5. Uma distinção entre as deleitações que o são verdadeiramente e per se e as que o são por acidente.

O bem pode sê-lo de duas maneiras. De uma primeira maneira, aquilo que é por modo de operação, como a consideração. De uma segunda maneira, aquilo que é por modo de hábito, como a ciência. Destes, a operação é como o bem perfeito, porque é perfeição segunda. O hábito, entretanto, é como o bem imperfeito, porque é perfeição primeira.

[A estes dois modos de ser do bem se seguem dois modos de ser da deleitação]. [Do que foi anteriormente exposto, de fato], segue-se que a deleitação verdadeira e perfeita consiste no bem que está na operação. As ações ou movimentos, porém, que são constitutivas de hábitos naturais, são deleitáveis, mas o são por acidente. De fato, ainda não possuem a razão de bem, porque precedem até o próprio hábito que é a perfeição primeira, mas segundo sua ordenação a este bem, possuem razão de bem e de deleitável.

É evidente que uma operação deleitável que é com concupiscência não é operação de um hábito perfeito, porque na perfeição do hábito não permanece algo para se ter concupiscência do que pertence àquele hábito. De onde é necessário que uma tal operação proceda de algum princípio habitual ou natural que o seja com tristeza, porque não é sem tristeza que alguém tem concupiscência da perfeição natural que ainda não possui. [De onde se vê como tais operações são deleitáveis de modo imperfeito].

Que nem todas as operações deleitáveis sejam como as [explicadas no ítem precedente] é patente porque são encontradas algumas deleitações que o são sem tristeza e concupiscência, assim como é evidente da deleitação que é acerca das operações de especulação. De fato, tal deleitação não é com alguma indigência da natureza, antes, é procedente da perfeição da natureza, por exemplo, de uma razão perfeita pelo hábito da ciência.

Assim, portanto, são deleitações verdadeiramente e per se aquelas que são acerca de operações provenientes de hábitos, ou naturezas e formas já existentes. Aquelas deleitações, porém, que são constitutivas de hábitos e natureza, não são verdadeiramente e de modo simples deleitações, mas [são deleitações] por acidente.