3. Argumentos [dialéticos] que demonstram que o lugar não existe.

[O primeiro argumento afirma que] se o lugar é alguma coisa, deve ser um corpo, porque um lugar tem três dimensões. E isto porque tudo o que tem três dimensões é um corpo. Ora, já que o lugar e aquilo que está localizado no lugar existem conjuntamente, segue-se que dois corpos co- existem juntos. Portanto, como isso é impossível, segue-se que o lugar não existe.

[O segundo argumento afirma que] tudo o que existe é um elemento ou composto de elementos. Mas o lugar não é nem um elemento, e nem composto de elementos. Isto porque tudo o que é composto de elementos ou é elemento pode ser corpóreo ou incorpóreo. [Pode ser incorpóreo, como por exemplo, os princípios intelegíveis, que são incorpóreos]. Mas o lugar, apresentando magnitude, não pode ser enquadrado no número das coisas incorpóreas. E também não pode ser enquadrado no número das coisas corpóreas, porque não é um corpo, [conforme se demonstrou no primeiro argumento]. Portanto, o lugar não é um elemento, e nem é composto de elementos. Logo, o lugar não existe.

[O terceiro argumento afirma que] tudo o que existe é, de alguma maneira, causa de alguma outra coisa. Mas o lugar não é causa de acordo com nenhum dos quatro tipos de causa. Não é causa material, porque as coisas que existem não são constituídas a partir do lugar. Não é causa formal, porque então tudo o que ocupasse aquele lugar seria da mesma espécie, já que o princípio da espécie é a forma. Não é causa final, porque o lugar existe para aquilo que está no lugar, e não vice versa. Não é causa eficiente, porque ele é o término do movimento. Portanto, [conclui-se que] o lugar não existe.

[O quarto argumento afirma que] tudo o que existe está no lugar. Se o lugar existe, então ele está num lugar. E este outro lugar está em outro lugar e assim sucessivamente. Ora, isto não pode ser. Portanto, o lugar não existe.