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O bem, segundo que seja o fim de algo, pode ser
de duas maneiras. Existe o fim extrínseco àquilo que está
para o fim, assim como se dissermos que um lugar é o fim
daquilo que é movido em direção àquele lugar. Existe o fim
intrínseco, assim como a forma é o fim da geração e da
alteração, e a forma já alcançada é um certo bem intrínseco
àquilo de quem é forma. Neste segundo sentido, a forma de
algum todo que é uno por uma certa ordenação de partes, que
é a ordem do mesmo, é o seu bem. [Tendo isto que foi dito
em vista], Aristóteles pergunta se a natureza de todo o
universo tem um fim e bem próprio como algo separado de si,
ou tem o seu bem na ordenação de suas partes, pelo modo
segundo o qual o bem de alguma coisa natural é a sua forma.
[A solução desta questão é conforme se segue]. O
universo tem ambos os modos de bem e fim. Existe um bem
separado, que é o primeiro movente, do qual depende o céu e
toda a natureza, assim como de um fim e bem apetecível,
conforme já mostrado. E porque é necessário que todas as
coisas das quais existe um fim, se ordenem àquele fim, é
necessário que alguma ordem seja encontrada nas partes do
universo. Desta maneira, o universo apresenta o bem
separado e o bem da ordem.
É assim que nós vemos nos exércitos. O bem do
exército está na própria ordem do exército, e no comandante
que preside ao exército. Porém o bem do exército está mais
no comandante do que na ordem. De fato, a ordem do exército
existe para alcançar o bem do comandante, que é a vontade
do comandante de conseguir a vitória, não acontecendo o
contrário, isto é, que o bem do comandante seja por causa
do bem da ordem. E porque a razão das coisas que se ordenam
a um fim é tomada deste fim, por isso é necessário que não
somente a ordem do exército seja por causa do comandante,
mas também a ordem do exército provenha do comandante,
sendo por causa dele. Assim também o bem separado, que é
primeiro movente, é bem melhor do que o bem da ordem que
existe no universo. De fato, toda a ordem do universo
existe por causa do primeiro movente, de tal maneira que se
exprime na ordenação do universo aquilo que está no
intelecto e na vontade do primeiro movente. E assim, é
necessário que do primeiro movente provenha toda a
ordenação do universo.
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