12. A fortaleza militar.

[A fortaleza militar provém da experiência]. Nas [coisas] singulares a experiência parece ser uma certa fortaleza. De fato, em qualquer negócio aquele que tem experiência opera com audácia e sem temor. Por causa disso Sócrates colocou que a fortaleza fosse ciência, que pode ser adquirida também por experiência. Assim, portanto, nas coisas da guerra, os soldados são fortes por experiência.

[A primeira conseqüência do fato da fortaleza militar provir da experiência consiste no seguinte]. Na guerra existem muitas coisas grandes, que incutem temor aos inexpertos, embora apresentem pouco ou nenhum perigo. É o caso do barulho das armas, do ajuntamento dos cavalos, e outras assim. Estas coisas são conhecidas não serem terríveis maximamente através da experiência. Daí se segue que algumas pessoas que se intrometem sem temor nestas coisas parecem fortes, enquanto que as mesmas parecem perigosas aos inexpertos, por desconhecerem o que sejam.

[Uma segunda conseqüência do fato da fortaleza militar provir da experiência consiste em que] os soldados sabem por experiência o que podem fazer, isto é, atingir os adversários, sem ser atingidos por eles, protegendo-se dos golpes dos inimigos e golpeando-os na medida em que podem corretamente utilizar as armas. De onde se segue que [os soldados que têm fortaleza por experiência] lutam com os outros como os armados com os desarmados.

[Comparando a fortaleza militar com a fortaleza política, pode-se dizer que] os soldados agem com fortaleza enquanto não percebem a iminência de perigo. Mas quando o perigo excede a perícia que eles possuem nas armas, ou quando não têm consigo a multidão ou outros equipamentos bélicos, então se tornam tímidos. E então são os primeiros a fugirem. De fato, não eram audazes senão porque pensavam que o perigo não lhes era iminente. Mas aqueles que são civilmente fortes morrem permanecendo no perigo, por reputarem ser desonesta a fuga, mais escolhendo a morte do que salvar-se fugindo. Já os militares a princípio se expõem aos perigos, por se estimarem mais poderosos. Mas depois de reconhecerem que os adversários são mais poderosos do que eles, fogem, mais temendo a morte do que a fuga torpe. Ora, não é assim com o forte, o qual mais teme a torpidez do que a morte.