10. Acerca da veracidade da fantasia.

A fantasia é às vezes falsa e às vezes verdadeira.

O motivo do porque a fantasia é às vezes falsa e às vezes verdadeira se deve ao fato de que o sentido se situa de diversos modos em relação para com a verdade, segundo possa ser comparado a diversas [espécies de sensíveis].

O sentido, em relação aos sensíveis próprios é sempre verdadeiro ou apresenta pouco de falsidade. Assim como as potências naturais não falham em suas operações próprias, exceto por causa de alguma corrupção, assim também o sentido não falha em dar um juízo verdadeiro acerca dos sensíveis próprios, exceto nos casos [tais como] os homens que estão com febre, para os quais o doce parece amargo.

Já no que diz respeito aos sensíveis por acidente, o sentido pode se enganar. Que o branco seja o que parece ser, nisto o sentido não mente. Mas, se o branco seja [isto ou aquilo, isto é], neve ou farinha, nisto o sentido pode se enganar, principalmente à distância.

E em relação aos sensíveis comuns que se seguem ao sujeito em que estão os acidentes, os quais são os sensíveis próprios, como a magnitude e o movimento, aqui é onde principalmente se dão os enganos do sentido, porque o seu julgamento a respeito varia de acordo com o diversidade da distância.

Mas o movimento da fantasia difere destes três atos dos sentidos assim como o efeito difere da causa. E como o efeito é mais débil do que a causa, e quanto mais algo se afasta do primeiro agente, tanto menos recebe de sua força e de sua semelhança, por isso na fantasia é mais fácil do que no sentido ocorrer a falsidade, a qual consiste na dessemelhança do sentido em relação ao sensível. Diz-se aqui segundo a espécie, porque segundo a matéria o sentido é sempre diferente do sensível.

[Pode concluir-se que] todo movimento da fantasia, que se faz pelo movimento, dos sensíveis próprios, é em geral verdadeiro, quando o movimento da fantasia se dá simultâneamente com o movimento do sentido. Quando o movimento da fantasia ocorre na ausência do sentido, então pode ocorrer também a respeito dos sensíveis próprios a falsidade. Quanto aos outros movimentos da fantasia, causados pelos sensíveis por acidente e pelos sensíveis comuns, estes podem ser verdadeiros ou falsos, tanto com o sensível presente ou ausente. Mas costumam ser mais falsos na ausência do sensível do que na presença.