X. NOVOS DISCÍPULOS

Durante as férias que seguiram a conversão, Xavier fez os Exercícios Espirituais sob a direção daquele a quem tinha -abandonado o cuidado da sua grande alma, e retirou-se para isso a uma pequena casa da rua Saint-Jacques, onde Pedro Fabro fez pouco depois o mesmo retiro, casa que o nosso Santo alugara, para esse fim.

O inferno havia disputado por longo tempo esta conquista ao nosso herói para lhe deixar gozarem paz os frutos da vitória.

Miguel Navarro, estudante espanhol, estimava o jovem senhor Xavier, como o estimavam todos aqueles que o conheciam, e a este sentimento muito real, ajuntava-se um interesse pessoal: Miguel era pobre e D. Francisco pagava todas as suas dividas e acudia-lhe às necessidades. Tendo Miguel conhecido desde alguns meses o ascendente que Inácio tomou sobre o jovem professor, assestou todas as suas baterias para perder o nosso Santo no espirito de Francisco Xavier; mas este, conhecendo-lhe os fins, repeliu com energia os tramas da calúnia e impôs silêncio a Miguel, o qual, vendo aproximar-se o momento em que Xavier terminaria por abraçar a pobreza voluntária, tomou uma resolução violenta e desesperada.

Inácio de Loiola habitava só o quarto dos três amigos durante a ausência de Fabro e o retiro de Xavier. Miguel, julgando favorável o momento, dirigiu-se no meio da noite ao colégio Santa Bárbara; lançou uma escada de corda ao muro, pegado ao aposento onde estava situado o quarto do santo apóstolo, e, subindo pela corda, com uma navalha aberta na mão, ia entrar pela janela, quando ouviu uma voz formidável, terrível como um juízo divino, exclamar no meio do silêncio e da obscuridade da noite:

- Onde vais, desgraçado? Que queres fazer?

Trêmulo, espantado, respirando a custo, o culpado precipita-se sobre a janela, empurra-a, abre-a, entra no quarto e vai lançar-se aos pés de Inácio de Loiola, que naquele momento estava em oração, e confessa-lhe o seu crime, para o qual solicita e obtém perdão.

Miguel, que não tinha cúmplice nem confidente, não duvidou um instante da intervenção divina em favor do apóstolo: o seu arrependimento era, pois, sincero. Veremos se foi duradoiro.

Ao sair do retiro, D. Francisco era já um santo e só aspirava à felicidade de dedicar toda a sua vida à maior glória de Deus. Quando Pedro Fabro voltou, experimentou a mais doce consolação por esta maravilhosa e tão desejada mudança, porque Francisco continuava a ser o mais querido afeto do seu coração.

Querendo Inácio experimentar a vocação de Xavier, como experimentara a de Fabro, comunicou-lhe os seus projetos apostólicos acerca da Terra Santa.

- Pai da minha alma e caro mestre; - disse-lhe Xavier abraçando-o efusivamente - segui-lo-ei por toda a parte!