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O Filósofo passa a declarar por quantas maneiras e
como os homens se tornam bons e estudiosos.
Os homens se tornam bons segundo a virtude e
estudiosos segundo a razão de três modos. Estes três são a
disposição natural para a virtude e para aquilo que é segundo
a razão, o costume na operação e também a razão dirigente.
[A contribuição da disposição natural consiste em
que] aquele que deve tornar-se bom e estudioso deve ser
primeiramente disposto pela natureza. De fato, em todas as
coisas que se fazem pela natureza ou pela arte importa supor
a matéria e a sua boa aptidão, se aquilo que se recebe em
outro é recebido por modo de recipiente. Por isso quem deve
ser bom e estudioso importa ser bem disposto pela natureza a
isto, por exemplo, deve ser um homem que possua intelecto e
razão, e não um animal bruto irracional. Sendo assim um
homem, deverá ademais ser bem disposto segundo o corpo e por
conseqüência segundo a alma. Os que são bem dispostos segundo
o corpo são, na maioria das vezes, bem dispostos segundo a
alma. Se, de fato, a alma segundo se e de uma só razão
segundo a espécie para todos os homens, e não recebe gradação
de mais ou de menos, já que é uma forma substancial, a
diversidade de suas operações e propriedades deverá ser
causada pela diversidade dos corpos e da matéria ou de outros
[elementos] extrínsecos.
A contribuição do costume [consiste em que] alguns
homens não são dispostos por nascimento ao bem, nem à obra da
inteligência e, todavia, pelo costume se transformam. Há
outros que pela natureza se encontram indiferentemente para
com a virtude ou seu contrário e pelo costume na operação se
determinam em relação a um ou outro, por exemplo, ao melhor
ou ao pior. Mas aqueles que estão bem dispostos para com a
virtude, por exemplo, pelo costume, necessitam apenas da
operação para que se tornem bons. Aqueles que, porém, se
inclinam pela natureza a coisas contrárias, não podem tornar-
se bons, senão com dificuldade ou muito costume.
A contribuição da razão [consiste em que] os
animais diversos do homem fazem as suas ações apenas pela
inclinação natural, isto é, pela memória e imaginação. Alguns
poucos segundo a quantidade fazem outras ações pelo costume,
como é o caso dos animais que possuem uma boa estimativa,
como os cães, os cavalos e outros semelhantes. O homem,
porém, dirige as suas ações pela razão. De fato, somente ele
entre os animais possui razão pela qual se determina. Por
isto é necessário que estas três coisas consoem entre si, a
saber, a natureza, o costume e a razão, de tal modo que
sempre o que é posterior pressuponha o anterior. Há muitas
coisas que os homens fazem além da natureza e do costume por
causa da razão, se for persuadido por esta que o contrário é
melhor, conforme é evidente no homem continente o qual,
embora se incline à busca das paixões, seguirá todavia a
razão que o persuade do contrário.
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