3. Um sinal revelador de que todo homem deseja conhecer.

[O exame do sentido da vista revela o desejo do homem pelo conhecimento]. O sentido nos serve para duas coisas, para o conhecimento das coisas e para as utilidades da vida. E nós apreciamos os sentidos por causa de si mesmos, na medida em que são cognoscitivos, e também porque conferem utilidade à vida. E que assim seja é manifesto pelo fato de que o sentido que nós mais apreciamos é aquele que é mais cognoscitivo, que é o sentido da visão, do qual gostamos não apenas para agir, mas também se em nada devemos agir. A causa disso reside em que este sentido da vista, entre todos os sentidos é o que mais nos faz conhecer, e o que maior número de diferenças nas coisas nos demonstra. Nisto se manifestam duas proeminências da vista em relação aos outros sentidos no que diz respeito ao conhecer:

A. Primeiro, que conhece mais perfeitamente.

B. Segundo, que a vista demonstra maior número de diferenças nas coisas.

De fato, os corpos sensíveis parecem ser conhecidos principalmente pela vista e pelo tato, e ainda mais pela vista. A razão disto é que os demais três sentidos são cognoscitivos de coisas que emanam de uma certa maneira dos corpos sensíveis, e não consistem nestes. Já a vista e o tato percebem aqueles acidentes que são imanentes nas próprias coisas, assim como a cor, o quente e o frio. De onde que o juízo do tato e da vista se estende às próprias coisas, enquanto que o juízo do ouvido e do olfato àquelas que procedem das coisas, e não às próprias coisas.