5. Primeira razão para que as leis de Sócrates não produzam a unidade da cidade.

Supondo que fosse ótimo para a cidade que ela fosse maximamente una, todavia não parece que ela se torne maximamente una pelo fato de que todos simultaneamente digam "isto é meu". Se, de fato, tudo fosse comum, ninguém poderia dizer "isto é meu". Todavia, Sócrates considerava que este seria o sinal de que a cidade fosse perfeitamente una. Parecia-lhe, de fato, que as dissensões na cidade se originavam do fato de que alguém cuida de seu próprio bem enquanto que outro cuida do bem próprio deste outro e, deste modo, o estudo dos homens se dirige a [objetivos] diversos. Se todos, porém, dissessem de uma só e mesma coisa "isto é meu", o estudo de todos se dirigiria a uma só coisa e assim, conforme julgava Sócrates, a cidade seria maximamente una.

[Deve-se dizer, porém], que quando alguém afirma que "todos dizem isto é meu", esta proposição pode ser entendida de duas maneiras, na medida em que a palavra "todos" possa ser entendida distributiva ou coletivamente.

Se a palavra "todos" é entendida distributivamente, o sentido da proposição seria que cada um por si mesmo poderia dizer de tal coisa "isto é meu", e então talvez seria verdade o que Sócrates diz que, neste caso, cada um amaria um só e mesmo filho como um filho próprio, e semelhantemente uma só e mesma mulher como sua própria mulher. Portanto deveremos dizer que, neste sentido, se todos dissessem de u a mesma coisa que tal coisa fosse sua, isto seria um bem, isto é, na medida em que a palavra "todos" fosse tomada distributivamente. [O problema, porém, consiste em que] tal caso não é possível, porque implica uma contradição, já que, pelo fato de que algo seja próprio de alguém, já não o pode ser de outro.

Se, porém, a palavra "todos" for tomada coletivamente, isto já não seria conveniente para a cidade, mas incoerente com ela. De fato, aqueles que usassem as esposas e os filhos em comum não diriam "todos", no sentido distributivo, "isto é meu", mas o diriam coletivamente, na medida em que possuiriam uma só coisa comum, de tal maneira que ninguém por si mesmo poderia dizer [propriamente] "isto é meu". O mesmo raciocínio vale não só para as mulheres e crianças, mas também para toda a posse. Se toda a posse fosse comum, ela não seria, segundo si mesma, própria de ninguém.

Deste modo é evidente que Sócrates utilizou-se de um certo silogismo sofístico ao afirmar que quando todos dissessem "isto é meu", isto seria um sinal de perfeita unidade. As palavras "todos" e "ambos", de fato, por causa de sua duplicidade, produzem silogismos sofísticos, como quando alguém diz, colocando três coisas de um lado e três de outro afirma:

"Ambos são pares".

Esta afirmação é verdadeira se "ambos" for tomado coletivamente, porque [o primeiro grupo de três colocado em conjunto com o segundo grupo de três produz coletivamente um par]. Mas, se tomarmos a palavra "ambos" distributivamente, ambos [os grupos, isto é, tanto o primeiro como o segundo grupo de três] serão ímpares.