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17. Supranacional porque abraça, com um mesmo amor, todas as
nações e todos os povos, tem ainda este - caráter porque, como já
dissemos, em parte alguma é estrangeira. Vive e desenvolve-se em
todos os países do mundo e, por sua vez, todos os países do mundo
contribuem para a sua vida e desenvolvimento. Tempos atrás, a vida
eclesiástica, enquanto visível, florescia louçã preferentemente
nos países da velha Europa, donde afluía, como rio majestoso, para
o que poderia chamar-se periferia do mundo; hoje, pelo contrário,
nota-se como que um intercâmbio de vida e energias entre todos os
membros do Corpo Místico de Cristo sobre a terra. Não poucas
regiões doutros continentes hão ultrapassado desde há muito tempo a
fase missionária da sua organização eclesiástica: possuem uma
hierarquia própria que as governa e dão a toda a Igreja bens
espirituais e materiais, quando outrora unicamente os recebiam.
18. Acaso não se revela neste progresso e enriquecimento da vida
sobrenatural e também da vida natural, da humanidade, o verdadeiro
sentido da supranacionalidade da Igreja? Por motivo desta
supranacionalidade não está ela como que suspensa, a uma distância
inacessível e intangível, por cima das nações; mas, como Cristo
esteve no meio dos homens, assim também a Igreja, em que Ele
continua a viver, se encontra no meio dos povos. Como. Cristo tomou
uma verdadeira natureza humana, assim a Igreja toma em sua plenitude
de tudo o que é genuinamente humano e o eleva à fonte de força
sobrenatural em qualquer lugar e de qualquer forma que o encontre.
19. Assim hoje se cumpre cada vez mais na Igreja o que S.
Agostinho louvou na sua "Cidade de Deus". A Igreja, escrevia,
"chama os seus cidadãos de entre todas as gentes, e em todas as
línguas reúne sua comunidade peregrina sobre a terra, sem se
preocupar com a diversidade de costumes, de leis, ou instituições;
nada disso rescinde ou destrói; antes tudo conserva e segue. Embora
varie de nação para nação, dirige para o mesmo e único fim de paz
terrena, se não puser obstáculo à religião do único, sumo e
verdadeiro Deus".
20. A Igreja na sua universal integridade, como farol potente,
projeta seu raio de luz nestes dias de obscuridade que atravessamos.
Não menos tenebrosos eram aqueles em que o grande doutor de Hipona
via aquele mundo, que amava tanto, começar a afundar-se.
Confortava-o então aquela luz, e ao seu clarão saudava, como em
visão profética, a nova aurora de um dia mais belo. O seu amor para
com a Igreja, que outra coisa não era senão o seu amor a Cristo,
foi o seu consolo a sua felicidade. Oxalá que todos os que no dia de
hoje, no meio das dores e perigos da sua pátria, sofrem penas
semelhantes às de S. Agostinho, possam encontrar como ele alivio e
amparo no amor da Igreja, desta morada universal que, em virtude da
promessa divina, perdurará até ao fim dos tempos!
21. De Nossa parte, Nós ansiamos por tornar este edifício cada
vez mais sólido, cada vez mais habitável para todos sem exceção.
Por isso nada queremos omitir de quanto possa expressar visivelmente a
supranacionalidade da Igreja, como sinal do seu amor a Cristo, a
quem ela vê e serve na riqueza dos seus membros espalhados pelo mundo
inteiro.
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