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Se, por um lado, [diz o Filósofo], é verdade dizer
que nas enunciações singulares nenhum dos opostos é
determinadamente verdadeiro, [por outro lado, porém], também
não é verdade dizer que nenhum destes dois opostos é
verdadeiro, de tal modo que possamos dizer: nem será, nem não
será.
Esta última posição pode ser demonstrada de duas
maneiras.
Em primeiro lugar, a afirmação e a negação dividem
o verdadeiro e o falso, o que é manifesto pela definição do
verdadeiro e do falso, pois nada mais é o verdadeiro do que
ser o que é ou não ser o que não é, e nada mais é o falso do
que ser o que não é ou não ser o que é. Deste modo é
necessário que se a afirmação é falsa, a negação seja
verdadeira e vice versa. Mas [se a verdade estivesse
inteiramente ausente das enunciações singulares futuras
opostas] seguir-se-ia ser falsa a afirmação pela qual se diz
que "algo será", assim como também seria falsa a negação
segundo a qual este "algo não seria", o que seria
impossível. De onde que a verdade não pode faltar
inteiramente em ambos [os opostos das enunciações singulares
futuras].
Em segundo lugar, se for verdadeiro dizer algo,
seguir-se-á que este algo seja. Por exemplo, se é verdadeiro
dizer que algo seja grande e branco, seguir-se-á que ambas
[estas coisas] sejam. Porém, assim como é no presente, assim
também o é no futuro. Portanto, se for verdade dizer que
amanhã será, seguir-se-á que seja amanhã. Ora, se for verdade
que [a verdade esteja inteiramente ausente dos singulares
futuros opostos], sendo verdadeiro dizer que nem amanhã será,
nem não será, isto implicará que algo não se tornará nem não
se tornará, o que é contra a razão do que possui inclinação
para ambas [as possibilidades], porque o que está inclinado
para ambas [as possibilidades pode efetivamente realizar a
ambas].
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