6. Como se dá o ato da fortaleza.

Como o temor está no irascível, cujo objeto é o árduo, o temor não é senão de algum mal que é de alguma forma elevado para as faculdades do temente.

[Os males podem ser elevados para as faculdades do homem de dois modos: estando acima do homem ou segundo o homem].

[De um primeiro modo, estando acima do homem], [na medida em que] excedem [a própria] faculdade do homem, pelo que o homem não pode resistir [a este mal], como são os terremotos, as inundações e outras coisas tais. Tais males são terríveis para qualquer homem que os saiba, e que possua um reto julgamento do intelecto.

[De um segundo modo, sendo] segundo o homem, na medida em que não excedem as faculdades humanas de resistência. Tal é o caso de uma invasão de inimigos.

[Deve-se dizer] que convém ao homem que possui um intelecto sadio que tema os males que excedem sua capacidade de resistência. O forte temerá estas coisas; todavia, em caso de necessidade ou de utilidade, os enfrentará conforme necessário, do modo como julgar a reta razão própria do homem, de tal maneira que por causa de tais temores não se afaste do julgamento da razão, mas enfrente tais coisas terríveis, apesar de grandes, por causa do bem, que é o fim da virtude.

Ocorre às vezes que alguém teme os terríveis que estão acima do homem ou que são segundo o homem mais ou menos do que a razão julga, e ainda mais, poderá acontecer que coisas que não sejam terríveis sejam temidas como terríveis, e nisto consiste o pecado do homem, que é principalmente contra a reta razão.

Quem enfrenta o que é necessário enfrentar, e foge por temor das coisas que é necessário evitar, e faz isto por causa do que é necessário, e do modo pelo qual é necessário, e quando é necessário, [este] é chamado forte.

O forte e virtuoso padece por temor e opera por audácia, segundo o que é digno e segundo o que a reza razão dita. De fato, toda a virtude moral é segundo a reta razão, como já foi explicado.