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É necessário que o todo seja anterior à parte,
pela ordem da natureza e da perfeição. [Esta afirmação pode
ser demonstrada porque], destruído o homem todo, não
permanece nem o pé nem a mão, a não ser equivocamente, no
mesmo sentido em que uma mão esculpida em pedra pode ser
chamada de mão. Isto ocorre porque tais partes se corrompem
ao ser corrompido o todo. Ora, aquilo que se corrompe não
retém a espécie da qual é tomada a razão pela qual as coisas
se definem. De onde que é evidente que para estas coisas não
permanece a mesma razão do nome e, portanto, tais nomes são
predicados equivocamente.
Pode-se mostrar, ademais, que corrompido o todo, a
parte se corrompe, porque toda parte é definida pela sua
operação e pela virtude pela qual opera, assim como, [por
exemplo], a definição de p[é é que seja um membro orgânico
tendo a virtude de caminhar. Portanto, por não ter mais tal
virtude ou operação, não pode ser o mesmo segundo a espécie,
sendo dito pé apenas equivocamente.
É evidente, pois, que o todo é naturalmente
anterior às partes da matéria, embora as partes sejam
anteriores pela ordem da geração.
Ora, os homens singulares comparam-se a toda a
cidade como as partes do homem ao homem, porque assim como a
mão e o pé não podem existir sem o homem, assim também nenhum
homem pode ser por si mesmo suficiente para que viva separado
da cidade.
Se ocorrer, porém, que alguém não possa comunicar-
se com a sociedade civil por causa de sua depravação, este
será alguém menos do que um homem, e comparável a uma fera.
Se o mesmo ocorre, porém, porque de nada necessita e tem a
suficiência por si mesmo, e este é o motivo pelo qual não é
parte da sociedade, este alguém será mais do que um homem;
será, de fato, quase como um certo deus.
Conclui-se, portanto, pelas premissas, que a
cidade é anterior segundo a natureza a um só homem.
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