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37. Amados filhos! Queira Deus que, enquanto a Nossa voz chega
aos vossos ouvidos, o vosso coração se sinta profundamente
impressionado e comovido pela profunda seriedade, a ardente solicitude
e o pedido insistente com que vos inculcamos estas idéias, que querem
ser um chamamento à consciência universal e um grito que convoque a
todos quantos estão dispostos a ponderar e medir a grandeza da sua
missão e responsabilidade com a amplitude da calamidade universal.
38. Grande parte da humanidade e, não recusamos dizê-lo,
também não poucos dos que se chamam cristãos, entram de algum modo
na responsabilidade coletiva do desenvolvimento errôneo, dos danos e
da falta de elevação moral da sociedade de hoje em dia.
39. Esta guerra mundial e tudo quanto se relaciona com ela, sejam
os precedentes remotos ou próximos, ou seus procedimentos e efeitos
materiais, jurídicos e morais, que outra coisa representa senão o
esfacelo, inesperado talvez para os incautos, mas previsto e deplorado
pelos que penetravam com o seu olhar até ao fundo de uma ordem social
que debaixo do enganoso rosto ou máscara de fórmulas convencionais
escondia a sua fatal debilidade e o seu desenfreado instinto de lucro e
poderio?
40. O que em tempos de paz jazia comprimido explodiu, ao romper da
guerra, numa triste série de atos em oposição com o espírito humano
e cristão. Os acordos internacionais para fazer menos desumana a
guerra, limitando-a aos combatentes, e para regular as normas da
ocupação e do cativeiro dos vencidos, ficaram letra morta em várias
partes; e quem é capaz de ver o fim deste progressivo empioramento?
41. Querem talvez os povos assistir inertes a tão desastroso
progresso? Não devem, ao contrário, reunir-se os corações de
todos os magnânimos e honestos, sobre as ruínas de uma ordem social
que tão trágica prova deu da sua inaptidão para o bem do povo, com o
voto solene de não descansar até que em todos os povos e nações
sejam legião os grupos dos que, decididos a levar de novo a sociedade
ao indefectível centro de gravidade da lei divina, anelam pelo
serviço das pessoas e da sua comunidade enobrecida por Deus?
42. Este voto deve-o a humanidade aos inumeráveis mortos que jazem
nos campos batalha: o sacrifício da sua vida no cumprimento seu dever
é o holocausto a favor duma nova e melhor ordem social.
Este voto deve-o a humanidade à infinda e dolorosa fila de mães,
viúvas e órfãos que viram arrancar-lhes a luz, a consolação e o
sustento da sua vida.
Este voto deve-o a humanidade aos inumeráveis desterrados que o
furacão desta guerra desarraigou dá pátria e dispersou por terras
estranhas, os quais podiam lamentar-se com o Profeta: "Hereditas
nostra versa est ad alienos, domus nostrae ad extraneos" (Lam 5,
2). "A nossa herança passou à mão de estrangeiros, em poder de
estrangeiros se encontram nossas casas".
Este voto deve-o a humanidade às centenas de milhar de pessoas que
sem culpa nenhuma da sua parte, às vezes só por motivos de
nacionalidade ou raça, se vêem destinados à morte ou a um
extermínio progressivo.
Este voto deve-o a humanidade aos muitos milhares de
não-combatentes, mulheres, crianças, doentes e velhos, a quem a
guerra aérea - cujos horrores Nós denunciamos já repetidas vezes
desde o princípio tirou, sem discernimento ou com insuficiente
inadvertência, vida, bens, saúde, casa, locais de caridade e de
oração.
Este voto deve-o a humanidade ao rio de lágrimas e de amarguras, ao
cúmulo de dores e tormentas que procedem da ruína mortífera do
descomunal conflito e que clamam ao céu, invocando a vinda do
Espírito que livre o mundo da invasão do terror e da violência.
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