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A. Para todo finito contínuo existe alguma
extremidade fora da qual não existe nada
daquilo da qual essa extremidade é
extremidade.
[Essa extremidade é indivisível].
Portanto, existe uma extremidade do
passado além da qual não existe passado e
dentro da qual não existe futuro, assim
como existe uma extremidade do futuro,
além da qual não existe futuro, e dentro
da qual não existe passado.
B. Ora, a mesma extremidade deverá ser tanto
o término do passado como do futuro.
Porque, se a extremidade que é início do
futuro é diferente da extremidade que é
término do passado, então estas duas
extremidades devem estar:
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A1. ou em sucessão uma com a outra, de
tal maneira que uma sucede
imediatamente à outra.
B1. ou uma deve estar separada e a
alguma distância da outra.
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Mas é impossível que uma extremidade
esteja em sucessão com a outra, porque se
assim o fosse, o tempo seria um agregado
de partes indivisíveis, o que não pode
ser, porque nenhum contínuo é formado de
partes indivisíveis.
Mas também não é possível que uma
extremidade esteja separada e à distância
da outra, porque então haveria um tempo
intermediário entre estas duas
extremidades e isso não pode ser.
Isso não pode ser porque o futuro sucede
ao passado, e pertence [à natureza da]
sucessão que não haja coisas do mesmo
gênero entre duas coisas em sucessão uma
com a outra.
[Portanto, a extremidade do passado não
pode ser diferente da extremidade do
futuro, e são uma única extremidade].
C. A divisão do tempo é o "agora".
Mas a divisão de um contínuo não é nada
mais do que o término comum a duas
partes. E é justamente isso que nós
entendemos por "agora": o término comum
do passado e futuro.
[Ora, além do que, pelo que ficou dito,
ficar já evidente que esse termo comum,
que é o "agora" é indivisível, pode se
acrescentar ainda que] nada que é
divisível é a própria divisão pela qual é
dividido.
Portanto, se o "agora" for divisível, ele
não será "agora" em seu sentido próprio,
mas em seu sentido extenso.
Assim fica claro que o que é divisível
não pode ser "agora" em seu sentido
próprio.
D. [Além disso, pode-se acrescentar ainda
que] se o "agora" é dividido, parte dele
deverá ser passado e parte dele deverá
ser futuro.
Isso porque, sempre que o tempo é
dividido, parte dele deverá ser futuro e
parte deverá ser passado.
Ora, isso é contrário à natureza do que é
chamado "agora". Porque quando nós
dizemos "agora", nós queremos dizer
[aquilo que está] por completo em
existência presente.
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