6. Colocação de São Tomás de Aquino sobre a opinião de Averróes.

Para quem pensa corretamente, será claro que Averróes enganou-se.

A potência ativa de um agente particular pressupõe uma matéria, que é produzida por um agente mais universal. Mas do fato que todo agente particular pressupõe uma matéria que ele não faz, não é necessário pensar que o primeiro agente universal pressuponha algo que não seja causado por ele.

Isso é concordante com a opinião de Aristóteles, porque no segundo livro da Metafísica se demonstra que aquilo que é mais verdadeiro e mais ser é causa do ser para todas as coisas existentes. De onde se segue que o próprio ser em potência que a matéria primeira apresenta é derivado do primeiro princípio do ser, que é o mais ser.

Mas, quanto a que todo movimento requeira um sujeito, conforme Aristóteles demonstra e é verdade, segue-se que a produção universal do ser por Deus não é nem movimento nem mutação, mas uma certa simples emanação.

[A diferença entre a posição de Aristóteles e a fé cristã está no fato de que Aristóteles acreditava que, embora as coisas existentes tivessem o seu ser por causa de Deus, essa produção das coisas provém desde toda a eternidade e não teve jamais início].

[Mas], mesmo admitindo que a produção dos seres por Deus é desde toda a eternidade, conforme a opinião de Aristóteles, não é necessário, e é impossível, que algum sujeito não produzido tenha que ser subentendido para essa produção universal.

Mais ainda, se nós sutentamos, de acordo com o julgamento da fé cristã, que Deus não produziu as coisas desde a eternidade, mas que Deus as produziu depois que elas não eram, não é necessário de forma alguma subentender algum sujeito para esta produção universal.

[Deve-se concluir, portanto] que que o fato de que todo movimento requer um sujeito móvel não é contrário ao julgamento da fé cristã. O movimento ou mutação requer que uma coisa seja agora diferente do que antes era, e assim a coisa devia estar em existência previamente. Consequentemente, não estamos falando a respeito da produção universal das coisas.