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O reino é uma república ótima, otimamente
ordenada. Por isso ele é maximamente salvável pela razão.
Este é o motivo pelo qual o Filósofo não trata senão de um só
modo de salvar o reino.
[Na realidade, o Filósofo apresenta dois modos.
Estes podem ser entendidos como sendo um só modo na medida em
que o segundo é conseqüência do primeiro].
O reino salva-se na medida em que o principado é
conduzido ao termo médio segundo cada coisa que pertence a
ele próprio. Por exemplo, se algo pertence ao rei que é
senhor de todas as coisas e sobre todos governa, e isto pesa
sobre os súditos e muito os desagrada, deve o rei moderá-lo
ou mesmo abandoná-lo.
Quanto mais o rei for senhor de um menor em
número, [ao que parece o Filósofo se refere não a um pequeno
reino ou apenas a um pequeno número de pessoas, mas também a
um pequeno número de coisas], tanto mais duradouro será o seu
principado, porque quanto mais for senhor de um menor número,
governará tanto menos dominativamente, julgará de um menor
número e mais pessoas alcançarão o principado, e terão aquilo
que lhes compete segundo a dignidade, e parecerá ter-se
instaurado a igualdade entre os súditos. Se o rei puder
manter-se deste modo, menos os súditos lhe terão inveja e,
estando as coisas deste modo, governará com o consentimento
dos súditos. Tudo isto torna o principado mais duradouro.
Por estes motivos durou muito o reino dos
Lacedemônios. No princípio dividiram o principado em duas
partes, moderando-o deste modo. De modo semelhante, Teopompo,
que posteriormente ali reinou, moderou o principado. Sendo
senhor de tudo, instituíu o principado dos Éforos, trazendo a
si os outros, como que retirando algo de seu poder. Deste
modo conseguiu que o seu reino se tivesse tornado de algum
modo maior e muito mais duradouro. Por este motivo diz-se ter
ele respondido à sua esposa, quando esta o reprovou,
perguntando-lhe se não se envergonhava que tivesse
transmitido ao seus filhos um reino menor do que aquele que o
tinha recebido de seus pais, que embora não o tivesse
transmitido igual segundo o poder, transmitia-o, porém, mais
duradouro, o que lhe parecia ser melhor.
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