16. Como o tempo se relaciona com a alma.

[Existe uma outra questão a ser respondida que é], se a alma não existisse, o tempo existiria ou não existiria?

A resposta a esta pergunta é que, se a alma não existisse, dever-se-ia dizer que o tempo não existiria.

A resposta mais precisa, entretanto, é que, se a alma não existisse, mas o movimento existisse, o tempo [existiria sob uma forma] de um certo tipo de ser [imperfeito].

Para se entender o que essa resposta significa, devem-se compreender primeiramente certas outras coisas.

Se existem coisas numeradas, deve existir o número, porque a existência das coisas numeradas não depende do intelecto da alma. Somente a numeração em si mesma, que é um ato da alma, depende do intelecto da alma. Portanto, pode existir o número e as coisas numeráveis quando não existe ninguém que numere.

[Mas], se for [intrinsecamente] impossível a existência de alguém que numere [enquanto tal], então [isso significa que] é impossível existir algo numerável. Entretanto, [deve-se repetir que] não se segue que, se não existe quem numere, não exista algo numerável.

[Baseados nisto, podemos dizer que], se o movimento tivesse uma existência fixa nas coisas, como uma pedra ou uma casa têm, poderia se dizer de modo absoluto que, assim como há um número de pedras quando a alma não existe, assim também existiria um número de movimento, que é o tempo, quando a alma não existisse.

Mas acontece que o movimento não tem uma existência fixa nas coisas. [Dizemos isso porque] nada relacionado com o movimento é achado em ato nas coisas, exceto uma parte indivisível do movimento. Mas, [quanto à] totalidade do movimento, ele é estabelecido por uma consideração da alma ao comparar uma disposição anterior do objeto móvel com uma disposição posterior do mesmo objeto.

Desta meneira, o tempo não apresenta existência fora da alma exceto em relação a uma parte indivisível. [Dizemos isso porque] a totalidade do tempo é estabelecida pela ordenação da alma que numera o antes e o depois no movimento, como já foi explicado.

Portanto, se a alma não existisse, o tempo seria algum tipo de ser, isto é, um ser imperfeito.

Da mesma maneira, se sucedesse haver movimento mas não haver alma, o movimento também se diria existir imperfeitamente.

Por causa disso, os argumentos que se davam no início da teoria do tempo, que demonstravam que o tempo não existe porque é composto de partes não existentes, [isto é, o passado e o futuro], ficam respondidos. Porque, [através do que foi dito], fica claro que o tempo não apresenta existência perfeita fora da alma, como nem tampouco o movimento apresenta.