|
8. Contemplai com humildade o modo instrutivo como Deus realiza a
sua obra de salvação. Dois princípios fundamentais, como que duas
normas, ditados pela sua sabedoria infinita, regem e guiam a
execução do seu plano redentor, imprimindo-lhe o inconfundível
caráter da harmonia e da eficiência, próprio da ação divina.
9. Primeiro que tudo, longe de perturbar a ordem preexistente, por
Ele estabelecida na criação, Deus conserva intacta toda a força
das leis gerais que governam o mundo e a natureza do homem, embora essa
se encontre enfraquecida pelas debilidades contraídas. Nessa ordem,
constituída .também para salvação da criatura, Ele nada subverte
-nem .suprime; ao contrário, insere-lhe novo elemento que a
integra e transcende - a Graça. Por meio da luz sobrenatural
desta, a criatura poderá conhecê-lo melhor, e pela sua força
sobre-humana, reverenciá-lo melhor.
10. Em segundo lugar, para tornar eficaz essa ordem geral em cada
caso concreto, que nunca é idêntico aos outros, Deus estabelece
contacto imediato com os -homens, e , realiza-o no mistério da
Encarnação, pela qual a segunda Pessoa da Santíssima Trindade se
faz homem entre os homens. Lança deste modo como que uma ponte sobre
a distância infinita que medeia entre a Majestade auxiliadora e a
criatura indigente, e harmoniza entre si a eficácia imutável da lei
geral e as exigências próprias de cada indivíduo.
11. Quem contempla esta inefável harmonia da ação divina, em que
se conjugam a sabedoria, a onipotência e o amor de Deus, .não pode
deixar de exclamar com absoluta confiança: O Rex gentium... qui
facis utraque urram: veni et salva hominem (Brev. Rom. Ant. a.
Nativ. 22 dec.); tem que a apontar por modelo, quando se trata
de situar, no plano terreno, uma ação de socorro às misérias
humanas.
|
|