|
4. A luz celeste desta alegria e deste conforto sustenta a confiança
daqueles em quem vive e resplandece; e não a pode obscurecer nem
perturbar qualquer contrariedade ou trabalho, inquietação ou
sofrimento que se levante ou murmure cá debaixo da terra semelhante
àquela
|
" .. lodoletta che in aere si spazia
prima cantando, e poi face contenta
dell'ultima dolcezza che Ia sazia".
|
|
Onde outros se aterram, onde as águas amargas da aflição e da
desesperação submergem os pusilânimes, as alertas em que Cristo
vive podem tudo, elevam-se acima das desordens e tempestades do mundo
com coragem e ardor sempre igual, até ao ponto de cantar a ordem, a
justiça e as magnificências de Deus. Sob as tempestades,
sentem-se maiores que os redemoinhos, a terra que pisam e os mares que
sulcam, mais do que pelo espirito imortal, pela elevação dos
corações para Deus, sursum corda, pela oração e união com
Deus, habemus ad Dominum.
5. Para Deus, misericordioso e onipotente, Veneráveis Irmãos e
queridos Filhos, elevamos o Nosso olhar e a Nossa súplica, como a
melhor e mais eficaz expressão da Nossa gratidão pêlos vossos
fervorosos rotos de Natal, os quais são também uma oração feita ao
Pai Celeste, "donde voem toda a graça e todo 0 dom perfeito"
(Tgo I, 17). Faça ele com que, nesta união de orações,
cada um de vós obtenha, junto do presépio do seu Filho Unigênito
que se fez homem e habitou entre nós, aquela medida plena,
acogulada, abundante e a transbordar da alegria do Natal, que só ele
pode dar; de sorte que, animados e sustentados por tão grande
alegria, possais, generosa e virilmente, como soldados de Cristo,
prosseguir o caminho, através do deserto da vida terrena, até
àquele poente, em que, na aurora da eternidade, resplandecerá,
diante do vosso olhar ansioso, a montanha do Senhor; e em cada um de
vós, renascido para uma vida de alegria indefectível, se realizará
a oração da Igreja para o Natal: "Contemplar com confiança,
como juiz, o Filho único que agora acolhemos alegremente como
Redentor" (Orar. in Vig. Nat.).
6. Mas esta hora em que a vigília da Santa Festa do Natal nos
traz a doce alegria da vossa presença, junta-se com a lembrança
saudosa, tão viva em nós - e sem dúvida não menos viva em vós
-do Nosso glorioso Predecessor de santa memória (tão piedosamente
invocado pelo Nosso Venerável Irmão Cardeal Decano); e
recordamos as suas palavras, proferidas há apenas um ano, palavras
inesquecíveis, solenes e graves, oriundas do intimo do seu coração
de Pai, palavras que vós ouvistes conosco trespassados de dor muito
viva, como o nunc dimittis do velho Simeão; palavras proferidas
nesta sala, nesta mesma vigília, como que repassadas do peso do
pressentimento, para não dizer da visão profética, de próximas
desventuras; palavras de exortação suplicante, de heróico
sacrifício da sua pessoa, cujos acentos inflamados ainda hoje Nos
comovem a alma.
|
|