9. Quatro considerações preliminares necessárias antes de se investigar a definção do lugar.

A. Não teria nunca havido necessidade de se inquirir o que é o lugar se não existisse movimento em relação ao lugar. Isto porque houve necessidade de se colocar que o lugar é diferente do que está localizado no lugar, pelo fato de que dois corpos podem ser achados sucessivamente no mesmo lugar, e também porque um mesmo corpo pode ser achado em dois lugares diferentes. [Esse foi o mesmo caminho pelo qual] a transmutação das formas em uma matéria levou a um conhecimento da matéria.

B. Algumas coisas são movidas per se e outras por acidente. E isto pode acontecer de dois modos. [O primeiro é aquele pelo qual] algumas coisas que podem ser movidas per se o são por acidente. Assim ocorre com as partes de um corpo, na medida em que estão no todo, que são movidas por acidente, enquanto o todo é movido per se. [O segundo é aquele pelo qual] outras coisas não podem nunca ser movidos per se, mas são sempre movidos por acidente. Por exemplo, a brancura e a ciência mudam de lugar, na medida em que aquilo em que elas estão é mudado de lugar.

C. Quando dizemos que alguém está no ar, não queremos dizer com isso que alguém está primariamente e per se em todo o ar. Ao invés disso, a pessoa é dita estar no ar por causa da última extremidade do ar que contém essa pessoa. Porque se todo o ar fosse o lugar desse alguém, enão o lugar e aquilo que está localizado no lugar não seriam iguais, o que é contrário à suposição dada acima. Por isso, aquilo em que algo está primariemtne parece ser a extremidade do corpo continente.

D. Quando o continente não é dividido do que é contido, mas é contínuo com ele, então o contido não é dito estar no continente como num lugar, mas como uma parte em um todo. Por exemplo, quando dizemos que uma parte do ar é contida por todo o ar. Porque quando existe um contínuo, não existe extremidade em ato, o que, segundo a terceira consideração, se requer para a existência do lugar. Mas, quando o continente é dividido e contínuo ao que é contido, então o que é contido está no lugar, existindo na extremidade do continente primariamente e per se. A diferença consiste em que estar num lugar significa algo como isto num vaso, e não como uma parte em um todo, como por exemplo a vista no olho como parte formal, ou a mão em um corpo. E esta diferença [é palpável porque] a mão é movida com o corpo, mas não no corpo, enquanto que a água é movida no jarro, [mas não com o jarro]. Segue-se disto que o lugar é como um continente dividido.