V. A RELAÇÃO ENTRE MARIDO E ESPOSA E ENTRE PAI E FILHO


1. Introdução.

Depois que o Filósofo determinou a relação entre o senhor e o servo, acrescentando também um tratado geral sobre a posse, passa a determinar sobre as duas outras relações domésticas, que é a existente entre o marido e a esposa e a entre o pai e o filho.

Já havia sido dito que há três partes da arte econômica, que é a governativa da casa, segundo três relações já mencionadas. A primeira é a relação despótica, que pertence ao senhor e ao servo, da qual já se tratou. Resta agora discursar sobre a segunda, que é a paterna, pertencente ao pai e ao filho, e sobre a terceira, que é a conjugal, pertencendo ao marido e à mulher.

[Há três coisas que devem ser ditas sobre as duas últimas relações].

A primeira é que em ambas estas relações há uma certa prelazia ou principado. O homem, de fato, preceitua à mulher assim como o pai ao filho, não porém como a servos, mas como a livres. Nisto estes dois principados diferem do principado despótico.

A segunda é que estes dois principados não se dão segundo um único modo. O homem preceitua à mulher por um principado político, isto é, como o principado em que alguém que é escolhido para governante preside a uma sociedade, enquanto que o pai preside aos filhos por um principado real, e isto porque o pai possui um poder plenário sobre os filhos, assim como o rei no reino. O homem, porém, não possui poder plenário sobre a esposa quanto a tudo, mas apenas segundo o que o exige a lei do matrimônio, assim como o governante da cidade possui poder sobre os cidadãos segundo os estatutos.

A terceira [coisa a ser dita sobre estas duas relações] é que são segundo a natureza, porque sempre principia aquele que é principal na natureza, conforme acima foi dito. Mas o homem é naturalmente principal em relação à mulher, a não ser que alguma coisa ocorra além da natureza, como no caso dos homens efeminados. Semelhantemente, o pai é naturalmente principal ao filho, assim como o é o mais velho em relação ao mais jovem e o perfeito em relação ao imperfeito. Portanto, é segundo a natureza que o homem principia sobre a mulher e o pai principia sobre o filho.