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Como toda mutação é mutação a partir de algo em
direção a algo, aquilo que é mudado pode ser mudado de quatro
maneiras diferentes:
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A. Ambos os términos da mutação
são afirmativos: a coisa é mudada
de sujeito a sujeito.
B. O término "a partir do qual" é
afirmativo e o término "para o
qual"é negativo: o objeto é mudado
do sujeito para o não-sujeito.
C. O término "a partir do qual"é
negativo, e o término "para o
qual" é afirmativo: o objeto é
mudado do não-sujeito para o
sujeito.
D. Ambos os términos são
negativos: o objeto é mudado do
não sujeito para o não sujeito.
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Deve-se notar que [nesta passagem] sujeito não significa o
sustentáculo da forma, mas qualquer coisa afirmativamente
significada.
[Desta maneira, existem três espécies de mutação:]
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A. De sujeito a sujeito: como
quando algo é mudado de branco
para o preto.
B. De sujeito para não sujeito:
como quando algo é mudado do ser
para o não ser.
C. Do não sujeito ao sujeito: como
quando algo é mudado do não ser
para o ser.
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Isto, apesar de se poder dizer que algo é mudado de quatro
maneiras, conforme explicado. Porque não pode existir uma
espécie de mutação do não sujeito ao não sujeito, exceto por
acidente. Porque toda mutação per se se verifica entre
opostos, e entre duas negações não existe oposição.
Um sinal do fato de que entre duas negações não
existe oposição é que as negações são simultaneamente
verdadeiras de um mesmo objeto. Por exemplo: uma pedra é
simultaneamente não doente e não sadia.
Pode existir mutação entre duas negações apenas
por acidente, porque quando algo muda de branco para o preto,
ele muda acidentalmente do não preto para o não branco.
A mutação do não sujeito ao sujeito é chamada de
geração, a qual é uma mutação do não ser para o ser. A
geração pode ser simples e por acidente.
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A. A geração será por acidente,
como quando algo é mudado do não
branco para o branco. Nesta
geração o que é propriamente
mudado é um sujeito que é algum
ser existente em ato.
B. A geração será dita geração
simplesmente, como quando algo é
mudado de simples não ser para o
ser que é substância. Nesta
geração o que é propriamente
mudado é um sujeito que está
apenas em potência, isto é, a
matéria primeira.
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A mutação do sujeito ao não sujeito é chamada de corrupção,
[a qual é uma mutação do ser para o não ser]. A corrupção
pode ser dita simplesmente corrupção ou corrupção por
acidente.
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A. A corrupção dita simplesmente
corrupção é a mutação do ser
substancial para o não ser,
[conforme explicado no ítem
precedente para a geração
simplesmente dita].
B. A corrupção por acidente é a
mutação como do branco para o não
branco, [conforme também explicado
no ítem precedente].
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[Quanto à mutação do sujeito ao sujeito, esta será chamada de
movimento. Mas, antes de afirmar isto, Aristóteles pretenderá
demonstrar que nem a geração, nem a corrupção podem ser
chamadas de movimento].
A geração não pode ser chamada de movimento porque
o que é gerado [não é um ser em ato], não é um "este". Ora,
o que não é, não pode ser movido.
Não obstante, no livro I havia-se afirmado que
todas as coisas provêm do não ser por acidente e do ser em
potência per se. Não obstante isso, pode-se afirmar que o que
vem a ser simplesmente não é. Portanto, ele não pode ser
movido, e pela mesma razão não está em repouso.
Quanto à corrupção não poder ser chamada de
movimento, isso se demonstra assim como se segue. Nada é
contrário ao movimento, exceto o movimento ou o repouso. Mas
a geração é o contrário da corrupção. [Portanto, se a
corrupção é movimento, seu contrário deverá ser movimento ou
repouso]. Mas a geração não é nem movimento, nem repouso.
Portanto, conclui-se que a corrupção não pode ser movimento.
[Deve-se dizer agora o que é o movimento]. Já que
nem a corrupção, que é a mutação do sujeito ao não sujeito, é
movimento, nem a geração, que é a mutação do não sujeito ao
sujeito, tampouco é movimento, e somente existem três tipos
de mutação, segue-se que o movimento somente poderá ser a
mutação do sujeito ao sujeito.
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