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Depois que o Filósofo investigou as coisas que
devem ser supostas para a futura república ótima quanto ao
fim, passa a investigar agora o que deve ser suposto na
república ótima quanto à sua matéria, para que haja uma ótima
ordenação desta república por parte, por exemplo, dos
cidadãos, da região e das demais coisas que são como que a
matéria da república.
Assim como acontece com os demais artífices,
também ocorre com [o construtor da] cidade. O tecelão, o
construtor de navios e qualquer outro semelhante, quando
devem operar retamente segundo a sua arte, devem pressupor
uma matéria conveniente existente, assim como instrumentos
convenientes, como os fios para o tecelão e a madeira e uma
serra bem disposta para o construtor de navios. Observa-se
que quanto mais estes instrumentos e esta matéria estiverem
melhor dispostos, tanto a operação que é segundo a arte será
melhor e mais conveniente. De um modo semelhante, para que o
homem da cidade e o legislador ordenem os cidadãos e a cidade
convenientemente, é necessário que preexista uma matéria e
instrumentos idôneos.
Para o sucesso da cidade preexige-se em primeiro
lugar uma multidão de homens, como sua matéria, quantos e
quais segundo a disposição natural devem ser ou convém que
sejam. Preexige-se, em segundo lugar, uma região
[geográfica], quanta convém ser segundo a quantidade, e qual
deve ser segundo a disposição para a boa ordenação futura. Os
cidadãos e o lugar são a matéria remota da república. Há
também a matéria próxima que são os conselheiros, os
guerreiros, os agricultores, os lugares fortificados e os
edifícios.
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