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Um fim não somente é bem, mas é ótimo, quando é de
uma tal natureza que todas as demais coisas são desejadas por
causa desse fim, e este fim é desejado por causa de si mesmo,
e não por causa de alguma outra coisa. Demonstra-se por
redução ao impossível que é necessário que exista um fim
ótimo nas coisas humanas.
Já foi mostrado precedentemente que existem fins
na vida humana que são desejados por causa de outros, [ aos
quais se subordinam]. Portanto, faz-se necessário, ou que se
alcance algum fim que não é desejado por causa de nenhum
outro, ou que não se alcance algum fim que não é desejado por
causa de nenhum outro. Se um fim assim é alcançado, está
demonstrada a proposição de que existe um fim ótimo nas
coisas humanas. Se um fim assim não é alcançado, seguir-se-ia
que todo fim seria desejado por causa de um outro fim. E
assim faz-se necessário prosseguir até o infinito. Mas é
impossível que se prossiga nos fins até o infinito, [como
será demonstrado abaixo]. [Logo, também se seguirá daí que
existe um fim ótimo nas coisas humanas]. Porque é impossível
que se prossiga nos fins até o infinito, pois se se prossegue
infinitamente nos desejos dos fins, nunca se chegará a que o
homem alcance os fins desejados. Mas é em vão que alguém
deseja aquilo que não pode conseguir. Portanto, o fim dos
desejos seria frustrado e em vão. Ocorre, porém, que este
desejo é natural, e seguir-se-ia por causa disso que este
desejo seria vazio e inútil. Ora, isto é impossível, porque
os desejos naturais nada mais são do que uma inclinação
inerente às coisas devido à ordenação do primeiro movente, a
qual não pode ser frustrada. Portanto, será impossível que se
prossiga nos fins até o infinito.
Assim, é necessário concluir que é necessário
existir algum fim último, por causa do qual todas as demais
coisas são desejadas, e o mesmo não é desejado por causa de
nenhum outro. Faz-se, portanto, necessário que exista um fim
ótimo para as coisas humanas.
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