Obediência, energias morais, sacrifício

28. Mas, para lição proveitosa de todos nós, ouçamos uma vez mais esta advertência: a Igreja renovará a sua juventude não tanto mudando as suas leis exteriores, quanto dispondo interiormente o espírito dos seus para obedecer a Cristo, e por isso para observar aquelas leis que a Igreja, com a intenção de seguir o caminho de Cristo, estabelece. Aqui está o segredo da sua renovação, aqui a sua "metánoia", aqui o seu exercício de perfeição. As normas eclesiásticas poder-se-ão tornar mais praticáveis pela simplificação dalguns preceitos e pela maior confiança que ela mostre na liberdade do cristão de hoje, mais instruído nos seus deveres, mais adulto e mais ponderado na escolha dos meios para os cumprir. Mas não podem deixar de manter-se na sua exigência essencial. Sempre a vida cristã, como a Igreja a vai interpretando e codificando em prudentes disposições, exigirá fidelidade, esforço, mortificação e sacrifício. Será sempre o "caminho estreito", de que Nosso Senhor nos fala (cf. Mt 7,13ss). De nós, cristãos modernos, não exigirá menores energias morais, talvez até maiores do que exigiu dos cristãos de ontem: uma prontidão na obediência, hoje não menos necessária que no passado e talvez mais difícil, sem dúvida mais meritória, devendo guiar-se mais por motivos sobrenaturais do que naturais. Não é conformidade com o espírito do mundo, não é subtração à disciplina duma ascética razoável, não é indiferença perante os costumes livres do nosso tempo, não é emancipação da autoridade de prudentes e legítimos Superiores, não é apatia diante das formas contraditórias do pensamento moderno. Nada disto pode dar vigor à Igreja, dispô-la para receber o influxo dos dons do Espírito Santo, dar-lhe autenticidade no seguimento de Cristo Senhor Nosso, comunicar-lhe o ardor da caridade fraterna e a capacidade de transmitir a sua mensagem de salvação. Mas tudo lhe há de vir da correspondência à graça divina, da fidelidade ao Evangelho do Senhor, da sua coesão hierárquica e comunitária. O Cristão não é mole e cobarde, é forte e fiel.

29. Sabemos quanto se alongaria o nosso discurso, se quiséssemos traçar, mesmo só em linhas gerais, o programa moderno da vida cristã. Não o pretendemos agora. Vós, aliás, conheceis as necessidades morais do nosso tempo, e não vos cansareis de levar os féis a compreender o prestígio, pureza e austeridade da vida cristã, como não vos furtareis a denunciar, da melhor maneira possível e até publicamente, os perigos morais e os vícios de que sofre o nosso tempo. Todos nós recordamos as palavras solenes que a Sagrada Escritura nos propõe: "Conheço as tuas obras e o teu trabalho e a tua paciência, e que não podes suportar os maus" (Ap 2,2). E todos procuraremos ser Pastores vigilantes e ativos. Também a nós há de o Concílio Ecumênico dar normas novas e salutares, e todos nos devemos certamente dispor desde já para as ouvirmos e cumprirmos.