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Procuremos, ademais, entender a tão grande importância de que se
reveste esta atitude pelo modo como Jesus se referia a ela. No
Sermão da Montanha, comentando o mandamento deixado por Moisés que
proíbe o matar, Jesus afirma que até aquele que houver dito
"desgraçado" ao seu irmão, "será réu do fogo do inferno"
(Mat. 5, 22). Quer Jesus dizer com isto que quem se dirige ao
seu semelhante com palavras próprias para ofender e magoar age diante
de Deus como aquele que viola o mandamento que proíbe o matar. E
isto para Jesus é tão sério que logo em seguida ele acrescenta:
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"Se estiveres para apresentar
a tua oferta ao pé do altar
e ali te recordares de que teu irmão
tem qualquer coisa contra ti,
deixa a tua oferta diante do altar
e vai primeiro reconciliar-te com teu irmão;
voltarás, então, para apresentar a tua oferta".
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Não é por uma arbitrariedade que se fazem estas exigências tão
estritas. Ocorre que neste assunto se aplicam de uma maneira muito
especial as palavras da Epístola aos Hebreus:
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"Nossos pais nos educaram
segundo a sua conveniência;
Deus, porém, o faz para o nosso bem,
para nos comunicar a sua santidade".
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De fato, este preceito não só é de tão grande importância para o
desenvolvimento da vida espiritual que justifica o rigor com que é
apresentado, como também só produz os frutos que dele se esperam se
praticado de modo integral já desde o seu ponto de partida.
A correção da interpretação sobre a importância que Jesus atribui
à prática do respeito ao semelhante é conformada pelo teor análogo
das exigências que Ele também faz, logo em seguida, dentro do mesmo
contexto, sobre o mandamento igualmente deixado por Moisés proibindo
o adultério. A este respeito Jesus declara que não são apenas
aqueles que se apropriam efetivamente da esposa alheia os que incorrem
na violação deste mandamento, mas também que
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"Todo aquele que olhar para uma mulher
com mau desejo no coração
já cometeu adultério com ela".
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A tradição cristã e a teologia nunca interpretaram esta passagem
como algo que devesse ser interpretado num sentido figurativamente
lato. Ao contrário, sempre deram claramente a entender que este
texto deveria ser interpretado como significando a obrigação estrita
de se dever cumprir precisamente o que está enunciado na literalidade
das palavras evangélicas. Não há nenhuma base para se poder
interpretar, diante disto, o texto imediatamente anterior sobre o
respeito ao semelhante em uma perspectiva diversa. Antes, se algo
devesse ser concluído a este respeito, seria precisamente o oposto.
Deus nos preceitua a pureza naquilo que se refere à sexualidade não
porque a sexualidade seja algo torpe, mas porque precisamente ela é
algo pleno de uma dignidade quase sagrada; neste sentido, nas
Quaestiones Disputatae de Malo (Q. 15 a. 2), Santo Tomás
de Aquino nos afirma que os preceitos sobre a castidade obrigam o homem
gravemente porque a sexualidade contém o ser humano em potência e,
conseqüentemente, exige por este fato uma parte daquele respeito que
é exigida pela própria dignidade humana. Maior deverá ser, a se
considerar por esta razão, o respeito a ser exigido pela própria
dignidade humana em si mesma considerada.
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