10. Argumentos que parecem mostrar que a injustiça pode ser padecida voluntariamente.

Per se e de modo simples, fazer o injusto não é outra coisa senão que alguém querendo faça dano, entendendo- se neste querendo que saiba que esteja causando dano, como esteja causando o dano, e outras circunstâncias assim.

É manifesto que o incontinente querendo causa dano a si mesmo, na medida em que ele, querendo, opera aquilo que ele sabe ser a si nocivo. Se, portanto, o padecer a injustiça se segue ao fazer a injustiça, seguir-se-á que o incontinente padecerá voluntariamente a injustiça [feita por] si mesmo. De onde parece concluir-se que nem todo o padecer injustiça é involuntário.

Sucede também que algumas pessoas, por incontinência, sabendo e querendo são lesadas por outras, como quando alguém, apaixonado por uma meretriz, permite ser espoliado pela mesma. Portanto, parece acontecer que alguém querendo, padeça a injustiça. Assim, nem todo o padecer injustiça seria involuntário.