2. As três espécies [ou degraus] da superabundância na ira.

A primeira espécie de superabundância na ira é a prontidão à ira, segundo a qual são ditos iracundos aqueles que se enervescem com rapidez, com pessoas com quem não é necessário, em coisas em que não há necessidade, e mais veementemente do que é necessário, não durando, porém, a sua ira por muito tempo, acalmando-se rapidamente. [Isto] porque, não retendo a ira interiormente no coração, [pela própria manifestação externa da] ira se acalma. A esta primeira espécie de ira maximamente estão dispostos os coléricos, por causa da sutilidade e da velocidade da cólera.

A segunda espécie de superabundância na ira é dita ira amarga. Ira amarga é aquela que é dificilmente dissolvida, durando por longo tempo por ser retida no coração. A ira destas pessoas cessa quando retribuem a vingança pela injúria recebida. A punição acalma o ímpeto da ira na medida em que coloca a deleitação da vingança no lugar da tristeza precedente. Se, porém, o que se ira não pune, se afligirá gravemente em seu interior, já que não manifesta a sua ira. E assim ninguém poderá mitigar a sua ira pela persuasão, porque é ignorada. Desta maneira, para que sua ira cesse, será necessário um longo tempo pelo qual paulatinamente se esfria e extingue o [fogo] da ira. Aqueles que retêm a ira assim por longo tempo são molestíssimos para si mesmos e principalmente para os amigos com os quais deleitavelmente não podem conviver, e por causa disso são chamados de amargos. A esta espécie de superabundância estão maximamente dispostos os melancólicos, nos quais as impressões recebidas por longo tempo perseveram.

A terceira espécie de superabundância na ira é a ira difícil ou grave. A ira difícil ou grave é aquela segundo a qual os que se iram o fazem em coisas em que não há necessidade, mais do que o necessário e por mais tempo do que o necessário e não [abandonam] a ira sem que tormentem ou punam aqueles pelos quais se iram. De fato, a longa duração da ira nestas [pessoas] não se deve somente à retenção, a qual o tempo poderia digerir, mas a um firme propósito de punir.