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Entretanto, as guerras políticas e religiosas que se elevaram sob o
reinado de Henrique IV obrigaram o jovem Hugo a abandonar a sua
pátria. Reinardo, seu tio, aconselhou-o a buscar em Paris a
ciência e a paz que ele não mais podia encontrar na Saxônia.
Hugo então parte assim como em outra época o fez Abraão, dizem os
seus antigos biógrafos. O velho Hugo, irmão de seu avô,
consentiu em acompanhá-lo em seu exílio. Juntos percorreram a
Saxônia, a Flandre e a Lorena. Em todo lugar foram acolhidos com
hospitalidade e honra, por causa da nobreza de seus nascimentos.
Chegará, enfim, em São Vítor de Marselha e depois em São
Vítor de Paris, onde Hugo pode, de alguma forma, reencontrar seus
antigos mestres e êmulos de seu trabalho.
Em São Vítor de Paris não sabemos quase nada da vida de Hugo, a
não ser que continua seus estudos sob o priorado de Thomas, sucessor
de Guilherme de Champeaux, e que depois disso sucedeu ele próprio ao
seu mestre como diretor da escola de São Vítor, cargo que exerceu
com brilho até a sua morte.
Osberto, cônego de São Vítor, onde exerceu as funções de
enfermeiro, nos deixou um tocante relato dos últimos instantes de
Hugo em uma carta a um outro cônego chamado João.
Sua memória durante bastante tempo foi muito querida aos cônegos de
São Vítor. Seu nome é frequentemente citado nos seus anais com
veneração e amor. Mas sua luz se estendeu bem além dos claustros de
sua abadia. Hugo foi certamente um dos homens mais ilustres de seu
tempo por suas virtudes e por sua ciência. Jacques de Vitry, em sua
História Ocidental, depois de um elogio pomposo da comunidade de
São Vítor e dos grandes homens que ela produziu, acrescenta:
"O mais célebre e o mais renomado de todos foi Hugo.
Ele foi a harpa do Senhor, e o órgão do Espírito Santo:
um símbolo de virtudes e um símbolo de pregação.
Levou um grande número de cristãos à prática do bem
pelo seu exemplo e pela sua pia conversação;
dando-lhes a ciência pela sua doutrina
tão doce quanto o mel".
Tritheme o representa como um homem muito versado nas Sagradas
Escrituras, sem igual entre os antigos em filosofia, como um outro
Agostinho, como o mais célebre doutor de seu tempo, de um gênio
penetrante, eloqüente em seu estilo, tão venerável pelos seus
costumes quanto pelo seu conhecimento. Chega a atribuir-lhe alguns
milagres. É certo que foi venerado por sua santidade e honrado por sua
ciência. A posteridade, porém, que não pôde conhecê-lo senão
por meio de suas obras, não pôde também desmentir o testemunho
universal de seus contemporâneos.
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