4. Se as operações da alma implicam em que a alma se move.

Os antigos filósofos supuseram que a alma se movesse a si mesma pelo fato de que ela move o corpo. Todavia, [alguns], muito mais racionalmente, supuseram que a alma se movesse a si mesma considerando as operações da alma. De fato, nós dizemos que a alma se entristece, fica feliz, confia, se ira, sente e intelige. Ora, sendo estas operações da alma, e sendo estas, [de uma certa maneira], movimentos, pareceria que a alma se move a si mesmo.

Os filósofos que raciocinaram conforme explicado, fizeram, [na realidade], duas colocações:

A. Que alegrar-se e entristecer-se e outros tais são movimentos.

B. Que tais [movimentos] são atribuídos à alma.

Ambas estas suposições são falsas. Alegrar-se, sentir, irar-se e outras assim nem são movimentos, e nem podem ser atribuídos à alma. E mesmo admitindo que fossem movimentos, ainda assim é falso que possam ser atribuídos à alma, e, consequentemente, é igualmente falso afirmar que a alma se move a si mesma mediante tais operações.

Supondo que tais operações sejam movimentos e se atribuam à alma, é manifesto que não podem ser atribuídas exceto segundo algumas partes corporais determinadas. Por exemplo: o sentir não é atribuído à alma, exceto em alguma parte do corpo, como o olho, o irar-se no coração, e assim por diante. Assim, aparece de maneira manifesta que não se tratam de movimentos apenas da alma, mas conjuntos. São, todavia, movimentos [provocados] pela alma.

[Temos, como exemplo, que] no irar-se, a alma julga algo ser digno de ira, movendo, [então], o coração do animal e fervendo o seu sangue. Desta maneira, não é que a alma se mova, mas o movimento é que é [provocado] por ela no coração. Não é a alma que se move, mas o homem pela alma.