12. Levantamento e solução de uma dificuldade.

Conforme explicado anteriormente, naquilo que move a si mesmo primariamente, existem apenas duas partes, das quais uma move e a outra é movida. Se houvesse uma terceira, quando essa fosse removida, aquilo que é composto das duas primeiras partes moveria a si mesmo. Por causa disso, este último é o primeiro auto movente.

[A dificuldade surge a partir do momento em que fica claro que] a parte movida, isto é, B, é um contínuo [divisível, composto de partes]. [Porque tudo o que é movido é divisível, conforme diz o livro VI]. Ora, se alguma parte é subtraída por divisão de B, se a parte restante é movida, então uma parte de AB move a si mesmo e, portanto, AB não move a si mesmo primariamente. E assim se seguiria que nada move a si mesmo primariamente.

[Esta dificuldade pode ser resolvida da seguinte maneira].

No livro VI Aristóteles falou sobre o movimento em geral e sobre os objetos móveis na medida em que eles são contínuos sem aplicar estas observações a determinadas naturezas. E, de acordo com isso, seguir-se-ia que nada moveria a si mesmo primariamente. Mas agora Aristóteles está falando a respeito do movimento, aplicando-o a determinadas naturezas. Portanto, ele sustenta que existe algo que move a si mesmo primariamente.

[Ademais], nada impede um contínuo de ser divisível em potência. Ora, num auto movente, a parte movida é necessariamente contínua. [Portanto, é infinitamente divisível em potência]. Mas, se o que é contínuo é dividido, ele não conservará a mesma potência para ser movido que possuía antes, porque tal potência segue-se a determinada forma. Uma forma natural, entretanto, requer uma determinada quantidade, como é claro em relação ao coração. Portanto, não existe nada que impeça [a existência] de um primeiro entre as coisas que são divisíveis em potência.