9. A verdade e a falsidade na significação das vozes.

Algumas vozes significam o verdadeiro e o falso, outras não.

As concepções da inteligência são anteriores, pela ordem da natureza, às vozes, pois as vozes são proferidas para expressarem as concepções da inteligência. Ora, deve-se considerar que, conforme se explica no IIIº Livro do De Anima, duas são as operações da inteligência, em uma das quais não se encontra e em outra das quais se encontra o verdadeiro e o falso. Como as vozes significativas são formadas para expressar as concepções da inteligência, por isso, para que o sinal se conforme ao assinalado, é necessário que também, entre as vozes significativas, algumas signifiquem sem o verdadeiro e o falso, e outras com o verdadeiro e o falso.

A primeira das duas operações da inteligência é a inteligência dos indivisíveis, que se dá com quando a inteligência intelige absolutamente a qüididade ou a essência de cada coisa por si mesma, como por exemplo, o que é o homem, o que é o branco ou o que é alguma outra coisa como estas.

A segunda das operações da inteligência é a que se dá quando a inteligência compõe e divide simultaneamente estes conceitos simples.

A verdade e a falsidade dizem respeito à composição e à divisão. O Filósofo diz que é nesta segunda operação da inteligência, isto é, da inteligência componente e dividente, que se encontra a verdade e a falsidade, dando com isto a entender que não se encontra na primeira, o que é dito explicitamente no IIIº do De Anima.

A composição ocorre quando a inteligência compara um conceito a outro, como que apreendendo a conjunção ou a identidade das coisas às quais se referem as concepções. A divisão ocorre quando a inteligência compara de tal modo um conceito a outro que apreende as coisas serem diversas.

Por este motivo é que nas vozes a afirmação é dita composição, na medida em que significa a conjunção por parte da coisa; e a negação é dita divisão, na medida em que significa a separação das coisas.