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Aproveitando da ocasião que se nos oferece por vossa visita,
desejamos reafirmar-vos nossa estima e confiança, no valor e na
beleza de vossa vocação é de vossa profissão religiosa. Desejamos
em nome. do Cristo vos assegurar o seguinte: O conceito que a
Igreja sempre teve da vida religiosa, e que foi reafirmado pelo II
Concílio Ecumênico do Vaticano, não é nem vazio nem superado.
Sempre vale a pena segui-lo, para quem tem a graça da vocação.
Supomos, com efeito, que estejam presentes em vosso espírito, as
reconfortantes promessas do Senhor, ao apóstolo Pedro que em nome de
seus companheiros, lhe tinha declarado com toda a sinceridade e com
intrépida esperança: "Ecce nos reliquimus omnia et secuti sumus
te, quid ergo erit nobis? Eis que deixamos tudo para te seguir, que
será pois de nós?" (Mt 19,27). Deveis também ter
presentes em vosso espírito as declarações nas quais o Concílio em
sua Constituião dogmática Lumén Gentium e no seu decreto
Perfectae Caritatis exaltou, em face do mundo moderno e da Igreja,
a grandeza da consagração religiosa, acentuando os princípios gerais
de uma oportuna renovação, em vista de um reflorescimento mais
intenso e mais amplo, no seio do jardim místico da Igreja.
Permiti-me, para vosso reconforto e edificação, que vos lembre as
declarações mais significativas da Constituição Lumen Gentium:
"A santidade da Igreja, lê-se no capítulo V, que trata da
vocação universal para a santidade, aparece de maneira
característica na prática dos conselhos, que costumamos chamar de
evangélicos" (nº39). "A santidade da Igreja, acrescenta a
Constituição, é mantida especialmente pelos múltiplos conselhos,
que o Senhor propôs no Evangelho para a observação de seus
discípulos" (nº42). Não somente a prática dos votos, mas o
ambiente mesmo, no qual se desenrola vossa vida cotidiana, é de
grande ajuda a atingir a perfeição, como se lê no capítulo VI,
consagrado aos religiosos: "Estas famílias [religiosas] asseguram
a seus membros o apoio de maior estabilidade em sua forma de vida, de
uma doutrina provada para atingirem a perfeição, de uma comunhão
fraterna na milícia do Cristo, e enfim de uma liberdade fortificada
pela obediência, a fim de poderem os membros cumprir com fidelidade e
guardar com segurança sua profissão religiosa, progredindo na alegria
espiritual na senda da caridade" (nº43).
Assegurados com tantos subsídios particulares, dons inestimáveis da
munificência divina, os religiosos (e religiosas) deverão usar
deles com sempre maior consciência. É somente desta maneira que
poderão responder plenamente ao que os padres do Concílio lhes
dirigiram: "Os religiosos devem tender, com todas as suas forças,
a que a Igreja por meio deles manifeste, cada dia melhor, o Cristo
aos fiéis e infiéis" (nº46).
Que a luz da revelação divina, o exemplo de vossos santos
fundadores, a voz do Magistério vivo e legislativo da Igreja,
sejam, queridas filhas, vossa salvaguarda, vossa guia e vosso
contínuo incentivo no caminho da perfeição religiosa. Que haja em
vossa doação o amor, e no amor o encontro com a caridade de Deus, e
nesta caridade o sacrifício, no sacrifício a cruz, na cruz do
Cristo, não a morte espiritual, mas a salvação e a vida.
Não creiais que vossa total e perpétua consagração a Deus e às
diferentes obras de apostolado, unicamente contribua para a glória de
Deus, para o proveito e honra de vossas famílias religiosas, ou de
pessoas que se beneficiarão diretamente dos frutos de vossa vida de
santificação e de vosso ministério caritativo. Mas, ao
contrário, estai sempre persuadidas de que vossa vida de amor, de
sacrifício, de crucifixão vivificante com o Cristo, repercutirão
de maneira benéfica sobre toda a Igreja, porque os membros dos
institutos religiosos e seculares são no corpo místico da Igreja,
uma fração privilegiada, como plena realização da doação da
Igreja com o Cristo, como "esposa", como sinal e testemunho. As
virgens são, com efeito, exemplo para toda a comunidade e para o
mundo, ao qual renunciaram, não por falta de sensibilidade ou por
desprezo dos autênticos valores humanos, mas em vista de se
consagrarem mais eficazmente a serviços multiformes, conforme a gama
eminentemente evangélica das obras de caridade espiritual e corporal,
a exemplo do divino Salvador que "passava fazendo o bem e curando,
pertransiit benefaciendo et sanando omnes" (At 10,38).
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