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Tudo o que é movido é divisível em coisas que são
sempre divisíveis. Isso foi demonstrado no livro VI. Ora, nas
coisas divisíveis podem ser achadas um todo e uma parte.
Portanto, se existe algo que move a si mesmo, nele deve-se
encontra um todo e uma parte. Mas o todo não pode mover o
todo. Isso é demonstrado de duas maneiras mais abaixo.
Portanto, naquilo que move a si mesmo, uma parte move e outra
parte é movida.
[Que o todo não pode mover o todo, demonstra-se do
seguinte modo]. Se uma coisa move a si mesmo tal qual o todo
move o todo, então segue-se que o movente e a coisa movida
são um e o mesmo em relação a um e mesmo movimento. Mas isso
é inconsistente, porque um movente e uma coisa movida são
opostos um para com o outro.
Mas opostos não podem estar na mesma coisa da
mesma maneira, porque quando uma coisa tanto move como é
movida, o movimento pelo qual ela move é diferente do
movimento pelo qual ela é movida. Por exemplo, quando um
pedaço de madeira que é movido por uma mão move uma pedra, o
movimento do pedaço de madeira e o movimento da pedra são
diferentes em número.
[Pode-se demonstrar ainda o mesmo de uma segunda
maneira].
Conforme explicado no livro III, aquilo que é
movido é móvel, isto é, existe em potência, já que aquilo que
é movido é movido na medida em que está em potência e não em
ato. Uma coisa é movida porque, quando ela está em potência,
tende em direção ao ato.
Mas aquilo que é movido não está em potência de
tal maneira que não esteja de maneira alguma em ato, porque o
movimento em si mesmo é um certo ato do objeto móvel na
medida em que ele é movido. Este ato, porém, é imperfeito,
porque é o ato [do móvel] na medida em que ele está ainda em
potência.
Por outro lado, aquilo que move já está em ato,
porque o que está em potência é reduzido ao ato somente por
aquilo que está em ato. Por exemplo, um movente esquenta
quando ele está quente, e o que tem uma espécie gerada é o
que gera, como quando um homem gera aquilo que tem a espécie
humana.
Portanto, se um todo move a si mesmo como um todo,
segue-se que a mesma coisa em relação ao mesmo é tanto quente
como não quente, porque na medida em que é movente está
quente em ato, e na medida em que é movido está quente em
potência. Portanto, se uma coisa move a si mesma como um
todo, segue-se que a mesma coisa está simultaneamente em ato
e em potência, o que é impossível.
[Podemos, por conseguinte, concluir que], já que o
todo não pode mover o todo, e algo que move a si mesmo é
composto de partes, por ser divisível tudo aquilo que se
move, conclui-se que naquilo que move a si mesmo, uma parte
move e outra é movida.
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