15 DE MARÇO DE 1969. AUDIÊNCIA CONCEDIDA AO CONSELHO DOS LEIGOS.

Parece-nos inteiramente de acordo com o espírito do Concílio, e útil à renovação atualmente em curso na Igreja, que se estabeleça entre nós e vós um frutuoso diálogo.

Este diálogo muito útil, parece-nos mais necessário do que nunca nas atuais circunstâncias, marcadas, como todos sabem, por amplos questionamentos, por contestações múltiplas que podem, em medida justa, auxiliar a Igreja a renovar-se, mas que por vezes ameaçam perturbar a fé do povo cristão ao invés de confirmá-la e vivificá-la.

Sois testemunhas diretas em vossos diversos países destes movimentos de ação e pensamento, de suas manifestações várias, dos sentimentos profundos que os inspiram. Podeis apreciar os elementos preciosos e positivos que comportam, e a esse respeito trazer-nos a nós mesmos importantes elementos para avaliá-los. É o que esperamos do vosso Conselho. Foi esse um dos motivos que presidiram à sua instituição.

Mas o intercâmbio deve efetuar-se nos dois sentidos. Esperamos também de vós, que o vosso senso da Igreja, vossa dedicação àquele que embora indigno - é hoje sua cabeça visível, vos inspirem ao mesmo tempo fazer-vos seus intérpretes junto aos vossos irmãos, levando-lhes o eco de suas preocupações pastorais, suas ordens, e também as diretrizes que lhe cabe dar para o apostolado.

Em suma, é preciso que se estabeleça uma corrente de vós para nós, e de nós para vós. É de máxima importância que Igreja, como em qualquer organismo vivo, a cabeça e os membros estejam intimamente ligados, num mesmo amor a Cristo Salvador, que as preocupações dos filhos sejam conhecidas pelo Pai e por ele compartilhadas. Mas também deve a palavra do Pai ser ouvida por todos os filhos, compreendida e posta em prática. Para isso igualmente contamos convosco. Pois bem o sabeis, esta palavra não deseja senão repetir a mensagem do Evangelho, mas é também a mensagem total que ela quer repetir, em sua plenitude. Disso podeis assegurar ao voltardes de Roma, todos aqueles que agora representais junto a nós.

A grande preocupação do papa é que todos os cristãos sejam fiéis a Cristo, levem generosamente a boa-nova da salvação pelo mundo, e onde quer que estejam, nas famílias, nas cidades e aldeias, nas usinas e escritórios; nos laboratórios e secretarias, nos negócios e fazendas, por todo o mundo, enfim, sejam testemunhas vivas, ardentes, generosas, alegres e comunicativas, do amor do Senhor.

Na atual crise que abala o mundo, na mudança que sacode as instituições, mesmo as mais bem estabelecidas, há como que uma vertigem apoderando-se das almas mais seguras, no seio mesmo da Igreja e até dos que se haviam generosamente dedicado ao seu serviço exclusivo.

Todos nesta hora de perturbação devem refletir, escutar e compreender as interrogações e contestações que dizem respeito a todos nós, e nos obrigam a um salutar exame de consciência: seremos nós bons servos da Igreja, autênticas testemunhas do Evangelho, oons mensageiros do Cristo? Poderemos nós, como são Paulo, que recebeu do Cristo a divina certeza: "Basta-te a minha graça, pois a torça alcança perfeição na fraqueza", poderemos digo, responder com o brado da fé e esperança, que brotou do peito do grande Apóstolo: "De bom grado prefiro gloriar-me nas minhas fraquezas, para que repouse sobre mim a força de Cristo"? (2 Cor 12,9).

Sim, queridos filhos, sede sempre mais disponíveis à graça de Cristo e dóceis às suas inspirações, a todas elas: às que vos são mais familiares, certo, mas também àquelas que animam outras famílias espirituais, outros movimentos de apostolado, diversos dos vossos.