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O Filósofo pretende responder às questões que
foram levantadas. Deve-se entender, porém, que a solução da
segunda depende da solução da primeira. De fato, se
declararmos qual é a vida elegibilíssima de modo simples,
imediatamente ficará demonstrado qual será a república ótima
e a sua ordem ótima. É necessário que sejam ótimas segundo se
aquela república e aquela ordem que se unem [à vida ótima] e
na qual se pretende alcançar a vida ótima. Por este motivo o
Filósofo resolverá apenas a primeira dúvida.
É manifesto que aquela república ou aquela ordem
da cidade será ótima na medida em que todos ou a maioria [dos
homens] operem otimamente e vivam de modo feliz. A operação
ótima e a felicidade são as finalidades da república ótima, e
é disto que ela toma a razão da cidade.
[Há alguns que sustentam que a virtude não é
necessária à felicidade do homem]. Entre os que, porém,
sustentam que a vida ótima do homem deve consistir na
operação ótima da virtude, há uma dúvida se a vida civil, a
qual consiste na direção ou ordenação das operações que são a
outro, deve ser mais escolhida, ou esta deve ser mais a que é
desligada da turbação civil e das ações exteriores, à qual
chamamos de contemplativa, a qual observa-se ser procurada
apenas pelos filósofos. Muitos homens excelentes,
honradíssimos por causa da virtude, alguns ainda vivos e
outros que nos precederam, escolhem estas duas vidas mais do
que qualquer outra, como as mais excelentes. Os que escolhem
estas duas vidas, mas em seu lugar preferem uma vida de
prazeres, não possuem o uso reto da razão e devem ser
considerados como homens bestiais. É muito importante, porém,
saber qual destas duas vidas, a civil e a filosófica ou
contemplativa, deve ser mais escolhida e onde está a verdade
neste assunto. De fato, é necessário que o sábio e o homem
ótimo, assim como a cidade ótima, amem e dirijam toda a sua
intenção para a melhor delas, o que não poderão fazer,
entretanto, a não ser que saibam qual destas é a melhor. Por
isso é muito importante que o homem sábio conheça a verdade
sobre esta questão.
Os que opinam, entretanto, que a vida ótima e
elegibilíssima consiste na virtude, diferem, entretanto,
sobre o uso de qual virtude a mesma consiste.
Alguns, de fato, reprovam os principados civis
como existindo além da razão, e consideram a vida livre, isto
é, a vida absoluta e contemplativa, ser outra e completamente
diversa da vida civil, e ser ótima e elegibilíssima entre
todas. Outros, ao contrário, dizem que a vida ótima é a vida
civil, oferecendo para tanto razões segundo as quais,
consistindo a vida contemplativa num certo ócio, ser
impossível que aja bem aquele que não age. Ora, como o bem
agir e a felicidade são o mesmo, pois é isto que dizemos ser
a felicidade, será impossível que o que conduz a vida
contemplativa possua a felicidade simplesmente considerada. A
vida civil, por outro lado, possui muitas ações boas e belas
pelo que lhes parece que esta deve ser a vida preferível
entre todas.
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