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O Filósofo, na continuação, levanta a seguinte
questão. Já foi dito que mais convém que uma multidão governe
do que alguns poucos ou um só. Quanto às leis, porém, pode-se
duvidar se o legislador, querendo estabelecer leis retas,
deve colocá-las visando o bem de toda a multidão, de alguns
dos melhores, [sejam estes melhores] segundo as riquezas ou
segundo as virtudes, supondo que exista uma multidão que
possua sábios e ricos, e outros persuadíveis e capazes de
obedecer à razão.
[A esta questão deve-se dizer] que deve-se tomar
aquilo que é reto e melhor. Ora, o melhor e mais reto é que
as leis sejam conduzidas para o bem de toda a cidade, de toda
a comunidade e de todos os cidadãos, pois as leis dizem
respeito ao que se ordena ao fim da cidade. Ora, o fim da
cidade é o bem comum, de onde que as leis devem ser colocadas
ordenando-se ao bem comum de toda a cidade e todos os
cidadãos.
Diz-se cidadão aquele que possui virtude pela qual
pode corretamente submeter-se e governar em tempos diversos,
embora este seja diverso segundo o suposto e a razão [ou
natureza] nas diversas políticas, pois [na democracia ou]
estado da multidão o povo escolhe governar por causa da
liberdade, [na oligarquia ou] estado dos poucos por causa das
riquezas, enquanto que na política ótima é dito cidadão
aquele que escolhe e pode submeter-ser e governar por causa
da vida virtuosa.
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