|
Este ataque chegou à Bahia com as proporções de batalha perdida,
pondo mais um solavanco no desequilíbrio geral, mais uma dúzia de
boatos no turbilhonar das conjecturas; e o governo começou a agir com
a presteza requerida pela situação. Reconhecida a ineficácia dos
reforços recém-enviados, cuidou de formar uma nova divisão,
arrebanhando os últimos batalhões dispersos pelos Estados, capazes
de mobilização rápida. E, para pulsear de perto a crise, resolveu
enviar para a base de operações um de seus membros, o Secretário de
Estado dos Negócios da Guerra, Marechal Carlos Machado de
Bittencourt.
Este seguiu em agosto para a Bahia, ao tempo que de todos os ângulos
do país abalavam novos lutadores. O movimento armado repentinamente
se generalizara, assumindo a forma de um levantamento em massa. As
tropas confluíam do extremo norte e do extremo sul, acrescidas dos
corpos policiais de S. Paulo, Pará e Amazonas. Nessa
convergência para o seio da antiga metrópole, o paulista, forma
delida do bandeirante aventuroso; o rio-grandense, cavaleiro e
bravo; e o curiboca nortista, resistente como poucos — índoles
díspares, homens de opostos climas, contrastando nos usos e
tendências étnicas, do mestiço escuro ao caboclo trigueiro e ao
branco, ali se agremiavam sob o liame de uma aspiração uniforme. A
antiga capital agasalhava-os no recinto de seus velhos baluartes,
rodeando num mesmo afago carinhoso e ardente a imensa prole havia três
séculos erradia. Depois de longamente dispersos, os vários fatores
da nossa raça volviam repentinamente ao ponto de onde tinham partido,
tendendo para um entrelaçamento belíssimo. A Bahia ataviara-se
para os receber. Transfigurou-se aquele fluxo e refluxo da campanha
— mártires que chegavam, combatentes que seguiam — e, partida a
habitual apatia, revestiu a feição guerreira do passado. As
inúteis fortalezas, que se lhe intercalam, decaídas à parceria
burguesa das casas, no alinhamento das ruas, prontamente reparadas,
cortadas as árvores que nasciam nas fendas das suas muralhas,
ressurgiam à luz, recordando as quadras em que rugiam naquelas ameias
as longas colubrinas de bronze. Nelas aquartelavam os contingentes
recém-vindos; o 1º Batalhão Policial de São Paulo com 458
praças e 21 oficiais, comandado pelo tenente-coronel Joaquim
Elesbão dos Reis; os 29º, 39º, 37º, 28º e 4º,
dirigidos pelo coronel João César de Sampaio, tenentes-coronéis
José da Cruz, Firmino Lopes Rego e Antônio Bernardo de
Figueiredo e major Frederico Mara, com efetivos sucessivos de 240
praças e 27 oficiais, 250 praças e 40 oficiais, 332
praças e 51 oficiais, 250 praças e 11 oficiais além de 36
alferes adidos, e o 4º com 219 praças e 11 alferes que era toda
a oficialidade, não tendo nem capitães nem tenentes. Por fim dous
corpos: o Regimento Policial do Pará, somando 640 combatentes,
comandados pelo coronel José Sotero de Meneses, e um da polícia do
Amazonas, sob o comando do tenente Cândido José Mariano, com
328 soldados.
Estes reforços, que montavam a 2.914 homens incluídos perto de
trezentos oficiais, foram repartidos em duas brigadas, a de linha ao
mando do coronel Sampaio e os da polícia — excluída a de S. Paulo
que seguira isolada na frente, sob o do coronel Sotero — constituindo
uma divisão que foi entregue ao general-de-brigada Carlos Eugênio
de Andrade Guimarães.
Todo o mês de agosto gastou-se em mobilizá-los. Chegavam
destacadamente à Bahia; municiavam-se e embarcavam para Queimadas e
dali para Monte Santo, onde deviam concentrar-se nos primeiros dias
de setembro. Os batalhões de linha, além de desfalcados, como o
indicam os números acima, reduzidos quase a duas companhias, vinham
desprovidos de tudo, sem os mais simples apetrechos bélicos — à
parte as espingardas velhas e fardamento ruço, que haviam servido na
recente campanha federalista do Sul.
|
|