PERDÃO ENTRE OS HOMENS

51. Com tão largas promessas da parte de Deus, talvez nunca Ano Santo algum, tenha vindo a aconselhar, mais oportunamente, a mansidão, a indulgência e o perdão entre homem e homem.

52. Quando em tempos recentes, tomando como pretexto uma guerra desafortunada ou culpas políticas, se desencadeou uma vaga de represálias, desconhecida até agora na história, ao menos no que respeita ao número de vítimas, sentimos invadir-Nos o coração uma acerba dor, não só pela desventura que multiplicava as desventuras e lançava no luto milhares de famílias muitas vezes inocentes, mas também porque com grande mágoa, víamos ali o trágico testemunho da apostasia do espírito cristão.

53. Quem quer ser sinceramente cristão deve saber perdoar. "Servo iníquo", adverte a parábola evangélica (Mt 18, 33) -, "não devias também tu ter piedade do teu conservo, como eu tive piedade de ti?"

54. A caridade e a misericórdia, quando ocorrem motivos justos, não contrastam com o dever da reta administração da justiça. A intolerância imprudente e o espírito de represália, sim, sobretudo quando a vingança é excitada pelo poder público contra quem, mais que prevaricar, tenha errado, ou quando a pena mesma, merecidamente infligida, se prolongue além de todos os limites razoáveis.

55. Inspire o Senhor sentimentos de reconciliação e de concórdia a quantos têm sobre si as responsabilidades públicas e, sem prejuízo do bem comum, ponha-se fim àqueles resíduos de leis extraordinárias, que não se refiram a delitos comuns merecedores de justa punição. Essas leis de exceção, longos anos após a cessação do conflito armado, só provocam, em tantas famílias e indivíduos, sentimentos de exasperação contra a sociedade em que são constrangidos a sofrer.