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9. Origem e fim essencial da vida social deve ser a conservação, o
desenvolvimento da pessoa humana, ajudando-a a realizar retamente as
normas e os valores da religião e da cultura, assinalados pelo
Criador a cada homem e a toda a humanidade, já no seu conjunto, já
nas suas ramificações naturais. Uma doutrina ou construção social
que renegue esta interna e essencial conexão com Deus, de quanto
respeita ao homem, ou disso prescinda, segue falso caminho; ao passo
que edifica com uma mão, prepara com a outra os meios que, cedo ou
tarde, insidiarão e destruirão a obra feita. E quando,
desconhecendo o respeito devido à pessoa e à vida que lhe é
própria, não lhe concede nenhum posto nas suas ordenações, na
atividade legislativa e executiva, longe de servir a sociedade,
prejudica-a; longe de promover e animar o pensamento social e tornar
realidade as suas expectativas e esperanças, rouba-lhe todo o valor
intrínseco, servindo-se dele como de frase utilitária, á qual, em
classes sempre numerosas, encontra resoluta e franca repulsa.
10. Se a vida social importa em unidade interior, não exclui,
contudo, as diferenças que beneficiam a realidade e a natureza.
Mas, quando se obedece ao Supremo Legislador de tudo o que respeita
ao homem, Deus, as semelhanças não menos que as diferenças dos
homens encontram o posto conveniente na ordem absoluta do ser, dos
valores e, por conseguinte, da moralidade. Pelo contrário, abalado
tal fundamento, abrir-se-á, entre os vários campos da cultura,
uma perigosa descontinuidade, aparecerá uma incerteza e fragilidade de
contornos, de limites e de valores, de modo que só meros fatores
externos e muitas vezes cegos instintos vêm, depois, a determinar,
segundo a dominante tendência do dia, a quem incumbe o predomínio de
uma ou outra orientação.
11. A ruinosa economia dos decênios passados, durante os quais
toda a vida civil foi subordinada ao estimulo do lucro, sucede agora
uma não menos danosa concepção, que, enquanto olha tudo e todos sob
o aspecto político, exclui toda a consideração ética e religiosa.
Mudança e transviamento fatais, repletos de conseqüências
imprevisíveis para a vida social, que nunca está tão vizinha da
perda das suas mais nobres prerrogativas como quando se ilude com poder
renegar ou esquecer impunemente a eterna fonte da sua dignidade:
Deus.
12. A razão, iluminada pela fé, a cada pessoa e sociedade
particular designa, na organização social, um posto fico e nobre; e
sabe, para falar só do mais importante, que toda a atividade do
Estado, política e econômica, serve para a realização durável do
bem comum: isto é, daquelas condições externas, que são
necessárias ao conjunto dos cidadãos para o desenvolvimento das suas
qualidades e dos seus ofícios, da sua vida material, intelectual e
religiosa, desde que, de um lado, as forças e as energias da
família e dos outros organismos, aos quais pertence uma natural
precedência não bastam, e, do outro, a vontade salvifica de Deus
não determinou na Igreja outra universal sociedade ao serviço da
pessoa humana e das realizações dos seus fins religiosos. Numa
concepção social, informada e sancionada pelo pensamento religioso,
a operosidade da economia e de todos os outros campos da cultura
representa uma universal. nobilíssima oficina de atividade,
riquíssima na sua variedade, coerente na sua harmonia, onde a
igualdade intelectual e a diferença funcional dos homens alcançam os
seus direitos e têm adequada expressão; no caso diverso, deprime-se
o trabalho e rebaixa-se o operário.
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