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Conforme explicado anteriormente, naquilo que move
a si mesmo primariamente, existem apenas duas partes, das
quais uma move e a outra é movida. Se houvesse uma terceira,
quando essa fosse removida, aquilo que é composto das duas
primeiras partes moveria a si mesmo. Por causa disso, este
último é o primeiro auto movente.
[A dificuldade surge a partir do momento em que
fica claro que] a parte movida, isto é, B, é um contínuo
[divisível, composto de partes]. [Porque tudo o que é movido
é divisível, conforme diz o livro VI]. Ora, se alguma parte é
subtraída por divisão de B, se a parte restante é movida,
então uma parte de AB move a si mesmo e, portanto, AB não
move a si mesmo primariamente. E assim se seguiria que nada
move a si mesmo primariamente.
[Esta dificuldade pode ser resolvida da seguinte
maneira].
No livro VI Aristóteles falou sobre o movimento em
geral e sobre os objetos móveis na medida em que eles são
contínuos sem aplicar estas observações a determinadas
naturezas. E, de acordo com isso, seguir-se-ia que nada
moveria a si mesmo primariamente. Mas agora Aristóteles está
falando a respeito do movimento, aplicando-o a determinadas
naturezas. Portanto, ele sustenta que existe algo que move a
si mesmo primariamente.
[Ademais], nada impede um contínuo de ser
divisível em potência. Ora, num auto movente, a parte movida
é necessariamente contínua. [Portanto, é infinitamente
divisível em potência]. Mas, se o que é contínuo é dividido,
ele não conservará a mesma potência para ser movido que
possuía antes, porque tal potência segue-se a determinada
forma. Uma forma natural, entretanto, requer uma determinada
quantidade, como é claro em relação ao coração. Portanto, não
existe nada que impeça [a existência] de um primeiro entre as
coisas que são divisíveis em potência.
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