15. Primeira razão pela qual os que excedem todos os demais em virtude não podem ser cidadãos.

A primeira razão é política. O justo de modo simples consiste em que os que são iguais na virtude recebam ou alcancem o principado de modo igual. Os que, porém, são desiguais, devem recebê-lo de modo desigual. Mas este ou aqueles excedem todos os demais na virtude e, portanto, este ou aqueles devem receber mais do que todos os outros. Todos os outros, porém, por causa da multidão, crerão que devem receber mais do que aquele ou estes poucos, motivo pelo qual se os que excedem segundo a virtude e o poder mais receberem do que todos os outros, parecerão injuriar aos demais, do que seguir-se-ão dissensões e revoltas na cidade e corromper-se-á a proporção da cidade. Ora, isto é inconveniente, pelo que nem este nem aqueles serão cidadãos. Na verdade, este único homem que excede todos os demais na virtude será, verossimilmente, como um deus.

Sobre [esta última afirmação do Filósofo] deve-se entender que alguém pode alcançar a virtude perfeita e o seu ato de dois modos. De um primeiro modo, segundo o estado comum dos homens; de um segundo modo, além do modo ou do estado comum dos homens, e este é o modo da virtude dita heróica. A virtude heróica é aquela segundo a qual alguém pela virtude moral e intelectual alcança a operação de qualquer virtude acima do modo comum dos homens, e isto é um certo ser divino, que se realiza mediante algo divino existente no homem, que é a inteligência, e é neste sentido que fala o Filósofo que tais homens, que excedem deste modo a todos os demais, são como deuses.