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[Muitas vezes ocorre que] alguém opere certas
coisas por causa do temor de um mal maior em que tem medo de
incorrer, ou por causa de algum bem que teme perder. Por
exemplo, se algum tirano ordena que alguém opere alguma
baixeza sob a condição de que se tal não operar será morto,
ou quando alguém numa tempestade marítima joga seus pertences
ao mar.
Frente a estas situações, coloca-se o problema de
se saber se estas coisas devem ser ditas voluntárias ou
involuntárias.
As operações acima citadas são mistas, possuindo
tanto de voluntário como de involuntário. Porém, se aproximam
mais das voluntárias do que das involuntárias. Consideradas
absoluta e universalmente, são involuntárias, porque ninguém
quererá [sem motivo] jogar suas coisas ao mar. Consideradas
segundo as circunstâncias particulares que ocorrem no tempo
em que se deve agir, elas são voluntárias. Ora, como os atos
são acerca de [coisas] singulares, a condição destes atos
mais deve ser julgada segundo as considerações singulares do
que segundo as considerações universais. Portanto, tais
operações são verdadeira e propriamente voluntárias, embora
considerando-as universalmente e de modo simples sejam
involuntárias, porque ninguém quanto é de si escolheria
operá-las se não fosse por causa do temor.
Uma outra particularidade confirma que tais
operações mais são voluntárias do que involuntárias.
Que estas operações que são feitas por causa do
medo mais são voluntárias do que involuntárias pode ser
adicionalmente visto pelo fato de que [em certas
circunstâncias] elas merecem ser louvadas [e em outras]
vituperadas, [o que não aconteceria se fossem de fato
involuntárias].
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