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49. Apresenta-se nesta altura uma questão espinhosa: a
adaptabilidade da missão da Igreja à vida dos homens num dado
momento, ou lugar, numa dada cultura e situação social.
Até que ponto deve a Igreja adaptar-se às circunstncias históricas
e locais em que desempenha a sua missão? Como deve premunir-se
contra o perigo dum relativismo que ofende a sua fidelidade dogmática e
moral? Mas, ao mesmo tempo, como lhe será possível abeirar-se de
todos para todos salvar, segundo o exemplo do Apóstolo: "Fiz-me
tudo para todos, para salvar a todos" (lCor 9,22). Não é de
fora que salvamos o mundo; assim como o Verbo de Deus se fez homem,
assim é necessário que nós nos identifiquemos, até certo ponto,
com as formas de vida daqueles a quem desejamos levar a mensagem de
Cristo, é preciso tomarmos, sem distância de privilégios ou
diafragmas de linguagem incompreensível, os hábitos comuns, contanto
que estes sejam humanos e honestos, sobretudo os hábitos dos mais
pequenos, se queremos ser ouvidos e compreendidos. É necessário,
ainda antes de falar, auscultar a voz e mesmo o coração do homem,
compreendê-lo e, na medida do possível, respeitá-lo. E quando
merece, devemos fazer-lhe a vontade. Temos de nos mostrar irmãos
dos homens, se queremos ser pastores, pais e mestres. O clima do
diálogo é a amizade; melhor, o serviço. Tudo isto devemos
recordar e esforçar-nos por praticar, segundo o exemplo e o preceito
que Cristo nos deixou (cf. Jo 13,14-17).
50. Um perigo subsiste porém. A arte do apóstolo tem seus
riscos. O desejo de nos aproximarmos dos nossos irmãos não deve
traduzir-se numa atenuação ou diminuição da verdade. O nosso
diálogo não pode ser fraqueza nos compromissos com a nossa fé. O
apostolado não pode transigir com meias atitudes, ambíguas, quanto
aos princípios teóricos e práticos característicos da nossa
procissão cristã. O irenismo e o sincretismo são, no fim de
contas, formas de cepticismo a respeito da força e do conteúdo da
Palavra de Deus, que desejamos pregar. Só quem é de todo fiel à
doutrina de Cristo pode ser apóstolo eficaz. E só quem vive em
plenitude a vocação cristã pode imunizar-se do contágio dos erros
com que entra em contacto.
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