8. A contemplação descritível de várias formas.

Do fato de se dizer que a plenitude da realidade a que se chama de contemplação é um objetivo comum para todas as escolas de vida espiritual, e que é uma mesma e idêntica realidade para todas, não se segue que todas elas expliquem o que seja a contemplação de uma mesma maneira. Isto ocorre porque aquilo a que se chama de contemplação, embora seja uma única e mesma realidade, possui uma tamanha riqueza de conteúdo que pode ser abordada segundo uma multiplicidade inesgotável de perspectivas e que, cada pessoa, ao longo de toda a história humana, que se aproximar desta realidade, ao tentar descrevê-la, sempre o fará de um modo novo e diverso do que o fizeram todos aqueles que se tinham anteriormente já aproximado dela, embora estejam todos descrevendo uma única e mesma realidade.

Nas aulas de que estas notas são uma pequena parte já se teve um exemplo deste fato. Inicialmente dissemos que a contemplação era a operação da inteligência cujo objeto era a sabedoria, a qual seria, por sua vez, a mais elevada forma de conhecimento possível ao homem. Depois, seguindo os comentários de Santo Tomás de Aquino a Aristóteles, procurou-se definir o que, segundo Aristóteles, seria mais precisamente aquilo a que se chama de sabedoria. Porém, o próprio Santo Tomás de Aquino, quando não está escrevendo seus comentários a Aristóteles, mas trata do assunto em seus livros de Teologia onde ele tem por isso mesmo uma liberdade maior de expressão, se utiliza de uma perspectiva mais ampla para explicar o que é a contemplação. Se nos referirmos ao conjunto dos autores situados ao longo de toda a tradição cristã, estes autores, acrescidos à obra de Santo Tomás de Aquino, oferecem uma perspectiva de horizontes extraordinariamente ainda mais amplos. Mas, por mais que se tenha falado sobre o assunto ao longo de todos os séculos, esta perspectiva se dilata ainda de um modo surpreendentemente novo à medida em que os que estudam o assunto, em vez de se limitarem apenas à leitura do que os sábios dizem a este respeito, eles próprios se aproximam da mesma pela prática das virtudes, do estudo e da própria contemplação. De fato, lemos no Apocalipse a seguinte promessa de Jesus:

"Ao vencedor darei um nome novo,
o qual ninguém conhece,
senão quem o recebe".

Apoc. 2, 17

Ora, na interpretação de Ricardo de S. Vitor, este "nome novo, que ninguém conhece, senão quem o recebe", nada mais é do que o conhecimento divino (Comm. in Apoc.; PL 196, 724), que, de fato, por mais ampla que seja a perspectiva pela qual o conhecemos por meio de outros, se não o recebemos nós mesmos é como se ainda não o conhecêssemos, sendo este o motivo pelo qual, por mais que se tenha falado a respeito deste assunto, quando uma nova pessoa se acrescenta ao número dos que já falaram, parece, como de fato é, que novas coisas se estão falando que nunca antes haviam se falado.