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A alguns [filósofos] pareceu que nenhuma
deleitação fosse boa, nem per se, nem por acidente. E se
acontece que alguma coisa deleitável seja [um] bem, todavia o
bem e a deleitação nesta coisa não são o mesmo. [Estes
filósofos foram levados a esta conclusão movidos pelas razões
dadas a seguir].
A primeira razão provém da definição de deleitação
que estes filósofos colocavam, dizendo que a deleitação é uma
geração sensível na natureza. De fato, na medida em que algo
se gera sensivelmente na nossa natureza, como algo a nós
conatural, por isto nos deleitamos, como é evidente ao se
tormar alimento e bebida. Porém, nenhuma geração está no
gênero dos fins, ao contrário, a geração é mais [uma] via [em
direção] ao fim, assim como a edificação não é a casa. Ora, o
bem possui razão de fim. Portanto, nenhuma geração, e por
conseguinte, nenhuma deleitação, pode ser [um] bem.
[A segunda razão é a seguinte]. A prudência não é
impedida por nenhum bem. É impedida, porém, pelas
deleitações, e isto tanto mais quanto maiores forem [as
deleitações], de onde [inclusive] parece que impeça [a
prudência] per se e não por acidente, assim como é evidente
nas deleitações venéreas, que são máximas, que tanto impedem
a razão que ninguém que esteja [em ato] nestas deleitações
pode inteligir algo em ato, pois toda a intenção da alma é
trazida à deleitação. Portanto, [conclui-se daí que] a
deleitação não é algum bem.
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