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Durante as férias que seguiram a conversão, Xavier fez os
Exercícios Espirituais sob a direção daquele a quem tinha
-abandonado o cuidado da sua grande alma, e retirou-se para
isso a uma pequena casa da rua Saint-Jacques, onde Pedro
Fabro fez pouco depois o mesmo retiro, casa que o nosso Santo
alugara, para esse fim.
O inferno havia disputado por longo tempo esta conquista ao
nosso herói para lhe deixar gozarem paz os frutos da vitória.
Miguel Navarro, estudante espanhol, estimava o jovem senhor
Xavier, como o estimavam todos aqueles que o conheciam, e a
este sentimento muito real, ajuntava-se um interesse pessoal:
Miguel era pobre e D. Francisco pagava todas as suas dividas
e acudia-lhe às necessidades. Tendo Miguel conhecido desde
alguns meses o ascendente que Inácio tomou sobre o jovem
professor, assestou todas as suas baterias para perder o
nosso Santo no espirito de Francisco Xavier; mas este,
conhecendo-lhe os fins, repeliu com energia os tramas da
calúnia e impôs silêncio a Miguel, o qual, vendo aproximar-se
o momento em que Xavier terminaria por abraçar a pobreza
voluntária, tomou uma resolução violenta e desesperada.
Inácio de Loiola habitava só o quarto dos três amigos durante
a ausência de Fabro e o retiro de Xavier. Miguel, julgando
favorável o momento, dirigiu-se no meio da noite ao colégio
Santa Bárbara; lançou uma escada de corda ao muro, pegado ao
aposento onde estava situado o quarto do santo apóstolo, e,
subindo pela corda, com uma navalha aberta na mão, ia entrar
pela janela, quando ouviu uma voz formidável, terrível como
um juízo divino, exclamar no meio do silêncio e da
obscuridade da noite:
- Onde vais, desgraçado? Que queres fazer?
Trêmulo, espantado, respirando a custo, o culpado
precipita-se sobre a janela, empurra-a, abre-a, entra no
quarto e vai lançar-se aos pés de Inácio de Loiola, que
naquele momento estava em oração, e confessa-lhe o seu crime,
para o qual solicita e obtém perdão.
Miguel, que não tinha cúmplice nem confidente, não duvidou um
instante da intervenção divina em favor do apóstolo: o seu
arrependimento era, pois, sincero. Veremos se foi duradoiro.
Ao sair do retiro, D. Francisco era já um santo e só aspirava
à felicidade de dedicar toda a sua vida à maior glória de
Deus. Quando Pedro Fabro voltou, experimentou a mais doce
consolação por esta maravilhosa e tão desejada mudança,
porque Francisco continuava a ser o mais querido afeto do seu
coração.
Querendo Inácio experimentar a vocação de Xavier, como
experimentara a de Fabro, comunicou-lhe os seus projetos
apostólicos acerca da Terra Santa.
- Pai da minha alma e caro mestre; - disse-lhe Xavier
abraçando-o efusivamente - segui-lo-ei por toda a parte!
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