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12. E sabido, além disso, que a Igreja se lançou nestes
últimos tempos a estudar-se melhor a si mesma, valendo-se de
insígnes investigadores, de homens grandes e intelectuais, de escolas
teológicas qualificadas, de movimentos pastorais e missionários, de
experiências religiosas notáveis e sobretudo de ensinamentos
pontifícios dignos de memória.
Levar-nos-ia longe demais, aludir só que fosse, à abundância da
literatura teológica, editada no século passado e no atual, que tem
por objeto a Igreja. Muito demorado seria igualmente lembrar os
documentos que o Episcopado católico e esta Sé Apostólica
publicaram sobre tema de tanta amplitude e alcance. A partir do
Concílio de Trento, que fez o possível por reparar as
conseqüências da crise que afastou tantos cristãos no século
XVI, a doutrina sobre a Igreja contou grandes cultores e
conseqüentemente notáveis progressos. Basta referirmo-nos aqui aos
ensinamentos do Concílio Ecumênico Vaticano I neste campo, para
compreendermos como o estudo sobre a Igreja solicita a atenção,
tanto dos Pastores e Mestres como dos féis e de todos os cristãos.
Esse tema é, quase diríamos, fase obrigatória no caminho do
conhecimento exaustivo de Cristo e de toda a sua obra; tanto assim
que, conforme já foi dito, o Concílio Ecumênico Vaticano II
não passa de continuação e complemento do I, precisamente pelo
encargo de retomar o exame e aprofundamento da doutrina sobre a
Igreja. E, se não dizemos mais, por amor de brevidade, pois
falamos a quem muito bem conhece esta matéria, não pouco vulgarizada
hoje dentro da Igreja pela catequese e pela espiritualidade, não
podemos deixar de nomear com honra dois documentos dignos de particular
memória: a Encíclica "Satis Cognitum", do Papa Leão XIII
(1896) e a Encíclica "Mystici Corporis", do Papa Pio
XII (1943). Ambos os documentos nos oferecem doutrina
abundante e luminosa sobre a instituição divina, pela qual Cristo
prolonga no mundo a sua obra de salvação, e sobre a qual recai agora
o nosso discurso. Baste recordar as palavras iniciais do segundo
documento pontifício assinalado, que se tornou, podemos dizer, texto
clássico da teologia sobre a Igreja e fonte de meditações
espirituais sobre esta obra da misericórdia divina que a todos nós diz
respeito. Apraz-nos recordar as palavras magistrais de tão grande
predecessor nosso: "A doutrina do Corpo Místico de Cristo, que
é a Igreja, recebida dos lábios do próprio Redentor e que põe na
devida luz o grande e nunca assaz celebrado benefício, da nossa
íntima união com tão excelsa Cabeça, é de sua natureza tão
grandiosa e sublime que chama à contemplação todos os que são
movidos pelo Espírito de Deus; e, iluminando as suas
inteligências, incita-os eficazmente a obras salutares,
consentâneas com a mesma doutrina". (AAS, 35, p.
193-248; ano 1943).
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