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O Filósofo ainda levanta outras questões sobre o
reino. A primeira é que, se alguém disser que é ótimo para a
cidade que seja governada por um só, haverá uma dúvida sobre
como este deverá ser escolhido, se por eleição ou pela
sucessão da descendência. O Filósofo mostra que não deve ser
escolhido pela sucessão da descendência porque é duvidoso
sobre os filhos que haverão de suceder o governante como eles
serão. Pode acontecer que o filho seja mau e se, portanto,
este único [governante] for tomado pela sucessão da
descendência, ocorrerá que um [homem] mau será tomado para
governar. Ora, isto é inconveniente. Portanto, no [governo
real o governante] não deve ser escolhido por sucessão.
Mas talvez alguém dirá que o pai sendo bom, vendo
o filho ser mau, não entregará o reino ao filho, mas a outro,
removendo o próprio filho [da sucessão]. O Filósofo responde
dizendo que é difícil crer nisto, a saber, que o pai dispense
o filho e entregue a outro o governo. Isto, de fato, está
acima da comum faculdade dos homens. Convirá que ele entregue
o governo ao mais amado e o mais amado segundo a natureza é o
mais próximo segundo a natureza. O filho é como um outro pai
e por isso, assim como o pai mais ama a si mesmo do que a
qualquer outro, assim também depois de si mais ama o filho
natural do que qualquer outro, pelo que mais prontamente lhe
entregará o reino do que a qualquer outro. Deve-se entender
que, portanto, considerado em si mesmo, sempre será melhor
que o rei seja escolhido por eleição do que por sucessão.
Poderá ser o rei melhor por sucessão [apenas] por acidente.
A primeira afirmativa é manifesta do seguinte
modo. Será melhor que o príncipe seja escolhido por aquele
modo pelo qual, considerado em si mesmo, ocorre ser escolhido
o melhor. Ora, pela eleição [mais] ocorre ser escolhido o
melhor do que pela sucessão da descendência, porque o melhor,
na maioria das vezes, mais encontra-se em toda a multidão do
que em um só. A eleição, ademais, considerada per se, é um
apetite determinado pela razão. Todavia, por acidente pode
ser melhor escolher o governante pela sucessão da
descendência, porque na eleição sucede haver dissensão entre
os eleitores. Ademais, às vezes os eleitores são [homens]
maus e, por isso, sucede que escolham um homem mau. Ademais,
o costume de dominar muito contribui para que alguém se
submeta a outro e por isso, reinando o pai, os [súditos] se
acostumam a submeter-se ao filho. Finalmente, é muito duro e
estranho que aquele que hoje é um igual, amanhã domine e seja
príncipe sobre outro. Por isso, por acidente, pode ocorrer
que seja melhor que um governante seja escolhido por sucessão
da descendência do que por eleição.
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