Pio XII

RADIOMENSAGEM DE NATAL DE 1948

A SEGURANÇA E O APERFEIÇOAMENTO DA PAZ


CONFIRMA FRATRES TUOS

1. Graves e ao mesmo tempo afetuosas, como o estamento e o adeus de despedida de um Pai amantíssimo, as palavras do divino Redentor ao seu primeiro Vigário sobre a terra: "Confirma fratres tuos - Confirma teus irmãos" (Lc 22, 32), não cessaram de soar ao Nosso espírito e ao Nosso coração, desde o dia em que Ele, em seus imperscrutáveis desígnios, quis confiar a Nossas fracas mãos o leme da barca de Pedro.

2. Palavras imortais profundamente insculpidas no mais íntimo de Nossa alma, elas se tornam também mais penetrantes, cada vez que, no exercício do ministério apostólico, tenhamos de transmitir ao Episcopado e aos fiéis do mundo os ensinamentos, as normas e exortações que o perfeito cumprimento da missão salvadora da Igreja reclama e que, sem prejuízo de sua substancial imutabilidade, devem contudo adaptar-se oportunamente às sempre variáveis circunstâncias e variedades dos tempos e lugares.

3. Mas com particular comoção e intensidade experimentamos em Nós mesmo a força daquele divino andamento nesta ocasião em que, pela décima vez, frigimos Nossa Mensagem Natalícia a vós, diletos lhos e filhas do universo, após um decênio que, pelos seus acontecimentos e subversões, por seus trabalhos e solicitudes, por suas amarguras e dores, não tem similar nos séculos da história humana.

4. Quando, no intimo Natal, Nós reclamávamos, em idêntica oportunidade, as vossas orações e a vossa colaboração, exprimíamos o augúrio de que o então incipiente 1948 fosse para toda a Europa e para toda a sociedade dos povos, atormentada por tantas dissenções, um ano de fervorosa reconstrução, o início de um rápido caminho para uma verdadeira paz.

5. Hoje, ao cabo de um ano, que começou com tantas esperanças, a Nossa voz paternal exorta novamente a vós, espíritos retos e refletidos, a vós, cristãos sinceros, a considerar qual seja no momento presente a condição da humanidade e da cristandade, e qual o meio de avançar com passo firme e franco na trilha que a dura necessidade dos tempos e a vossa consciência vos indicam.

6. Quem quer que tenha clarividência, força moral e coragem para encarar, de olhos fixos, a verdade, embura penosa e humilhante, deve reconhecer que este ano de 1948, objeto, ao nascer, de elevadas e bem compreensiveis esperanças, aparece-nos hoje, ao terminar, como uma dessas encruzilhadas onde o caminho, que denunciava alegres perspectivas, parece desembocar ao contrário sobre as bordas de um precipício, cujas insídias e perigos enchem de crescente ansiedade todos os povos nobres e generosos.

7. Mas, apesar de tudo, ou antes exatamente por isto, diletos filhos e filhas, quando começa a pusilanimidade a apoderar-se até dos ânimos mais corajosos e as dúvidas a assaltar os espíritos mais esclarecidos e resolutos, Nós Nos sentimos mais do que nunca obrigados a corresponder à ordem divina: "Confirma fratres tuos", e a todos vós, até aos extremos confins do mundo, enviamos, como Nossa saudação de Natal, as palavras com as quais o Profeta anunciava a obra da redenção e a definitiva vitória do reino de Cristo: "Confortai as mãos frouxas e robustecei os joelhos débeis. Dizei aos pusilânimes: Tomai ânimo e não temais; eis que o vosso Deus... virá e vos salvará" (Is 35, 3-4).