2. Características da obra teológica de Hugo de S. Vitor.

A obra teológica de Hugo de São Vitor se distingue de modo particular entre todas as outras que marcaram com uma forte presença a história da Igreja pelo fato de que seu autor foi chamado não apenas a lecionar Teologia, mas também a organizar a primeira escola desta disciplina em sua nascente congregação. Naquela época não existiam ainda na Igreja os seminários para a formação dos clérigos, que só surgiram com uma disciplina organizada através dos decretos do Concílio de Trento no século XVI. No tempo de Hugo de São Vitor não existiam ainda também as instituições a que hoje denominamos Universidades, da qual a primeira foi a Universidade de Paris que surgiria cerca de um século depois de Hugo de São Vitor, em grande parte como resultado do trabalho que ele próprio desenvolveu na escola anexa ao Mosteiro de São Vitor de Paris.

Devido ao fato de Hugo de São Vitor ter-se visto investido da obrigação de organizar esta escola de estudos teológicos, a primeira e principal de uma organização que surgia na Igreja com a devoção característica das obras que estão ainda em seus primórdios, uma parte de seus escritos acabaram sendo dedicados à Pedagogia da Teologia e da vida espiritual. Hugo de São Vitor se viu explicando aos alunos como se deveria estudar, aos professores como se deveria ensinar e à escola como se deveria organizar, não para obter algum diploma. que naquela época ainda de nada valiam, mas para, a partir de um sólido conhecimento das Sagradas Escrituras e das obras dos Santos Padres, empreenderem a busca da santidade. Muitas ou talvez mesmo quase todas as demais obras de Hugo de São Vitor que não tratam diretamente de Pedagogia, entendido este termo no sentido que acabamos de explicar, ademais, só podem ser verdadeiramente compreendidas quando inseridas dentro da perspectiva desta que foi uma das mais notáveis das pedagogias, talvez mesmo a Pedagogia por excelência. Efetivamente, a maioria destas obras foram sendo redigidas à medida em que Hugo, percebendo que não havia ainda, na Tradição Cristã, textos que pudessem preencher tais ou quais necessidades de seu modo de entender a Educação, as foi compondo e escrevendo ele próprio. Foi assim, por exemplo, que surgiu a primeira Summa Theologiae da história, ou o primeiro texto que tinha a estrutura e as características essenciais de uma Summa Theologiae do modo como viria a ser composta quase dois séculos mais tarde por Santo Tomás de Aquino. Àquela que foi a primeira Summa Theologiae da história, Hugo de São Vitor deu o nome de Os Mistérios da Fé Cristã, ou, no original latino, De Sacramentis Christianae Fidei. Porém, anos antes de escrevê-la, em uma outra obra, os seis livros do Didascalicon, obra dedicada apenas a questões de pedagogia, Hugo de São Vitor havia demonstrado a necessidade de se redigir um texto que tivesse as características que viriam a se encontrar em seu Os Mistérios da Fé Cristã e posteriormente na Summa Theologiae de Santo Tomás, e que pudesse ser utilizado como subsídio para uma das etapas de seu programa pedagógico.