9. Considerações sobre a política dos Lacedemônios quanto aos guerreiros.

Pode-se reprovar corretamente aquilo que o legislador dos Lacedemônios supunha como sendo o fim para o qual toda a sua política se ordenava. Todas as leis dos Lacedemônios se ordenavam a uma única parte da virtude, que é a bélica. Por este motivo estavam bem ordenados à guerra, mas mal ordenados quanto ao governo do estado político; conseguiam manter-se nas guerras, mas quando alcançavam o principado expunham-se a muitos perigos porque não sabiam como viver em paz nem eram exercitados em outros exercícios melhores do que a guerra, o que não era um pecado pequeno.

No entanto os Lacedemônios opinavam bem quando consideravam que as coisas bélicas seria melhor tratadas pela virtude dos homens do que [pelos simples peritos da arte militar] porque, conforme está explicado no Terceiro Livro da Ética, os homens virtuosos não receiam dispor da vida onde for necessário persistir no bem. Os soldados, porém, quando os perigos crescem em demasia, debandam, já não confiando serem libertados pela experiência e pela indústria das armas.

Não opinavam bem os Lacedemônios, entretanto, quanto a considerarem a virtude pela qual o homem se dispõe corretamente na guerra como sendo a maior entre todas as virtudes. Outras virtudes, como a prudência e a justiça, são mais dignas do que a fortaleza e a própria guerra deve ser buscada por causa da paz e não o contrário.