ASPIRAÇÕES DUMA NOVA ORDEM

21. Hoje encontramo-Nos em presença de um fato que tem notável importância sintomática. Das polêmicas apaixonadas das partes em luta sobre os objetivos da guerra e o regulamento da paz emerge cada vez mais clara uma quase commUnis opinio, que as severa que tanto a Europa anterior à guerra como as suas instituições públicas se encontram num processo de tal transformação que assinale o inicio de uma época nova. A Europa e a ordem dos Estados, afirma-se, não serão o que eram antes; alguma coisa de novo, de melhor, de mais progressivo, de orgânicamente mais são e livre e forte deve substituir o passado, para lhe evitar os defeitos, a fraqueza, as deficiências, que dizem ter sido reveladas manifestamente à luz dos recentes acontecimentos.

22. Verdade é que as várias partes divergem nas idéias e nos objetivos; concordam todavia na aspiração duma nova ordem, e não consideram possível nem desejável o puro e simples regresso às condições anteriores.

23. Nem só a rerum novarum cupiditas pode explicar suficientemente tais correntes e sentimentos. A luz das experiências desta época de trabalho, sob a pressão esmagadora dos sacrifícios, que ela pede e impõe, novos conhecimentos e novas aspirações nascentes subjugam os espíritos e os corações. Uma luz meridiana sobre as deficiências de hoje. Uma aspiração resoluta para uma ordem que assegure as normas jurídicas da vida estatal e internacional. Que esta imensa aspiração se faça sentir mais profundamente entre os vastos núcleos daqueles que vivem do trabalho das suas mãos, sempre condenados, na paz e na guerra, a sofrer mais que os outros a amargura das desarmonias econômicas, estatais ou internacionais, ninguém se poderá admirar; menos ainda se admirará a Igreja, a qual, Mãe comum de todos, melhor sente e compreende o grito que se solta espontâneo da alma atormentada da humanidade.