|
Trata-se de investigar se as potências
anteriormente enumeradas se distinguem entre si pela natureza
[secundum rationem], ou se separam pelo sujeito e lugar, como
se uma parte do corpo correspondesse à potência sensitiva,
outra à intelectiva, e assim por diante.
É patente que algumas das potências são separáveis
segundo o sujeito e lugar. Para outras, entretanto, não há
elementos ainda para se responder a esta questão.
Que algumas potências da alma sejam separáveis
pelo sujeito e lugar fica patente pelo fato de que certas
partes das plantas, quando cortadas, se são plantadas,
novamente crescem, o que não aconteceria se não permanecesse
nelas a vida, e, portanto, a alma. [Daqui fica claro que a
potência vegetativa é separável segundo o sujeito e o lugar].
E também nos animais inferiores acontece o mesmo, que partes
de seu corpo, quando cortados, conservam, além da potência
vegetativa, o sentido e o movimento segundo o lugar. [Daqui
se segue que a potência sensitiva e a potência motora também
são separáveis segundo o lugar]. Ora, aonde existe sentido,
existe necessariamente fantasia. Isso decorre da própria
natureza da fantasia, que, conforme será explicado no fim do
tratado, é [um] movimento [causado] pelo sentido segundo [o]
ato. Da mesma maneira, aonde existe sentido, existe
necessariamente apetite, porque ao sentido segue a alegria e
a tristeza, gozo e dor. Isso segue-se do fato de que o
sentido deverá ser conveniente ou não, e daí será deleitável
ou doloroso. E, aonde existe dor e gozo, existe apetite.
Assim, os princípios vegetativo, sensitivo, apetitivo e motor
são separáveis segundo o lugar, conforme explicado acima.
Nas plantas e nos seres inferiores a alma é una em
ato e múltipla em potência. Isto se explica por ser algo
idêntico ao que ocorre nos corpos inanimados: nos seres
viventes que pela sua imperfeição não requerem diversidade de
partes, a alma e o próprio corpo é una em ato e múltipla em
potência. Ela pode, portanto, ser dividida em diversas partes
de espécies semelhantes, como ocorre com a água ou os corpos
minerais.
Quanto a outras potências particulares, como a
visão, audição, olfato, gosto e paladar, é manifesto que se
encontram localizadas. Apenas o tato está em todo o ser
vivente, e não localizado num órgão.
[No que diz respeito à fantasia], algumas
fantasias são atribuídas a determinado órgão, mas isso ocorre
nos animais superiores. Nos animais inferiores, sendo a
fantasia indeterminada, conforme explicado acima, não se
encontra localizada em alguma parte determinada.
[Em relação ao] intelecto, porém, a exposição
feita até aqui não fornece elementos para que se afirme que
ele apresenta algum lugar distinto no corpo ou não.
[Segundo a razão, porém], as potências são todas
separáveis pela razão [ratio], porque as [ratio] razões das
potências se ordenam conforme os respectivos atos. Ora, se os
atos são de espécies diferentes, assim também o serão as
potências.
|
|