4. O amor do Pai pela sabedoria.

Consideremos ainda, porém, um pouco mais atentamente, em que sentido se diz que o Pai ama a sua sabedoria.

Os homens, de fato, costumam amar a sua ciência por causa da obra, não a obra por causa da ciência. Assim ocorre com a ciência do agricultor, com a ciência do tecelão, com a ciência do pintor, e outras semelhantes, onde a perícia é considerada inteiramente inútil se na obra não se lhe segue o fruto da utilidade.

Anteporíamos, porém, a obra ao seu Criador se afirmássemos o mesmo da sabedoria divina. Deve-se dizer, ao contrário, que em Deus a sabedoria é sempre mais preciosa do que a obra, sendo sempre amável por causa de si própria. Pode às vezes ocorrer que a obra seja julgada de tal modo que seja anteposta à sabedoria, mas isto provém do erro humano e não do julgamento da verdade. A sabedoria, de fato, é vida, e o amor da sabedoria é a felicidade da vida; por conseguinte, dizendo que o Pai da sabedoria nela se compraz, longe de nossa inteligência acreditarmos que Deus ame sua sabedoria por causa da obra que faz por meio dela, quando, ao contrário, ama na verdade todas as suas obras não senão por causa de sua sabedoria. Foi por este motivo que disse:

"Este é o meu Filho amado,
em quem me comprazo";

Mt. 3

isto é, não na terra ou no céu; não no Sol, na Lua, ou nas estrelas; não também nos anjos, e naqueles que são as mais excelentes entre as criaturas; pois se estas coisas, cada uma ao seu modo, lhe agradam, não o puderam fazer senão nEle e por Ele, e tanto mais serão dignas de seu amor, quanto mais se aproximarem de sua semelhança.

Deus não ama, portanto, a sabedoria por causa das obras, mas ama as suas obras por causa da sabedoria. Nela tudo é belo e verdadeiro; toda ela é desejo, luz invisível e vida imortal, tão desejável em seu aspecto que deleita os olhos de Deus; é simples e perfeita; é plena, mas não transborda; é única, sem ser solitária; é una, embora tudo contenha.