VI. A ESSÊNCIA OU QÜIDIDADE DAS COISAS SENSÍVEIS. TERCEIRA PARTE. DO QUE A ESSÊNCIA É COMPOSTA E A UNIDADE DA DEFINIÇÃO QUE A EXPRESSA


1. Introdução de São Tomás.

Para compreender-se o que vem a seguir, deve-se saber que a respeito da essência e definição das coisas, existem duas opiniões.

A primeira opinião diz que toda a essência da espécie é a forma [do indivíduo], de tal maneira que toda a essência do homem seria a sua alma. [Explicando melhor, se chamarmos a espécie de todo e o indivíduo de parte], segundo esta opinião a forma do todo, que é designada pelo nome de humanidade, e a forma da parte, que é designada pelo nome de alma, são a mesma coisa, diferindo apenas pela razão: chamar-se-ia alma, na medida em que o composto por ela é colocado numa espécie. Daqui se segue ainda que segundo esta opinião nenhuma parte da matéria é colocada na definição da espécie, mas apenas os seus princípios formais.

Esta primeira opinião não concorda com o parecer de Aristóteles. Segundo Aristóteles, as coisas naturais apresentam em sua definição a matéria sensível, e nisto elas diferem das coisas matemáticas. Ora, somente os acidentes são definidos por algo que não são parte de sua essência. [A definição das substâncias é a sua própria essência]. Portanto, a matéria sensível será parte da essência das substâncias naturais, não apenas quanto ao indivíduo, mas também quanto à espécie. As definições somente existem das espécies. [As essências são tanto da espécie quanto do indivíduo].

[Se chamarmos a espécie de todo e o indivíduo de parte], a segunda opinião diz que a forma do todo, isto é, a qüididade da espécie, difere da forma da parte, [isto é, da forma do indivíduo]. A qüididade da espécie é composta de matéria e forma, não todavia desta forma desta matéria individual. Esta será a opinião de Aristóteles.