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A argumentação precedente é útil para solucionar
uma questão conseqüente à se convém que uma multidão domine
mais do que alguns virtuosos. A questão conseqüente é se
convém que uma multidão escolha os que irão ocupar os
principados, se convém que os corrija e se convém [que estes
que irão ocupar os principados sejam escolhidos] desta mesma
multidão em que os homens não possuem nenhuma dignidade nem
nenhum bem da virtude.
Por um lado, não convém que os homens livres que
participam desta multidão alcancem os principados. Este seria
o máximo e o primeiro de todos os perigos, porque estes são
homens injustos e imprudentes, e por causa de sua imprudência
falhariam ao julgar corretamente e por causa da injustiça
seriam inclinados à obra injusta. Seguir-se-ia, portanto, que
fariam muitos males em relação a si próprios, e muitas
injustiças quanto aos demais, injuriando-os e molestando-os,
e isto seria perigoso. Portanto, chamá-los a participar do
principado seria o inconveniente máximo.
Por outro lado, porém, seria terrível que de
nenhum modo eles participassem das honras e que de nenhum
modo se lhes concedesse o principado e que eles não o
pudessem alcançar. Isto seria um inconveniente terrível,
porque se considerariam desonrados e, sendo muitos e pobres,
seguir-se-ia a sedição e a revolta na cidade, o que é
terrível.
Daqui deve-se concluir que, pelo fato de se
seguirem tais males na cidade se os participantes da multidão
de nenhum modo alcançam o principado, resta que devem
participar do principado de algum modo, pelo menos quanto ao
aconselhamento e ao julgamento.
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