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Entre todos os elementos o máximo e eficacíssimo
para salvar a república consiste em aprender as leis e as
coisas que se ordenam à república e acostumar-se a elas. O
motivo por que importa tanto acostumar-se a elas está em que
as coisas em que os homens são acostumados lhes são
deleitáveis, mais lhes agradam e mais são por eles amadas.
Ora, as coisas que mais são amadas mais se salvam. Se, porém,
os homens não forem acostumados e eruditos na república e nas
leis que significam a ordem da república, por exemplo, se os
que vivem no estado de poucos não tiverem o costume e a
erudição das leis do estado de poucos, e os que vivem no
estado popular não tiverem o costume e a erudição das leis do
estado popular, nenhuma utilidade haverá para eles de
qualquer bondade e glória que houver em suas leis.
Acontecerá, deste modo, em uma tal cidade em que
há leis ótimas, mas os cidadãos não estejam acostumados
nelas, o mesmo que ocorre no homem incontinente. No homem
incontinente ocorre que, embora ele tenha o reto julgamento
da razão de algum modo, porque, todavia, ele segue o ímpeto
das paixões, de nada lhe serve a retidão da razão.
Semelhantemente ocorre no caso de que tratamos. Embora a
cidade possua boas leis, se todavia não houver cidadãos
acostumados e eruditos nas mesmas, estas não lhes serão de
nenhuma serventia, porque não agirão segundo as mesmas. Devem
ser ensinados e acostumados não naquelas coisas às quais, se
puderem ser alcançadas, se deleitarão tanto os que pertencem
à potência de poucos como ao estado popular, mas naqueles em
que, ao tornarem-se eruditos, poderão guardar a república.
Ora, atualmente nas cidades observa-se o contrário; no estado
de poucos os filhos dos ricos são educados nas delícias e se
inclinam às mesmas e nelas se deleitam, enquanto que os
pobres são acostumados ao que é trabalhoso. É claro que deste
modo os filhos dos ricos e os filhos dos pobres poderão e
quererão mais viver insolentemente quanto à república. Não
devem, portanto, ser ensinados nestes casos.
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