11. A localização da cidade perfeita quanto ao ar e às águas.

Depois que o Filósofo declarou o que deve ser suposto de parte da multidão civil para a reta república, quer agora declarar o que deve ser suposto para a mesma por parte de sua localização e de seus edifícios, tanto os que há dentro da cidade como no campo, e especialmente dos mais importantes.

Já foi determinado que se a cidade ótima pode ser localizada conforme se queira, importa que se comunique com o mar e com a terra do melhor modo, de maneira que possa ser ajudada no que é necessário à vida e contra os vizinhos que a queiram impugnar.

Mas, ademais, se é possível localizar a cidade conforme se queira, importa posicioná-la de modo que se volte para o oriente, para que esteja sob a ação dos ventos que sopram do oriente, os quais são mais sadios do que os outros. Os ventos orientais são mais sadios, já que a maior parte de sua matéria permanece mais tempo sob o caminho do Sol e por causa de seu calor dissolvem as nuvens, sutilizando o ar e purificando-o. O ar que procede dos charcos, nebuloso e grosso, é propício as doenças e o vento que procede do ocidente, frio e que pouco permanece sob o caminho do Sol, que na maior parte das vezes não é forte, por causa de sua frieza congrega os vapores, engrossa o ar e por causa da pouca força de seu sopro não pode espalhar as nuvens. Tudo isto não convém à boa disposição do corpo e por isso os lugares voltados para o ocidente não são salutares na maior parte dos casos.

Convém também que a cidade se incline para o norte e para os ventos boreais, o que a fará menos propensa à putrefação, porque os ventos que procedem do norte são mais sadios. A razão disto é que o vento setentrional é muito frio, seu sopro é muito forte, e por causa da força de seu sopro espalha as nuvens e os vapores grossos purificando o ar. Por causa da sua frieza congrega o calor interno fechando os poros exteriormente. Por causa do primeiro, impede a putrefação; por causa do segundo conforta a digestão, ambas estas coisas convindo à saúde. Ao contrário, o vento austral é quente e de sopro tortuoso. Por causa de sue calor eleva os vapores e abre os poros e por causa de seu trajeto tortuoso congrega as nuvens. Por isto este vento engrossa o ar, dispõe à putrefação e debilita a digestão, coisas que são princípios da doença, pelo que o vento austral não é salubre.

O fundador da cidade deve ser muito solícito quanto à saúde de seus habitantes. Em primeiro lugar e principalmente deve ser solícito quanto à boa disposição da alma; em segundo, quanto à boa disposição do corpo no que se ordena à alma.

A boa disposição do corpo ou a saúde parece ser causada em primeiro lugar pela disposição da cidade em relação a tal ou qual disposição, por exemplo, para o oriente e para o norte, por causa da boa disposição [dos ventos que daí decorre]. A saúde é causada em segundo lugar pelo uso das águas bem dispostas, por exemplo, das águas doces e leves. Por isto o fundador da cidade deve cuidar principalmente da água e do ar, e não considerar esta matéria como acessória. As coisas que na maior parte dos casos e freqüentissimamente são usadas pelos homens para sustentar a vida do corpo importam muito para a saúde e a boa disposição, e estas são a natureza das águas e do ar. A água é usada para beber per se e para comer pelo menos na medida em que é mesclada [com o alimento sólido]. O ar é necessário à respiração e, portanto, importa muito para a saúde. É necessário, portanto, que o fundador da cidade seja muito solícito quanto à disposição das águas e do ar, e talvez mais ainda quanto à disposição do ar.