9. Com exceção do movimento circular, todos os demais movimentos locais não podem ser contínuos e eternos.

Depois de Aristóteles ter mostrado que nenhuma mutação pode ser contínua e eterna, exceto o movimento local, aqui ele mostra que nenhum movimento local pode ser contínuo e eterno exceto o movimento circular.

Tudo o que é movido localmente é movido ou pelo movimento circular, ou pelo movimento em linha reta, ou por um movimento composto dos dois, como quando algo é movido através de uma corda e um arco. É claro que se um dos dois movimentos simples, isto é, o circular ou o em linha reta, não podem ser infinitamente contínuos, então muito menos aquele que é composto de ambos será infinitamente contínuo. Portanto, na discussão que vem a seguir, podemos omitir os movimentos compostos e discutir apenas os movimentos simples.

Através de uma magnitude reta e finita não pode haver movimento em linha reta infinitamente contínua. Assim, nenhum movimento contínuo em linha reta pode ser infinito a menos que uma magnitude infinita existente em ato seja admitida. Mas uma magnitude infinita existente em ato não existe, conforme foi demonstrado no livro III. Portanto, se existe um movimento infinito sobre uma magnitude em linha reta e finita, deverá tratar-se de um movimento reflexo, o objeto móvel retornando por movimento reflexo ao início da magnitude onde o seu movimento começou e assim sucessivamente. Mas o que é refletido no movimento em linha reta é movido por movimentos contrários. [E isso se prova] porque movimentos contrários são aqueles que apresentam términos contrários. Mas as contrariedades do lugar são o acima e o abaixo, antes e depois, esquerda e direita. Tudo o que é refletido deve ser refletido em relação a uma destas contrariedades. Portanto, tudo o que é refletido é movido por movimentos contrários. Logo, segue-se que é impossível para aquilo que é refletido ser movido por um único e contínuo movimento.

Pode-se questionar esta demonstração [com base em que] a contrariedade no lugar não parece ser tão clara e determinada como nos demais gêneros em que existe movimento. Portanto, [para responder a isso], coloca-se um exemplo adicional para provar a mesma coisa.

O movimento de A para B é contrário ao movimento de B para A, como ocorre no movimento reflexo, porque se tais movimentos ocorrem ao mesmo tempo, eles se impedem mutuamente e provocam a parada [do movimento]. Mas movimentos que são diversos e não contrários não se impedem mutuamente. Por exemplo, o movimento para cima e o movimento lateral, não se impedem mutuamente. Ao invés disso, uma coisa poderá ser movida para cima e para a direita ao mesmo tempo.

[Como uma segunda demonstração de que o movimento reflexo não pode ser infinitamente contínuo pode-se acrescentar que] o movimento em linha reta reflexo não pode ser infinitamente contínuo por causa do fato de que tudo o que é refletido deve estar em repouso entre dois movimentos. A verdade a respeito deste ponto pode ser estabelecida tanto pela sensação, já que é algo [perceptível] para os sentidos, mas também pela razão.