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Tanto os populares quanto os sábios concordaram
entre si ao afirmarem que o sumo bem dos homens é a
felicidade. [Ao passarmos, porém, a declarar o que seja esta
felicidade, estas opiniões começam a diferir entre si].
A primeira diferença está em que a multidão do
povo não sente o mesmo que os sábios acerca da felicidade. Os
populares estimam a felicidade ser alguma das coisas que lhes
são manifestas e abertas, as quais não necessitam de
explicações elucidativas, como o prazer, a riqueza, a honra e
outras tais. Quanto à opinião dos sábios a este respeito,
será colocada mais abaixo.
A segunda diferença está em que os populares entre
si também não sentem o mesmo acerca da felicidade. De fato,
homens diferentes estimaram ser a felicidade este ou aquele
bem sensível, como os avarentos a riqueza, os intemperantes o
prazer, os ambiciosos a honra.
A terceira diferença está em que , no povo, os
doentes, que carecem de saúde, estimam ser a saúde o sumo
bem, e pela mesma razão, os mendigos julgam as riquezas ser o
sumo bem, assim como aqueles que reconhecem sua ignorância
julgam ser felizes os que podem dizer algo de grande, que
exceda as suas inteligências. [Isto acontece devido ao fato
da] indigência de algum bem aumentar o desejo [deste bem nas
pessoas].
Já, porém, os sábios platônicos, para além destes
bens sensíveis, julgaram existir um bem que é bem por si
mesmo, [e não por causa da indigência em alguma pessoa deste
certo bem], ou seja, que fosse a própria essência da bondade
separada.
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