LIVRO VII

I. A CONTINÊNCIA E A INCONTINÊNCIA


1. O que são a malícia, a incontinência e a bestialidade.

Das coisas que são para se fugir acerca dos costumes, há três espécies que são a malícia, a incontinência e a bestialidade.

[O que é a incontinência]. Tendo sido explicado no livro VI que a boa ação não o é sem a razão prática e o apetite reto, pervertendo-se alguma destas duas coisas, [a ação tornar-se-á] algo a se fugir aos costumes. Se há perversidade por parte do apetite, de tal maneira que a razão prática permanece reta, haverá a incontinência, que é quando alguém possui um reto julgamento acerca do que se deve fazer ou evitar, mas por causa da paixão do apetite é trazido ao contrário.

[O que é a malícia]. Se, porém, a perversidade do apetite toma tanta força de tal maneira que domine a razão, a razão seguirá aquilo a que o apetite corrompido incline, assim como um certo princípio estimando aquilo como um fim ótimo. De onde que se operará a perversidade por eleição. Esta disposição é dita malícia.

[O que é a bestialidade]. A perversidade poderá acontecer de uma tal maneira que não se saia fora dos limites da vida humana. Quando isto acontece, ela é dita de modo simples incontinência ou malícia humana, assim como uma doença corporal humana, na qual pode-se salvar a natureza humana. Porém, a contemperância dos afetos humanos pode corromper-se também de tal maneira que se progride além dos limites da vida humana até a semelhança dos afetos de algum animal, como do leão ou do porco. [Quando isto acontece, a perversidade é então ] chamada de bestialidade.