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Cabe ao legislador não trabalhar muito instituindo
uma grande obra, mas principalmente empenhar-se naquilo pelo
que a república pode salvar-se por muito tempo. Não é difícil
que uma república ordenada de qualquer modo permaneça por
pouco tempo. O que é dificílimo é que ela permaneça por muito
tempo. Por isso importa trazer muito à memória tudo aquilo
que são elementos salvadores e corrompentes das repúblicas, e
por meio delas procurar salvar a república, fugindo daquilo
que as corrompe, elaborando leis e costumes não escritos que
incluam tudo aquilo que as salva.
E não se deve cair no erro de crer que o estatuto
mais popular seja aquele que mais faz a cidade viver
popularmente. De fato, muitas das coisas que parecem ser
populares [na realidade] dissolvem os estados populares.
O que mais deve ser observado por quem tem cuidado
com o estado popular é providenciar o modo pelo qual a
multidão dos pobres enriqueça ou pelo menos não passe
necessidade. A necessidade, de fato, faz esta multidão ser
má; é difícil que aquele que vive na indigência trabalhe bem,
conforme se diz no Primeiro Livro da Ética. Por isso deve-se
trabalhar muito para que [a multidão] tenha uma abundância
contínua.
O Filósofo também aponta alguns modos pelos quais
é possível tornar os pobres ricos.
Em primeiro lugar, para evitar a indigência no
estado popular convém reunir em alguma quantidade notável
aquilo que provém dos rendimentos comuns e então distribuir
aos pobres partes suficientemente grandes pelas quais cada um
possa adquirir uma pequena quantidade de terra da qual depois
possa auferir algum lucro. Isto convém aos ricos, porque não
são agravados por isso, e também convém aos pobres, mais do
que se recebessem segundo pequenas partes e com maior
freqüência.
Em segundo lugar, se isto não puder ser feito
comodamente, devem ser oferecidas a eles pelo menos ocasiões
que os favoreçam à negociação e à agricultura, para que deste
modo, por ambas as coisas, possam enriquecer-se.
Em terceiro lugar, se não é possível para os ricos
disporem de algo para ser distribuído aos pobres, pelo menos
convém que eles doem alguma quantidade de dinheiro, segundo
as tribos ou segundo as fraternidades, ou segundo algum outro
modo de agrupamento, para que seja distribuída aos pobres nas
reuniões necessárias. E para que façam isto mais prontamente,
devem ser abolidos os gastos desnecessários que os ricos
costumam fazer, como as despesas com banquetes e presentes
inúteis.
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