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Antepostas todas estas coisas, devemos agora
considerar quais e quantas são as coisas necessárias à
consistência da cidade. Entre estas encontraremos aquelas que
são partes da cidade per se.
Como cada uma das coisas que são pela natureza ou
pela arte são determinadas por alguma operação própria,
conforme é explicado no Primeiro Livro desta Política,
devemos considerar as operações das coisas que há na cidade
pois, pela diversidade destas operações, será manifesta a
multidão das coisas que lhe serão necessárias.
Para qualquer cidade, se deve ser cidade, é
necessário preexistir a preparação do alimento, se devem
viver e alimentar-se.
Em seguida, devem existir as operações das artes,
a construção, a carpintaria e outras semelhantes. A cidade
necessita de muitos instrumentos que são preparados por tais
obras.
Em terceiro é necessário que haja armas. Para os
que convivem pela comunicação civil as armas são necessárias
por dois motivos: primeiro para si próprios, para punir os
agressores e os que transgridem as leis ou os principados;
segundo para defender-se dos que desde fora querem lhes
causar um injusto dano.
Em quarto lugar importa que a cidade tenha
abundância de dinheiro por causa de duas outras razões
semelhantes. Primeiro, por causa das oportunidades para as
comunicações que devem ser feitas entre si; segundo, para as
expedições de guerra se estas surgirem.
Em quinto lugar convém haver na cidade as coisas
que são necessárias ao culto divino, ao qual chamamos de
sacerdócio.
Em sexto lugar convém haver na cidade uma reta
deliberação do que é conveniente e nocivo, e um julgamento
junto daquilo que é objeto de disputas.
Todas estas coisas são necessárias à cidade por
uma razão comum, pois a cidade é uma certa comunidade de uma
multidão de cidadãos, não qualquer, mas per se suficiente
para bem viver, conforme já anteriormente exposto. Se, porém,
em alguma multidão faltar alguma das obras anteriores, como a
preparação dos alimentos ou do que é elaborado pelos
artífices, ou também as armas, ela não será mais per se
suficiente para bem viver, como é manifesto por si mesmo. Não
será mais, portanto, uma cidade. Se, portanto, deve ser uma
cidade, é necessário que haja nela todas estas obras.
O Filósofo, portanto, conclui o número das coisas
que é necessário haver na cidade dizendo que, se estas
operações são necessárias, e elas não podem ser sem outras
coisas, por exemplo, a preparação dos alimentos não pode ser
sem os agricultores, a obra das artes sem os artífices, a
obra dos armamentos sem os que lutam, nem o culto divino sem
os sacerdotes ou o julgamento sem os juízes, é manifesto que
para a consistência da cidade são necessários os
agricultores, os artífices, os guerreiros, os ricos, os
sacerdotes e os juízes.
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