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45. É claro que as relações entre a Igreja e o mundo podem
assumir muitos e diversos aspectos. Teoricamente, seria possível à
Igreja propor-se a redução ao mínimo de tais relações,
procurando isolar-se do contacto com a sociedade profana; como poderia
também propor-se assinalar os males que nela venha a encontrar,
anatematizando-os e pregando cruzadas contra eles. E poderia, ao
contrário, aproximar-se da sociedade profana até conseguir influxo
preponderante ou domínio teocrático. Outras atitudes se podem
imaginar ainda. Parece-nos, porém, que a relação da Igreja com
o mundo, sem excluir outras formas legítimas, se representa melhor
pelo diálogo, embora não necessariamente com palavras que tenham para
os dois interlocutores o mesmo sentido. É necessário atender ao que
é diverso nas mentalidades e nas circunstâncias de fato: um é o
diálogo com a criança, outro com o adulto; um com o crente e outro
com o incrédulo. Conceber essa relação como diálogo é o que nos
sugerem o hábito agora muito espalhado de assim representar as
relações entre o sacro e o profano; o dinamismo transformador da
sociedade moderna; o pluralismo das suas manifestações; e também a
maturidade do homem, tanto religioso como não religioso, habilitado
pela educação profana a pensar, falar e manter com dignidade o
diálogo.
46. Esta forma de relação indica, por parte de quem a inicia, um
propósito de urbanidade, de estima, de simpatia e de bondade; exclui
a condenação apriorística, a polêmica ofensiva e habitual, o
prurido de falar por falar. Se é certo que não visa a obter sem
demoras a converso do interlocutor, porque lhe respeita a dignidade e
liberdade, sempre visa ao bem dele e procura dispo-lo à comunhão
mais plena de sentimentos e convicções.
O diálogo supõe em nós, que pretendemos iniciá-lo e continuá-lo
com todos os que nos circundam, um estado de alma característico: o
de quem experimenta a responsabilidade do mandato apostólico, vê que
já não pode separar a própria salvação do trabalho pela salvação
alheia, de quem se esforça por introduzir continuamente, no viver
humano, a mensagem de que é depositário.
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