OS SOFRIMENTOS DOS POVOS.

40. E agora o Nosso pensamento dirige-se com particular e afetuosa solicitude para o exército sofredor dos pobres espalhados pelo mundo; pobres conhecidos ou desconhecidos, em países civilizados ou em regiões ainda não regeneradas pela cultura cristã ou simplesmente humana.

41. Passam diante dos olhos do espirito as famílias, sobre que .paira, como espectro ameaçador, o perigo de se verem separadas da fonte de todo o ganho com o repentino cessar do trabalho; para outras, acrescenta-se à incerteza do ganho a insuficiência dele, tal que não lhes consente adquirir vestuário conveniente e nem sequer o alimento necessário para não adoecer. A condição piora, quando elas são obrigadas a habitar em poucas divisões sem mobília e completamente desprovidas das modestas comodidades que tornam -a vida menos penosa. E se a divisão é uma só e deve servir para cinco, sete ou dez pessoas, todos podem imaginar quanto mal-estar! E que dizer daquelas famílias, que têm algum trabalho, mas, não possuindo casa, vivem à sorte em barracas, em cavernas que não se destinariam nem sequer para animais!

42. Amarga é igualmente a miséria daqueles que, tendo ficado quase privados de -todos os seus rendimentos pela constante e anais ou .menos crônica desvalorização da moeda, caíram na mais triste indigência, ,muitas vezes depois duma vida de economia e de .trabalho fatigante, agora obrigada a concluir-se na vergonha de mendigar.

43. Mas o espetáculo mais desolador é o apresentado pelas famílias a que falta tudo. Famílias em "miséria negra": o pai não trabalha; a mãe vê definhar os filhos, absolutamente impossibilitada de socorrê-los; cada dia falta o pão, cada dia falta com que cobrir-se, e mal de todos quando a doença vem fazer ninho naquela caverna transformada em habitação humana.

44. Enquanto o Nosso pensamento vai para estas visões de pobreza e de miséria, o Nosso coração enche-se de ânsia e sente-se oprimido - podemos dizê-lo - por uma tristeza mortal. Pensamos nas conseqüências da pobreza e especialmente nas conseqüências da miséria.

45. Para algumas famílias é um morrer de todos os dias e de todas as borras; um morrer particularmente para os pais, multiplicado pelo número das pessoas queridas que vêem sofrer e definhar. Entretanto as doenças agravam-se, por não serem curadas convenientemente; atacam sobretudo as crianças, porque faltam os meios capazes de prevenir. Acrescente-se o enfraquecimento e a conseqüente inferioridade física de gerações inteiras, a deseducação civil de extensas camadas da população, o mau comportamento de tantas pobres m-- ,as, arremessadas para o fundo do abismo por julgarem encontrar assim o único caminho de saída para a sua vergonhosa indigência. Não é, além disso, raro o caso da miséria que leva até ao delito. Quem freqüenta, por dever de caridade, as prisões, continua a afirmar que não poucos homens, honestos no fundo. vieram a parar na prisão, porque a extrema indigência os impeliu para qualquer ato inconsiderado.