6. Se a lei deve dominar, e não o homem.

Alguém poderia dizer que a lei deve governar, não o homem.

Em favor desta posição pode-se dizer que é mau e injusto que o homem governe, e não a lei, porque o homem tem paixões que lhe são conjuntas. Ora, as paixões distraem a vontade e a fazem desviar do reto fim, e por conseqüência pervertem o julgamento da razão. A lei, porém, não possui paixões, razão pela qual não ocorre que pela lei nos desviamos do reto julgamento da razão. Como é melhor e mais justo que governe aquele que não pode desviar-se do reto fim do que aquele que o pode, e o homem pode desviar-se do reto fim enquanto que a lei não o pode, pareceria ser manifesto que seja a lei quem deve governar, e não o homem.

Porém, ao contrário, também parece não ser verdade que seja justo que a lei domine universalmente, porque as leis pertencerão a uma oligarquia ou a uma democracia e, portanto, tais leis serão dadas e ordenadas aos fins de uma minoria ou uma maioria. [Na minoria dos ricos ou na maioria dos pobres] supomos que não haja um reto fim considerado de modo simples, conforme já explicado. Portanto, sequer estas leis serão também justas de modo simples. Disto fica manifesto que não difere que se diga que deve ser a lei ou algum grupo de homens que governe, pois em ambos os casos ocorrerão os mesmos inconvenientes, conforme foi anteriormente explicado de cada um deles.