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Depois que o Filósofo determinou quais são os
cidadãos ótimos, isto é, os [situados num termo] médio,
declara qual é a cidade ótima, isto é, a que é composta [dos
que se situam] num termo médio.
Ele declara, em primeiro lugar, que os [homens que
vivem num termo] médio são maximamente preservados na cidade.
Isto é evidente, porque eles não desejam os bens alheios,
como os pobres. Possuem-nos, de fato, à suficiência, e por
isso não desejam o alheio e não armam ciladas aos ricos. Os
pobres, por serem carentes, desejam o alheio, e por isso
armam ciladas aos ricos. Os [situados num termo], não
possuindo superabundância de riquezas, nem armam ciladas aos
outros nem os outros lhes armam ciladas. São estes aqueles
que são maximamente preservados, pelo que é manifesto que a
cidade que é composta de [homens situados num termo] médio é
aquela que é maximamente conservada. Os [homens situados num]
termo médio vivem, de fato, sem perigo. Porque ninguém lhes
prepara ciladas, nem eles próprios o fazem aos demais, vivem
sem perigo.
Disto pode-se concluir que a república que é
composta por [homens situados num termo] médio é a república
ótima. É manifesto que a república ótima é constituída de
[termos] médios e que aquelas cidades que possuem muitos
homens [situados num termo] médio são as cidades que possuem
uma república ótima. A razão disto é que a parte mais
vigorosa da cidade e a melhor é a parte intermediária, mais
do que as duas partes restantes em separado, porque se uma
parte, além da razão, quiser oprimir a outra parte, assim
como se os ricos quiserem oprimir os pobres, esta parte se
acrescentará aos pobres e com ela reprimirá a malícia dos
ricos. Se, porém, os pobres quiserem se insurgir além da
razão contra os ricos, os médios se unirão aos ricos e
reprimirão os pobres. E por isso os médios impedem que na
cidade se cometam excessos. Ora, uma república assim
constituída é ótima.
[Destes argumentos conclui-se também] ser
manifesto que, dado que a cidade ótima é a constituída pelos
intermediários, o bem máximo é que na cidade os governantes
tenham uma riqueza moderada e posses moderadas. Onde houver
pessoas que excedam imensamente a outras nas riquezas, ou
houver outras imensamente indigentes, haverá ali ou um estado
popular ou um estado de poucos intemperado, no qual poucos
homens muito ricos dominarão segundo a sua vontade ou então
haverá um tirano por causa de ambos os excessos, isto é, dos
ricos e dos necessitados. De fato, dos estados populares
excessivamente orgulhosos [facilmente] levantam-se os
tiranos. O mesmo pode-se dizer da potência dos poucos, não
porém [do estado constituído de homens situados] em um termo
médio. Muito mais facilmente se origina um tirano de um
estado popular do que entre aqueles que estão próximos de um
termo médio. A causa para isto ficará evidente mais adiante
ao tratarmos sobre as transmutações da república.
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