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Conclui-se de tudo quanto foi dito que esta dúvida
que foi acima levantada tem algum fundamento. Certas
distinções entre a liberdade e a servidão não são segundo a
natureza, mas segundo a lei, enquanto que outras há que são
segundo a natureza. Nestas últimas convém que alguém sirva e
que outro domine, e isto também é justo, porque é oportuno
que cada um se submeta ou governe segundo sua aptidão
natural. Vemos que o mesmo convém à parte e ao todo, isto é,
[convém que] a parte esteja contida no todo e,
semelhantemente, convém para o corpo e a alma que o corpo
seja regido pela alma. Ora, conforme dissemos acima, o servo
se compara ao senhor assim como o corpo à alma, e também um
se compare a outro como uma parte [ao todo], como se fosse um
órgão animado e fosse uma parte separada do corpo.
É evidente, pois, por [todas estas] premissas, que
ao servo e ao senhor que são dignos de ser tais segundo a
natureza convém mutuamente para ambos que um seja senhor e
outro seja servo e por isso pode haver amizade entre ambos,
porque a comunicação de ambos naquilo que convém a ambos é
razão de amizade. Mas para aqueles que não estão deste modo
um para o outro segundo a natureza, mas apenas segundo a lei
e a violência, a disposição entre ambos é a contrária, porque
não têm amizade mútua, nem lhes convém que um seja senhor e
outro seja servo.
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