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Disse Agostinho, famoso por sua eloqüência, e o disse com
verdade, que o homem eloqüente deve aprender a falar de tal modo que
ensine, que deleite e que submeta. A isto acrescentou que o ensinar
pertence à necessidade, o deleitar à suavidade e o submeter à
vitória.
Destas três coisas, a que foi colocada em primeiro lugar, isto é,
a necessidade de ensinar, é constituída pelas coisas que dizemos, as
outras duas pelo modo como as dizemos.
Quem, portanto, se esforça no falar em persuadir o que é bom, não
despreze nenhuma destas coisas: ensine, deleite e submeta, orando e
agindo para que seja ouvido inteligentemente, de boa vontade e
obedientemente. Se assim o fizer, ainda que o assentimento do ouvinte
não o siga, se o fizer apropriada e convenientemente, não sem
mérito poderá ser dito eloqüente.
O mesmo Agostinho parece ter querido que ao ensino, ao deleite e à
submissão também pertençam outras três coisas, ao dizer, de modo
semelhante:
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"Será eloqüente aquele que puder
dizer o pequeno com humildade,
o moderado com moderação,
o grande com elevação".
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Quem deseja conhecer e ensinar aprenda, portanto, quanto há para se
ensinar e adquira a faculdade de dizê-las como convém a um homem de
Igreja. Quem, na verdade, querendo ensinar, às vezes não é
entendido, não julgue ainda ter dito o que deseja àquele a quem quer
ensinar, porque, mesmo que tenha dito o que ele próprio entendeu,
ainda não foi considerado como tendo-o dito àquele por quem não foi
entendido. Se, porém, foi entendido, de qualquer modo que o tenha
dito, o disse.
Deve, portanto, o doutor das divinas Escrituras ser defensor da reta
fé, debelador do erro, e ensinar o bem; e neste trabalho de
pregação conciliar os adversos, levantar os indolentes, declarar aos
ignorantes o que devem agir e o que devem esperar. Onde tiver
encontrado, ou ele próprio os tiver feito, homens benévolos,
atentos e dóceis, há de completar o restante conforme a causa o
exija. Se os que ouvem devem ser ensinados, seja-o feito por meio de
narração; se, todavia, necessitar que aquilo de que trata seja
claramente conhecido, para que as coisas que são duvidosas se tornem
certas, raciocine através dos documentos utilizados.
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