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Vamos mostrar agora que no primeiro inteligível
existe uma inteligência [intelecção] e uma deleitação ainda
mais perfeita que no inteligente e desejante [deste]
primeiro inteligível.
Como o intelecto, de maneira geral, se torna
inteligente em ato.
O intelecto se compara ao inteligível assim como
a potência ao ato, assim como a potência ao ato, e assim
como o perfectível à perfeição. Assim como o perfectível é
susceptível de perfeição, assim o intelecto é susceptível
de seu inteligível.
O inteligível é propriamente a substância,
porque o objeto do intelecto é a essência [quod quid est],
e é por causa disto que Aristóteles diz que o intelecto é
susceptível do inteligível e da substância. E porque cada
coisa se torna em ato na medida em que alcança sua
perfeição, segue-se que o intelecto se torna em ato na
medida em que recebe o inteligível. De fato, ser em ato no
gênero dos inteligíveis, é ser inteligível.
Deve-se porém, saber que as substâncias
materiais não são inteligíveis em ato, mas em potência.
Elas se tornam inteligíveis em ato porque mediante as
virtudes sensitivas suas semelhanças imateriais [são
reduzidas a inteligível em ato] pelo intelecto agente.
Estas semelhanças não são substâncias, mas certas espécies
inteligíveis recebidas no intelecto possível.
[Platão, porém, opinava diversamente e este
respeito]. Segundo Platão, as espécies inteligíveis das
coisas materiais eram subsistentes per se. Daqui Platão
colocava que o nosso intelecto se torna inteligente em ato
ao atingir tais espécies separadas subsistentes per se.
Porém, segundo a opinião de Aristóteles, as
espécies inteligíveis das coisas materiais não são
substâncias subsistentes per se.
Todavia, existe alguma substância inteligível
subsistente per se, da qual Aristóteles está agora
tratando. De fato, é necessário que o primeiro movente seja
substância inteligente e inteligível. Daqui se conclui que
a comparação do intelecto do primeiro móvel à primeira
substância inteligível movente é tal qual segundo Platão
seria a comparação do intelecto humano às espécies
inteligíveis separadas, segundo cujo contato e participação
o intelecto se torna em ato. De onde que o intelecto do
primeiro móvel se torna inteligente em ato por algum
contato com a substância primeira inteligível.
E daqui se segue que qualquer que de divino e
nobre, como é o inteligir e a deleitação [que] possa ser
encontrada no intelecto que alcança o primeiro inteligível,
muito mais será encontrado no primeiro inteligível que é
alcançado. Por isso a sua consideração é deleitabilíssima e
ótima.
[Ora], tal primeiro inteligível é chamado Deus.
Como, portanto, a deleitação que nós temos inteligido, é
ótima, embora não a possamos ter senão por curto tempo, se
Deus sempre a tem, assim como nós às vezes, admirável é a
sua felicidade. Mas ainda mais admirável, se Ele a tiver
sempre e melhor, do que nós por pouco tempo.
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