2. Colocação de uma questão fundamental.

[Depois de apresentar este tratado, a primeira coisa que faz Aristóteles é] levantar uma questão a respeito das paixões da alma e das suas operações, se elas são somente próprias da alma sem comunicação com o corpo, conforme a opinião de Platão, ou se nenhuma é própria da alma, mas todas são comuns com o corpo.

Aceitar se as paixões e operações da alma são comuns ou próprias é algo difícil, a causa da dificuldade residindo em que aparentemente parece que muitas paixões são comuns, e não padecem sem o corpo, como irar-se, sentir e outras, das quais a alma em nada padece sem o corpo. Mas, se alguma operação fosse própria da alma, esta seria a operação do intelecto. De fato, inteligir, que é a operação do intelecto, [entre todas é a que mais] parece ser própria da alma.

Porém, considerado isto mais atentamente, não parece ser próprio da alma o inteligir. E isto porque o inteligir ou é a [própria] fantasia, como os platônicos colocavam, ou então pelo menos não se dá sem a fantasia. Ora, como a fantasia necessita do corpo, isto indicaria que inteligir não é próprio da alma, mas comum à alma e ao corpo.