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A virtude moral tem em nós origem pelo costume das
obras.
A virtude moral está na parte apetitiva [da alma].
Portanto, ela implica numa certa inclinação a algo
apetecível. Esta inclinação pode ter sua origem ou na
natureza que inclina para aquilo que é a si conveniente, ou
no costume que se converte em natureza.
[A virtude moral não pode existir por natureza na
alma]. Em todas as coisas que em nós existem pela natureza, a
potência existe antes que a operação. Isso é manifesto, por
exemplo, no caso dos sentidos. Não é pelo fato de muito
termos visto ou ouvido que adquirimos o sentido da vista ou
do ouvido. Ao contrário, é pelo fato de termos estes sentidos
que começamos a utilizá-los. Ora, [no caso das virtudes
morais acontece o oposto]. Nós adquirimos as virtudes
[morais] pelo fato de operarmos segundo a virtude, assim como
ocorre com as artes operativas. É assim que operando o que é
justo ou moderado os homens se tornam justos ou moderados.
Portanto, conclui-se que as virtudes morais não podem existir
em nós pela natureza.
[As virtudes morais existem em nós pelo costume
que dá origem a uma inclinação a modo de natureza]. A virtude
moral pertence ao apetite, que opera na medida em que é
movido pelo bem apreendido. Por isso, se o apetite operar
muitas vezes, significa que está sendo movido muitas vezes
pelo seu objeto. E disto se segue uma certa inclinação a modo
de natureza. Assim portanto, fica patente que as virtudes
morais não estão em nós por natureza, e nem estão em nós
contra a natureza. Mas em nós existe uma certa aptidão
natural para recebê-las, na medida em que a força apetitiva
em nós é naturalmente apta a obedecer à razão. Mas elas,
[isto é, as virtudes morais], se produzem em nós pelo
costume, na medida em que pelo fato de que vezes repetidas
agimos segundo a razão, a forma da força da razão imprime-se
na força apetitiva. Esta impressão nada mais é do que a
virtude moral.
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