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Porque alguém poderia pensar que o intelecto não
depende do sentido, o que somente seria verdadeiro se os
inteligíveis do nosso sentido fossem separados dos sensíveis
segundo o ser, o filósofo pretende mostrar que o inteligir
depende do sentido.
Já que nenhuma coisa inteligida por nós está além
das magnitudes sensíveis, como separadas delas segundo o ser,
faz-se necessário que os inteligíveis de nosso intelecto
estejam sob a espécie sensível segundo o ser, tanto aqueles
que são ditos por abstração, como os matemáticos, quanto os
naturais. Por causa disso, sem o sentido não pode nenhum
homem apreender mais ou adquirir nova ciência, ou inteligir
utilizando-se do hábito da ciência [já adquirido]. Isto
porque se faz necessário, para alguém que esteja especulando
em ato, que simultâneamente forme algum fantasma. Ora, os
fantasmas são semelhanças dos sensíveis. [Apesar, entretanto,
dos fantasmas serem semelhanças dos sensíveis], diferem dos
sensíveis porque estão além da matéria, já que o sentido é
susceptivo das espécies sem a matéria, conforme explicado
anteriormente, e a fantasia é um movimento [provocado] pelo
sentido em ato.
Daqui fica patente a falsidade da opinião de
Avicenna, de que o intelecto não necessita do sentido depois
que adquiriu a ciência. Ora, é manifesto que depois que
alguém já tenha adquirido o hábito da ciência, necessita de
usar os fantasmas para que especule. E é [justamente por
causa disso] que por uma lesão do órgão [corporal] se pode
impedir o uso de uma ciência já adquirida.
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