12. Esclarece-se de uma primeira maneira a relação da virtude com o termo médio.

Chama-se posição intermediária em uma magnitude a aquilo que se encontra a igual distância entre dois extremos, a qual será sempre única e idêntica para todos.

Chama-se termo médio em relação a nós aquilo que não conota nem superabundância nem escassez ou defeito. Nesta caso, porém, o termo médio não é único e nem idêntico para todos. Por exemplo, se dez uma quantidade grande e dois é uma quantidade pequena, seis será o termo médio por relação à soma, porque seis é a média aritmética entre dez e dois.

Mas, no que diz respeito ao termo médio em relação a nós, as coisas não podem ser vistas desta maneira. Se dez proporções de alimento são excessivas e duas são deficientes, não vamos concluir que o mestre de ginástica irá prescrever seis porções de alimento a todos os atletas. De fato, uma alimentação deste tipo poderá ser, de acordo com a pessoa, excessiva ou insuficiente.

Em toda ciência operativa o homem conhecedor foge da superabundância e da deficiência, e deseja investigar aquilo que é o termo médio, não segundo a coisa, mas em relação a nós. De onde que toda ciência operativa bem faz a sua obra se segundo a intenção mira o termo médio e segundo a execução conduz a sua obra ao termo médio.

Um sinal de que é assim está em que os homens, quando fazem alguma coisa bem feita, costumam dizer que nada é para se lhe acrescentar ou retirar, quando estão querendo dizer que a superabundância ou defeito corrompem a bondade da obra, que é preservada pelo termo médio. De onde que os bons artífices operam com os olhos postos no termo médio.

Ora, a virtude é mais exata do que toda a arte, e também melhor [do que elas], assim como a natureza.

[A virtude é mais exata do que as artes] porque o costume, [que gera a virtude], se converte em natureza, e assim a virtude moral age inclinando determinadamente a uma só [coisa], assim como a natureza. As artes, ao contrário, sendo segundo a razão, podem [agir dirigindo-se] a diversos. Portanto, a virtude é mais exata do que a arte, assim como a natureza.

[A virtude é melhor do que a arte] porque pela arte o homem pode fazer a obra boa; todavia, não é da arte que lhe vêm que faça uma boa obra, porque pode ter arte e fazer uma má obra. Isto porque a arte não inclina ao bom uso da arte, assim como um gramático pode falar erroneamente. Mas pela virtude alguém não somente pode bem operar, mas pode também ser bem operante, porque a virtude inclina à boa operação, assim como a natureza. Já a arte somente dá o conhecimento da boa operação.

De onde que se conclui que, se as artes se propõe como meta um termo médio, a virtude, sendo melhor e mais exata do que as artes, também terá como meta o termo médio. E isto deve ser entendido da virtude moral, que diz respeito às paixões e operações nas quais podem ser tomadas superabundâncias, defeitos e termos médios. Assim, a virtude moral, considerada em si mesma, é um certo termo médio, e tem por meta [um certo] termo médio, na medida em que diz respeito ao termo médio e opera o termo médio.