11. Objeção à exposição da Aristóteles sobre a união conjugal.

O Filósofo determinou o tempo da perfeição da mulher aos dezoito anos ou aproximadamente, e do homem aos trinta e sete anos ou aproximadamente. Poderia objetar-se que a união conjugal deveria fazer-se antes do que determina o Filósofo. Parece, de fato, que quando o homem principia a espermatizar é que se deveria fazer tal união, e isto acontece muito tempo antes do que o Filósofo determina, isto é, no tempo da puberdade, e não aos trinta e sete anos. Ademais, os vários direitos que determinam o que parece dever considerar-se o bem comum, estabelecem que os matrimônios podem realizar-se quando a mulher completa doze anos e o homem completa catorze.

Para responder a esta possível objeção deve-se considerar que, segundo a intenção do Filósofo, se considerarmos a boa disposição dos que geram e a boa disposição da prole a ser gerada e, por conseqüência, a utilidade comum da cidade ou da região per se será melhor que esta união se realize quando os corpos de ambos estiverem perfeitos, que é o tempo determinado pelo Filósofo ou aproximadamente, na maioria dos casos. Os corpos sendo perfeitos, perfeitas serão as forças, e ademais não padecerão no crescimento ou na sua compleição enquanto tal, senão pela superfluidade ou algum outro motivo [extrínseco]. As crianças também serão melhor dispostas e, por conseguinte, também [serão melhor dispostas] quanto à alma, porque a boa disposição do corpo dispõe à boa disposição da alma e, deste modo, serão mais capazes da virtude e dos atos civis.

Por acidente, porém, convirá a alguns se casarem mais cedo ou mais tarde, por exemplo, se seus corpos se aperfeiçoam mais tardia ou precocemente, ou se tenha que se temer a fornicação com outrem, ou ainda outros motivos semelhantes. Embora a emissão do sêmen é encontrada [na maioria] dos homens mais precocemente, todavia não se segue daí que [apenas por isso] o homem seja melhor e mais apto à geração. Não é necessário naquele que procede do imperfeito ao perfeito que assim que este possa algo pela primeira vez já o possa perfeitamente, assim como também ocorre que quando alguém pode pela primeira vez tocar cítara de qualquer modo não se segue por isso que irá tocá-la automaticamente, antes ocorrerá o contrário. As coisas, de fato, que são anteriores segundo a via da geração são mais imperfeitas, enquanto que as que são posteriores são mais perfeitas, como é o caso do homem que é posterior à criança.

Quanto aos direitos, estes não determinam ser ótimo que o matrimônio se realize no tempo da puberdade, isto é, quando a mulher alcança doze anos e o homem catorze, aproximadamente, mas limitam-se a conceder que estão seja este o primeiro momento em que o matrimônio possa ser contraído, porque só a partir deste momento poderá valer o consentimento matrimonial por causa do uso da razão.