3. Nos singulares futuros nem sempre pode-se atribuir determinadamente a verdade a um dos opostos.

Se nos singulares futuros toda afirmação ou negação é determinadamente verdadeira ou falsa como [para os demais sujeitos de atribuição], conseqüência disto seria que tudo necessariamente ou determinadamente seria ou não seria.

Coloquemos, de fato, que haja dois homens, dos quais um diga que algo necessariamente ocorrerá no futuro, por exemplo, que Sócrates correrá, enquanto que outro diz que este mesmo [evento] não ocorrerá no futuro. Supondo que fosse correta a colocação de que nas coisas singulares e futuras uma das enunciações, a afirmativa ou a negativa, seja verdadeira, seguir-se-ia que necessariamente um destes homens dirá a verdade, mas não ambos. Pelo fato, porém, de ser necessário que um deles esteja dizendo a verdade, seguir-se-á ser necessário [que este evento futuro] seja ou não seja determinadamente, pois que seja verdade aquilo que se diz e que assim seja na coisa [ou realidade] são duas coisas que se seguem uma à outra mutuamente.

Se é necessário que toda afirmação ou negação nas coisas singulares e futuras seja verdadeira ou falsa, é necessário que todo o que afirme ou negue [algo de um singular futuro] esteja dizendo a verdade ou a falsidade. Disto se seguiria que tudo necessariamente [será ou não será]. Portanto, se toda afirmação ou negação [relativas a singulares futuros] é determinadamente verdadeira, será necessário que tudo seja ou não seja determinadamente. Disto se concluiria que todas as coisas seriam necessariamente.

Excluir-se-iam, deste modo, três gêneros de contingentes.

Algumas [coisas], efetivamente, ocorrem na minoria [das vezes]; são [as coisas] que ocorrem pelo acaso ou pela sorte.

Outras, porém, são [inclinadas] a duas partes, porque não mais estão inclinadas a uma parte do que a outra; são as coisas que procedem de [uma] eleição [ou escolha].

Outras, finalmente, ocorrem na maioria [das vezes], como os homens se tornarem brancos na velhice, o que é causado pela natureza.

Deste modo, se todas as coisas acontecessem pela necessidade, não haveria nenhum destes [gêneros de] contingentes.