14. Como se encontra a potência e o ato nas substâncias separadas.

Tudo o que recebe algo de outro, está em potência em relação a este algo. E por isso, aquilo que é recebido nele é o seu ato. Daqui se segue que a forma ou a quididade das substâncias simples, estejam em potência em relação ao ser que de Deus recebem, e este ser é recebido pelo modo de ato. É assim que encontramos o ato e a potência nas inteligências, mas não a forma e a matéria, a não ser equivocamente. E também os termos padecer, receber, ser sujeito e outros tais que convém às coisas por razão de matéria, convém equivocamente às substâncias intelectuais e corporais.

[As substâncias simples se compõem de ser e essência]. Conforme foi dito, nas inteligências a essência é a própria inteligência e esta essência é aquilo que elas são, e o seu ser recebido por Deus é aquilo pelo qual subsistem nas coisas da natureza. Por isso que tais substâncias são ditas compostas de ser e essência.

Pelo fato de que nas inteligências existe potência e ato, não será difícil encontrar uma multidão de inteligências, o que seria impossível se nenhuma potência nelas houvesse.

Se, por um lado, a multidão das inteligências se torna possível pela composição de potência e ato, a distinção das inteligências entre si se dá segundo os graus de potência e ato. As inteligências superiores, que mais próximas estão do primeiro [ser], tem mais de ato e menos de potência, e assim [inversamente com as inferiores], até [chegarmos à] alma humana, que apresenta o último grau nas substâncias intelectuais, [sendo, assim, a mais baixa de todas]. De onde que a potência intelectual [da alma humana] se acha para com as formas inteligíveis assim como a matéria primeira, que está no último grau dos seres sensíveis, está para as formas sensíveis. E pelo fato que entre todas as substâncias inteligíveis, é a alma humana a que mais tem de potência, por isso é que ela se situa mais próximo às coisas materiais, de tal maneira que até traz as coisas materiais à participação de seu ser, de modo que da alma e do corpo resulte um ser composto, embora aquele ser [inteligível], na medida em que é da alma, não seja dependente do corpo. E é também por isso, que depois desta forma, que é a alma humana, se encontram outras formas que tem mais ainda de potência, e que são ainda mais próximas à matéria, a tal ponto que o seu ser não pode existir de nenhum modo sem a matéria. Nestas formas também encontramos ordens e graduações, até chegarmos às primeiras formas dos elementos, que são dentre todos os mais próximos à matéria.