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É oportuno, portanto, mostrar agora, pelas mesmas
razões, qual é a felicidade da cidade.
Dizemos ser feliz, e também ótima, aquela cidade
que opera otimamente. Pelo que se expõe no Primeiro Livro da
Ética, a felicidade é suposta ser a operação ótima. Ora, é
impossível que operem otimamente aqueles que não operam
coisas ótimas, já que o bem na operação se segue à bondade do
objeto ou do operado. Mas nenhuma obra é boa, nem de um só
homem segundo si mesmo, nem de uma cidade, sem a virtude
moral e a prudência intelectual. Portanto é impossível que a
cidade seja feliz e ótima simplesmente considerada sem a
virtude moral e intelectual.
Mas porque alguém poderia dizer que a fortaleza e
a justiça, assim como as demais virtudes, não são de uma só
[e mesma] natureza [no homem e na cidade], o Filósofo
acrescenta que a virtude de toda a cidade e a virtude de cada
homem são da mesma natureza em si mesmo e em sua ordenação à
operação, não diferindo senão como o todo difere da parte e o
maior difere do menor. De fato, a virtude moral da cidade é a
reunião das virtudes parciais dos cidadãos e por isso a mesma
é a virtude de um só homem e a de toda a cidade.
O Filósofo conclui desculpando-se da necessidade
de uma mais certa consideração de todas estas coisas, porque
sobre a felicidade de um só homem e a felicidade de toda a
cidade foi exposto apenas o que era necessário ao modo de um
prêmio, tendo em vista o assunto a ser tratado a seguir.
Expor tudo o que pertence a este assunto é o trabalho de
outro gênero de estudo, do qual ele tratou no Primeiro e no
Décimo Livro da Ética.
Agora, portanto, supomos para a intenção a que nos
propomos que a vida ótima e a felicidade de cada homem
segundo si mesmo, e de toda a cidade, consiste na perfeição
que há na virtude, não na medida em que esta é hábito, mas na
medida em que redunda em obra, deixando de lado para as
presentes considerações todo o restante que poderia ser
tratado a este respeito.
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