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Não somente pertence à Metafísica determinar
acerca do ente em comum, ou seja, acerca do ente enquanto
ente, mas também lhe pertence determinar acerca dos entes
separados da matéria segundo o ser. [A partir disso
desejamos determinar] se esta ciência difere da ciência
natural [e da matemática].
A Metafísica difere da ciência natural, porque a
ciência natural diz respeito às [coisas] que têm em si
mesmo o princípio de movimento. Assim, torna-se necessário
que as [coisas] naturais tenham uma determinada matéria,
porque nada é movido a não ser aquilo que possui matéria.
A matemática especula a respeito dos [seres]
imóveis. Isto porque é necessário que as coisas cuja razão
é tomada sem a matéria sensível, do mesmo modo sua razão
seja sem movimento, o movimento não existindo a não ser nas
coisas sensíveis. Porém, as coisas das quais a matemática
considera não são separáveis da matéria e do movimento
segundo o ser, mas somente segundo a razão. [Portanto, a
Metafísica também difere da matemática, porque ela
considera acerca das coisas que são separadas da matéria
segundo o ser.]
É necessário, portanto, que acerca daquele ente
que é separado da matéria e do movimento segundo o ser e
inteiramente imóvel, haja alguma outra ciência, que seja
outra que não a matemática e a ciência natural. Isto,
porém, deve ser dito caso haja alguma tal substância além
das [substâncias] sensíveis, que seja completamente imóvel,
porque ainda não demonstramos [existir] tal substância. Se,
então, existir uma tal natureza [dentre os] entes, isto é,
que seja separável e imóvel, aquele que possuir esta
natureza será [uma certa coisa] divina, e [uma certa coisa]
principalissima entre todas [as coisas]. [Isto] porque
quanto algo é mais simples e formal dentre os entes, tanto
será mais nobre, anterior e mais causa dos demais. E assim
fica patente que esta ciência que considera tais entes
separáveis, deve ser chamada ciência divina, e ciência dos
primeiros princípios.
Do que foi dito conclui-se que três são os
gêneros de ciências especulativas. [Primeiro], a ciência
natural, que considera os entes móveis, que em sua
definição recebem a matéria sensível. [Segundo], a ciência
matemática, que considera os [seres] imóveis, que não
recebem a matéria sensível em sua definição, ainda que
tenham o seu ser na matéria sensível. [Terceiro], a
teologia, que é acerca dos entes inteiramente separáveis.
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