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O estado dos poucos se corrompe e transmuta
maximamente quando os ricos consomem os seus bens vivendo
impudica e desonestamente. Tendo-se acostumado a viver
deliciosamente consumindo os bens próprios, passam a apetecer
possuí-los de qualquer lugar, para que possam continuar nas
delícias em que se acostumaram. Crêem poder ter as riquezas
se turbarem a república e por isso buscam e procuram inovar a
república e, ao fazerem isto, ocorre que encontram uma
preferência [entre os demais] e passam a governar como
tiranos. {Estes homens encontram preferência entre os
cidadãos] porque consumiram seus bens vivendo voluptuosamente
com os outros, pelo que costumam ter amigos pelos quais são
amados por terem vivido e gastado com eles com a máxima
liberalidade. É por isso que ocorre que, ao turbarem a
república, encontram amigos que os patrocinam e os instituem
[como dominantes]. Se não puderem ser instituídos como
tiranos, buscam e dispõem que um outro seja príncipe de tal
modo que, conquistando a sua amizade, possam ter o que
gastar. Esforçam-se, portanto, para transmutar a república
segundo este modo para que possam rapidamente [retornar à
vida a que estavam acostumados]. Se não puderem ser
instituídos como tiranos, nem elevar algum outro ao poder,
roubam e rapinam os bens comuns, pelo que ocorrem as
sedições, ou por obra deles mesmos ou daqueles que lutam
contra eles, pelo que sucede mudar-se a república.
O estado de poucos que não facilmente se corrompe
é aquele no qual os ricos concordam entre si e fazem bom uso
de todas as coisas que são da república, cada um segundo o
seu grau. Sinal disto foi a república que havia na cidade
chamada de Farsalo, onde aqueles que ali dominavam eram
poucos e estes mesmos eram senhores de muitos. Fazendo bom
uso de si próprios, atribuíam a cada um o que lhes era
proporcional, sabendo unir a todos na vontade do fim e
pretendiam um só fim e as demais coisas o pretendiam por se
ordenarem àquele fim. Não é fácil corromper-se uma república
assim estabelecida, pelo menos por si mesmo, pois pode
corromper-se por um agente externo.
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