2. Para conhecer qual é a república ótima, é necessário conhecer qual seja a vida ótima.

Quem quer investigar de modo certo e conveniente sobre a república ótima simplesmente considerada, e não supostas [algumas circunstâncias], necessita considerar primeiro qual é a vida elegibilíssima simplesmente considerada, isto é, qual é a ação ótima simplesmente considerada.

Chama-se vida, de um primeiro modo, aquilo que é princípio de movimento per se. Segundo [este sentido] diz-se que a alma e a vida são o mesmo.

De um segundo modo, chama-se vida a operação procedente deste princípio intrínseco, assim como quando dizemos que sentir e inteligir são uma certa vida. Segundo [este sentido] a vida eligibilíssima do homem é a sua ação ótima segundo a mais excelente potência da alma.

A razão [pela qual para investigar qual é a república ótima é necessário considerar primeiro qual seja a vida elegibilíssima] é a seguir apontada pelo Filósofo. Se não for manifesto qual é a operação ótima do homem de modo simples, não será manifesto qual é a ótima república de modo simples, porque os que vivem otimamente na república necessariamente devem alcançar a vida ótima ou a ação ótima [do homem], seja esta considerada de modo simples, enquanto considerada segundo a exigência das disposições dos que vivem [na cidade], segundo a diversidade das quais é necessário que a ação ou fim se diversifica, assim como a ação ótima do artífice é necessário que se diversifique por causa da diversidade da matéria sobre a qual opera.

Portanto, querendo-se considerar sobre a república ótima, é necessário pré considerar, conforme é manifesto, qual é a vida ótima ou também a ação elegibilíssima para todos os homens. A força do argumento do Filósofo consiste em que, para conhecer cada coisa, é necessário pré conhecer aquelas outras a partir das quais a razão daquela é tomada per se. De fato, é por esta última, [isto é, a razão de algo], que se conhece cada coisa. Ora, a razão da república ótima é tomada do fim ótimo do homem, assim como universalmente a razão dos operáveis é tomada da razão do fim. Porém o fim da república ótima é o fim ótimo do homem, porque a república não é outra coisa do que a ordem da cidade, conforme explicado no terceiro desta Política. A razão da ordem, entretanto, é tomada do fim, de onde se segue que, para o conhecimento da república ótima, é necessário preconhecer qual seja o fim ou a ação ótima do homem.