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Embora, conforme já explicado, a legislação seja
necessária à educação e às operações dos homens, todavia
somente na cidade dos Lacedemônios e em poucas outras o
legislador cuidou de ordenar nas leis acerca da educação das
crianças e dos caminhos descobertos para operar. Na maioria
das cidades, porém, tais coisas são neglicenciadas. É,
portanto, ótimo que se tenha um cuidado correto acerca da
educação das crianças, e das ações virtuosas dos cidadãos
segundo a pública autoridade, de tal maneira que o homem seja
instruído para que possa operar estas coisas idoneamente.
Como, porém, em geral os homens neglicenciam estas coisas,
não exibindo para isto cuidados públicos, parece ser
conveniente para cada pessoa particular que confiram aos
filhos e amigos algo para que sejam virtuosos, o que
maximamente pode ser feito se o homem se torna legislador,
isto é, se o homem adquire idoneidade pela qual possa fazer
leis corretas. De maneira que ser legislador compete de modo
principal à pessoa pública, secundariamente, todavia, também
compete à pessoa particular.
[Em um certo sentido, é mais importante que seja
legislador a pessoa particular do que a pública]. É manifesto
que os cuidados [universais], que são tomados pelas pessoas
públicas, às quais pertence o fazer as leis, são tomados
através das leis. Não difere, porém, para o presente
propósito, se isto é feito através de leis escritas ou não
escritas, ou se pelas leis muitos são instruídos ou um só.
Assim, [pertence] à mesma natureza que algum pai de família
instrua os seus filhos ou alguns poucos domésticos através de
um discurso exortativo ou por escrito, e que algum príncipe
faça alguma lei escrita para ordenar a toda a multidão da
cidade. De fato, assim como as leis públicas e os costumes
por ele introduzidos estão para a cidade, assim os discursos
[do pai de família] e os costumes por eles introduzidos estão
para a casa. Há somente esta diferença: que o discurso
paterno não possui força coativa plena, assim como o discurso
do rei. Conseqüentemente, quanto a algo, [o ser legislador]
mais competirá à pessoa privada do que à pública, porque os
filhos amam os pais e facilmente obedecem à amizade natural,
que é a dos filhos para com os pais. Assim, portanto, ainda
que o discurso do rei mais possa pela via do temor, todavia o
discurso paterno mais pode pela via do amor, a qual é mais
eficaz naqueles que não estão totalmente mal dispostos.
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