3. Que a virtude não é igualmente contrariada por ambos os extremos.

Em alguns [casos] o termo médio da virtude é mais contrariado pelo vício que está em defeito, enquanto que em outros [casos] o termo médio da virtude é mais contrariado pelo vício que está em superabundância. Por exemplo, a fortaleza não é maximamente contrariada pela audácia, que pertence à superabundância, mas pela timidez, que pertence ao defeito. Inversamente, a temperança não é maximamente contrariada pela insensibilidade, que pertence ao defeito, mas pela intemperança, que pertence à superabundância.

[Uma primeira razão para tanto consiste em que] isto acontece porque um dos extremos é mais próximo e semelhante ao termo médio da virtude do que o outro, [isto por sua vez se devendo] à própria natureza das paixões. A paixão pode corromper o bem da razão de duas maneiras. De uma primeira maneira, pela sua veemência, compelindo a fazer mais do que a razão dita, como no caso das concupiscências das deleitações, e demais paixões que pertencem ao seguimento do apetite. De onde que a virtude, que diz respeito a tais paixões, pretende maximamente reprimi-las, e por causa disso o vício [que está no extremo correspondente ao] defeito mais se assemelhará a esta virtude, enquanto que o que está [no extremo correspondente à] superabundância será mais contrariado pela [mesma] virtude. É o caso da temperança. De uma segunda maneira, as paixões podem corromper o bem da razão [fugindo para] aquilo que é menos do que é segundo a razão. É o [caso] do temor e das outras paixões pertencentes à fuga. De onde que na virtude que é a respeito de tais paixões, o vício que está [no extremo correspondente ao defeito] é o que mais a contraria.

[Uma segunda razão para o mesmo consiste em que] como pertence à virtude repelir os vícios, a intenção da virtude é a de repelir mais poderosamente aquele dentre os vícios ao qual temos maior inclinação. Por isso, aquele vício para o qual de alguma maneira somos mais inclinados, este é o mais contrário à virtude. Por exemplo, nós somos mais inclinados a seguir os prazeres do que a fugir deles, de onde que mais facilmente somos movidos à intemperança, que implica num excesso de prazer. Assim, a intemperança, à qual pertence a superabundância do prazer, é mais contrária à temperança do que à sensibilidade.