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[A segunda questão levantada pelo Filósofo sobre a
monarquia] é sobre o poder do governante na monarquia real.
Pode duvidar-se se convém que este governante tenha poder
pelo qual possa punir e obrigar os rebeldes que não querem
obedecer-lhe, ou como deve agir e dispensar no governo
[acerca desta questão].
O Filósofo diz que convém que este governante
tenha poder para punir os rebeldes, coisa manifesta, porque
vemos que o governante segundo a lei, nada fazendo segundo a
[sua] vontade além da lei, convém que tenha poder pelo qual
puna os que não querem obedecer à lei ou os que agem contra a
lei. Por este motivo, semelhantemente, convém que aquele que
reina segundo a sua vontade, como ocorre na monarquia real,
tenha poder para punir os que não querem obedecer-lhe.
É manifesto, de fato, que convém que ele tenha
poder e um poder maior do que o poder de um só porque, se não
o tivesse maior, não poderia punir a este ou a aqueles, se
não lhe quisessem obedecer.
Ademais, convém que ele tenha um poder maior do
que muitos simultaneamente, de outro modo não poderia puní-
los. Menor, todavia, do que o poder de toda a cidade em
relação à multidão porque, se o rei tivesse maior poder do
que a cidade, a oprimiria e converteria o governo em tirania.
Assim fizeram alguns antigos quando colocaram alguém como
rei: deram-lhe a guarda de um poder maior do que um só ou
muitos simultaneamente, menor, porém, do que toda a cidade.
Semelhantemente quando um outro, chamado Dionísio, pediu
guardas à cidade de Siracusa, preocupou-se em que lhe fossem
dados tantos guardas que não excedessem o poder da cidade ou
da multidão, nem a oprimissem, mas que fossem em poder
maiores do que um só ou muitos.
Assim, portanto, é manifesto que o que governa
segundo a lei convém que tenha poder para punir os rebeldes.
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