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Não há relatar o que houve a 3 e a 4.
A luta, que viera perdendo dia a dia o caráter militar, degenerou,
ao cabo, inteiramente. Foram-se os últimos traços de um formalismo
inútil: deliberações de comando, movimentos combinados,
distribuições de forças, os mesmos toques de cornetas, e por fim a
própria hierarquia, já materialmente extinta num exército sem
distintivos e sem fardas.
Sabia-se de uma coisa única: os jagunços não poderiam resistir por
muitas horas. Alguns soldados se haviam abeirado do último reduto e
colhido de um lance a situação dos adversários. Era incrível:
numa cava quadrangular, de pouco mais de metro de fundo, ao lado da
igreja nova, uns vinte lutadores, esfomeados e rotos, medonhos de
ver-se, predispunham-se a um suicídio formidável. Chamou-se
aquilo o “hospital de sangue” dos jagunços. Era um túmulo. De
feito, lá estavam, em maior número, os mortos, alguns de muitos
dias já, enfileirados ao longo das quatro bordas da escavação e
formando o quadrado assombroso dentro do qual uma dúzia de moribundos,
vidas concentradas na última contração dos dedos nos gatilhos das
espingardas, combatiam contra um exército. E lutavam com relativa
vantagem ainda.
Pelo menos fizeram parar os adversários. Destes os que mais se
aproximaram lá ficaram, aumentando a trincheira sinistra de corpos
esmigalhados e sangrentos. Viam-se, salpintando o acervo de
cadáveres andrajosos dos jagunços, listras vermelhas de fardas e
entre elas as divisas do sargento-ajudante do 39o que lá entrara,
baqueando logo. Outros tiveram igual destino. Tinham a ilusão do
último recontro feliz e fácil: romperem pelos últimos casebres
envolventes, caindo de chofre sobre os titãs combalidos,
fulminando-os, esmagando-os... Mas eram terríveis lances,
obscuros para todo o sempre. Raro tornavam os que os faziam.
Aprumavam-se sobre o fosso e sopeavam-lhes o arrojo o horror de um
quadro onde a realidade tangível de uma trincheira de mortos,
argamassada de sangue e esvurmando pus, vencia todos os exageros da
idealização mais ousada. E salteava-os a atonia do assombro...
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