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A intemperança mais se assemelha ao voluntário do
que o temor, porque ela apresenta mais de voluntário. O que
pode ser visto pelo fato de que cada um se deleita naquilo em
que age voluntariamente, enquanto se entristece naquilo que é
involuntário. Ora, o intemperante age por causa da deleitação
de que tem concupiscência, enquanto que o tímido age por
causa da tristeza da qual foge. Assim fica evidente que a
intemperança é movida por aquilo que é voluntário per se,
enquanto que a timidez é movida por aquilo de que se foge, e
que é involuntário [per se]. Portanto, a intemperança mais se
aproxima da voluntariedade do que a timidez.
[Conclui-se do que foi dito que a intemperança é
mais reprovável do que a timidez]. Como ao que é voluntário
devemos louvor no que é bom e vitupério no que é mal,
conclui-se que o vício da intemperança é mais reprovável do
que o vício da timidez, que tem menos de voluntário. [Porém,
existe] mais uma outra razão para [se afirmar que a
intemperança é mais reprovável do que a timidez].
[Uma outra razão pela qual a intemperança é mais
reprovável do que a timidez é a seguinte]. Um vício é tanto
mais reprovável quanto mais facilmente possa ser evitado.
Ora, qualquer vício pode ser evitado pelo costume ao
contrário. [E quanto a isto], é fácil acostumar-se a bem
operar nas coisas que dizem respeito à temperança, por duas
razões. Primeiro, porque as coisas deleitáveis da comida e da
bebida e outras tais ocorrem muitas vezes na vida humana. De
onde que não falta ao homem ocasião para bem acostumar-se a
operar acerca de tais [coisas]. Segundo, porque acostumar-se
a bem operar acerca de tais coisas não apresenta perigo. De
fato, não é grande perigo se alguém algumas vezes se abstém
do que é deleitável ao tato. De onde se conclui que o vício
da intemperança é mais reprovável do que o da timidez.
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