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Há uma juventude que ainda escuta a voz da Igreja. E o faz não
porque é conduzida aqui pelo costume, pela obediência e pela
multidão, mas também porque é impelida pela esperança, a
esperança de uma revelação, de uma intuição, de uma luz
fulgurante que ilumine o panorama da vida, que indique onde estamos e
para onde devemos ir, numa palavra, que nos oriente.
Não observais em vós mesmos. caríssimos jovens, essa necessidade
de saber se há uma finalidade, um valor, um objetivo que mereçam dar
sentido e orientação à vossa vida? E qual seriam eles?
Respondei.
Há hoje na juventude, todos nós o sabemos, e vós talvez tendes
disto experiência, uma grande inquietude, uma torrente de forças e
aspirações, que explodem em formas exuberantes e muitas vezes
violentas, quase sempre contra alguma coisa, por exemplo, contra o
modo de pensar e viver dos outros, contra os costumes de ontem, contra
as leis em vigor, e contra as instituições herdadas do passado. Sim
uma exigência despótica de novidade, de originalidade e de liberdade
impele a alma juvenil, traduzindo-se muitas vezes em rebeldia. A
vitalidade dos jovens exprime-se muitas vezes por uma forma negativa,
que se manifesta na satisfação pelas desordens e pelos problemas, que
sabe provocar e suscitar, muito mais do que pelo sentido positivo que
poderia assumir uma impetuosa intervenção no contexto social,
qualificado pela opinião pública como ordem estabelecida.
Os movimentos juvenis impugnam este estado de coisas, com vigor tão
convicto como negligente, e ignaro do que na prática o deve
substituir, dentro dos limites da sensatez. É o grande problema desta
hora de perturbação das idéias e da vida social. Mas não é disto
que desejamos falar agora. Foi apenas uma alusão para que saibais que
também a Igreja tem os olhos abertos, vê e pondera com solicitude
amorosa e ansiosa preocupação o grande fenômeno da agitação juvenil
e a este propósito tem em mente muito o que dizer e o que fazer.
Queremos comunicar-vos um só pensamento, nesta hora, toda dedicada
à celebração do mistério pascal, e agora inteiramente empenhada na
evocação do episódio evangélico, que bem conheceis, da solene e
festiva entrada de Jesus em Jerusalém, em meio ao júbilo da
multidão imensa, que acorrera à cidade santa por ocasião da
Páscoa, que o aclama Filho de Davi (Mt 21,9) e Rei de
Israel (Jo 12,13), em outras palavras, Messias, personagem
misterioso, preanunciado pelos profetas, esperado há séculos,
revestido de autoridade e de poder, de revelar e realizar os
prodigiosos destinos do povo eleito. Neste momento, repetimos, que
tem também certo segredo para desvendar-nos, um acontecimento para
anunciar-nos, uma renovação para sugerir-nos. É um pensamento em
que sintetizamos muitas reflexões nossas. Um pensamento que a nosso
ver possui valor profético, e que diz respeito a todos os que têm fé
e de modo especial a vós que sois jovens. Escutai-nos com
atenção.
O pensamento é este: compete aos jovens em nossos dias revelar ao
mundo que Cristo, o Cristo verdadeiro, o Cristo que está sempre
vivo na Igreja que o prega, que o personifica, que o comunica, que
Cristo, afirmamos, é o Salvador do mundo.
Compete. aos jovens, a vós filhos e amigos caríssimos, dar este
anúncio. Tendes uma missão. Tendes uma função a cumprir nesta
nossa sociedade tão exuberante de riquezas, de energias e maravilhas,
mas também tão desorientada, no que diz respeito aos verdadeiros e
insubstituíveis fins a perseguir, tão altiva e ao mesmo tempo tão
descontente de si. Tão culta e inteligente e também tão corroída
pela dúvida, e tão cega diante dos verdadeiros caminhos, que levam
à felicidade. Tão organizada e tão ameaçada pela sua própria
organização. Tão cheia de espectativas e de ânsias e, no fundo,
tão desanimada, cética e desesperada. Tão refinada em suas
manifestações, e igualmente tão passional e corrompida.
Vós que sois os filhos do nosso tempo, que muito bem compreendeis sua
linguagem, sua índole, seu espírito, mas que estais imunes, assim
o cremos, das suas contaminações. Vós adolescentes, vós jovens
mais amadurecidos tão bons e tão conservados, intencionalmente
simples, lógicos e retos, física e moralmente fortes, alegres e
vivazes, livres e dóceis. Vós que aceitais sem relutância a
sabedoria das vossas famílias. Vós que fostes educados na fé e na
oração. Numa palavra, vós alunos do Cristo, tendes a missão de
anunciar ao nosso mundo de hoje o Messias verdadeiro, o Cristo
autêntico, o Salvador insubstituível. Deveis mostrar aos homens de
nosso tempo o semblante luminoso de Jesus, luminoso pelo mistério de
sua real divindade e pelo mistério evidente de sua incomparável
humanidade. É o semblante do filho de Deus, do filho do Homem. É
o protótipo da humanidade, é o Mestre, o Irmão, o Guia. É o
profeta de que todos nós nos podemos fiar.
Depois, por um drama trágico e dulcíssimo, de que não podemos
subtrair-nos, ele é o homem do sofrimento, a vítima de todas as
iniqüidades humanas. É o Redentor, é o amor inocente que se
sacrificou, a vida em si mesma, a morte por nós e por fim o
Ressuscitado pela nossa salvação (Rom 4,25).
Mas aqui nos direis: esta mensagem é reservada aos apóstolos, aos
ministros do Evangelho, aos mestres na Igreja. Sim, é este o
múnus específico e o ministério deles. Mas hoje, agora, esta é
também vossa mensagem. Esta é a novidade de nosso tempo. Este é o
sinal da primavera da época presente. Este é o ato de confiança que
a Igreja faz no laicato católico, especialmente em vós. Recordai o
que diz o Concílio:. "Os jovens exercem uma influência da maior
importância na sociedade moderna ... Este crescimento da sua
importância na vida social, exige deles uma atividade apostólica
... Também as crianças têm a sua atividade apostólica
própria".
Direis ainda: mas o que devemos fazer para cumprir missão tão
delicada, tão difícil, tão impopular? Sim, tendes razão de
advertir a dificuldade do testemunho cristão na nossa sociedade. Mas
ouvi-nos ainda. Os jovens gostam de coisas fáceis ou difíceis? A
vossa simpatia tem por objeto os fracos, os medrosos, os
oportunistas, os mesquinhos ou os fortes, os corajosos, os heróis?
Quereis que a vossa vocação cristã vos torne hoje tímidos,
fracos, egoístas, ou cheios de energia consciente e de amorosa
coragem? Não foi talvez uma lacuna de certa educação, que
confundiu a bondade com a fraqueza, a piedade com o respeito humano, a
fé cristã com o interesse privado?
Depois, o que se pede de vós? Milagres, ações extravagantes,
estrepitosas? Não. Exige-se de vós que sejais o que de fato
sois: jovens e católicos.
Repetimos o que disse um autor alemão: "Cristão, sê cristão".
Isto é, cristão verdadeiro, autêntico, dinâmico, cheio de
ardor, de imaginação e de amor. É aquela jovialidade cristã que a
Igreja há um século está suscitando, recrutando, abençoando.
Para concluir, afirmamos que o testemunho cristão de que estamos
falando é um ato pessoal. Deve brotar do âmago, livre e consciente
do próprio coração. Mas é também um fato coletivo. Não deveis
estar sós. Sede unidos. Sede numerosos. Mais ainda sede amigos e
concordes. Formai um coro, cerrai fileiras.
Convosco está a Igreja com suas associações, com seu sentido
comunitário, com a sua amorosa assistência.
É Cristo Senhor que inspira vossa solidária afirmação, e que
certamente como fez no Evangelho, se alegra com vossa homenagem
uníssona e profética. Esta homenagem não impedirá, talvez, que
Cristo sofra ainda hoje o drama de sua paixão sempre atual. Mas
assim o mundo saberá que a paixão do Cristo é a paixão do nosso
comum e insubstituível salvador.
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