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De duas maneiras dizemos alguém ter ciência. De
uma primeira maneira, é dito ter ciência aquele que possui o
hábito mas não o usa, como por exemplo, o geômetra que não
considera as coisas da geometria. De uma segunda maneira, é
dito ter ciência aquele que usa a sua ciência, considerando
as coisas que são desta ciência. Ora, em muito difere que
alguém faça aquilo que não deve possuindo o hábito da ciência
mas não o usando, ou possuindo o hábito e utilizando-o
especulando. De fato, é duro que alguém aja contra aquilo que
em ato especula, não parecendo, entretanto, duro que alguém
aja contra aquilo que habitualmente sabe mas não considera.
Dois são os modos de proposição dos quais se
utiliza a razão prática, que são a proposição universal e a
proposição singular. Ora, nada parece proibir que alguém
opere contra aquilo de que tem ciência, conhecendo por
ciência tanto a proposição universal como a singular, mas que
em ato considera somente o universal e não o particular. Isto
[acontece] porque as operações são acerca do singular, de
onde que, se alguém não considera o singular, não é admirável
se fizer diferentemente.
Segundo, portanto, estes modos diversos de se ter
ciência, em tanto difere o impossível que a Sócrates parecia,
que nenhum inconveniente haverá em que alguém aja
incontinentemente possuindo ciência, no universal e também no
singular, mas em hábito e não em ato. Seria, entretanto,
inconveniente, que alguém agisse incontinentemente se tivesse
ciência em ato do singular.
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