28 DE AGOSTO DE 1968. AUDIÊNCIA ESPECIAL AOS LAUREADOS DA AÇÃO CATÓLICA EM CASTEL GANDOLFO.

Queremos propor a vossa erudita meditação e a uma profunda reflexão vossa, o problema apresentado algumas vezes de maneira muito desmedida, pelas situações de angústia, das quais acontece sermos espectadores e atores. Será que o homem moderno pode, de fato, manter honestamente a convicção de que Deus representa para nós uma "alienação?" Será que somente rejeitando a Deus, é que se pode chegar a conhecer a plenitude de liberdade e de responsabilidade que nos permitiria empreender com êxito a "construção" do mundo e da história? Ou, pelo contrário, não deveríamos confessar que é precisamente a ausência e a negação de Deus - profundamente do ser, da verdade, da moralidade e de todos os valores - que "alteram" o homem, destruindo-lhe o equilíbrio essencial para precipitá-lo no egoísmo desumanizado, tecnocrata e opressor, e finalmente para o confinar numa contestação total e absurda? Lembremo-nos hoje, na festa de santo Agostinho, das famosas palavras que dirigia a Deus: "Senhor, tu nos fizeste para ti e nosso coração está inquieto enquanto não achar repouso em ti. Fecisti nos ad te et inquietum est cor nostrum donec requiescat in te".

Não negamos que, por vezes, não é Deus, mas a idéia que os homens fazem dele, que pode conduzir a uma evasão fácil, enquanto o Ser supremo é a fonte do mais sublime ideal. Seguramente tal idéia pode e deve tornar-se mais clara, para que seja menos inadequada à indizível realidade que exprime. Certo, para chegar à representação e à presença de Deus no pensamento e na vida do homem de hoje, é preciso levar em consideração os condicionamentos tecnológicos, as mutações culturais, as mudanças que se produzem nas estruturas psicológicas individuais e coletivas. Mas acentuamos que isto não deve induzir-nos ao subjetivismo, ao relativismo, ao historicismo ou ao ceticismo, nem tampouco a um humanismo fechado ou a um secularismo estéril. Estas posições espirituais, sejam errôneas, sejam pelo menos, insuficientes, não podem garantir de maneira que não seja nem equívoca nem efêmera, a. aquisição dos bens pessoais e comunitários aos quais aspira constantemente a humanidade. Não podem encontrar segurança real senão com referência a Deus.