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Alguém poderia objetar contra o que foi dito que
os incontinentes algumas vezes fazem declarações científicas
e em coisas singulares. De onde que parece não ser verdade
que possuem os hábitos atados.
[Quanto a isto devemos responder dizendo que] pelo
fato que estes digam os sermões da ciência não é sinal que
possuem o hábito desatado. O que pode ser provado através de
dois exemplos. Dos quais o primeiro é que também aqueles que
estão nas paixões preditas, como por exemplo, os ébrios e os
maníacos, proferem com a voz demonstrações, por exemplo,
demonstrações geométricas, e recitam as palavras de
Empédocles, um dos antigos filósofos mais difíceis de se
entender. O segundo exemplo é o das crianças quando aprendem
pela primeira vez, as quais juntam os sermões que pela
palavra proferem, mas ainda não o sabem, de tal maneira que
suas mentes os entendam. Para isto, de fato, se requer que
aquilo que o homem ouve se torne para ele como que conatural,
por uma perfeita impressão dos mesmos no intelecto, para o
que o homem necessita de tempo, no qual o intelecto, através
de múltiplas meditações, se firme naquilo que [recebe]. Assim
também acontece no incontinente. Ainda que ele diga não é bom
para mim agora perseguir tal deleitação, todavia não sente
assim no coração. De onde que se deve estimar que os
incontinentes dizem tais palavras como que simulando-as,
porque de uma maneira sentem no coração, e de outra proferem
com a boca.
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