XI. COMO A PRUDÊNCIA NÃO PODE EXISTIR SEM A VIRTUDE MORAL, E A VIRTUDE MORAL NÃO PODE EXISTIR SEM A PRUDÊNCIA


1. Como a prudência não pode existir sem a virtude moral.

[Para que o homem seja virtuoso, requer-se a virtude moral e um outro princípio operativo]. Já foi dito que a virtude moral faz a eleição reta quanto à intenção do fim, enquanto que as coisas que são feitas por causa do fim não pertencem à virtude moral, mas a uma outra potência, isto é, a um outro princípio operativo que encontra os caminhos que conduzem ao fim. Desta maneira, tal princípio [operativo] é necessário para que o homem seja virtuoso.

Há, assim, um princípio operativo, que é chamado dinótica, que significa engenhosidade ou indústria, que é tal que por ela o homem pode operar as coisas que se ordenam à intenção que o homem pressupõe, seja boa ou má, alcançando o fim através destas coisas que são operadas. Se a intenção é boa, tal engenhosidade é louvável. Se a intenção é má, é chamada de astúcia que soa como algo mau, assim como a prudência soa como algo bom.

A prudência não é de todo a mesma coisa que a dinótica. Todavia, [a prudência] não pode existir sem a dinótica, mas na alma, a este princípio cognoscitivo que é a dinótica, o hábito da prudência não é feito sem a virtude moral, que se relaciona sempre para com o bem, conforme foi explicado. E a razão disto é evidente, porque assim como os silogismos especulativos têm seus princípios, assim também é princípio dos demais operáveis que tal fim seja bom e ótimo, qualquer que seja o fim pelo qual alguém opere. Assim, ao que é temperante é ótimo e é um princípio alcançar o termo médio na concupiscência do tato. Mas isto somente parecerá ótimo ao virtuoso que possui o correto julgamento acerca dos fins, já que a virtude moral faz a reta intenção acerca do fim, enquanto que a malícia, oposta à virtude, perverte o julgamento da razão e faz mentir acerca dos fins, que são princípios acerca [do que é] prático. Ora, ninguém pode corretamente silogizar se errar acerca dos princípios. Como, portanto, pertence ao prudente corretamente silogizar dos operáveis, torna-se manifesto que é impossível ser prudente aquele que não é virtuoso, assim como não pode ter ciência aquele que errar acerca dos princípios da demonstração.