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[Primeira razão]. É tanto mais razoável amar
quanto mais conhecemos a causa deste amor. Conforme foi dito,
a causa porque os pais amam os filhos é por serem [os filhos
como que parte dos pais]. A causa, porém, porque os filhos
amam os pais é por serem [ os filhos algo proveniente dos
pais]. Ora, mais podem os pais conhecer aqueles que nasceram
deles do que os filhos conhecerem os pais dos quais se
originaram. De fato, aos pais foi conhecida a geração, não
porém aos filhos que ainda não existiam. De onde que é
razoável que os pais mais amem os filhos do que inversamente.
[Segunda razão]. A razão do amor em toda a amizade
entre consanguíneos é a proximidade de um ao outro. Porém, o
que gera está mais próximo do gerado do que o gerado daquele
que o gerou. De fato, o gerado é como uma certa parte
separada do gerante, de onde que se compara ao gerante como
as partes separáveis para com o todo. Tais partes possuem
proximidade para com o todo porque o todo em si contém estas
partes, não acontecendo, porém, o inverso. Por isso o todo
menos pertence às partes do que as partes ao todo. De onde
que é razoável que os pais mais amem aos filhos do que o
inverso.
[Terceira razão]. A amizade se confirma [e se
robustece] com o tempo. Ora, os pais [amaram] aos filhos por
uma quantidade maior de tempo do que os filhos aos pais. De
fato, os pais amam os filhos imediatamente desde o
nascimento. Mas os filhos amam os pais já passado algum tempo
quando [principiam a] utilizar o intelecto, ou pelo menos o
sentido, para que distingam os pais dos outros, já que no
início as [crianças] chamam a todos os homens de pai e a
todas as mulheres de mãe. De onde que é razoável que os pais
mais amem os filhos do que o inverso.
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