3. Explicação sobre a casualidade. Segunda parte.

A diferença entre sorte e acaso é que eles diferem pela definição, no sentido em que o acaso pertence a mais coisas do que a sorte.

Tudo o que é pelo acaso é também pela sorte, mas não vice-versa.

Um ser inanimado, uma criança ou um animal, não podendo agir voluntariamente, por livre arbítrio, não podem agir pela sorte.

Mas podem ser movidos pela sorte, na medida em que algum agente voluntário aja sobre os mesmos.

O acaso pode ser encontrado não apenas nos homens, que agem voluntariamente, mas também em animais e seres inanimados. Como exemplo, se um cavalo, indo em um determinado lugar, recupera a saúde, caso não tenha sido por esse motivo que para lá se dirigiu.

Quando coisas quem vêm a ser com a finalidade de alguma coisa, não vêm a ser para a finalidade daquilo que acontece, mas para a finalidade de alguma coisa extrínseca, então nós dizemos que estas coisas vêm a ser pelo acaso.

Uma corroboração da afirmativa acima consiste em que o termo "em vão" na língua grega é bastante semelhante ao termo "acaso".

"Em vão" é usado quando aquilo que é para alguma finalidade não vem a ser por causa desta finalidade, isto é, quando aquilo por causa do qual algo é feito não ocorre, [se aquilo que se espera vir a ocorrer a partir de algo realmente é capaz de ser provocado por causa deste algo].

Esta última restrição se impõe para o caso de alguém afirmar que tomou banho em vão porque não ocorreu um eclipse do Sol.

Assim, da mesma maneira, ocorre um acaso quando uma pedra caindo golpeia alguém, sendo porém que ela não caiu com o propósito de golpeá-lo.

Uma coisa é dita "em vão" por causa do fato de que aquilo que estava intencionado não se segue. Uma coisa é dita "acaso" por causa do fato de que algo mais que não estava planejado realmente ocorre.

De onde algumas vezes uma coisa é "em vão" e "acaso" ao mesmo tempo, quando aquilo que se visava não ocorre, mas ocorre algo a mais que não se visava.

Algumas vezes existe "acaso" mas não "em vão", quando o que se visava ocorre e ocorre também algo mais.

Outras vezes existe "em vão" mas não "acaso", quando aquilo a que se visava não ocorre, e não ocorre também algo a mais que não se visava.