Pio XII

RADIOMENSAGEM DE NATAL DE 1942

A PAZ NA VIDA SOCIAL


INTRODUÇÃO: O SANTO NATAL E A HUMANIDADE SOFREDORA

1. Com sempre nova frescura de alegria e de piedade, diletos filhos do universo inteiro, cada ano, ao ocorrer o Santo Natal, ressoa do Presépio de Belém aos ouvidos dos cristãos, repercutindo-se docemente nos seus corações, a mensagem de Jesus, que é luz no meio das trevas: uma mensagem que ilumina, com o esplendor de celestial verdade, um mundo obscurecido por erros trágicos, que infunde alegria exuberante e esperançosa à humanidade angustiada por profunda e amarga tristeza, proclama a liberdade aos filhos de Adão, constrangidos pelas cadeias do pecado e do erro, e promete misericórdia, amor e paz às multidões infinitas dos padecentes e atribulados, que vêem dissipada a sua felicidade e quebradas as suas energias sob a rajada das lutas e dos ódios, dos nossos dias borrascosos.

2. Os bronzes sagrados, anunciadores dessa mensagem em todos os continentes, não somente recordam o dom divino outorgado a toda a humanidade, no começo da era cristã, mas também anunciam e proclamam a consoladora realidade presente, realidade eternamente nova, por isso sempre viva e vivificante, realidade da "luz verdadeira que ilumina todo o homem vindo a este mundo" e não conhece ocaso. O Verbo Eterno, caminho, verdade e vida, nascendo na desolação de uma gruta e de tal modo nobilitando e santificando a pobreza, dava assim inicio à sua missão de doutrina, de salvação, de resgate do gênero humano, e dizia e consagrava uma palavra que ainda hoje é a palavra de vida eterna, com força para resolver os problemas mais tormentosos, não resolvidos e insolúveis por quem só tem vistas e meios puramente humanos: problemas que se apresentam sangrando, exigindo imperiosamente uma resposta ao pensamento e ao sentimento da humanidade amargurada e exacerbada.

3. A frase "Misereor super turbam" (compadeço-me da multidão) é para nós senha sagrada, inviolável, válida e impulsionadora em todos os tempos e em todas as situações humanas, como era a divisa de Jesus; e a Igreja renegar-se-ia a si mesma, deixando de ser mãe, se tornasse surda ao grito angustioso e filial que todas as classes da humanidade fazem chegar aos seus ouvidos. Ela não intenta tomar partido por uma ou por outra das formas particulares e concretas com as quais cada povoe Estado tendem a resolver os gigantescos problemas de sistematização interna e de colaboração internacional, quando " elas respeitam a lei divina; mas, por outra parte, coluna e base da verdade" (1 Tim 3, 15), guarda, pela a vontade de Deus por missão de Cristo, da ordem natural e sobrenatural, a igreja não pode renunciar a proclamar diante dos seus filhos e diante do universo inteiro, as irrefragáveis normas fundamentais, preservando-os de todo descaminho, caligem, inquinamento, falsa interpretação e erro; tanto mais que da sua observância, e não simplesmente do esforço duma vontade nobre e ousada, depende a segurança definitiva de qualquer nova ordens nacional e internacional, instada por todos os povos com veemente anelo. Povos dos quais conhecemos os dotes de fortaleza e de sacrifício e também as dores e angústias, a todos, sem exceção alguma, nesta hora de indizíveis provas e contrariedades, Nos sentimos ligado não só por profundo, imparcial e imperturbável amor, mas também pelo imenso desejo de lhes levar todo o conforto e socorro que de qualquer modo esteja em Nosso poder.