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Devemos determinar quando algo está em potência e
quando não. De fato, não é em qualquer tempo e em qualquer
disposição que algo pode ser dito ser em potência, inclusive
em relação àquilo que é feito a partir dele. Por exemplo,
nunca poderá ser dito que a terra está em potência ao homem.
Isto é manifesto que não. O esperma já [pode ser dito] estar
em potência ao homem, e ainda talvez nem assim, conforme será
explicado adiante.
[Em que disposição a matéria existente é dita
estar em potência ao ato?] Conforme foi explicado no livro
VII, os efeitos de algumas artes ocorrem também sem a arte.
As causas não se fazem sem a arte, mas a saúde pode ser feita
sem a arte da Medicina, somente pela operação da natureza.
Ora, não é qualquer coisa ou em qualquer disposição existente
que é levada à saúde pela Medicina ou pela natureza, mas algo
é possível de ser levado à saúde pela natureza ou pela arte
em determinada disposição. Aquilo que é possível que por uma
única operação da natureza ou da arte seja levado à saúde em
ato é dito são em potência.
[Vamos explicar isto] mais plenamente, quanto à
operação da arte e quanto à operação da natureza. É dito ser
são em potência aquilo que por uma [única] operação da arte
se torna são. Nas coisas que se fazem sãs pela natureza,
estas são ditas em potência à saúde, quando não existe algo
que impeça a saúde que deve ser movido ou transformado antes
que a virtude [intrinsecamente] sanativa tenha efeito em
sanar. E assim como dizemos da saúde que é feita pela arte,
assim pode ser dito das demais coisas que são feitas pela
arte. Por exemplo, a matéria está em potência à casa, quando
nenhuma das coisas que estão na matéria proíbe a casa de ser
feita prontamente por uma [única] ação, nem há nada que
precise ser adicionado, ou retirado, ou mudado, antes que a
matéria seja informada em casa. É assim que das árvores é
preciso retirar e acrescentar até que [por elas] se [possa]
compor uma casa. De onde que as árvores não estão em
potência à casa, mas sim, a madeira já preparada. E
semelhantemente ocorre nas demais [coisas], tanto se tiverem
princípio de perfeição externo, como o são as coisas
artificiais, ou internos, como o são as naturais. [Estas
coisas] sempre estão em potência ao ato quando não houver
impedimento externo e puderem ser reduzidos ao ato pelo
próprio princípio ativo. O esperma não se enquadra neste
caso, porque é necessário que o animal se faça a partir dele
mediante muitas permutações. Mas, quando já pelo próprio
princípio ativo possa ser feito existente em ato, então a
coisa já está em potência. Aquelas coisas que é necessário
serem transmutadas antes que sejam prontamente reduzíveis ao
ato, necessitam de outro princípio ativo, a saber [um
princípio] preparante da matéria, que é outro que não o
perficiente, que induz a última forma. Assim fica patente que
a terra não está em potência à estátua, porque nem por uma
ação e nem por um agente é reduzido ao ato, mas primeiramente
pela natureza deve ser transmutada e tornada cobre, e depois
então pela arte será feita estátua.
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