15. O motivo pelo qual as leis de Sócrates seduziram a muitos.

As leis propostas por Sócrates parecem boas [quando consideradas em sua] superfície, e parecem amáveis aos homens por dois motivos.

O primeiro se deve ao bem que alguém espera como futuramente proveniente de tais leis. De fato, quando alguém ouve dizer que entre os cidadãos tudo será comum, recebe isto com alegria, considerando a amizade admirável que haverá por causa disso no futuro entre os homens de todos para com todos.

O segundo motivo se deve aos males que os homens consideram que seriam removidos por meio de tais leis. De fato, muitos atribuem os males que hoje se fazem nas cidades, como as querelas que há entre os homens por causa de contratos, os julgamentos baseados em falsos testemunhos, a adulação dos pobres por parte dos ricos, como tendo a sua causa no fato de que as posses não são comuns.

Mas, se alguém considerar corretamente, nenhuma destas coisas se deve ao fato das posses não serem comuns, mas sim à malícia dos homens. Ao contrário, o que se observa é que aqueles que possuem coisas em comum muito mais litigiam entre si do que aqueles que possuem posses separadas. Como, porém, são poucos aqueles que tem posses em comum em relação aos que as tem divididas, por causa disso um menor número de litígios procede da comunidade de posses. Se, entretanto, todos tivessem tudo em comum, muito maior número de litígios haveria.

O homem não deve considerar apenas quantos males são evitados por aqueles que têm as posses em comum, mas também de quantos bens estes se privam. O legislador deve tolerar alguns males para que não se impeçam bens maiores. Ora, tantos são os bens impedidos por estas leis propostas por Sócrates, que a própria convivência parece tornar-se impossível, como é evidente pelos inconvenientes acima mencionados.