2. A natureza do intelecto possível. I.

[Acerca do intelecto], os antigos filósofos tiveram duas opiniões acerca deste ponto. A primeira, de que, já que o intelecto conhece tudo, deve ser composto de todos os princípios. A segunda, de que o intelecto é simples e não misturado, não apresentando nada de comum com as coisas corporais.

[Mas, na posição de Aristóteles], pelo fato de que o intelecto [possível] não é inteligente em ato, mas em potência, o Filósofo conclui que, pelo fato de que o intelecto intelige em potência a todas as coisas, ele não pode ser misturado com as coisas corporais, mas deve ser não misturado, [não composto de princípios materiais].

[A explicação disto é que] tudo o que está em potência a alguma coisa e é recptivo desta alguma coisa, carece daquilo a que está em potência e do que é receptivo. [Por exemplo], a pupila, que está em potência em relação às cores, e é receptiva das cores, carece de toda a cor. Ora, o intelecto está em potência ao inteligível e é receptivo dos inteligíveis assim como o sentido ao sensível. Portanto, carece de todas aquelas coisas para as quais está apto a inteligir. O intelecto é apto para inteligir todas as coisas sensíveis e corporais. Portanto, e necessário que careça de toda a natureza corporal, assim como o sentido da visão carece de toda a cor. Se, de fato, o sentido da visão tivesse alguma cor, aquela cor lhe impediria de ver outras cores. Assim também o intelecto, se tivesse alguma natureza determinada, esta natureza lhe proibiria de conhecer as demais naturezas.

Conclui-se, portanto, que o intelecto somente apresenta esta natureza, que é possível em relação a tudo. E porque o intelecto não é cognoscitivo de um único gênero de sensível, mas universalmente de toda a natureza sensível, assim como a visão carece de um certo gênero de sensível, assim importa que o intelecto careça de toda a natureza sensível.

[Como observação final, o Filósofo coloca que], para que não se creia que isto seja verdade de qualquer intelecto, que seja em potência a todos os inteligíveis, antes que intelija, [Aristóteles] observa que ele está falando do intelecto pelo qual a alma opina e intelige. Esta observação é para que se preserve o intelecto divino, que não é em potência, mas de alguma forma é intelecto de tudo.