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1. A festividade do Natal e o Ano Novo já próximo anunciam-se
com sinais advertidores, índices do futuro. - Os votos
tradicionais, que se permutam nesta data e ascendem ao céu entre
nuvens de incenso e de orações, não podem nem querem, apesar da
íntima sinceridade do amor que os dita, fazer perder de vista as
condições da hora presente, nas quais se encontram, numa curva do
seu destino, a Europa e o mundo inteiro, cuja gravidade é
indubitável, cuja evolução para o bem ou para o mal é incalculável
e cujas conseqüências são imprevisíveis: - Ainda no ano passado,
nesta mesma ocasião, Nós endereçamos a Nossa Mensagem de Natal a
todos os católicos, e ao mesmo tempo a todos os ho- mens de
bom-senso e de boa vontade. Quem jamais teria bastante ânimo para
pressagiar à humanidade, esgotada de guerra e faminta de paz, isto
que é hoje uma dura e inegável realidade?
2. Os sinos de Natal continuarão a bimbalhar festivamente, como
há séculos; mas para muitos corações fechados, amargurados,
turbados, eles soarão num deserto, onde não mais despertarão
qualquer eco vivo. - Transcorrido mais um ano do após guerra, cheio
de misérias e de sofrimentos, de desilusões e de privações, cada
qual que tenha olhos para ver e ouvidos para ouvir, deve deter-se à
vista deste fato doloroso e humilhante: a Europa e o mundo - até à
remota e martirizada China - estão hoje mais do que nunca longe da
verdadeira paz, de uma completa e perfeita cura de seus males, do
estabelecimento de uma nova ordem na harmonia, no equilíbrio e na
justiça.
3. Os fautores da negação e da discórdia, com toda a sorte de
aproveitadores que rastejam em seu seguimento, rejubilam-se com o
pensamento ou a ilusão de que a sua hora se aproxima. - Os amigos da
paz, os promotores de uma reconciliação estável entre os povos, ao
contrário, sentem o coração confranger-se de ânsia, diante do
contraste entre a riqueza moral e social da boa nova de Belém e a
miséria de um mundo que se afasta de Cristo.
4. Mas os verdadeiros cristãos, para os quais toda a vida, sua luz
e seu mérito consiste no sentire cum Ecclesia, conhecem e
compreendem, melhor que qualquer outro, o sentido e o valor de épocas
como a nossa, épocas de trevas densas e, ao mesmo tempo, de
fulgurante luz, quando o inimigo de Cristo recolhe tragicamente larga
messe de almas, mas quando também muitos bons se tornam melhores;
quando os corações generosos se elevam aos cimos do heroísmo
vitorioso, e quando, igualmente muitos tépidos e pusilânimes,
escravos -do respeito humano, receosos do sacrifício, tombam na
mediocridade, degeneram na vileza, semelhantes àqueles "que não
foram rebeldes - nem foram fiéis a Deus, mas viveram para si"
(Div. Com. Inf. 3, 38-39).
5. Na luta titânica entre os dois espíritos opostos, que se
disputam o mundo, se é o ódio suficiente para agrupar em torno do
espírito do mal homens que tudo empreendem para dividir a humanidade,
o que não poderá fazer o amor para reunir numa liga, vasta como o
mundo, todos quantos, pela elevação de vistas, pela nobreza de
sentimentos, pela comunhão de sofrimentos, uniram-se por vínculos
bem mais fortes e apertados que as diferenças ou divergências que os
poderiam separar?
6. Aos milhões de homens dispostos a aderir a essa liga mundial,
cuja lei fundamental é a mensagem de Belém e cujo Chefe invisível
é o Rei pacífico nascido no presépio, endereçamos nesta hora a
Nossa fervorosa exortação.
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