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2. Luz que dissipa e vence as trevas é, com efeito, o Natal do
Senhor no seu significado essencial, que o Apóstolo São João
expôs e compendiou no sublime exórdio do seu Evangelho, eco da
solenidade da primeira página do Gênesis ao aparecer da primeira
luz. "O Verbo fez-se carne e habitou entre nós; e nós fomos
testemunhas da sua glória, daquela glória que o Unigênito recebe do
Pai, cheio de graça e de verdade" (Jo 1, 14). Vida e luz em
si mesmo, resplandece nas trevas e concede - a todos aqueles que para
Ele abrem os olhos e o coração, àqueles que o recebem e crêem nele
- o poder de se tornarem filhos de Deus (cf. Jo 1, f2).
3. Não obstante porém tão generosa fulguração de luz divina que
promana do humilde presépio, deixa-se ao homem o poder tremendo de
mergulhar nas antigas trevas, causadas pelo primeiro pecado, nas quais
o espírito se estiola com obras aviltantes da ?norte. Para estes
cegos voluntários, que se tornaram tais por haverem .perdido ou
debilitado a fé, o .próprio Natal não conserva outro atrativo
senão o de uma festa puramente humana, seduz-se a pobres
.sentimentos e a recordações puramente terrenas, embora
ordinariamente se envolva de carinho, mas como realidade sem conteúdo
ou fruto sem substância. Em volta do Tadioso berço do Redentor,
persistem portanto zonas de trevas, e movem-se homens de olhos
fechados ao celestial fulgor. Não porque o Deus Encarnado não
tenha, mesmo no mistério, luz para iluminar cada homem que vem a este
mundo, mas porque .muitos, deslumbrados pelo efêmero esplendor dos
ideais e das obras humanas, circunscrevem o olhar aos limites do
criado, incapazes de levantá-lo ao Criador, princípio, harmonia e
fim de tudo o que existe.
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