7. Breve recordação da doutrina do livro III importante para os propósitos do presente livro.

1. O movimento é o ato do que está em potência enquanto tal.

2. Este ato é ato do móvel.

3. Todo movente é movido, porque passou de movente em potência a movente em ato. Isto acontece sempre que o movente move o movido tocando no movido.

4. Entretanto, "se no exercício de sua atividade, o agente se vê ele próprio modificado, é por uma reação do sujeito receptivo, acidental ao movimento considerado" [H. Gardeil]. O movimento não compete ao movente per se, mas por acidente, na medida em que ele é móvel.

5. Assim, o movimento está no móvel, e por isso deve ser dito que é ato do móvel.

6. "Mas isso não impede que ele seja ligado ao agente, mas como proveniente dele" [Gardeil]. Neste sentido, pode-se dizer que o movimento é ato do movente também. Mas desta maneira, o ato do movente não é diferente do ato do móvel, porque aquilo que o movente agindo causa é exatamente o mesmo que o movido, sofrendo a ação, recebe. Os dois são um único e mesmo ato, situado no móvel, mas considerados sob razões diversas.

7. O movimento é ato do móvel na medida em que se situa no móvel provocado pelo movente. O movimento é ato do movente na medida em que procede do movente para o movido.

8. Assim, pode-se dizer que existe um ato do movente e um ato do móvel. Ou, um ato do ativo e um ato do passivo. O ato do ativo é chamado de ação, o ato do passivo é chamado de paixão.

9. Tanto a ação como a paixão são movimentos. Entretanto, não são dois movimentos diferentes, mas um único e mesmo movimento sob razões diferentes. Na medida em que provém do agente, é dito ação, e na medida em que está situado no paciente, é dito paixão.

10. Dever-se-ia então perguntar, se o movimento é o mesmo, como podem a ação e a paixão não serem a mesma coisa? É que o mesmo movimento, de acordo com uma razão, é ação, e de acordo com outra razão é paixão. O movimento, seja o proveniente do movente, seja o situado no movido, é o mesmo, porque abstrai de ambos a razão. A ação e a paixão diferem por causa disso, que ao movimento, incluem estas razões diferentes.

11. Portanto, como o movimento abstrai as razões de ação e paixão, não pode estar contido na categoria de ação, e nem na categoria de paixão.

12. A ação e a paixão são sempre o mesmo pelo sujeito, diferindo apenas pela razão.

13. Isso não significa que elas devam ser uma única categoria, porque as categorias não dividem o ente como o gênero nas espécies, mas segundo os diversos modos de ser, que são proporcionais aos modos de se predicar.