|
2. O Nosso espírito levanta-se convosco deste mundo para as
esferas espirituais iluminadas pela grande luz da fé; convosco se
absorve na recordação sagrada do mistério e do sacramento dos
séculos, escondido e manifestado na gruta de Belém, berço da
Redenção de todos os povos, revelação da paz entre o céu e a
terra, da glória de Deus nas alturas dos céus e da paz na terra aos
homens de boa vontade, princípio do novo curso de séculos, que
adorarão esse divino mistério, dom de Deus e felicidade para toda a
terra.
"Exultemos, vos diremos com as palavras do Nosso grande Predecessor
S. Leão Magno, exultemos no Senhor, queridos filhos,
"alegremo-nos numa alegria muito espiritual, porque amanheceu para
nós o dia da nossa redenção nova, da antiga reparação, da
felicidade eterna. Eis, com efeito, que com o volver do ano se
renova para nós o sacramento da nossa salvação, prometido desde o
princípio, realizado até o fim, de duração sem fim, no qual -
coisa digna de nós - adoramos esse divino mistério, deslumbrando o
coração com as coisas celestes, para que a Igreja celebre com grande
alegria (S. Leon. M. Sermo XXII In Nativ. Dom. 11,
cap. 1. PL, 54, col. 193-194) Aquele que nos foi
dado como dom magnânimo de Deus".
3. Na celebração desse divino mistério, a alegria dos nossos
corações eleva-se, faz-se espiritual, lança raízes no
sobrenatural e tende para ele, voando para Deus com a magnífica
expressão da oração da Igreja: Ut inter mundanas varietates ibi
nostra fixa sint corda, ubi vera sunt gaudia (Or. Dom. IV post.
Pasch.). No meio dos choques e do tumulto dos acontecimentos deste
mundo, a verdadeira alegria refugia-se no domínio imperturbável do
espírito, onde, como numa torre que as tempestades não podem
abalar, se fixa confiadamente em Deus, e une-se com Cristo,
princípio e razão de toda a alegria e de toda a graça. Não é
porventura esse o sacramento do Rei das nossas almas, do Deus Menino
do presépio de Belém? Quando este segredo real trespassa e se fixa
nas almas, então a fé, a esperança e o amor se sublimam no êxtase
do Apóstolo das gentes que grita ao mundo: "Eu vivo, mas não sou
eu que vivo: é Cristo que vive em mim" (Gál 2, 20). Na
transformação do homem em Cristo, o próprio Cristo se veste de
homem, humilhando-se até ao homem para o levantar até junto de si
nessa alegria do seu próprio nascimento, - perene festa do Natal,
para a qual a liturgia da Igreja nunca deixa em todas as estações de
nos chamar, convidar e exortar, para que em nós se verifique a
promessa que nos fez: o nosso coração se alegrará e ninguém atos
roubará a nossa alegria (Jo 16, 22).
|
|