NO ROSÁRIO

A tropa acampou, sem outros sucessos, naquele sítio.

Reuniram-se os combatentes, exceto a 3ª Brigada que se avantajara até às Baixas, seis quilômetros na frente. O comandante-em-chefe enviou, então, ao general Savaget, um emissário reiterando o compromisso anterior de se encontrarem, a 27, nas cercanias de Canudos.

Decamparam a 26, seguindo para o Rancho do Vigário, 18 quilômetros mais longe, após pequena alta nas Baixas.

Estavam a cerca de 80 quilômetros de Monte Santo. Em plena zona perigosa. A breve troca de balas da véspera pressupunha eventualidades de combates. Talvez esclarecidos pelo reconhecimento feito, os jagunços se dispusessem a refregas mais sérias. Denunciava-os, como sempre, de algum modo, a fisionomia da terra, a conformação do terreno que dali por diante se acidenta, eriçado de cômoros escalvados, até às Baixas, onde se alcantila a Serra do Rosário, de flancos duros e vegetação rara.

As tropas iam escalar pelo sul a antemural que circunscreve Canudos. Progrediam cautelosas na rota. Não ressoaram mais as cornetas. Formados cedo, os batalhões marcharam até ao sopé da serrania. Galgaram-na. Derivaram, depois, na descida pelo boqueirão que a separa do Rancho do Vigário.

Toda a coluna se subdividiu, ainda, largamente fracionada: enquanto a vanguarda atingia, ao entardecer, o pouso, a artilharia ligeira, que abandonara com os engenheiros o ronceiro 32, vinha pelos primeiros recostos da vertente e aquele ascendia vagarosamente, do outro lado, à feição dos trabalhos de sapa que lhe estradavam as ladeiras. A noite, e com a noite uma chuva torrencial batida de ventanias violentas, desceu sobre os expedicionários que em tais condições seriam facilmente desbaratados pelas guerrilhas dos adversários, velhos conhecedores do terreno. Não o fizeram. Tinham mais bem disposta outra posição, como veremos. Deixaram também em paz o comboio que seguia, perdido à retaguarda, pela estrada de Juetê. Haviam afrouxado os animais de tiro; e toda a carga de 53 carroças e 7 grandes carros de bois passara, subdividida, para as costas dos rijos sertanejos do 5º Batalhão de Polícia.

Passou, entretanto, em paz, a noite. No dia subseqüente, 27, emprazado para o encontro temeroso das duas colunas — apisoando ovantes os escombros do arraial investido — pôs-se tudo em movimento para a última jornada. E na alacridade singular sulcada de impaciências, de apreensões, e de entusiasmo vibrante, que antecede a vinda da batalha, ninguém cogitou nos companheiros remorados.

As brigadas abalaram, deixando de todo esquecido, ao longe, o comboio, desguarnecido por completo, porque os seus soldados já arcando sob grandes fardos, já auxiliando os raros muares que ainda suportavam as cargas, estavam nas mais impróprias condições para o mais ligeiro recontro.

Seguiram as brigadas: na frente a do coronel Gouveia com duas bocas de fogo; no centro a do coronel Olímpio da Silveira e a cavalaria; e depois, sucessivamente, as dos coronéis Thompson Flores e Medeiros. Atravessaram sobre dous pontilhões ligeiros o riacho do Angico. Estiraram-se vagarosamente, estrada em fora, numa linha de dez quilômetros.

Rompia a marcha o 25º Batalhão, ladeado de dous pelotões de flanqueadores, inúteis, mal rompendo a golpes de facão as galhadas.