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Embora a eleição seja próxima à vontade, a eleição
também não é a vontade. Tanto a vontade como a eleição
pertencem à mesma potência, que é o apetite racional, que é
dito vontade. Mas vontade designa o ato de tal potência
relacionado com o bem absoluto. A eleição designa o ato da
mesma potência relacionado com o bem na medida em que
pertence à nossa operação, pela qual nos ordenamos em algum
bem. Isto pode ser mostrado através de três razões.
[Primeiramente], pelo fato que a eleição se refere
à nossa operação, não é dita ser do impossível. Por isso, se
alguém afirma ter [feito eleição] de algo impossível, [será
tido como] estulto. Mas a vontade, dizendo respeito ao bem de
modo absoluto, pode ser de qualquer bem, ainda que seja
impossível. Por exemplo, alguém poderá querer ser imortal, o
que é impossível segundo o estado desta vida corruptível.
Portanto, a eleição e a vontade não são o mesmo.
[Em segundo], a vontade de alguma pessoa pode ser
acerca das coisas que não se fazem por ele: por exemplo,
aquele que assiste a um duelo, pode querer que vença [um ou
outro dos duelantes]. Mas ninguém [fará eleição] destas
coisas que são feitas por outros, mas somente daqueles que
ele estima poderem ser feitas por si mesmo. Portanto, a
eleição difere da vontade.
[Em terceiro] a vontade é mais do fim do que
daquilo que é para o fim, porque as coisas que são para o fim
nós as queremos por causa do fim. Mas a eleição é somente das
coisas que são para o fim, e não do próprio fim, porque o fim
na eleição é pressuposto, como já predeterminado. Por
exemplo, a saúde, que é fim da medicação, nós a queremos de
modo principal. Mas [fazemos eleição] dos remédios pelos
quais somos sarados. De modo semelhante, nós queremos ser
felizes, que é o fim último, e isto nós dizemos querer. Mas
não é [correto] dizer que [fazemos] eleição de nós sermos
felizes. Portanto, a eleição não é o mesmo que a vontade.
[Podemos concluir dizendo que] a raiz de toda
diferença, à qual universalmente todas as preditas diferenças
se reduzem é que a eleição é acerca das coisas que estão em
nosso poder. Esta é a causa do porque a eleição não é nem dos
impossíveis, nem das coisas que são feitas pelos outros, nem
do fim, que em geral é pré-constituído em nós pela natureza.
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