11. Os males que se seguiriam da lei da comunidade das posses de Sócrates.

Se as posses fossem comuns a todos os cidadãos, não seria possível que todos os cidadãos cultivassem os campos. Seria necessário que os maiores se ocupassem dos negócios maiores, enquanto que os menores se ocupassem da agricultura. Todavia, seria necessário que os maiores, que menos teriam trabalhado na agricultura, mais recebessem de seus frutos. Ora, por causa disso necessariamente se originariam acusações e litígios, na medida em que os menores, que mais teriam trabalhado, murmurariam dos maiores que, pouco trabalhando, muito receberiam, enquanto que eles mesmos, ao contrário, menos receberiam, embora mais tivessem trabalhado.

Ademais, é muito difícil que muitos homens, ao conduzirem uma vida comum, comuniquem em alguns bens humanos e principalmente nas riquezas. De fato, vemos que aqueles que comunicam em algumas riquezas têm muitas dissenssões entre si, como é evidente naqueles que viajam juntos; freqüentemente, de fato, discordam, quando fazem as contas, naquilo que gastam em comida e em bebida e às vezes por pouco se agridem e ofendem por palavras e obras. De onde que é evidente que, onde todos os cidadãos tivessem em comum todas as posses, isto [lhes seria causa para] a existência de muitos litígios.

Finalmente, os homens são maximamente ofendidos pelos servos dos quais muito necessitam para certos ministérios servis, o que ocorre por causa da comunidade da conversação da vida [que desta necessidade decorre]. De fato, aqueles que não convivem freqüentemente não se turbam com freqüência. De onde que é evidente que a comunicação entre os homens existentes é freqüentemente causa de discórdia.