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1. Durante os últimos seis anos, todos nós, Veneráveis Irmãos
e amados filhos, tivemos de saborear, na vigília do Natal do
Senhor, o amargo contraste entre os sentimentos de santa alegria e de
fraterna união que a amorosa festa da Natividade infunde nos ânimos,
e os tristes rancores e as ânsias de vingança que imperam no mundo;
entre os suaves acentos do Gloria in excelsis Deo discordantes de et
in terra pax hominibus e as vozes ódio, no fragor de uma guerra
fratricida; entre a doce claridade de Belém e o sinistro clarão dos
incêndios; entre o suave esplendor que irradia do rosto do divino
Menino e o estigma de Caim, que permanecerá impresso ainda por muito
tempo na face do nosso século.
2. Por isso, que suspiro de consolo brotou de todos os nossos peitos
ao anunciar-se que o sangrento conflito havia terminado, primeiro na
Europa e depois na Ásia! Quantas súplicas ardentes subiram ao trono
do Altíssimo naqueles largos anos de luta, pedindo .que abreviasse
os dias de aflição, e detivesse a mão dos anjos, que seguram a
taça da ira divina pelos pecados do mundo! Agora, pela primeira
vez, mercê da misericórdia divina, a família humana celebrará de
novo 0 Natal, no qual os terrores da guerra em terra, no mar e
sobretudo no ar, não oprimirão já tantos corações de temor nem de
angústia mortal. Por esta mudança de circunstâncias, demos todos,
humildemente, graças ao Senhor Onipotente.
3. Mas haverá paz na terra? A verdadeira paz? Não; unicamente
o pós-guerra, expressão dolorosa e ainda demasiado confusa.
Quanto tempo será mister pata curar o mal-estar material e moral,
quantos esforços para cicatrizar tantas chagas! Ontem semearam-se
destruições, calamidades e misérias sobre territórios imensos, e
hoje, que se trata de reconstruir, os homens começam apenas a dar-se
conta de quanta perspicácia e sagacidade, quanta retidão e boa
vontade são necessárias para conduzir novamente o mundo, das
devastações e ruínas, físicas e espirituais, ao direito, à ordem
e à paz.
4. Assim, também este Natal é um tempo de expectação, de
esperança e de oração ao Filho de Deus feito Homem, para que
Ele, que é Rex pacificus cuius vultum desiderat universa terra
(primeira antifona das primeiras vésperas do Natal), dê ao mundo a
sua paz.
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