6. A disposição dos lugares.

Eis o céu e a terra. No céu colocou a divina providência as estrelas e os luminares, para que ilustrassem tudo o que há sobre a terra. No ar traçou um caminho para os ventos e as nuvens, para que, dispersas pelos pensamentos, condensassem a chuva em direção à terra. No interior da terra ordenou que fossem recebidas as massas das águas, para que de várias nascentes corressem por onde fosse determinado pelas suas ordens. Suspendeu os pássaros no ar, aos peixes submergiu nas águas, encheu a terra de animais, serpentes e demais gêneros de répteis e vermes. Enriqueceu regiões pela fertilidade de seus frutos, algumas pela opulência de suas vinhas, outras pelos frutos de seus óleos, pela fecundidade de suas ovelhas, pela potência de suas ervas, pela preciosidade de suas pedras, pelo porte de seus animais, pela diversidade de suas cores, pela diversidade dos estudos das artes, pelos metais, pelos diversos gêneros de seus perfumes, de tal maneira que não há região que não possua entre todas algo novo e especial, nem que não possa recebê-lo de todas as demais. E as coisas que são necessárias aos usos humanos a providência do Criador as constituiu na freqüência comum dos homens; quanto àquelas, porém, que a natureza não exige por uma necessidade, mas a cobiça as busca por sua espécie, escondeu em remotos interiores da terra, para que aquele que não vencesse a imoderação do apetite por amor à virtude, pelo menos se moderaria vencido pelo tédio dos trabalhos.