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1. O movimento é o ato do que está em
potência enquanto tal.
2. Este ato é ato do móvel.
3. Todo movente é movido, porque passou de
movente em potência a movente em ato.
Isto acontece sempre que o movente move o
movido tocando no movido.
4. Entretanto, "se no exercício de sua
atividade, o agente se vê ele próprio
modificado, é por uma reação do
sujeito receptivo, acidental ao
movimento considerado" [H. Gardeil]. O
movimento não compete ao movente per se,
mas por acidente, na medida em que ele é
móvel.
5. Assim, o movimento está no móvel, e por
isso deve ser dito que é ato do móvel.
6. "Mas isso não impede que ele seja
ligado ao agente, mas como proveniente
dele" [Gardeil]. Neste sentido, pode-se
dizer que o movimento é ato do movente
também. Mas desta maneira, o ato do
movente não é diferente do ato do móvel,
porque aquilo que o movente agindo causa
é exatamente o mesmo que o movido,
sofrendo a ação, recebe. Os dois são um
único e mesmo ato, situado no móvel, mas
considerados sob razões diversas.
7. O movimento é ato do móvel na medida em
que se situa no móvel provocado pelo
movente. O movimento é ato do movente na
medida em que procede do movente para o
movido.
8. Assim, pode-se dizer que existe um ato do
movente e um ato do móvel. Ou, um ato do
ativo e um ato do passivo. O ato do ativo
é chamado de ação, o ato do passivo é
chamado de paixão.
9. Tanto a ação como a paixão são
movimentos. Entretanto, não são dois
movimentos diferentes, mas um único e
mesmo movimento sob razões diferentes. Na
medida em que provém do agente, é dito
ação, e na medida em que está situado no
paciente, é dito paixão.
10. Dever-se-ia então perguntar, se o
movimento é o mesmo, como podem a ação e
a paixão não serem a mesma coisa? É que o
mesmo movimento, de acordo com uma razão,
é ação, e de acordo com outra razão é
paixão. O movimento, seja o proveniente
do movente, seja o situado no movido, é o
mesmo, porque abstrai de ambos a razão. A
ação e a paixão diferem por causa disso,
que ao movimento, incluem estas razões
diferentes.
11. Portanto, como o movimento abstrai as
razões de ação e paixão, não pode estar
contido na categoria de ação, e nem na
categoria de paixão.
12. A ação e a paixão são sempre o mesmo
pelo sujeito, diferindo apenas pela
razão.
13. Isso não significa que elas devam ser
uma única categoria, porque as categorias
não dividem o ente como o gênero nas
espécies, mas segundo os diversos modos
de ser, que são proporcionais aos modos
de se predicar.
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