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Vamos mostrar que se a substância do primeiro
movente não for o seu próprio inteligir, mas seu intelecto
é uma potência intelectiva, seguir-se-ão uma série de
dificuldades.
[A primeira dificuldade consise em que] se o
intelecto do primeiro movente não intelige em ato, mas
somente em potência, não será algo nobre.
De fato, o bem e a nobreza do intelecto estão
nisto que intelige em ato. O intelecto do inteligente em
potência se encontra como o que dorme: os que dormem tem
algumas potências [vitais], nas não as operam, de onde que
o sono é dito meia vida, e segundo o sono não difere o
infeliz do feliz, e o virtuoso do não virtuoso.
[A segunda dificuldade consiste em que] se o
intelecto do primeiro intelecto intelige algo em ato, mas o
seu bem principal é algo diferente de si mesmo, será
comparado ao mesmo assim como a potência ao ato, e como o
perfectível à perfeição. E assim se seguirá que o primeiro
inteligente não será substância ótima, pois a
honorabilidade e a nobreza existem nele pelo seu inteligir,
e nada que é nobre segundo outro é nobilíssimo.
[A terceira dificuldade consiste em que] se a
substância do primeiro [princípio] não for o seu próprio
inteligir, mas ele for uma potência intelectiva,
provavelmente se seguirá que a continuação de sua operação
intelectual lhe será trabalhosa. De fato, o que está em
potência a algo, tem potência para este algo e para o seu
oposto, porque pode ser e pode não ser. De onde se segue
que se a substância do primeiro [princípio] se compara ao
inteligir assim como a potência ao ato, poderá inteligir e
não inteligir, não inerindo à sua substância que tenha que
inteligir continuamente. Para que, portanto, não se
encontre como quem dorme, será necessário que a continuação
do seu inteligir seja alcançada através de algum outro
[inteligível]. Ora, pelo fato de que este algum outro
[tenha que] ser alcançado, não sendo possuído pela sua
própria natureza, provavelmente isto terá que ser feito com
trabalho, assim como vemos acontecer nos homens: eles têm
que trabalhar para que operem continuamente. [Aristóteles
diz provavelmente porque] não é uma [conclusão] necessária,
[porque a aquisição de algo por outro e sua continuação
somente são necessariamente trabalhosas quando em algo
forem contra a natureza]. Um exemplo disto é a continuidade
do movimento do céu, que depende de algo extrínseco, e no
entanto o movimento do céu não se dá com trabalho.
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