7. As qualidades requeridas para a perfeição do governante no principado principal.

Três [coisas] se requerem para a perfeição do governante no principal principado.

A primeira é o amor ao principado. Convém que o governante, se deve governar perfeitamente, ame o principado. A razão disto é que aquele que governa perfeitamente deve possuir a prudência, pois a prudência é a reta razão doa agíveis. Ora, o príncipe, tendo que reger a outros, convém que tenha a reta razão dos agíveis. Pelo que importa que tenha a prudência perfeita. Mas não poderá possuir a prudência a não ser que tenha o apetite reto para com o fim; este, porém, não poderá ser, a não ser que ame o fim, assim como as coisas que se ordenam para com o fim, na medida em que este principado é princípio das coisas que se ordenam ao fim da república. Pelo que é manifesto que aquele que governa bem deve possuir amor ao principado e à república.

A segunda [coisa que se requer para a perfeição do governante no principal principado] é que possua poder em relação às obras do governante que forem máximas. E isto é evidente pois, de fato, o príncipe tem que dirigir os súditos ao fim da república. Ora, entre os súditos alguns são bem persuadíveis pela razão e, quanto a estes, não é necessário a obra da coação. Há, porém, outros aos quais não é possível persuadir facilmente pela razão, sendo desobedientes e insolentes; para estes é necessário a potência coativa e não é possível coagir e punir se não se tem o poder, pelo que é manifesto que é necessário que tenha poder.

A terceira [coisa que se requer para a perfeição do governante no principal principado] é a virtude. Isto é manifesto pelo que já foi dito. É necessário, de fato, que o governante tenha prudência, mas isto não será possível a não ser que possua o reto apetite. Ora, a retidão do apetite se dá pela virtude moral, de onde que importa que o governante possua virtude e justiça segundo qualquer república. O Filósofo acrescenta, porém, [não segundo qualquer república], mas segundo aquela república, porque a justiça não é a mesma segundo cada uma [delas], pois, de fato, em cada república pretende-se [alcançar] o igual segundo alguma dignidade que lhe é própria e por isso em cada república é necessário que haja justiça segundo aquela república.