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26. Nós contemplamos hoje, amados filhos, ao Homem Deus nascido
numa gruta, para de novo levantar o homem àquela grandeza, donde
tinha caldo por sua culpa: para o repor sobre o trono de liberdade, de
justiça e de honra que os séculos dos falsos deuses lhe tinham
negado. O fundamento daquele trono será o Calvário; o seu ornato
não será o ouro e a prata, mas o sangue de Cristo, sangue divino
que há vinte séculos corre sobre o mundo e purpureia as faces da sua
Esposa a Igreja, e, purificando, consagrando, santificando,
glorificando os seus filhos, se torna candor de paraíso.
27. O' Roma cristã, aquele sangue é a tua vida; por aquele
sangue és tu grande e iluminas com tua grandeza as próprias ruínas e
restos das tuas grandezas pagãs, e purificas e consagras os códigos
da sapiência jurídica dos pretores e dos Césares. Tu és mãe de
uma justiça mais alta e mais humana, que te honra a ti, a tua sede,
e quem te escuta. Tu és farol de civilização, e a Europa civil e
o mundo devem-te quanto de mais sagrado e de mais santo, quanto de
mais sábio e mais honesto exalta os povos e torna bela a sua
história. Tu és mãe de caridade: os teus fastos, os teus
monumentos, os teus hospícios, os teus mosteiros, os teus
conventos, os teus heróis e as tuas heroínas, os teus arautos e os
teus missionários, as tuas idades e os teus séculos, com suas
escolas e universidades, atestam os triunfos da tua caridade, que tudo
abraça, tudo sofre, tudo espera, tudo opera, para se fazer tudo a
todos, e a todos confortar e aliviar, a todos sarar e chamar à
liberdade dada ao homem por Cristo, e tranqüilizar a todos naquela
paz que irmana os povos e de todos os homens, sob todos os climas,
quaisquer que sejam as línguas e os costumes que os distingam, faz uma
só família e do mundo uma pátria comum.
28. Desta Roma, centro, cidadela e mestra do Cristianismo,
cidade que Cristo, mais do que os Césares, fez eterna no tempo,
Nós movido pelo ardente e vivíssimo desejo do bem de cada povo e da
humanidade inteira, a todos dirigimos a Nossa voz rogando e suplicando
que venha depressa o dia em que nas terras, onde hoje a hostilidade
contra Deus e contra o seu Cristo .arrasta os homens à ruína
temporal e eterna, prevaleçam melhor conhecimento da religião e novos
propósitos; o dia em que sobre o berço da nova ordem dos povos :
resplandeça a estrela de Belém anunciadora de um novo espírito que
mova a cantar com os anjos: Gloria in excelsis Deo, e a proclamar;
como dom enfim concedido pelo céu a todas as gentes: Pax hominibus
bonde voluntatis. Despontada a aurora daquele dia, com que júbilo
Nações e Governos, livres dos temores de insídias e de verem
renovar-se os conflitos, transformarão as espadas, que rasgam agora
peitos humanos, em arados que sulquem, ao sol da bênção divina, o
fecundo seio da terra, para _ dela arrancarem um pão, banhado sim de
suor, mas não já de sangue e de lágrimas!
29. Nesta esperança e com esta anelante oração sobre os lábios,
enviamos a nossa saudação e a nossa bênção a todos os nossos filhos
do mundo inteiro. Desça a Nossa bênção mais copiosa sobre
aqueles, - sacerdotes, religiosos e leigos, - que sofrem penas e
angústias pela sua fé; desça também sobre os que, embora não
pertençam ao corpo visível da Igreja católica, estão perto de
Nós pela fé em Deus e em Jesus Cristo e conosco concordam na ordem
e dos fins fundamentais da paz; desça com particular afeto sobre
quantos gemem na tristeza, duramente torturados pelas angústias da
hora presente. Seja escudo a quantos militam sob as armas;
refrigério aos doentes e feridos; conforto aos prisioneiros, aos
expulsos da terra pátria, aos que estão longe do lar doméstico, aos
deportados para terras estrangeiras, aos milhões de infelizes que a
todas as horas lutam contra os espantosos estímulos da fome. Seja
bálsamo a todas as dores e desventuras; seja amparo e consolação a
todos os mesquinhos e necessitados que esperam uma palavra amiga que
derrame em seus corações força, coragem, suavidade de compaixão e
de auxílio fraterno. Repouse enfim a nossa bênção sobre aquelas
almas e sobre aquelas mãos piedosas que com inexaurível generosidade e
sacrifício, Nos tem dado com que poder, mais do que permitia a
estreiteza dos nossos meios, enxugar as lágrimas, suavizar a pobreza
de muitos, especialmente dos mais pobres e abandonados entre as
vítimas da guerra; fazendo assim ver por experiência, como a bondade
e benignidade de Deus cuja suma e inefável revelação é o Menino do
presépio que nos enriqueceu com sua pobreza, não cessam nunca,
através dos anos e das desventuras, de viver e de operar na sua
Igreja.
A todos damos com profundo amor paterno, da plenitude do Nosso
coração, a Bênção apostólica.
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