8. Esclarecimento a respeito de possíveis dúvidas quanto ao ato ser fim da potência.

Nem sempre a obra [exterior] é o fim das potências [ativas]. Em algumas potências ativas o fim último é somente o uso da potência, e não de algo operado pela ação da potência, assim como por exemplo o fim último da potência visiva é a visão, e não alguma obra [externa]. Em outras potências ativas alguma obra [externa] é feita além da ação, como por exemplo a arte edificativa que faz a casa, além da própria ação de edificar.

Nas potência que têm por fim último a obra externa, a ação da potência não é menos fim do que nas potências que não obram externamente. Todavia, esta diferença entre as potências ativas não faz com que em algumas destas potências a ação [delas] seja menos fim, e em outras seja mais fim. Isto acontece porque a própria ação está na obra externa feita, como ocorre com a edificação que está naquilo que é edificado. E esta edificação simultaneamente se faz e tem ser com a casa [feita]. Desta maneira, se a casa ou o edificado é o fim [da arte edificativa], com isso não fica excluído que a ação [de edificar] seja [também] fim da potência.

[A ação das potências ativas pode estar no agente ou na obra]. Quando, além da ação da própria potência, que é a ação, haja [obra externa] operada, a ação de tal potência está na [obra] feita, e é ato do feito, como a edificação no edificado, e universalmente o movimento no movido. O motivo disto é porque quando pela ação da potência se faz [obra externa] operada, esta ação aperfeiçoa a obra, e não o operante. Portanto, a ação deverá estar [necessariamente] no operado como ação e perfeição dele, e não no operante. Quando, porém, não há alguma obra externa operada, a ação da potência existe no agente e como sua perfeição, não transitando para aperfeiçoar algo externo. Por exemplo, [assim é que] a visão está no vidente e é sua perfeição, e a especulação está no especulante, e a vida na alma, se por vida entendemos a obra da vida.