2. O princípio da dissensão nas repúblicas.

Para investigar a causa da corrupção das repúblicas é necessário primeiro supor o princípio pelo qual algumas repúblicas são retas e outras não o são, [e pelo qual] todos tendem a algo justo e igual segundo a proporção.

A razão disto é que todas pretendem a salvação. Ora, a república não pode salvar-se sem a união, e a união não pode fazer-se sem que se retorne o igual. Ora, isto é o justo, e é por isso que todos pretendem o justo e o igual. Todavia, muitos pecam ao determinar o justo.

Alguns, de fato, determinam mal [o justo e o igual]. O povo, [por exemplo], considera que se há pessoas iguais em algum aspecto, serão também iguais de modo simples e, portanto, deverão receber igualmente. Como todos os cidadãos são livres, são ditos [pelo povo] ser simplesmente iguais.

Já a potência de poucos considera que se os cidadãos são desiguais em algo eles também serão desiguais de modo simples e que portanto deverão receber desigualmente. Isto é, se há cidadãos desiguais nas riquezas, consideram que são desiguais de modo simples e desigualmente devem receber os bens comuns.

Mas a desigualdade na riqueza não implica em uma desigualdade de modo simples, nem a igualdade na liberdade implica na igualdade de modo simples, porque as riquezas e a liberdade não são bens do homem enquanto homem.

Assim, portanto, é manifesto que todas estas repúblicas pretendem algo justo, mas são viciadas simplesmente consideradas.

De tudo isto pode concluir-se qual é a primeira raiz e o primeiro princípio da corrupção da república e de [sua] sedição.

Já que cada um, segundo alguma dignidade, deve receber algo dos bens comuns, quando estes não recebem segundo o que se estimam ser dignos, promovem uma sedição na cidade e transmutam a república. Por não receberem segundo a estimação que tem de si, parece-lhes que se lhes faz injustiça e que são desprezados. Estas coisas são causas das dissensões.