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1. "Benignitas et humanitas apparuit Salvatoris nostri Dei"
(Tito 3, 4). E já pela sexta vez, desde o início desta guerra
horrível, que a Santa Liturgia do Natal saúda, com essas
palavras, cheias de paz serena, a vinda a nós de Deus Salvador. O
presépio humilde e esquálido de Belém faz convergir em si, com
atração indizível, o pensamento de todos os crentes.
2. Ao fundo dos corações entenebrecidos, aflitos e abatidos,
desce, invadindo-os todos, uma grande torrente de luz e alegria. As
frontes inclinadas se levantam serenas, porque o Natal é a festa da
dignidade humana, a . festa do "comércio admirável, pelo qual o
Criador do gênero humano, tomando um corpo vivo, se dignou nascer da
Virgem, e com sua vinda nos deu sua divindade" (Antífona I• das
Primeiras Vésperas da Circuncisão do Senhor).
3. Mas espontaneamente nosso olhar se desvia do luminoso Menino do
presépio para o mundo que nos cerca, e o doloroso suspiro do
Evangelista S. João aflora aos nossos lábios: "Lux in tenebris
lucet et tenebrae eam non comprehenderunt (Jo 1, 5); A luz
resplandece nas trevas, e as trevas não a receberam".
4. E infelizmente também desta sexta vez a aurora do Natal surge
sobre os campos de batalha cada vez mais extensos, sobre cemitérios em
que se acumulam cada vez mais numerosos os despojos das vítimas, sobre
terras desertas, onde raras torres vacilantes indicam em sua silenciosa
outrora florescentes e prósperas, e onde os sinos caídos ou roubados
já não despertam os habitantes com seu alegre coro de Natal. São
outros tantos testemunhos mudos, que acusam essa mancha na história da
humanidade que, voluntariamente cega diante da claridade d'Aquele que
é o esplendor e luz do Padre, voluntariamente afastada de Cristo,
resvalou e caiu na ruína e na abdicação da própria dignidade. Até
a pequena lâmpada se extinguiu em muitos templos majestosos, em muitas
capelas modestas, onde junto do tabernáculo havia participado das
vigílias do divino Hóspede sobre o mundo adormecido. Que
desolação! Que contraste) Não haverá, portanto, roais
esperança para a humanidade?
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