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Talvez todas estas objeções não contenham a
verdade, nem tenham sido bem colocadas, e isto por causa das
[mesmas] razões que já haviam sido anteriormente colocadas.
Se, de fato, tivermos uma multidão não vil, isto
é, não bestial, mas que possui algo de razão e virtude, que
possua entre si alguns sábios pelos quais possa ser retamente
persuadida, tal multidão, tomada simultaneamente, convém que
tenha poder de escolher e corrigir um principado, e se cada
um daqueles que pertencem a esta multidão não tenha
suficiente razão e virtude pela qual possa retamente eleger e
corrigir, todavia todos simultaneamente o terão, e o que é
formado por todos, ao se reunirem, será virtuoso de modo
simples.
De onde fica claro que o Filósofo responde à
objeção contradizendo a premissa menor que dizia que a
multidão é imprudente e ignorante. A objeção, de fato, seria
verdadeira se a menor fosse também verdadeira, conforme foi
dito.
Mas o Filósofo responde à objeção contradizendo
também a premissa maior e diz que a suposição de que somente
o que possui ciência em cada arte é que seria capaz de julgar
de sua obra não é verdadeira. Por exemplo, quando alguém faz
alguma obra e todavia não a utiliza, não é verdade que não
será capaz de bel julgá-la. São aqueles que a usam que a
julgam corretamente, assim como não apenas o construtor julga
a casa mas, ao contrário, será capaz de julgá-la melhor
aquele que, construída a casa, a utilizar, como ocorre com o
pai de família. Semelhantemente o navegador recebe o governo
do navio do carpinteiro, e este saberá julgar o navio melhor
do que o carpinteiro, assim como também será o conviva que
saberá julgar melhor a respeito do banquete do que o
cozinheiro.
Semelhantemente também, em relação ao nosso
propósito, quem julgará melhor [o principado] será aquele que
faz uso dele e este é a multidão.
De tudo isto fica evidente que o Filósofo pretende
sustentar que mais convém que toda a multidão tenha poder de
eleger e corrigir do que poucos, e que ele se refere a uma
multidão composta de sábios maiores e prudentes e de outros
menores do povo. Convém que toda esta multidão domine mais do
que conviria que poucos dominassem, Se, outrossim, tratar-se
de uma multidão vil ou bestial, esta não convém dominar de
modo algum.
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