III. O CAMBAIO

As massas do Cambaio amontoavam-se na frente, dispostas de modo caprichoso, fundamente recortadas e gargantas longas e circulantes como fossos, ou alteando-se em patamares sucessivos, lembrando desmedidas bermas de algum baluarte derruído, de titãs.

A imagem é perfeita. São vulgares naquele trato dos sertões esses aspectos originais da terra. As lendas das “cidades encantadas”, na Bahia, que têm conseguido dar à fantasia dos matutos o complemento de sérias indagações de homens estudiosos, originando pesquisas que fora descabido relembrar, não têm outra origem. E não se acredite que as exagere a imaginação daquelas gentes simples, iludindo tanto a expectativa dos graves respingadores que por ali têm perlustrado, levando ansioso anelo de sábias sociedades ou institutos, onde se debateu o caso interessante. Frios observadores atravessando escoteiros aquele estranho vale do Vaza-Barris têm estacado, pasmos, ao defrontar.

“serras de pedra naturalmente sobrepostas formando fortalezas e redutos inexpugnáveis com tal perfeição que parecem obras de ‘arte”’

Às vezes esta ilusão se amplia.

Surgem necrópoles vastas. Os morros, cuja estrutura se desvenda em pontiagudas apófises, em rimas de blocos, em alinhamentos de penedias, caprichosamente repartidos, semelham, de fato, grandes cidades mortas ante as quais o matuto passa, medroso, sem desfitar a esposa dos ilhais de cavalo em disparada, imaginando lá dentro uma população silenciosa e trágica de almas do outro mundo...

São deste tipo as “casinhas” que se vêem para lá do Aracati, perto da estrada de Jeremoabo a Bom Conselho; e outras, despontando por todos aqueles lugares e imprimindo um traço singularmente misterioso naquelas paisagens melancólicas.