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Deve-se mostrar que a matéria e a privação são
diferentes pela razão.
A privação pertence a algo de mau, e isto é
demonstrável pelo fato da forma ser algo divino, ótimo e
apetecível.
A forma é divina porque o ser divino é ato puro.
Mas as coisas estão em ato na medida em que têm forma.
Portanto, toda forma é uma participação da semelhança do ser
divino.
É ótima porque o ato é a perfeição da potência e o
seu bem.
É apetecível, porque todas as coisas apetecem pela
sua perfeição.
A privação, entretanto, se opõe à forma, não sendo
outra coisa senão a sua remoção. De onde, sendo mau aquilo
que se opõe ao bem e o remove, é manifesto que a privação
pertence ao mal.
Ora, sendo a forma algo bom e apetecível, e a
matéria, segundo a natureza, apetecendo-a, se não se
distinguir a matéria da privação, chegaremos à conclusão que
o contrário apetece a corrupção de si mesmo, o que é absurdo.
De onde fica demonstrado ser impossível que a
matéria e a privação sejam o mesmo pela razão.
Deve-se esclarecer, entretanto, porque às vezes o
torpe parece apetecer pelo bem e a fêmea parece apetecer pelo
macho.
Não é a torpeza que apetece o bem em si mesmo
contrário, a não ser por acidente, mas é aquilo ao qual
ocorre a torpeza que apetece ser bem.
Não é a feminilidade que apetece a masculinidade,
mas aquilo ao qual ocorre ser fêmea.
Da mesma maneira, a privação não apetece ser
forma, mas aquilo a quem ocorre a privação, isto é, a
matéria.
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