16. Um erro que muitos cometem.

Muitos cometem erro ao afirmarem que em todas as operações e paixões da alma o termo médio competeria à virtude, enquanto que os extremos competeriam aos vícios. Vamos mostrar o erro que existe nesta afirmação, dizendo que não é em toda a operação ou paixão da alma que pode ser encontrado um termo médio, que pertença à virtude.

Certas ações e paixões pelo seu próprio nome implicam malícia, como o alegrar-se com o mal, a mentira, a inveja, o adultério, o furto, o homicídio. Todas estas coisas e outras semelhantes são más por si mesmas, e não somente a superabundância ou o defeito [que nelas possa haver]. De onde que, a respeito destas coisas, nunca acontecerá que alguém corretamente se haverá qualquer que seja a maneira com que as opere, mas sempre fazendo estas pecará. Se não fosse assim, [como estas coisas são vícios, e os vícios] importam superabundância e defeito, seguir-se-ia que a superabundância e o defeito seria um termo médio, e daí haveria superabundância da superabundância e defeito do defeito, e assim até o infinito.

Da mesma maneira, como a temperança e a fortaleza de ser se implicam num termo médio, não se pode nelas tomar alguma superabundância ou defeito, como se alguém pudesse ser superabundantemente ou deficientemente temperante ou forte.

Em conclusão podemos colocar que não pode haver termo médio da superabundância ou do defeito, e nem no termo médio pode haver superabundância ou defeito.