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Trabalhadores, que vos podemos dizer nestes instantes de um breve
colóquio?
Falar-vos-emos com nosso coração. Dir-vos-emos coisas muito
simples, mas cheias de significado, o que, em resumo, não é
fácil. Temos consciência das dificuldades que existem em fazer-nos
entender por vós. Ou será que não vos compreendemos
suficientemente? Seja como for, permanece o fato de que,
dirigir-vos a palavra nos é bastante difícil. Dá-nos a impressão
de que entre nós e vós não existe uma linguagem comum. Vós estais
mergulhados num mundo estranho ao que nós homens de Igreja vivemos.
Vós pensais e trabalhais de maneira tão diversa do modo com que se
pensa e trabalha na Igreja. Dizíamos, ao dirigir-vos nossa
saudação, que somos irmãos e amigos: mas será isto verdade na vida
real? Efetivamente todos, nos damos conta deste fato evidente: o
trabalho e a religião, no mundo atual, são duas coisas separadas,
desligadas e não raro opostas. Outrora não era assim.
Esta separação, porém, esta incompreensão mútua, não tem
nenhuma razão de ser. Não é este o momento de vos explicarmos o
porquê.
Basta-nos por hora o fato de que nós exatamente como papa da Igreja
católica, como pobre, mas autêntico representante daquele Cristo de
cujo nascimento celebramos esta noite a recordação, ou melhor, a
renovação espiritual, viemos aqui no meio de vós, para dizer-vos
que esta separação, entre o mundo do trabalho e o mundo religioso e
cristão, não existe, ou melhor, não deve existir. Repetimos uma
vez mais daqui deste centro siderúrgico, que neste momento
consideramos a expressão típica do trabalho atual, levado às suas
mais altas manifestações industriais, de engenho, de ciência, de
técnica, de dimensões econômicas e finalidades sociais, que a
mensagem cristã não lhe é estranha, não lhe é recusada. Pelo
contrário, diremos até que, quanto mais a obra humana aqui se
afirma, nas suas dimensões de progresso científico, de potência,
de força, de organização, de utilidade, de maravilha, numa
palavra, nas suas dimensões de moderno, tanto mais merece e reclama
que Jesus o Operário-Profeta, o Mestre e amigo da humanidade, o
Salvador do mundo, o Verbo de Deus, que encarna nossa natureza
humana, o homem das dores e do amor, o Messias misterioso e árbitro
da história, anuncie aqui, e daqui para o mundo, sua mensagem de
renovação e de esperança.
Trabalhadores que nos escutais: Jesus, o Cristo, é para vós.
Lembrai-vos e meditai: o Cristo no Evangelho, aquele mesmo que a
Igreja católica vos apresenta e vos oferece, é para vós. Ele
está convosco esta noite.
Não tenhais medo que esta presença, que esta aliança na fé e na
prática, queira mudar o aspecto, a finalidade, o ordenamento de uma
empresa como esta ou outras semelhantes; que pretenda clericalizar o
trabalho moderno do homem, como vulgarmente se diz, ou entravar-lhe
de algum modo a expansão, opor a finalidade religiosa da vida ao
desenvolvimento da atividade humana, o Evangelho ao progresso
científico, econômico e social.
Ouvistes, certamente, falar do recente Concílio, no qual a Igreja
exprimiu e precisou seu pensamento, no que se refere às suas
relações com o mundo contemporâneo. Olhai bem o que diz este
Concílio: "Longe de pensar em contrapor as conquistas do engenho e
da habilidade humana ao poder de Deus, como se a criatura racional
fosse rival do Criador, os cristãos, pelo contrário, estão
convencidos de que as vitórias do gênero humano são um sinal da
grandeza de Deus e fruto de seus desígnos inefáveis. Quanto mais
aumenta o poder dos homens, tanto mais cresce e se alarga a sua
responsabilidade pessoal e comunitária".
Isto é válido para aqueles que põem em confronto o cristianismo e o
humanismo do trabalho moderno e serve especialmente para aqueles que
introduzem no trabalho os recursos da ciência, da técnica, da
organização industrial, de molde a proporcionar obras ciclópicas e
perfeitas, como esta em que nos encontramos; ou ainda que chegam a
dominar de tal modo no mundo as leis e as forças da natureza, que
tornam possíveis à ousadia do mesmo homem, empresas impensáveis e
maravilhosas, como, por exemplo, aquele que precisamente durante esta
noite levará três homens a girar em volta da lua. Honra aos
pioneiros da expansão da inteligência e da atividade do homem e
glória a Deus que irradia sua luz sobre a face do mesmo homem, e
imprime nas faculdades humanas o poder real de dominar as criaturas que
o rodeiam (Gen 1, 20ss).
Este pensamento e este princípio são dos que nos devem tornar fonte
de meditação para o Homem moderno, c suscitar nele, não o
orgulho, a tragédia de Prometeu, mas sim aquele sentimento
primordial e dinâmico de simpatia e de confiança para com a natureza
da qual fazemos parte, na qual somos exploradores e que se chama
maravilha. Sentimento de juventude e inteligência que, passando da
observação deslumbrada das coisas à investigação suprema de suas
origens, se torna descoberta, adoração e oração.
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