4. Que o ente se predica analogicamente de todos os entes.

[Para evitar mal entendidos, deve-se explicar que por ente aqui não se designam apenas as substâncias, mas tudo o que, de uma certa maneira, existe, como a quantidade, a qualidade, o movimento, e até mesmo as negações e as privações]. O sentido primário mais verdadeiro e estrito da palavra substância, [conforme Aristóteles diz no livro das Categorias], é aquilo que nunca se predica de outra coisa, nem pode achar-se em um sujeito. Por exemplo, um homem concreto, ou um cavalo concreto. [Primariamente, são as substâncias que merecem propriamente o nome de entes. Mas, como tudo o restante acima mencionado pode ser chamado de uma certa forma de ente, deve-se então dizer que o ente, isto é, aquilo que é, ou o ser, pode ser dito de muitas maneiras].

[Para expor agora o que é a predicação analógica do ser], deve-se primeiro dizer que o ente, ou aquilo que é, é dito de muitas maneiras. Ora, algo pode ser predicado de diversas coisas de múltiplas maneiras:

A. Segundo uma razão completamente idêntica. Esta é a predicação unívoca, como quando animal é predicado de cavalo ou de boi.

B. Segundo razões completamente diversas. Esta é a predicação equívoca, como quando animal se predica de um homem e de um retrato. A predicação é equívoca, porque apenas apresentam em comum o nome, mas a definição da essência de cada caso é diferente.

C. Segundo uma razão parcialmente diversa e parcialmente não diversa. Isto é, diversas na medida em que implicam diversos hábitos, e não diversas na medida em que estes diversos hábitos se referem a uma única e mesma coisa. Esta é dita a predicação analógica, ou proporcional, porque cada coisa, segundo o seu hábito, se refere àquela única e mesma coisa. Deve-se colocar também que esta única coisa à qual os diversos hábitos se referem não é apenas una pela razão, mas é una assim como uma única natureza.