Pedagogia daquele que é batizado

17. Se soubermos reavivar em nós mesmos, e acender nos fiéis com profunda e acertada pedagogia, este sentido confortante da Igreja, sucederá que muitas antinomias, aflição do pensamento dos cultores da eclesiologia, serão praticamente vencidas e resolvidas na experiência da realidade viva da Igreja inspirada na sua doutrina. Tais antinomias são, por exemplo, a Igreja simultaneamente visível e espiritual, livre e disciplinada, comunitária e hierárquica, já santa e sempre a caminho da santificação, contemplativa e ativa, e assim por diante. Mas o sentido da Igreja porá em relevo principalmente a sua espiritualidade do melhor quilate, alimentada na leitura piedosa da Sagrada Escritura, dos Santos Padres e Doutores, e em todas as outras fontes que produzem essa consciência. Queremos referir-nos agora à catequese exata e sistemática; àquela escola admirável, de palavras, sinais e divinas efusões, que é a Sagrada Liturgia; à meditação silenciosa e ardente das verdades divinas; e finalmente à oração contemplativa. A vida interior continua a ser a grande fonte da espiritualidade da Igreja, condiciona-lhe a receptividade às irradiações do Espírito de Cristo, é expressão fundamental e insubstituível da sua atividade religiosa e social, e é ainda para ela defesa inviolável e renascente energia no seu difícil contato com o mundo profano.

18. É preciso restituir toda a sua importância ao fato de termos recebido o santo batismo, termos sido enxertados, por este sacramento, no Corpo Místico de Cristo, que é a Igreja. O batizado deve sobretudo apreciar conscientemente a sua elevação, melhor, a nova geração que recebe e o eleva à incomparável realidade de filho adotivo de Deus, à dignidade de irmão de Cristo, à felicidade, queremos dizer à graça e ventura da inabitação do Espírito Santo, à vocação duma vida nova. Nada perde ele do que é humano, a não ser a infeliz sorte derivada do pecado original, e fica habilitado a valorizar e utilizar do melhor modo tudo quanto é humano. Ser cristão, ter recebido o santo batismo, não deve parecer-nos coisa indiferente ou desatendível; deve ser característica profunda e venturosa da consciência de cada batizado; deve ser para ele, como o foi para os cristãos antigos, uma "iluminação", que ao atrair sobre ele os raios vivificantes da Verdade divina, lhe abre o céu, lhe alumia a vida terrena, o torna capaz de se dirigir, como filho da luz, para a visão de Deus, fonte de eterna felicidade.

Que programa prático sugere à nossa vida e ao nosso ministério essa consideração! E bem fácil descobri-lo. Alegramo-nos ao constatar que este programa se encontra já em vias de aplicação em toda a Igreja, servido por zelo prudente e ardoroso. Animamo-lo, recomendamo-lo e abençoamo-lo.