8. Primeira dúvida sobre as qualidades requeridas para a perfeição do governante.

[Sobre as perfeições requeridas para o governante o Filósofo levanta duas dúvidas, das quais a primeira é a seguinte]. Se um só e mesmo governante não possui todas as [três] perfeições [requeridas para a perfeição], mas um possui apenas uma [das três] e outro possui outra, a quem deverá ser atribuído o principado?

Ou seja, se houver um só que possua a potência militar, mas seja sem virtude, sendo mau e inimigo da república, enquanto haja outro que seja virtuoso e ame a república, porém seja impotente, a quem deverá ser atribuído o principado?

O Filósofo resolve esta dúvida dizendo que na eleição do príncipe é necessário considerar que o principado toma a sua razão da parte do fim e as coisas que se ordenam ao fim tomam sua razão do próprio fim. Por isso deve ser tomado como príncipe aquele que possui aquele segundo o que mais possa ser alcançado o fim da república. E por isso na milícia ou na condução do exército mais deve ser considerada a experiência do que a virtude, porque pela experiência nas armas mais será possível alcançar o fim da república do que pela virtude. Os homens virtuosos, de fato, na maioria das vezes são poucos experientes nas coisas da guerra, embora sejam muito melhores. Por isso, para o principado [militar] mais deve ser escolhido aquele que possui a experiência com uma prudência imperfeita do que aquele que possui a virtude perfeita mas não possui a experiência. Mas na custódia ou no governo da cidade e na administração do erário deve ser escolhido aquele que possui a virtude, porque neste principado requer-se mais a virtude do que a experiência, a qual é possuída por muitos. A ciência, porém, [deve] ser comum a todos; é necessário que os governantes tenham ciência tanto na condução do exército como no governo da cidade, de outro modo não poderão dirigir ao fim pretendido as coisas que se ordenam ao fim.