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12. Perante a vastidão do desastre, originado dos erros
indicados, não se vê outro remédio, senão a volta aos altares, ao
pé dos quais inumeráveis gerações de crentes tem encontrado a
bênção e a energia moral necessárias ao cumprimento dos próprios
deveres; à fé que iluminava indivíduos e sociedades e ensina os
direitos e os deveres competentes a cada um; às normas prudentes e
inabaláveis da ordem social, que tanto no terreno nacional como no
internacional, levantam uma barreira igualmente eficaz contra o abuso
da liberdade e contra o abuso do poder. Mas o apelo a estas benéficas
fontes deve ressoar alto, persistente, universal na hora em que
estiver para desaparecer a ordem antiga e ceder o passo e o lugar a uma
nova.
13. A futura reconstrução poderá oferecer preciosas oportunidades
de promover o bem, não isentas porém do perigo de cair em erros e com
os erros favorecer o mal; e exigirá seriedade prudente e madura
reflexão, não só por causa da gigantesca dificuldade da empresa,
mas também pelas graves conseqüências que, se falhasse, produziria
no campo material e espiritual; exigirá inteligências de largas
vistas e vontades de firmes propósitos, homens corajosos e ativos,
mas sobretudo e acima de tudo consciências, que nos planos, nas
deliberações e nas ações sejam animadas e movidas e sustentadas por
um vivo sentimento de responsabilidade, e não hesitem a inclinar-se
perante as santas leis de Deus; porque se com a força plasmada na
ordem material não se aliar suma ponderação e sincero propósito na
ordem moral, verificar-se-á sem dúvida a sentença de S.
Agostinho: Bene currunt, sed in via noa currunt. Quanto Plus
currunt, Plus errant, quìa a via recedunt - "Correm bem, mas
não correm no caminho. Quanto mais correm, mais erram, porque mais
se extraviam" (Sermo 141, 4. - Migne, PL, 38,
777).
14. Nem seria a primeira vez que homens, esperançados de
coroar-se com os louros de vitórias bélicas sonhassem dar ao mundo
uma ordem nova, mostrando novos caminhos que a seu parecer conduziriam
ao bem-estar, à prosperidade e ao progresso. Mas todas as vezes que
cederam à tentação de impor a sua construção contra os ditames da
razão, da moderação, da justiça e da nobre humanidade,
encontraram-se caídos por terra, a contemplar assombrados as ruínas
de esperanças falidas, e de projetos abortados. A história ensina
que os tratados de paz estipulados com espírito e condições
contrastantes quer com os ditames morais quer com uma genuína sabedoria
-política, tiveram sempre vida raquítica e breve, descobrindo assim
e atestando um erro de cálculo certamente humano, mas nem por isso
menos funesto.
15. Ora, as ruínas desta guerra são demasiado ingentes para que
se lhes possam acrescentar ainda as de uma paz ilusória; e por isso,
para evitar tamanha desgraça, convém que nela colaborem com
sinceridade de vontade e de energia, com propósito de generosa
contribuição, não só este ou aquele partido, não. só este ou
aquele povo, mas todos os povos, ou antes a humanidade inteira. E'
uma empresa universal de bem comum, que requer a colaboração da
cristandade, por causa dos aspectos religiosos e morais do novo
edifício que se quer construir.
16. Usamos, portanto, de um Nosso direito, ou melhor, cumprimos
um Nosso dever, se hoje na vigília do Santo natal, divina aurora de
esperança e de paz para o mundo, com a autoridade do Nosso
ministério apostólico e o caloroso incitamento do Nosso coração,
chamamos a atenção e a consideração do universo inteiro para os
perigos que insidiam e ameaçam uma paz, que deve ser base conveniente
de uma ordem nova e corresponder à expectativa e aos votos dos povos
por um mais tranqüilo porvir.
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