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A benevolência também não é o amor de amizade, o
que pode ser mostrado de duas maneiras.
[Primeiro porque] a benevolência não possui
[deleitação] da alma, nem apetite, isto é, paixão no apetite
sensitivo, que distende pelo seu ímpeto a alma como com certa
violência, movendo a algo. De fato, isto acontece nas paixões
do amor, não porém, na benevolência, que consiste num
simples, movimento da vontade.
[Segundo porque] o amor de amizade [assim] se
torna pelo costume. De fato, o amor de amizade importa num
certo ímpeto veemente da alma, conforme já foi explicado.
Porém a alma não costuma ser movida a algo de modo veemente
imediatamente, sendo conduzida a mais gradativamente. Por
isso, o amor de amizade cresce por um certo costume. Já a
benevolência, por implicar num simples movimento da vontade,
pode fazer-se repentinamente, como acontece aos homens que
assistem às lutas dos atletas. De fato, tornam-se benévolos a
um ou outro dos lutadores, os quais têm prazer em considerar
que este ou aquele vencerá. Todavia, nenhuma obra fariam para
que isso acontecesse, porque os homens são repentinamente
benévolos e amam superficialmente, isto é, somente segundo um
débil movimento da vontade, não se lançando à obra.
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