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Tudo o que recebe algo de outro, está em
potência em relação a este algo. E por isso, aquilo que é
recebido nele é o seu ato. Daqui se segue que a forma ou a
quididade das substâncias simples, estejam em potência em
relação ao ser que de Deus recebem, e este ser é recebido
pelo modo de ato. É assim que encontramos o ato e a
potência nas inteligências, mas não a forma e a matéria, a
não ser equivocamente. E também os termos padecer, receber,
ser sujeito e outros tais que convém às coisas por razão de
matéria, convém equivocamente às substâncias intelectuais e
corporais.
[As substâncias simples se compõem de ser e
essência]. Conforme foi dito, nas inteligências a essência
é a própria inteligência e esta essência é aquilo que elas
são, e o seu ser recebido por Deus é aquilo pelo qual
subsistem nas coisas da natureza. Por isso que tais
substâncias são ditas compostas de ser e essência.
Pelo fato de que nas inteligências existe
potência e ato, não será difícil encontrar uma multidão de
inteligências, o que seria impossível se nenhuma potência
nelas houvesse.
Se, por um lado, a multidão das inteligências se
torna possível pela composição de potência e ato, a
distinção das inteligências entre si se dá segundo os graus
de potência e ato. As inteligências superiores, que mais
próximas estão do primeiro [ser], tem mais de ato e menos
de potência, e assim [inversamente com as inferiores], até
[chegarmos à] alma humana, que apresenta o último grau nas
substâncias intelectuais, [sendo, assim, a mais baixa de
todas]. De onde que a potência intelectual [da alma humana]
se acha para com as formas inteligíveis assim como a
matéria primeira, que está no último grau dos seres
sensíveis, está para as formas sensíveis. E pelo fato que
entre todas as substâncias inteligíveis, é a alma humana a
que mais tem de potência, por isso é que ela se situa mais
próximo às coisas materiais, de tal maneira que até traz as
coisas materiais à participação de seu ser, de modo que da
alma e do corpo resulte um ser composto, embora aquele ser
[inteligível], na medida em que é da alma, não seja
dependente do corpo. E é também por isso, que depois desta
forma, que é a alma humana, se encontram outras formas que
tem mais ainda de potência, e que são ainda mais próximas à
matéria, a tal ponto que o seu ser não pode existir de
nenhum modo sem a matéria. Nestas formas também encontramos
ordens e graduações, até chegarmos às primeiras formas dos
elementos, que são dentre todos os mais próximos à matéria.
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