28. Cinco considerações preliminares necessárias à definição do movimento.

[A primeira consideração preliminar necessária à definição do movimento é que o] ente se divide pelo ato e pela potência. É isto o que Aristóteles quer dizer ao afirmar que dentre os entes, algum é [em] ato, como o primeiro movente, que é Deus. Outros são apenas potência, como a matéria primeira. Outros potência e ato, como todos os intermediários. [Outra maneira de se compreender isto é que] ser somente em ato é dito daquilo que tem forma de modo perfeito, como por exemplo aquilo que já é branco de modo perfeito. Ser somente em potência, é dito daquilo que ainda não tem forma, como por exemplo, aquilo que de nenhum modo é branco. Está em ato e em potência aquilo que, posto que ainda não tenha forma de modo perfeito, todavia está em movimento à forma.

[A segunda é que] o ente se divide pelos 10 predicamentos.

[A terceira é que] o movimento não tem alguma outra natureza separada das outras coisas. [Antes], qualquer forma, na medida em que está sendo feita, é um ato imperfeito que é dito movimento. De fato, isto mesmo é [o que significa] ser movido à brancura, [ou seja], a brancura começar a tornar-se em ato no sujeito. Ela não deve estar em ato perfeito. Isto [é o que Aristóteles que dizer ao afirmar] que o movimento não é algo além da coisa. Tudo o que é mudado, é mudado segundo os predicamentos do ente. [Desta maneira], assim como não existe algo comum aos 10 predicamentos que seja gênero deles, assim não há algum gênero comum a todos os movimentos. Por causa disso o movimento não é um predicamento distinto dos demais predicamentos, [ao contrário], segue os demais predicamentos.

[A quarta é que] em qualquer gênero sempre encontramos algo de modo duplo, segundo perfeição e imperfeição. No gênero da substância, por exemplo, um deles é a forma, o outro a privação. No gênero da qualidade, o que é perfeito é, por exemplo, o branco, que tem cor perfeita, [e o que é imperfeito é ] o preto, que é o imperfeito no gênero da cor.

No gênero da quantidade o que é perfeito é o que é dito grande, e o que é imperfeito é o que é dito pequeno. No gênero do lugar, no qual ocorre o movimento local, são o acima e embaixo, e o pesado e o leve, na medida em que pesado é dito daquilo que em ato está embaixo e leve é dito daquilo que em ato está em cima. Destas coisas, uma está como perfeito, a outra como imperfeito. O motivo porque isto acontece em todo gênero é que todo gênero é dividido por diferenças contrárias, e dos contrários sempre um está como perfeito, e o outro está como imperfeito.

[A quinta, que é tirada por conclusão a partir das quatro primeiras, é que] tantas são as espécies de movimento e permutação, quantas forem as espécies do ente. Isto não significa que em qualquer gênero do ente possa encontrar-se o movimento. [Porque, de fato, conforme será explicado, o movimento não é encontrado em todos os predicamentos]. O que isto quer dizer é que, assim como o ente é dividido pelo ato e pela potência, pela substância e pela quantidade, [e outros predicamentos], e segundo o perfeito e o imperfeito, assim também o movimento. E isto é uma conseqüência do fato de que o movimento não é algo além das coisas. [Motus non est praeter res].