2. Primeira razão para que os benfeitores mais amem os beneficiados do que o inverso.

Entre os benfeitores e os beneficiados acontece o mesmo que nos artífices para com as suas obras. Todo artífice ama a obra própria mais do que é amado por ela, ainda que fosse possível que a sua obra se tornasse [um ser] animado. E a isto se assemelha aquilo que acontece acerca dos benfeitores que amam àqueles a quem fazem benefícios, porque aquele que recebe o benefício de alguém é como que a sua obra, [de onde que daí é que] os benfeitores mais amam a sua obra, isto é, os beneficiados, do que o inverso.

A causa do que foi dito está em que a todos os homens o seu ser é amável e elegível. De fato, cada coisa, na medida em que ela é, é [um] bem, e o bem é elegível e amável. Ora, o nosso ser consiste em um certo ato, que é viver, e por conseguinte operar, porque não há vida sem alguma operação da vida. De onde que, [por conseguinte], a cada um é amável o operar as obras da vida. [Deve-se considerar agora, que] a obra [daquele que opera] é, de uma certa forma, o próprio fazer em ato. Porém, [conforme se mostra nos livros da Física], o ato do movente e do agente está no movido e no paciente. Portanto, os artífices, os poetas e os benfeitores amam assim a sua obra, porque amam o seu ser.