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Já no livro VIIIº da Física foi demonstrado que o
movente de si mesmo se constitui de duas [partes]: uma, que é
movente, e a outra, que é movida. [E isto de tal maneira que]
seja impossível que a parte movente se mova per se. Nos
animais, entretanto, a parte movente, posto que não se mova
per se, todavia é movida por acidente.
Entretanto, os antigos filósofos colocaram a alma
mover-se per se. Por isso, vamos demonstrar que isto não é
possível.
[A alma não se move a si mesma]. Os filósofos
afirmavam que a alma se move a si mesma pelo fato de que viam
que ela movia o corpo. Ora, o corpo é movido segundo uma
mutação do lugar. Portanto, a alma deveria mover-se a si
mesma segundo o lugar. Porém, a alma mover-se a si mesma
segundo o lugar significa mudar de corpo, saindo e novamente
entrando no corpo.
Entretanto, [a alma sair do corpo significa a
morte do ser vivente] e a alma entrar no corpo significa a
vivificação do corpo. Portanto, a alma mover-se a si mesma
segundo o lugar implicaria na [naturalidade] da morte e
ressurreição dos animais, o que é um absurdo.
Poderia objetar-se que não é verdade que a alma se
move pelo mesmo movimento pelo qual move o corpo, dizendo que
na verdade a alma não se move a si mesma senão pela vontade e
pelo apetite, movendo os corpos por outros movimentos. Quanto
a isto [Aristóteles] afirma que apetecer, querer e outros
tais, não são movimentos da alma, mas operações. A diferença
entre movimento e operação consiste em que o movimento é um
ato do imperfeito, a operação, entretanto, é ato do perfeito.
[Este assunto, todavia, merece especial consideração, como é
feito a seguir].
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