10. Da duração da deleitação.

A deleitação durará por tanto tempo quanto, de uma parte, o objeto [da operação], que é o sensível, ou o inteligível, estiver em sua disposição devida, e por outra parte, o próprio operante, que é o que discerne pelo sentido ou que especula pelo intelecto, [estiver também em sua disposição devida]. E a razão disto é porque, por quanto tempo no ativo e no passivo permanecer a mesma disposição e relação de um para o outro, por tanto tempo permanecerá o mesmo efeito. De onde que, se a boa disposição da potência cognoscitiva e do objeto é a causa da deleitação, durando estas, necessário é que a deleitação dure.

[A deleitação não pode ser contínua]. Ninguém pode deleitar-se continuamente, porque trabalha na operação às quais se segue a deleitação. E assim a operação não se faz deleitável. E isso é porque todos aqueles que possuem corpos passíveis não podem operar continuamente por causa que os seus corpos mudam de disposição pelo movimento do que é adjunto à operação. De fato, o próprio corpo serve de alguma maneira a qualquer operação daquele que possui corpo, seja de modo imediato, como na operação sensitiva que é produzida pelo órgão corpóreo, ou de modo mediato, como na operação intelectiva que se utiliza das operações das [partes] sensitivas que são feitas pelos órgãos corpóreos. Assim, portanto, por não poder haver operação contínua, nem também a deleitação poderá ser contínua. De fato, como foi explicado, a deleitação se segue à operação.

As [coisas] quando são novas deleitam mais, não deleitando, porém, depois, de modo igual. A razão disto é porque a mente se inclina a princípio com grande aplicação acerca da [coisa] por causa do desejo e da admiração e assim opera intensa e veementemente acerca de tal [coisa]. Disto se segue uma deleitação veemente, assim como é evidente naqueles que com grande aplicação admiram aquilo que não tinham visto, por causa da admiração [que lhes causa]. Depois, porém, quando se acostumaram a ver, não é feita mais tal operação, isto é, que tão atentamente vigiem ou tão atentamente operem o que for, como antes o fariam. [Ao contrário], operam negligentemente. De onde que se segue que a deleitação também é obscurecida, isto é, é menos sentida.