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Mas devemos mencionar agora constatar-se que, embora haja uma
multidão de aprendizes, dentre os quais diversos se sobressaem pelo
engenho e se destacam pelo exercício, tão poucos e tão numeráveis
encontramos que alcançam a ciência. Faço silêncio daqueles que
são obtusos e tardios para o entendimento. O que mais me move e mais
me parece digno de indagação é de onde se origina acontecer que duas
pessoas, iguais pelo engenho e dedicam-se a uma mesma lição com
igual estudo, não alcançam por um efeito semelhante o seu
entendimento.
A primeira coisa que se deve considerar a este respeito é que em
qualquer obra há duas coisas necessárias: a obra, e a razão da
obra, as quais são tão conexas que uma sem a outra ou são inúteis
ou pelo menos não tão eficazes. No sexto capítulo do Livro da
Sabedoria está escrito:
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"Melhor é a prudência
do que a fortaleza",
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porque muitas vezes os pesos que não podemos mover com as nossas
forças, podemos levantá-los utilizando a arte. Assim também
acontece em qualquer estudo. Aquele que diante de uma multidão de
livros não guarde o medo e a ordem da leitura, como que andando em
círculos no meio de uma densa floresta, perde-se do reto caminho. É
de pessoas assim que a Sagrada Escritura diz que
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"estão sempre aprendendo, mas nunca
chegam ao conhecimento da verdade".
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O discernimento vale tanto que sem ele todo ócio se torna torpeza, e
todo trabalho se torna inútil; quem dera que todos nós o
abraçássemos sempre!
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