7. As demais multidões além da dos agricultores.

O Filósofo, em seguida, declara que as multidões constituídas por pastores é a melhor depois da constituída por agricultores. As demais são todas piores do que estas.

Depois da multidão constituída pelos agricultores a multidão popular ótima é aquela constituída de pastores que vivem do rebanho. Em muitas coisas estes se parecem aos agricultores. Assim como aquele deve habitar fora da cidade próximo aos campos cultivados, assim também este deve habitar próximo dos campos onde devem ser guardados e alimentados os animais. A multidão dos pastores é mais exercitada nas ações bélicas pelos seus hábitos; exercitam-se, de fato, pela necessidade de se guardarem dos lobos e dos ladrões. Ademais, possuem corpos bem dispostos, são corporalmente fortes, acostumados aos frio e exercitados na caça. Tudo isto predispõe corretamente aos atos bélicos.

As demais multidões são muito piores do que estas. Todas as demais multidões dos estados populares, como a dos mercenários em seus trabalhos, a dos mercadores que negociam no foro com pessoas vis e venais e daqueles que vendem o seu trabalho em troca de dinheiro, são muito piores do que todas as anteriores que já mencionamos. De fato, muito pouco participam da vida que é segundo a razão e nenhum de seus trabalhos, enquanto tais, são exercícios da virtude.

Além disso, a multidão forense e mercenária, que habita dentro dos muros da cidade, em sua maioria querem fazer assembléias nas quais promovem coligações e conspirações contra o príncipe, e também sentenciam depravadamente, porque recebem destas mesmas assembléias algum lucro [monetário]. Estas multidões são corruptivas da república, e por isso são piores para serem governadas. Os agricultores que possuem suas moradas dispersas pelas regiões próximas às terra que cultivam não se dirigem de boa vontade a estas assembléias, porque por este motivo são retardados de seus hábitos necessários, nem necessitam de tais assembléias, pois têm mais com que se ocupar do que é necessário à vida.

[Nas repúblicas em que convivem agricultores e multidões forenses e mercenárias], os agricultores não se preocupam muito de vir às assembléias pelas causas já apontadas, enquanto que as multidões forense e mercenária querem promover assembléias com freqüência, com o que poderiam propor inconveniências para os agricultores. O Filósofo, para afastar esta possibilidade, diz que se a turba forense e mercenária deseja congregar-se com freqüência, convém ordenar pela lei ou estabelecer pelo costume não promover assembléias em que [a turba mercenária e forense] tenha poder [de decidir] coisas grandes sem chamarem aqueles que habitam fora da cidade nos campos. Disto se seguem duas vantagens. A primeira é que haverá poucas assembléias, porque os agricultores não poderão vir a elas por causa de seus afazeres necessários. A segundo é que os agricultores são menos maliciosos e [são] melhores, e freqüentemente reprimem de algum modo a malícia e a astúcia da multidão forense.