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Segundo a primeira solução do problema, a essência
e definição não pertencem aos acidentes, mas às substâncias.
Mas, segundo uma outra maneira de se resolver a questão,
pode-se dizer que, tanto a definição como a essência é dita
de múltiplas maneiras. Assim, de uma maneira, a essência
significaria a substância, e de outra maneira significaria
cada um dos demais predicamentos. Assim como o ente se
predica de todos os predicamentos, não semelhantemente, mas
primeiro da substância e posteriormente dos demais
predicamentos, assim também a essência, simplesmente falando
[simpliciter], convém à substância e aos demais predicamentos
de outro modo, isto é, segundo algo.
Que, de alguma maneira, aos demais predicamentos
convém uma essência, fica patente, por causa disto, que em
cada predicamento algo é respondido à questão sobre o que
[ele] seja. Perguntamos, de fato, da qualidade, o que seja,
assim como [quando perguntamos] o que é o branco, e
respondemos que é [uma] cor. De onde fica patente que a
qualidade faz parte do número das coisas nas quais existe
[uma] essência.
Pelo fato de que todos os demais predicamentos têm
razão de ente pela substância, por causa disso o modo de ser
da substância [modus entitatis substantiae] participa segundo
uma certa semelhança de proporção em todos os demais
predicamentos. [Como se disséssemos que] assim como o animal
é a essência do homem, assim a cor é a essência do branco.
Desta maneira dizemos que a qualidade não tem uma essência de
modo simples [simpliciter], mas deste. Assim como alguns
dizem, falando do não ente, que o não ente é, não porque o
não ente seja "simpliciter", mas porque o não ente é não
ente. Assim também a qualidade não tem essência
"simpliciter".
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