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As massas do Cambaio amontoavam-se na frente, dispostas de modo
caprichoso, fundamente recortadas e gargantas longas e circulantes como
fossos, ou alteando-se em patamares sucessivos, lembrando desmedidas
bermas de algum baluarte derruído, de titãs.
A imagem é perfeita. São vulgares naquele trato dos sertões esses
aspectos originais da terra. As lendas das “cidades encantadas”, na
Bahia, que têm conseguido dar à fantasia dos matutos o complemento
de sérias indagações de homens estudiosos, originando pesquisas que
fora descabido relembrar, não têm outra origem. E não se
acredite que as exagere a imaginação daquelas gentes simples,
iludindo tanto a expectativa dos graves respingadores que por ali têm
perlustrado, levando ansioso anelo de sábias sociedades ou
institutos, onde se debateu o caso interessante. Frios observadores
atravessando escoteiros aquele estranho vale do Vaza-Barris têm
estacado, pasmos, ao defrontar.
“serras de pedra naturalmente sobrepostas formando fortalezas e redutos
inexpugnáveis com tal perfeição que parecem obras de ‘arte”’
Às vezes esta ilusão se amplia.
Surgem necrópoles vastas. Os morros, cuja estrutura se desvenda em
pontiagudas apófises, em rimas de blocos, em alinhamentos de
penedias, caprichosamente repartidos, semelham, de fato, grandes
cidades mortas ante as quais o matuto passa, medroso, sem desfitar a
esposa dos ilhais de cavalo em disparada, imaginando lá dentro uma
população silenciosa e trágica de almas do outro mundo...
São deste tipo as “casinhas” que se vêem para lá do Aracati,
perto da estrada de Jeremoabo a Bom Conselho; e outras, despontando
por todos aqueles lugares e imprimindo um traço singularmente
misterioso naquelas paisagens melancólicas.
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