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65. Este desejo de que as relações interiores da Igreja se
caracterizem pelo tom próprio do diálogo, entre membros de um corpo
cujo princípio constitutivo é a caridade, não dispensa da prática
da virtude da obediência, quando a ordem que tem de haver em toda a
sociedade bem unida, e sobretudo a constituição hierárquica da
Igreja reclamam, por um lado, a função própria da autoridade, e,
por outro, a submissão. A autoridade da Igreja é instituição de
Cristo, representa-O, é transmissora autorizada da sua palavra e
da sua caridade pastoral. Deste modo, a obediência procede do motivo
de fé, torna-se escola de humildade evangélica, associa o obediente
à sabedoria, à unidade, à educação e à caridade que regem o
corpo eclesiástico, e confere, a quem se conforma com ela, o mérito
da imitação de Cristo: "feito obediente até a morte" (Fl
2,8).
66. Por obediência, expressa em forma de diálogo, entendemos,
portanto, o exercício da autoridade, bem penetrado da convicção de
tratar-se de um serviço e ministério da verdade e da caridade; e
entendemos também a observância das normas canônicas e a reverência
ao governo do superior legítimo, ambas com prontidão e serenidade,
como convém a filhos livres e afetuosos. O espírito de
independência, de crítica e rebelião concorda mal com o amor que
anima a solidariedade, a concórdia e a paz na Igreja. Esse
espírito transforma facilmente o diálogo em discussão, rixa ou
desavença: coisa desagradabilíssima, com que infelizmente sempre se
deve contar. Por isso nos acautelava o Apóstolo São Paulo:
"Não haja entre vós divisões" (lCor 1,10).
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