A LUZ DE BELÉM

29. Sabendo-se que se marcha em senda segura, que formoso é caminhar na luz! A luz! Contemplai-a vós todos, a quem une a mesma fé no Salvador do Mundo. Olhai a estrela que brilha sobre Belém para iluminar o caminho.

30. Se se quer volver aos grandes princípios da justiça que conduzem à paz, é mister passar por Belém; é necessário recordar o exemplo e a doutrina d'Aquele que, desde o berço à cruz, não conhecia missão mais elevada que cumprir a vontade do Pai celestial, tirar o mundo da noite do erro e do lodo do pecado, onde então jazia miseravelmente; despertar nele a consciência da sua sujeição à, majestade da lei divina, como norma de reto pensar, como impulso de enérgica vontade, como regra de sã e conscienciosa atividade.

31. Nunca o mundo teve mais necessidade do que hoje de regressar às máximas da mensagem de Belém. E contudo, raras vezes como hoje se manifestou tão dolorosamente entre os homens o contraste entre os preceitos daquela mensagem divina e - a realidade.

32. Quereis desanimar talvez, amados filhos, aterrorizados por este contraste? Quereis vós também aumentar o número dos que, desconcertados pela instabilidade do momento, vacilam, ou pouco menos que conscientemente se prestam ao jogo dos inimigos de Cristo? Quereis dar prova de pusilanimidade ante a crescente maré de orgulho e de violência anticristãos?

33. Nenhum cristão tem direito a dar mostras de cansaço na luta contra a onda anti-religiosa da hora presente. Pouco importa quais sejam as formas, os métodos, as armas, as palavras melífluas ou ameaçadoras, o disfarce com que se encobre o inimigo. A ninguém se poderia perdoar que ante esta onda se quede de braços cruzados, cabeça baixa e as pernas a tremer.

34. A tática contra a Igreja é sempre a mesma: "Fere o pastor, e serão dispersas as ovelhas" (Zac 13-15). A mesma tática que não muda; sempre tão inútil como pouco gloriosa; repete-se aqui e além e aventura-se até aos próprios pés da Sé de Pedro. A Igreja não teme, embora sangre o seu coração. Não teme por si mesma, pois conta com as promessas divinas; mas teme pela perdição de tantas almas. Aí estão seus "Anais" para recordar-lhe quantas vezes os mais furiosos assaltos se desfizeram em espuma contra a rocha firme e tranqüila onde repousa, segura da sua imortalidade. Hoje como ontem, amanhã como hoje, todos os esforços para vencê-la ou desagregá-la hão de ceder e despedaçar-se ante a força vital do vinculum caritatis que une o Pastor com a sua grei.

35. Se no árduo mas firme cumprimento do Nosso dever algo há que nos dá serenidade e força é, depois da Nossa confiança n'Aquele que nasceu num presépio para confundir a arrogância dos fortes, a convicção solidamente cimentada de poder contar com a oração, a fidelidade, a vigilância de um exército em ordem de batalha (Cânt 6, 3), cuja prontidão e experiência soube dar boa conta nas mais duras provas.

36. Recentemente tivemos o prazer de elevar à honra dos altares uma heróica falange de mártires que, selando com o sangue a profissão da sua fé, ilustraram os alvores do nosso século. - Desde então outras falanges de sacerdotes e de fiéis, soldados de Cristo ainda desconhecidos, têm dado e dão o mesmo testemunho. Estamos seguros de que virá o dia que os tirará da sombra e os fará escalar os cumes da glória, quando se levante o pesado véu que oculta e obscurece a história dos nossos dias. - Oxalá que o exemplo do seu valor, da sua fidelidade, e desprezo da morte, inflame os corações de Nossos queridos filhos e filhas e infunda neles os mesmos sentimentos de fortaleza e de confiança, que assegurarão à bandeira de Cristo a sua pacífica vitória para o maior bem de toda a Humanidade!