3. As espécies dos estados de poucos.

A primeira espécie do estado de poucos é aquela na qual os principados se distribuem segundo uma certa honorabilidade, por exemplo, de riquezas ou de gênero, de tal modo que os pobres não os alcancem mesmo que sejam muitos. Este primeiro modo do estado de poucos ocorre quando há muitos ricos na cidade os quais não possuem, todavia, riquezas excelentes, mas pequenas. Como há muitos cidadãos que não possuem poder, escolhem, por isso, alguns para governarem e, porque são ricos, escolhem aqueles que são semelhantes a si. E porque há muitos nesta espécie de estado que podem alcançar o principado, os príncipes que dominam nela segundo a vontade destes homens, mas segundo as leis. De fato, quanto mais se afastam da monarquia, porque muitos podem alcançar o governo possuindo vontades diversas e não uma única como ocorre na monarquia, e quanto menores riquezas tiverem, não tantas que possam dedicar-se muito ao principado sem negligenciar os próprios negócios, nem também tão pequenas que tenham necessariamente de viver da renda comum, tanto mais quererão não governarem por si mesmos, porque temerão ser oprimidos por outros e, por esse motivo, preferirão ser governados pela lei.

A segunda espécie de estado de poucos é aquela nos quais os principados são distribuídos segundo censos menores e na qual os governantes podem escolher outros seus consócios se disto necessitarem. Se estes forem escolhidos entre os que carecem de tudo, mas sejam virtuosos, este será um estado dos ótimos. Se, porém, forem escolhidos entre os ricos e os nobres, um estado de poucos. Esta segunda espécie ocorre quando há um menor número de ricos do que no caso anterior, os quais, porém, são também mais ricos do que os anteriores. Por serem mais ricos, querem exceder os demais e possuir vantagens. Adquirem, por isso, o poder de escolher entre muitos aqueles de que carecem para governar. Como, entretanto, não são tão poderosos a ponto de excederem a multidão, devem governar segundo a lei.

A terceira espécie de estado de poucos ocorre quando o principado é distribuído segundo uma maior honorabilidade do que a da riqueza ou a do gênero, de tal modo que o filho sucede ao pai no principado e se torna príncipe por causa do pai. Este estado de poucos surge quando há um número de ricos ainda menor do que nas espécies anteriores e possuindo riquezas ainda maiores. Os governantes passam a receber o principado quase como por herança porque, sendo os governantes muito poderosos, ordenam e estabelecem que os filhos os sucedam no principado.

A quarta espécie de estado de poucos ocorre quando alguns governam por causa da máxima honorabilidade e o filho sucede ao pai. Neste principado não é a lei que governa, mas o príncipe segundo a sua vontade própria e esta estado se coloca entre os estados de poucos assim como o tirano entre as monarquias. Assim como na tirania o tirano governa primeiro e per se por causa de seu próprio bem e oprime os bons, assim também neste principado o príncipe governa por causa de seu bem. E por isso, assim como entre as monarquias a tirania é a pior, assim também entre as potências de poucos esta é a péssima. E assim como entre os estados populares a última espécie assinalada é a péssima entre todas as espécies populares, assemelhando-se à tirania, assim como foi dito anteriormente, assim também entre as potências de poucos esta é a péssima entre as suas espécies. Esta última espécie de estado de poucos ocorre quando os ricos são ainda em menor número do que em todas as demais espécies deste modo de estado, e muito mais ricos e mais poderosos em amigos. Este principado se assemelha ao monárquico, porque os que governam o fazem segundo as suas vontades e não segundo a lei, como ocorre na monarquia real. Por causa de seu poder, os filhos sucedem aos pais no governo. Esta quarta espécie de potência de poucos é proporcional à última espécie de potência popular, porque assim como aquela é a péssima entre os estados populares, assim também esta é a péssima entre as potências de poucos, e se assemelha à tirania. Seus governantes governam principalmente por causa de seu bem próprio, assim como ocorre na tirania.

Tais são, portanto, as espécies de estados populares e de poucos, conforme foi dito.