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Os estados populares são principalmente
transmutados e padecem sedições por causa da malícia daqueles
que são condutores do povo. Estes [condutores], por malícia
ou impotência, fazem com que os ricos se unam, o que pode
ocorrer de duas maneiras.
O primeiro modo é pela calúnia. A calúnia é a
falsa imposição de crime. Às vezes é dito usurpação da coisa
alheia por causa da imposição do falso crime. Quando,
portanto, os condutores [do povo] impõem falsos crimes aos
ricos os ricos se unem entre si e, embora houvesse separação
entre ricos e até inimizades, por causa da calúnia se unem
porque o temor comum congrega e reúne aqueles que são
imensamente separados. A razão disto é que o temor é a
tristeza ou a turbação por causa da fantasia do mal futuro e
por isso aquele que teme busca caminhos pelos quais possa
evitar o mal que é opinado como futuro. Se, portanto, estimar
que poderá fazê-lo unindo-se com o inimigo, unir-se-á a ele.
Deve-se, porém, considerar que se o movimento do
temor for menor do que o movimento da inimizade, não se unirá
com o inimigo. Se, porém, for maior, se unirá a ele para
repelir [o temor]. Sempre, de fato, será seguido o movimento
maior. Pelo que é manifesto que os ricos se unem entre si e,
congregados e unidos, se insurgirão contra a multidão, a
oprimirão e transmutarão a república.
O segundo modo [pelo qual os condutores do povo
fazem com que os ricos se congreguem] consiste em fazer com
que a multidão seja oprimida pelos ricos, de tal maneira que
a multidão, oprimida pelos ricos e induzida pelos condutores,
se insurja contra os ricos e então os ricos, temendo ser
oprimidos pela multidão, se congregam e insurgem contra a
multidão e transmutam a república.
Tudo isto pode ser manifestado através de
exemplos. Se alguém se der ao trabalho de considerar, verá
que em muitos casos os estados populares foram transmutados
por causa da malícia dos condutores do povo. Foi assim que
ocorreu na cidade chamada de Cous, na Ilha de Rodes, na
cidade de Heracléia, na cidade de Megara e na cidade de
Cumas.
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