4. Que a fortaleza não é acerca de qualquer temor, isto é, acerca do temor de qualquer mal.

A fortaleza não é acerca do temor de qualquer mal. [Portanto, devemos declarar primeiro acerca do temor de quais males não é a fortaleza, para depois declarar acerca do temor de quais males é a fortaleza].

[A fortaleza não diz respeito ao temor da infâmia]. [Isso pode ser mostrado pelo fato de que] o forte é louvado por não temer. Ora, existem coisas que é necessário temer para bem viver. [E não só isso], como também é bom temer estas coisas na medida em que o próprio temor não somente é necessário à conservação da honestidade, mas também o próprio temor é algo honesto. Isto é patente na infâmia, porque quem teme, é louvado como decente, enquanto que aquele que a semelhante mal não teme, é vituperado. Portanto, é patente que a fortaleza não pode ser acerca do temor de tais males.

[A fortaleza não diz respeito ao temor da pobreza]. O motivo pelo qual a fortaleza não diz respeito ao temor da pobreza, nem da enfermidade é porque nenhuma delas pertence à malícia do homem, no sentido em que o próprio homem não é a sua causa. Portanto, estas coisas, [a pobreza e a enfermidade, não é necessário temer]. De fato, em vão o homem temerá as coisas que não pode evitar. Ao contrário, o homem deve temer as coisas nas quais poderá cair por sua própria malícia, porque assim o temor será útil para evitá- las. Portanto, como não importa temer a [pobreza], quem a esta permanece impávido, não é chamado forte a não ser talvez segundo uma semelhança, porque não temer a pobreza parece pertencer a uma outra virtude, chamada de liberalidade, por cujo ato alguém é levado a gastar audaciosamente o [seu] dinheiro. [E, além disso, é fácil ver que os liberais não são fortes necessariamente, porque poderão] perante maiores perigos como os da guerra se tornar tímidos. Portanto, não há fortaleza no que diz respeito ao temor da pobreza.

[A fortaleza não diz respeito a qualquer temor de males pessoais]. Nenhum homem é dito tímido porque tema que seja injuriado ou invejado, ou os seus filhos e sua esposa, ou outros [males semelhantes]. Também ninguém é dito forte porque não teme os flagelos, mas antes enfrenta com audácia os flagelos, porque estes não são maximamente terríveis. Alguém será dito forte de modo simples pelo fato que é forte acerca do que é maximamente terrível. Quem em algumas outras coisas for intrépido, não será dito forte de modo simples, mas naquele gênero.