4. Como os homens se tornam bons e estudiosos.

O Filósofo passa a declarar por quantas maneiras e como os homens se tornam bons e estudiosos.

Os homens se tornam bons segundo a virtude e estudiosos segundo a razão de três modos. Estes três são a disposição natural para a virtude e para aquilo que é segundo a razão, o costume na operação e também a razão dirigente.

[A contribuição da disposição natural consiste em que] aquele que deve tornar-se bom e estudioso deve ser primeiramente disposto pela natureza. De fato, em todas as coisas que se fazem pela natureza ou pela arte importa supor a matéria e a sua boa aptidão, se aquilo que se recebe em outro é recebido por modo de recipiente. Por isso quem deve ser bom e estudioso importa ser bem disposto pela natureza a isto, por exemplo, deve ser um homem que possua intelecto e razão, e não um animal bruto irracional. Sendo assim um homem, deverá ademais ser bem disposto segundo o corpo e por conseqüência segundo a alma. Os que são bem dispostos segundo o corpo são, na maioria das vezes, bem dispostos segundo a alma. Se, de fato, a alma segundo se e de uma só razão segundo a espécie para todos os homens, e não recebe gradação de mais ou de menos, já que é uma forma substancial, a diversidade de suas operações e propriedades deverá ser causada pela diversidade dos corpos e da matéria ou de outros [elementos] extrínsecos.

A contribuição do costume [consiste em que] alguns homens não são dispostos por nascimento ao bem, nem à obra da inteligência e, todavia, pelo costume se transformam. Há outros que pela natureza se encontram indiferentemente para com a virtude ou seu contrário e pelo costume na operação se determinam em relação a um ou outro, por exemplo, ao melhor ou ao pior. Mas aqueles que estão bem dispostos para com a virtude, por exemplo, pelo costume, necessitam apenas da operação para que se tornem bons. Aqueles que, porém, se inclinam pela natureza a coisas contrárias, não podem tornar- se bons, senão com dificuldade ou muito costume.

A contribuição da razão [consiste em que] os animais diversos do homem fazem as suas ações apenas pela inclinação natural, isto é, pela memória e imaginação. Alguns poucos segundo a quantidade fazem outras ações pelo costume, como é o caso dos animais que possuem uma boa estimativa, como os cães, os cavalos e outros semelhantes. O homem, porém, dirige as suas ações pela razão. De fato, somente ele entre os animais possui razão pela qual se determina. Por isto é necessário que estas três coisas consoem entre si, a saber, a natureza, o costume e a razão, de tal modo que sempre o que é posterior pressuponha o anterior. Há muitas coisas que os homens fazem além da natureza e do costume por causa da razão, se for persuadido por esta que o contrário é melhor, conforme é evidente no homem continente o qual, embora se incline à busca das paixões, seguirá todavia a razão que o persuade do contrário.