|
Porque a prudência é acerca dos bens humanos, e a
sabedoria acerca das coisas melhores do que o homem, daqui é
que os homens chamaram Anaxágoras e um outro filósofo chamado
Tales, e outros semelhantes, de sábios, não porém de
prudentes, já que os homens os viam ignorar o que é útil a si
mesmos, e afirmam que eles conheciam coisas inúteis e
admiráveis, como que excedentes a notícia comum dos homens, e
coisas difíceis que necessitam de cuidadosa inquisição, e
divinas, por causa da nobreza da natureza [delas].
Aristóteles menciona de modo especial o exemplo de Tales e
Anaxágoras, porque foram de modo especial repreendidos acerca
disto.
[O exemplo mencionado de Tales é o seguinte].
Saindo Tales de casa para considerar acerca dos astros,
prendeu-se numa armadilha. Chorando por causa disso, disse-
lhe uma velhinha: "Tu na verdade, ó Tales, que não podes ver
o que está diante dos teus pés, dizes conhecer as coisas que
estão no céu?"
[Quanto a] Anaxágoras, tendo sido nobre e rico,
abandonou os seus bens paternos e dedicou-se à especulação
das [coisas] naturais, não se interessando das políticas, de
onde era repreendido como negligente. E lhe diziam: "Não te
interessas de tua pátria?": ao que ele respondia: "A minha
pátria é de grande interesse", apontando para o céu.
[Pode-se concluir que a prudência é acerca dos
bens humanos, a sabedoria acerca das coisas divinas]. Por
isso os homens dizem que estes filósofos conheciam o inútil,
porque não investigavam acerca dos bens humanos, por causa do
que também não eram chamados de prudentes. E que a prudência
é acerca dos bens humanos, [mostra-se porque] aos prudentes
maximamente parece pertencer a obra de bem aconselhar. Ora, é
acerca dos bens humanos que acontece os homens aconselharem-
se. Ninguém, de fato, aconselha-se acerca do necessário, que
é o impossível de se dar de modo diferente, que são as coisas
divinas acerca das quais os sábios já mencionados
consideravam. Nem também pode haver conselho das coisas que
não se ordenam a algum fim, que é o bem operável, acerca dos
quais consideram as ciências especulativas, mesmo se forem
acerca do corruptível. Será, porém, bom aconselhador de modo
simples, e por conseguinte, prudente, aquele que raciocinando
pode alcançar o que seja ótimo para o homem operar.
|
|