3. A divisão das paixões.

O apetite sensitivo é dividido em duas forças: o apetite concupiscível e o apetite irascível.

O apetite concupiscível é o que diz respeito ao bem sensível absolutamente e ao mal [sensível] a ele contrário. É dito bem sensível aquele que é deleitável segundo o sentido.

O apetite irascível é o que diz respeito ao bem sob a razão de alguma [excelência]. Por exemplo, assim como a vitória é dita ser um certo bem, embora não o seja com a deleitação dos sentidos.

Assim, portanto, quaisquer paixões que dizem respeito ao bem e ao mal absolutamente, estarão no concupiscível. Aquelas que, entretanto, dizem respeito ao bem e ao mal debaixo da razão de algum árduo, pertencerão ao irascível.

[As paixões que estão no concupiscível dividem-se em paixões que dizem respeito ao bem, tomado absolutamente, e em paixões que a estas se opõem, ordenando-se ao mal, tomado absolutamente].

As paixões que dizem respeito ao bem, tomado absolutamente, são o amor, que implica uma certa conaturalidade do apetite ao bem amado; o desejo, que importa num movimento do apetite ao bem amado; a deleitação, que importa na quietude do apetite no bem amado.

As paixões que a estas se opõem, ordenando-se ao mal, tomado absolutamente, são o ódio, que se opõe ao amor; a aversão, que se opõe ao desejo; a tristeza, que se opõe à deleitação.

As paixões que estão no irascível são as paixões que dizem respeito ao bem e ao mal debaixo da razão do árduo. São estas, em relação ao mal, o temor e a audácia; em relação ao bem, a esperança e o desespero. Existe, além destas, a ira, que por ser paixão composta, não apresenta contrário.