|
Da conclusão a que chegamos, isto é, que a cidade
pertence às coisas que são segundo a natureza, [pode-se
deduzir esta outra, isto é, que o homem é por natureza um
animal civil]. Pois se a cidade não é senão uma reunião de
homens, segue-se que o homem é um animal naturalmente civil.
Disto alguém poderia duvidar porque as coisas que
são segundo a natureza estão presentes em todos. Porém não
são todos os homens que são encontrados habitando em cidades.
Para excluir esta dúvida, o Filósofo diz em seguida que
alguns não são civis por causa da sorte, por terem sido
expulsos da cidade, ou por terem sido obrigados, pela
pobreza, a cultivar os campos ou apascentar animais. É
evidente que isto não é contrário à afirmação de que o homem
é um animal naturalmente civil, porque outras coisas naturais
às vezes falham por causa da sorte. É isto o que sucede
quando alguém tem a mão amputada ou é privado de um olho. Se,
porém, ocorrer que algum homem não seja civil por causa de
sua natureza, isto ou será algo nefasto, por ocorrer por
causa de uma corrupção da natureza humana, ou este homem será
alguém superior aos demais homens, na medida em que possui
uma natureza mais perfeita que os demais homens em geral, de
tal modo que possa bastar a si próprio sem a sociedade
humana, assim como ocorreu com João Batista ou com Santo
Antão o eremita.
|
|