O SOCORRO DAS MISÉRIAS.

48. Nós mesmo, nos anos tão árduos do Nosso Pontificado, quisemos que tudo o que das várias partes do mundo Nos enviava a caridade dos fiéis mais favorecidos revertesse num fluxo constante em benefício dos Nossos filhos mais .pobres e abandonados. Quisemos permanecer junto dos prófugos e ajudá-los, a voltar para as suas casas; procuramos assegurar aos órfãos casa, pão e uma nova mãe. Empenhamo-Nos em Nos aproximar dos encarcerados, dos doentes, dos prisioneiros de guerra detidos ainda longe das suas terras e das vitimas das terríveis inundações.

49. Infelizmente, cada vez tivemos que notar com profunda mágoa que os nossos esforços eram e são inadequados à gravidade e à grandeza das necessidades. Por isso, quereríamos que mais intenso, e por assim dizer, multiplicado amor para com os pobres, fizesse nascer um rio de socorro, santamente impetuoso, que penetrasse onde quer que exista um velho abandonado, um doente necessitado, uma criancinha que sofre, uma mãe que se consome por nada lhe poder fazer.

50. Diletos filhos, pobres e míseros de toda a terra! Pedimos a lesos que vos faça sentir como estamos perto de vós com a Nossa ansiedade paterna, cheia de angústia e vibração.

51. Sabe o Senhor como Nós queríamos ter a sua onipresença e. onipotência, para entrar em cada uma das vossas habitações elevar-vos auxílio e conforto, pão e trabalho, serenidade e paz. Queríamos estar convosco, quando estais. oprimidos pela canseira nos campos e nas oficinas, desolados pelas doenças que vos afligem, ou dilacerados pelas garras da fome.

52. Não poderíamos finalmente deixar de observar que a melhor organização de caridade não bastaria, por si só, para assistir aos homens necessitados. E' mister acrescentar necessariamente a ação pessoal, cheia de solicitude, empenhada em superar a distância entre o necessitado e o benfeitor, e que se acerca do indigente, porque é irmão de Cristo e também nosso irmão.

53. A grande tentação de uma época que se diz social - na qual, além da Igreja, o Estado, os municípios e as outras entidades públicas se dedicam a tantos problemas sociais - é que as pessoas, mesmo crentes, quando o pobre lhes bate à porta, mandam-no sempre às instituições e organizações, julgando que o seu dever pessoal já está suficientemente cumprido com as contribuições dadas àqueles organismos, mediante pagamento de contribuições ou ofertas voluntárias.

54. Sem dúvida, o necessitado receberá a vossa ajuda por esta via. Mas muitas vezes ele conta também convosco, ao menos com a vossa palavra de bondade e conforto. A vossa caridade deve assemelhar-se à de Deus, que veio pessoalmente trazer socorro. E' este o conteúdo da mensagem de Belém.

55. Finalmente, os organismos de assistência não podem sempre dar o seu auxílio duma forma individual, como seria necessário: por isso a instituição de caridade necessita, como complemento indispensável, de auxiliares voluntários.