4. Quando convém unir ou dividir os principados.

O Filósofo pretende a seguir discutir quando convém unir vários principados em um só, e quando convém dividir um só em muitos.

[Para tratar sobre este assunto, o Filósofo terá que levantar primeiro três questões e resolvê-las].

A primeira dúvida é se a diversidade dos lugares diversifica os príncipes, mesmo se o principado seja um só segundo a razão. Isto é, quando o que cuida da honestidade no fórum é uma pessoa e o que cuida da honestidade em outros lugares é outro, [se estamos diante de um só ou vários principados].

A segunda dúvida é se os principados devem ser distinguidos segundo a coisa ou segundo o homem. Isto é, se o principado deve ser distinguido segundo aquilo que per se é visto quando se [preceitua ou] dirige, ou segundo a multidão dos homens que deve, ser dirigidos, como por exemplo, se é o mesmo o principado que cuida do ornamento das crianças e o que cuida do ornamento das mulheres.

A terceira dúvida é se os principados se distinguem segundo a distinção das repúblicas, isto é, se no estado popular, no estado de poucos, no estado dos ótimos e na monarquia real os principados são os mesmos ou difere, pelo gênero ou espécie.

[Para solucionar estas questões] é necessário entender que os principados se distinguem assim como as [demais] coisas naturais, isto é, segundo a forma e a matéria.

A forma do principado é uma virtude ou potência. De fato, o principado é uma certa potência ou virtude. A virtude, porém, [é dita] em ordenação a um fim, de onde que, segundo a distinção do fim se distinguem os principados. O fim do principado é duplo, havendo um fim remoto e um fim próximo. O fim remoto é o fim da república ao qual se ordenam, de modo último, todos os principados. Este é o fim máximo e imediatamente principal. O fim próximo do principado é, por exemplo, a vitória para a condução de um exército, ou a sentença para o julgamento de um insubordinado.

Ora, qualquer principado distingue-se em primeiro lugar segundo a distinção de seu fim remoto. Portanto, se os fins das repúblicas forem diversos, os principados das diversas repúblicas serão diversos.

Com isto resolvemos a terceira questão pela qual perguntávamos se um principado pode ser distinguido segundo a distinção das repúblicas. A resposta é afirmativa, isto é, os principados devem ser distintos segundo a diversidade dos fins últimos.

Segundo a distinção do fim próximo também devemos distinguir os principados, e isto de dois modos. De um primeiro modo, segundo a distinção do próprio fim segundo si mesmo e, deste modo, devem ser diversos os principados da condução de um exército e do julgamento. De um segundo modo os principados devem ser distinguidos pelo fato de que os homens se relacionam diversamente para com [o seu fim próximo], de tal maneira que o fim pode ser o mesmo segundo a coisa mas, porque os homens se relacionam diversamente para com aquele fim, os principados se distinguirão, como é o caso do principado do ornamento das mulheres, das crianças e dos homens.

Com isto resolvemos a segunda questão na qual perguntava-se se a distinção do principado é segundo os homens ou segundo a coisa. A distinção será segundo a coisa, como quando faz-se distinção do fim próximo segundo se e será segundo os homens quando os homens se relacionam de modo diverso ao fim do principado.

O principado pode ser distinguido segundo a matéria, como quando faz-se distinção segundo o lugar e os homens. De fato, os lugares podem ser tão distantes que um homem não possa regê-los e, neste caso, um principado será dividido em vários. Do mesmo modo, se há uma grande multidão de cidadãos que não podem ser dirigidos por um só, será necessário que um principado uno segundo a espécie seja distinguido em muitos. Se, porém, os lugares forem próximos e os homens forem poucos, então muitos principados serão unidos em um só.

Ocorre também que diversos principados segundo a coisa se unam, principalmente quando há um só fim segundo a coisa mas diversos modos dos homens se relacionarem para com eles. Por causa do pouco número de homens e da proximidade dos lugares, poderão ser unidos, como ocorre quando a mesma pessoa tenha o cuidado do bem do ornamento dos homens, das mulheres e das crianças. Em outras ocasiões ocorre o contrário por causa dos motivos contrários.

Tudo isto o Filósofo acenou brevemente dizendo que, segundo a diversidade dos lugares, dos homens, da coisa e das repúblicas ocorre uma diversidade de principados. Ocorre às vezes que diversos principados se congreguem em um só, outras vêzes que um só seja dividido em muitos, porque ocorre em algumas cidades haver muitos cidadãos e lugares distantes, de tal modo que um só não pode reger e um só principado tenha que ser dividido em muitos. Em outros ocorrerá haver poucos cidadãos e os lugares não serem distantes, mas próximos, e então muitos principados serão unidos em um só, porque a mesma pessoa será suficiente para reger diversos principados.