A VIDA SOCIAL NÃO PODE CONSTRUIR-SE À MANEIRA DAMA GIGANTESCA MÁQUINA INDUSTRIAL.

16. Sabe-se aonde se há de ir buscar o tecnicismo para o inserir no pensamento social: nas gigantescas empresas da indústria moderna. Não temos aqui intenção de pronunciar juízo sobre a necessidade, utilidade e inconvenientes de semelhantes formas de produção. Constituem seara dúvida aplicações maravilhosas da potência inventiva e construtiva do espírito humano; são justamente apresentadas à admiração do mundo essas empresas, que, segundo normas maduramente estudadas, conseguem coordenar e englobar, na produção e na administração, a atividade dos homens e das coisas; nenhuma dúvida também que a sua sólida ordem e por vezes a beleza completamente nova e própria das formas externas são motivo de legítimo orgulho :para a idade presente. O que, pelo contrário, devemos negar é que elas .possam e devam valer, como modelo geral, para conformar e ordenar a moderna vida social.

17. Antes de tudo, é claro principio de sabedoria que só há verdadeiro progresso quando se acrescentam novas conquistas às antigas, novos bens aos adquiridos no passado, numa palavra, quando se sabe entesourar experiência. Ora a história ensina que outras formas de economia nacional têm sempre tido influxo positivo em toda a vida social; influxo de que aproveitaram não só as instituições essenciais - como a família, o Estado e a propriedade privada - mas também as constituídas em virtude de livre associação. Indicamos, por exemplo, as indiscutíveis vantagens verificadas onde predominava a empresa da agricultura ou dos misteres.

18. Sem dúvida, também a moderna empresa industrial teve efeitos benéficos; mas o problema, que hoje se apresenta, é este: Um mundo, que não reconheça senão a forma econômica dum enorme organismo produtivo, será igualmente capaz de exercer influxo benéfico na vida social em geral, e nas três instituições fundamentais em especial? Devemos responder: o caráter impessoal de .tal mundo opõe-se à tendência totalmente pessoal daquelas instituições, dadas pelo Criador à sociedade humana. De fato, o matrimonio e a família, o Estado e a propriedade privada tendem, por sua natureza, a formar e desenvolver o homem como pessoa, a protegê-lo e a torná-lo capaz de contribuir, com a sua voluntária colaboração e responsabilidade pessoal, para a conservação é desenvolvimento, também pessoal, da vida social. A sabedoria criadora de Deus fica portanto alheia àquele sistema de unidade impessoal, que atenta contra a pessoa humana, fonte e fim da vida social, imagem de Deus no seu mais íntimo ser.