6. O homem é animal civil mais dos que as abelhas ou outros animais gregários.

O homem é animal civil, e isto mais do que as abelhas ou qualquer outro animal gregário. De fato, dizemos que a natureza nada faz em vão, porque sempre opera a um fim determinado. De onde que, se a natureza atribui a alguma coisa algo que é por si ordenado a algum fim, segue-se que aquele fim é dado à àquela coisa por natureza. Vemos, de fato, que alguns animais possuem vozes, mas somente o homem, acima dos animais, possui a fala. Mesmo que alguns animais profiram locuções humanas, todavia não falam propriamente, porque não entendem o que dizem, mas proferem tais vozes pelo uso.

Há, de fato, diferença entre a palavra e a simples voz. A voz é um sinal da tristeza ou de prazer, e por conseguinte, das demais paixões, como a ira e o temor, as quais todas se ordenam ao prazer e à tristeza, conforme se afirma no segundo da Ética. E por isso a voz é dada aos demais animais, cuja natureza alcança apenas até este ponto, [isto é], que sintam suas deleitações e tristezas e possam significá-las entre si por algumas vozes naturais, como o leão pelo rugido, o cão pelo latido, para o que nós, [homens], temos as interjeições.

Mas a fala humana significa o que é útil e o que é nocivo, do que se segue que significa o que é justo e o que é injusto. De fato, a justiça e a injustiça consistem em que alguém se adeque ou não se adeque nas coisas úteis ou nocivas. E por isso a locução é própria dos homens, porque isto lhes é próprio em comparação aos demais animais, [isto é], que tenham o conhecimento do bem e do mal e, por conseguinte, do justo e do injusto e de outras coisas semelhantes que podem ser significadas pela palavra.

Como, portanto, ao homem a fala é dada pela natureza, e a fala é ordenada a que os homens se comuniquem mutuamente no útil e no nocivo, no justo e no injusto, e em outras coisas semelhantes, segue-se, pelo fato de que a natureza nada faz em vão, que os homens se comunicam naturalmente nestas coisas. Mas a comunicação nestas coisas faz a casa e a cidade. Portanto, o homem é, por natureza, um animal doméstico e civil.