14. Como alguém pode praticar injustiça contra si mesmo, metaforicamente falando.

[Metaforicamente e por semelhança pode dar-se injustiça do indivíduo para consigo mesmo]. Segundo uma certa metáfora e semelhança ocorre não que haja o justo e o injusto de todo o homem para [com] si mesmo, mas que haja uma certa espécie de [direito] entre algumas partes do homem entre si. Não há, todavia, entre elas, [um direito] completo, mas somente um direito dominativo ou dispensativo, isto é, econômico. Isto porque a parte racional da alma parece estar para a parte irracional da mesma, que se divide em irascível e concupiscível, segundo uma razão de domínio ou dispensação, pela razão dominar e governar a parte irascível e concupiscível. Assim, pode acontecer uma certa injustiça do homem para consigo mesmo quando alguém padece por causa de seus próprios apetites, como quando alguém pela ira ou concupiscência faz alguma coisa contra a razão. Ocorre nestes casos o justo e o injusto assim como ocorre entre o imperante e aquele que é imperado. Porém, não é o verdadeiro direito, porque não o é entre dois, mas trata-se de uma semelhança de direito, na medida em que a diversidade da alma se assemelha à diversidade das pessoas.