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9. Não faltam, todavia, Veneráveis Irmãos, precisamente na
matéria de que estamos falando, motivos de grave solicitude pastoral e
de ansiedade. A consciência do nosso dever apostólico não nos
permite passá-los em silêncio.
10. Bem sabemos que, entre os que falam e escrevem sobre este
Sacrossanto Mistério, alguns há que, a respeito das missas
privadas, do dogma da transubstanciação e do culto eucarístico,
divulgam opiniões que perturbam o espírito dos féis, provocando
notável confusão quanto às verdades da fé, como se fosse lícito,
a quem quer que seja, passar em silêncio a doutrina já definida da
Igreja ou interpretá-la de tal maneira, que percam o seu valor o
significado genuíno das palavras ou o alcance dos conceitos.
11. Não é lícito, só para aduzirmos um exemplo, exaltar a
Missa chamada "comunitária", a ponto de se tirar a sua importância
à Missa privada; nem insistir tanto sobre o conceito de sinal
sacramental, como se o simbolismo que todos, é claro, admitimos na
Sagrada Eucaristia, exprimisse, única e simplesmente, o modo da
presença de Cristo neste sacramento; ou ainda discutir sobre o
mistério da Transubstanciação sem mencionar a admirável conversão
de toda a substância do pão no corpo e de toda a substância do vinho
no sangue de Cristo, conversão de que fala o Concílio Tridentino;
limitam-se apenas à transignificação e transfinalização, conforme
se exprimem. Nem é lícito, por fim, propor e generalizar a
opinião que afirma não estar presente Nosso Senhor Jesus Cristo
nas hóstias consagradas que sobram, depois da celebração do
Sacrifício da Missa.
12. Quem nâo vê que, em tais opiniões ou noutras semelhantes
postas a correr, sofrem não pouco a fé e o culto da divina
Eucaristia?
13. Do Concílio originou-se a esperança de vir a percorrer toda
a Igreja nova luz de piedade eucarística. Para que esta luz não
sofra e morra com essas sementes já espalhadas de falsas opiniões,
resolvemos dirigir-nos a vós, Veneráveis Irmãos, para vos
comunicarmos com apostólica autoridade o nosso pensamento sobre assunto
de tanta importância.
14. Longe estamos de negar que exista, naqueles que divulgam tais
idéias extravagantes, o desejo incensurável de perscrutar tão alto
Mistério, desentranhando as suas inexauríveis riquezas e
desvelando-lhes o sentido, diante dos homens do nosso tempo. Esse
desejo reconhecemo-lo até como legítimo e aprovamo-lo. O que não
quer dizer que aprovemos as opiniões a que eles conduzem. Do grave
perigo que elas representam para a fé autêntica, sentimos o dever de
vos premunir.
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