AO TROAR DO CANHÃO

7. O indizível flagelo da guerra, que Pio XI previa com dor profunda e extrema, e, com a indomável energia do seu nobre, altíssimo espírito, queria por todos os meios afastar das contendas entre as nações, desencadeou-se finalmente, e agora é uma trágica realidade. Diante do rumor da guerra, uma amargura imensa invade a Nossa alma triste ao pensar que o Santo Natal do Senhor, do príncipe da paz, vai celebrar-se hoje no meio do funesto e fúnebre troar dos canhões, sob o terror das armas aéreas, no meio das ameaças e das insídias dos navios de guerra. Porque o mundo parece ter esquecido a pacífica mensagem de Cristo, a voz da razão, a fraternidade cristã, tivemos infelizmente de assistir a uma série de atos também inconciliáveis com as prescrições do direito natural e até com os sentimentos mais elementares de humanidade; atos que nos mostram em que circulo vicioso e caótico se perde o senso jurídico orientado por considerações puramente utilitárias. Nesta categoria entram a premeditada agressão contra um pequeno, laborioso e pacífico povo, sob pretexto de uma ameaça não existente, nem querida, e, nem sequer, possível; as atrocidades (cometidas por qualquer das partes) e o uso ilícito de meios de destruição até contra não combatentes e fugitivos, contra velhos, mulheres e crianças; o desprezo da dignidade, da liberdade e da vida humana, donde derivam atos que clamam vingança diante de Deus: Vox sanguinis fratris tui clamat ad me de terra (Gn 4, 10); a propaganda anticristã e até atéia, cada vez mais extensa e metódica, sobretudo entre a juventude.

8. O Nosso dever, que é também Nossa vontade intima e sagrada, de Pai e de Mestre da Verdade impele-nos a preservar a Igreja e a sua missão entre os homens de todo o contacto com este espírito anticristão; e, por isso, dirigimos uma calorosa e insistente exortação, sobretudo aos ministros do Santuário e aos "administradores dos Mistérios de Deus". a fim de que sejam sempre atentos e exemplares no ensino e na prática do amor, e nunca esqueçam que não há no Reino de Cristo preceito mais inviolável nem mais fundamental e sagrado que o serviço da verdade e o vínculo do amor.