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A magnitude da cidade é alguma determinada medida
para mais e para menos, que não pode ser transgredida segundo
a razão, assim como a magnitude das coisas naturais. Há um
termo determinado para mais e também para menos nas coisas
naturais, por exemplo, nos animais e nas plantas, que não
deve ser transgredido segundo a natureza, pois cada uma
destas coisas se carecer da magnitude que lhe é determinada
para menos, ou se exceder a magnitude que lhe é determinada
para mais, não terá a virtude própria pela qual é
determinada. Às vezes algo [não alcança] a natureza da
espécie própria, quando carece de muito ou excede de muito;
outras vezes, ainda que alcance a natureza da espécie, a
alcança mal quanto às disposições, por exemplo, ao carecer
pouco ou ao exceder pouco, como seria o caso de um navio. Se
o navio medir um palmo, não terá de nenhum modo a espécie do
navio; semelhantemente, se ele tiver um comprimento de dois
estádios. Se, no entanto, tiver alguma magnitude apenas um
pouco deficiente, ou um pouco excedente a magnitude que lhe é
natural, possuirá uma má disposição para a sua operação que é
a navegação, seja por causa da pequenez, seja por causa do
excesso.
Semelhantemente ocorre com a cidade, a qual possui
uma inclinação que lhe advém da natureza e um aperfeiçoamento
que lhe advém da razão, esta última imitando a primeira. Por
este motivo, a cidade possui uma magnitude determinada para
mais e também para menos. A [cidade] que é composta de poucos
cidadãos não é suficiente per se, assim como nem também o é a
aldeia. A cidade, de fato, é uma comunidade suficiente per
se, conforme foi explicado anteriormente. Portanto, aquela
que é composta de um número extremamente reduzido de
cidadãos, não pode ter razão de cidade. Aquela também que é
composta por uma multidão superabundante, embora seja
suficiente per se para as coisas necessárias à vida, como
pode sê-lo alguma região, não é, todavia, uma cidade.
A cidade, de fato, deve ter alguma ordenação
civil. Que uma multidão superabundante possa ter uma
ordenação civil é algo difícil ou mesmo impossível e, por
isso, a cidade que é composta de uma multidão superabundante,
não possui propriamente razão de cidade.
Conclui-se, portanto, que não só a que carece da
multidão determinada, mas também aquela que a excede, não
podem ser propriamente cidade.
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