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Bispo e sacerdotes
91. Os nossos caríssimos sacerdotes têm o direito e o dever de
encontrar em vós, veneráveis irmãos no Episcopado, auxílio
valiosíssimo e insubstituível para a observância mais fácil e mais
feliz dos deveres assumidos. Fostes vós que os aceitastes e
destinastes ao sacerdócio, vós quem lhes impusestes as mãos sobre as
cabeças, convosco estão aparentados pela honra do sacerdócio e pela
virtude do Sacramento da Ordem, representam-vos na comunidade dos
fiéis, estão unidos a vós, com magnanimidade e confiança, tomando
sobre si, na medida do seu grau, os vossos encargos e a vossa
solicitude. [44] Escolhendo o celibato, eles seguiram o exemplo
dos Prelados do Oriente e do Ocidente, em vigor desde a
antiguidade. E este é novo motivo de comunhão entre o Bispo e o
sacerdote, e deve ser fator propício para essa comunhão ser vivida
mais intimamente.
Responsabilidade e caridade pastoral
92. A ternura de Jesus pelos seus apóstolos manifestou-se toda,
com plena evidência, ao fazê-los ministros do seu Corpo real e
místico (cf. Jo cc. 13-17). Também vós, em quem "está
presente no meio dos fiéis o Senhor Jesus Cristo, Pontífice
Máximo", [45] conheceis o dever de dar o melhor do vosso
coração e da vossa solicitude pastoral aos sacerdotes e aos que se
preparam para sê-lo. [46] De nenhum outro modo podereis
manifestar melhor esta vossa convicção do que por meio da
responsabilidade consciente e da caridade sincera e insuperável com que
haveis de orientar a educação dos futuros ministros do altar e ajudar
com todos os meios os sacerdotes a manterem-se fiéis à vocação e ao
cumprimento dos próprios deveres.
O coração do Bispo
93. A solidão humana do sacerdote, lacuna que é a origem não
última de tentações e desânimos, há de ser preenchida sobretudo
pela vossa presença ativa, fraterna e amiga. [47] Antes de
serdes superiores e juízes dos vossos sacerdotes, haveis de ser
mestres, pais, amigos, e irmãos bons e misericordiosos, prontos
para os compreender, para os desculpar, para os ajudar. Procurai de
todos os modos que os sacerdotes vos dediquem amizade pessoal e
levai-os a abrirem-se confiadamente convosco, sem que esta amizade e
confiança suprimam a relação de obediência jurídica; devem, pelo
contrário superá-la dentro da caridade pastoral, para que essa
obediência seja mais voluntária, mais leal e mais segura. A amizade
dedicada e a confiança filial convosco, levarão os sacerdotes a
abrir-vos, a tempo, as suas almas, a confiar-vos as dificuldades,
na certeza de poderem contar sempre com o vosso coração, para nele
depositarem mesmo as possíveis derrotas, sem o temor servil do
castigo, mas esperando como filhos, correção, socorro e perdão, o
que os irá estimular a retomarem confiadamente o árduo caminho da
vida.
Autoridade e paternidade
94. Todos Vós, Veneráveis Irmãos, estais certamente
persuadidos de que o restituir à alma sacerdotal a alegria e o
entusiasmo pela própria vocação, a paz interior e a salvação, é
ministério urgente e glorioso que tem influxo incalculável numa
multidão de almas. Se em determinado momento fordes obrigados a
recorrer à vossa autoridade e à justa severidade para com os poucos
que, contra a vossa vontade, causam escândalo ao Povo de Deus com a
sua conduta, procurai ter em vista, antes de tudo, a sua
recuperação ao tomardes as providências necessárias. À imitação
do Senhor Jesus Cristo, Pastor e Bispo das nossas almas (1Pd
2,25), não quebreis a cana fendida e não apagueis a mecha que
fumega (Mt 12,20). Curai, como Jesus, as chagas (cf. Mt
9,12), salvai o que se tenha perdido (cf. Mt 18,11),
buscai com ânsia e amor a ovelha desgarrada e trazei-a ao calor do
redil (cf. Lc 15,4ss.), procurai, como Ele, até ao fim,
chamar uma vez mais o amigo infiel (cf. Lc 22,48).
Magistério e vigilância
95. Temos a certeza, Veneráveis Irmãos, que não deixareis de
experimentar todos os meios para cultivar assiduamente no vosso clero,
com doutrina e zelo de pastores, o ideal do celibato, e que não
perdereis nunca de vista os sacerdotes que abandonaram a casa de Deus,
que é a sua própria casa, pois eles serão para sempre vossos
filhos, seja qual for o desfecho da sua dolorosa aventura.
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