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Vemos que muitas cidades, enquanto estão em algum
exercício de guerra contra seus inimigos, se salvam. Quando,
porém, alcançam a vitória contra os seus adversários e passam
a viver em paz, sua república se corrompe.
De fato, os guerreiros possuem muitas virtudes,
assim como foi dito antes, por exemplo, a fortaleza, a
liberalidade e a religião, por causa das quais são menos
injuriosos entre si. Quando conseguem a paz, não tendo mais
ocasião de exercitar em ato estas virtudes, entregam-se aos
prazeres reunindo as riquezas pelas quais julgam poderem
viver voluptuosamente. Ao fazerem isto, tornam-se injuriosos
entre si e induzem a sedição. Conduzindo uma vida delicada e
tranqüila, como que contraem a ferrugem dos maus hábitos e
costumes, enquanto que, ao se exercitarem na guerra,
purificam-se pelos atos das virtudes, como o ferro, que tão
facilmente contrai a ferrugem, mas que, ao ser trabalhado e
ser consumido pelo uso, clarifica-se e purifica-se, conforme
diz Sêneca.
A causa disto, porém, foi o próprio legislador,
que não lhes ordenou ocupação honesta às quais pudessem
dedicar-se quando cessasse a guerra, como o exercício da
Filosofia e de suas partes. Esta, de fato, conforme diz o
Filósofo no Décimo Livro da Ética, possui muitas e admiráveis
deleitações por causa de sua pureza e firmeza.
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