6. Se a argumentação precedente significa que todas as coisas são desconhecidas por Deus.

O filósofo pretendeu mostrar que Deus não intelige nada mais que não a si mesmo, na medida em que o inteligido é a perfeição do inteligente e do inteligir. Fica claro, portanto, que nada mais pode assim ser inteligido por Deus, de tal maneira que seja a perfeição de seu intelecto. Não por isso, entretanto, se segue que todas as demais coisas sejam por ele ignoradas, porque, inteligindo a si, intelige a todas as demais coisas.

O que pode ficar patente como segue. Como Deus é o seu próprio inteligir, o qual é digníssimo e potentíssimo, será necessário que o seu inteligir seja perfeitissimo. Perfeitamente, portanto, inteligirá a si mesmo. Ora, quanto mais perfeitamente algum princípio é inteligido, tanto mais será inteligido nele o seu efeito, porque as coisas que são provenientes dos princípios estão contidas na virtude daqueles princípios. Como, portanto, do primeiro princípio, que é Deus, depende o céu e toda a natureza, conforme está dito, fica patente que Deus, conhecendo a si mesmo, todas as coisas conhece.

E nem a vileza de alguma coisa assim inteligida retira a dignidade do inteligente. Porque o inteligir em ato alguma coisa indignissima não é para se evitar, a não ser na medida em que o intelecto nela se demora, e na medida em que, por aquele ato pelo qual intelige, se afasta de inteligíveis mais dignos. Se, portanto, inteligindo algo digníssimo também se intelige coisas mais vis, a vileza destas coisas inteligidas não retira a nobreza da inteligência.