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Considerado no contexto mais amplo e mais completo de toda a comunidade
e de toda a vida da Igreja, o Sacro Colégio, longe de ser dela
separado, pelo contrário, nela se insere, de maneira vital, para
desempenhar uma função de capital importância, na qualidade de
"Senatus Romani Pontificis", e em razão da alta responsabilidade
que lhe cabe, de prover a Santa Sé em caso de vacância.
O barrete é o símbolo desta função. Mais que uma dignidade, o
barrete exprime a relação realmente particular que existe. entre nós
e cada um dos cardeais, relação muito estreita, por assim -dizer,
a latere, que remonta ao presbyterium do bispo de Roma, quando os
cardeais exerciam funções pastorais e litúrgicas, nas igrejas da
diocese do papa, e que pouco a pouco se tornou função de assistir o
romano Pontífice no governo da Igreja universal. Tal função, que
certamente não é sinal de triunfalismo, nem se reduz a um privilégio
puramente exterior, comporta uma colaboração e mesmo certa
responsabilidade. Implica generosa disponibilidade, portanto, um
sacrifício virtual; como acentua claramente a fórmula de imposição
do barrete, "pro incremento christianae fidei, pace et quiete populi
Dei, libertate et diffusione sanctae Romanae Ecclesiae: pelo
desenvolvimento da fé cristã, pela paz e tranqüilidade do povo de
Deus, pela liberdade e expansão da santa Igreja romana".
A função cardinalícia não substitui o Sínodo dos bispos, nem
este de sua parte pode substituir o Colégio dos cardeais. São dois
organismos que se tornam complementares, de um lado, porque todos os
cardeais são revestidos do caráter episcopal, e de outro, porque
entre os membros do Sínodo muitos são cardeais e vice-versa.
As funções do Sínodo, como as do Sacro Colégio, são em si
consultativas, umas e outras ligadas e subordinadas à responsabilidade
suprema do Vigário de Jesus Cristo.
Mas o Sínodo reflete mais diretamente a colegialidade episcopal em
torno do sucessor de Pedro, e exerce um papel consultativo, no que
concerne as grandes orientações da atividade da Igreja. Neste
organismo os representantes qualificados do episcopado dos diferentes
países do mundo, e com eles e através deles, o clero e as
comunidades locais, ajudam o soberano Pontífice no estudo e no
conhecimento exato das questões gerais, que interessam à Igreja
toda, em vista das decisões a serem tomadas e aplicadas de maneira
concreta, sem, contudo, privar o papa da prerrogativa do governo
pessoal, universal e direto, sempre para o bem da Igreja.
De sua parte, o papel consultativo do Sacro Colégio, como tal,
acentua ainda mais esta prerrogativa do vigário de Jesus Cristo, ao
serviço da qual ele se coloca de maneira mais direta. Assegura assim
ao soberano Pontífice - os cardeais que presidem os dicastérios da
Cúria Romana ou dela são membros - uma asistência diária, ou
pelo menos mais assídua, como requer a continuidade necessária e
incessante de seu governo pessoal. Mas não impede que, sem prejuízo
para a tarefa mais específica do Sínodo Episcopal, o papa utilize o
Sacro Colégio para funções, que ratione materiae, concidem com as
do Sínodo e lhe são análogas, tendo em conta a diferença de
fundamento dos dois órgãos.
Evidentemente trata-se de um sistema de colaboração, que se
constrói e evolui à base de relações delicadas, e que necessita de
um equilíbrio bastante susceptível.
É um sistema todo particular, que não tem analogia com os da
administração civil atual, e que no presente, tomou uma fisionomia
mais decisiva que no passado. Trata-se de um progresso
"institucional", que devemos tomar como inspirado pelo Espírito
Santo, visto que procede da própria vida da Igreja, do crescimento
de sua semente, num esforço de coerência histórica e intrínseca,
com sua existência original.
O que, porém, importa antes de tudo não perder de vista, são as
secretas e misteriosas realidades que na Igreja incentivam e regem o
progresso das instituições. Disso o Evangelho é o germe. O
Cristo, ainda que invisível, é o único soberano e verdadeiro chefe
da Igreja. O Espírito Santo é o animador, o santificador, o
Paráclito: fonte de vitalidade, de reconforto, de coragem e de
alegria. Nossa missão é edificar a Igreja ao mesmo tempo espiritual
e visível, em espírito de serviço, de testemunho, de sacrifício e
na alegria confiante, mesmo nos momentos difíceis. Estamos certos de
que poderemos dizer sempre de vós: "Vos estis qui permansistis mecum
in tentantionibus meis: vós sois que permanecestes comigo nas minhas
tentações" (Lc 22,28).
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