PEDIDO DE AUXILIO

36. Renasça pela vossa palavra nos vossos irmãos o conhecimento do Pai celestial, que também em tempos de terrível miséria governa o mundo com sábia e próvida bondade; provem a tranqüila felicidade que procede de uma vida que arde em amor de Deus. Mas o amor de Deus torna a alma também delicadamente sensível perante as necessidades dos seus irmãos, disposta ao auxilio espiritual e material, preparada para qualquer renúncia, a fim de que o amor fervoroso e ativo torne a florescer nos corações de todos.

37. O poder da caridade de Cristo! Nós o sentimos vibrante na ternura do Nosso coração de Pai, que, aberto e inclinado igualmente para todos, Nos faz inculcar, com o grito da Nossa palavra, as obras de misericórdia e do amor que socorre.

38. Quantas vezes tivemos de repetir, com a alma acabrunhada, a exclamação do Divino Mestre: "misereor super turbam" ("tenho compaixão desta multidão"), e quantas vezes tivemos de acrescentar Nós também: "Non habent quod manducent" ("não têm que comer") (Mc 8, 2), olhando especialmente para muitas regiões devastadas e desoladas pela guerra! E em nenhuma ocasião ou momento deixamos de sentir duramente o contraste entre a Nossa estreiteza de meios, insuficiente para o socorro, e a gigantesca extensão das necessidades de muitos que fazem chegar até Nós as suas vozes suplicantes e os seus gemidos dolorosos de regiões antes afastadas e agora cada vez mais próximas.

39. Em face de tal indigência, que aumenta cada dia, Nós dirigimos ao Mundo cristão um grito insistente de paternal pedido de auxílio e de piedade: "Ecce sto ad ostium et pulso" (Apoc 3, 20).

40. E não duvidamos dirigir-Nos, com a confiança que Deus Nos inspira, ao sentimento humano e cristão daqueles povos e daquelas nações que a Providência tem poupado até agora ao sofrimento direto dos horrores da guerra, ou que, embora estejam em guerra, vivem ainda em condições que lhes permitem dar generoso desafogo ao seu desejo de misericórdia e de prestar ajuda e amparo a quantos se encontram no meio do duro mal-estar do conflito e, sem auxilio exterior, lhes falta já hoje o necessário e lhes faltará ainda mais no futuro.

41. A tal pedido Nos impele e Nos dá ânimo a esperança de que encontrará eco profundo no coração dos fiéis e de quantos sentem no peito um vivo espirito de humanidade, enquanto entre os embates ocasionados e agravados pelo conflito mundial se revela cada dia mais claro um consolador desenvolver-se de pensamentos e propósitos; aludimos ao despertar de uma responsabilidade solidária perante os problemas que suscitou o empobrecimento geral originado pela guerra. As destruições e devastações que a acompanharam exigem imperiosamente um trabalho de reconstrução e de auxilio tão extenso como os danos ocasionados. Os erros de um passado não muito remoto tornam-se para os espíritos independentes e esclarecidos em admoestações a que, tanto por prudência como por espírito de humanidade, não é possível que permaneçam surdos. Consideram estes o restabelecimento da saúde espiritual e a restauração material dos povos e dos Estados como um todo orgânico, em que nada seria mais pernicioso que o deixar que se aninhem focos de infecção donde amanhã poderia nascer nova ruína. Consideram eles que numa nova ordem de paz, de direito e de trabalho não deviam surgir perigos pelo fato de serem tratados alguns povos de modo não consentâneo com a justiça, a equidade e a prudência, nem deveriam ficar na estrutura da organização total lacunas que pusessem em perigo a sua consistência e estabilidade.