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O uno e o ente significam uma única natureza
segundo razões diversas, estando um para o outro assim como
estão entre si o princípio e a causa, [que também
significam uma única natureza segundo razões diversas], e
não como estão um para o outro a túnica e o vestido, que
são inteiramente sinônimos.
O uno e o ente, ao se predicarem de alguma
substância, não lhe adicionam nenhum ente, [isto é, não lhe
acrescentam nenhuma outra natureza].
Uma outra maneira de dizer isso é que uno que se
converte com o ente e o ente não adicionam algo à essência
da coisa.
O uno que se converte com o ente não é o mesmo
uno que é princípio do número. O uno que é princípio do
número significa uma natureza adicionada à substância, por
estar no predicamento da quantidade, que é um acidente
adicionado à substância, por estar no predicamento da
quantidade, que é um acidente adicionado à substância.
O uno que se converte com o ente, portanto, não
significa uma quantidade que ineriria a todo ente, não
significa um acidente que inere a todo o ente.
Além disso, não é verdade que o uno princípio do
número que está no gênero da quantidade discreta se pode
converter universalmente com todo ente. Nada que está em
determinado gênero pode seguir-se a todo ente.
O motivo porque o uno se converte com o ente
está em que ele designa o próprio ente, acrescentado-lhe
apenas a razão de indivisão, a qual, sendo negação ou
privação, não pode colocar nenhuma natureza adicionada ao
ente.
Desta maneira, o uno e o ente diferem apenas
pela razão, mas significam a mesma natureza.
Tantas quantas são as espécies do ente, tantas
serão as espécies do uno, que se corresponderão mutuamente.
O uno princípio do número pertence à
consideração da Matemática. O uno que se converte com o
ente pertence à consideração da Metafísica.
A negação e a privação pertencem à razão do uno.
Ora, a consideração do uno pertence à Metafísica. Portanto,
a consideração da negação e da privação também pertence à
Metafísica.
A privação implícita no uno que se converte com
o ente não é a privação da multidão.
Quando se afirma que a privação implícita no uno
que se converte com o ente é a privação da divisão, esta
divisão não é a divisão segundo a quantidade.
A privação implícita no uno que se converte com
o ente é a privação da divisão formal cuja raiz é a
oposição da afirmação e da negação, pela qual são divididas
mutuamente as coisas que se acham de tal maneira que isto
não seja aquilo. É desta maneira que é inteligido primeiro
o próprio ente, depois o não ente, e conseqüentemente a
divisão.
A privação contida na razão do uno que se
converte com o ente é a privação da divisão, e não da
multidão. Porém é correto dizer que o uno que se converte
com o ente, ao privar a divisão, priva por conseqüência a
multidão.
Portanto, é também correto dizer que o uno que
se converte com o ente se opõe à multidão.
Como, ainda, pertence à mesma ciência a
consideração dos opostos, segue-se que se pertence à
Metafísica especular sobre o uno que se converte com o
ente, também pertence à Metafísica especular sobre a
multidão.
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