16. Considerações gerais sobre as leis de Sócrates.

Diz o Filósofo que a causa pela qual Sócrates desviou-se da verdade a respeito da lei da comunidade das posses, dos filhos e das esposas deve ser estimada como sendo a suposição incorreta de que o sumo bem das cidades seria a sua máxima unidade.

Esta suposição, porém, não é correta porque para a cidade e para a casa, conforme anteriormente dito, requer-se alguma unidade, mas não completa unidade. Importa, de fato, que na cidade haja uma certa multidão de diversos, mas de tal modo que a cidade de torne una e comum por causa de uma certa disciplina de leis corretamente colocada. Mas se alguém que fosse introduzir uma disciplina para unir a cidade julgasse que pela lei da comunidade dos filhos e das esposas a cidade se tornaria boa, seria inconveniente que considerasse que com tais comunidades poder-se-ia retificar uma cidade, e não mais pelos bons costumes e pelas boas leis e pela sabedoria acerca destas coisas, conforme foi dito anteriormente sobre os Lacedemônios que faziam suas próprias posses comuns quanto ao uso. Em Creta o legislador também tornou algo comum ao instituir certas convívios públicos dos cidadãos, segundo alguns tempos instituídos para isso, para que entre eles houvesse uma maior familiaridade.

Para que as leis possam ser introduzidas corretamente é necessário não ignorar que elas devem ser consideradas durante muito tempo e durante muitos anos, para que seja manifesto pela experiência se tais ou quais leis e estatutos foram bem colocadas. Deve-se estimar, ademais, que na grande quantidade dos tempos passados foram experimentados quase todas as coisas sobre a conversação humana que possam ser pensadas. Algumas delas não foram introduzidas, isto é, não entraram em processo de serem estabelecidas pela lei porque sua inconveniência era imediatamente manifesta; já outras foram efetivamente estabelecidas, mas cessaram de ser usadas quando os homens entenderam que não eram úteis.