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O Filósofo pretende a seguir discutir quando
convém unir vários principados em um só, e quando convém
dividir um só em muitos.
[Para tratar sobre este assunto, o Filósofo terá
que levantar primeiro três questões e resolvê-las].
A primeira dúvida é se a diversidade dos lugares
diversifica os príncipes, mesmo se o principado seja um só
segundo a razão. Isto é, quando o que cuida da honestidade no
fórum é uma pessoa e o que cuida da honestidade em outros
lugares é outro, [se estamos diante de um só ou vários
principados].
A segunda dúvida é se os principados devem ser
distinguidos segundo a coisa ou segundo o homem. Isto é, se o
principado deve ser distinguido segundo aquilo que per se é
visto quando se [preceitua ou] dirige, ou segundo a multidão
dos homens que deve, ser dirigidos, como por exemplo, se é o
mesmo o principado que cuida do ornamento das crianças e o
que cuida do ornamento das mulheres.
A terceira dúvida é se os principados se
distinguem segundo a distinção das repúblicas, isto é, se no
estado popular, no estado de poucos, no estado dos ótimos e
na monarquia real os principados são os mesmos ou difere,
pelo gênero ou espécie.
[Para solucionar estas questões] é necessário
entender que os principados se distinguem assim como as
[demais] coisas naturais, isto é, segundo a forma e a
matéria.
A forma do principado é uma virtude ou potência.
De fato, o principado é uma certa potência ou virtude. A
virtude, porém, [é dita] em ordenação a um fim, de onde que,
segundo a distinção do fim se distinguem os principados. O
fim do principado é duplo, havendo um fim remoto e um fim
próximo. O fim remoto é o fim da república ao qual se
ordenam, de modo último, todos os principados. Este é o fim
máximo e imediatamente principal. O fim próximo do principado
é, por exemplo, a vitória para a condução de um exército, ou
a sentença para o julgamento de um insubordinado.
Ora, qualquer principado distingue-se em primeiro
lugar segundo a distinção de seu fim remoto. Portanto, se os
fins das repúblicas forem diversos, os principados das
diversas repúblicas serão diversos.
Com isto resolvemos a terceira questão pela qual
perguntávamos se um principado pode ser distinguido segundo a
distinção das repúblicas. A resposta é afirmativa, isto é, os
principados devem ser distintos segundo a diversidade dos
fins últimos.
Segundo a distinção do fim próximo também devemos
distinguir os principados, e isto de dois modos. De um
primeiro modo, segundo a distinção do próprio fim segundo si
mesmo e, deste modo, devem ser diversos os principados da
condução de um exército e do julgamento. De um segundo modo
os principados devem ser distinguidos pelo fato de que os
homens se relacionam diversamente para com [o seu fim
próximo], de tal maneira que o fim pode ser o mesmo segundo a
coisa mas, porque os homens se relacionam diversamente para
com aquele fim, os principados se distinguirão, como é o caso
do principado do ornamento das mulheres, das crianças e dos
homens.
Com isto resolvemos a segunda questão na qual
perguntava-se se a distinção do principado é segundo os
homens ou segundo a coisa. A distinção será segundo a coisa,
como quando faz-se distinção do fim próximo segundo se e será
segundo os homens quando os homens se relacionam de modo
diverso ao fim do principado.
O principado pode ser distinguido segundo a
matéria, como quando faz-se distinção segundo o lugar e os
homens. De fato, os lugares podem ser tão distantes que um
homem não possa regê-los e, neste caso, um principado será
dividido em vários. Do mesmo modo, se há uma grande multidão
de cidadãos que não podem ser dirigidos por um só, será
necessário que um principado uno segundo a espécie seja
distinguido em muitos. Se, porém, os lugares forem próximos e
os homens forem poucos, então muitos principados serão unidos
em um só.
Ocorre também que diversos principados segundo a
coisa se unam, principalmente quando há um só fim segundo a
coisa mas diversos modos dos homens se relacionarem para com
eles. Por causa do pouco número de homens e da proximidade
dos lugares, poderão ser unidos, como ocorre quando a mesma
pessoa tenha o cuidado do bem do ornamento dos homens, das
mulheres e das crianças. Em outras ocasiões ocorre o
contrário por causa dos motivos contrários.
Tudo isto o Filósofo acenou brevemente dizendo
que, segundo a diversidade dos lugares, dos homens, da coisa
e das repúblicas ocorre uma diversidade de principados.
Ocorre às vezes que diversos principados se congreguem em um
só, outras vêzes que um só seja dividido em muitos, porque
ocorre em algumas cidades haver muitos cidadãos e lugares
distantes, de tal modo que um só não pode reger e um só
principado tenha que ser dividido em muitos. Em outros
ocorrerá haver poucos cidadãos e os lugares não serem
distantes, mas próximos, e então muitos principados serão
unidos em um só, porque a mesma pessoa será suficiente para
reger diversos principados.
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