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Como o temor está no irascível, cujo objeto é o
árduo, o temor não é senão de algum mal que é de alguma forma
elevado para as faculdades do temente.
[Os males podem ser elevados para as faculdades do
homem de dois modos: estando acima do homem ou segundo o
homem].
[De um primeiro modo, estando acima do homem], [na
medida em que] excedem [a própria] faculdade do homem, pelo
que o homem não pode resistir [a este mal], como são os
terremotos, as inundações e outras coisas tais. Tais males
são terríveis para qualquer homem que os saiba, e que possua
um reto julgamento do intelecto.
[De um segundo modo, sendo] segundo o homem, na
medida em que não excedem as faculdades humanas de
resistência. Tal é o caso de uma invasão de inimigos.
[Deve-se dizer] que convém ao homem que possui um
intelecto sadio que tema os males que excedem sua capacidade
de resistência. O forte temerá estas coisas; todavia, em caso
de necessidade ou de utilidade, os enfrentará conforme
necessário, do modo como julgar a reta razão própria do
homem, de tal maneira que por causa de tais temores não se
afaste do julgamento da razão, mas enfrente tais coisas
terríveis, apesar de grandes, por causa do bem, que é o fim
da virtude.
Ocorre às vezes que alguém teme os terríveis que
estão acima do homem ou que são segundo o homem mais ou menos
do que a razão julga, e ainda mais, poderá acontecer que
coisas que não sejam terríveis sejam temidas como terríveis,
e nisto consiste o pecado do homem, que é principalmente
contra a reta razão.
Quem enfrenta o que é necessário enfrentar, e foge
por temor das coisas que é necessário evitar, e faz isto por
causa do que é necessário, e do modo pelo qual é necessário,
e quando é necessário, [este] é chamado forte.
O forte e virtuoso padece por temor e opera por
audácia, segundo o que é digno e segundo o que a reza razão
dita. De fato, toda a virtude moral é segundo a reta razão,
como já foi explicado.
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