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Os homens não são injuriados pelos demais apenas
para que estes consigam obter o necessário à vida. Esta, de
fato, é a primeira [causa pela qual os homens se injuriam],
para cujo remédio Faléias colocava que deveria haver a
igualdade de riquezas entre os cidadãos, e assim que todos
tivessem o necessário de modo que um homem não espoliasse o
outro por causa do frio ou da fome.
Os homens, porém, injuriam-se uns aos outros para
que possam fruir das deleitações alheias e assim não fiquem
desejando coisas que não possam obter imediatamente. De fato,
quando há homens que possuem concupiscências de mais coisas
temporais do que as necessárias, para satisfazerem a sua
cobiça, injuriam os outros tirando-lhes os bens pela força ou
pelo dolo.
Os homens também injuriam-se porque alguns querem
gozar dos prazeres de tal maneira que não padeçam nenhuma
tristeza. Por este motivo os homens são injuriados por
aqueles que temem que se lhes possam inflingir tristezas ou
serem oprimidos.
É necessário, portanto, para a paz da cidade, que
o legislador cogite remédios contra estas três causas de
injúria.
Aqueles que são injuriados por causa da aquisição
do necessário terão por remédio uma pequena posse e a
operação própria pelas quais cada um adquire o necessário
para o sustento da vida. A natureza, de fato, se contenta com
pouco.
Para aqueles que são injuriados por causa da
concupiscência das deleitações, seu remédio será a
temperança, a qual modera no homem as concupiscências das
deleitações.
Contra aqueles que são injuriados, para que não
entristeçam o remédio é a Filosofia, para aqueles que são
capazes de usufruir de suas deleitações, as quais são isentas
de tristeza. A Filosofia também é capaz de fazer com que o
homem não se entristeça nos infortúnios.
Faléias, entretanto, [apenas se preocupou com a
primeira razão pela qual os homens se injuriam; omitiu-se
completamente quanto às restantes], de onde que é manifesto
ter estabelecido uma ordenação insuficiente.
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