|
Os antigos filósofos negaram que a natureza agisse
tendo em vista algum fim.
Aquilo que principalmente demonstra que a natureza
opera em vista de algo é o fato que das operações da natureza
sempre resulta algo que é o melhor e o mais cômodo quanto
possível.
Assim, aqueles que afirmaram que a natureza não
age tendo em vista a um fim se esforçaram de maneira toda
especial por provar que não é assim que ocorre.
Diziam os antigos filósofos que quando de alguma
operação da natureza provém alguma utilidade, isto não é a
finalidade daquela operação natural, mas é algo que ocorre
apenas por necessidade da matéria.
Exemplo: quando cai a chuva, ela não cai com a
finalidade de aumentar ou fazer crescer o trigo, mas isso
ocorre pela necessidade da matéria. E tanto isso é verdade
que, em alguns locais, chovendo, o trigo é destruído, e não
ajudado a crescer.
Da mesma forma aconteceria com as partes dos
animais. Os dentes anteriores são agudos e mais aptos a
dividir o alimento e os maxilares são largos e mais aptos a
amassar o alimento. Mas isso aconteceria por necessidade da
matéria, e lhe acontece acidentalmente possuir semelhante
forma, à qual se segue a citada utilidade.
Como poderia objetar-se que, já que sempre ou na
maioria dos casos tais utilidades se seguem, seria
conveniente que tal fato fosse devido à natureza, os antigos
filósofos propuseram a seguinte resposta a esta dificuldade:
no princípio da constituição do mundo, os quatro elementos se
reuniram para constituir as coisas naturais, e se fizeram
muitas e diversas disposições. Aquelas que por acaso se
mostraram aptas a alguma utilidade, se conservaram. Mas isto
aconteceu não por algum agente que tivesse um fim definido,
mas por acaso. Aqueles que não apresentavam tais disposições
foram destruídos, e continuamente são destruídos.
|
|