|
Entre os benfeitores e os beneficiados acontece o
mesmo que nos artífices para com as suas obras. Todo artífice
ama a obra própria mais do que é amado por ela, ainda que
fosse possível que a sua obra se tornasse [um ser] animado. E
a isto se assemelha aquilo que acontece acerca dos
benfeitores que amam àqueles a quem fazem benefícios, porque
aquele que recebe o benefício de alguém é como que a sua
obra, [de onde que daí é que] os benfeitores mais amam a sua
obra, isto é, os beneficiados, do que o inverso.
A causa do que foi dito está em que a todos os
homens o seu ser é amável e elegível. De fato, cada coisa, na
medida em que ela é, é [um] bem, e o bem é elegível e amável.
Ora, o nosso ser consiste em um certo ato, que é viver, e por
conseguinte operar, porque não há vida sem alguma operação da
vida. De onde que, [por conseguinte], a cada um é amável o
operar as obras da vida. [Deve-se considerar agora, que] a
obra [daquele que opera] é, de uma certa forma, o próprio
fazer em ato. Porém, [conforme se mostra nos livros da
Física], o ato do movente e do agente está no movido e no
paciente. Portanto, os artífices, os poetas e os benfeitores
amam assim a sua obra, porque amam o seu ser.
|
|