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Galgava o topo da Favela. Volvia em volta o olhar, para abranger de
um lance o conjunto da terra. — E nada mais divisava recordando-lhe
os cenários contemplados. Tinha na frente a antítese do que vira.
Ali estavam os mesmos acidentes e o mesmo chão, embaixo, fundamente
revolto, sob o indumento áspero dos pedregais e caatingas
estonadas... Mas a reunião de tantos traços incorretos e duros —
arregoados divagantes de algares, sulcos de despenhadeiros, socavas de
bocainas, criava-lhe perspectivas inteiramente novas. E quase
compreendia que os matutos crendeiros, de imaginativa ingênua,
acreditassem que “ali era o céu...”
O arraial, adiante e embaixo, erigia-se no mesmo solo perturbado.
Mas vistos daquele ponto, de permeio a distância suavizando-lhes as
encostas e aplainando-os — todos os serrotes breves e inúmeros,
projetando-se em plano inferior e estendendo-se, uniformes, pelos
quadrantes, davam-lhe a ilusão de uma planície ondulante e grande.
Em roda uma elipse majestosa de montanhas...
A Canabrava, a nordeste, de perfil abaulado e simples; a do Poço
de Cima, próxima, mais íngreme e alta; a de Cocorobó, no
levante, ondulando em seladas, dispersa em esporões; as vertentes
retilíneas do Calumbi ao sul; as grimpas do Cambaio, no correr para
o poente; e, para o norte, os contornos agitados do Caipã —
ligam-se e articulam-se no infletir gradual traçando, fechada, a
curva desmedida.
Vendo ao longe, quase de nível, trancando-lhe o horizonte, aquelas
grimpas altaneiras, o observador tinha a impressão alentadora de se
achar sobre platô elevadíssimo, páramo incomparável repousando
sobre as serras. Na planície rugada, embaixo, mal se lobrigavam os
pequenos cursos d’água, divagando, serpeantes... Um único se
distinguia, o Vaza-Barris. Atravessava-a, torcendo-se em
meandros. Presa numa dessas voltas via- se uma depressão maior,
circundada de colinas... E atulhando-a, enchendo-a toda de
confusos tetos incontáveis, um acervo enorme de casebres.
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