8. Levanta-se uma objeção ao fato das paixões da alma possuírem ser natural.

Aristóteles diz que as paixões da alma, através das quais o homem conhece a realidade, possuem um ser natural, já que são as mesmas junto a todos.

Pode, entretanto, objetar-se que as paixões da alma, significadas pelas vozes, não são, ao contrário do que diz o Filósofo, as mesmas para todos. De fato, homens diversos possuem sentenças diversas sobre as coisas, de modo que não parece ser verdadeiro que as paixões da alma são as mesmas junto a todos.

Boécio responde a esta objeção dizendo que Aristóteles chama de paixão da alma às concepções da inteligência, as quais nunca se enganam. Deste modo, estas concepções devem necessariamente ser as mesmas junto a todos os homens.

[Deve-se, porém, explicar esta resposta de Boécio dizendo que] na inteligência pode existir o falso, na medida em que ela opera pela composição e divisão, mas não na medida em que ela conhece a qüididade ou a essência das coisas, conforme afirma Aristóteles no IIIº Livro do De Anima. A resposta de Boécio, pois, deve ser entendida como referindo- se apenas às concepções de simples apreensão, aquelas que são significadas pelas vozes incomplexas. As concepções de simples apreensão, de fato, são as mesmas para todos os homens, pois se alguém verdadeiramente intelige o que é homem, se apreender qualquer outra coisa que não seja homem, não estará inteligindo o homem. O que as vozes significam em primeiro lugar são estas simples apreensões da inteligência.