5. Nem todos chegam ao conhecimento.

Mas devemos mencionar agora constatar-se que, embora haja uma multidão de aprendizes, dentre os quais diversos se sobressaem pelo engenho e se destacam pelo exercício, tão poucos e tão numeráveis encontramos que alcançam a ciência. Faço silêncio daqueles que são obtusos e tardios para o entendimento. O que mais me move e mais me parece digno de indagação é de onde se origina acontecer que duas pessoas, iguais pelo engenho e dedicam-se a uma mesma lição com igual estudo, não alcançam por um efeito semelhante o seu entendimento.

A primeira coisa que se deve considerar a este respeito é que em qualquer obra há duas coisas necessárias: a obra, e a razão da obra, as quais são tão conexas que uma sem a outra ou são inúteis ou pelo menos não tão eficazes. No sexto capítulo do Livro da Sabedoria está escrito:

"Melhor é a prudência
do que a fortaleza",

porque muitas vezes os pesos que não podemos mover com as nossas forças, podemos levantá-los utilizando a arte. Assim também acontece em qualquer estudo. Aquele que diante de uma multidão de livros não guarde o medo e a ordem da leitura, como que andando em círculos no meio de uma densa floresta, perde-se do reto caminho. É de pessoas assim que a Sagrada Escritura diz que

"estão sempre aprendendo, mas nunca
chegam ao conhecimento da verdade".

O discernimento vale tanto que sem ele todo ócio se torna torpeza, e todo trabalho se torna inútil; quem dera que todos nós o abraçássemos sempre!