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Após o Concílio, a Igreja vive numa sociedade à qual deseja
transmitir sua mensagem de salvação, e da qual sofre, talvez mais do
que nunca, uma pressão de profanidade, de secularização e
amoralidade.
Por um lado, a Igreja proclama sua vocação à santidade, renova
sua promessa missionária, declarando-se pobre e viajora, a caminho
das metas superiores e escatológicas do reino de Deus. Por outro,
em muitos setores procura assimilar-se às formas e aos usos do mundo
leigo. Despe-se de sua veste diferenciada e sagrada. Quer
sentir-se humana e terrena, e tende a deixar-se absorver pela
mentalidade do ambiente social e temporal. Quase tem respeito humano
de ser de algum modo diferente e de estar obrigada a um modo de ser e de
pensar que não é o do mundo. Sofre as mudanças e degradações
deste mesmo mundo, com um zelo conformista e quase vanguardista, que
não se sabe mesmo como pode ser chamado cristão e muito menos
apostólico. Não há quem não veja este estado de coisas, na
demagogia e violência revolucionária, na desmitização religiosa,
especialmente na aquiescência à licenciosidade da moda indecente, da
sexualidade passional e da difusão pornográfica, contra as quais
ninguém reage.
Nesta ambígua situação que deve fazer a Igreja? De que tem
necessidade o povo cristão, para conservar-se como tal e para
exercitar sua função de luz e sal da terra, de animador espiritual e
moral do tempo, no qual a providência lhe destinou viver?
A resposta não é nem fácil nem simples. Mas podemos encontrá-la
numa fórmula antiga e nova, rica de imenso significado. Ei-la:
Hoje a Igreja, isto é, o Povo de Deus, ou melhor, cada fiel,
deve repetir a si mesmo a palavra de são Leão Magno: "Agnosce, o
christiane, dignitatem tuam. Cristão, toma consciência de tua
dignidade, tu que és convidado a participar da natureza divina" (2
Pdr 1,4). Não queiras decair na baixeza da antiga conduta.
Lembra-te de que cabeça e de que corpo místico és membro. Recorda
o fato de tua libertação do poder das trevas e de tua transferência
para a luz e para o reino de Deus.
Sim, é necessário que todo cristão tenha consciência viva e
operante da própria dignidade; daquilo que se tornou pela
regeneração misteriosa, maravilhosa e real do batismo. Fala-se
tanto da dignidade da pessoa humana no plano natural. É já algo de
altíssimo e muito digno. Deveria fazer com que evitássemos as
degradações animais, bárbaras e infra-humanas, às quais tão
facilmente cede nossa civilização, que não mais, ou que não é
ainda digna deste nome.
Pois bem, no nível sobrenatural esta dignidade foi
extraordinariamente superada. Lembremos as palavras lapidares do
prólogo de são João: "A todos aqueles que o [Cristo]
receberam, aos que crêem no seu nome, deu-lhes o poder de se
tornarem filhos de Deus. Estes não nasceram do sangue nem da vontade
da carne nem da vontade do homem, mas sim de Deus" (Jo
1,12-13).
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