Perfectibilidade dos cristãos

20. Este afã de aperfeiçoamento espiritual e moral é também estimulado exteriormente pelas condições em que a Igreja vai vivendo. Não pode ficar imóvel e indiferente entre as mudanças do mundo que a cerca. Este, por mil caminhos, influencia e condiciona a atitude prática da Igreja. Como todos sabem, ela não está separada do mundo, vive nele. Por isso, os membros da Igreja estão sujeitos à influência do mundo, de que respiram a cultura, aceitam as leis e absorvem os costumes. Este contacto permanente, que a Igreja tem com a sociedade temporal, impõe-lhe uma problemática contínua, hoje dificílima. Por um lado, a vida cristã, como a Igreja a defende e promove, deve com perseverança e tenacidade preservar-se de tudo quanto pode enganá-la, profaná-la e sufocá-la, procurando imunizar-se do contágio do erro e do mal; por outro, a vida cristã deve não só adaptar-se às formas do pensamento e da moral, que o ambiente terreno lhe oferece e impõe, quando elas forem compatíveis com as exigências essenciais do seu programa religioso e moral, mas deve procurar aproximá-las de si, purificá-las, nobilitá-las, vivificá-las e santificá-las: nova missão, que impõe à Igreja um exame constante de vigilância moral, reclamado hoje com particular urgência e gravidade.

21. Também para este exame, é providencial a celebração do Concílio. O caráter pastoral que ele se propôs, as finalidades práticas de "atualização" da disciplina canônica, o desejo de tornar o exercício da vida cristã o mais fácil que seja possível, sem renunciar ao caráter sobrenatural que lhe é próprio, conferem ao Concílio um mérito particular já neste momento, apesar de não possuirmos ainda a maioria das deliberações que dele esperamos. Na verdade, ele desperta, tanto nos Pastores como nos fiéis, o desejo de conservar e robustecer na vida cristã o seu caráter de autenticidade sobrenatural, e recorda a todos o dever de imprimir este caráter de maneira positiva e enérgica no proceder de cada um: leva os fracos a serem bons, os bons a serem melhores, os melhores a serem generosos e os generosos a fazerem-se santos. Abre à santidade novos caminhos, incita o amor a tornar-se fecundo, e provoca novas arrancadas de virtude e de heroísmo cristão.