4. Mostra-se que a substância primeira não pode ser uma potência intelectiva.

Vamos mostrar que se a substância do primeiro movente não for o seu próprio inteligir, mas seu intelecto é uma potência intelectiva, seguir-se-ão uma série de dificuldades.

[A primeira dificuldade consise em que] se o intelecto do primeiro movente não intelige em ato, mas somente em potência, não será algo nobre.

De fato, o bem e a nobreza do intelecto estão nisto que intelige em ato. O intelecto do inteligente em potência se encontra como o que dorme: os que dormem tem algumas potências [vitais], nas não as operam, de onde que o sono é dito meia vida, e segundo o sono não difere o infeliz do feliz, e o virtuoso do não virtuoso.

[A segunda dificuldade consiste em que] se o intelecto do primeiro intelecto intelige algo em ato, mas o seu bem principal é algo diferente de si mesmo, será comparado ao mesmo assim como a potência ao ato, e como o perfectível à perfeição. E assim se seguirá que o primeiro inteligente não será substância ótima, pois a honorabilidade e a nobreza existem nele pelo seu inteligir, e nada que é nobre segundo outro é nobilíssimo.

[A terceira dificuldade consiste em que] se a substância do primeiro [princípio] não for o seu próprio inteligir, mas ele for uma potência intelectiva, provavelmente se seguirá que a continuação de sua operação intelectual lhe será trabalhosa. De fato, o que está em potência a algo, tem potência para este algo e para o seu oposto, porque pode ser e pode não ser. De onde se segue que se a substância do primeiro [princípio] se compara ao inteligir assim como a potência ao ato, poderá inteligir e não inteligir, não inerindo à sua substância que tenha que inteligir continuamente. Para que, portanto, não se encontre como quem dorme, será necessário que a continuação do seu inteligir seja alcançada através de algum outro [inteligível]. Ora, pelo fato de que este algum outro [tenha que] ser alcançado, não sendo possuído pela sua própria natureza, provavelmente isto terá que ser feito com trabalho, assim como vemos acontecer nos homens: eles têm que trabalhar para que operem continuamente. [Aristóteles diz provavelmente porque] não é uma [conclusão] necessária, [porque a aquisição de algo por outro e sua continuação somente são necessariamente trabalhosas quando em algo forem contra a natureza]. Um exemplo disto é a continuidade do movimento do céu, que depende de algo extrínseco, e no entanto o movimento do céu não se dá com trabalho.