29. Das relações segundo que o mensurável é dito relativo à medida.

Este terceiro modo de relação difere dos anteriores pois nos anteriores cada um [dos termos] é dito relativo pelo fato do mesmo referir-se ao outro, e não pelo fato do outro referir-se a si. Assim, o duplo se refere à metade, e vice-versa, e o pai ao filho, e vice versa. Segundo este terceiro modo, porém, algo é dito relativo somente pelo fato de que algo se refere a si, assim como é evidente que o sensível e o cognoscível ou intelegível são ditos relativos porque outras [coisas] se referem aos mesmos. Algo é dito cognoscível por se ter ciência do mesmo. Semelhantemente, sensível é dito o que pode ser sentido.

De onde que estas coisas não são ditas relativas por causa de algo que haja da parte delas mesmas, como a quantidade, a qualidade, a ação ou a paixão, assim como ocorria nas relações anteriores; mas são ditas relativas por causa das ações dos outros que todavia não terminam nelas. De fato, se o ver fosse uma ação do vidente que se [estendesse até a coisa vista e] a alcançasse, assim como a calefação [se estende até] ao calefactível, então assim como o calefactível se refere ao calefaciente, assim também o visível se referiria ao vidente. Mas ver, intelegir e tais ações, conforme é explicado no nono livro da Metafísica, permanecem nos agentes e não transitam às coisas [vistas e intelegidas, pois] o visível e o cognoscível não padecem algo pelo fato de serem intelegidos ou vistos. Por causa disso, [as coisas intelegidas e vistas] não se referem [aos inteligentes e videntes], mas [apenas vice versa].

Semelhantemente ocorre com todas aquelas coisas nas quais algo é dito relativamente por causa da relação de outro para com ele, como o direito e o esquerdo na coluna. Como o direito e o esquerdo designam princípios de movimentos nas coisas animadas, não podem ser atribuídos à coluna e a algo inanimado senão na medida em que os animados de algum modo se [relacionam] para com ela, assim como quando a coluna é dita direita, porque o homem lhe é esquerdo.

Semelhantemente ocorre com a imagem em relação ao exemplar, e com o dinheiro, pelo qual se [estipula] o preço da venda.

Em todas estas coisas toda a razão de referência em ambos os extremos [depende de só um deles], e por isso todos estes tais de algum modo estão [um para o outro] assim como o mensurável e a medida, porque qualquer coisa é medida por aquilo de que depende.

Deve-se saber, porém, que embora a ciência segundo o nome pareça referir-se ao cognoscente e ao cognoscível, já que dizemos ciência do cognoscente e ciência do cognoscível, e dizemos também intelecto do inteligente e intelecto do intelegível; todavia o intelecto, segundo que é dito relativamente a algo, não o é dito relativamente àquele que é o seu sujeito, pois assim se seguiria que o mesmo relativo seria dito duas vezes. De fato, consta que o intelecto é dito relativamente ao intelegível, assim como ao objeto. Se, portanto, fosse dito relativamente ao inteligente, seria duas vezes dito relativamente, e como o ser do relativo consiste em se achar de algum modo para com outro, seguir-se-ia que a mesma coisa possuiria um ser duplo.

E semelhantemente, é patente acerca da visão que ela não é dita relativamente ao vidente, mas ao objeto que é a cor.

Não obstante, pode-se dizer corretamente que a visão seja do vidente, pois a visão se refere ao vidente, não na medida em que é visão, mas na medida em que é acidente ou potência do vidente. De fato, a relação diz respeito a algo externo, não, todavia, ao sujeito, senão na medida em que é acidente.

Assim fica claro que estes são os modos pelos quais [as coisas] são ditas relativas per se.