|
O Concílio é a resposta à boa vontade de todos aqueles que desejam
viver e fazer viver o Cristo em nosso tempo. Não é somente um
ensinamento doutrinal muito importante. É também um grande impulso
moral. Oferece ao pensamento esplêndido quadro de verdades da fé sem
pretender dar uma síntese metódica e completa, porque em numerosos
itens refere-se à Sagrada Escritura e às fontes autênticas da
tradição. Em outros oferece explicação e os desenvolve. No
conjunto, entretanto, e é isto que precisamos acentuar, o Concílio
constitui poderoso estímulo para agir. É uma doutrina e tende à
ação. É dogmático e moral, quer esclarecer as almas e na prática
oferecer novos rumos à nossa atividade, tanto pessoal como em
comunidade.
Tais são as intenções da Igreja conciliar. Mas isto ocorre de
fato na realidade em todo lugar e com todos? Que é que notamos?
Será que vossa boa vontade e a da grande comunidade eclesial está
tranqüila? Aí está toda a questão.
Notamos duas respostas negativas. A primeira é de impaciência, que
deseja, tudo o que o Concílio previu seja realizado imediatamente.
A impaciência se exprime pela intolerância, quando estima que
convém partir para aplicações imediatas, mais revolucionárias do
que reformadoras, sem ter em conta a coerência histórica e lógica
das inovações que se introduzem na vida católica. Tal atitude toca
as raias da imprudência, contenta-se com o superficial e cede ao
prurido da novidade pela novidade e ao mimetismo em moda, que vai da
contestação à desobediência. É bom lembrar a economia cronológica
do Evangelho sobre este assunto. Não é fulgurante, mas afinal até
bem cômoda, não fulmina com o fogo do céu, que quebra toda
resistência. É a da semente que produz o fruto "na paciência",
que no seu desenvolvimento progressivo descobre o respeito à
liberdade, o método da caridade, a confiança não fatalista, mas
sábia e esclarecida na ação de Deus, combinada com a do homem.
A outra resposta negativa é complexa e exigiria uma análise
psicológica aprofundada e plena de interesse. Por que a Igreja
pós-conciliar não se encontra hoje, sob certos aspectos, em
situação melhor que antes? Por que tanta desobediência? Por que
todas estas faltas à disciplina eclesiástica? Por que todas estas
tentações de secularização? Por que tanta audácia nas propostas
de transformação das estruturas da Igreja? Por que este desejo de
assimilar a vida católica à vida mundana e. por que dar tanto
crédito às considerações sociológicas, mais que às teológicas e
espirituais? Por quê?
Crise de crescimento, dizem uns. É possível. Mas não é também
uma crise de fé, e não se trata de uma crise de confiança entre
alguns, que crêem mais na Igreja? Há quem se interroga sobre este
fenômeno alarmante, quem fala de um estado de espírito dominado pela
dúvida sistemática e debilitante, que reina nas fileiras do clero
assim como entre os fiéis. Outros falam da falta de preparação, de
timidez ou de indolência. Chega-se mesmo ao ponto de acusar tanto as
autoridades como as comunidades eclesiásticas de medrosas e tímidas.
Diz-se que tanto aquelas como estas, não se importando e deixando
tudo correr sem advertir, corrigir ou reagir, favorecem certas
correntes manifestamente desordenadas. Como se sofressem de um
complexo de inferioridade, recebem acusações por cederem à
influência de teses muito discutidas e muitas vezes em contradição
com o espírito do Concílio. Estas se impõem na opinião pública,
graça aos poderosos meios de comunicação social, e isto se deve
também ao fato de serem dominados pelo receio do pior, diz-se, e por
temor de não parecerem bastante modernos e bem abertos ao aggiornamento
tão desejado.
Mas sabemos que se trata de fenômenos limitados, ainda que reais e
não menos desprezíveis. Sabemos que a Igreja em seu conjunto dá
prova de grande vitalidade, e coloca nossa época ao nível dos mais
fecundos de sua história. Não há dúvidas de que em nossa Igreja
tão "contestada" de fora como agitada por dentro, haja imensa
reserva de boa vontade e de amor, cujos exemplos nos alegra ver em
vós, caros filhos. Vós sois decididos e fiéis. Não quereis
ficar passivos e inertes numa ação que a Igreja pós-conciliar
empreendeu em vista de sua renovação aderindo mais estreitamente à
sua origem evangélica e à sua inspiração doutrinal. E para
responder às exigências de sua missão no mundo de hoje, quereis até
ao limite de vosso fervor e generosidade desenvolver a boa vontade que
trazeis no coração e estais persuadidos de que aqueles que guiam a
Igreja em todos os níveis, não causarão decepção à vossa
silenciosa e estimada disponibilidade. Que esteja convosco o Senhor.
Enquanto nós nos alegramos pelo reconforto que nos traz este
autêntico espírito eclesial, também não deixamos de incentivá-lo
pela nossa promessa (que o Senhor a guarde) de reconhecê-lo,
secundá-lo e de o servir, confiando-o à ação do Espírito
Santo.
|
|