9. A tirania.

Depois que o Filósofo determinou sobre a república, e como ela é composta do estado de poucos e do estado popular, passa a determinar sobre a tirania.

Diz o Filósofo que sobre a tirania não se deve fazer um discurso prolixo, porque é uma república péssima. Deve-se, ao contrário, dizer algo breve sobre a mesma para que faça parte do presente tratado.

Já que a tirania é uma transgressão do reino, o Filósofo retoma primeiramente certas coisas que foram determinadas sobre o reino. De fato, nos livros precedentes foi exposta [a natureza] da monarquia real, onde foi considerada a própria monarquia, se às cidades convinha que um só governasse ou não e, suposto que convinha, foi considerado também como deveria ser este [único governante], pois deveria ser ótimo e de onde deveria ser escolhido, isto é, a partir dos homens ótimos, e de que modo.

[Declaradas estas coisas], deve-se dizer que há duas espécies de tirania, sobre as quais já determinamos anteriormente, quando determinamos o que diz respeito ao reino, que são muito próximos da monarquia real. Os governantes segundo estas duas espécies de tiranias governam segundo as leis. Uma destas espécies é aquela segundo a qual em algumas cidades de bárbaros eleva-se um monarca que a rege segundo as leis e os costumes. É costume [entre estes bárbaros] que tomam para si um monarca, ou por eleição, ou por sucessão, que os governa segundo as leis.

A segunda espécie de tirania é aquela segundo a qual alguns escolhiam para si um príncipe para afugentar os inimigos, como ocorria junto aos gregos na antiguidade, entre os quais eram escolhidos alguns que eram chamados de Aesymnetas.

Estas duas espécies tinham em si certas coisas opostas e diversas. Quando estes reis governavam segundo as leis e imperavam sobre os que os queriam, eram monarquias reais; quando, porém, abandonadas as leis segundo as quais deveria reger, dominavam com pleno poder segundo o seu arbítrio, reinavam tiranicamente e estas monarquias eram tirânicas.

A terceira espécie de tirania, a qual é o próprio e maximamente tirano é convertível com a monarquia real dita de modo principal e primeiro. Não que seja igual a ela, mas por oposição. Porque assim como no reino governa um só segundo a sua vontade, a qual é ordenada pela razão para a utilidade dos súditos, assim também nesta [terceira espécie de tirania] governa um só segundo a sua vontade. Esta tirania, que não se submete a nenhuma lei, é um principado incorrigível dos semelhantes e dos melhores por causa de seu próprio bem, não do bem dos súditos.

E dizemos que é incorrigível porque não tem a capacidade de corrigir-se. Dizemos ser incorrigível aquele que pode mudar de uma disposição má para uma disposição boa de tal modo que preserve a sua própria natureza. Este principado, porém, é tão péssimo que de sua má disposição não pode mudar a uma boa disposição de modo que consiga preservar a sua natureza. Ao contrário, se mudasse, corromper-se-ia [a si mesmo]. O Filósofo, acrescentando os termos "dos semelhantes e dos melhores", se refere à matéria deste principado. Neste principado, de fato, há homens iguais, livres e virtuosos. Ao acrescentar "por causa do bem próprio, não dos súditos", o Filósofo se refere à causa final do principado.

De tudo isto se segue que este principado não é voluntário, porque ninguém, livro e voluntariamente, se submeteria a um tal principado. A razão é clara, pois ninguém que seja bem disposto segundo a natureza e que se incline à virtude, quereria submeter-se a quem governa não segundo a virtude, mas por causa de seu bem próprio.

Podemos concluir, portanto, que tais são as espécies da tirania, e pelas causas já ditas.