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[Devemos considerar que, segundo as cinco
classificações que foram apontadas das enunciações], o
julgamento da verdade e da falsidade nas diversas enunciações
não se dá de modo idêntico.
Nas proposições que se referem ao presente, assim
como nas enunciações que se referem ao passado, é necessário
que a afirmação ou negação seja determinadamente verdadeira
ou falsa.
Ocorre uma diversidade, porém, segundo a diversa
quantidade da enunciação.
Na enunciações em que predica-se universalmente
algo de sujeitos universais, é necessário que sempre entre a
afirmativa e a negativa que se lhe opõe uma delas seja
verdadeira e a outra falsa. A negativa da enunciação
universal em que algo é predicado universalmente do sujeito
não é a negativa universal, mas a negativa particular, assim
como a universal negativa não é negada pela universal
afirmativa, mas pela particular afirmativa. Neste sentido,
segundo o que foi dito, é necessário que se uma delas é
verdadeira, a outra seja falsa qualquer que seja a matéria.
As mesmas razões valem nas enunciações singulares,
as quais também se opõem por contradição, conforme já
explicado anteriormente.
Já nas enunciações em que algo é predicado do
universal de modo não universal, não é necessário que sempre
uma seja verdadeira e a outra seja falsa, pois podem ser
ambas simultaneamente verdadeiras, conforme também já
explicado.
Tudo quanto foi dito vale tanto para as
proposições que são acerca do passado como do presente.
Quanto às enunciações que são do futuro, valerá
também o mesmo quanto às oposições entre enunciações
universais, quer tomadas universalmente como não
universalmente. De fato, em matéria necessária, todas as
enunciações afirmativas são verdadeiras, sejam elas futuras,
como passadas e presentes. Em matéria impossível, ao
contrário, [as negativas serão verdadeiras enquanto que as
afirmativas serão falsas]. Em matéria contingente as
afirmações universais serão falsas e as particulares serão
verdadeiras, tanto nas enunciações futuras como nas passadas
e presentes.
A dessemelhança ocorre nas enunciações singulares
futuras.
Nas enunciações singulares passadas e presentes é
necessário que uma das opostas seja determinadamente
verdadeira e outra seja determinadamente falsa, qualquer que
seja a matéria [da enunciação]. Nas singulares que são do
futuro, porém, se se tratar de matéria necessária e
impossível, a razão destas enunciações será semelhante às
passadas e presentes, mas se se tratar de matéria contingente
já não será mais necessário que uma das opostas seja
determinadamente verdadeira e outra determinadamente falsa.
É sobre este assunto que trata toda esta [seção
final do Primeiro Livro do Tratado da Interpretação, isto
é], se nas enunciações singulares futuras em matéria
contingente é necessário que determinadamente um dos opostos
seja verdadeiro e outro seja falso.
[Conforme veremos, a resposta que o Filósofo dará
a esta questão será negativa].
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