III. UNIDADE E PLURALIDADE DAS SUBSTÂNCIAS IMATERIAIS


1. Se as substâncias imateriais são uma só ou muitas.

Não se deve omitir se havemos de colocar somente uma substância imaterial e eterna, ou diversas. E se colocarmos diversas, devemos investigar também quantas são.

Além do simples movimento do universo segundo o lugar, que é o movimento diurno, pelo qual todo o céu é movido, e que é uniforme e simplicíssimo, e causado pela primeira substância imóvel, encontramos alguns movimentos segundo o local nos planetas, os quais também são eternos, porque o corpo circular, que é o céu, é eterno. Isto é demonstrado nos livros de ciência natural, como nos livros de Física, e no livro "De Caelo".

Daqui concluímos que qualquer um destes movimentos deve ser movido por um motor imóvel per se [que seja] uma substância eterna.

Esta conclusão é necessária pelo seguinte: porque os astros são eternos e são substâncias. De onde se segue que os seus moventes sejam eternos e substâncias, porque o que é anterior à substância é necessariamente substância.

Também fica manifesto que é necessário que quantos sejam os movimentos dos astros, tantas sejam as substâncias, que são naturalmente eternas, imóveis per se e sem magnitude, por causa do motivo acima assinalado, isto é, que por moverem num tempo infinito, necessitam de uma virtude infinita.

Assim, existem algumas substâncias imutáveis imateriais segundo o número dos movimentos dos astros, e a ordenação delasentre si é segundo a ordenação dos mesmos movimentos.

Quanto à quantidade dos movimentos celestes, isto deverá ser considerado pela astronomia, a qual é maximamente própria para tanto dentre as ciências matemáticas.

Cada um dos astros errantes, isto é, os planetas, é movido por diversos movimentos e não apenas um. Por isso é que eles são chamados de astros errantes, não porque sejam movidos irregularmente, mas porque não sempre conservam a mesma figura e posição às demais estrelas, assim como as estrelas o fazem entre si, recebendo por isto o nome de astros fixos.

De três modos podemos chegar ao conhecimento de que os planetas são movidos por diversos movimentos. Alguns deles podem ser apreendidos pela visão comum. Há outros que não podem ser apreendidos a não ser pelo uso de instrumentos e da consideração. Destes movimentos alguns se dão em longuíssimos tempos, outros em tempos mais breves. E há um terceiro movimento pelo qual os astros errantes são encontrados ora numa velocidade maior, ora numa velocidade menor, e às vezes os observamos voltarem atrás. E porque isto não se pode dar segundo a natureza dos corpos celestes, cujo movimento deve ser inteiramente regular, foi necessário colocar diversos movimentos, pelos quais estas irregularidades se reduzem à devida ordem.

Mas quantos sejam os movimentos dos planetas, devemos dizer a este respeito aquilo que os matemáticos dizem, segundo a opinião daqueles que mais certamente alcançaram a verdade.

Assim, tantas quantas forem as pluralidades das esferas e dos movimentos celestes, tantas substâncias imateriais e princípios imóveis será razoável se colocar.

Aristóteles coloca a palavra razoável, para dizer com isso que esta conclusão é provável, mas não se segue por necessidade.