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Já que as forças da parte vegetativa da alma não
são passivas, mas ativas, nela não há nada [que possa] ser
dito paixão.
[Além das forças da parte vegetativa, temos na
alma a parte sensitiva e intelectiva, havendo em ambas forças
apreensivas e apetitivas]. Todas as forças apreensivas e
apetitivas do sentido e do intelecto são passivas, com a
exceção do intelecto agente. Apesar da apreensão do sentido e
do intelecto serem um certo padecer, as operações das
potências apreensivas não são propriamente paixões, mas
somente as operações das potências apetitivas. [O motivo por
que somente as operações das potências apetitivas, e não as
das apreensivas, sejam propriamente ditas paixões, apesar de
ambas serem um certo padecer, está na seguinte diferença
entre as potências apreensivas e apetitivas]. A operação das
potências apreensivas [se dá] segundo que a coisa apreendida
está no apreendente por modo do apreendente. Desta maneira, a
coisa apreendida é, de algum modo, trazida ao apreendente. Já
a operação das potências apetitivas [se dá] segundo que o
apetente [é por elas] inclinado ao apetecível. Ora, como
pertence à razão do paciente que este seja trazido ao agente
e não o inverso, daqui é que [vem que] as operações das
potências apreensivas não sejam ditas propriamente paixões,
mas somente as operações das potências apetitivas.
Entre as operações das potências apetitivas, a
operação do apetite intelectivo não pode ser dito
propriamente paixão, por dois motivos. Ora porque não se dá
segundo uma transmutação de órgão corporal, que é uma coisa
necessária à razão de paixão propriamente dita, ora porque na
operação do apetite intelectivo que é a vontade, o homem não
é agido como paciente, mas age como senhor de seus atos. De
onde que se conclui que são ditas propriamente paixões as
operações do apetite sensitivo, que se dão segundo uma
transmutação do órgão corporal, e pelas quais o homem de
alguma forma é conduzido.
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