4. Considerações sobre a política dos Lacedemônios quanto às posses.

A política dos Lacedemônios a respeito das posses foi nociva à cidade. Sucedia entre eles que alguns tinham possessões imensamente grandes, enquanto que outros tinham possessões imensamente pequenas, de tal modo que quase toda a região acabou sob o domínio de poucos. Esta irregularidade proveio de uma má ordenação da lei. O legislador havia estabelecido entre eles que os cidadãos não teriam poder de vender ou comprar de tal modo que pudessem vender ou comprar suas propriedades por qualquer motivo. Isto foi bem que se fizesse para regular a propriedade; todavia, não foi feito corretamente, porque o foi de modo insuficiente, [já que o legislador] deu poder aos cidadãos para que dessem suas propriedades entre vivos ou também deixassem em testamento seus bens a quem quer que quisessem, do que resultavam também irregularidades nas propriedades assim como poderiam ter ocorrido através da compra e da venda. Chegou-se ao ponto em que, se todo o seu território fosse dividido em cinco partes, duas delas pertenceriam a mulheres, ora porque muitas eram constituídos herdeiras pelos homens que morriam, ora porque quando se casavam recebiam dotes muito grandes, quando teria sido muito melhor que não lhes fosse dado nenhum dote, ou dotes pequenos ou moderados. Mas entre os Lacedemônios era lícito, para quem quer que fosse, constituir como seu herdeiro a quem bem lhe aprouvesse e, se não quisesse constituir herdeiro em sua morte, poderia distribuir os seus bens a quem lhe aprouvesse. O dano que daí se seguiu foi que, sendo tão grande seu território que poderia sustentar mil e quinhentos cavaleiros e trinta mil soldados de infantaria, descambaram para uma tamanha pobreza, por causa de suas propriedades se terem concentrado mas mãos de poucos, que não havia mais do que mil guerreiros na cidade.