2. Como todas as coisas da natureza ou são contrários ou se tornam a partir de contrários.

Existem três razões prováveis pelas quais os primeiros princípios devem ser contrários. Os primeiros princípios devem preencher os seguintes requisitos:

A. Que não sejam a partir de outros.

B. Que não sejam a partir um do outro.

C. Que todas as demais coisas sejam a partir deles.

Ora, estes requisitos convêm aos primeiros contrários.

Para entender o que significa primeiros contrários, é de se saber que alguns pares de contrários são causados por outros. [Tomemos alguns] exemplos: o doce e o amargo são causados a partir do úmido e do seco, e do quente e do frio. Estes, por sua vez, são causados por outros contrários e os primeiros contrários são aqueles que não são causados por outros.

Os primeiros contrários [também] não podem ser provenientes um a partir do outro. Apesar do frio se tornar frio a partir daquele que antes era quente, todavia a frigidez em si mesmo nunca se faz a partir da quentura, conforme será explicado adiante.

[Aristóteles mostra a seguir como todas as coisas se fazem a partir de contrários ou são os próprios contrários.]

Qualquer coisa não se torna a partir de qualquer coisa. Isso poderia acontecer somente por acaso e como por acidente.

Nas coisas simples, [isto é, que não são compostas de matéria e forma], isso é manifesto. O branco não se torna branco a partir do músico, exceto por acidente, na medida em que o músico comporta as qualidades de branco ou preto. O branco se faz do não branco, que seria o negro ou alguma outra cor intermediária. Da mesma maneira, o branco se corrompe no não branco, e não em qualquer não branco, mas no negro ou em alguma cor intermediária, e não no músico, exceto por acidente.

Nas coisas compostas isso também é manifesto, apesar dos opostos das coisas compostas não terem nome como os opostos das coisas simples. Mas como todo composto consiste em alguma consonância, o consonante se faz a partir do inconsonante e vice-versa. E o consonante não se corrompe em qualquer inconsonante, mas no inconsonante oposto, e vice- versa.

Assim, todas as coisas da natureza ou são contrárias ou se tornam a partir de contrários.

Muitos filósofos seguiram a verdade até aqui, porque colocaram os princípios serem contrários. Todavia, não o fizeram movidos por alguma razão, mas como se fossem coagidos pela própria verdade. A verdade é o bem do intelecto, à qual naturalmente este se ordena. [Desta maneira], assim como as coisas carentes de conhecimento se movem a seus fins sem serem movidos pela razão, assim algumas vezes o intelecto do homem por alguma inclinação natural tende em direção à verdade, não obstante não perceber a razão da verdade.