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A deleitação durará por tanto tempo quanto, de uma
parte, o objeto [da operação], que é o sensível, ou o
inteligível, estiver em sua disposição devida, e por outra
parte, o próprio operante, que é o que discerne pelo sentido
ou que especula pelo intelecto, [estiver também em sua
disposição devida]. E a razão disto é porque, por quanto
tempo no ativo e no passivo permanecer a mesma disposição e
relação de um para o outro, por tanto tempo permanecerá o
mesmo efeito. De onde que, se a boa disposição da potência
cognoscitiva e do objeto é a causa da deleitação, durando
estas, necessário é que a deleitação dure.
[A deleitação não pode ser contínua]. Ninguém pode
deleitar-se continuamente, porque trabalha na operação às
quais se segue a deleitação. E assim a operação não se faz
deleitável. E isso é porque todos aqueles que possuem corpos
passíveis não podem operar continuamente por causa que os
seus corpos mudam de disposição pelo movimento do que é
adjunto à operação. De fato, o próprio corpo serve de alguma
maneira a qualquer operação daquele que possui corpo, seja de
modo imediato, como na operação sensitiva que é produzida
pelo órgão corpóreo, ou de modo mediato, como na operação
intelectiva que se utiliza das operações das [partes]
sensitivas que são feitas pelos órgãos corpóreos. Assim,
portanto, por não poder haver operação contínua, nem também a
deleitação poderá ser contínua. De fato, como foi explicado,
a deleitação se segue à operação.
As [coisas] quando são novas deleitam mais, não
deleitando, porém, depois, de modo igual. A razão disto é
porque a mente se inclina a princípio com grande aplicação
acerca da [coisa] por causa do desejo e da admiração e assim
opera intensa e veementemente acerca de tal [coisa]. Disto se
segue uma deleitação veemente, assim como é evidente naqueles
que com grande aplicação admiram aquilo que não tinham visto,
por causa da admiração [que lhes causa]. Depois, porém,
quando se acostumaram a ver, não é feita mais tal operação,
isto é, que tão atentamente vigiem ou tão atentamente operem
o que for, como antes o fariam. [Ao contrário], operam
negligentemente. De onde que se segue que a deleitação também
é obscurecida, isto é, é menos sentida.
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