2. Colocação do problema.

[Devemos considerar que, segundo as cinco classificações que foram apontadas das enunciações], o julgamento da verdade e da falsidade nas diversas enunciações não se dá de modo idêntico.

Nas proposições que se referem ao presente, assim como nas enunciações que se referem ao passado, é necessário que a afirmação ou negação seja determinadamente verdadeira ou falsa.

Ocorre uma diversidade, porém, segundo a diversa quantidade da enunciação.

Na enunciações em que predica-se universalmente algo de sujeitos universais, é necessário que sempre entre a afirmativa e a negativa que se lhe opõe uma delas seja verdadeira e a outra falsa. A negativa da enunciação universal em que algo é predicado universalmente do sujeito não é a negativa universal, mas a negativa particular, assim como a universal negativa não é negada pela universal afirmativa, mas pela particular afirmativa. Neste sentido, segundo o que foi dito, é necessário que se uma delas é verdadeira, a outra seja falsa qualquer que seja a matéria.

As mesmas razões valem nas enunciações singulares, as quais também se opõem por contradição, conforme já explicado anteriormente.

Já nas enunciações em que algo é predicado do universal de modo não universal, não é necessário que sempre uma seja verdadeira e a outra seja falsa, pois podem ser ambas simultaneamente verdadeiras, conforme também já explicado.

Tudo quanto foi dito vale tanto para as proposições que são acerca do passado como do presente.

Quanto às enunciações que são do futuro, valerá também o mesmo quanto às oposições entre enunciações universais, quer tomadas universalmente como não universalmente. De fato, em matéria necessária, todas as enunciações afirmativas são verdadeiras, sejam elas futuras, como passadas e presentes. Em matéria impossível, ao contrário, [as negativas serão verdadeiras enquanto que as afirmativas serão falsas]. Em matéria contingente as afirmações universais serão falsas e as particulares serão verdadeiras, tanto nas enunciações futuras como nas passadas e presentes.

A dessemelhança ocorre nas enunciações singulares futuras.

Nas enunciações singulares passadas e presentes é necessário que uma das opostas seja determinadamente verdadeira e outra seja determinadamente falsa, qualquer que seja a matéria [da enunciação]. Nas singulares que são do futuro, porém, se se tratar de matéria necessária e impossível, a razão destas enunciações será semelhante às passadas e presentes, mas se se tratar de matéria contingente já não será mais necessário que uma das opostas seja determinadamente verdadeira e outra determinadamente falsa.

É sobre este assunto que trata toda esta [seção final do Primeiro Livro do Tratado da Interpretação, isto é], se nas enunciações singulares futuras em matéria contingente é necessário que determinadamente um dos opostos seja verdadeiro e outro seja falso.

[Conforme veremos, a resposta que o Filósofo dará a esta questão será negativa].