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É de se notar que na sentença que o filósofo
colocou, de que a essência é idêntica com aquilo de quem é
essência, duas coisas foram excluídas, que são as coisas que
são ditas por acidente, e as substâncias materiais.
Anteriormente, porém, o filósofo [ao abordar a mesma
questão], não excluiu senão as coisas que são ditas por
acidente. [Devemos, pois, esclarecer isto].
[Nas substâncias materiais a essência não é
idêntica com aquilo de quem é essência]. É, de fato,
necessário não somente excluir as coisas que são ditas por
acidente, como também as substâncias materiais. Conforme foi
acima dito, a essência é aquilo que a definição significa. A
definição, porém, não se dá do indivíduo, mas da espécie. Por
isso, a matéria individual, que é princípio de individuação,
está além daquilo que é a essência. Ora, é impossível nas
coisas da natureza existir a espécie a não ser neste
indivíduo. Daqui seguir-se-á que qualquer coisa da natureza,
se tiver matéria que seja parte da espécie, a qual [portanto]
pertencerá à essência, [deverá necessariamente] ter matéria
individual, a qual não pertencerá à essência. Daqui se
conclui que nenhuma coisa da natureza, se tiver matéria, será
idêntica com a sua essência, [mas sim será algo] possuidor
[habens] de essência. [Por exemplo], assim como Sócrates não
é humanidade, mas possuidor [habens] de humanidade. Se,
porém, fosse possível existir um homem composto de corpo e
alma, que não fosse este homem composto deste corpo e desta
alma, [certamente] seria idêntico com a sua essência, não
obstante tivesse matéria.
Posto que um homem além dos singulares não existe
nas coisas da natureza, todavia existe na razão que pertence
à consideração lógica. É por isso que anteriormente, aonde de
modo lógico considerou-se acerca da essência, Aristóteles não
excluiu as substâncias materiais, mas antes afirmou que nelas
a essência seria idêntica com aquilo de quem é essência. De
fato, o homem em comum é idêntico com a sua essência,
logicamente falando. Agora, porém, depois que já descemos aos
princípios naturais, que são a matéria e a forma, e mostramos
como de diversas maneiras se comparam quanto ao universal e
ao particular que subsiste na natureza, devemos excluir
daquilo que se disse ser idêntica a essência com aquilo de
quem é a essência, as substâncias materiais existentes nas
coisas naturais. Permanece, entretanto, que aquelas
substâncias que são formas subsistentes não têm algo pelo
qual sejam individuadas que esteja além da razão da coisa ou
da espécie significante a essência. Por isso, nestas coisas,
é verdadeiro de modo simples [simpliciter] que qualquer uma
delas é a sua essência.
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