6. Na Santíssima Trindade todo amor é mútuo.

Afirmamos nas razões expostas que Deus é a primeira causa e a origem de todos os bens. Por ser fonte e princípio de todos, não pode haver nenhum outro bem que o supere na excelência. Deus é, portanto, o sumo bem. Nunca, por conseguinte, poderemos situar a felicidade mais corretamente do que no sumo bem. Somente Deus é feliz, portanto, de modo próprio e principal. Como poderá, porém, ser feliz, aquele para quem ele próprio não é de seu agrado? Quem quer que seja feliz, ama a si mesmo e ama aquilo que ele próprio é.

Se, pois, o Pai, o Filho e o amor do Pai e do Filho são um, e um só Deus; somente em Deus existindo verdadeira felicidade, é necessário que cada uma das pessoas ame a si mesma e mutuamente a cada uma das outras. Não haveria felicidade, mas, ao contrário, seria a maior das infelicidades se as pessoas se dividissem por vontades contrárias ao mesmo tempo em que pela natureza não se pudessem separar umas das outras. Assim como, portanto, o Pai, o Filho e o amor do Pai e do Filho são um só pela natureza, assim também não podem não ser um só pela vontade e pelo amor. Amam-se por um só amor, porque são um; outra coisa não é aquilo que cada pessoa ama nas demais do que aquilo que cada uma ama em si própria, porque aquilo que cada pessoa é não difere em sua proveniência daquilo que as demais pessoas são. O que o Pai ama no Filho, isto também o Filho ama em si mesmo; o que o amor do Pai e do Filho ama no Filho, isto o Pai ama em si mesmo; o que o amor do Pai e do Filho ama no Pai, isto também o Pai ama em si mesmo. O que o Pai e o Filho amam no seu amor, isto o amor do Pai e do Filho ama em si mesmo. O que o Pai ama em si mesmo, isto também ama no Filho e no seu amor. O que o Filho ama em si mesmo, isto também ama no Pai e no seu amor. E o que o amor do Pai e do Filho ama em si mesmo, isto também ama no Filho e no Pai.