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O Filósofo compara [e distingüe] o homem
naturalmente servo ao animal bruto dizendo que aquele que é
naturalmente servo comunica pela razão apenas quanto a que
recebe o senso da razão como que ensinado por outro, mas não
quanto a que tenha o senso da razão por si mesmo. Os outros
animais, porém, servem ao homem não como que recebendo o
senso da razão do homem, mas na medida em que são levados a
servi-lo pela memória das coisas que passaram de bem ou de
mal da parte do homem, ou também por amor ou temor. Quanto ao
modo de servir, portanto, [há diferença entre o naturalmente
servo e o animal], porque o que é naturalmente servo serve
pela razão, enquanto que o animal bruto pela paixão, isto é,
pelo temor ou amor adquiridos pela memória do padecer o bem
ou o mal do homem.
A natureza, ademais, tem uma certa inclinação para
produzir diferenças entre os corpos dos livres e dos servos,
de tal modo que o corpo dos servos são fortes para exercer o
uso necessário que lhes compete, a saber, o cultivo dos
campos e outros ministérios semelhantes, enquanto que o corpo
dos livres são bem dispostos segundo a natureza e inúteis
para tais operações servis, devendo, todavia, ser úteis à
vida civil, pela qual convivem os homens livres.
Embora, porém, a natureza tenha uma certa
inclinação para causar a mencionada diferença de corpos,
todavia às vezes falha na mesma, assim como também em todas
as demais coisas que se geram e se corrompem, nas quais a
natureza alcança o seu efeito na maioria mas falha em um
menor número. Quando, portanto, a natureza falha nisto ocorre
freqüentemente o contrário do que o Filósofo diz, isto é,
haver homens que tenham almas de livres tendo corpos de
servos, ou o contrário.
Deve-se também considerar [com cuidado as próprias
premissas das quais o Filósofo se utiliza em seus
argumentos]. Como o corpo é por natureza ordenado à alma, a
natureza tenciona formar tal corpo tal qual seja conveniente
à alma e por isso tenta, para aqueles que têm almas de
livres, dar um corpo de livres, e assim também
semelhantemente com os servos. Isto, porém, quanto às
disposições [corporais] interiores sempre ocorre pois, de
fato, não é possível que alguém tenha uma alma bem disposta
se os órgãos do imaginário e das demais virtudes naturais e
sensoriais sejam mal dispostas. Na figura, porém, na
quantidade exterior e outras disposições exteriores, pode-se
encontrar e encontram-se dissonâncias, conforme o Filósofo
também o afirma.
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