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Algo estar em si mesmo pode ser entendido de duas
maneiras.
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- A primeira, primariamente e per
se.
- A segunda, de acordo com um outro,
isto é, segundo uma parte.
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De acordo com a segunda maneira, algo pode ser dito estar em
si mesmo.
Isto pode ser explicado assim: nós vemos que algo
pode ser dito de alguma coisa por causa de uma parte. Assim,
algo é chamado branco porque a sua superfície é branca. Um
homem é chamado sábio porque há sabedoria em [sua] parte
racional. Se nós tomarmos um jarro cheio de vinho como um
certo todo cujas partes são o jarro e o vinho, nenhuma das
partes, isto é, nem o jarro e nem o vinho, estarão em si
mesmo. Mas o todo, isto é, o jarro de vinho, estará em si
mesmo na medida em que cada uma destas é sua parte, tanto o
vinho que está no jarro, como o jarro em que está o vinho.
[Podemos generalizar este exemplo da seguinte forma]: quando
duas partes de um todo estão relacionadas de tal maneira que
uma parte é a parte na qual algo está contido e a outra parte
é aquilo que estava contido na anterior, então segue-se que o
todo pode ser dito ser tanto aquilo que está contido, por
razão de uma parte, como aquilo que é continente, por razão
de outra parte. E desta maneira um todo poder ser dito estar
em si mesmo.
Já no que diz respeito à primeira maneira de algo
estar em si mesmo, primariamente e per se, isto é impossível
de se dar.
[O significado de algo estar em algum outro
primariamente é o seguinte.] O branco se diz estar num corpo
porque a superfície branca está no corpo. De onde segue-se
que o branco não está primariamente no corpo, mas na
superfície. Semelhantemente, a ciência é dita estar
primariamente na alma, mas não no homem, na qual ela está
através da alma.
O branco não está no homem primariamente, mas
através do corpo, e está no corpo através da superfície.
Entretanto, não está na superfície através de nenhuma outra
coisa. Portanto, é dito estar primariamente na superfície.
Aquilo no qual algo está primariamente, e aquilo que está
neste algo primariamente, não são a mesma coisa. Por exemplo,
o branco e a superfície.
Ora, que nada está primariamente em si mesmo per
se, pode ser visto considerando indutivamente os modos já
determinados pelos quais algo é dito estar em alguma outra
coisa. Daí se vê claramente que nada é um todo, ou uma parte,
ou um gênero de si mesmo, e assim sucessivamente de acordo
com os oitos modos já considerados.
[S. Tomás observa que] deve ser entendido que
algumas vezes algo é dito estar em si mesmo, não de acordo
com um entendimento afirmativo, que Aristóteles rejeita, mas
de acordo com um entendimento negativo. Neste sentido, estar
em si mesmo significa apenas que este algo não está em algum
outro.
Há ainda um outro motivo para que o lugar não
possa ser nem matéria nem forma.] Já foi mostrado que nada
está em si mesmo primariamente e per se. Isso significa que
primariamente e per se aquilo que está em algo e aquilo no
qual algo está devem diferir primariamente e per se. De onde
que nem a matéria e nem a forma podem ser o lugar. Porque na
verdade o lugar é algo diferente do que está localizado no
lugar. Já no que diz respeito à matéria e à forma, são partes
intrínsecas do que está localizado no lugar.
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