21. Uma posição errada dos antigos filósofos.

Alguns dos antigos filósofos disseram que somente algo está em potência quando está em ato. Por exemplo, que aquilo que não edifica em ato, não pode edificar, mas somente o pode, quando edifica em ato. E assim [por diante].

[Aristóteles comenta, quanto e esta posição, o que se segue].

[O primeiro inconveniente desta posição pode ser manifestado considerando que] ser edificante é ter potência para edificar. Ora, se nada tem potência para fazer, a não ser quando faz, não existe o edificador a não ser quando edifica. E de modo semelhante ocorrerá com as demais artes, porque todas as artes são potências, conforme já ficou explicado. Segue-se, portanto, que ninguém possuirá alguma arte, a não ser quando opera segundo a mesma. Porém isto é impossível, porque não é possível que aquilo que não tinha nenhuma arte, a venha a ter depois, a não ser que a aprenda, ou de algum modo a receba, [como por exemplo], descobrindo-a.

O segundo inconveniente procede das potências irracionais que esta nas coisas inanimadas, como o quente e o frio, o doce e o amargo, e outras assim. Se esta potência não está em algo a não ser quando [este algo] age, seguir- se-á que nada será quente ou frio, doce ou amargo, a não ser quando for sentido pelo sentido imutante. O que é manifestamente falso.

[O terceiro inconveniente à posição precedente consiste em que] o sentido é uma certa potência. Se, portanto, a potência não é sem o ato, seguir-se-ia que alguém não teria sentidos a não ser quando estivesse sentindo, como ocorreria com a vista e o ouvido. Mas aquilo que não tem vista, tendo nascido para tê-la, é cego. Assim, portanto, alguém seria no mesmo dia freqüentemente surdo e cego, o que é manifestamente falso.

[O quarto inconveniente à posição precedente está em que] para aquilo que carece de potência, a ação é impossível. Se, portanto, as coisas não têm potência a não ser quando agem, segue-se que quando algo não age, torna-se impossível para o mesmo agir. Desta maneira, esta potência remove o movimento e a geração.

[Podemos concluir, portanto] que se os preditos inconvenientes não podem ser concedidos, torna-se manifesto que a potência e o ato são diversos. Aqueles filósofos, porém, que colocaram a posição acima, tornam idênticos a potência e o ato, pelo fato de dizerem que somente algo está em potência quando está em ato. Daqui fica patente que a intenção deles era destruir [a razão] da natureza, por removerem o movimento e a geração, conforme foi explicado.