10. Se se pode dizer que é padecer e alterar-se o passar da primeira potência ao ato da ciência.

Também aqui não se pode afirmar que o passar da primeira potência [à segunda, que no caso é o] ato da ciência, [para o caso em questão do intelecto], seja padecer e alterar-se.

[Pode-se admitir isso de um certo modo, porém, se] se afirmar que existem dois modos de alteração:

A. Segundo uma mutação em disposições contrárias, [que é o verdadeiro padecer e alterar-se], ou

B. Segundo o serem recebidos certos hábitos e formas, que são perfeições da natureza.

Ora, aquilo que aprende a ciência não se altera nem padece pelo primeiro modo, mas sim pelo segundo].

[O filósofo passa a explicar como aquele que aprende a ciência se altera pelo segundo modo]. [À primeira vista isso pareceria falso, porque muitos passam à ciência não da simples ignorância, mas de um conhecimento de algo errôneo e contrário à verdade]. [A resposta a esta objeção consiste em que], quando alguém passa do erro à ciência da verdade, [está ocorrendo uma] certa semelhança com a alteração que vai de contrário a contrário. Todavia, [trata- se apenas de uma semelhança], pois [tal mudança] não é verdadeira alteração. Isso porque as alterações que são de contrário a contrário, o fazem assim de modo essencial, assim como o embranquecimento não se faz senão exceto em direção ao branco e a partir do negro ou de um termo médio que, em relação ao branco, é de alguma forma negro. Mas, na aquisição da ciência, aquilo que adquire a ciência da verdade pode às vezes fazê-lo sem que esteja previamente em erro, de onde fica patente que não é uma verdadeira alteração de contrário em contrário.