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34. Há uma terceira atitude, que a Igreja Católica deve tomar
neste momento da história do mundo. Referimo-nos ao estudo sobre os
contactos que ela há de manter com a humanidade. Se a Igreja adquire
cada vez mais clara consciência de si e procura modelar-se em
conformidade com o tipo proposto por Cristo, não poderá deixar de
distinguir-se profundamente do ambiente humano, em que afinal vive ou
do qual se aproxima. O Evangelho põe-nos diante dos olhos esta
distinção quando nos fala do "mundo", isto é, da humanidade como
oposta à luz da fé e ao dom da graça; da humanidade, que se exalta
num ingênuo otimismo, julgando que lhe bastam as próprias forças
para se realizar com plenitude, estabilidade e proveito; ou ainda da
humanidade que se deprime num pessimismo cruel, declarando fatais,
incuráveis e mesmo talvez apetecíveis, como manifestações de
liberdade e autenticidade - os próprios vícios, fraquezas e doenças
morais. O Evangelho, que conhece, denuncia, faz suas e cura as
misérias humanas com penetrante e pungente sinceridade, não cede
todavia nem a ilusões sobre a bondade natural do homem, considerado
auto-suficiente e com a exigência única de que o deixem expandir-se
em plena liberdade, nem, por outro lado, à desesperada resignação
diante duma natureza corrompida e sem cura. O Evangelho é luz, é
novidade, é energia, é renascimento, é salvação. Por isso gera
e carateriza uma forma de vida nova, de que o Novo Testamento nos dá
lição contínua e admirável: "Não vos conformeis com este mundo,
mas transformai-vos, renovando a vossa mente, a fim de poderdes
discernir qual é a vontade de Deus, o que é bom, agradável e
perfeito" (Rm 12,2). Assim nos exorta São Paulo.
Esta diversidade, entre a vida cristã e a vida profana, deriva
também da justificação real, efetiva, e da consciência que dela
adquirimos. Somos justificados pela nossa participação ao mistério
pascal, que primeiramente nos é dada no santo batismo, como dizíamos
acima, o qual é e deve considerar-se verdadeira regeneração.
Também no-lo recorda So Paulo: "...todos os que fomos
batizados em Cristo Jesus, é na sua morte que fomos batizados.
Portanto pelo batismo nós fomos sepultados com Ele na morte para
que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos pela glória do
Pai, assim também nós vivamos vida nova" (Rm 6,3-4).
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