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Entre os diversos cargos e atividades previstos pela regra do mosteiro
de São Vítor, interessam-nos aqui o ofício de bibliotecário, o
trabalho dos copistas e as regras da escola anexa ao mosteiro.
Todos os livros do mosteiro estavam confiados aos cuidados de um
bibliotecário. O bibliotecário possuía o seu catálogo e fazia duas
ou três vezes por ano o recenseamento dos livros, examinando
atentamente se eles tivessem sofrido algum dano e providenciando os
reparos necessários.
Os livros preciosos não podiam ser emprestados sem a permissão do
abade. Entre estes estavam todos os documentos e escrituras que diziam
respeito ao mosteiro.
Era o próprio bibliotecário que fornecia aos copistas as coisas
necessárias ao seu trabalho. O bibliotecário velava não só para
que não lhes faltasse nada como também para que não copiassem senão
as obras que tivessem sido indicadas pelo próprio abade. Todos
aqueles que no mosteiro sabiam escrever deviam se submeter às ordens do
bibliotecário se este julgasse que havia necessidade de seus
préstimos.
No mosteiro cada cargo tinha seus regulamentos bem determinados e o
trabalho de todos concorria para o estabelecimento de uma ordem
perfeita. Esta ordem era o princípio e o guardião da paz e da
tranquilidade de alma tão necessário para as especulações da
ciência e para o progresso da piedade cristã.
De modo geral a regra prescrevia diversos exercícios de piedade e
estudo que se alternavam com o trabalho manual, que deveria ser
executado em rigoroso silêncio. Apenas os copistas estavam isentos do
trabalho manual, e eram ordinariamente os clérigos ou os monges mais
instruídos que eram convocados para este trabalho considerado nobre.
Mas não era o amor das letras que inspirava este zelo: foram os
pensamentos da fé, o desejo de conservar intactos e de multiplicar os
exemplares dos santos livros e das obras dos Santos Padres da Igreja
que foram os principais motivos de estímulo para a multidão de
copistas que houve na história do monasticismo cristão.
Entre os cônegos de São Vítor este trabalho foi tido em alta
conta. Os que se sentavam ao trabalho deveriam guardar entre si o mais
rigoroso silêncio. Ninguém deveria perder o seu tempo andando de um
lado para outro. Nenhuma pessoa entraria no lugar a eles reservado, a
não ser o abade, o prior, o sub prior ou o bibliotecário. Se
alguém quisesse fazer em particular uma comunicação inadiável a
algum dos copistas, o bibliotecário tinha a permissão de conduzí-lo
ao parlatório do mosteiro para uma troca rápida de palavras.
Em um grande número de mosteiros os copistas eram divididos em duas
seções. Os primeiros copiavam. Os outros, os mais instruídos,
revisavam e corrigiam as cópias. Ainda hoje temos um grande número
de manuscritos onde se percebem os traços destas correções.
A função tão honrada de copista não era confiada ao acaso. O
costume de São Vítor nos ensina que era o próprio abade que
indicava quem a deveria exercer. Uma grande prática de ler textos
antigos e um talento comprovado na arte de escrever conferiam o direito
de ocupar uma cadeira no escritório. Quando alguém obtinha este
cargo, deveria dirigir-se ao bibliotecário encarregado de distribuir
o trabalho entre os copistas, que lhes prescrevia de copiar tal
capítulo de tal livro, de começar naquela página e terminar naquela
outra. Por uma disposição expressa de um decreto abacial, era
proibido que o copista fizesse ele mesmo, para seu próprio uso,
qualquer outra transcrição.
Foi devido a estas rigorosas disposições, escrupulosamente
observadas, que nós devemos os belos manuscritos da idade média.
Foi assim que se formaram as ricas bibliotecas de Saint Gall, de
Bec, de York, de São Martin de Tournay, de Fulda, e, em
particular, aquela de São Vítor.
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