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A meditação sobre os costumes deve exercer também sua consideração
no sentido de depreender todos os movimentos que se originam no
coração, de onde vêm e para onde tendem.
Deve examinar de onde vêm segundo a origem, e para onde tendem
segundo o fim: todo movimento é proveniente de algo e se dirige para
algo.
Os movimentos do coração, porém, às vezes têm uma origem
manifesta, outras vezes oculta. Os que a têm manifesta, ainda às
vezes a têm manifestamente boa, outras vezes manifestamente má.
A origem que é manifestamente boa é de Deus; a que é, porém,
manifestamente má é do demônio ou da carne. Todas as sugestões e
todas as aspirações que invisivelmente advêm ao coração procedem
destes três autores.
As coisas ocultas às vezes são boas e ocultas, outras vezes màs e
dúbias. As que são boas são de Deus; as que são más, do
demônio ou da carne.
O que é manifesto, seja bom ou seja mau, é julgado pela sua
primeira origem. O que, entretanto, é dúbio em sua origem, é
provado pelo fim. O fim manifesta o que no princípio se encobria;
por causa disto, quem não pode julgar os seus movimentos pelo
princípio, investigue o fim e a consumação.
As coisas, portanto, que são dúbias ou incertas são bens ou males
ocultos. As que são males, conforme foi dito, são do demônio ou
da carne. Elas não se distinguem pelo fato de serem más;
distinguem-se pelo fato de que as da carne freqüentemente surgem por
causa de uma necessidade, enquanto as do demônio o fazem sem uma
razão, pois aquilo que é sugerido pelo demônio, assim como é
alheio ao homem, assim freqüentemente é alheio à razão humana. As
obras do demônio se discernem, pois, por serem estranhas ao homem e
alheios à razão humana, enquanto que as da carne e as suas sugestões
freqüentemente têm uma necessidade precedente como causa;
ultrapassando, porém, o modo e a necessidade, crescem até à
superfluidade.
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