7. É impossível, nas coisas humanas, que tudo seja necessário e que não exista o contingente.

Se for colocado ser necessário que nas enunciações opostas uma seja determinadamente verdadeira e outra seja falsa, tanto nas enunciações singulares como nas universais, de tal maneira que nenhuma das coisas que se fazem [tenha inclinação para] ambas [as possibilidades], mas todas se realizam procedentes da necessidade, seguir-se-ão ainda, [nas coisas humanas], dois outros inconvenientes.

O primeiro é que não convirá que nos aconselhemos de coisa alguma. Foi, de fato, demonstrado no III da Ética, que o conselho não se refere às coisas que ocorrem necessariamente, mas apenas as coisas contingentes, as que podem ser e não ser.

O segundo inconveniente será que todas as ações humanas que são por causa de algum fim, como as negociações que se fazem para adquirir riquezas, serão supérfluas. Pois, se todas as coisas ocorrem procedentes da necessidade, operando ou não operando, sucederá aquilo que pretendemos. Isto, porém, é contra a intenção dos homens, pois eles se aconselham e negociam com a intenção de que se fizerem tal coisa sucederá tal fim, se fizerem aquela outra, sucederá o outro fim.

Quanto às coisas humanas, portanto, é manifesto ser impossível [que de todas as enunciações singulares futuras um dos opostos seja determinadamente verdadeiro], porque o homem é manifestamente ele próprio o princípio das coisas futuras que ele [produz] como senhor de seus atos, possuindo em seu poder o agir e o não agir. Este princípio, se removido, retira-se com ele toda a ordenação da conversação humana e todos os princípios da Filosofia Moral. Removido este [princípio], ademais, não haverá também nenhuma utilidade para a persuasão, nem para as advertências, punições ou recompensas, pelas quais os homens são incentivados ao bem e afastados do mal. Esvair-se-ia, com isto, toda a ciência da civilidade.

Estas palavras do Filósofo mostram que ele considerou como princípio manifesto que o homem é princípio das coisas futuras. O homem, porém, não é princípio das coisas futuras senão na medida em que ele se aconselha e faz algo. As coisas que agem sem conselho, efetivamente, não possuem domínio de seus atos, não podendo julgar livremente das coisas que devem ser feitas; ao contrário, são movidas à ação por um certo instinto natural, como é evidente nos animais brutos.