12. Que a intemperança é mais reprovável do que a timidez.

A intemperança mais se assemelha ao voluntário do que o temor, porque ela apresenta mais de voluntário. O que pode ser visto pelo fato de que cada um se deleita naquilo em que age voluntariamente, enquanto se entristece naquilo que é involuntário. Ora, o intemperante age por causa da deleitação de que tem concupiscência, enquanto que o tímido age por causa da tristeza da qual foge. Assim fica evidente que a intemperança é movida por aquilo que é voluntário per se, enquanto que a timidez é movida por aquilo de que se foge, e que é involuntário [per se]. Portanto, a intemperança mais se aproxima da voluntariedade do que a timidez.

[Conclui-se do que foi dito que a intemperança é mais reprovável do que a timidez]. Como ao que é voluntário devemos louvor no que é bom e vitupério no que é mal, conclui-se que o vício da intemperança é mais reprovável do que o vício da timidez, que tem menos de voluntário. [Porém, existe] mais uma outra razão para [se afirmar que a intemperança é mais reprovável do que a timidez].

[Uma outra razão pela qual a intemperança é mais reprovável do que a timidez é a seguinte]. Um vício é tanto mais reprovável quanto mais facilmente possa ser evitado. Ora, qualquer vício pode ser evitado pelo costume ao contrário. [E quanto a isto], é fácil acostumar-se a bem operar nas coisas que dizem respeito à temperança, por duas razões. Primeiro, porque as coisas deleitáveis da comida e da bebida e outras tais ocorrem muitas vezes na vida humana. De onde que não falta ao homem ocasião para bem acostumar-se a operar acerca de tais [coisas]. Segundo, porque acostumar-se a bem operar acerca de tais coisas não apresenta perigo. De fato, não é grande perigo se alguém algumas vezes se abstém do que é deleitável ao tato. De onde se conclui que o vício da intemperança é mais reprovável do que o da timidez.