NEM PERSEGUIÇÃO DA RELIGIÃO E DA IGREJA.

23. 5º No campo de uma nova ordem fundada sobre princípios morais, não há lugar para a perseguição da religião e da Igreja. Da fé viva em um Deus pessoal transcendente deriva uma clara e constante energia moral que informa todo o curso. da vida; porque a fé não é só uma virtude, mas a porta divina por onde entram no templo da alma todas as virtudes e se forma aquele caráter forte e constante que não vacila nas lutas da razão e da justiça.

Isto vale em todos os tempos; mas muito mais num tempo em que tanto do homem de Estado como do último cidadão se exige a máxima coragem e energia moral para reconstruir uma nova Europa e um novo mundo sobre as ruínas que o conflito mundial com a sua violência, com o ódio e a divisão dos espíritos acumulou. Quanto à questão social em particular, que ao fim da guerra se apresentará mais aguda, ai estão as normas traçadas pelos Nossos Predecessores e por Nós mesmo para a resolver. Convém notar, porém, que elas só se poderão aplicar plenamente e dar todo o seu fruto, se os homens de Estado e os povos, os patrões e os operários estiverem animados da fé em um Deus pessoal, legislador e juiz supremo, a quem todos devem responder pelas próprias ações. Porque ao passo que a incredulidade, que se revolta contra Deus, ordenador do universo, é a mais perigosa inimiga de uma justa ordem nova, ao contrário todo o homem que cré em Deus será um seu decidido fautor e paladino. Quem cré em Cristo, na sua divindade, na sua lei, na sua obra de amor e de fraternidade entre os homens, contribuirá com elementos particularmente preciosos para a reconstrução social; com maior razão e mais contribuirão os homens de Estado, se mostrarem prontos a franquear as portas e aplanar o caminho à Igreja de Cristo, para que, livre e sem peias, pondo as suas energias sobrenaturais ao serviço do bom entendimento entre os povos da paz, possa cooperar com o seu zelo e com o seu amor no imenso trabalho de curar as feridas da guerra.

24. Torna-se-nos por isso inexplicável como em algumas regiões repetidas determinações embaraçam o caminho à mensagem da fé cristã, enquanto dão ampla e livre passagem a uma propaganda que a combate. Subtraem a juventude à benéfica influência da família e alheiam-na da Igreja; educam-na num espírito adverso a Cristo, instilando-lhe idéias, máximas, e práticas anticristãs; tornam árdua e embaraçada a obra da Igreja na cura de almas e no exercício da beneficência; desconhecem e rejeitam o seu influxo moral sobre os indivíduos e a sociedade; determinações estas que longe de terem sido mitigadas ou abolidas no decurso da guerra, têm sido sob diversos pontos de vista progressivamente agravadas. Que tudo isto e mais ainda, tenha podido continuar em meio dos sofrimentos da hora presente, é um triste sinal do espírito com que os inimigos da Igreja impõem aos fiéis, além de todos os outros não pequenos sacrifícios, ainda o peso angustioso de uma terrível ansiedade a amargurar e oprimir as consciências.

25. Nós amamos, - Deus nos é testemunha! - com igual afeto a todos os povos sem exceção; e para evitar até a aparência de nos deixarmos levar por espírito de facção, temo-nos imposto até agora a máxima reserva; mas as disposições contra a Igreja e os fins que com elas se pretendem, são tais que Nos sentimos obrigado, em nome da verdade, a proferir uma palavra, mesmo para que não venha, por desgraça, a nascer desorientação entre os fiéis.