OS QUE PUSERAM A SUA CONFIANÇA NA EXPANSÃO MUNDIAL DA VIDA ECONÔMICA

11. Entre as filas destes amargurados e desenganados não é difícil indicar aqueles que puseram a sua inteira confiança na expansão mundial da vida econômica, julgando só ela fosse capaz de reunir em fraternidade os povos, a prometendo a si próprios obter da sua grandiosa organização, cada dia mais aperfeiçoada e requintada, progressos inauditos a inesperados de bem-estar para a sociedade humana.

12. Com quanta - complacência e orgulho contemplaram o aumento mundial do comércio, o intercâmbio, através dos continentes, de todos os bens e de todos os inventos e produções, o caminho triunfal da difundida técnica moderna, que transpunha todos os limites do espaço e do tempo! Hoje, ao contrário, na realidade, que é o que experimentam? Vêem já que essa economia, com as suas gigantescas relações e vínculos mundiais, e com a sua superabundante divisão e multiplicação do trabalho, cooperava de mil maneiras para tornar geral e mais grave a crise da humanidade, ao passo que, se não a corrigisse nenhum freio moral, e se nenhum olhar para além da terra a iluminasse, não podia deixar de terminar numa indigna e humilhante exploração da pessoa humana e da natureza, numa triste e pavorosa indigência por um lado, e por outro lado numa discórdia atormentadora e implacável entre privilegiados e destituídos: desgraçados efeitos que não ocupam o último lugar na larga cadeia de causas que conduziram à imensa tragédia atual.

13. Não receiem apresentar-se diante do presépio do Filho de Deus estes desenganados da ciência e da potência econômica. Que lhes dirá o Menino, que aí vêem nascido e adorado por Maria e por José, pelos pastores e pelos anjos? Sem dúvida que a pobreza do estábulo de Belém é uma condição de vida que Ele escolheu meramente para si, e que portanto não implica a condenação ou a rejeição da vida econômica, no que é necessário para o progresso e o aperfeiçoamento físico e natural do homem. Mas essa pobreza do Senhor, Criador do mundo, por Ele livremente querida, que o há de acompanhar também na oficina de Nazaré, e durante todo o tempo da sua vida pública, significa e manifesta que domínio e superioridade Ele tinha sobre todas as coisas materiais, indicando assim, com poderosa eficácia, que os bens terrenos estão natural e essencialmente ordenados para a vida do espírito e para uma perfeição cultural, moral e religiosa mais alta, necessária ao homem racional. Os que esperavam obter do mecanismo do mercado econômico mundial a salvação da sociedade ficaram tão desenganados porque tinham chegado a ser, não senhores e donos, mas escravos das riquezas materiais a que tinham servido, desligando-as do fim supremo do homem e tornando-as fim em si mesmas.