7. A cidade é anterior, segundo a natureza, à casa e ao homem singular.

É necessário que o todo seja anterior à parte, pela ordem da natureza e da perfeição. [Esta afirmação pode ser demonstrada porque], destruído o homem todo, não permanece nem o pé nem a mão, a não ser equivocamente, no mesmo sentido em que uma mão esculpida em pedra pode ser chamada de mão. Isto ocorre porque tais partes se corrompem ao ser corrompido o todo. Ora, aquilo que se corrompe não retém a espécie da qual é tomada a razão pela qual as coisas se definem. De onde que é evidente que para estas coisas não permanece a mesma razão do nome e, portanto, tais nomes são predicados equivocamente.

Pode-se mostrar, ademais, que corrompido o todo, a parte se corrompe, porque toda parte é definida pela sua operação e pela virtude pela qual opera, assim como, [por exemplo], a definição de p[é é que seja um membro orgânico tendo a virtude de caminhar. Portanto, por não ter mais tal virtude ou operação, não pode ser o mesmo segundo a espécie, sendo dito pé apenas equivocamente.

É evidente, pois, que o todo é naturalmente anterior às partes da matéria, embora as partes sejam anteriores pela ordem da geração.

Ora, os homens singulares comparam-se a toda a cidade como as partes do homem ao homem, porque assim como a mão e o pé não podem existir sem o homem, assim também nenhum homem pode ser por si mesmo suficiente para que viva separado da cidade.

Se ocorrer, porém, que alguém não possa comunicar- se com a sociedade civil por causa de sua depravação, este será alguém menos do que um homem, e comparável a uma fera. Se o mesmo ocorre, porém, porque de nada necessita e tem a suficiência por si mesmo, e este é o motivo pelo qual não é parte da sociedade, este alguém será mais do que um homem; será, de fato, quase como um certo deus.

Conclui-se, portanto, pelas premissas, que a cidade é anterior segundo a natureza a um só homem.