17. Como há deleitações boas e más.

As operações diferem entre si segundo a virtude e a malícia, de modo que algumas operações são elegíveis como operações virtuosas, outras são para se fugir como operações viciosas, e outras ainda segundo sua espécie de nenhum destes dois modos são, já que podem a ambos ser trazidos. Assim também acontece acerca das deleitações. Como para cada operação há alguma deleitação própria, como foi explicado acima, a deleitação que é própria da operação virtuosa é boa, enquanto que a que é própria da operação viciosa é má.

[O mesmo pode ser demonstrado a partir das concupiscências]. As concupiscências pelas quais [cobiçamos] certos bens, isto é, os bens honestos, são louváveis, como por exemplo se alguém tem concupiscência de agir de modo justo ou com fortaleza. Já as concupiscências de coisas torpes são vituperáveis, como por exemplo, se alguém tem concupiscência de roubar ou adulterar. É manifesto, porém, que as deleitações pelas quais nos deleitamos nas operações próprias são mais próprias e próximas a estas operações do que as concupiscências pelas quais [cobiçamos] a estas operações. De fato, há duas coisas segundo as quais a concupiscência difere das operações, segundo as quais, [entretanto], a deleitação não difere das operações. Primeiro, segundo o tempo, porque nós temos concupiscência de operar algo antes que operemos este algo. Segundo, segundo a natureza, porque a operação é ato do perfeito, e a concupiscência é do imperfeito e do que ainda não se tem. Mas as deleitações são [mais] próximas às operações, porque ambas são de algo perfeito, e não diferem segundo o tempo, porque se alguém ainda não opera, em tal operação não se deleitará, porque a deleitação o é da coisa presente, enquanto que a concupiscência o é da coisa futura. E a deleitação é tão próxima da operação que [até] parece ser dubitável que a operação não seja o mesmo que a deleitação, [o que será discutido logo a seguir]. [Assim, portanto, se as concupiscências diferem entre si em bondade e malícia segundo diferem as operações, com muito mais razão diferirão entre si em bondade e malícia as deleitações, por serem muito próximas e próprias à operação do que as concupiscências]. De onde se conclui que assim como as operações diferem segundo a virtude e malícia, assim também as deleitações.