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Os estados de poucos possuem leis pelas quais
sofisticadamente a multidão é excluída da república. Os
dominantes dos estados de poucos com falácia e dolo propõem
ao povo cinco coisas a respeito das assembléias, das
magistraturas, do julgamento, das armas e do exercício.
Os que quiseram favorecer o estado de poucos
ordenaram sobre as assembléias que seria permitido que todos
comparecessem às mesmas, mas de tal modo que os ricos, se não
comparecessem, sofreriam algum dano, enquanto que os pobres
não. Ou então que os ricos sofressem um dano muito maior do
que os pobres. É manifesto que por esta lei os pobres eram
excluídos porque os ricos, por sofrerem um grande dano, eram
compelidos a vir, enquanto que os pobres, por não sofrerem
nenhum dano, não se importavam em comparecer, e assim não
participavam da cidade com boa vontade.
Quanto à magistratura, ordenaram que todos
poderiam alcançá-la, mas depois estabeleceram que aos pobres
seria lícito que renunciassem à mesma, não porém aos ricos. É
manifesto que através desta lei excluíam-se os pobres porque
estes, tendo que se ocupar de outras coisas, facilmente
abandonavam a magistratura, sendo-lhes permitido fazê-lo,
enquanto que os ricos sempre nela permaneciam, sendo-lhes
proibida a renúncia.
Quanto ao julgamento, ordenaram que fosse imposto
um dano aos ricos se estes não julgassem e discutissem,
enquanto que aos pobres era concedida a dispensa para não
[julgar e] discutir. Outras vezes era ordenado um dano para
ambos se não quisessem julgar e discutir, mas de modo que
seria um grande dano para os ricos e um pequeno dano para os
pobres.
Disposições semelhantes foram ordenadas quanto às
armas e aos exercícios, estabelecendo que seria lícito aos
pobres não possuir armas, enquanto que os ricos, se não as
possuíssem, seriam severamente punidos. Quanto aos
exercícios, ordenaram que os pobres, se não se exercitassem
nas armas, não lhes adviria nenhum dano; mas ordenaram aos
ricos que se exercitassem sob pena de grandes prejuízos.
Estes são os sofismas legislativos pelos quais os
que favorecem a oligarquia buscam excluir os pobres da
civilidade.
Ao contrário, os que buscam favorecer o povo em
sua política, sabiamente se opõem a estas disposições. Contra
todas estas disposições ordenaram que os pobres se
participassem das assembléias e discutissem, deveriam receber
um soldo, enquanto que os ricos, se não comparecessem, não
sofreriam nenhum prejuízo. Estas leis se destinavam a excluir
os ricos. Os pobres, sabendo que ganhariam uma recompensa, de
muito boa vontade se apresentavam às assembléias, enquanto
que os ricos, sabendo que nenhum prejuízo lhes adviria pelo
seu não comparecimento, não se preocupavam em estar
presentes, principalmente porque ali não eram honrados e,
deste modo, todo o poder era transferido à multidão.
[Destas coisas] pode-se concluir como a república
deve ser mesclada do estado de poucos e do estado popular. Se
fizermos uma combinação correta destes elementos, será
necessário tomar as coisas que pertencem a ambos os regimes
segundo a parte e ordenar que os pobres recebam uma
recompensa se comparecerem às assembléias, enquanto que os
ricos sofram um prejuízo se não comparecerem e, deste modo, a
civilidade será comum a todos.
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