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Na ciência moral não é conveniente chegarmos à
certeza perfeita. Isto pode ser manifestado por dois fatos.
[Em primeiro], à ciência moral pertence de modo
principal tratar das obras virtuosas, aqui denominadas de
obras justas. Ora, acerca destas obras não existe sentença
certa dos homens, existindo, ao contrário, grande diferença
naquilo que os homens julgam a este respeito. De onde, porém,
não se deve cair no erro que daqui muitos derivaram, porque
por terem visto tantas diferenças de julgamento [acerca dos
mesmos atos], que dependem de diferenças de tempo, lugar e
pessoas, muitos opinaram que nada é naturalmente justo ou
honesto, a justiça ou a honestidade de algum ato se dando
apenas em virtude da lei [ou dos costumes de um dado tempo ou
lugar].
[Em segundo], pertence também à ciência moral
tratar dos bens exteriores dos quais o homem se utiliza para
alcançar o seu fim. Acerca destes bens também encontramos nos
homens os mesmos erros apontados acerca da justiça ou
honestidade dos atos da vontade. De fato, por um mesmo bem
exterior alguns homens puderam ser ajudados, enquanto outros
através deles somente foram prejudicados. Muitos homens, por
exemplo, por causa de suas riquezas, foram assassinados por
ladrões, enquanto outros pereceram por causa de sua força
corporal, tendo-se expostos temerariamente a certos perigos
em virtude da confiança que depositavam em sua força.
Assim fica manifesto que a matéria moral é muito
vária e não uniforme, não apresentando completa certeza.
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