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É com grande satisfação que vos recebemos no término de vossos
trabalhos, caros filhos e amigos, membros e consultores do Conselho
dos leigos. Sentimo-nos feliz por ouvir, através de vossas
palavras, o eco do magnífico apostolado do Povo de Deus no mundo.
Vós, sois, de certo modo, nossos peritos e conselheiros neste
campo, e foi por este motivo que permitimos que alguns de vós tomassem
a palavra durante esta audiência. Estamos grato de modo particular a
Dom Derek Werlock, à Dona Branca Alves, e ao Sr. Rienze
Rupasinghe por terem sido vossos porta-vozes diante de nós.
Eles exprimiram muito bem o orgulho e a alegria que sentis pela grande
missão que a Igreja vos confiou, sem dissimular as dificuldades
encontradas: as "tensões" que se tornaram. como parece, uma
característica de nossa, época e que afetam também o campo do
aposolado - tensão entre a Igreja e o mundo, entre a fé e a vida,
entre o clero e o laicado ate. Mas parece-nos entrever no vosso
tríplice testemunho, uma decidida vontade de dominar estás tensões,
transformando-as em diálogo, para depois as colocardes ao serviço do
bem. Louvamos o vosso propósito de prosseguir na obra empreendida,
sem deixar de a aperfeiçoar e aprofundar. De muito bom grado vos
asseguramos que no vosso precioso trabalho a serviço da Igreja, o
estímulo e a bênção que nos viestes pedir, não vos hão de
faltar.
Desejamos agora aproveitar a ocasião, que vossa presença nos
oferece, para refletir convosco sobre a figura do leigo na Igreja.
O que é o leigo? O que é o leigo católico? Que auxílio espera a
Igreja do vosso Conselho, para promover o apostolado dos leigos no
nosso tempo?
Há um ensinamento em que deveis meditar para garantir sua realização
no Povo de Deus, segundo três dimensões essenciais.
Em primeiro lugar, a pessoa humana. É preciso recordar que cada
pessoa é criada à imagem de Deus, é superior a todo o universo
visível. e tem um destino eterno.
Mas esta pessoa humana, que nós consideramos sob o aspecto
específico de leigo, é chamada a realizar o seu destino no coração
do mundo profano, a partilhar dos sofrimentos e das alegrias da
comunidade humana, a assumir em si as solidariedades sociais e
culturais, que lhe dão direitos e deveres, e também lhe oferecem
inúmeras possibilidades de exercer influxo na organização e no
dinamismo do mundo.
Tudo isto indica, por, outras palavras, o papel eminente e a
dignidade da pessoa humana, e também a obrigação que a sociedade tem
de a respeitar, tanto por si própria como nas suas relações
familiares e sociais.
Depois a pessoa cristã. O fato de ter sido batizada, dá à pessoa
humana outro título que lhe aumenta a grandeza. Pelo batismo entra
num mundo novo, de horizontes infinitos: o mundo da fé, o mundo da
graça.
O leigo aparece então na sua dignidade superior de membro do Povo de
Deus, elevado ao plano sobrenatural, com a possibilidade de se tornar
cidadão do céu, com novos direitos e deveres, que mesmo lia vida
terrestre o homem, apenas com as próprias forças, não poderia
pretender nem realmente possuir.
Por fim, o leigo católico, membro da Igreja Corpo místico -que
é uno e ao mesmo tempo tão diferenciado, o leigo considerado não só
como sujeito passivo, como muitas vezes sucedeu no passado, mas
também como sujeito ativo na igreja, segundo a doutrina formal do II
Concílio Ecumênico do Vaticano.
Não é certamente a vós que devemos relembrar que a constituição
Lumen Gentium, depois de ter enunciado o dever da obediência e da
oração dos fiéis, pede aos pastores que "reconheçam e tornem
efetivas a dignidade e a responsabilidade dos leigos na Igreja.
Aproveitem de bom grado seu conselho prudente, confiem-lhes serviços
para o bem da Igreja, e deixem-lhes liberdade e campo de ação.
Animem-nos a empreender outras obras por iniciativa própria.
Considerem atentamente, diante de Deus e com paternal afeto, as
iniciativas, as propostas e os desejos manifestados pelos leigos (1
Tes 5,19; 1 Jo). Enfim, hão os pastores de reconhecer
respeitosamente a justa liberdade que a todos compete na sociedade
temporal".
Quem não vê o vasto campo de ação que foi aberto ao Conselho pelos
ensinamentos do Concílio? Em que direção irá trabalhar para que
se realizem as grandes perspectivas de apostolado dos leigos
delineadas nos diversos decretos ou constituições do II Concílio
do Vaticano? Seu papel deverá ser desempenhado, segundo nos
parece, em função de dois pólos: os leigos e a hierarquia.
Com respeito aos leigos, o vosso Conselho deve manter-se numa
atitude de escuta e de diálogo, pronto a avaliar, nos meios em que
vivem, as necessidades e as possibilidades de salvação. Para tanto
procurará suscitar, em união com os episcopados das diversas partes
do mundo, as formas de apostolado que, muito embora respeitando a
índole e o caráter de cada cultura, se unem todas na comunhão da
Igreja, pela afirmação clara de sua identidade católica.
Ao agir deste modo, deveis lembrar-vos e provar que o zelo e a
dedicação não são suficientes. Também é preciso servir-se da
reflexão, da meditação e do confronto constante com o Evangelho e
com o magistério da Igreja.
Nesta perspectiva, impõe-se um confiante intercâmbio de idéias e
experiências entre sacerdotes e leigos, que, examinando em conjunto
as mesmas situações, os mesmos acontecimentos e as mesmas
necessidades do mundo, trabalhem para realizar as respectivas
vocações e missões.
Consideramos que a primeira responsabilidade do Conselho dos leigos,
diletos filhos, é precisamente esta. A segunda não é menos
importante:. diz respeito à articulação do apostolado dos leigos
com o da hierarquia, duas forças que a própria constituição da
Igreja não permite sejam consideradas divergentes. Também neste
ponto vosso testemunho deve ser exemplar.
Ao ouvirdes as vozes do mundo, podeis considerar-vos intérpretes
qualificados dos inumeráveis filhos que o Pai comum desejaria poder
ouvir.
Corno também no ano passado vos afirmamos, contamos convosco, para
que sejais os porta-vozes da solicitude pastoral, que temos por eles.
Aliás, o lugar que o Conselho dos leigos é chamado a ocupar
atualmente entre os órgãos centrais da Igreja, autoriza-o a
procurar os melhores meios, para conjugar e harmonizar sua missão com
a dos diversos dicastérios, secretariados e comissões da Cúria
Romana, respeitando as competências de cada um destes organismos.
Com esta visão de conjunto, que deveis adquirir, vireis a conhecer a
vossa função nos seus limites, e também as vossas responsabilidades
com toda a sua extensão, e nas suas específicas características.
Deste modo aumentará em vós cada vez mais o sentido de Igreja
hierárquica, na qual tudo deve ser examinado em termos de confiança,
de serviço e de comunhão.
No que diz respeito à missão que acabamos de delinear em grandes
traços, estamos certos de que podemos contar com a vossa fidelidade à
Sé de Pedro e com. a seriedade da vossa reflexão. Ambas são
necessárias hoje mais do que nunca, neste período tão atormentado
para a Igreja e para o mundo.
Embora a vossa proveniência, a vossa formação, os vossos
compromissos sejam diversos, única deve ser a vossa preocupação:
pregar Jesus Cristo, anunciar com alegria a boa-nova da salvação.
O mundo tem tanta necessidade desta boa-nova, como de alimento. Um
de vossos intérpretes no-lo disse com muita felicidade, há bem
pouco. Pode-se mesmo dizer que raramente se verificou com mais
clareza do que hoje, a urgente necessidade de cristianizar o mundo,
este mundo evoluído e inquieto, que se tornou capaz de explorar o
cosmos e também de se destruir a si mesmo. Mais do que nunca é a
hora do Evangelho, a hora da penetração do fermento do cristianismo
em toda a sociedade.
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