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Percorrendo as constituições e as regras dos cônegos de São
Vítor, percebe-se que ali não se menciona em nenhum lugar a escola
de São Vítor. Somente pode-se ler que certas horas eram
consagradas à leitura ou ao estudo. Mais do que isso, com exceção
de uma conferência sobre matérias de piedade, ascese e a leitura
pública, não encontramos menção alguma de aulas regulares
estabelecidas nesta abadia. Não se pode daqui concluir que esta
escola não existiu. Isto seria contradizer os autores da época que
falam dela com elogios, e tornar inexplicável a produção de um tão
grande número de obras de filosofia, teologia, gramática, história
e mesmo de literatura que deram aos vitorinos uma grande fama de
sabedoria e ciência. A única consequência que se pode tirar daí é
que o autor do Liber Ordinis não reportou senão as regras mais
gerais do mosteiro. Deveria haver outras mais partirculares para
aqueles que se dedicavam ao estudo.
É coisa certa que Guilherme de Champeaux, rogado pelos seus amigos,
e sobretudo por Hildeberto de Mans, retomou, em seu retiro, as
lições de dialética, retórica e filosofia. Isto é atestado pelo
próprio Pedro Abelardo.
Tolouse reporta que em uma antiga crônica da abadia de São Vítor,
celebrava-se a santidade dos cônegos e o nome de seus estudantes:
acrescenta ele,
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"na mesma casa de São Vítor, cursos de letras.
Eram ministradas aos jovens cônegos
e mesmo àqueles que eram mais avançados em anos.
Este uso data de Guilherme de Champeaux".
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Ele cita em seguida os sucessores de Guilherme na cátedra de São
Vítor. O primeiro foi o bem aventurado Tomás, mártir de seu
devotamento ao bispo de Paris. Veio em seguida Hugo de São Vítor
e uma sucessão de outros até Teobaldo, este já contemporâneo de
São Boaventura e São Tomás de Aquino. A partir desta data já
não temos mais dúvida alguma: em São Vítor encontramos aulas de
teologia e os mesmos exercícios públicos que na Universidade de
Paris.
Entretanto, tanto os historiadores de São Vítor, como os
próprios manuscritos que nós temos consultado, nos dizem muito pouco
sobre o ensino que era lá ministrado. Foi para suprir esta lacuna que
escolhemos, entre os professores desta escola, a Hugo de São
Vítor, o primeiro dos quais possuímos as obras. Elas nos
fornecerão, sobre este assunto, ensinamentos muito interessantes.
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