7. Questões sobre possíveis virtudes dos artífices.

Se é verdade que importa que o servo possua alguma virtude, para que não falhe em suas obras por intemperança ou temor, parece que, por idênticos motivos, o artífice tenha que ter alguma virtude para que sejam bons artífices, já que muitas vezes ocorre que, por causa da intemperança ou outros vícios, cometam defeitos em suas obras, agindo negligentemente.

[Deve-se dizer, porém], que há uma grande diferença entre o servo e o artífice, o que pode ser mostrado por duas razões.

A primeira é que o servo, enquanto servo, de algum modo participa da vida, isto é, da conversação humana. Foi dito acima que o servo é um instrumento nas coisas que pertencem à ação, isto é, à conversação dos homens. E por isso como as virtudes morais aperfeiçoam o homem na conversação humana, é necessário que o servo, para que seja bom, participe em algo da virtude moral.

Mas o artífice está mais distante da conversação humana. De fato, a operação do artífice, enquanto tal, não é sobre os agíveis da conversação humana, mas sobre certas coisas artificiais, que são denominadas de factíveis. Por isso alguém é dito um bom artífice, por exemplo, um bom ferreiro, pelo fato de saber e de poder fazer boas facas, mesmo se fizer um mau uso das mesmas ou se utilizar negligentemente de sua arte. Os artífices necessitam da virtude em suas operações apenas na medida em que, [por meio de sua arte], exibem algo de servidão à conversação humana. É assim que vemos que alguns artífices, isto é, os mercenários, como os cozinheiros, que são destinados a certos ministérios especiais, nos quais devem servir, segundo este serviço é que necessitam das virtudes morais, para que sejam bons ao servirem.

[A segunda razão da grande diferença entre o servo e artífice] consiste em que o servo pertence às coisas que são pela natureza. Provamos acima, [diz o Filósofo], que há alguns que são servos por natureza, enquanto que ninguém é curtidor ou artífice de nenhuma arte pela natureza, pois todas as artes foram descobertas pela razão. Ora, as virtudes se relacionam para com as coisas que existem em nós pela natureza. Todos temos, de fato, uma certa inclinação natural à virtude, conforme está explicado no Segundo Livro da Ética, de onde que é evidente que para que alguém seja um bom servo necessita da virtude moral, enquanto que não se pode dizer o mesmo do bom artífice.