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Entre os Lacedemônios o principado dos anciãos era
reprovável, em primeiro, porque estes permaneciam
perpetuamente neste principado. Se, de fato, pudessem ser
encontrados anciãos que fossem tão virtuosos e
suficientemente instruídos à bondade viril, poderia talvez
alguém dizer que seria útil para a cidade que permanecessem
perpetuamente no principado. No entanto, mesmo que houvesse
homens tão perfeitamente virtuosos, seria temerário para a
cidade a existência de quem possuísse domínio e poder sobre
as grandes decisões da cidade por toda a sua vida. Isto
porque, assim como a virtude do corpo debilita-se pela
velhice, assim também no mais das vezes a da mente, já que,
depois que os homens envelhecem, deixam de possuir aquela
força de ânimo e aquela vivacidade de engenho que possuíam na
juventude, devido à debilidade das virtudes sensitivas que
estão a serviço da parte intelectiva. Com muito mais razão
será temerário que alguns governem por toda a vida se são
instruídos no bem como o eram os Lacedemônios, de tal modo
que nem o legislador confiava completamente neles como
confiaria em homens [inteiramente] bons, já que não foi capaz
de lhes confiar todas as coisas. Seria melhor que tivessem
alguma correção de modo que, se eram encontrados deficientes,
pudessem ser removidos. Tal como este principado existe
atualmente, ninguém pode ser dele removido.
Os Lacedemônios tinham, entretanto, alguma
correção para o principado dos anciãos, porque o principado
dos éforos podia corrigir a todos os demais principados,
impedindo, a saber, que suas sentenças tivessem efeito, mas
esta era uma disposição má, [não obstante] fosse a máxima
dignidade dos éforos. O Filósofo se refere, de fato, a outro
tipo de correção, [não pela qual se anule apenas o efeito de
uma sentença, mas pela qual o próprio governante] pode ser
[completamente] removido [se se mostra incapaz]. Este poder,
[entre os Lacedemônios], era negado inclusive aos éforos.
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