7. Primeira razão pela qual não é a mesma a virtude do bom cidadão e a virtude do homem bom.

Há três razões pelas quais não é a mesma a virtude do bom cidadão e a virtude do bom homem.

Para expor a primeira deve-se antepor uma semelhança para compreendermos qual é a virtude do bom cidadão. Assim como o marinheiro significa algo que é comum a muitos, assim também o cidadão [significa algo que é comum a muitos]. Alguns marinheiros são remadores, aos quais compete mover o navio pelos remos, outros são governadores, que dirigem o movimento do navio pelo leme, outros são proeiros, ou guardiões da proa, que é a parte da frente do navio, e outros têm outros nomes e ofícios. Ora, é manifesto que a cada um destes convém algo segundo uma virtude própria e outro algo segundo uma virtude comum.

Pertence à virtude própria de cada um possuir uma razão diligente e o [devido] cuidado para com o seu próprio ofício, assim como o governador em relação ao governo e cada um dos restantes para com o seu próprio ofício. A virtude comum é aquela que convém a todos, pois a obra de cada um deles tende a que a navegação seja salva, ao que tende o desejo e a intenção de qualquer marinheiro, e é a isto que se ordena a virtude comum dos marinheiros, que é a virtude do marinheiro enquanto marinheiro.

Do mesmo modo, existindo diversos cidadãos que possuem ofícios dessemelhantes, assim como posições dessemelhantes pelas quais se exercem as operações que lhes são próprias na cidade, a obra comum a todos é a salvação da comunidade, a qual comunidade consiste na ordem política.

De onde que é evidente que a virtude [do cidadão] enquanto cidadão dever ser considerada por ordenação à política, de tal maneira que seja bom cidadão aquele que bem opera para a conservação da política.

Há, entretanto, diversas espécies de política, como adiante se dirá, das quais algo anteriormente também foi manifestado, e para estas diversas políticas os homens são bem ordenados segundo virtudes diversas. De um modo, de fato, conserva-se o estado popular, e de outro modo o poder dos poucos ou a tirania. De onde que fica manifesto que a virtude política não é a virtude perfeita segundo a qual o cidadão pode ser dito bom de modo simples. Um homem é dito virtuoso [de modo simples] segundo uma [determinada] virtude perfeita, que é a prudência, da qual todas as virtudes morais dependem.

Pode ocorrer, portanto, que alguém seja bom cidadão, sem todavia ter a virtude segundo a qual alguém é bom homem; e isto ocorre nas políticas que não são a política ótima.