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Na definição de substância nada se coloca além da
substância definida. Na definição do acidente algo se coloca
além da essência do definido, a saber, o sujeito.
Isto ocorre porque a definição significa aquilo
que uma coisa é. Ora, a substância é um todo completo em seu
ser e em sua espécie. Já o acidente não apresenta um ser
completo, mas dependente da substância.
[Aplicando este princípio à forma e à substância
composta, deve-se dizer que] nenhuma forma é algo completo em
sua espécie. [A espécie ser completa é algo que] compete à
substância composta. Assim, a substância composta é definida
de tal maneira que na sua definição nada é colocado além de
sua essência. Mas em toda definição da forma algo é colocado
que está além da essência da forma, que é o seu sujeito ou
matéria.
A alma, portanto, sendo uma forma, em sua
definição deve ser colocada a matéria, [isto é], o seu
sujeito. [Por conseguinte], ao investigar a seguir a
definição da alma, Aristóteles primeiro indaga a respeito
daquilo que pertence à sua essência, e depois daquilo que
pertence a seu sujeito.]
2. Três divisões necessárias para investigar a parte da
definição da alma pertencente à sua essência.
[A primeira divisão consiste em que] o ente se
divide em dez predicamentos [ou categorias]. E isto se afirma
[porque interessa aqui lembrar que] a substância é um dos dez
predicamentos.
[A segunda divisão consiste em que] a substância
se divide em matéria, forma e composto. A matéria é algo que
por si não é "este algo", mas é algo que está somente em
potência para que seja "este algo". A forma é algo que por
si não é "este algo", mas segundo a qual "este algo" está
em ato. O composto é aquilo que é "este algo". Chama-se
"este algo", [hoc aliquid], aquilo que é completo em ser e
espécie. Nas coisas materiais somente o composto é "este
algo", [hoc aliquid]. Somente nas substâncias separadas pode-
se encontrar um "hoc aliquid" sem ser composto de matéria e
forma.
Como a alma racional pode ser subsistente por si
mesma, de uma certa maneira pode ser dita hoc aliquid. Mas
como não apresenta espécie completa, mas é mais parte de uma
espécie, não convém de todo que seja dita "este algo".
[Pode-se concluir que] a diferença entre a matéria
e forma consiste em que a matéria é o ente em potência, a
forma é o ato pelo qual a matéria passa ao ato, de tal
maneira que o próprio composto seja ente em ato.
[A terceira divisão consiste em que] o ato se diz
de duas maneiras: como a ciência é dita ato e como o
considerar é dito ato.
A diferença entre estes atos pode ser ponderada
pelas potências. Algo está em potência do gramático antes que
adquira o hábito da gramática pela aprendizagem. Esta
potência se reduz ao ato quando esta pessoa adquire o hábito
da ciência. Mas, se não está considerando [a respeito da
gramática] em ato, ainda se acha em potência para com o uso
do hábito. Esta potência se reduz ao ato considerando.
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