Pio XII

RADIOMENSAGEM DE NATAL DE 1943

NATAL DE GUERRA


INTRODUÇÃO

1. Mais uma vez, a quinta, amados filhos a filhas de todo o mundo, a grande família cristã se prepara para celebrar a magnífica solenidade da paz a do amor que redime a irmana, numa sombria atmosfera de morte e de ódio; também neste ano sente a experimenta a amargura e o horror de uma oposição irreconciliável entre a suave mensagem de Belém e o encarniçamento feroz com que a humanidade se dilacera.

2. Dolorosos eram os anos passados, agitados pelo atroz tumultuar das armas; mas os sinos do Natal, elevando os espíritos, despertavam a faziam surgir tímidas esperanças, suscitavam veementes a poderosos anelos de paz.

3. Desgraçadamente o mundo, olhando em redor, deve ainda contemplar com espanto uma realidade de luta a ruína que, tornando-se cada dia mais extensa e cruel, quebranta as suas esperanças e, com glacial e dura experiência, oprime a sufoca os mais ardentes impulsos.

4. Que vemos, realmente, senão que a contenda degenera naquela forma de guerra que exclui qualquer restrição a consideração, como se fosse um produto apocalíptico engendrado por uma civilização em que o Progresso sempre crescente da técnica é acompanhado de mingua cada vez mais profunda de espirito a moralidade; uma forma de guerra que avança sem se deter pelo seu horroroso caminho, a consuma tais estragos que, comparadas com ela, empalidecem as mais ensangüentadas a espantosas páginas das épocas passadas? Os povos tiveram de assistir corn terror a um novo a imenso aperfeiçoamento de meios e modos de destruição, a de ser ao mesmo tempo espectadores de uma decadência interior que, desde o resfriamento e o desvio da sensibilidade moral, se vai precipitando cada vez mais para o abismo da sufocação de todo o sentimento de humanidade a do ofuscamento da razão a do espirito, que tornam realidade as palavras da Sabedoria: "todos ficavam presos por uma mesma cadeia de trevas" (Sab 17, 17).