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Pelo fato de nas substâncias separadas a
quididade não ser idêntica ao ser, se segue que elas são
ordenáveis em predicamento. Por causa disso nelas são
encontrados gênero, espécies e diferenças, embora suas
diferenças próprias nos sejam ocultas.
[Não somente nas substâncias separadas, mas
também] nas coisas sensíveis as diferenças essenciais são
por nós ignoradas. Nelas, as diferenças essenciais são
significadas pelas diferenças acidentais que se originam
das essenciais, assim como a causa pode ser significada
pelo seu efeito. É assim que bípede é dito ser diferença de
homem. Porém, nas substâncias imateriais, até os seus
acidentes próprios no são ocultos, de onde se segue que as
suas diferenças nem por si nem pelas diferenças acidentais
podem ser por nós significadas.
Deve-se saber que o gênero e a diferença não são
tomados do mesmo modo nas substâncias separadas e nas
substâncias sensíveis.
Nas substâncias sensíveis, o gênero é tomado
daquilo que é material na coisa. A diferença é tomada
daquilo que é formal na coisa.
Não que a forma seja a diferença, mas sim que a
forma é princípio da diferença. Por isso é que se diz que a
diferença [nas substâncias sensíveis] é tomada daquilo que
é parte da quididade da coisa, isto é, da forma.
Como as substâncias espirituais são simples
quididade, não é possível que nelas a diferença seja tomada
daquilo que é parte da quididade, mas deverá ser tomada de
toda a quididade. De modo semelhante também, nestas
substâncias, o gênero é tomado de toda a essência, todavia
de modo diferente [de como foi tomada a diferença]. As
substâncias imateriais têm em comum a imaterialidade,
diferindo, todavia pelo grau da perfeição, na medida em que
se afastam da potencialidade e se aproximam do ato puro.
Por isso o gênero é tomado nelas daquilo que lhes é
conseqüente enquanto imateriais, como a intelectualidade ou
alguma outra coisa tal. E a diferença lhes é tomada naquilo
que nelas se segue ao seu grau de perfeição, todavia por
nós desconhecido.
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