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Na oposição entre as virtudes e os vícios, existe
uma dupla contrariedade. Uma delas é a dos vícios entre si, a
outra entre os vícios e as virtudes. [Isto acontece porque]
há três disposições, das quais duas são viciosas, uma por
superabundância e outra por defeito, e uma é segundo a
virtude, que está no termo médio, e qualquer uma destas se
opõe a qualquer das outras, já que as disposições extremas
são mutuamente contrárias, e ambas são contrariadas pelas
disposições intermédias.
Não é necessário provar que os dois vícios, que se
acham segundo a superabundância e o defeito, sejam contrários
pelo fato de existirem à máxima distância. Mas, quanto à
virtude, estando no termo médio entre dois vícios, como ela
não dista maximamente de ambos, precisamos mostrar que ela é,
de fato, contrariada por ambos os vícios. Quanto a isto,
devemos considerar que como o termo médio participa de alguma
forma de ambos os extremos, na medida em que participa de um
deles é contrariado pelo outro, assim como o igual, que é
médio entre o grande e o pequeno, é pequeno em comparação ao
grande, e grande em comparação ao pequeno. Assim, portanto, o
hábito do meio se acha como superabundante em relação àquele
que está em defeito, e como deficiente em relação àquele que
é superabundante. Assim é que o forte em comparação ao tímido
é audaz, em comparação, porém, ao audaz, é tímido, e o
temperante em comparação com o insensível é intemperante, e
em comparação ao intemperante é insensível.
E porque o hábito do meio se acha em comparação a
um dos extermos segundo a razão do outro [extremo], daí é que
[os homens] existentes em ambas as extremidades julgam o
termo médio como o outro extremo a si opostos. Assim é que o
tímido chama o forte de audaz, e o audaz chama o forte de
tímido. O que é um sinal de que a virtude é contrariada por
ambos os extremos.
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