25. Comparação da Metafísica com as ciências particulares quanto ao modo de separação.

Não somente pertence à Metafísica determinar acerca do ente em comum, ou seja, acerca do ente enquanto ente, mas também lhe pertence determinar acerca dos entes separados da matéria segundo o ser. [A partir disso desejamos determinar] se esta ciência difere da ciência natural [e da matemática].

A Metafísica difere da ciência natural, porque a ciência natural diz respeito às [coisas] que têm em si mesmo o princípio de movimento. Assim, torna-se necessário que as [coisas] naturais tenham uma determinada matéria, porque nada é movido a não ser aquilo que possui matéria.

A matemática especula a respeito dos [seres] imóveis. Isto porque é necessário que as coisas cuja razão é tomada sem a matéria sensível, do mesmo modo sua razão seja sem movimento, o movimento não existindo a não ser nas coisas sensíveis. Porém, as coisas das quais a matemática considera não são separáveis da matéria e do movimento segundo o ser, mas somente segundo a razão. [Portanto, a Metafísica também difere da matemática, porque ela considera acerca das coisas que são separadas da matéria segundo o ser.]

É necessário, portanto, que acerca daquele ente que é separado da matéria e do movimento segundo o ser e inteiramente imóvel, haja alguma outra ciência, que seja outra que não a matemática e a ciência natural. Isto, porém, deve ser dito caso haja alguma tal substância além das [substâncias] sensíveis, que seja completamente imóvel, porque ainda não demonstramos [existir] tal substância. Se, então, existir uma tal natureza [dentre os] entes, isto é, que seja separável e imóvel, aquele que possuir esta natureza será [uma certa coisa] divina, e [uma certa coisa] principalissima entre todas [as coisas]. [Isto] porque quanto algo é mais simples e formal dentre os entes, tanto será mais nobre, anterior e mais causa dos demais. E assim fica patente que esta ciência que considera tais entes separáveis, deve ser chamada ciência divina, e ciência dos primeiros princípios.

Do que foi dito conclui-se que três são os gêneros de ciências especulativas. [Primeiro], a ciência natural, que considera os entes móveis, que em sua definição recebem a matéria sensível. [Segundo], a ciência matemática, que considera os [seres] imóveis, que não recebem a matéria sensível em sua definição, ainda que tenham o seu ser na matéria sensível. [Terceiro], a teologia, que é acerca dos entes inteiramente separáveis.