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Não podemos deixar passar em silêncio alguns modos de agir que se
observam em várias partes da Igreja e nos causam muita preocupação e
pesar.
Pensamos principalmente num estado de espírito de muitos, que
dificilmente aceitam tudo aquilo que procede da autoridade
eclesiástica, ou foi legitimamente ordenado por ela. Assim sucede
que até as próprias conferências episcopais, em matéria
litúrgica, às vezes atuam por iniciativa própria além do que seria
justo. Também se realizam muitas vezes experiências arbitrárias, e
ritos claramente contrários às normas estabelecidas pela Igreja. A
todos é evidente que esta forma de proceder não apenas escandaliza
gravemente os fiéis, mas também dificulta a ordenada realização da
renovação litúrgica, que a todos pede prudência, vigilância e
sobretudo disciplina.
Muito mais nos preocupa o comportamento daqueles que pretendem despojar
o culto litúrgico de seu caráter sacro, e por isso erroneamente
afirmam que se não deve empregar objetos e ornamentos sagrados, mas
sim que devem ser substituídos por outros usados na vida comum e
vulgar. Alguns chegam mesmo a levar sua temeridade, a ponto de
aplicarem este critério até mesmo ao lugar sacro das celebrações.
Devemos declarar que tais opiniões não apenas contradizem o caráter
autêntico da sagrada liturgia, como também o verdadeiro conceito da
religião católica.
Da mesma forma se deverá evitar ao simplificar ritos, fórmulas e
atos litúrgicos, ir além do conveniente, sem levar bastante em conta
a enorme importância que se deve reconhecer aos "sinais"
litúrgicos. Isso nos levaria diretamente a tirar força e eficácia
à sagrada liturgia. Com efeito, uma coisa é suprimir nos ritos
sagrados tudo o que hoje parece supérfluo ou se tornou anacrônico e
inútil, e outra coisa é privar a liturgia daqueles sinais e dignidade
que, se mantidos dentro dos justos limites, são absolutamente
necessários ao povo cristão, para que possa entender as coisas
misteriosas, e verdades que se ocultam por trás do véu dos ritos
externos.
Sendo assim, grande e importante é vossa tarefa, queridos filhos,
para que consigais que a sagrada liturgia mostre diante dos homens o
autêntico esplendor de sua face, e obtenha eficácia para promover a
vida espiritual da sociedade. E não é só. Devereis também
procurar que, com o correr do tempo, não diminua o fervor pela
renovação litúrgica, que hoje de maneira salutar o Povo de Deus
está manifestando.
É evidente que nesta matéria se deve avançar por etapas, pois a
tarefa que empreendestes exige se leve em conta a devida preparação
dos fiéis. Por isso, deverão os novos ritos ser introduzidos no
tempo e modo que parecerem mais oportunos, para que mais facilmente
sejam recebidos e compreendidos.
Que nos seja, enfim, permitido recordar-vos um ponto que muito
recomendamos à vossa diligência: a procura que vossos trabalhos não
se afastem dos costumes e normas da tradição romana em que esta
liturgia nasceu, desenvolveu-se e chegou a seu fastígio. Ao
fazer-vos esta recomendação, não nos move de maneira alguma a
consideração da história ou do lugar, nem a preocupação de
aumentar nossa autoridade. Move-nos, porém, um critério e uma
consideração relacionada com a doutrina teológica e com a própria
constituição da Igreja, que tem em Roma o centro de sua unidade e
catolicidade.
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