4. A finalidade da cidade não é a riqueza, o simples viver, a defesa militar, ou a comutação.

Universalmente falando, nem estes [que favoreceram a oligarquia], nem aqueles [que favoreceram a democracia] alcançaram o justo de modo simples. Ora, como o justo tem que ser tomado nas operações que se ordenam a outro, em relação ao fim da cidade, por isso o Filósofo declara qual é o fim da cidade, para que a partir disto fique claro o que é o justo de modo simples, e o que é o justo segundo um certo aspecto.

O Filósofo estabelece primeiramente que uma cidade não é instituída para o viver absolutamente falando. Se a cidade não é instituída tendo como finalidade as riquezas, nem tampouco é instituída por causa somente do viver, de tal modo que o próprio viver, em si mesmo, seja o fim último da cidade. A cidade existe mais para viver bem do que apenas para viver.

A cidade também não existe para tornar possível a luta [militar] em comum ou por causa das permutas [que seus habitantes fazem] entre si.

A cidade não é instituída por causa da compugnação contra os inimigos, de tal modo que [esta cidade] não possa padecer injustiça. A cidade também não existe por causa das comutações, nem por causa de algum contrato ou uso que os homens possam fazer entre si.

Se a cidade fosse instituída por causa da compugnação, das comutações ou dos contratos que [seus membros] pudessem fazer entre si, então os Tuscos e os Cartagineses e todos entre os quais há e se fazem contratos estariam sob uma só cidade. Entre estes há pactos de coisas introdutíveis que podem ser intercambiadas entre si, de tal modo que as coisas de uma cidade podem ser conduzidas a outra e comutadas. Eles possuem também convenções pelas quais não fazem entre si injustiças quanto à compugnação, pelas quais eles como que estão sob uma só cidade quando devem se ajudar mutuamente contra os inimigos.

É manifesto, no entanto, que Tuscos e Cartagineses não são uma só cidade, porque uma cidade tem que possuir um só principado. Mas os Tuscos, os Cartagineses e outros que possuem contratos mútuos não estão sob um só principado, mas sob muitos.

É manifesto, ademais, que estes não estão sob uma só cidade, porque os Tuscos não cuidam como devem ser os Cartagineses segundo a virtude, nem vice versa, nem cuidam de como nenhum deles seja injusto ou não possua malícia, nem trabalham para isto, nem cooperam para o mesmo. Sua única preocupação é que não se façam injustiças mutuamente. No entanto, quem quer que se preocupe com a boa legislação considera a virtude e a malícia, de tal modo que afastam a malícia dos cidadãos e os tornam virtuosos. Esta é a intenção do bom legislador, pela qual é manifesto que a cidade boa e verdadeira e não apenas segundo o discurso deve ser solícita quanto à virtude, para que torne os cidadãos virtuosos. Embora estes não cuidem entre si como devem ser segundo a virtude, nem trabalhem para tanto, possuem no entanto alguma comunicação, pois se ajudam ao lutar contra os inimigos e comunicam nas comutações e nos contratos e em outras coisas.