17. Um problema adicional sobre o tempo.

[Esta questão pode ser colocada da seguinte forma]. Já que o tempo é o número do movimento, deve colocar- se o problema de se saber de que movimento ou de que tipo de movimento o tempo é número.

[Mais precisamente, pode-se dizer que] esse problema surge porque o tempo parece ser, à primeira vista, o número de qualquer movimento. O tempo parece ser o número de qualquer movimento porque todo movimento, tanto o de alteração, de geração, o movimento local, ou outros, estão no tempo. Ora, o que pertence a todo movimento pertence ao movimento como tal. Portanto, todo movimento enquanto tal está no tempo. Porém, estar no tempo significa ser numerado pelo tempo. Portanto, o tempo parece ser o número de todo movimento contínuo, e não de algum tipo especial de movimento.

[Por que o tempo não pode ser o número de todo e qualquer movimento?] Porque às vezes duas coisas são movidas simultaneamente. Se o tempo for o número de cada movimento, existe um tempo diferente para cada movimento, e daí se segue que existem dois tempos idênticos simultaneamente, como por exemplo, dois dias ou duas horas. Ora, o que acontece é que é impossível existirem dois tempos iguais simultaneamente. Cada tempo que é simultâneo e igual é apenas um único tempo. E isto mesmo que os movimentos diferem em suas próprias naturezas, na medida em que um seja mais rápido e o outro mais lento, ou um seja movimento local e o outro movimento de alteração. [Mesmo se for assim, cada tempo que é simultâneo e igual é apenas um único tempo].

O que significa que "tempos que são simultâneos e iguais são apenas um único tempo".

Trata-se de abordar o problema da unidade do tempo. [E explicar em maior detalhe em que consiste a unidade do tempo]. O tempo é único por natureza em espécie, mas é diverso em número. Isso pode ser explicado por duas comperações.

[Para explicar a unidade do tempo, pode-se fazer uso de uma primeira comparação]. Se existirem 10 cachorros e 10 ovelhas, o número de cachorros e de ovelhas é o mesmo. [Isto pode ser dito corretamente]. Mas não pode ser dito corretamente que o número 10 em si mesmo seja o mesmo, como se os 10 cachorros e os 10 cachorros fossem o mesmo 10. Porque as 10 ovelhas e os 10 cachorros não são o mesmo 10.

[Uma segunda comparação para explicar a unidade do tempo pode ser a seguinte]. A figura é um gênero de diversas espécies: o triângulo, o círculo, outros. O triângulo é uma espécie de diversas [sub espécies]: escaleno, equilátero, etc. Não se pode dizer que o escaleno e o equilátero sejam o mesmo triângulo, mas se pode dizer que são a mesma figura. Por quê? Porque se pode predicar identidade onde não haja diferença, mas não se pode predicar identidade onde se acha diferença. O equilátero e o escaleno diferem entre si por uma diferença do triângulo, [isto é, uma divisão própria do triângulo], portanto, não são o mesmo triângulo. Mas o equilátero e o escaleno não diferem entre si por uma diferença de figura. Portanto, são a mesma figura. Porque eles estão contidos debaixo de uma mesma diferença de figura.

[A primeira e a segunda comparação se relacionam entre si do seguinte modo]. O número é dividido em diversas espécies, uma das quais é o 10. Portanto, todas as coisas que são 10 são ditas serem o mesmo número, [porque estão contidas debaixo de uma mesma diferença de número]. Mas não se pode dizer que elas sejam o mesmo 10, [porque elas estarão contidas em coisas diferentes às quais se aplica o número 10]. Embora os 10 sejam o mesmo, por causa da unidade da espécie, não obstante, são diferentes por causa da diversidade em relação ao número proveniente da matéria [que é diferente em número].

[Pode-se portanto, concluir que] é desta maneira que se diz que o tempo é uno por natureza em relação à espécie, mas diferente em número. Mas, para estabelecer a verdadeira [e mais íntima] unidade do tempo, é necessário dar mais um passo, e remontar à unidade do primeiro movimento, [o que será feito a seguir].

[Remontando ao primeiro movimento, estabelece-se a verdadeira unidade do tempo]. O primeiro movimento, que revolve todo o firmamente em movimento circular, é a medida de todo movimento. Ora, [pode-se dizer isto porque na realidade] todo movimento é medido pelo dia. Assim, o primeiro movimento circular mede todo movimento. Os movimentos, na medida em que são medidos por algum movimento, são medidos pelo tempo. Assim, é necessário dizer que o tempo é o número do primeiro movimento circular, de acordo com o qual, [vice versa], o tempo é também medido, [porque, conforme foi anteriormente explicado, o tempo é medido pelo movimento e o movimento pelo tempo] e, em relação com o qual todos os outros movimentos são medidos pelo tempo. Desta maneira, pela unidade do primeiro movimento, que é medido primariamente pelo tempo, e pelo qual o tempo é medido, estabelece-se a verdadeira unidade do tempo.