14. Quarto argumento para mostrar que a felicidade consiste na operação especulativa. A operação especulativa é a que possui maior suficiência.

Foi mostrado no livro primeiro que a suficiência per se é requerida pela felicidade. Tal suficiência per se, porém, é maximamente encontrada acerca da operação especulativa, para qual o homem não necessita senão das coisas que são a todos necessárias para a vida comum. Se, entretanto, a alguém dermos o que for suficientemente necessário à vida, ainda de mais necessitará o homem virtuoso segundo a virtude moral. De fato, para a sua operação o homem justo necessitará de outras coisas. Primeiro, necessitará daqueles aos quais deverá agir com justiça. Segundo, necessitará das coisas com as quais opere a justiça. E a mesma razão vale para o temperante e para o forte, e para os outros virtuosos morais. Mas não é assim acerca do sábio especulativo, o qual pode especular a verdade mesmo que existe somente segundo si mesmo, porque a contemplação da verdade é operação inteiramente intrínseca não se dirigindo ao exterior, e tanto alguém mais poderá, existindo sozinho, especular acerca da verdade, quanto mais for perfeito na sabedoria. Isto, [entretanto], não se diz porque a sociedade não ajude à contemplação, já que no livro oitavo foi dito que duas pessoas vivendo juntas podem intelegir e agir mais. Assim, embora o sábio seja ajudado pelos outros, todavia entre todos é o que mais a si é suficiente para sua operação própria. De modo que é evidente que a felicidade é maximamente encontrada na operação da sabedoria.