|
Pitágoras foi o primeiro que chamou de filosofia ao estudo da
sabedoria, preferindo ser conhecido como filósofo do que como sábio,
pois antes dele os homens que se dedicavam a este estudo chamavam-se
sofos, isto é, sábios. Mas é belo que ele tivesse chamado aos que
buscam a verdade de amantes da sabedoria em vez de sábios, porque a
verdade é tão escondida que por mais que a mente se inflame em seu
amor e se disponha à sua busca, ainda assim é difícil que possa vir
a compreender a verdade tal como ela é. Pitágoras, porém,
estabeleceu a filosofia como a disciplina daquelas coisas que
verdadeiramente existem e que são, em si mesmas, substâncias
imutáveis.
A filosofia é o amor, o estudo e a amizade da sabedoria; não porém
desta sabedoria que trata de ferramentas, ou de alguma ciência ou
notícia sobre algum método fabril, mas daquela sabedoria que, não
necessitando de nada, é uma mente viva e a única e primeira razão de
todas as coisas. Este amor da sabedoria é uma iluminação da alma
inteligente por aquela pura sabedoria e como que um chamado que ela faz
ao homem, de tal modo que o estudo da sabedoria se nos apresenta como
uma amizade daquela mente pura e divina. Esta sabedoria impõe a todo
gênero de almas os benefícios de sua riqueza, e as conduz à pureza e
à força própria de sua natureza. Daqui nasce a verdade das
especulações e dos pensamentos, e a santa e pura castidade dos atos.
|
|