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[Ainda que fosse verdade o que foi levantado na
questão, acerca da arte, não é verdade que nas virtudes
ocorre de modo semelhante como as artes].
A operação das artes transita para a matéria
exterior, [e portanto], sua ação é a perfeição daquilo que é
feito. Por isso, nas ações da arte, o bem consiste na própria
[coisa que é ]feita. De onde que é sufiente para o bem da
arte que as coisas que se façam sejam bem [feitas]. Já as
virtudes são princípios das ações que não transitam à matéria
exterior, mas permanecem no próprio agente. Por isso, tais
ações são perfeições do agente, e o bem destas ações consiste
no próprio agente. De onde que, para que alguém faça algo de
modo justo ou temperante, não é suficiente que a obra que
faça seja bem feita, mas se requer, a mais, que o operante
opere do modo devido.
[As coisas que se requerem dos que operam a
virtude são as seguintes]. Primeiro, no que diz respeito ao
intelecto, requer-se que quem faça a obra da virtude não
opere por ignorância, ou por acaso, mas saiba o que faz.
Segundo, no que diz respeito ao apetite, que não opere por
alguma paixão, como quem faz as obras da virtude por temor,
mas o faça por causa da própria obra da virtude, a qual é per
se [ agradável] ao que tem o hábito da virtude, como algo a
si conveniente. Terceiro, no que diz respeito à razão do
hábito, que o faça com firmeza e constância no que diz
respeito a si mesmo, e por nada de externo seja disto
removido.
[Já de um operante da arte somente se requer o]
primeiro dos [três requisitos do operante da virtude], que é
o saber [o que faz].
Alguém poderá ser um bom artífice, mesmo se nunca
escolhe operar segundo a arte [por causa dela], ou se não
persevera em sua obra. Requer-se, apenas, para um bom
artífice, o saber. Mas para que o homem seja virtuoso em
pouco ou nada importa a ciência, mas tudo consiste nas
restantes duas coisas. De onde se conclui que não seja
verdade que assim como ocorre nas artes, ocorra também nas
virtudes.
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