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Veneráveis irmãos e diletos filhos,
saúde e bênção apostólica
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1. O empenho em anunciar o Evangelho aos homens do nosso tempo,
animados pela esperança mas ao mesmo tempo torturados muitas vezes pelo
medo e pela angústia, é sem dúvida alguma um serviço prestado à
comunidade dos cristãos, bem como a toda a humanidade.á
É por isso que a tarefa de confirmar os irmãos, que nós recebemos do
Senhor com o múnus de sucessor de Pedro [1] e que constitui para
nós "cada dia um cuidado solícito" [2], um programa de vida e de
atividade e um empenho fundamental do nosso pontificado, tal tarefa
afigura-se-nos ainda mais nobre e necessária quando se trata de
reconfortar os nossos irmãos na missão de evangelizadores, a fim de
que, nestes tempos de incerteza e de desorientação, eles a
desempenhem cada vez com mais amor, zelo e alegria.
2. E é precisamente isso que nós intentamos fazer agora, no final
deste Ano Santo, no decorrer do qual a Igreja, ao "procurar
infatigavelmente anunciar o Evangelho a todos os homens" [3],
outra coisa não quis senão desempenhar-se do seu ofício de
mensageira da Boa Nova de Jesus Cristo, proclamada em base a dois
lemas fundamentais; "Revesti-vos do homem novo", [4] e
"Reconciliai-vos com Deus".[5]
Queremos fazer isso, também, neste décimo aniversário de
encerramento do Concílio Vaticano II, cujos objetivos se resumem,
em última análise, num só intento: tornar a Igreja do século XX
mais apta ainda para anunciar o Evangelho à humanidade do mesmo
século XX.
Queremos fazer isso, ainda, um ano depois da terceira Assembléia
Geral do Sínodo dos Bispos, dedicado, como é sabido, à
evangelização; e fazemo-lo também porque isso nos foi demandado
pelos próprios Padres sinodais. Efetivamente, ao concluir-se essa
memorável Assembléia, eles decidiram confiar ao Pastor da Igreja
universal, com grande confiança e simplicidade, o fruto de todo o seu
labor, declarando que esperavam do Papa um impulso novo, capaz de
suscitar, numa Igreja ainda mais arraigada na força e na potência
imorredouras do Pentecostes, tempos novos de evangelização.[6]
3. Quanto a este tema da evangelização, nós tivemos
oportunidade, em diversas ocasiões, de realçar a sua importância,
muito antes das jornadas do Sínodo. "As condições da sociedade,
tivemos ocasião de dizer ao Sacro Colégio dos Cardeais, a 22 de
junho de 1973, obrigam-nos a todos a rever os métodos, a
procurar, por todos os meios ao alcance, e a estudar o modo de fazer
chegar ao homem moderno a mensagem cristã, na qual somente ele poderá
encontrar a resposta às suas interrogações e a força para a sua
aplicação de solidariedade humana".[7] E acrescentávamos na
mesma altura que, para dar uma resposta válida às exigências do
Concílio que nos interpelam, é absolutamente indispensável
colocar-nos bem diante dos olhos um patrimônio de fé que a Igreja
tem o dever de preservar na sua pureza intangível, ao mesmo tempo que
o dever também de o apresentar aos homens do nosso tempo, tanto quanto
isso é possível, de uma maneira compreensível e persuasiva.
4. Esta fidelidade a uma mensagem da qual nós somos os servidores,
e às pessoas a quem nós a devemos transmitir intata e viva, constitui
o eixo central da evangelização, Ela levanta três problemas
candentes, que o Sínodo dos Bispos de 1974 teve constantemente
diante dos olhos: O que é que é feito, em nossos dias, daquela
energia escondida da Boa Nova, suscetível de impressionar
profundamente a consciência dos homens? Até que ponto e como é que
essa força evangélica está em condições de transformar
verdadeiramente o homem deste nosso século? Quais os métodos que
hão de ser seguidos para proclamar o Evangelho de modo a que a sua
potência possa ser eficaz?
Tais perguntas, no fundo, exprimem o problema fundamental que a
Igreja hoje põe a si mesma e que nós poderíamos equacionar assim:
Após o Concílio e graças ao Concílio, que foi para ela uma hora
de Deus nesta viragem da história, encontrar-se-á a Igreja mais
apta para anunciar o Evangelho e para o inserir no coração dos
homens, com convicção, liberdade de espírito e eficácia? Sim ou
não?
5. Todos nós vemos a urgência em dar a esta pergunta uma resposta
leal, humilde, corajosa e, depois, de agir conseqüentemente.
Com o nosso "cuidado solícito de todas as Igrejas", [8] nós
desejaríamos ajudar os nossos Irmãos e Filhos a responder a tais
interpelações. Oxalá que as nossas palavras, que intentam ser uma
reflexão sobre a evangelização, a partir das riquezas do Sínodo,
possam levar à mesma reflexão todo o povo de Deus congregado na
Igreja, e vir a ser um impulso novo para todos, especialmente para
aqueles "que se afadigam na pregação e no ensino", [9] a fim de
que cada um deles seja "um operário que distribui retamente a Palavra
da verdade" [10] e realize obra de pregador do Evangelho e se
desempenhe com perfeição do próprio ministério.
Pareceu-nos de capital importância uma Exortação deste gênero,
porque a apresentação da mensagem evangélica não é para a Igreja
uma contribuição facultativa: é um dever que lhe incumbe, por
mandato do Senhor Jesus, a fim de que os homens possam acreditar e
ser salvos. Sim, esta mensagem é necessária; ela é única e não
poderia ser substituída. Assim, ela não admite indiferença nem
sincretismo, nem acomodação, É a salvação dos homens que está em
causa; é a beleza da Revelação que ela representa; depois, ela
comporta uma sabedoria que não é deste mundo. Ela é capaz, por si
mesma, de suscitar a fé, uma fé que se apóia na potência de
Deus.[11] Enfim, ela é a Verdade. Por isso, bem merece que
o apóstolo lhe consagre todo o seu tempo, todas as suas energias e lhe
sacrifique, se for necessário, a sua própria vida.
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