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Para investigar a causa da corrupção das
repúblicas é necessário primeiro supor o princípio pelo qual
algumas repúblicas são retas e outras não o são, [e pelo
qual] todos tendem a algo justo e igual segundo a proporção.
A razão disto é que todas pretendem a salvação.
Ora, a república não pode salvar-se sem a união, e a união
não pode fazer-se sem que se retorne o igual. Ora, isto é o
justo, e é por isso que todos pretendem o justo e o igual.
Todavia, muitos pecam ao determinar o justo.
Alguns, de fato, determinam mal [o justo e o
igual]. O povo, [por exemplo], considera que se há pessoas
iguais em algum aspecto, serão também iguais de modo simples
e, portanto, deverão receber igualmente. Como todos os
cidadãos são livres, são ditos [pelo povo] ser simplesmente
iguais.
Já a potência de poucos considera que se os
cidadãos são desiguais em algo eles também serão desiguais de
modo simples e que portanto deverão receber desigualmente.
Isto é, se há cidadãos desiguais nas riquezas, consideram que
são desiguais de modo simples e desigualmente devem receber
os bens comuns.
Mas a desigualdade na riqueza não implica em uma
desigualdade de modo simples, nem a igualdade na liberdade
implica na igualdade de modo simples, porque as riquezas e a
liberdade não são bens do homem enquanto homem.
Assim, portanto, é manifesto que todas estas
repúblicas pretendem algo justo, mas são viciadas
simplesmente consideradas.
De tudo isto pode concluir-se qual é a primeira
raiz e o primeiro princípio da corrupção da república e de
[sua] sedição.
Já que cada um, segundo alguma dignidade, deve
receber algo dos bens comuns, quando estes não recebem
segundo o que se estimam ser dignos, promovem uma sedição na
cidade e transmutam a república. Por não receberem segundo a
estimação que tem de si, parece-lhes que se lhes faz
injustiça e que são desprezados. Estas coisas são causas das
dissensões.
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