29. A definição do movimento.

Dividindo-se o ente, segundo qualquer gênero do ente, pela potência e ato, o movimento é dito ser o ato daquilo que está em potência enquanto tal.

[Esta definição pode ser esxplicada do seguinte modo]. A matéria [apta a tornar uma casa] está em potência a duas coisas. Estas duas coisas são a forma da casa e a edificação [isto é, a ação de edificar]. A potência que está na matéria da casa à edificação é significada pela expressão de edificável. Portanto, o edificável enquanto edificável se torna em ato quando está em edificação. [Uma outra maneira de se dizer isso é que] a edificação é o ato do edificável enquanto edificável. Ora, edificar é um certo movimento. Assim, o movimento é o ato do edificável. Por onde se pode manifestar [em que sentido] o movimento é ato do existente em potência. O movimento é um certo ato, como ficou dito. Mas é um ato imperfeito, porque aquilo de quem é ato é ente em potência, que é ser imperfeito. Se, de fato, se tratasse de um ato perfeito, com isto retiraria toda a potência que está na matéria a algo determinado. De onde se segue que os atos perfeitos não são atos dos existentes em potência, mas dos existentes em ato.

O movimento, [deste modo], [é ato] do existente em potência porque não retira dele a potência. Onde quer que haja movimento, de fato, permanece no móvel a potência àquilo que é pretendido pelo movimento. Somente a potência ao mover-se é retirada pelo movimento. E, mesmo assim, não totalmente, porque aquilo que é movido ainda está em potência ao movimento, porque tudo o que é movido será movido, por causa da divisão do movimento contínuo, conforme foi explicado no sexto livro da Física. De onde se segue que o movimento é o ato do existente em potência, e desta maneira é ato imperfeito e do imperfeito. [O movimento ocorre quando] algo existente em potência é reduzido ao ato, enquanto móvel, por móvel entendendo-se algo que está em potência ao movimento. [Nada] é reduzido ao ato pelo movimento enquanto está em potência ao término do movimento, porque enquanto é movido ainda permanece em potência ao término do movimento. Pelo movimento algo é reduzido da potência ao ato, entendendo-se esta potência como sendo aquilo que é significado ao dizer-se algo ser móvel, isto é, em potência ao movimento.

[Quanto ao termo "enquanto tal", podemos explicá-lo como a seguir].

[O movimento foi definido como ato daquilo que está em potência enquanto tal]. [Trata-se agora de explicar o significado deste termo "enquanto tal"]. Para explicar isto, [vamos considerar] o cobre que está em potência à estátua. O cobre, e o cobre em potência à estátua, são o mesmo segundo o sujeito. Todavia, não são o mesmo segundo a razão, porque uma é a razão do cobre enquanto cobre, e outra é a razão do cobre enquanto tem alguma potência. Se fossem o mesmo segundo a razão, então, assim como o movimento é ato do cobre enquanto é cobre em potência, assim também seria ato do cobre enquanto é cobre. Como, porém, o cobre e o cobre em potência à estátua não são o mesmo segundo a razão, por isso tornou-se necessário que na definição de movimento, tendo sido dito que o movimento é ato do existente em potência, tivesse sido acrescentado "enquanto tal".