14. Sobre o modo e a ordem do conselho.

Como o conselho é uma certa aquisição prática acerca dos operáveis, é necessário que, assim como na inquisição especulativa se supõem os princípios e se [procuram] outras coisas, assim também aconteça com o conselho.

Assim, vamos mostrar primeiro o que se toma por suposto no conselho. Segundo, o que é procurado no conselho.

Para tanto, deve-se considerar que nos operáveis o fim é como princípio, porque do fim depende a necessidade dos operáveis, conforme está explicado no segundo livro da Física. Portanto, devemos tomar o fim como suposto.

Por isso é que dizemos que não tomamos conselho acerca do fim, mas somente das [coisas] que se ordenam ao fim, assim como nas coisas especulativas não inquirimos acerca dos princípios, mas sim das conclusões.

Isto pode ser evidenciado através de dois exemplos. Primeiro, o exemplo do médico, que não [toma conselho] se deve devolver o enfermo à saúde, mas supõe isto como um fim. Segundo, o exemplo do político, que não [toma conselho] se deve promover a paz, que se acha para com a cidade assim como a saúde para com o corpo do homem, a qual consiste na concordância dos humores assim como a paz na concordância das vontades.

Suposto o fim, a primeira intenção do que [toma conselho] é como, isto é, através de qual movimento ou ação podemos alcançar aquele fim, ou por qual instrumento devemos nos mover ou agir para o fim, por exemplo, pelo cavalo ou pelo navio.

A segunda intenção é [decidir], quando a algum fim podemos chegar por diversos instrumentos ou ações, através de quais delas mais facilmente e melhor se chega.

A terceira intenção é, se acontecer que por só um instrumento ou movimento se chegue ao fim, ou por um ótimo [instrumento ou movimento], que se procure como por este ao fim chegaremos.

E finalmente, se aquilo pelo qual se chega ao fim não é [possuído] de imediato, é necessário inquirir como poderá ser [possuído].

Por isso a causa, que é primeira na operação, é última no achado [do conselho], porque aquele que [toma conselho] investiga por modo de uma certa resolução. E assim, porque o que [toma conselho] inquire resolutivamente, é necessário que sua inquisição seja conduzida até aquilo que é princípio na operação, já que o último na resolução será o primeiro na geração ou na operação. Assim, quando depois da inquisição do conselho se chega a aquilo que é necessário primeiramente operar, se os que [tomam conselho] descobrem aquilo ser impossível, desistem e abandonam todo aquele negócio como desistentes. Se, porém, se torna evidente que é possível aquilo que foi achado pelo conselho, imediatamente começam a operar, porque, como foi dito, é necessário ser primeiro na operação aquilo ao qual a investigação resolutiva do conselho tem por término.