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Aristóteles diz que as paixões da alma, através
das quais o homem conhece a realidade, possuem um ser
natural, já que são as mesmas junto a todos.
Pode, entretanto, objetar-se que as paixões da
alma, significadas pelas vozes, não são, ao contrário do que
diz o Filósofo, as mesmas para todos. De fato, homens
diversos possuem sentenças diversas sobre as coisas, de modo
que não parece ser verdadeiro que as paixões da alma são as
mesmas junto a todos.
Boécio responde a esta objeção dizendo que
Aristóteles chama de paixão da alma às concepções da
inteligência, as quais nunca se enganam. Deste modo, estas
concepções devem necessariamente ser as mesmas junto a todos
os homens.
[Deve-se, porém, explicar esta resposta de Boécio
dizendo que] na inteligência pode existir o falso, na medida
em que ela opera pela composição e divisão, mas não na medida
em que ela conhece a qüididade ou a essência das coisas,
conforme afirma Aristóteles no IIIº Livro do De Anima. A
resposta de Boécio, pois, deve ser entendida como referindo-
se apenas às concepções de simples apreensão, aquelas que são
significadas pelas vozes incomplexas. As concepções de
simples apreensão, de fato, são as mesmas para todos os
homens, pois se alguém verdadeiramente intelige o que é
homem, se apreender qualquer outra coisa que não seja homem,
não estará inteligindo o homem. O que as vozes significam em
primeiro lugar são estas simples apreensões da inteligência.
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