10. A preservação da república da corrupção por causa da impotência.

Depois que o Filósofo apresentou os elementos pelos quais a república é salva da corrupção por causa do lucro, passa a expor os elementos pelos quais é salva da corrupção por causa da impotência.

O Filósofo diz que em primeiro lugar o documento máximo e eficacíssimo para salvar a república é buscar que aquela parte que ama e deseja a salvação da república seja mais forte e mais potente do que aquela que não a quer nem a ama; deste modo, de fato, a república durará maximamente.

Além de todos os elementos que já foram mencionados é necessário não ocultar o que é médio e proporcional, pelo qual se salva a república, para que esta seja conservada e que não seja transgredida. De fato, o excesso deste termo médio é a causa, na maioria das vezes, das transgressões que se fazem. É necessário salvar o termo médio porque observa-se que muitas coisas que parecem ser populares corrompem o estado popular por causa de seu afastamento do termo médio. Semelhantemente, há muitas coisas que corrompem o estado de poucos que parecem pertencer ao estado de poucos. Aqueles que crêem ser obra da virtude ser popular e fazer tudo o [que parece ser] popular e ser obra da virtude para o estado de poucos fazer tudo o que [parece] ordenar-se ao estado de poucos, estes [são os que o mais das vezes] se afastam do termo médio segundo o excesso e corrompem [com a intenção] de salvar. Deste modo é manifesto que para a salvação da república é necessário considerar qual é o termo médio no qual se salva a república.

Há, pois, certas coisas que pertencem ao estado popular mas corrompem o estado popular, e há outras que pertencem ao estado de poucos mas corrompem o estado de poucos. Importa, pois, que o legislador e o cidadão não ignore quais são as coisas que pertencem ao estado de poucos que subvertem o estado de poucos [e quais coisas que pertencem ao estado popular] que subvertem o estado popular. Nenhuma destas repúblicas pode existir sem ricos e sem pobres. A multidão e as riquezas fazem parte da integridade da república e, por causa disto, se alguém quiser igualar completamente as posses de tal modo que todos se tornam igualmente ricos, não permanecerá a mesma república, mas será corrompida. No estado popular pecam os condutores do povo quando lutam contra os ricos e dividem a cidade em dois, adulando a multidão e movendo-os contra os ricos. Isto não se deve fazer se se pretende salvar o estado popular; ao contrário, a multidão deverá parecer para os ricos esteja fazendo o que eles querem. Somente assim poderá salvar-se [o estado popular]. No estado de poucos igualmente peca a potência dos poucos quando oprime a multidão, do que se segue a corrupção do estado dos poucos. Se o estado dos poucos deve salvar-se, é necessário que [seus governantes] façam o juramento contrário ao que costuma ser feito, pois costuma-se no estado dos poucos, quando são instituídos, que seus príncipes jurem dizendo: "Juro que terei ódio para com o povo e darei conselho para que se dêem mal". Semelhantemente, no estado popular, o povo costuma jurar: "Serei maligno para com os ricos e aconselharei tudo o que souber que seja mau para eles". Nenhuma destas coisas, porém, deve ser feita; ao contrário, deve-se sustentar que importa fazer o oposto e estabelecer juramentos pelos quais os poderosos do estado de poucos não cometam injustiças contra o povo. E, quanto ao povo, deve jurar que não agirá injustamente contra os ricos.