Pio XII

RADIOMENSAGEM DE NATAL DE 1944

SOBRE A DEMOCRACIA


O SEXTO NATAL DE GUERRA

1. "Benignitas et humanitas apparuit Salvatoris nostri Dei" (Tito 3, 4). E já pela sexta vez, desde o início desta guerra horrível, que a Santa Liturgia do Natal saúda, com essas palavras, cheias de paz serena, a vinda a nós de Deus Salvador. O presépio humilde e esquálido de Belém faz convergir em si, com atração indizível, o pensamento de todos os crentes.

2. Ao fundo dos corações entenebrecidos, aflitos e abatidos, desce, invadindo-os todos, uma grande torrente de luz e alegria. As frontes inclinadas se levantam serenas, porque o Natal é a festa da dignidade humana, a . festa do "comércio admirável, pelo qual o Criador do gênero humano, tomando um corpo vivo, se dignou nascer da Virgem, e com sua vinda nos deu sua divindade" (Antífona I• das Primeiras Vésperas da Circuncisão do Senhor).

3. Mas espontaneamente nosso olhar se desvia do luminoso Menino do presépio para o mundo que nos cerca, e o doloroso suspiro do Evangelista S. João aflora aos nossos lábios: "Lux in tenebris lucet et tenebrae eam non comprehenderunt (Jo 1, 5); A luz resplandece nas trevas, e as trevas não a receberam".

4. E infelizmente também desta sexta vez a aurora do Natal surge sobre os campos de batalha cada vez mais extensos, sobre cemitérios em que se acumulam cada vez mais numerosos os despojos das vítimas, sobre terras desertas, onde raras torres vacilantes indicam em sua silenciosa outrora florescentes e prósperas, e onde os sinos caídos ou roubados já não despertam os habitantes com seu alegre coro de Natal. São outros tantos testemunhos mudos, que acusam essa mancha na história da humanidade que, voluntariamente cega diante da claridade d'Aquele que é o esplendor e luz do Padre, voluntariamente afastada de Cristo, resvalou e caiu na ruína e na abdicação da própria dignidade. Até a pequena lâmpada se extinguiu em muitos templos majestosos, em muitas capelas modestas, onde junto do tabernáculo havia participado das vigílias do divino Hóspede sobre o mundo adormecido. Que desolação! Que contraste) Não haverá, portanto, roais esperança para a humanidade?