Paulo VI

ALOCUÇÕES SOBRE A IGREJA

1967 - 1972


23 DE DEZEMBRO DE 1967. ALOCUÇÃO AOS MEMBROS DO SACRO COLÉGIO E DA PRELATURA ROMANA.

Para descrever a face atual da Igreja duas grandes linhas se impõem, provenientes do Concílio, que são manifestamente reconfortantes. A primeira é a de sua renovação moral e espiritual, a da procura de sua autenticidade na fé e na caridade, no seguimento e mesmo na presença do próprio Cristo, seu fundador, mestre e redentor. Esta primeira linha é, por conseguinte, sua vitalidade, santidade, no penoso cumprimento de sua missão, e na expectativa amorosa de sua consumação escatológica no feliz encontro com o muito amado Senhor Jesus.

A segunda linha característica é a de um novo contato com o mundo atual, contato mais estreito, mais exemplar, mais benéfico, mais apostólico, ao mesmo tempo mais discreto e espiritual. Vemos o esforço de uma aproximação apostólica, que se estende desde os irmãos, que tentamos conduzir à reconciliação e à comunhão, até todos os homens de nosso tempo, seja quais forem, vizinhos ou afastados, pequenos ou grandes. Uns, entusiasmados pelo seu domínio crescente sobre o mundo exterior, outros, desiludidos ou desesperados por não serem senhores de si mesmos, e por não poderem possuir a vida em toda sua verdade e plenitude. Os primeiros, absorvidos pelos trabalhos e ingentes problemas sociais, que derivam desta busca constante. Os outros, esmagados pelos sofrimentos e tentações da existência humana. Todos hoje, graças a um novo desejo de amar e de servir, estão no coração aberto e vivo da Igreja, bem consciente de seus limites, mas não menos certa dei saia vocação para a salvação de toda a humanidade.

Não podemos defender-nos, diante de tal visão, de uma impressão inebriante e entusiasta de beleza: a Igreja católica, esta Igreja à qual temos a honra e a sorte de pertencer e o devei- de servir, esta Igreja que, precisamente pelo motivo de estar consagrada a uma perfeição inatingível pelas forças humanas, é hoje e de toda a parte objeto de toda a espécie de críticas, desconfianças e aversão, esta Igreja estruturada historicamente e canonicamente como é, nos revela hoje mais do que nunca algo de sua beleza espiritual. Os sinais, os frêmitos, os dons do Espírito Santo, são ainda visíveis na sua face humana, para aqueles que observam esta face sempre sulcada de rugas, banhada de suor, de lágrimas de sangue, mas radiante de graça e de verdade, e nos deixam entrever como será um dia sua beleza total, na claridade e na santidade. Convidam-nos a celebrar nossa muito querida Igreja, como a humanidade nova, que o Cristo fundou em seu nascimento.