3. O ato da liberalidade.

[O ato da liberalidade é o uso do dinheiro]. Que o ato da liberalidade é o bom uso do dinheiro pode ser mostrado da seguinte maneira. Em tudo o que é útil para alguma coisa, acontece poder ser bem ou mal usado. Ora, as riquezas são procuradas na medida em que são úteis para alguma coisa. Portanto, acontecerá que elas sejam usadas bem ou mal. Mas se a algumas coisas acontece serem usadas, o bom uso destas coisas pertencerá à virtude que é acerca destas coisas. Portanto, concluímos que o bom uso do dinheiro pertence à liberalidade que, conforme anteriormente dito, é acerca do dinheiro.

O uso do dinheiro consiste na despesa ou no dar este dinheiro. Receber ou guardar dinheiro não é usar dinheiro, mas é possuí-lo. De onde se conclui que mais pertence ao liberal dar dinheiro a quem convém, que é bem usá-lo, do que recebê-lo quando convém e não recebê-lo quando não convém.

[A seguir o filósofo coloca uma razão pela qual mostra que mais pertence à liberalidade bem dar do que bem receber]. [De modo geral] mais pertence à virtude fazer benefício do que bem padecer, porque fazer benefício é melhor e mais difícil. Assim também mais pertence à virtude bem operar do que abster-se da operação torpe. Ora, [passando ao caso particular da virtude da liberalidade], é evidente que pelo fato de alguém dar, faz benefício e bem opera. Já ao receber pertence ou o bem padecer, se alguém recebe onde convém, ou o [abster-se da operação] torpe, se alguém não recebe onde não convém. Portanto, daqui se conclui que mais pertence à virtude da liberalidade o bem dar do que o bem receber ou o abster-se do mau recebimento.