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Dividindo-se o ente, segundo qualquer gênero do
ente, pela potência e ato, o movimento é dito ser o ato
daquilo que está em potência enquanto tal.
[Esta definição pode ser esxplicada do seguinte
modo]. A matéria [apta a tornar uma casa] está em potência
a duas coisas. Estas duas coisas são a forma da casa e a
edificação [isto é, a ação de edificar]. A potência que
está na matéria da casa à edificação é significada pela
expressão de edificável. Portanto, o edificável enquanto
edificável se torna em ato quando está em edificação. [Uma
outra maneira de se dizer isso é que] a edificação é o ato
do edificável enquanto edificável. Ora, edificar é um certo
movimento. Assim, o movimento é o ato do edificável. Por
onde se pode manifestar [em que sentido] o movimento é ato
do existente em potência. O movimento é um certo ato, como
ficou dito. Mas é um ato imperfeito, porque aquilo de quem
é ato é ente em potência, que é ser imperfeito. Se, de
fato, se tratasse de um ato perfeito, com isto retiraria
toda a potência que está na matéria a algo determinado. De
onde se segue que os atos perfeitos não são atos dos
existentes em potência, mas dos existentes em ato.
O movimento, [deste modo], [é ato] do existente
em potência porque não retira dele a potência. Onde quer
que haja movimento, de fato, permanece no móvel a potência
àquilo que é pretendido pelo movimento. Somente a potência
ao mover-se é retirada pelo movimento. E, mesmo assim, não
totalmente, porque aquilo que é movido ainda está em
potência ao movimento, porque tudo o que é movido será
movido, por causa da divisão do movimento contínuo,
conforme foi explicado no sexto livro da Física. De onde se
segue que o movimento é o ato do existente em potência, e
desta maneira é ato imperfeito e do imperfeito. [O
movimento ocorre quando] algo existente em potência é
reduzido ao ato, enquanto móvel, por móvel entendendo-se
algo que está em potência ao movimento. [Nada] é reduzido
ao ato pelo movimento enquanto está em potência ao término
do movimento, porque enquanto é movido ainda permanece em
potência ao término do movimento. Pelo movimento algo é
reduzido da potência ao ato, entendendo-se esta potência
como sendo aquilo que é significado ao dizer-se algo ser
móvel, isto é, em potência ao movimento.
[Quanto ao termo "enquanto tal", podemos
explicá-lo como a seguir].
[O movimento foi definido como ato daquilo que
está em potência enquanto tal]. [Trata-se agora de explicar
o significado deste termo "enquanto tal"]. Para explicar
isto, [vamos considerar] o cobre que está em potência à
estátua. O cobre, e o cobre em potência à estátua, são o
mesmo segundo o sujeito. Todavia, não são o mesmo segundo a
razão, porque uma é a razão do cobre enquanto cobre, e
outra é a razão do cobre enquanto tem alguma potência. Se
fossem o mesmo segundo a razão, então, assim como o
movimento é ato do cobre enquanto é cobre em potência,
assim também seria ato do cobre enquanto é cobre. Como,
porém, o cobre e o cobre em potência à estátua não são o
mesmo segundo a razão, por isso tornou-se necessário que na
definição de movimento, tendo sido dito que o movimento é
ato do existente em potência, tivesse sido acrescentado
"enquanto tal".
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