6. Considerações sobre a política dos Lacedemônios quanto à vitaliciedade do principado dos anciãos.

Entre os Lacedemônios o principado dos anciãos era reprovável, em primeiro, porque estes permaneciam perpetuamente neste principado. Se, de fato, pudessem ser encontrados anciãos que fossem tão virtuosos e suficientemente instruídos à bondade viril, poderia talvez alguém dizer que seria útil para a cidade que permanecessem perpetuamente no principado. No entanto, mesmo que houvesse homens tão perfeitamente virtuosos, seria temerário para a cidade a existência de quem possuísse domínio e poder sobre as grandes decisões da cidade por toda a sua vida. Isto porque, assim como a virtude do corpo debilita-se pela velhice, assim também no mais das vezes a da mente, já que, depois que os homens envelhecem, deixam de possuir aquela força de ânimo e aquela vivacidade de engenho que possuíam na juventude, devido à debilidade das virtudes sensitivas que estão a serviço da parte intelectiva. Com muito mais razão será temerário que alguns governem por toda a vida se são instruídos no bem como o eram os Lacedemônios, de tal modo que nem o legislador confiava completamente neles como confiaria em homens [inteiramente] bons, já que não foi capaz de lhes confiar todas as coisas. Seria melhor que tivessem alguma correção de modo que, se eram encontrados deficientes, pudessem ser removidos. Tal como este principado existe atualmente, ninguém pode ser dele removido.

Os Lacedemônios tinham, entretanto, alguma correção para o principado dos anciãos, porque o principado dos éforos podia corrigir a todos os demais principados, impedindo, a saber, que suas sentenças tivessem efeito, mas esta era uma disposição má, [não obstante] fosse a máxima dignidade dos éforos. O Filósofo se refere, de fato, a outro tipo de correção, [não pela qual se anule apenas o efeito de uma sentença, mas pela qual o próprio governante] pode ser [completamente] removido [se se mostra incapaz]. Este poder, [entre os Lacedemônios], era negado inclusive aos éforos.