8. A verdadeira riqueza não é o dinheiro.

Embora freqüentemente os homens opinem que as riquezas nada mais sejam do que uma grande quantidade de dinheiro, às vezes se torna manifesto que é uma estupidez dizer que nenhuma das coisas que são segundo a natureza são riquezas, como o trigo, o vinho e outras coisas semelhantes, e que toda a riqueza consiste no dinheiro introduzido pela lei. Não podem ser verdadeiras riquezas aquelas que, ao variar a disposição dos homens, passam a não ter nenhuma dignidade ou utilidade para a necessidade da vida. É o que ocorre com o dinheiro. Ao se transformar a disposição dos homens que usam o dinheiro como riqueza, o dinheiro perde todo o seu valor e nada mais tem de valia para auxiliar às necessidades da vida, como ocorre quando, se assim for do agrado do rei ou da comunidade, fica estabelecido que o dinheiro nada mais valha. É estulto, portanto, dizer que a riqueza nada mais é do que uma grande quantidade de dinheiro.

Aqueles que entendem corretamente, por causa destas razões, afirmam haver diferença entre riqueza e dinheiro. Há, de fato, algumas riquezas segundo a natureza, isto é, das coisas necessárias à vida, conforme acima foi dito. A aquisição destas riquezas pertence propriamente à arte econômica. A arte pecuniativa dos cambistas, porém, multiplica as riquezas não de todos os modos, mas apenas pela permuta do dinheiro, consistindo totalmente no dinheiro, fazendo do dinheiro o princípio e o fim de tais comutações, na medida em que o dinheiro é trocado por dinheiro. É evidente, portanto, que são mais ricos aqueles que tem frutos das coisas necessárias à vida verdadeiramente falando, do que aqueles que possuem enormes fortunas em dinheiro.