5. Qualidade quantidade da região da cidade.

Depois que o Filósofo investigou as coisas que devem ser supostas por parte da magnitude da cidade civil, passa a investigar agora as coisas que devem ser supostas por parte das regiões adjacentes.

A região adjacente à cidade deve ser procurada na medida em que é útil para bem viver civilmente. O Filósofo declara primeiro a qualidade e a quantidade que deverá ter a região; investigará, depois, também a sua localização.

Como toda região é procurada por causa dos cidadãos ou para o uso dos mesmos, convém que a região seja proporcionada aos cidadãos e que a disposição da mesma seja procurada segundo o que compete ao uso dos cidadãos.

É manifesto, no tocante à qualidade que convém que a região deva ter, que ela deverá ser per se suficiente para o uso dos habitantes. Todos louvam uma região tal que seja suficiente para tudo aquilo que é necessário para bem viver. Convém que uma região assim seja fértil e que possa produzir todas as coisas a partir das quais a natureza humana sustenta-se pela bebida e pela comida. Dizemos ser per se suficiente a região quer tudo tem e à qual nada falta. Importa que a região seja, segundo a qualidade, tal que possa produzir tudo o que é necessário à suficiência da vida per se. Poderá fazê-lo se for temperada segundo as qualidades primárias, o quente, o frio, o húmido e o seco, e que lhe convirá pela relação adequada à figura celeste e à disposição do lugar.

Quanto à quantidade, convém que a região seja tanta segundo a magnitude total e segundo a multidão considerada na diversidade das terras cultivadas e não cultivadas, aptas ao cultivo e ao pasto, [e outras diferenças de uso semelhantes], de tal modo que os homens possam viver segundo o que compete ao homem, isto é segundo a virtude. Por isso, tanta convém ser a região quanta for necessária para que nela os habitantes possam viver segundo a virtude que é diretiva das coisas pelas quais a natureza se sustenta, que são a temperança e a liberalidade. A temperança é a virtude segundo a qual a natureza se sustenta absolutamente; a liberalidade é [a virtude segundo a qual a natureza se sustenta] em comparação a outro. A região [adjacente à cidade] importa que seja aquela pela qual os habitantes possam viver com temperança, não declinado para as delícias, e liberalmente, não retraídos pela tenacidade. Se este termo da magnitude da cidade está ou não bem assinalado, trata-se de algo que será diligentemente considerado mais adiante, quando considerarmos a posse e a abundância dos bens.

Há muitas e contrárias dúvidas entre os homens sobre se este limite da magnitude da cidade está bem assinalado ou não, sobre quanta deve ser a região e como deve ser ordenada ao uso. Isto se deve às inclinações naturais dos homens a ambos os excessos [acima mencionados], alguns para as delícias e a intemperança, outros para a avareza. Os homens, de fato, no que diz respeito aos agíveis, e talvez até mesmo no que diz respeito aos especuláveis, costumam formar opinião segundo suas inclinações, de tal modo que aqueles que se inclinam às delícias opinam que nisto consiste o sumo bem, e que as riquezas debem ser procuradas na medida em que são úteis para a vida em delícias e, tais como estes, assim também semelhantemente opinam outros homens, em sua maioria. Isto lhes ocorre por causa da enfermidade de seus intelectos que não lhes permite superar o sentido, nem discutir a verdade [independentemente] da inclinação de suas naturezas.