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46. E agora, - vós todos que tendes responsabilidade, e vós
todos que, por disposição ou permissão de Deus, tendes nas mãos
poder sobre os destinos da vossa própria gente e do povo das outras
nações, escutai esta suplicante lição - "Erudimini" ("estais
sendo ensinados") - que, ressoando em vossos ouvidos do abismo
sanguinolento e ruinoso desta guerra gigantesca, é um aviso a todos,
um toque de trombeta do futuro juízo, anunciando condenação e
castigo para todos os que permanecem surdos à voz da Humanidade, que
é também a voz de Deus: Vox populi, vox Dei.
47. Os vossos objetivos de guerra e a consciência do vosso poder
raras vezes podem ter abrangido nações e continentes inteiros. A
questão da culpa da presente guerra e a exigência de reparações
podem bem induzir-vos a levantar a voz. Hoje, contudo, a
devastação causada pelo presente conflito em todos os campos da vida,
material e espiritual, atingiu tal gravidade e extensão sem paralelo,
e o perigo de que ela possa desenvolver-se, pelo prolongamento em
indizíveis horrores para ambos os grupos beligerantes e para aqueles
que, embora relutantes, para ela foram arrastados, mostra-se tão
sombria e ameaçadora aos nossos olhos, que Nós vos pedimos e
exortamos:
48. Elevai-vos acima de vós mesmos, acima de qualquer mesquinho
juízo e cálculo, acima de qualquer orgulho de superioridade militar,
acima de qualquer proclamação unilateral de direito e de justiça.
Aceitai a existência de alguns fatos desagradáveis, e ensinai os
vossos povos a encará-los com seriedade e fortaleza de Animo.
49. Uma verdadeira paz não é o resultado matemático de uma
proporção de forças; no seu significado último e mais profundo é
um ato moral e jurídico. Não se pode, de fato, realizar, sem
recorrer à força, e a sua própria estrutura deve ter o apoio de uma
justa proporção de força. Mas a função desta força, se quer
permanecer moralmente justa, deve ser a defesa e proteção do
direito, e não diminuí-lo e oprimi-to.
50. Não houve, talvez, nunca na história da Humanidade nenhum
tempo tão capaz como o presente de grande e benéfico progresso, assim
como de feitos e erros fatais. E esta época exige imperiosamente que
os objetivos de guerra e os programas de paz sejam ditados pelo mais
alto senso moral. O seu único e definitivo escopo deve ser
entendimento e concórdia entre as nações beligerantes; um resultado
que deixará cada nação consciente de pertencer à família de
nações como a um todo, e dos deveres que isto implica; a
oportunidade de se associar a si própria, com dignidade e sem se
desconfessar ou destruir a si mesma, na grande atividade futura do
mundo para o saneamento e a reconstrução. A conclusão de tal paz de
modo nenhum significaria naturalmente o abandono das necessárias
garantias e sanções perante qualquer atentado praticado pela força
contra o direito.
51. Não exijais de nenhum membro da família das nações, embora
pequeno ou fraco, que renuncie a direitos fundamentais e necessidades
vitais a que vós próprios julgaríeis impossível renunciar, se ao
vosso povo se pedisse essa renúncia. Dai, quanto antes, à
Humanidade angustiada uma paz que remirá a raça humana aos seus
próprios olhos e perante a história; uma paz sobre cujo berço se
não agitem vingativas chamas de ódio, nem os instintos dum desejo
imoderado de represálias, mas Unicamente o alvor de um novo espírito
de cooperação extensiva a todo o mundo que, sustentado pela força
indispensável da fé cristã, será só ele capaz de preservar a
Humanidade, depois desta malfadada guerra, do inenarrável
infortúnio de uma paz assente em falsos fundamentos, e por isso
ilusória e efêmera.
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