26. Natureza da humildade.

Há muitas opiniões distorcidas na comum opinião dos homens sobre o que seja a humildade, as quais dificultam uma apreciação de sua verdadeira natureza. Para alguns a humildade seria uma forma mórbida de auto desprezo, para outros uma ingenuidade incapaz de reconhecer a maldade alheia, para outros ainda a submissão irracional a qualquer forma de violência, física ou psicológica, externamente imposta. Ao contrário destas e de muitas outras colocações, deve-se dizer que a humildade significa a consciência que o homem possui de ser apenas um ser humano ou uma criatura humana e de, conseqüentemente, não ser um deus ou um ser dotado de atributos divinos; significa também a consciência das implicações contidas nestas afirmações e a capacidade de agir coerentemente com elas. As pessoas que, em graus maiores e menores, não possuem a virtude da humildade são aquelas que, em seu agir, quer elas o entendam ou não, quer o admitam ou não, procedem de tal forma que suas atitudes só poderiam ser explicadas coerentemente na hipótese de que elas tivessem admitido como pressuposto de seu agir que elas não são homens, mas deuses, ou criaturas dotadas de atributos divinos ou, pelo menos, seres dotados de uma natureza mais do que humana. A conduta do homem orgulhoso é, assim, sob qualquer ponto de vista, uma conduta absurda. Para ser coerente com o seu procedimento, o homem orgulhoso teria que admitir com sinceridade um pressuposto absurdo; se se recusar a fazê-lo, então sua própria conduta, considerada em si mesma, torna-se absurda porque incoerente.