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A primeira razão é política. O justo de modo
simples consiste em que os que são iguais na virtude recebam
ou alcancem o principado de modo igual. Os que, porém, são
desiguais, devem recebê-lo de modo desigual. Mas este ou
aqueles excedem todos os demais na virtude e, portanto, este
ou aqueles devem receber mais do que todos os outros. Todos
os outros, porém, por causa da multidão, crerão que devem
receber mais do que aquele ou estes poucos, motivo pelo qual
se os que excedem segundo a virtude e o poder mais receberem
do que todos os outros, parecerão injuriar aos demais, do que
seguir-se-ão dissensões e revoltas na cidade e corromper-se-á
a proporção da cidade. Ora, isto é inconveniente, pelo que
nem este nem aqueles serão cidadãos. Na verdade, este único
homem que excede todos os demais na virtude será,
verossimilmente, como um deus.
Sobre [esta última afirmação do Filósofo] deve-se
entender que alguém pode alcançar a virtude perfeita e o seu
ato de dois modos. De um primeiro modo, segundo o estado
comum dos homens; de um segundo modo, além do modo ou do
estado comum dos homens, e este é o modo da virtude dita
heróica. A virtude heróica é aquela segundo a qual alguém
pela virtude moral e intelectual alcança a operação de
qualquer virtude acima do modo comum dos homens, e isto é um
certo ser divino, que se realiza mediante algo divino
existente no homem, que é a inteligência, e é neste sentido
que fala o Filósofo que tais homens, que excedem deste modo a
todos os demais, são como deuses.
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