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[Pode-se mostrar que o intelecto é algo ótimo
entre as coisas humanas, tanto por comparação com aquilo que
lhe é inferior, como por comparação com aquilo que lhe é
superior].
[Que o intelecto seja algo ótimo manifesta-se] por
comparação aos que lhe são inferiores, aos quais o intelecto
por sua excelência é como que príncipe e senhor. De fato, o
intelecto principia sobre o irascível e concupiscível, os
quais em algo podem resistir à razão. Senhoreia, todavia ,
sobre os membros corporais, que de modo imediato obedecem ao
império da razão sem contradição.
[Pode-se mostrar o mesmo por comparação ao que lhe
é superior]. São superiores ao intelecto as coisas divinas,
às quais o intelecto pode ser comparado de dois modos. De um
primeiro modo, pelo fato do intelecto relacionar-se para com
as coisas divinas como a um objeto. De fato, somente o
intelecto tem inteligência das coisas essencialmente boas,
que são as coisas divinas. De um segundo modo, o intelecto
humano se compara às coisas divinas segundo sua
conaturalidade para com as mesmas. Essa conaturalidade,
entretanto, foi colocada de modos diversos segundo filósofos
diversos. Alguns colocaram que o intelecto humano é algo
eterno e separado. Segundo esta [colocação], o próprio
intelecto seria algo divino, pois dizemos ser divino o que é
eterno e separado. Já outros filósofos, assim como
Aristóteles, colocaram o intelecto ser parte da alma. Segundo
esta [colocação], o intelecto não é algo divino de modo
simples, mas é [algo] diviníssimo entre tudo o que há em nós,
por causa da maior conveniência que possui com as substâncias
separadas, na medida em que sua operação é sem órgãos
corpóreos. Entretanto, segundo qualquer uma destas colocações
será necessário que a perfeita felicidade seja a operação
deste ótimo segundo a virtude que lhe for própria. De fato,
não pode haver operação perfeita, que é requerida à
felicidade, a não ser da potência perfeita pelo hábito, que é
[o hábito] da própria virtude segundo a qual a operação é
tornada boa.
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