25 DE DEZEMBRO DE 1968. ALOCUÇÃO AOS OPERÁRIOS DO CENTRO SIDERÚRGICO DE TARENTO.

Trabalhadores, que vos podemos dizer nestes instantes de um breve colóquio?

Falar-vos-emos com nosso coração. Dir-vos-emos coisas muito simples, mas cheias de significado, o que, em resumo, não é fácil. Temos consciência das dificuldades que existem em fazer-nos entender por vós. Ou será que não vos compreendemos suficientemente? Seja como for, permanece o fato de que, dirigir-vos a palavra nos é bastante difícil. Dá-nos a impressão de que entre nós e vós não existe uma linguagem comum. Vós estais mergulhados num mundo estranho ao que nós homens de Igreja vivemos. Vós pensais e trabalhais de maneira tão diversa do modo com que se pensa e trabalha na Igreja. Dizíamos, ao dirigir-vos nossa saudação, que somos irmãos e amigos: mas será isto verdade na vida real? Efetivamente todos, nos damos conta deste fato evidente: o trabalho e a religião, no mundo atual, são duas coisas separadas, desligadas e não raro opostas. Outrora não era assim.

Esta separação, porém, esta incompreensão mútua, não tem nenhuma razão de ser. Não é este o momento de vos explicarmos o porquê.

Basta-nos por hora o fato de que nós exatamente como papa da Igreja católica, como pobre, mas autêntico representante daquele Cristo de cujo nascimento celebramos esta noite a recordação, ou melhor, a renovação espiritual, viemos aqui no meio de vós, para dizer-vos que esta separação, entre o mundo do trabalho e o mundo religioso e cristão, não existe, ou melhor, não deve existir. Repetimos uma vez mais daqui deste centro siderúrgico, que neste momento consideramos a expressão típica do trabalho atual, levado às suas mais altas manifestações industriais, de engenho, de ciência, de técnica, de dimensões econômicas e finalidades sociais, que a mensagem cristã não lhe é estranha, não lhe é recusada. Pelo contrário, diremos até que, quanto mais a obra humana aqui se afirma, nas suas dimensões de progresso científico, de potência, de força, de organização, de utilidade, de maravilha, numa palavra, nas suas dimensões de moderno, tanto mais merece e reclama que Jesus o Operário-Profeta, o Mestre e amigo da humanidade, o Salvador do mundo, o Verbo de Deus, que encarna nossa natureza humana, o homem das dores e do amor, o Messias misterioso e árbitro da história, anuncie aqui, e daqui para o mundo, sua mensagem de renovação e de esperança.

Trabalhadores que nos escutais: Jesus, o Cristo, é para vós.

Lembrai-vos e meditai: o Cristo no Evangelho, aquele mesmo que a Igreja católica vos apresenta e vos oferece, é para vós. Ele está convosco esta noite.

Não tenhais medo que esta presença, que esta aliança na fé e na prática, queira mudar o aspecto, a finalidade, o ordenamento de uma empresa como esta ou outras semelhantes; que pretenda clericalizar o trabalho moderno do homem, como vulgarmente se diz, ou entravar-lhe de algum modo a expansão, opor a finalidade religiosa da vida ao desenvolvimento da atividade humana, o Evangelho ao progresso científico, econômico e social.

Ouvistes, certamente, falar do recente Concílio, no qual a Igreja exprimiu e precisou seu pensamento, no que se refere às suas relações com o mundo contemporâneo. Olhai bem o que diz este Concílio: "Longe de pensar em contrapor as conquistas do engenho e da habilidade humana ao poder de Deus, como se a criatura racional fosse rival do Criador, os cristãos, pelo contrário, estão convencidos de que as vitórias do gênero humano são um sinal da grandeza de Deus e fruto de seus desígnos inefáveis. Quanto mais aumenta o poder dos homens, tanto mais cresce e se alarga a sua responsabilidade pessoal e comunitária".

Isto é válido para aqueles que põem em confronto o cristianismo e o humanismo do trabalho moderno e serve especialmente para aqueles que introduzem no trabalho os recursos da ciência, da técnica, da organização industrial, de molde a proporcionar obras ciclópicas e perfeitas, como esta em que nos encontramos; ou ainda que chegam a dominar de tal modo no mundo as leis e as forças da natureza, que tornam possíveis à ousadia do mesmo homem, empresas impensáveis e maravilhosas, como, por exemplo, aquele que precisamente durante esta noite levará três homens a girar em volta da lua. Honra aos pioneiros da expansão da inteligência e da atividade do homem e glória a Deus que irradia sua luz sobre a face do mesmo homem, e imprime nas faculdades humanas o poder real de dominar as criaturas que o rodeiam (Gen 1, 20ss).

Este pensamento e este princípio são dos que nos devem tornar fonte de meditação para o Homem moderno, c suscitar nele, não o orgulho, a tragédia de Prometeu, mas sim aquele sentimento primordial e dinâmico de simpatia e de confiança para com a natureza da qual fazemos parte, na qual somos exploradores e que se chama maravilha. Sentimento de juventude e inteligência que, passando da observação deslumbrada das coisas à investigação suprema de suas origens, se torna descoberta, adoração e oração.