OS GRANDES AUSENTES

24. Se alguém fosse tentado a perder de vista esta necessidade e dever de união, repare -quanto é possível - no que sucede a alguns povos, fechados numa espécie de muralha de ferro, e observe as condições a que ficaram reduzidos, na vida espiritual e religiosa.

25. Verá milhões de irmãos e irmãs na fé, ligados por antigas e santas tradições de fidelidade a Cristo e de filial adesão a esta Sé Apostólica; verá populações inteiras, cujos feitos heróicos, para garantir a conservação e defesa da própria fé, estão escritos com caracteres indeléveis nos anais da Igreja; vê-los-á, dizemos, despojados muita vez dos direitos civis e da própria liberdade e segurança pessoal, e separados violentamente de toda a comunicação viva, segura e inviolável com o Centro da Cristandade, ainda mesmo para os assuntos mais íntimos de suas consciências, enquanto pesa sobre eles a angústia de se sentirem quase sós e de crerem às vezes que se encontram abandonados.

26. Debaixo da cúpula de Miguel Ângelo - onde ressoavam as vozes dos peregrinos de todos os países livres que, nas línguas mais diversas, entoavam hosanas com as mesmas expressões de fé e os mesmos cantos de júbilo - o lugar deles, estava vazio. Que ausência esta! E como era dolorosa ao coração do Pai comum e aos corações de todos os fiéis unidos na mesma fé e no mesmo amora Mas eles, os grandes ausentes, estavam mais presentes ainda, precisamente porque naquelas multidões inumeráveis, conscientes da própria fé, parecia bater um só coração e viver uma só alma, causadora da sua unidade misteriosa mas eficaz.

27. A todos estes confessores de Cristo, carregados injustamente de cadeias visíveis ou invisíveis, e vitimas de injúrias pelo nome de Jesus (At 5, 41), enviamos neste fim do Ano Santo a Nossa comovida, carinhosa e paternal saudação. Oxalá possa chegar até eles, atravessar os muros das prisões e os arames farpados dos campos de concentração e cie trabalhos forçados, lá longe, em regiões remotas, impenetráveis aos olhares da humanidade livre, sobre os quais está estendido um véu de silêncio, o qual não conseguirá, porém, impedir o juízo final de Deus nem o veredicto imparcial da história.

28. Pelo nome dulcíssimo de Jesus, Nós os exortamos a suportar generosamente os próprios sofrimentos e as próprias humilhações; prestam assim uma contribuição de valor inestimável à grande cruzada de oração e penitência, que principiará com a extensão do Ano Santo a todo o orbe católico.

29. E, - numa efusão de caridade, segundo o exemplo de Cristo, dos Apóstolos e dos verdadeiros seguidores do Redentor-, atinjam as orações deles e as nossas aqueles mesmos que enfileiram ainda hoje entre os perseguidores.