16. Conclusão.

Hugo encontrou entre os estudantes de São Vítor um discípulo digno dele. Chamava-se Ricardo, e ficou posteriormente conhecido como Ricardo de São Vitor. Foi também como Hugo um estrangeiro na França: a Escócia foi a sua pátria; como ele foi discípulo de Santo Agostinho; como ele serviu-se da ciência para chegar ao amor que é a perfeição da vida; como ele aceitou os princípios da fé como fundamentos da ciência teológica, sem condenar a razão à imobilidade e interditá-la de toda especulação. Foi, juntamente com Hugo, luz para a escola de São Vítor e luz para os seus contemporâneos. Seus nomes são inseparáveis assim como seus escritos. É a eles que devemos remontar para encontrar o primeiro elo desta cadeia de teólogos ilustres que estabeleceram a ciência teológica sobre bases tão largas e tão sólidas, e que elevaram este magnífico edifício envolto, é verdade, algumas vezes, em turbilhões de poeira, ou mesmo coberto de lama, mas hoje inquebrantável no meio das maiores tempestades. É lá que damos a esta escola uma importância verdadeiramente histórica. O século XII prepara o século XIII, não pelo brilho de suas controvérsias, mas por um trabalho paciente, iniciado e continuado no seio da solidão mais profunda, e que alcançará seu mais alto ponto de perfeição nas obras de Alberto Magno, São Tomás de Aquino e São Boaventura .

O próprio são Boaventura, mais tarde, assim se expressaria sobre Hugo de São Vítor:

"Todos os livros das Sagradas Escrituras, além do sentido literal que as palavras externamente expressam, ensinam três sentidos espirituais, a saber, o alegórico, que nos ensina o que temos de crer sobre a divindade e a humanidade de Cristo; o moral, que ensina o bem viver; e o anagógico, que nos mostra o caminho de nossa união com Deus; de onde se deduz que todas as Sagradas Escrituras ensinam estas três coisas: a geração eterna e a encarnação temporal de Cristo, a norma do viver e a união da alma com Deus, ou a fé, os costumes e o fim de ambos.

Sobre a primeira destas coisas devemos exercitar-nos com afinco no estudo dos Doutores; sobre a segunda, no estudo dos Pregadores; sobre a terceira, no estudo das almas contemplativas.

Santo Agostinho ensina de preferência a primeira; São Gregório, a segunda; São Dionísio Areopagita, a terceira.

Santo Anselmo segue a Santo Agostinho; São Bernardo segue a São Gregório; Ricardo de São Vítor segue a São Dionísio Areopagita; porque Santo Anselmo se distingue no raciocínio, São Bernardo na pregação e Ricardo de São Vítor na contemplação.

Mas Hugo de São Vítor se sobressai nas três".

São Boaventura
"Redução das Ciências à Teologia"