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Existe um modo de governo no qual é diversa a
disciplina do príncipe e do súdito. Existe um principado
dominativo, no qual o príncipe é senhor dos súditos e este
príncipe não necessita saber fazer as coisas que pertencem
aos ministérios do que é necessário à vida, mas que saiba
utilizar-se destes ministérios.
Existe outro modo de principado em que o príncipe
e o súdito devem aprender as mesmas coisas. Este é o
principado no qual alguém governa não como um senhor aos
servos, mas como a livres e a si iguais. Este é o principado
civil, segundo o qual nas cidades ora estes, ora aqueles são
assumidos ao governo. Tais príncipes devem aprender, como
súditos, de que modo devem governar, assim como alguém que
aprende a comandar um exército por ter se submetido a um
comandante do exército. O homem aprende a exercer um grande
principado pela submissão e pelo exercício nos ofícios
menores. Quanto a isto está bem posto o provérbio que diz que
não pode governar bem aquele que não foi submisso a um
príncipe.
Mesmo no [segundo] principado a virtude do
governante é diversa da virtude do súdito. Todavia, nele
importa que aquele que é um bom cidadão de modo simples saiba
tanto governar como submeter-se ao que governa, e esta é a
virtude do cidadão, que se ordena bem a ambas as coisas.
Deste modo, neste segundo principado, para o bom cidadão, na
medida e, que ele é alguém que pode vir a governar, sua
virtude será a mesma que a do homem bom mas, enquanto súdito,
a virtude do príncipe e do homem bom será diversa do que a do
bom cidadão.
De fato, a virtude própria do príncipe é a
prudência, que é regente e governativa. As demais virtudes
morais, cujas razões consistem em serem governados e
submeterem-se, são comuns aos súditos e aos príncipes.
Todavia, os súditos participam em algo da prudência, na
medida em que possuem uma opinião verdadeira sobre o que se
deve agir, pela qual podem governar a si mesmos nos próprios
atos segundo o governo do príncipe. [Deve notar-se que o
Filósofo] refere-se nesta passagem à virtude do súdito não na
medida em que é homem bom, porque se este fosse o caso o
súdito necessitaria possuir a prudência, mas refere-se à
virtude do súdito enquanto é um bom súdito, para o que não
necessita senão possuir uma opinião verdadeira sobre o que
lhe é ordenado.
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