O mistério da Igreja

16. Bem sabemos que é um mistério, é o mistério da Igreja. Se nós, com a ajuda de Deus, fixarmos o olhar da alma neste mistério, conseguiremos muitos benefícios espirituais, aqueles exatamente que agora julgamos mais necessários para a Igrej a. A presença de Cristo, mais, a própria vida dele, tornar-se-á operante em cada uma das almas e no conjunto do Corpo Místico, pelo exercício da fé viva e vivificante, que fará: "Cristo habitar pela fé em vossos corações", segundo a palavra do Apóstolo (Ef 3,17). A consciência do mistério da Igreja é um fato próprio da fé adulta e vivida. Produz nas almas aquele "sentir da Igreja", que penetra o cristão formado na escola da palavra divina, alimentado pela graça dos sacramentos e pelas inspirações inefáveis do Espírito Paráclito, habituado a praticar as virtudes evangélicas, embebido da cultura e do modo de ser da comunidade eclesial, e cheio de alegria vendo-se revestido daquele sacerdócio real que é próprio do povo de Deus (cf. 1Pd 2,9).

O mistério da Igreja não é simples objeto de conhecimento teológico, deve ser fato vivido, em que a alma fiel, antes de ser capaz de definir a Igreja com exatidão, a pode apreender numa experiência conatural. E a comunidade dos crentes certifica-se intimamente da sua participação no Corpo Místico de Cristo, ao reparar que, por divina instituição, o ministério da Hierarquia eclesiástica a inicia, a gera (cf. Gl 4,19,1Cor 4,15), a instrui, a santifica e a dirige. De maneira que, por meio deste santo canal, Cristo derrama nos seus membros místicos as comunicações admiráveis da sua verdade e da sua graça, e dá ao seu Corpo Místico, peregrino no tempo, a organização visível, a unidade ilustre, a funcionalidade orgânica, a variedade harmônica e a beleza espiritual. As imagens não conseguem traduzir-nos, em conceitos acessíveis, toda a realidade e profundeza deste mistério. Ainda assim, depois da imagem recordada do Corpo Místico, sugerida pelo Apóstolo São Paulo, deveremos fazer especial menção de outra, porque é do próprio Cristo: a do edifício de que Ele é arquiteto e construtor; edifício fundado sobre um homem, frágil por natureza, mas por Ele transformado milagrosamente em pedra sólida, isto é, dotado de prodigiosa e perene indefectibilidade: "sobre esta pedra educarei a minha Igreja" (Mt 16,18).