AOS FIÉIS: O CONFORTO DA FÉ NAS CALAMIDADES ATUAIS

25. Vinde agora vós, ó cristãos; vós, ó fiéis ligados por inefável vinculo sobrenatural ao Filho de Deus. que se tornou pequeno por nós; guiados e santificados pelo seu Evangelho, e alimentados pela graça, que é fruto da Paixão e Morte do Redentor. Também vós sentis a dor, embora com a esperança de um conforto que vos vem da vossa fé.

26. As misérias presentes são também vossas; a guerra destruidora também vos visita e atormenta, aos vossos corpos e às vossas almas, às vossas propriedades e aos vossos bens, à vossa casa e ao vosso lar. A morte dilacerou-vos o coração e abriu feridas que dificilmente cicatrizam. A recordação das remotas sepulturas queridas, que permanecem talvez ignoradas; a ansiedade pelos desaparecidos ou dispersos, o desejo anelante de tornar a abraçar os vossos amados prisioneiros ou deportados, mergulham-vos em tal pena que vos oprime o espírito, enquanto de todos, jovens e velhos, se aproxima, grave e obscuro, o futuro.

27. Todos os dias, e mais que nunca na hora presente, o Nosso coração de Pai, com profundo e inalterável afeto se sente junto de cada um de vós, amados filhos e filhas, que viveis doloridos e angustiados. Contudo, todos os Nossos esforços não podem fazer cessar de repente esta horrenda guerra, nem restituir á vida os vossos queridos mortos, nem reconstruir o vosso lar aniquilado, nem libertar-vos plenamente das vossas ansiedades. Muito menos Nos é possível manifestar-vos o futuro, cujas chaves estão nas mãos de Deus, que dirige o desenrolar dos acontecimentos e lhes marcou o termo pacifico.

28. Duas coisas todavia, podemos e queremos dizer. A primeira é que fizemos e faremos sempre tudo quanto cabe em Nossas forças materiais e espirituais para aliviar as tristes conseqüências da guerra, pelos prisioneiros, feridos, dispersos, errantes, necessitados, por todos os que padecem e sofrem, de qualquer língua e nação.

29. A segunda, que, no transcurso do triste tempo de guerra, Nós queremos recordeis, sobretudo, o grande alento que a fé Nos inspira, quando Nos ensina que a morte e os sofrimentos desta vida terrena perdem a sua dolorosa amargura naqueles que, com tranqüila e serena consciência, podem tornar sua a comovedora prece da Igreja na Missa d" Defuntos: "Para os teus fiéis, Senhor, a vida não fenece, transforma-se; ao desfazer-se a casa da nossa habitação terrena, prepara-se-nos eterna morada no céu" (Praef. Mis. Pro Defunct.). Ao passo que os outros que não têm esperança se encontram ante um espantoso abismo, e as suas mãos, tateando à procura de um ponto de apoio, palpam o nada, não das suas almas imortais, mas de uma felicidade ultramundana, que se esvai em fumo, vós, ao contrário, pela graça e liberalidade de Deus misericordioso, mais para além da morte certa, "certa moriendi conditio", tendes a inefável e divina consolação da promessa da imortalidade, "futurae immortalitatis promissio''.

30. Graças a esta fé, conseguis uma serenidade interior, uma confiante fortaleza moral, que não sucumbem nem sequer aos mais rudes sofrimentos. Graça sublime esta e privilégio inestimável, que deveis atribuir à benignidade do Salvador; graça e privilégio que exige de vós correspondais com uma ação de constância exemplar, e que requer um apostolado cotidiano, dirigido a restituir a confiança a quem a perdeu e a encaminhar para a salvação espiritual os , que, como náufragos no oceano das atuais desventuras, estão a ponto de ' afundar-se e perecer.