11. Argumento sobre se é melhor que muitos governem ou um só.

É manifesto que na cidade o governante deve conhecer as leis e deve fazê-las. Não convém, entretanto, que seja senhor de todas as coisas; já que ele domina segundo a lei, não convém que ele domine em tudo, mas convém que ele domine naquelas coisas que não podem ser determinadas pela lei, seja de modo simples, ou pelo menos [não perfeitamente]. Neste caso, porém, levanta-se uma dúvida sobre se mais convém que um só governe julgando sobre casos particulares, sobre os quais a lei não pode bem determinar, ou se convém que muitos governem.

O Filósofo resolve a questão afirmando que é melhor que neste caso muitos julguem em vez de um só por três razões.

Em primeiro lugar [o Filósofo coloca que] quando surge um caso particular que não pode ser determinado pela lei, reúnem-se muitos [homens] e discutem sobre [o caso] entre si e investigam sobre o mesmo pelo conselho, e depois do conselho julgam. É assim que se dão todos os julgamentos dos casos particulares sobre os quais a lei não pode determinar. Assim podem fazer muitos e não apenas um, porque muitos que se aconselham sobre algo podem ver mais coisas do que um só. É manifesto, portanto, que um só, quando comparado a muitos, é pior no julgar, e o seu julgamento, comparado ao julgamento de muitos, é pior. Assim como uma cidade composta de muitos é mais bela do que uma cidade composta por poucos, assim também o julgamento de muitos é melhor do que o julgamento de um. É manifesto, portanto, que melhor e com mais acerto julgará uma multidão ou muitos do que cada um desta multidão.

A segunda razão [colocada pelo Filósofo] diz que é manifesto que muitos são mais indiferentes em relação às paixões perturbantes e pervententes o reto julgamento de que um só sem poucos e por isso um só mas pode ser ocupado pelas paixões do que muitos. Quando, porém, um só for ocupado por alguma paixão, corromper-se-á o julgamento. Onde há muitos, porém, será difícil corromper-se o julgamento por causa do ímpeto das paixões, porque se alguns estão dominados pela paixão, suas paixões serão reprimidas pela razão dos outros e por isso será difícil que eles pequem e isto principalmente se se tratar de uma multidão não vil, mas se for uma multidão de homens livres segundo a virtude. Estes, de fato, nada farão além da lei, senão onde a lei falhar.

A terceira razão [colocada pelo Filósofo] diz que, se for afirmado que não é fácil que muitos julguem bem em tais coisas, se se tratarem de homens quaisquer indiferentemente, todavia, se se tratarem de homens bons e cidadãos bons, ainda deveria se investigar se um só governante mais dificilmente possa ser pervertido e corrompido do que muitos bons homens em número. E é manifesto que muitos homens bons mais dificilmente se perverterão e corromperão do que um só homem bom. Ora, é melhor que o julgamento se realize por aquele que mais dificilmente pode ser corrompido e pervertido. Portanto, como é mais difícil que muitos se corrompam e se pervertam do que um só, segue-se que é melhor que o julgamento seja feito por muitos do que por um só.

De tudo isto Aristóteles conclui a preeminência do estado dos ótimos [ou aristocracia] sobre o reino. E diz que se é assim conforme foi declarado, isto é, que é melhor que muitos homens bons julguem do que um só, e a política em que muitos sábios governam é o estado dos ótimos [ou aristocracia], enquanto que a política em que um só homem sábio governa é o reino, é manifesto que o estado dos ótimos [ou aristocracia] é melhor do que o reino.