19 DE ABRIL DE 1969. AUDIÊNCIA AOS PARTICIPANTES DA ASSEMBLÉIA GERAL DA CONFERÊNCIA EPISCOPAL ITALIANA.

Gostaríamos de perguntar-vos: quais são os traços característicos, ressaltados pelos documentos do recente Concílio, na figura típica e ideal do bispo em nossos dias? Que incidência, por exemplo, pode ter a colegialidade na espiritualidade interior e na atitude do bispo, tão luminosamente ressaltada pela constituição dogmática Lumen Gentium? Que conseqüências pode tirar do decreto Christus Dominus, sobre o múnus pastoral dos bispos, e da constituição Gaudium et Spes, em particular da constituição sobre a liturgia Sacrosanctum Concilium e assim por diante?

Pensamos que esta pesquisa pode oferecer uma fonte de longa e proveitosa meditação, e aperfeiçoar em nós o conceito da dignidade e da missão, do serviço e da caridade, específicos de quem tem a tremenda e inefável ventura de qualificar-se como sucessor dos apóstolos. Ninguém há de negar que a "cura de almas", precisamente depois do tridentino, se torne o caráter saliente da tarefa episcopal, com tudo o que acarreta de autenticidade evangélica, de pobreza e simplicidade, de interioridade e sacralidade, de atividade pastoral e missionária, de inventividade e aproximação, quanto ao mundo moderno. Que urgência não assume hoje no bispo o seu primário e pessoal dever de anunciar a palavra de Deus, ou seja, o seu dever de catequista e pregador? Gostaríamos de ressaltar uma nota, dentre as demais: o bispo de ontem podia ser preservado e defendido pela sua autoridade. É verdade que devia fazer a visita pastoral e estava obrigado a uma residência, mas podia tutelar o exercício de sua missão, com certa distância de seu clero e de seu povo. Hoje não é mais assim.

Hoje o bispo torna-se de novo pai e pastor, irmão, amigo, conselheiro e consolador no meio do Povo de Deus. Sua presença se faz habitual e popular. Sua autoridade é ao mesmo tempo firme e suave. Torna-se até possível uma conversação com ele bastante familiar. Seu trabalho carros irmãos, se multiplica e sua paciência é posta em prova. Mas a eficácia de seu ministério aumentará, e sua pessoa sempre venerada como convém, tornar-se-á amada.

Lembremos o conselho de são Paulo: Praedica verbum, insta opportune, importune. Argue, obsecra, increpa in omni patientia et doctrina. Prega a palavra, insiste a tempo e a contratempo. Refuta, ameaça, exorta com infatigável paciência e desejo de instruir (2 Tim 4,2).

Não é verdade que tudo isto e o que se segue é dito para nós? E nos perece que o exercício deste ministério pastoral (poderíamos dizer autêntica ascese pastoral), é muito mais necessário nas relações com os sacerdotes e seminaristas.