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[Em toda mutação são encontradas cinco coisas].
Primeiro, o movente. Segundo, o movido.
Terceiro, o tempo no qual ocorre a mutação, porque toda
mutação está no tempo. Quarto, o término a partir do qual o
movimento principia. Quinto, o término para o qual o
movimento se dirige.
As mutações não se dividem em suas espécies nem
segundo o movente, nem segundo o movido, e nem segundo o
tempo. Porque estas coisas são comuns a toda mutação. As
mutações são divididas segundo os términos a partir do qual
e para o qual.
Os términos das mutações podem ser variados de
quatro modos. De um primeiro modo, sendo ambos afirmativos,
como quando dizemos o branco ser mudado em preto. Esta é a
mutação de sujeito a sujeito. De um segundo modo, sendo
ambos negativos, como quando dizemos o não branco ser
mudado no não preto. Esta é a mutação do não sujeito ao não
sujeito. De um terceiro modo, o término a partir do qual
sendo afirmativo e o término para o qual negativo, como
quando dizemos o branco ser mudado ao não branco. Esta é a
mutação do sujeito ao não sujeito. De um quarto modo, o
término a partir do qual sendo negativo e o término para o
qual sendo afirmativo, como quando dizemos o não branco ser
mudado ao branco. Esta é a mutação do não sujeito ao
sujeito.
Destas quatro combinações, uma delas é inútil.
De fato, não existe uma permutação do não sujeito ao não
sujeito. Duas negações, como o não branco e o não negro,
não são opostas. Podem, de fato, verificar-se da mesma
[coisa]. Por exemplo, existem muitas coisas que são não
brancas e não negras [ao mesmo tempo]. De onde se segue
que, como a mutação ocorre entre opostos, conforme provado
no primeiro livro da Física, não há mutação do não sujeito
ao não sujeito. E assim se conclui que somente há três
permutações.
Das três mutações acima mencionadas, aquela que
vai do não sujeito ao sujeito, é chamada de geração. Isto
pode se dar de duas maneiras. Ou tratar-se-á de uma mutação
do não ente de modo simples ao ente de modo simples, e
então esta será chamada geração de modo simples. Ou tratar-
se-á de uma mutação do não ente ao ente não de modo
simples, mas segundo algo, assim como do não branco ao
branco. Esta é então, uma certa geração e segundo algo.
Quanto à mutação que é do sujeito ao não
sujeito, ela é dita corrupção. E de modo semelhante, nela
podemos distinguir entre corrupção de modo simples e
corrupção segundo algo.
[Vamos agora mostrar que a geração não pode ser
movimento. A geração é uma mutação do não ente ao ente.
Ente e não ente são aqui tomados] segundo o ato e a
potência.
Aquilo que é em ato, será ente de modo simples.
Aquilo que é somente segundo a potência, será o não ente.
Ora, o ente em potência que se opõe ao ente em ato, mas que
não é ente em ato de modo simples, este pode ser movido.
[Isto acontece porque nestes casos] não é o não branco que
é movido, mas o sujeito em que está esta privação, que é
ente em ato. [Mas o ente em potência que se opõe ao ente em
ato de modo simples], que é o não ente em ato de modo
simples, isto é, segundo a substância, este de nenhum modo
poderá ser movido. Assim, é impossível que o não ente seja
movido. Portanto, deve-se concluir que se a geração é do
não ente ao ente, se a geração de modo simples fosse um
movimento, seguir-se-ia que o não ente de modo simples
mover-se-ia. Logo, a geração de modo simples não é um
movimento.
[Vamos agora mostrar que também a corrupção não
pode ser movimento]. O movimento somente pode ter como
contrário um movimento ou o repouso. Ora, a corrupção é
contrário da geração. Se, portanto, a corrupção é
movimento, será necessário que a geração seja ou movimento
ou repouso. O que é impossível como foi demonstrado. Logo,
a corrupção [de modo simples] não é um movimento.
Vamos, [finalmente], mostrar qual é a mutação
dita movimento. Todo movimento é uma mutação. Ora, somente
há três mutações, das quais duas, que são a geração e a
corrupção, não são movimento. Portanto, a mutação restante,
de sujeito para sujeito, é o movimento.
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