12. Explica-se mais claramente como algo está num lugar.

Já que o lugar é a extremidade do continente, um corpo estará num lugar per se quando for adjacente a um outro corpo que o contém [pelo lado] externo.

Um corpo não está num lugar quando não for adjacente a um outro corpo que o contém [a partir] do exterior.

Nestas condições, existe apenas um único corpo, que é a esfera última [do universo]. De fato, de acordo com isso, a esfera última não está em nenhum lugar.

Isto, entretanto parece impossível, porque não obstante isso a esfera última apresenta movimento em relação ao lugar, mas nada que não está num lugar é movido em relação ao lugar.

Esta dificuldade não existe para aqueles que acreditam no espaço. Porque não é necessário, para eles, afirmarem que a esfera última está contida em outro corpo para ela estar num lugar. Mas esta posição é impossível, [porque já foi visto que o espaço não existe como realidade].

[Aristóteles não ofereceu nenhuma explicação última para esta aparente contradição. Dos vários comentadores de Aristóteles, São Tomás de Aquino segue a opinião de Themistius. [Themistius afirmou que] a esfera última está num lugar de acordo com suas partes.

Para entender esta opinião [de Themistius], deve- se considerar que Aristóteles afirmou que o lugar não seria investigado se não fosse por causa do movimento. Um corpo não precisa necessariamente ter um lugar, mas um corpo que se move em relação ao lugar tem que necessariamente ter um lugar. E isto na medida em que se considera no movimento uma sucessão de diversos corpos no mesmo lugar. Isto é perfeitamente claro no movimento em linha reta.

Mas no movimento circular [de uma esfera], o todo não muda de lugar. Entretanto, as partes mudam de lugar. Portanto, no movimento circular, deve-se focalizar a atenção à sucessão no mesmo lugar, não do corpo inteiro, mas de parte do mesmo corpo. De onde, para um corpo [esférico] movido em círculo, um lugar em relação ao todo não é de necessidade, mas apenas em relação às partes.

Mas, contrariamente a isso, parece levantar-se afirmação precedente de que as partes de um corpo contínuo não estão num lugar [e portanto], nem são movidas em relação ao lugar.

Portanto, como a esfera última é um corpo contínuo, não parece ser correto afirmar que o lugar pertence à esfera última por razão de suas partes.

A isto deve-se responder que, embora as partes de um corpo contínuo não estão num lugar em ato, elas estão potencialmente num lugar, na medida em que um corpo contínuo é divisível.

Desta maneira, é correto dizer que a esfera última está num lugar acidentalmente por razão de suas partes, na medida em que as partes da esfera última estão potencialmente num lugar.

Esta maneira de algo estar num lugar já é algo suficiente para que exista movimento circular, [como o de uma esfera em torno de um eixo].

Poder-se-ia ainda objetar que o que está em ato é anterior ao que está em potência e, desta maneira, parece incorreto dizer que o primeiro movimento local, [que é o da esfera última], é o movimento de um corpo existindo num local através de suas partes, que estão apenas potencialmente num local.

Quanto a isto deve-se responder que, [muito pelo contrário], isto está em esplêndido acordo com o primeiro movimento. Porque é necessário que se desça gradualmente de um [motor imóvel e único, que movimenta a esfera última, que é anterior à esfera última, e cuja existência será demonstrada no final da Física e da Metafísica], até a diversidade que existe nas coisas móveis. [E isto é convenientemente realizado através deste tipo de movimento local que existe na esfera última].

Deve ser entendido, portanto, que aquilo que não apresenta algo exterior [a si] e continente não está num lugar per se. Mas pode estar acidentalmente num lugar, na medida em que um lugar pertence potencialmente para cada uma de suas partes.

Daqui se tira a última conclusão.

O corpo mais alto, [que é a esfera última], somente pode se mover em movimento circular porque ele não está em lugar algum. Porque aquilo que está em algum lugar é algo e tem algo fora de si mesmo que lhe é continente. Mas fora do todo não existe nada.