8. Conclusão.

Conclui-se de tudo quanto foi dito que esta dúvida que foi acima levantada tem algum fundamento. Certas distinções entre a liberdade e a servidão não são segundo a natureza, mas segundo a lei, enquanto que outras há que são segundo a natureza. Nestas últimas convém que alguém sirva e que outro domine, e isto também é justo, porque é oportuno que cada um se submeta ou governe segundo sua aptidão natural. Vemos que o mesmo convém à parte e ao todo, isto é, [convém que] a parte esteja contida no todo e, semelhantemente, convém para o corpo e a alma que o corpo seja regido pela alma. Ora, conforme dissemos acima, o servo se compara ao senhor assim como o corpo à alma, e também um se compare a outro como uma parte [ao todo], como se fosse um órgão animado e fosse uma parte separada do corpo.

É evidente, pois, por [todas estas] premissas, que ao servo e ao senhor que são dignos de ser tais segundo a natureza convém mutuamente para ambos que um seja senhor e outro seja servo e por isso pode haver amizade entre ambos, porque a comunicação de ambos naquilo que convém a ambos é razão de amizade. Mas para aqueles que não estão deste modo um para o outro segundo a natureza, mas apenas segundo a lei e a violência, a disposição entre ambos é a contrária, porque não têm amizade mútua, nem lhes convém que um seja senhor e outro seja servo.