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8. Refletir sobre a origem e natureza da relação nova e vital, que
a doutrina de Cristo estabelece entre Deus e o homem, desejávamos
constituísse ato de docilidade a toda a palavra do Divino Mestre
dirigida aos seus ouvintes, especialmente aos seus discípulos, entre
os quais nós mesmo, com toda a razão, nos gostamos de colocar.
Dentre as muitas recomendações, que lhes faz Nosso Senhor,
lembraremos uma das mais sérias e repetidas, que ainda hoje vale
sempre para quem o deseja seguir com fidelidade. Referimo-nos à
recomendação da vigilância.
É certo que este conselho do Divino Mestre se refere principalmente
ao destino último do homem, próximo ou remoto no tempo. Mas,
exatamente porque esta vigilância deve atuar sempre na consciência do
servo fiel, determina-lhe na prática o comportamento moral a cada
momento. É o que deve caracterizar o cristão no meio do mundo.
Nosso Senhor recomenda-nos a vigilância mesmo falando de fatos muito
próximos, de perigos e tentações que podem fazer decair ou transviar
a atitude do homem (cf. Mt 26,41). Fácil é descobrir no
Evangelho um apelo contínuo à retidão no pensar e agir. Acaso não
se referia a ela a mensagem do Precursor, que inicia a vida pública
no Evangelho? E o próprio Jesus Cristo não nos convidou a
aceitarmos interiormente o reino de Deus? (Mt 17,21). Não
é toda a sua pedagogia um apelo, uma iniciação à interioridade? A
consciência psicológica e a consciência moral são chamadas por
Cristo à plenitude simultânea, quase como condição para
recebermos, como convém ao homem, os dons divinos da verdade e da
graça. E a consciência do discípulo tornar-se-á depois memória
(cf. Mt 26,75; Lc 24,8; Jo 14,26; Jo 16,4)
de todas as lições de Jesus e de tudo quanto sucedeu à sua volta.
Virão depois o progresso e aprofundamento na compreensão de quem ele
é, e do que ensinou e fêz.
O nascimento da Igreja e o despertar da sua consciência profética
são os dois fatos característicos e simultâneos do Pentecostes.
Ambos a par vão completar-se: a Igreja progredirá na sua
organização e no seu desenvolvimento hierárquico e comunitário; e a
consciência da sua vocação, da sua natureza misteriosa, da boa
doutrina e da sua missão acompanhará gradualmente esse progresso,
segundo a aspiração de São Paulo: "E peço que a vossa caridade
abunde mais e mais em ciência e em todo discernimento" (Fl
1,9).
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