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Toda virtude moral é acerca de prazeres e
tristezas. Esta afirmação não deve ser entendida como sendo
que toda virtude moral é acerca de prazeres e tristezas como
acerca de sua matéria própria. Com isto quer se dizer que em
toda virtude moral se requer que cada um se deleite e se
entristeça [conforme necessário]. Segundo isto, a virtude
moral é acerca dos prazeres e tristezas, porque a intenção de
qualquer virtude moral é que cada um corretamente se
[comporte] deleitando-se ou entristecendo-se.
Toda virtude moral é acerca de atos, como a
justiça, que é acerca de vendas e outras coisas assim, ou
acerca de paixões, como a mansidão, que é acerca da ira. Mas
a toda paixão segue-se a deleitação ou a tristeza. Porque as
paixões da alma nada mais são do que movimentos da virtude
apetitiva em busca do bem ou na fuga do mal. Assim,
alcançando o bem ao qual o apetite tendia, ou evitando o mal
do qual se refugiava, segue-se a deleitação. Quando se dá o
contrário, segue-se a tristeza. Portanto, conclui-se que toda
virtude moral é acerca de deleitações e tristezas como acerca
de certos fins.
Está também explicado em outro lugar que pelo
mesmo, feito de modo contrário, a virtude se gera e se
corrompe. De fato, nós vemos que pelo prazer e pela tristeza
a virtude pode corromper-se, porque pela concupiscência do
prazer operamos o mal, e por causa da tristeza que tememos
nos trabalhos honestos nos afastamos das operações virtuosas.
Por isso é que Platão dizia que aquele que tende à virtude
desde a juventude deve ser de alguma forma guiado para que se
alegre e se entristeça com aquilo [que convém]. De fato, isto
é a disciplina correta dos jovens, para que se acostumem a se
deleitar nas boas obras e se entristeçam nas más. Por isso,
os instrutores de jovens, ao procederem bem os aplaudem, ao
procederem mal os repreendem. [De onde se conclui que a
intenção da virtude moral é que o que tem a virtude proceda
corretamente pela deleitação ou pela tristeza].
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