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A primeira espécie do estado de poucos é aquela na
qual os principados se distribuem segundo uma certa
honorabilidade, por exemplo, de riquezas ou de gênero, de tal
modo que os pobres não os alcancem mesmo que sejam muitos.
Este primeiro modo do estado de poucos ocorre quando há
muitos ricos na cidade os quais não possuem, todavia,
riquezas excelentes, mas pequenas. Como há muitos cidadãos
que não possuem poder, escolhem, por isso, alguns para
governarem e, porque são ricos, escolhem aqueles que são
semelhantes a si. E porque há muitos nesta espécie de estado
que podem alcançar o principado, os príncipes que dominam
nela segundo a vontade destes homens, mas segundo as leis. De
fato, quanto mais se afastam da monarquia, porque muitos
podem alcançar o governo possuindo vontades diversas e não
uma única como ocorre na monarquia, e quanto menores riquezas
tiverem, não tantas que possam dedicar-se muito ao principado
sem negligenciar os próprios negócios, nem também tão
pequenas que tenham necessariamente de viver da renda comum,
tanto mais quererão não governarem por si mesmos, porque
temerão ser oprimidos por outros e, por esse motivo,
preferirão ser governados pela lei.
A segunda espécie de estado de poucos é aquela nos
quais os principados são distribuídos segundo censos menores
e na qual os governantes podem escolher outros seus consócios
se disto necessitarem. Se estes forem escolhidos entre os que
carecem de tudo, mas sejam virtuosos, este será um estado dos
ótimos. Se, porém, forem escolhidos entre os ricos e os
nobres, um estado de poucos. Esta segunda espécie ocorre
quando há um menor número de ricos do que no caso anterior,
os quais, porém, são também mais ricos do que os anteriores.
Por serem mais ricos, querem exceder os demais e possuir
vantagens. Adquirem, por isso, o poder de escolher entre
muitos aqueles de que carecem para governar. Como,
entretanto, não são tão poderosos a ponto de excederem a
multidão, devem governar segundo a lei.
A terceira espécie de estado de poucos ocorre
quando o principado é distribuído segundo uma maior
honorabilidade do que a da riqueza ou a do gênero, de tal
modo que o filho sucede ao pai no principado e se torna
príncipe por causa do pai. Este estado de poucos surge quando
há um número de ricos ainda menor do que nas espécies
anteriores e possuindo riquezas ainda maiores. Os governantes
passam a receber o principado quase como por herança porque,
sendo os governantes muito poderosos, ordenam e estabelecem
que os filhos os sucedam no principado.
A quarta espécie de estado de poucos ocorre quando
alguns governam por causa da máxima honorabilidade e o filho
sucede ao pai. Neste principado não é a lei que governa, mas
o príncipe segundo a sua vontade própria e esta estado se
coloca entre os estados de poucos assim como o tirano entre
as monarquias. Assim como na tirania o tirano governa
primeiro e per se por causa de seu próprio bem e oprime os
bons, assim também neste principado o príncipe governa por
causa de seu bem. E por isso, assim como entre as monarquias
a tirania é a pior, assim também entre as potências de poucos
esta é a péssima. E assim como entre os estados populares a
última espécie assinalada é a péssima entre todas as espécies
populares, assemelhando-se à tirania, assim como foi dito
anteriormente, assim também entre as potências de poucos esta
é a péssima entre as suas espécies. Esta última espécie de
estado de poucos ocorre quando os ricos são ainda em menor
número do que em todas as demais espécies deste modo de
estado, e muito mais ricos e mais poderosos em amigos. Este
principado se assemelha ao monárquico, porque os que governam
o fazem segundo as suas vontades e não segundo a lei, como
ocorre na monarquia real. Por causa de seu poder, os filhos
sucedem aos pais no governo. Esta quarta espécie de potência
de poucos é proporcional à última espécie de potência
popular, porque assim como aquela é a péssima entre os
estados populares, assim também esta é a péssima entre as
potências de poucos, e se assemelha à tirania. Seus
governantes governam principalmente por causa de seu bem
próprio, assim como ocorre na tirania.
Tais são, portanto, as espécies de estados
populares e de poucos, conforme foi dito.
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