5. Uma dificuldade a respeito do movimento de uma pedra arremessada ao longe.

Foi demonstrado no início do livro VIII que tudo o que é movido é movido por um outro, exceto os auto moventes, tais como os animais. Ora, uma pedra arremessada [ao longe] não está incluída neste caso. Além do mais, um corpo move como resultado do contato. Existe, portanto, uma dificuldade em relação a [explicar-se] a maneira de como uma pedra arremessada continua a ser movida até mesmo depois que não está mais em contato com o movente, porque parece que então estaria sendo movida sem ter um movente.

[A solução deste paradoxo, atribuída a Platão consiste em dizer que] o arremessador, ao mover a pedra, move também o ar, e o ar movido move a pedra subseqüentemente ao contato do arremessador, [pelo fato de estar sendo movida].

[Esta solução, entretanto, não resolve a dificuldade], porque é tão impossível o ar ser movido sem contato com o primeiro movente, como o era para a pedra. [A dificuldade continua] porque parece ser necessário que enquanto o primeiro motor move, tudo seja movido e quando o primeiro motor entra em repouso, tudo entra em repouso.

[Quando Aristóteles tentou resolver esta dificuldade, por inacreditável que pareça, não nega que o ar realmente mova a pedra. Ele simplesmente explica como isso pode acontecer tendo o ar deixado de ser movido quando o arremessador parou de mover tanto a pedra quanto o ar]. [Segundo Aristóteles, a dificuldade de Platão se resolve reconhecendo que] se o segundo motor move aquilo que foi movido pelo primeiro motor, deve-se dizer que o primeiro motor confere ao segundo motor a potência de mover e ser movido, porque o ar recebe do arremessador tanto a potência de mover como a de ser movido. Mas mover e ser movido não estão necessariamente no mesmo ser, porque nós demonstramos que existe um motor que não é movido. Portanto, o ar movido pelo arremessador não cessa simultaneamente de mover e ser movido. Ao invés disso, tão logo o primeiro movente cessa de mover, o ar cessa de ser movido, mas ele é ainda um movente. [Que uma coisa destas seja possível na natureza] é aparente aos sentidos, porque quando um objeto móvel alcançou o término do seu movimento, neste último ponto ele ainda pode mover. [Em afirmando isso, Aristóteles parece referir-se ao caso de uma esfera rolando até parar repentinamente devido ao choque com outra esfera, e a segunda esfera continuar o movimento desta]. Mas como o segundo motor tem menos potência de mover do que o primeiro, e o terceiro menos do que o segundo, o movimento de arremesso deverá cessar porque existe menos potência movente no movente consecutivo do que haveria no primeiro. E, finalmente, por causa do decremento na potência da força motora, nós chegaremos a um ponto onde aquilo que será anterior ao próximo objeto móvel não poderá ser causa do próximo objeto apresentar potência de mover mas somente será causa desse objeto ser movido. Assim, quando este último motor pára de mover, aquilo que por ele é movido simultaneamente cessa de ser movido. Conseqüentemente, todo o movimento cessa.