8. Mostra-se que não existe vazio separado abordando o vazio em si mesmo.

[Depois do filósofo ter demonstrado, através de considerações sobre o movimento, que o vazio não existe], aqui mostra que o vazio não existe através de argumentos tirados do vazio em si mesmo.

[O primeiro argumento consiste em que] se alguém colocar dentro da água um corpo cúbico, é necessário que a quantidade de água que se desloca de seu lugar seja igual à quantidade do cubo. E isso tanto é verdadeiro da água como do ar, apesar do caso do ar não ser tão evidente, por ser o ar menos sensível do que a água. Então, pela mesma razão, é universalmente verdadeiro que um corpo dentro do qual um outro corpo é colocado deve-se afastar, para que não existam dois corpos no mesmo lugar. Mas não se pode dizer que o vazio se afasta quando um corpo é colocado nele. Porque o vazio não é um corpo, [antes, pelo contrário, trata-se de um lugar aonde não existe nenhum corpo, de espaço dentro de um corpo]. Portanto, se existe um espaço vazio, deve-se admitir que quando um corpo é nele colocado, ele penetra dentro daquele espaço que primariamente era um vazio e que existe conjuntamente com o vazio. Mas é impossível para um corpo coexistir com um espaço vazio, porque o corpo teria a mesma magnitude do espaço vazio. Ora, duas magnitudes de igual quantidade não podem diferir exceto em relação ao lugar. Porque é impossível imaginar uma linha diferente de outra linha igual a menos que elas estejam em lugares diferentes. De onde, se duas magnitudes são colocadas juntas, não parece que elas difiram. Portanto, se existem dimensões num espaço vazio como existem num corpo sensível, o corpo sensível e o espaço vazio deveriam co-existir conjuntamente, [o que é impossível]. [Aonde teria ido parar, então, o espaço vazio se ele deixa de existir quando um corpo é nele colocado?]. [De onde se vê que o espaço vazio não pode ter dimensões, como um corpo sensível. E, portanto, não existe espaço vazio].

[No segundo argumento considera-se que] se as dimensões do corpo cúbico não diferem das dimensões do lugar de acordo com a razão, não se percebe porque seria necessário assinalar alguma dimensão para os corpos além de suas próprias dimensões. Já que um corpo tem as suas próprias dimensões, porque colocar em torno dele outras dimensões igual em espaço às suas próprias dimensões? Portanto, se o vazio ou o lugar é realmente um espaço separado, segue-se não ser necessário que os corpos estejam num lugar.

[Finalmente, no terceiro argumento considera-se que] se o vazio existe, ele deveria se manifestar na natureza. Mas em nenhum lugar se vê um vazio. Aquilo que está preenchido com o ar não é um vazio. [Portanto, não existe vazio].