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Alguém poderá dizer que os homens estimam um dado
fim ser ótimo não por sua própria espontaneidade, mas por seu
nascimento. Por exemplo, assim como o homem julga bem das
cores pela vista exterior, que ele possui pelo seu
nascimento, assim também por nascimento teria uma boa
disposição da vista interior, pela qual julga e deseja aquilo
que é bem segundo a verdade. Assim, o nascimento
verdadeiramente bom e perfeito seria aquele através do qual o
homem nasceria conaturalmente àquilo que é bem máximo e
ótimo, coisa que o homem não poderia alcançar por algum outro
meio ou disciplina, sendo necessário que nele existisse por
natureza.
[Quanto a isto Aristóteles responde que] deve-se
primeiro considerar que esta parece ser a posição de alguns
matemáticos que colocavam que o homem em seu nascimento é
disposto em virtude dos corpos celestes, para que faça isto
ou aquilo. Aristóteles, no livro III do De Anima, atribui
esta posição àqueles que não viam diferença entre o sentido e
o intelecto. Se, de fato, alguém disser que a vontade humana
é tal que possa ser induzida pelos corpos celestes ou pelo
sol, conseqüentemente a vontade e a razão, na qual está a
vontade, será algo corpóreo, assim como o sentido, porque não
é possível que aquilo que em si é incorpóreo seja movido pelo
corpo. Os corpos celestes podem causar alguma disposição no
corpo humano, pelo qual se incline o apetite sensível, cujos
movimentos são as paixões da alma. De onde se conclui que os
corpos celestes não podem e fazer com que alguém tenha
inclinação a julgar algo ser bem de modo simples e segundo
se, como através do hábito eletivo da virtude e da malícia.
Somente poderão levar alguém a julgar algo ser bem enquanto
agora, como acontece pelas paixões. O mesmo deve ser dito das
inclinações que acontecem devido à complexão natural. Agora,
de fato, não estamos tratando dos julgamentos pelos quais
algo é julgado bem devido a uma paixão, porque a vontade pode
a este julgamento não seguir, mas do julgamento pelo qual
algo é julgado bem devido a um hábito. De onde se conclui que
a objeção levantada não exclui a precedente resposta de
Aristóteles.
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