2. Considerações sobre o homem estudioso ou dedicado.

O Filósofo quer declarar como deverá ser a cidade ótima. [Antes disso, porém, ele deseja explicar que] o homem estudioso [ou dedicado] que possui a virtude perfeita e o apetite ordenado usa bem as coisas que segundo se não têm razão de bem mas são ordenáveis ao fim, como a pobreza e a doença, a ausência de amigos e outras semelhantes. O mesmo homem fará operações melhores pela suposição destas coisas, [isto é, se possuir estas coisas que são bens per se] porque o homem bom e estudioso [ou dedicado] é aquele a quem são bem de modo simples os bens que o são por causa da própria virtude. Aquele [homem] para o qual as coisas simplesmente ótimas não são ótimas, não é bom nem estudioso, assim como também nem parecerá ser sadio aquele para o qual as coisas simplesmente sadias não são sadias. A saúde, entretanto, assim como as riquezas, possuem razão de bem, de onde que saberá bem usá-las aquele que é estudioso por causa da virtude. De fato, o estudioso usa segundo a reta razão de tudo o que lhe é dado, porque ele próprio opera segundo a razão.

Se, portanto, a pobreza e a doença, assim como os seus contrários, são ordenáveis para a felicidade, o estudioso saberá usar tanto da pobreza como da riqueza do melhor modo que [estas o permitirem]. Supostas, porém, a doença ou a pobreza, fará operações menos perfeitas, porque segundo se estes não são bens; supostas, entretanto, as riquezas e a saúde, fará operações mais perfeitas, porque estas últimas segundo se possuem razão de bem, tal como o bom curtidor do couro que lhe é dado faz os melhores sapatos que são possíveis, embora alguns sejam melhores com o melhor couro e piores com o pior couro.