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Santíssimo Padre: Estando, por esta festa do Natal, o mundo
envolto em tristeza, é muito próprio que eu vos envie uma mensagem de
saudação e de fé. O mundo criou para si mesmo uma civilização
capaz de garantir à humanidade paz e segurança, firmemente assentes
na base do ensino religioso. Apesar da nossa civilização ter
conquistado a terra, o mar e até o próprio ar, vemo-la atualmente
sofrendo guerra e dores. Apraz-me recordar que foi em tempos
semelhantes que Isaías profetizou, em primeiro lugar, o nascimento
de Cristo. Assim, muitos séculos antes da sua vinda, a condição
do mundo não era diferente daquela que hoje vemos. Então como hoje,
tinha rebentado uma conflagração, e as nações da terra caminhavam
perigosamente à luz do fogo que elas próprias tinham ateado. Mas
nesse mesmo momento se previu um novo dia em que os cativos seriam
livres e em que os conquistadores desapareceriam no fogo ateado por suas
mãos; aqueles que tomaram a espada pereceram pela espada. De novo,
durante muitos séculos, a que damos o nome de idade das trevas, as
chamas e a espada dos bárbaros acometeram a civilização ocidental;
mas, então, reacendendo-se, mais uma vez, a centelha espiritual,
inerente na humanidade, honre um novo renascimento, que ressuscitou a
ordem, a cultura e a religião. Creio que os sofrimentos de hoje são
uma nova forma desses velhos conflitos. Sendo tão acelerado, nos
nossos dias, o tempo das coisas mundanas, é de esperar que também
este Período de trevas e de destruição seja muito mais abreviado do
que ,nos tempos antigos. Os homens recusam-se a aceitar, no seu
íntimo, por muito tempo, a lei de destruição, que lhes é imposta
pêlos defensores da força bruta. Procuram sempre encontrar de
-novo, embora por vezes em silêncio, aquela fé sem a qual o bem das
nações e a paz do mundo não podem ser reconstruídos. Tenho o
privilégio raro de lei de milhares de pessoas humildes cartas e
confidências que vivem em muitas nações da terra. Os seus nomes
não entram nas páginas da história, mas é o seu trabalho e coragem
cotidianos que sustentam a vida do mundo. Eu sei que estes e uma
legião inumerável de outros, como eles, em todos os países da
tetra, estão à espera de uma luz que os guie. Sabemos que a estrela
de Belém foi vista primeiramente pêlos pastores das montanhas, muito
antes dos chefes do povo terem visto a grande luz, que tinha aparecido
na terra. Creio que talvez já exista no meio de nós, a nova ordem
de coisas que os estadistas ainda mal divisam. Creio até que essa
nova ordem já está sendo construída, silenciosa, mas
inevitavelmente, nos corações das massas, cujas vozes não são
ouvidas, mas cuja fé comum escreverá a última página da história
do nosso tempo. Conhecem muito bem que, sem crença num princípio
diretivo e sem confiança num plano divino, as nações ficarão nas
trevas e os povos perecerão. Eles sabem que a civilização, herdada
de nossos pais, foi edificada por homens e mulheres que conheciam, no
seu íntimo, que todos éramos irmãos, porque todos éramos filhos de
Deus. Eles criam que, pela sua vontade, as inimizades podiam ser
curadas; que pela sua misericórdia os fracos podiam ser libertados, e
que os fortes encontrariam graça, auxiliando os fracos. Se estas
vozes silenciosas forem ouvidas, nesta hora de angústia e de horror,
creio que nos poderão dizer coiro se há de reconstruir o mundo. E'
próprio que o mundo pense .nisto, pela festa do Natal. Conhecendo
perfeitamente o povo deste país que o tempo e a distância deixaram de
existir, como noutras eras, sabe também que o que fere uma parte da
humanidade, fere o resto do mundo. Só pela cooperação mútua e
amiga daqueles que buscam a luz e a paz, poderá levar-se de vencida
as forças do mal. Nas circunstâncias do momento presente, não há
nenhum "leader" espiritual ou temporal que possa executar um plano
determinado, capaz de pôr fim a esta destruição e reconstruir uma
nova ordem. No entanto, esse tempo virá certamente. Estou,
portanto, persuadido de que, embora não se veja ainda o modo nem o
tempo de agir, é conveniente, desde já, trabalhar para uma união
mútua de esforços de todos aqueles que, nas diversas partes do mundo
- sejam líderes religiosos ou civis, têm a peito a mesma causa.
Tomo, portanto, a liberdade de participar a Vossa Santidade que
será para mim motivo de grande alegria enviar-vos o meu representante
pessoal a fim de que os nossos comuns esforços pela paz e alívio dos
que sofrem se tornem mais profícuos. Quando chegar o tempo para o
restabelecimento da paz mundial, numa base mais segura, é de
altíssima importância para a humanidade e para a religião que aqueles
que têm a peites o mesmo ideal apresentem uma frente única de ação.
Além disso, quando chegar esse dia feliz, todos nós teremos de
resolver grandes problemas de importância prática. Milhões de
pessoas de todas as raças, nacionalidades e credos religiosos deverão
talvez Principiar uma nova vida, emigrando para outros países, ou
regressando aos seus antigos lares. Neste ponto também, um ideal
comum exige uma ação comum. Confio, pois, plenamente que todas as
confissões religiosas do mundo, que crêem no mesmo Deus, envidarão
todos os seus grandes esforços, em prol duma tão grande causa. A
vós, a quem tenho a honra de chamar um bom e velho amigo, envio as
minhas respeitosas saudações, por esta festa do Natal.
Cordialmente vosso,
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