10. Objeção contra todas as razões apresentadas.

Os que dizem que o principado deve ser distribuído segundo a dignidade das riquezas não dizem a verdade nem o justo, porque se o principado é distribuído segundo a dignidade das riquezas, se ocorrer que um só homem seja mais rico do que todos os demais, ficará evidente que, segundo este modo da justiça será necessário que este homem governe. Ora. isto seria inconveniente, porque este homem, não possuindo virtude, governaria por causa das riquezas e seria injuriado por todos. Seria, ademais, altivo e soberbo. Isto é suficiente para mostrar que segundo a dignidade das riquezas não devem ser distribuídos os principados.

O mesmo pode ser dito daqueles que crêem que o principado deve ser distribuído pela dignidade da liberdade. Isto seria inconveniente porque os homens livres, já que não possuem virtude, mas apenas uma inclinação à virtude, podem possuir malícia e, deste modo, farão injúria aos demais.

A distribuição do principado também não deveria ser feita segundo a dignidade da virtude, porque se suceder que alguém segundo a virtude seja melhor do que todos os demais virtuosos que vivem na cidade, este deveria governar e dominar. Ora, isto seria inconveniente, porque seguir-se-ia que os demais seriam desonrados e com isto se seguiriam sedições e turbações na cidade. Isto mostra que a distribuição do principado não deve ser feita segundo a dignidade da virtude.

Algo semelhante pode ser dito contra os que argumentam que o principado deve ser distribuído segundo a dignidade da multidão. Se a causa pela qual a multidão deve dominar consiste em ser ela mais rica e melhor, então se houver um homem que seja mais rico do que todos os outros, ou mesmo muitos ou poucos, ficaria manifesto que este homem ou estes poucos homens deveriam governar e dominar mais do que toda a multidão. Mas neste caso seguir-se-ia que todos os demais seriam desonrados, pelo que se seguiriam sedições e revoltas na cidade. Ora, estas coisas corrompem a cidade.