DIANTE DE UMA CRIANÇA

Um dos pequenos — franzino e cambaleante — trazia à cabeça, ocultando-a inteiramente, porque descia até aos ombros, um velho quepe reiúno, apanhado no caminho. O quepe, largo e grande demais, oscilava grotescamente a cada passo, sobre o busto esmirrado que ele encobria por um terço. E alguns espectadores tiveram a coragem singular de rir. A criança alçou o rosto, procurando vê-los. Os risos extinguiram-se: a boca era uma chaga aberta de lado a lado por um tiro!

As mulheres eram, na maioria, repugnantes. Fisionomias ríspidas, de viragos, de olhos zanagas e maus. Destacava-se, porém, uma. A miséria escavara-lhe a face, sem destruir a mocidade. Uma beleza olímpica ressurgia na moldura firme de um perfil judaico, perturbados embora os traços impecáveis pela angulosidade dos ossos apontando duramente no rosto emagrecido e pálido, aclarado de olhos grandes e negros, cheios de tristeza soberana e profunda.

Esta satisfez a ânsia curiosa contando uma história simples. Uma tragédia em meia dúzia de palavras. Um drama e bem dizer trivial, então, com o epílogo invariável de uma bala ou de um estilhaço de granada. Postas na saleta térrea de casebre comprimido, junto ao longo, as infelizes, rodeadas pelos grupos insistentes, foram vítimas de perguntas intermináveis.

Estas deslocaram-se por fim às crianças. Procurava-se a sinceridade na ingenuidade infantil.