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[Sobre as perfeições requeridas para o governante
o Filósofo levanta duas dúvidas, das quais a primeira é a
seguinte]. Se um só e mesmo governante não possui todas as
[três] perfeições [requeridas para a perfeição], mas um
possui apenas uma [das três] e outro possui outra, a quem
deverá ser atribuído o principado?
Ou seja, se houver um só que possua a potência
militar, mas seja sem virtude, sendo mau e inimigo da
república, enquanto haja outro que seja virtuoso e ame a
república, porém seja impotente, a quem deverá ser atribuído
o principado?
O Filósofo resolve esta dúvida dizendo que na
eleição do príncipe é necessário considerar que o principado
toma a sua razão da parte do fim e as coisas que se ordenam
ao fim tomam sua razão do próprio fim. Por isso deve ser
tomado como príncipe aquele que possui aquele segundo o que
mais possa ser alcançado o fim da república. E por isso na
milícia ou na condução do exército mais deve ser considerada
a experiência do que a virtude, porque pela experiência nas
armas mais será possível alcançar o fim da república do que
pela virtude. Os homens virtuosos, de fato, na maioria das
vezes são poucos experientes nas coisas da guerra, embora
sejam muito melhores. Por isso, para o principado [militar]
mais deve ser escolhido aquele que possui a experiência com
uma prudência imperfeita do que aquele que possui a virtude
perfeita mas não possui a experiência. Mas na custódia ou no
governo da cidade e na administração do erário deve ser
escolhido aquele que possui a virtude, porque neste
principado requer-se mais a virtude do que a experiência, a
qual é possuída por muitos. A ciência, porém, [deve] ser
comum a todos; é necessário que os governantes tenham ciência
tanto na condução do exército como no governo da cidade, de
outro modo não poderão dirigir ao fim pretendido as coisas
que se ordenam ao fim.
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