8. Mostra-se o processo pelo qual a razão é atada quanto ao singular nos incontinentes.

Segundo o processo natural da ciência prática, neste processo se dão duas [proposições]. A primeira é universal, por exemplo, que tudo desonesto deve ser evitado. A segunda é uma [proposição] singular acerca das coisas que são conhecidas de modo próprio segundo o sentido, como por exemplo, isto é desonesto. Destas [duas proposições] é necessário que se siga uma conclusão. No que é especulativo, a alma somente diz a conclusão, mas no que é factível ela imediatamente opera a conclusão, a não ser que haja algo que [a] impeça. É [deste modo que este silogismo acontece no homem] temperante, já que ele não possui concupiscência que repugna a razão proponente que todo desonesto deve ser evitado. Este [silogismo também se dá] de modo semelhante [no] intemperante, cuja razão não repugna a concupiscência proponente que inclina a que tudo o que é deleitável seja tomado.

No incontinente a razão não é totalmente obstruída pela concupiscência, já que no universal o incontinente possui ciência verdadeira. Seja, portanto, que por parte da razão se proponha uma universal proibindo comer o que é doce desordenadamente, dizendo, por exemplo, que nenhum doce deve ser comido fora de hora. Por parte da concupiscência, porém, se coloca que todo doce é deleitável, o que é querido per se pela concupiscência. Ora, como no que é particular a concupiscência ata a razão, [a proposição singular não é tomada segundo a razão], de tal maneira que se diga ["isto é um doce] fora de hora", mas é tomada segundo a concupiscência, de tal maneira que se diz "isto é doce". De onde que assim se seguirá a conclusão da operação.