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35. As consciências sofrem, nos nojos dias, ainda outras
opressões. Assim sucede quando se impõem aos pais, contra as suas
convicções e vontade, os educadores dos seus filhos, ou quando se
faz depender o acesso ao trabalho ou ao lugar do trabalho, da
filiação em determinados partidos ou em organizações que têm origem
no mercado de trabalho. Tais discriminações são sintoma duma idéia
inexata da função própria das organizações sindicais e do seu fim
próprio, que é a tutela dos interesses do operário assalariado no
seio da sociedade moderna, cada vez mais anônima e coletivista: Qual
é na verdade o objetivo essencial dos sindicatos, senão a afirmação
prática de que o homem é sujeito e não objeto das relações
sociais? senão proteger o indivíduo em frente da irresponsabilidade
coletiva de proprietários anônimos? senão representar a pessoa do
trabalhador perante quem é levado a considerá-lo apenas como força
produtiva, com determinado preço? Deste modo, como poderiam achar
normal que a defesa dos direitos pessoais do trabalhador esteja cada vez
mais nas mãos duma coletividade anônima, que opera mediante
gigantescas organizações, com caráter de monopólio? Ferido
assim nos seus direitos pessoais, deverá ser particularmente penosa ao
trabalhador a opressão da sua liberdade e da sua consciência, ao
ver-se preso nas redes duma feroz máquina social.
36. Quem julgasse infundada esta Nossa solicitude pela verdadeira
liberdade, ao referir-nos, como o fazemos, àquela parte do mundo
que costuma chamar-se "mundo livre", deveria considerar que também
nele, primeiro a .guerra propriamente dita, depois a "guerra fria"
conduziram forçadamente as relações sociais num sentido que
inevitavelmente diminui o exercício da liberdade. Na outra parte do
mundo, essa tendência desenvolveu-se em toda a extensão, até às
suas últimas conseqüências.
37. Em vastas regiões, onde o peso do poder absoluto subjuga
corpos e almas, a Igreja é a primeira a sofrer cruel angústia. Os
seus filhos são vítimas de persesuição permanente, direta ou
indireta, aberta umas vezes, disfarçada outras. Antigas
cristandades ou comunidades, conhecidas pelo ardor da sua fé, pela
glória dos seus Santos, pelo esplendor das suas obras de ciência
teológica ou de arte cristã, e sobretudo pela difusão da caridade e
da civilização no meio do povo, encontram-se ,próximas da ruína
da sua grandeza externa. Cristandades recentes - vinha do Senhor,
rica de promessa, regada pelo suor e pelo sangue de novos apóstolos -
sustentadas pela oração e pelos sacrifícios de todo o mundo
católico, foram flageladas inesperadamente pelo mesmo furacão, que
derruba sem piedade na sua passagem o roble anoso e a tenra vergôntea.
38. Que ficará destas cristandades, antigas e novas, quando vier
o "fim das tribulações", que Nós imploramos sem cessar? E'
segredo imperscrutável dum Deus sempre bom. Entretanto o livro da
vida regista em todo aquele mísero mundo as gestas de íntima força de
ânimo, os inumeráveis heroísmo despertados pelo Espírito Santo
para defesa do Reino de Deus, do nome de Jesus, única salvação,
e da honra da sua Santíssima Mãe. Os cristãos perseguidos sabem
que estes bens supremos podem exigir, e muitas vezes exigem de fato,
amargas renúncias e até o sacrifício da vida.
39. Nós não idealizamos. Hoje, como sempre aconteceu durante as
perseguições, haverá casos de fraqueza e de capitulação, não
raro compreensíveis, ainda que não justificáveis; haverá até
casos de traição. Contudo boa parte das informações que se
difundem não dizem a verdade senão a meias, quando não chegam mesmo
a deformá-la ou a falseá-la completamente. Deste modo, com a
conspiração do silêncio e a alteração dos fatos, subtrai-se à
consciência do público a dura luta que Bispos, sacerdotes e leigos
têm de sustentar pela defesa da fé católica.
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