5. A preservação da república da corrupção pelo desprezo dos que são dignos de honra.

A república pode corromper-se de três modos por causa das honras e desonras. Primeiro, por causa do desprezo daqueles que são dignos de honra na cidade; segundo, por causa da distribuição das honras; terceiro, por causa da busca das honras além das proporções.

Quanto ao primeiro, a república às vezes pode corromper-se por causa do desprezo dos insignes e daqueles que são dignos de honra. Isto deve ser prevenido pelas leis e outras medidas estabelecidas para que não aconteçam tais contendas e, se acontecerem, deve-se providenciar um modo pelo qual possam ser acalmadas. Semelhantemente deve-se prevenir que aqueles que não estão nestas contendas não se ponham nas mesmas. Este, de fato, é o princípio de muitos grandes males. Ao cidadão, e não a outros, cabe conhecer o mal em seu princípio e por isso os cidadãos devem remediar a estas contendas desde o seu princípio.

Quanto ao segundo, a república pode corromper-se pela distribuição das honras. Toda república no início foi instituída em alguma ordem, de tal modo que um principado dure por um ano ou por um biênio e que os que possuírem tantas riquezas ou tantas honras alcancem o principado [e outras disposições semelhantes]. Ocorre que às vezes nos afastamos desta ordem ou segundo o excesso ou segundo o defeito, permanecendo, porém a mesma república. Por este motivo, permanecendo a mesma república, convém considerar a ordem que atualmente há na cidade, comparando-a com o estado em que a república foi instituída desde o princípio. Deve-se considerar se o excesso daquilo que foi desde o início é múltiplo ou se o defeito é submúltiplo. Se o excesso for múltiplo, deve ser removido; se o defeito [é submúltiplo], deve ser sanado segundo a proporção devida conforme a primeira instituição, estabelecida uma lei que permita acrescentar ou remover as honras quando isto deva ser feito. Quando isto não se observa e ocorre [a má distribuição] por defeito, a república costuma transformar-se em uma potência de poucos e [posteriormente], de potência de poucos mais remissa para aquela espécie que é chamada de potentado, na qual governam homens extremamente ricos segundo as suas próprias sentenças e não segundo a lei, a qual é péssima [entre todos os estados de poucos]. [Se, porém, ocorre a má distribuição] por excesso, segundo a superabundância, a república se transforma em estado popular; se se tratar de um estado de poucos, este se transforma em uma república ou em um estado popular.

Quanto ao terceiro, a república pode corromper-se pelo incremento das honras além da proporção. É comum para a salvação do estado popular e do estado de poucos, assim como universalmente para toda república, que não se permita que alguém cresça segundo alguma dignidade além das proporções ou da dignidade. A razão disto é que as cidades, por causa de tais excelências além da proporção, são corrompidas, porque não todas podem conduzir a boa sorte. Fazê-lo, de fato, pertence ao homem virtuoso, conforme diz o Filósofo no Quarto Livro da Ética quando afirma que sem virtude não é fácil conduzir com moderação a boa sorte. E por isso, quando é dado a algum homem não virtuoso honras além da proporção para com os demais e para com a sua dignidade, este homem passa a oprimir o outro e a destruir a cidade. O documento que preserva da corrupção que é devida ao excesso da potência pode ser depreendido pela semelhança com o que foi precedentemente exposto. Deve ser maximamente ordenado pelas leis, ou por qualquer outro modo conveniente, que ninguém se torne muito excelente além da proporção no poder, nos amigos ou no dinheiro. Estas potências, conforme foi explicado no terceiro Livro da Política, podem facilmente corromper a cidade.