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O bem pode sê-lo de duas maneiras. De uma primeira
maneira, aquilo que é por modo de operação, como a
consideração. De uma segunda maneira, aquilo que é por modo
de hábito, como a ciência. Destes, a operação é como o bem
perfeito, porque é perfeição segunda. O hábito, entretanto, é
como o bem imperfeito, porque é perfeição primeira.
[A estes dois modos de ser do bem se seguem dois
modos de ser da deleitação]. [Do que foi anteriormente
exposto, de fato], segue-se que a deleitação verdadeira e
perfeita consiste no bem que está na operação. As ações ou
movimentos, porém, que são constitutivas de hábitos naturais,
são deleitáveis, mas o são por acidente. De fato, ainda não
possuem a razão de bem, porque precedem até o próprio hábito
que é a perfeição primeira, mas segundo sua ordenação a este
bem, possuem razão de bem e de deleitável.
É evidente que uma operação deleitável que é com
concupiscência não é operação de um hábito perfeito, porque
na perfeição do hábito não permanece algo para se ter
concupiscência do que pertence àquele hábito. De onde é
necessário que uma tal operação proceda de algum princípio
habitual ou natural que o seja com tristeza, porque não é sem
tristeza que alguém tem concupiscência da perfeição natural
que ainda não possui. [De onde se vê como tais operações são
deleitáveis de modo imperfeito].
Que nem todas as operações deleitáveis sejam como
as [explicadas no ítem precedente] é patente porque são
encontradas algumas deleitações que o são sem tristeza e
concupiscência, assim como é evidente da deleitação que é
acerca das operações de especulação. De fato, tal deleitação
não é com alguma indigência da natureza, antes, é procedente
da perfeição da natureza, por exemplo, de uma razão perfeita
pelo hábito da ciência.
Assim, portanto, são deleitações verdadeiramente e
per se aquelas que são acerca de operações provenientes de
hábitos, ou naturezas e formas já existentes. Aquelas
deleitações, porém, que são constitutivas de hábitos e
natureza, não são verdadeiramente e de modo simples
deleitações, mas [são deleitações] por acidente.
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