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O Filósofo declara quem, dentre as coisas que são
necessárias à cidade, já enumeradas, resta considerar o
gênero dos sacerdotes. Não convém, de fato, que na república
bem ordenada o artífice, o agricultor ou os mercadores sejam
constituídos sacerdotes.
O sacerdote, de fato, ordena-se à celebração do
culto divino e à exibição da honra a Deus pelos súditos. Ora,
é conveniente que o culto e a honra a serem exibidos a Deus
[o seja] pelos cidadãos principais. Todas as coisas mais
excelentes devem ser exibidas a Deus, fonte de todo o bem e
de tudo o que existe, por causa de sua excelência.
Se, portanto, os agricultores, os artífices e os
comerciantes não são cidadãos, conforme foi anteriormente
mostrado, não convém que eles sejam [sacerdotes] na cidade
bem ordenada.
Os cidadãos [da cidade perfeita], porém, haviam
sido divididos em dois, isto é, os que se ordenam às armas e
os conselheiros. Por causa [da idade e] da inclemência do
trabalho estes abandonam suas ocupações e se afastam dos
exercícios militares e dos julgamentos. Convém então que se
dediquem maximamente às coisas especulativas, já que os
movimentos das paixões sensíveis [nestes homens] acalmou-se
completamente na maioria das coisas. Ora, como aqueles que se
dedicam à honra e ao culto divino importa que tenham uma vida
calma e possam se dedicar à contemplação, convém que estes
cidadãos sejam então promovidos à honra do sacerdócio e que
sejam indicados para esta santificação aqueles que, tendo se
afastado dos trabalhos passados se tornaram eméritos por
causa da honestidade dos exercícios militares, dos conselhos
e julgamentos.
Deve-se entender que, assim como a natureza ordena
aquele que é mais perfeito no tempo em que é mais perfeito à
operação mais perfeita, assim também deve fazê-lo a arte ou a
razão que imita a natureza. Ora, os homens, depois do tempo
do aprendizado e do exercício do que diz respeito à
disciplina, possuem uma prudência imperfeita por causa do
movimento mais forte das paixões que há neles. força
corporal e a magnanimidade são neles maiores por causa da
juventude, o que convém mais aos [exercícios] bélicos e por
isso é razoável que nesta idade o Filósofo ensine que eles
devam ser ordenados à atividade bélica. Depois, na medida em
que progride a idade, o calor é reprimido e de algum modo
dominam os movimentos das paixões, as forças e a
magnanimidade declinam segundo algo, a razão e a prudência,
porém, se tornam mais vigorosas. Sedando-se e acalmando-se, a
alma se torna ciente e prudente. Ora, isto convém à
deliberação e ao julgamento e, por isso, segundo a razão,
tais homens devem ser ordenados ao conselho e ao julgamento.
Mais adiante, a idade avançando ainda mais, o calor cessando
por causa do tempo e as paixões quase inteiramente
mortificadas, conforme costuma-se dizer, ou definitivamente
regradas por causa de um longo exercício, a força corporal se
torna muito deficiente mas o vigor da inteligência atinge o
máximo. Ora, é isto o que se requer de modo máximo naqueles
que se ordenam ao culto divino. Convém, portanto, dispensar
estes homens das ações exteriores para que possam dedicar-se
ao máximo à especulação das coisas divinas e, por isso, nesta
idade, tais cidadãos são convenientemente designados para o
culto divino, de tal maneira que em primeiro lugar tenham se
exercitado nas coisas da guerra, depois nas ações da virtude
e por último terminem a vida na especulação das coisas
divinas, onde corretamente se situa o fim último do homem.
O Filósofo, finalmente, recolhe o que foi
determinado, dizendo que foi investigado quais são aquelas
coisas que são necessárias à consistência da cidade, e
quantas delas são efetivamente partes da mesma. Os
agricultores, os artífices e os comerciantes, que vendem seu
trabalho por dinheiro, são necessários à cidade, mas jamais
poderão ser, enquanto tais, partes da mesma. Os guerreiros,
os conselheiros e os sacerdotes são parte da cidade, e se
diferenciam dos anteriores em todo o tempo, mas se distinguem
entre si segundo as partes do tempo, de tal maneira que cada
um primeiro seja ordenado à guerra, depois ao conselho e por
último ao sacerdócio.
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