|
Hugo encontrou entre os estudantes de São Vítor um discípulo digno
dele. Chamava-se Ricardo, e ficou posteriormente conhecido como
Ricardo de São Vitor. Foi também como Hugo um estrangeiro na
França: a Escócia foi a sua pátria; como ele foi discípulo de
Santo Agostinho; como ele serviu-se da ciência para chegar ao amor
que é a perfeição da vida; como ele aceitou os princípios da fé
como fundamentos da ciência teológica, sem condenar a razão à
imobilidade e interditá-la de toda especulação. Foi, juntamente
com Hugo, luz para a escola de São Vítor e luz para os seus
contemporâneos. Seus nomes são inseparáveis assim como seus
escritos. É a eles que devemos remontar para encontrar o primeiro elo
desta cadeia de teólogos ilustres que estabeleceram a ciência
teológica sobre bases tão largas e tão sólidas, e que elevaram este
magnífico edifício envolto, é verdade, algumas vezes, em
turbilhões de poeira, ou mesmo coberto de lama, mas hoje
inquebrantável no meio das maiores tempestades. É lá que damos a
esta escola uma importância verdadeiramente histórica. O século
XII prepara o século XIII, não pelo brilho de suas
controvérsias, mas por um trabalho paciente, iniciado e continuado no
seio da solidão mais profunda, e que alcançará seu mais alto ponto
de perfeição nas obras de Alberto Magno, São Tomás de Aquino e
São Boaventura .
O próprio são Boaventura, mais tarde, assim se expressaria sobre
Hugo de São Vítor:
|
"Todos os livros das Sagradas Escrituras,
além do sentido literal
que as palavras externamente expressam,
ensinam três sentidos espirituais,
a saber, o alegórico,
que nos ensina o que temos de crer sobre
a divindade e a humanidade de Cristo;
o moral,
que ensina o bem viver; e o anagógico,
que nos mostra o caminho de nossa união com Deus; de onde se deduz
que todas as Sagradas Escrituras
ensinam estas três coisas:
a geração eterna e a encarnação temporal de Cristo, a norma do viver
e a união da alma com Deus,
ou a fé, os costumes e o fim de ambos.
Sobre a primeira destas coisas
devemos exercitar-nos com afinco
no estudo dos Doutores;
sobre a segunda, no estudo dos Pregadores;
sobre a terceira, no estudo das almas contemplativas.
Santo Agostinho ensina de preferência a primeira;
São Gregório, a segunda;
São Dionísio Areopagita, a terceira.
Santo Anselmo segue a Santo Agostinho;
São Bernardo segue a São Gregório;
Ricardo de São Vítor segue a São Dionísio Areopagita;
porque Santo Anselmo se distingue no raciocínio,
São Bernardo na pregação
e Ricardo de São Vítor na contemplação.
Mas Hugo de São Vítor se sobressai nas três".
|
|
|
São Boaventura
"Redução das Ciências à Teologia"
|
|
|