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O filósofo pretendeu mostrar que Deus não
intelige nada mais que não a si mesmo, na medida em que o
inteligido é a perfeição do inteligente e do inteligir.
Fica claro, portanto, que nada mais pode assim ser
inteligido por Deus, de tal maneira que seja a perfeição de
seu intelecto. Não por isso, entretanto, se segue que todas
as demais coisas sejam por ele ignoradas, porque,
inteligindo a si, intelige a todas as demais coisas.
O que pode ficar patente como segue. Como Deus é
o seu próprio inteligir, o qual é digníssimo e
potentíssimo, será necessário que o seu inteligir seja
perfeitissimo. Perfeitamente, portanto, inteligirá a si
mesmo. Ora, quanto mais perfeitamente algum princípio é
inteligido, tanto mais será inteligido nele o seu efeito,
porque as coisas que são provenientes dos princípios estão
contidas na virtude daqueles princípios. Como, portanto, do
primeiro princípio, que é Deus, depende o céu e toda a
natureza, conforme está dito, fica patente que Deus,
conhecendo a si mesmo, todas as coisas conhece.
E nem a vileza de alguma coisa assim inteligida
retira a dignidade do inteligente. Porque o inteligir em
ato alguma coisa indignissima não é para se evitar, a não
ser na medida em que o intelecto nela se demora, e na
medida em que, por aquele ato pelo qual intelige, se afasta
de inteligíveis mais dignos. Se, portanto, inteligindo algo
digníssimo também se intelige coisas mais vis, a vileza
destas coisas inteligidas não retira a nobreza da
inteligência.
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