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[Em qualquer gênero pode ocorrer a medida, e não
somente na quantidade, como poderia parecer]. [Por exemplo,
no gênero da qualidade ocorre que, por uma cor ser mais
escura do que outra, e esta, por sua vez, mais escura do
que outra ainda, a qualidade possa ser medida]. [E assim
também nos outros gêneros]. [Acontece que] em qualquer
gênero devemos tomar por medida aquilo que é de algum modo
indivisível neste gênero. Ora, a razão do uno é ser
indivisível. [Isto poder ser de modo simples, e então
teremos o uno que se converte com o ente, ou segundo algo,
e então teremos os diversos outros modos do uno, os quais,
todavia, tomam sua razão de uma mesma e única razão comum,
que é o ser indivisível]. [Portanto, se a razão do uno é
ser indivisível, e a medida em qualquer gênero é feita por
aquilo que naquele gênero é de algum modo indivisível,
segue-se que é propriedade do uno ser medida].
[Porém, como se irá mostrar abaixo], é à
quantidade que de uma certa maneira compete ser a primeira
medida em qualquer gênero, [mesmo que este gênero a ser
medido não seja o da quantidade]. [Isto acontece porque
cada gênero, como a qualidade, por exemplo, pode ser tomado
de duas maneiras]. [De uma primeira maneira pode ser tomado
absolutamente, caso em que será inteiramente qualidade e
não pertencerá de maneira alguma ao gênero da quantidade].
[De uma segunda maneira, pode ser tomado por comparação de
uma qualidade a outra, quando poderá verificar-se que uma
excederá a outra, e na razão deste excesso encontra-se uma
razão de quantidade no gênero da qualidade]. [Este excesso,
ainda que esteja no gênero da qualidade, terá assim que ser
medido dentro do gênero da quantidade]. [Desta maneira], a
quantidade será de uma certa maneira a primeira medida em
qualquer gênero.
Ora, se àquilo que é indivisível em cada gênero,
[que é uno neste gênero,] compete a razão de medida,
maximamente competirá esta razão ao uno do gênero da
quantidade, que é a primeira medida de qualquer gênero.
[Isto pode ser explicado da seguinte maneira]. [O fato da
quantidade ser a primeira medida em qualquer gênero
acontece porque] a medida [em qualquer gênero] não é nada
mais do que aquilo pelo qual a quantidade da coisa é
conhecida, [ainda que esta coisa pertença a outro gênero,
porque, conforme explicado, de uma certa maneira a
quantidade pode encontrar-se nos demais gêneros]. Ora, a
quantidade da coisa é conhecida pelo uno. [Portanto, é ao
uno no gênero da quantidade que maximamente] compete a
propriedade de ser medida, e é dele que a razão de medida é
derivada aos demais gêneros.
Quando dizemos que esta coisa mede um estádio,
ou um pé, a quantidade desta coisa [está sendo
evidentemente] conhecida pelo uno. Quando dizemos que esta
coisa mede três estádios ou três pés, a quantidade desta
coisa está sendo conhecida pelo número. [Porém], como todo
número é conhecido pelo uno, porque a unidade tomada várias
vezes resulta naquele número, [na verdade, também neste
caso em que a quantidade está sendo conhecida pelo número,
o estará sendo na verdade pelo uno]. De onde se conclui que
toda a quantidade, enquanto quantidade, é conhecida pelo
uno.
E deve-se adicionar, "enquanto quantidade",
porque as propriedades e demais acidentes da quantidade são
conhecidas de maneiras diversas.
[Ao dizermos que toda quantidade enquanto
quantidade é conhecida pelo uno, o uno a que nos estamos
referindo é, portanto, o uno princípio de número, e não o
uno que se convertecom o ente, principal objetivo deste
tratado de Metafísica]. [O motivo deste uno estar aqui
sendo determinado parece consistir em que, embora o uno
possa ser dito de muitas maneiras, todas as são em virtude
de uma razão comum, que é o ser indivisível, a qual
pertence em grau máximo ao uno que se converte com o ente,
por o ser do modo simples, a partir do qual todos os demais
modos de unidade, segundo algo, são derivados].
É no gênero [da quantidade] onde é primeiramente
encontrado o uno que tem razão de medida.
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