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O Filósofo inicia o Livro sobre a Interpretação
por um tratado sobre a significação das vozes, dizendo:
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"As coisas, portanto, que estão nas vozes,
são sinais das paixões que estão na alma;
e as coisas que se escrevem são sinais
das coisas que estão nas vozes".
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O Filósofo propõe aqui três coisas, de uma das quais pode-se
inferir uma quarta. Propõe, de fato, a escritura, as vozes e
as paixões da alma. Das paixões da alma, porém, podem
inferir-se as coisas ou a realidade, pois as paixões da alma
procedem da impressão de algum agente e assim devemos dizer
que as paixões da alma tem sua origem das próprias coisas ou
realidade.
Se o homem fosse naturalmente um animal solitário,
ser-lhe-iam suficientes as paixões da alma, pelas quais se
conformaria às próprias coisas, de tal modo que, por meio
delas, tivesse em si a notícia das coisas.
Mas porque o homem é naturalmente animal político
e social, é necessário que as concepções de um homem possam
ser manifestadas aos demais, o que se faz pela voz. Por isso
fazem-se necessárias as vozes significativas, isto é, para
que os homens convivam entre si. De fato, aqueles que falam
línguas diversas não podem conviver bem entre si.
Se o homem, porém, se utilizasse apenas do
conhecimento sensível, que diz respeito apenas ao aqui e
agora, a voz significativa ser-lhe-ia suficiente para
conviver com os demais, assim como o fazem os demais animais
que por algumas vozes manifestam suas concepções entre si. O
homem, porém, utiliza-se também do conhecimento intelectual,
o qual abstrai das determinações do aqui e agora.
Conseqüentemente, sua solicitude não se restringe apenas às
coisas presentes segundo o aqui e agora, mas também às coisas
que são distantes pelo lugar e futuras pelo tempo. Por isto,
para que o homem manifeste suas concepções também aos que lhe
são distantes pelo lugar e aos que lhe hão de vir num tempo
futuro, é-lhe necessário o uso da escritura.
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