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Queremos propor a vossa erudita meditação e a uma profunda reflexão
vossa, o problema apresentado algumas vezes de maneira muito
desmedida, pelas situações de angústia, das quais acontece sermos
espectadores e atores. Será que o homem moderno pode, de fato,
manter honestamente a convicção de que Deus representa para nós uma
"alienação?" Será que somente rejeitando a Deus, é que se pode
chegar a conhecer a plenitude de liberdade e de responsabilidade que nos
permitiria empreender com êxito a "construção" do mundo e da
história? Ou, pelo contrário, não deveríamos confessar que é
precisamente a ausência e a negação de Deus - profundamente do
ser, da verdade, da moralidade e de todos os valores - que
"alteram" o homem, destruindo-lhe o equilíbrio essencial para
precipitá-lo no egoísmo desumanizado, tecnocrata e opressor, e
finalmente para o confinar numa contestação total e absurda?
Lembremo-nos hoje, na festa de santo Agostinho, das famosas
palavras que dirigia a Deus: "Senhor, tu nos fizeste para ti e
nosso coração está inquieto enquanto não achar repouso em ti.
Fecisti nos ad te et inquietum est cor nostrum donec requiescat in
te".
Não negamos que, por vezes, não é Deus, mas a idéia que os
homens fazem dele, que pode conduzir a uma evasão fácil, enquanto o
Ser supremo é a fonte do mais sublime ideal. Seguramente tal idéia
pode e deve tornar-se mais clara, para que seja menos inadequada à
indizível realidade que exprime. Certo, para chegar à
representação e à presença de Deus no pensamento e na vida do homem
de hoje, é preciso levar em consideração os condicionamentos
tecnológicos, as mutações culturais, as mudanças que se produzem
nas estruturas psicológicas individuais e coletivas. Mas acentuamos
que isto não deve induzir-nos ao subjetivismo, ao relativismo, ao
historicismo ou ao ceticismo, nem tampouco a um humanismo fechado ou a
um secularismo estéril. Estas posições espirituais, sejam
errôneas, sejam pelo menos, insuficientes, não podem garantir de
maneira que não seja nem equívoca nem efêmera, a. aquisição dos
bens pessoais e comunitários aos quais aspira constantemente a
humanidade. Não podem encontrar segurança real senão com
referência a Deus.
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