8. Conclusão.

Quando, ainda há pouco, começamos a investigar as coisas invisíveis partindo das visíveis, passamos primeiro da criatura corpórea à incorpórea, isto é, a criatura racional; em seguida, da criatura racional chegamos à sabedoria divina. Agora, porém, retornando da sabedoria divina à criatura racional, dela prosseguiremos até a criatura corpórea mediante uma consideração conveniente. A primeira foi a ordem do conhecimento; a segunda, a ordem da criação.

A primeira foi a ordem do conhecimento, porque o que surge por primeiro no conhecimento é a criatura corpórea visível; em seguida, o conhecimento passa da criatura corpórea à incorpórea; finalmente, aberta a via da investigação, chega ao Criador de ambas.

Na criação, porém, o primeiro grau pertence à criatura racional feita à imagem de Deus; em seguida vem a criatura corpórea, feita para que a criatura racional conhecesse nela exteriormente aquilo que do Criador recebeu interiormente.

Na sabedoria de Deus existe a verdade, na criatura racional a imagem da verdade, na criatura corpórea a sombra da imagem.

A criatura racional foi feita para a sabedoria divina. A criatura corpórea foi feita para a criatura racional. Por causa disso todo movimento e conversão da criatura corpórea é para a criatura racional, e todo movimento e conversão da criatura racional deve ser para a sabedoria de Deus, para que cada qual sempre esteja voltado e unido ao seu superior, sem perturbar em si mesmo nem a ordem da primeira criação, nem a semelhança do primeiro exemplar.

Portanto, quem transita pelo caminho da investigação das coisas visíveis às invisíveis, deve conduzir a intenção da mente em primeiro lugar da criatura corporal à criatura racional, e em seguida da criatura racional à consideração de seu Criador. Retornando, porém, das coisas invisíveis às visíveis, descerá primeiro do Criador à criatura racional, e em seguida da criatura racional à criatura corpórea.

Na mente humana a ordem do conhecimento sempre deve preceder a ordem da criação porque nós, que existimos em meio às coisas externas, não podemos retornar das coisas internas se primeiro não as penetrarmos pelos olhos da mente. A ordem da criação seguir-se-á sempre à ordem do conhecimento porque, ainda que às vezes a enfermidade humana tenha sido timidamente admitida à contemplação das coisas internas, todavia o fluxo de sua mutabilidade não lhe permitirá ficar ali permanentemente.