2. O que são as paixões.

Já que as forças da parte vegetativa da alma não são passivas, mas ativas, nela não há nada [que possa] ser dito paixão.

[Além das forças da parte vegetativa, temos na alma a parte sensitiva e intelectiva, havendo em ambas forças apreensivas e apetitivas]. Todas as forças apreensivas e apetitivas do sentido e do intelecto são passivas, com a exceção do intelecto agente. Apesar da apreensão do sentido e do intelecto serem um certo padecer, as operações das potências apreensivas não são propriamente paixões, mas somente as operações das potências apetitivas. [O motivo por que somente as operações das potências apetitivas, e não as das apreensivas, sejam propriamente ditas paixões, apesar de ambas serem um certo padecer, está na seguinte diferença entre as potências apreensivas e apetitivas]. A operação das potências apreensivas [se dá] segundo que a coisa apreendida está no apreendente por modo do apreendente. Desta maneira, a coisa apreendida é, de algum modo, trazida ao apreendente. Já a operação das potências apetitivas [se dá] segundo que o apetente [é por elas] inclinado ao apetecível. Ora, como pertence à razão do paciente que este seja trazido ao agente e não o inverso, daqui é que [vem que] as operações das potências apreensivas não sejam ditas propriamente paixões, mas somente as operações das potências apetitivas.

Entre as operações das potências apetitivas, a operação do apetite intelectivo não pode ser dito propriamente paixão, por dois motivos. Ora porque não se dá segundo uma transmutação de órgão corporal, que é uma coisa necessária à razão de paixão propriamente dita, ora porque na operação do apetite intelectivo que é a vontade, o homem não é agido como paciente, mas age como senhor de seus atos. De onde que se conclui que são ditas propriamente paixões as operações do apetite sensitivo, que se dão segundo uma transmutação do órgão corporal, e pelas quais o homem de alguma forma é conduzido.