11. A preservação da república da corrupção por causa da ignorância e do descostume.

Entre todos os elementos o máximo e eficacíssimo para salvar a república consiste em aprender as leis e as coisas que se ordenam à república e acostumar-se a elas. O motivo por que importa tanto acostumar-se a elas está em que as coisas em que os homens são acostumados lhes são deleitáveis, mais lhes agradam e mais são por eles amadas. Ora, as coisas que mais são amadas mais se salvam. Se, porém, os homens não forem acostumados e eruditos na república e nas leis que significam a ordem da república, por exemplo, se os que vivem no estado de poucos não tiverem o costume e a erudição das leis do estado de poucos, e os que vivem no estado popular não tiverem o costume e a erudição das leis do estado popular, nenhuma utilidade haverá para eles de qualquer bondade e glória que houver em suas leis.

Acontecerá, deste modo, em uma tal cidade em que há leis ótimas, mas os cidadãos não estejam acostumados nelas, o mesmo que ocorre no homem incontinente. No homem incontinente ocorre que, embora ele tenha o reto julgamento da razão de algum modo, porque, todavia, ele segue o ímpeto das paixões, de nada lhe serve a retidão da razão. Semelhantemente ocorre no caso de que tratamos. Embora a cidade possua boas leis, se todavia não houver cidadãos acostumados e eruditos nas mesmas, estas não lhes serão de nenhuma serventia, porque não agirão segundo as mesmas. Devem ser ensinados e acostumados não naquelas coisas às quais, se puderem ser alcançadas, se deleitarão tanto os que pertencem à potência de poucos como ao estado popular, mas naqueles em que, ao tornarem-se eruditos, poderão guardar a república. Ora, atualmente nas cidades observa-se o contrário; no estado de poucos os filhos dos ricos são educados nas delícias e se inclinam às mesmas e nelas se deleitam, enquanto que os pobres são acostumados ao que é trabalhoso. É claro que deste modo os filhos dos ricos e os filhos dos pobres poderão e quererão mais viver insolentemente quanto à república. Não devem, portanto, ser ensinados nestes casos.