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4. Esta manhã, Veneráveis Irmãos e diletos Filhos, a
maravilhosa liturgia da Santa Igreja levantou os ânimos dos
sacerdotes com as grandiosas palavras do Martirológio Romano:
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"Ab Urbe Roma condita anno septigentesimo quinquagesimo secundo,
anno imperii Octaviani Augusti quadragesimo secundo, toto Orbe in
pace composito... Jesus Christus aeternus Deus aeternique Patris
Filius, mundum volens advento suo piissimo consecrare, de Spiritu
Sancto conceptus, .. in Bethlehem Judae nascitur ex Maria
Virgine factus homo".
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5. Quando o tom solene desta alegre mensagem, que une Roma a
Belém, o nascimento do Salvador do mundo com a recordação da
fundação de Roma, que no seu mais alto e sagrado destino, não com
a glória das armas mas com as vitórias da graça divina, "imperium
terris, animos aequabit Olympo" (Virgílio, Eneida, VI,
782, 783); quando esta augurai anunciação da vinda do Rei
celeste, numa idade em que todo o Orbe estava em paz, ressoa de novo
aos ouvidos dos fiéis de Cristo, desperta-se e levanta-se em
milhões de almas de todos os povos e nações a memória da redenção
do pecado. Como divina sinfonia universal, em todas as línguas sobe
até ao céu um hino de júbilo, um canto de adoração de corações
humildes e reconhecidos: "Christus natus est nobis: venite, adoremos"
(Matinas do Natal). Hino imortal da liberdade dos desterrados
filhos de Eva!, que quase esquecem a dor do paraíso perdido pela
culpa dos nossos primeiros pais; os espinhos e as tribulações que a
terra, profanada pelo pecado, gera desde a queda de Adão; mas
perante o celeste Menino no presépio de Belém e da Virgem Mãe do
recém nascido Emanuel, se prostram no pó, comovidos e cheios de
santa admiração pêlos maravilhosos desígnios da divina
Providência.
6. A santa alegria do Natal do Senhor, a íntima alegria, que
nasce como palpitação própria dos fiéis de Cristo, não depende,
nem pode ser diminuída ou perturbada pelos acontecimentos externos; a
alegria do Natal, que os enche de felicidade e de paz, tem raízes
tão profundas e levanta cumes tão excelsos que não pode ser
destruída pelo turbilhão de qualquer acontecimento terreno, viva o
mundo em paz ou esteja ele em guerra. A consoladora verdade da palavra
do Senhor: gaudebit cor vestrum et gaudium vestrum nervo tollet a
vobis (Jo 16, 22), quem poderá jamais senti-Ia e
experimentá-la melhor do que aquele que, sinceramente, com a alma
purificada e o coração aberto, escuta o hino de paz aos homens de boa
vontade, dirigido à terra do presépio, a primeira cátedra do Verbo
divino encarnado?
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