8. Os sacerdotes na república perfeita.

O Filósofo declara quem, dentre as coisas que são necessárias à cidade, já enumeradas, resta considerar o gênero dos sacerdotes. Não convém, de fato, que na república bem ordenada o artífice, o agricultor ou os mercadores sejam constituídos sacerdotes.

O sacerdote, de fato, ordena-se à celebração do culto divino e à exibição da honra a Deus pelos súditos. Ora, é conveniente que o culto e a honra a serem exibidos a Deus [o seja] pelos cidadãos principais. Todas as coisas mais excelentes devem ser exibidas a Deus, fonte de todo o bem e de tudo o que existe, por causa de sua excelência.

Se, portanto, os agricultores, os artífices e os comerciantes não são cidadãos, conforme foi anteriormente mostrado, não convém que eles sejam [sacerdotes] na cidade bem ordenada.

Os cidadãos [da cidade perfeita], porém, haviam sido divididos em dois, isto é, os que se ordenam às armas e os conselheiros. Por causa [da idade e] da inclemência do trabalho estes abandonam suas ocupações e se afastam dos exercícios militares e dos julgamentos. Convém então que se dediquem maximamente às coisas especulativas, já que os movimentos das paixões sensíveis [nestes homens] acalmou-se completamente na maioria das coisas. Ora, como aqueles que se dedicam à honra e ao culto divino importa que tenham uma vida calma e possam se dedicar à contemplação, convém que estes cidadãos sejam então promovidos à honra do sacerdócio e que sejam indicados para esta santificação aqueles que, tendo se afastado dos trabalhos passados se tornaram eméritos por causa da honestidade dos exercícios militares, dos conselhos e julgamentos.

Deve-se entender que, assim como a natureza ordena aquele que é mais perfeito no tempo em que é mais perfeito à operação mais perfeita, assim também deve fazê-lo a arte ou a razão que imita a natureza. Ora, os homens, depois do tempo do aprendizado e do exercício do que diz respeito à disciplina, possuem uma prudência imperfeita por causa do movimento mais forte das paixões que há neles. força corporal e a magnanimidade são neles maiores por causa da juventude, o que convém mais aos [exercícios] bélicos e por isso é razoável que nesta idade o Filósofo ensine que eles devam ser ordenados à atividade bélica. Depois, na medida em que progride a idade, o calor é reprimido e de algum modo dominam os movimentos das paixões, as forças e a magnanimidade declinam segundo algo, a razão e a prudência, porém, se tornam mais vigorosas. Sedando-se e acalmando-se, a alma se torna ciente e prudente. Ora, isto convém à deliberação e ao julgamento e, por isso, segundo a razão, tais homens devem ser ordenados ao conselho e ao julgamento. Mais adiante, a idade avançando ainda mais, o calor cessando por causa do tempo e as paixões quase inteiramente mortificadas, conforme costuma-se dizer, ou definitivamente regradas por causa de um longo exercício, a força corporal se torna muito deficiente mas o vigor da inteligência atinge o máximo. Ora, é isto o que se requer de modo máximo naqueles que se ordenam ao culto divino. Convém, portanto, dispensar estes homens das ações exteriores para que possam dedicar-se ao máximo à especulação das coisas divinas e, por isso, nesta idade, tais cidadãos são convenientemente designados para o culto divino, de tal maneira que em primeiro lugar tenham se exercitado nas coisas da guerra, depois nas ações da virtude e por último terminem a vida na especulação das coisas divinas, onde corretamente se situa o fim último do homem.

O Filósofo, finalmente, recolhe o que foi determinado, dizendo que foi investigado quais são aquelas coisas que são necessárias à consistência da cidade, e quantas delas são efetivamente partes da mesma. Os agricultores, os artífices e os comerciantes, que vendem seu trabalho por dinheiro, são necessários à cidade, mas jamais poderão ser, enquanto tais, partes da mesma. Os guerreiros, os conselheiros e os sacerdotes são parte da cidade, e se diferenciam dos anteriores em todo o tempo, mas se distinguem entre si segundo as partes do tempo, de tal maneira que cada um primeiro seja ordenado à guerra, depois ao conselho e por último ao sacerdócio.