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Muito nos deve ser querido, se possuindo tudo
aquilo pelo qual os homens parecem se tornar virtuosos,
alcancemos a virtude. Acerca disto, [os filósofos colocaram]
três opiniões. Alguns dizem que os homens se tornam bons pela
natureza, por exemplo, pela compleição natural com a
impressão dos corpos celestes. Outros dizem que os homens se
tornam bons pelo exercício. Já outros, finalmente, dizem que
os homens se tornam bons pela doutrina.
As três opiniões [acima colocadas] são de algum
modo verdadeiras, [o que pode ser mostrado conforme se
segue]. A disposição natural aproveita para a virtude,
conforme já explicado no livro sexto. Tal virtude natural, é,
porém, imperfeita, conforme explicado no mesmo livro. Para a
sua perfeição exige-se que sobrevenha a perfeição do
intelecto ou da razão. [Como, porém, não é somente a
perfeição do intelecto que] se requer à virtude, exigindo-se
também a retidão do apetite, faz-se necessário também o
costume pelo qual o apetite é inclinado ao bem.
[Podemos concluir que ] é evidente que o que
pertence à natureza não está em nosso poder. Também já foi
dito que o discurso e a doutrina não possuem eficácia em
todos, sendo necessário, para que tenham eficácia em alguém,
que a alma do ouvinte esteja preparada por muitos bons
costumes para se alegrar com o bem e odiar ao mal, assim como
é necessário para a terra que esteja bem lavrada para que se
nutra com a boa semente. De fato, o bom discurso ouvido está
para a alma assim como a semente está para a terra. Aqueles,
portanto, que vivem segundo as paixões, não ouvirão
livremente os discursos exortatórios, nem também os
entenderão, de tal maneira que julgam ser bom aquilo ao qual
são induzidos. De onde que não podem ser persuadidos por
alguém. E para que falemos universalmente, a paixão que
domina estabelecida no homem pelo costume, não cede ao
discurso somente, sendo necessário usar de violência, para
que o homem seja compelido ao bem. E assim é evidente que,
para que o discurso exortatório tenha eficácia em alguém, é
necessário pré existir o costume, pelo qual o homem adquire o
costume próprio à virtude, de tal maneira que ame o bem
honesto e abomine o que é torpe.
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