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3. A Nossa auspiciosa saudação dirige-se, primeiro que a
outros, aos pobres; aos oprimidos, aos que por qualquer motivo gemem
na aflição, e cuja vida está como que dependente do sopro de
esperança que se lhes comunica, e da parte de socorro que se lhes
consegue dar.
4. São tantos e tantos estes amados filhos! O coro dolente de
pedidos e vozes de auxílio está longe de diminuir, como os não
poucos anos, já decorridos desde o fim da guerra, levavam justamente
a esperar. Não só perdura, mas .'torna-se por vezes mais
intenso, em razão das numerosas e urgentes necessidades, chega até
Nós, pode dizer-se, de todas as partes dó mundo, confrangendo o
Nosso coração pelas dores e lágrimas que revela. Uma triste
experiência já mesmo Nos ensinou que, ao chegar notícia de
melhoramento nas condições gerais de algum país, se deve quase
sempre aguardar o anúncio de novas calamidades noutro, com novas
misérias movas necessidades. Por muito que nesses momentos pesem
sobre o Nosso coração as penas incessantes de tantos filhos, a
palavra do Divino Mestre, - "non turbetur cor vestrum neque
formidet... vado et venio ad vos" (Jo 14, 27-28) -,
serve-nos de forte incitamento para fazer quanto de Nós depende, a
fim de lhes dar conforto e remédio.
5. E' verdade que nesse desejo de providenciar e socorrer não
estamos só, inúmeras propostas e projetos, em ordem a prevenir as
misérias e dar-Lhes remédio, formulam-nas todos os dias entidades
públicas e particulares. Muitos desses projetos, que nos apresentam
pessoas ou grupos, denotam sem dúvida a boa vontade dos seus autores.
Mas a sua mesma abundância heteróclita, e as contradições em que
freqüentemente incorrem, manifestam um estado geral de perplexidade.
A salvação não pode vir unicamente da produção e da
organização.
6. Dir-se-ia que Humanidade de hoje, tendo sabido construir a
maravilhosa e complexa máquina do mundo moderno, subjugando em seu
serviço forças ingentes da natureza, se mostra incapaz de lhe dominar
o avanço, como aquele que, tendo deixado escapar o leme das mãos,
corre o perigo de ser submergido e despedaçado. Essa incapacidade de
domínio deveria naturalmente levar os homens, que são vitimas dela,
a não esperar a salvação unicamente dos técnicos da produção e da
organização. O trabalho destes, só quando unido e orientado para
melhorar e fortalecer os verdadeiros valores humanos, poderá
contribuir, e notavelmente, para resolver os graves e vastos problemas
que angustiam o mundo. Em caso nenhum, porém, conseguirá
estabelecer um mundo sem misérias. Quanto desejaríamos que todos se
convencessem disso, aquém e além do oceano!
7. Entretanto, neste problema tão urgente de ir em socorro dos que
sofrem, é necessário que a Humanidade .levante os olhos para a
ação de Deus, a fim de aprender constantemente, do seu modo de
operar, infinitamente sábio e eficaz, a maneira de auxiliar e
resgatar os homens dos seus males. Precisamente nesse sentido,
projeta luz maravilhosa o mistério do Natal. Com efeito, em que
consiste a substância deste inefável mistério senão na obra
empreendida por Deus, e progressivamente levada a termo, para socorro
da sua criatura, a fim de a arrancar do abismo da mais grave e geral
miséria em que tinha caído - a miséria do pecado e do afastamento do
sumo Bem?
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