia
vital que economiza nas estações benéficas, das reservas guardadas
em grande cópia nas raízes.
E reparte-as com o homem. Se não existisse o umbuzeiro aquele trato
de sertão, tão estéril que nele escasseiam os carnaubais tão
providencialmente dispersos nos que os convizinham até ao Ceará,
estaria despovoado. O umbu é para o infeliz matuto que ali vive o
mesmo que a mauritia, para os garaúnos dos llanos. Alimenta-o e
mitiga-lhe a sede. Abre-lhe o seio acariciador e amigo, onde os
ramos recurvos e entrelaçados parecem de propósito feitos para a
armação das redes bamboantes. E ao chegarem os tempos felizes
dá-lhe os frutos de sabor esquisito para o preparo da umbuzada
tradicional.
O gado, mesmo nos dias de abastança, cobiça o sumo acidulado das
suas folhas. Realça-se-lhe, então, o porte, levantada, em
recorte firme, a copa arredondada, num plano perfeito sobre o chão,
à altura atingida pelos bois mais altos, ao modo de plantas
ornamentais entregues à solicitude de práticos jardineiros. Assim
decotadas semelham grandes calotas esféricas. Dominam a flora
sertaneja nos tempos felizes, como os cereus melancólicos nos
paroxismos estivais.
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