A PAZ EXTERNA

39. Os homens desprovidos deste sentido cristão e - ou cegamente agarrados ao passado ou fanaticamente inclinados diante " do ídolo, muitas vezes quimérico, do futuro, mas uns e outros descontentes do presente - eis um grave perigo tanto para a paz interna dos povos como para a paz externa.

40. Não pretendemos aqui aludir ao agressor que vem de fora com orgulho da sua força e desprezo de todo o direito e de toda a caridade. Armas poderosíssimas e, por assim dizer, tropas auxiliares encontra-as ele no interior do País; são as crises dos povos e as suas faltas de coesão espiritual e moral.

41. E' preciso, portanto, que as nações se não deixem levar por motivos de prestígio próprio ou por idéias antiquada, que originem dificuldades políticas e econômicas ao reforço interno dos outros povos não se preocupando com o perigo comum de todos.

42. E' preciso compreenderem que os naturais e mais fiéis aliados hão de vir donde o pensamento cristão, ou .pelo menos a fé em Deus, têm valor ainda mesmo nos negócios públicos, e não tomarem como base única um suposto interesse nacional ou político, desprezando ou não tendo em conta as diferenças profundas na concepção fundamental do mundo e da vida.

43. Sugere-Nos estas advertências a vista do equívoco e da irresolução na frente dos amigos sinceros da paz, mesmo diante de perigo tão grave. E, já que temos a peito o bem de todas as Nações, pensamos que o único meio para a defesa da paz ou a melhor garantia do seu restabelecimento é a estreita união de todos os povos, senhores dos seus destinos, unidos por sentimentos de confiança recíproca e de mútuo auxilio.

44. Infelizmente, porém, nas últimas semanas, aprofundou-se mais ainda a linha de fratura, que, no mundo externo, divide em campos opostos toda a comunidade internacional, ficando em perigo a paz do mundo. Nunca a história humana conheceu discórdia mais gigantesca, cujas dimensões se medem pela própria vastidão da terra. Num lastimoso conflito, que hoje se produzisse, as armas seriam tão exterminados que tornariam a terra, por assim dizer, inanis et vacua (Gèn I, 2), solidão e caos, semelhante ao deserto não da origem mas sim do ocaso. Todas as nações seriam envolvidas no conflito, que iria por sua vez repercutir-se e multiplicar-se entre os cidadãos do mesmo País, pondo em perigo extremo todas as instituições civis e os valores do espírito, uma vez que o dissídio abrange agora todos os problemas, até os mais difíceis, que noutros tempos se debatiam separadamente.

45. Em razão da sua gravidade, exige imperiosamente o cruel e iminente perigo que se aproveite qualquer oportunidade de fazer triunfar a prudência e a justiça, sob o signo da concórdia e da paz. Sirva este perigo para reavivar sentimentos de bondade e compaixão com todos os povos, que aspiram sincera e unicamente à paz e à tranqüilidade da vida. Torne a reinar a confiança recíproca nos organismos internacionais, a qual pressupõe sinceridade de intenções, e lealdade na discussão. Abram-se as barreiras, rompam-se as vedações, conceda-se a cada povo o direito de observar a vida de todos os outros, e desapareça o isolamento de alguns países em relação ao resto do mundo civilizado, donde nascem tantas dificuldades para a causa da paz.