3. Como o sentido, o intelecto e o apetite se relacionam para com as obras próprias do homem.

Devemos excluir o sentido tanto do conhecimento da verdade como da ação. É manifesto que o conhecimento da verdade não pertence ao sentido, e quanto à ação, o sentido não é princípio de nenhum ato humano de maneira tal que através do sentido o homem possa ter domínio sobre sua ação. Isto também [se torna] evidente, [se considerarmos] que os animais possuem sentido, mas não têm em comum com o homem a ação, porque não possuem domínio de seus atos, não agindo por si mesmos, mas sendo movidos pelo instinto da natureza.

O conhecimento da verdade não pertence ao apetite [do mesmo modo como não pertence ao sentido].

[O conhecimento da verdade pertence a ambas as razões, a científica ou especulativa, e a raciocinativa ou prática. No primeiro caso, porém, trata-se da verdade absoluta, e no segundo da verdade prática].

A razão absolutamente considerada, isto é, a razão especulativa, nada move, porque nada diz quanto ao que se deve perseguir ou fugir, e assim não é princípio de nenhuma ação. Já a razão prática, que se ordena a algum particular operável assim como a um fim, pode ser princípio de ação. [Isto porque os atos do intelecto, conforme explicado no De Anima, são a apreensão e o julgamento]. [Pela apreensão, inteligimos o indivisível e incompleto, como homem ou boi. Nesta operação não pode haver nem verdade nem falsidade]. [Pelo julgamento, combinamos coisas incomplexas anteriormente separadas, e aqui], em julgando, o intelecto possui dois atos, a afirmação, pela qual o intelecto consente com o verdadeiro, e a negação, pela qual discorda do falso. A estes dois atos correspondem proporcionalmente no apetite, a prossecução, pela qual o apetite tende ao bem e nele permanece, e a fuga, pela qual se afasta do mal. Segundo estes, o intelecto, [juntamente com o apetite], pode ser princípio de ação, na medida em que aquilo que o intelecto afirma ser bom o apetite prossegue, e aquilo que o intelecto nega ser bom o apetite foge. E, de fato, nas virtudes morais os atos do intelecto e do apetite concordam entre si. A virtude moral, como explicado no livro segundo, é um hábito eletivo. A eleição, por sua vez, como explicado no livro terceiro, é um apetite pré aconselhado, e o aconselhar é o ato de uma parte da razão. Porque, portanto concorrem à eleição a razão e o apetite, se a eleição deve ser boa, o que é requerido pela natureza da virtude moral, será necessário que a razão seja verdadeira e o apetite seja reto, de tal maneira que o mesmo que a razão afirma o apetite prossiga. Esta razão, que concorda com o apetite reto, é a razão prática.