|
42. É preciso que tenhamos sempre presente esta inefável e
realíssima relação de diálogo, que Deus Pai nos propõe e
estabelece conosco por meio de Cristo no Espírito Santo, para
entendermos a relação que nós, isto é a Igreja, devemos procurar
restabelecer e promover com a humanidade.
O diálogo da salvação foi aberto espontaneamente por iniciativa
divina: "Ele [Deus] foi o primeiro a amarnos" ( 1Jo
4,10). A nós tocará outra iniciativa, a de prolongarmos até
aos homens esse diálogo, sem esperar que nos chamem.
O diálogo da salvação partiu da caridade, da bondade divina:
"Deus amou de tal modo o mundo que lhe deu o seu Filho Unigênito"
(Jo 3,16). Nada, senão o amor fervoroso e desinteressado,
deve despertar o nosso.
O diálogo da salvação não se proporcionou aos méritos dos
interlocutores convidados, nem aos resultados que iria conseguir ou que
teriam faltado: "Os sãos não precisam de médico" (Lc
5,31). Também o nosso diálogo deve ser sem limites nem
cálculos.
43. O diálogo da salvação não obrigou fisicamente ninguém a
responder: foi pedido insistente de amor que, se constituiu
responsabilidade tremenda naqueles a quem foi dirigido (cf. Mt
11,21), contudo deixou-os livres para corresponder ou fechar os
ouvidos, adaptou até o número e a força probante dos sinais (cf.
Mt 12,38ss), às exigências e disposições espirituais dos
homens (cf. Mt 13,13ss), facilitou assim aos ouvintes o
consentimento livre à revelação divina, sem perda do mérito por
este assentimento. Assim também a nossa missão, ainda que seja
anúncio de verdade indiscutível e de salvação necessária, não se
apresentará armada de coação externa, mas oferecerá o seu dom
salvífico só pelas vias legítimas da educação humana, da
persuasão interior e do trato ordinário, respeitando sempre a
liberdade pessoal e civil.
44. O diálogo da salvação ficou ao alcance de todos; foi
destinado a todos sem qualquer discriminação (cf. Cl 3,11).
Também o nosso deve ser, em princípio, universal, isto é,
católico, e capaz de entabular-se seja com quem for, a não ser que
o homem o recuse em toda a linha ou finja recebê-lo sem sinceridade.
O diálogo da salvação conheceu ordinariamente graus, progressos
sucessivos, humildes princípios antes do resultado pleno (cf. Mt
13,31). Também o nosso atenderá às lentidões da maturação
psicológica e histórica, e esperará a hora da eficácia que lhe vem
de Deus. Mas, nem por isso, o nosso diálogo deixará para amanhã
o que pode conseguir hoje; deve ter a preocupação da hora oportuna e
o sentido do valor do tempo (cf. Ef 4,16). Deve recomeçar
cada dia; e recomeçar do nosso lado, não do outro a que se dirige.
|
|