13. Se o rei deve ser eleito por eleição ou sucessão.

O Filósofo ainda levanta outras questões sobre o reino. A primeira é que, se alguém disser que é ótimo para a cidade que seja governada por um só, haverá uma dúvida sobre como este deverá ser escolhido, se por eleição ou pela sucessão da descendência. O Filósofo mostra que não deve ser escolhido pela sucessão da descendência porque é duvidoso sobre os filhos que haverão de suceder o governante como eles serão. Pode acontecer que o filho seja mau e se, portanto, este único [governante] for tomado pela sucessão da descendência, ocorrerá que um [homem] mau será tomado para governar. Ora, isto é inconveniente. Portanto, no [governo real o governante] não deve ser escolhido por sucessão.

Mas talvez alguém dirá que o pai sendo bom, vendo o filho ser mau, não entregará o reino ao filho, mas a outro, removendo o próprio filho [da sucessão]. O Filósofo responde dizendo que é difícil crer nisto, a saber, que o pai dispense o filho e entregue a outro o governo. Isto, de fato, está acima da comum faculdade dos homens. Convirá que ele entregue o governo ao mais amado e o mais amado segundo a natureza é o mais próximo segundo a natureza. O filho é como um outro pai e por isso, assim como o pai mais ama a si mesmo do que a qualquer outro, assim também depois de si mais ama o filho natural do que qualquer outro, pelo que mais prontamente lhe entregará o reino do que a qualquer outro. Deve-se entender que, portanto, considerado em si mesmo, sempre será melhor que o rei seja escolhido por eleição do que por sucessão. Poderá ser o rei melhor por sucessão [apenas] por acidente.

A primeira afirmativa é manifesta do seguinte modo. Será melhor que o príncipe seja escolhido por aquele modo pelo qual, considerado em si mesmo, ocorre ser escolhido o melhor. Ora, pela eleição [mais] ocorre ser escolhido o melhor do que pela sucessão da descendência, porque o melhor, na maioria das vezes, mais encontra-se em toda a multidão do que em um só. A eleição, ademais, considerada per se, é um apetite determinado pela razão. Todavia, por acidente pode ser melhor escolher o governante pela sucessão da descendência, porque na eleição sucede haver dissensão entre os eleitores. Ademais, às vezes os eleitores são [homens] maus e, por isso, sucede que escolham um homem mau. Ademais, o costume de dominar muito contribui para que alguém se submeta a outro e por isso, reinando o pai, os [súditos] se acostumam a submeter-se ao filho. Finalmente, é muito duro e estranho que aquele que hoje é um igual, amanhã domine e seja príncipe sobre outro. Por isso, por acidente, pode ocorrer que seja melhor que um governante seja escolhido por sucessão da descendência do que por eleição.