10. Solução das dúvidas dos antigos filósofos provenientes da ignorância da matéria.

Dizer que o ente ou o não ente faz algo, ou que do ente ou do não ente algo é feito, pode ser entendido de duas maneiras: per se e por acidente.

[Coloquemos um exemplo]: por um lado, dizemos

A. O médico edifica, não enquanto médico, mas enquanto edificador.

B. O médico se torna branco, não enquanto médico, mas enquanto preto.

Por outro lado, dizemos

A. O médico medica, enquanto médico.

B. O médico se torna não médico, enquanto médico.

Assim, as expressões acima podem ser entendidas de duas maneiras, per se e por acidente.

A incapacidade de perceber essa diferença gerou a impossibilidade de resolver a argumentação precedente dos antigos filósofos.

Do não ente nada se torna per se, mas apenas por acidente, porque o ente não é proveniente per se da privação, e isto porque a privação não entra na essência da coisa feita.

Da mesma maneira, a partir do ente algo vem a ser por acidente e não per se.

Se o ente se torna por acidente tanto a partir do ente como do não ente, importa apontar algo a partir do qual o ente se faz per se.

O ente se faz per se a partir do ente em potência, e por acidente a partir do ente em ato ou do não ente.

O ente em potência é a matéria, e é dela que o ente em ato provém per se.

Da privação ou da forma precedente o ente em ato se faz apenas por acidente, na medida em que a matéria, da qual o ente em ato provém per se, está debaixo de tal forma ou privação.