A ABERTURA DA PORTA SANTA

9. Animados destes sentimentos e destes desejos, penetrados da dignidade de uma tradição que remonta aos tempos do Nosso Predecessor Bonifácio VIII, Nós amanhã, ao abrirmos com três marteladas á Porta Santa, teremos a consciência de realizar não um ato puramente tradicional, mas um rito simbólico de alto significado e alcance, não só para os cristãos, mas para toda a humanidade.

10. Nós quereríamos que aquela tríplice martelada soasse no fundo dos corações de todos os que têm ouvidos de ouvir (cfr. Mt 11, 15).

11. Ano Santo, ano de Deus,

- de Deus, cuja majestade e grandeza condena o pecado;

- de Deus, cuja bondade e misericórdia oferece o perdão e a graça a quem estiver disposto para a receber;

- de Deus, que neste Ano Santo quer aproximar-se ainda mais do homem e ficar mais que nunca perto dele.

12. Quantos fazem do pecado uma simples "fraqueza", e da fraqueza até uma virtude! "Equidem", escrevia já o pagão Salústio (Catil. 52), "nos vera vocabula rerum amisimus, quia bona aliena largiri liberalitas, malarum rerum audacia fortitudo vocatur". Transformando artificiosamente o sentido das palavras nas mais importantes questões da .ida pública e privada, levamo-las a esconder o que a consciência não quer pôr a claro; e coonestar o que a alma delas condena; a negar o que deveriam lealmente reconhecer.

13. Quantos põem no lugar do verdadeiro Deus os seus ídolos, ou então, embora afirmem a sua crença em Deus e a vontade de servi-lo, fazem d'Ele uma idéia que é produto dos próprios desejos, das próprias tendências e das próprias fraquezas! Deus na sua imensa grandeza, na sua imaculada santidade, Deus cuja bondade compreende tão bem os corações que Ele mesmo formou (cfr. SI 32, 15) e cuja benignidade está sempre pronta a vir em seu auxílio, não é retamente conhecido por muitos. E daí tantos cristãos de um cristianismo de pura rotina, distraídos e desleixados, e por outra parte, tantas almas atormentadas e sem esperança, como se o Cristia- fosse, em si mesmo, "a boa nova". Falsas idéias de Deis, vãs criações de espíritos demasiado humanos, as quais o Ano Santo deve dissipar e expulsar dos corações!