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Não se deve omitir se havemos de colocar somente
uma substância imaterial e eterna, ou diversas. E se
colocarmos diversas, devemos investigar também quantas são.
Além do simples movimento do universo segundo o
lugar, que é o movimento diurno, pelo qual todo o céu é
movido, e que é uniforme e simplicíssimo, e causado pela
primeira substância imóvel, encontramos alguns movimentos
segundo o local nos planetas, os quais também são eternos,
porque o corpo circular, que é o céu, é eterno. Isto é
demonstrado nos livros de ciência natural, como nos livros
de Física, e no livro "De Caelo".
Daqui concluímos que qualquer um destes
movimentos deve ser movido por um motor imóvel per se [que
seja] uma substância eterna.
Esta conclusão é necessária pelo seguinte:
porque os astros são eternos e são substâncias. De onde se
segue que os seus moventes sejam eternos e substâncias,
porque o que é anterior à substância é necessariamente
substância.
Também fica manifesto que é necessário que
quantos sejam os movimentos dos astros, tantas sejam as
substâncias, que são naturalmente eternas, imóveis per se e
sem magnitude, por causa do motivo acima assinalado, isto
é, que por moverem num tempo infinito, necessitam de uma
virtude infinita.
Assim, existem algumas substâncias imutáveis
imateriais segundo o número dos movimentos dos astros, e a
ordenação delasentre si é segundo a ordenação dos mesmos
movimentos.
Quanto à quantidade dos movimentos celestes,
isto deverá ser considerado pela astronomia, a qual é
maximamente própria para tanto dentre as ciências
matemáticas.
Cada um dos astros errantes, isto é, os
planetas, é movido por diversos movimentos e não apenas um.
Por isso é que eles são chamados de astros errantes, não
porque sejam movidos irregularmente, mas porque não sempre
conservam a mesma figura e posição às demais estrelas,
assim como as estrelas o fazem entre si, recebendo por isto
o nome de astros fixos.
De três modos podemos chegar ao conhecimento de
que os planetas são movidos por diversos movimentos. Alguns
deles podem ser apreendidos pela visão comum. Há outros que
não podem ser apreendidos a não ser pelo uso de
instrumentos e da consideração. Destes movimentos alguns se
dão em longuíssimos tempos, outros em tempos mais breves. E
há um terceiro movimento pelo qual os astros errantes são
encontrados ora numa velocidade maior, ora numa velocidade
menor, e às vezes os observamos voltarem atrás. E porque
isto não se pode dar segundo a natureza dos corpos
celestes, cujo movimento deve ser inteiramente regular, foi
necessário colocar diversos movimentos, pelos quais estas
irregularidades se reduzem à devida ordem.
Mas quantos sejam os movimentos dos planetas,
devemos dizer a este respeito aquilo que os matemáticos
dizem, segundo a opinião daqueles que mais certamente
alcançaram a verdade.
Assim, tantas quantas forem as pluralidades das
esferas e dos movimentos celestes, tantas substâncias
imateriais e princípios imóveis será razoável se colocar.
Aristóteles coloca a palavra razoável, para
dizer com isso que esta conclusão é provável, mas não se
segue por necessidade.
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