8. Qual é a operação própria do homem.

Está manifesto, então, que a operação própria de cada coisa é aquilo que lhe compete segundo a sua forma. Ora, a forma do homem é a alma, cujo ato [correspondente] é dito viver. Viver, porém, é dito ser o ato [ correspondente] à forma do homem que é a alma, não na medida em que viver é ser vivente, mas na medida em que alguma obra da vida é dita viver, como por exemplo, intelegir ou sentir. De onde fica claro que a felicidade do homem consiste em alguma obra da vida.

De fato, não pode ser dito que a felicidade diz respeito ao homem segundo qualquer viver, porque viver [no homem] é comum com as plantas, porque a felicidade é buscada como um certo bem próprio do homem. Pela mesma razão, a felicidade não pode consistir na espécie de vida chamada nutritiva e aumentativa, porque esta também é comum às plantas. Depois da vida nutritiva e aumentativa se segue a vida sensitiva, a qual também não é própria do homem, mas convém a qualquer animal. Portanto, a felicidade também não pode consistir na vida sensitiva. Daqui pode-se concluir que a felicidade humana não consiste em nenhum conhecimento ou deleitação sensível.

Após a vida nutritiva e sensitiva nada resta a não ser a vida que é operativa segundo razão, a qual é própria do homem. De fato, o homem é dito animal racional.

Mas racional pode ser entendido de duas maneiras. De uma primeira maneira, podemos entender racional participativamente, na medida em que [algo] é persuadido e regulado pela razão. De uma segunda maneira, podemos entender racional essencialmente, como aquilo que por si mesmo é raciocinar e intelegir. Este segundo modo é dito a parte principal do racional, porque aquilo que é per se é mais principal do que aquilo que é por outro. Portanto, porque a felicidade é o bem principalíssimo do homem, conclui-se que ela mais consiste naquilo que é racional essencialmente do que naquilo que é racional por participação. De onde se conclui finalmente que a felicidade mais principalmente consiste na vida contemplativa do que na ativa, e no ato da razão ou do intelecto, do que no ato do apetite regulado pela razão.