34. A importância do respeito incondicional devido ao semelhante.

Procuremos, ademais, entender a tão grande importância de que se reveste esta atitude pelo modo como Jesus se referia a ela. No Sermão da Montanha, comentando o mandamento deixado por Moisés que proíbe o matar, Jesus afirma que até aquele que houver dito "desgraçado" ao seu irmão, "será réu do fogo do inferno" (Mat. 5, 22). Quer Jesus dizer com isto que quem se dirige ao seu semelhante com palavras próprias para ofender e magoar age diante de Deus como aquele que viola o mandamento que proíbe o matar. E isto para Jesus é tão sério que logo em seguida ele acrescenta:

"Se estiveres para apresentar a tua oferta ao pé do altar e ali te recordares de que teu irmão tem qualquer coisa contra ti, deixa a tua oferta diante do altar e vai primeiro reconciliar-te com teu irmão; voltarás, então, para apresentar a tua oferta".

Mt. 5, 23-4

Não é por uma arbitrariedade que se fazem estas exigências tão estritas. Ocorre que neste assunto se aplicam de uma maneira muito especial as palavras da Epístola aos Hebreus:

"Nossos pais nos educaram
segundo a sua conveniência;

Deus, porém, o faz para o nosso bem,
para nos comunicar a sua santidade".

Hb. 12, 10

De fato, este preceito não só é de tão grande importância para o desenvolvimento da vida espiritual que justifica o rigor com que é apresentado, como também só produz os frutos que dele se esperam se praticado de modo integral já desde o seu ponto de partida.

A correção da interpretação sobre a importância que Jesus atribui à prática do respeito ao semelhante é conformada pelo teor análogo das exigências que Ele também faz, logo em seguida, dentro do mesmo contexto, sobre o mandamento igualmente deixado por Moisés proibindo o adultério. A este respeito Jesus declara que não são apenas aqueles que se apropriam efetivamente da esposa alheia os que incorrem na violação deste mandamento, mas também que

"Todo aquele que olhar para uma mulher com mau desejo no coração já cometeu adultério com ela".

Mt. 5, 28

A tradição cristã e a teologia nunca interpretaram esta passagem como algo que devesse ser interpretado num sentido figurativamente lato. Ao contrário, sempre deram claramente a entender que este texto deveria ser interpretado como significando a obrigação estrita de se dever cumprir precisamente o que está enunciado na literalidade das palavras evangélicas. Não há nenhuma base para se poder interpretar, diante disto, o texto imediatamente anterior sobre o respeito ao semelhante em uma perspectiva diversa. Antes, se algo devesse ser concluído a este respeito, seria precisamente o oposto. Deus nos preceitua a pureza naquilo que se refere à sexualidade não porque a sexualidade seja algo torpe, mas porque precisamente ela é algo pleno de uma dignidade quase sagrada; neste sentido, nas Quaestiones Disputatae de Malo (Q. 15 a. 2), Santo Tomás de Aquino nos afirma que os preceitos sobre a castidade obrigam o homem gravemente porque a sexualidade contém o ser humano em potência e, conseqüentemente, exige por este fato uma parte daquele respeito que é exigida pela própria dignidade humana. Maior deverá ser, a se considerar por esta razão, o respeito a ser exigido pela própria dignidade humana em si mesma considerada.