5. Frutos que se devem esperar da leitura das Sagradas Escrituras.

Todos os que se aproximam da divina lição devem conhecer primeiramente quais sejam os seus frutos. Nada, de fato, deve ser buscado sem motivo; nem mesmo é possível desejar aquilo que não promete algum tipo de utilidade.

Ora, o fruto da divina lição é duplo, pois ela ensina a ciência e ornamenta a alma de virtudes.

A ciência diz respeito principalmente ao sentido literal e alegórico; já a instrução dos costumes diz respeito mais ao sentido tropológico. Tudo o que diz a Sagrada Escritura está ordenado a estes fins (7).

Por isto aqueles que se dedicam ao estudo das Sagradas Escrituras não devem desprezar aquilo que é significado pelas coisas manifestadas pelo sentido literal. Os filósofos, em seus escritos, somente conhecem a significação das palavras, mas nas sagradas páginas muito mais excelente é a significação das coisas significadas pelas palavras do que a própria significação das palavras. A significação das palavras foi instituída pelos usos dos homens, enquanto que a significação das coisas foi instituída pela própria natureza. As primeiras são vozes humanas, as segundas são vozes de Deus falando aos homens. A significação das palavras depende do arbítrio dos homens, mas a significação das coisas depende apenas da natureza, e da obra do Criador que deseja significar certas coisas através de outras. Ademais, o número de significados das coisas é muito maior do que o número de significados das palavras: poucas palavras significam mais do que duas ou três coisas, enquanto que as coisas podem ter significados tão variados quantas forem as propriedades visíveis ou invisíveis que tiverem em comum com as demais coisas (8).