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[O mal acontece de muitas maneiras, o bem,
entretanto, de uma única].
De muitas maneiras alguém pode pecar, mas agir
corretamente ocorre somente de um único modo. Isto acontece
porque o mal, que é incluído na razão do pecado, pertence,
segundo os filósofos pitagóricos, ao infinito, mas o bem,
segundo eles, pertence ao finito. O que pode ser entendido
assim: o bem acontece por uma única e íntegra causa, mas o
mal por defeitos singulares. Por exemplo, a feiúra, que é o
mal da forma corporal, acontece quando qualquer membro do
corpo se achar indecente. Mas a beleza não se dá a não ser
que todos os membros sejam bem proporcionados e coloridos.
A doença, que é o mal da compleição corporal,
provém da singular desorganização de qualquer humor. Já a
saúde não surge exceto de uma devida proporção de todos os
humores.
E, de modo semelhante, o pecado acontece nas ações
humanas, em havendo qualquer circunstância desordenada, tanto
segundo a superabundância como segundo o defeito. Mas a sua
retidão não se dará a não ser ordenando todas as
circunstâncias do modo devido. De onde vêm que pecar é fácil,
porque isto acontece de muitas formas, mas agir corretamente
é difícil, porque isso não acontece a não ser de uma única
forma.
[Do que foi dito se conclui que a superabundância
e o defeito pertencem à malícia, enquanto que o termo médio à
virtude]. É evidente que a superabundância e o defeito
acontecem de muitas maneiras, enquanto que o termo médio
pertence à virtude, porque o bem ocorre sempre de um só modo,
conforme foi explicado, mas o mal de múltiplas maneiras,
conforme também foi explicado.
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