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Pode-se reprovar corretamente aquilo que o
legislador dos Lacedemônios supunha como sendo o fim para o
qual toda a sua política se ordenava. Todas as leis dos
Lacedemônios se ordenavam a uma única parte da virtude, que é
a bélica. Por este motivo estavam bem ordenados à guerra, mas
mal ordenados quanto ao governo do estado político;
conseguiam manter-se nas guerras, mas quando alcançavam o
principado expunham-se a muitos perigos porque não sabiam
como viver em paz nem eram exercitados em outros exercícios
melhores do que a guerra, o que não era um pecado pequeno.
No entanto os Lacedemônios opinavam bem quando
consideravam que as coisas bélicas seria melhor tratadas pela
virtude dos homens do que [pelos simples peritos da arte
militar] porque, conforme está explicado no Terceiro Livro da
Ética, os homens virtuosos não receiam dispor da vida onde
for necessário persistir no bem. Os soldados, porém, quando
os perigos crescem em demasia, debandam, já não confiando
serem libertados pela experiência e pela indústria das armas.
Não opinavam bem os Lacedemônios, entretanto,
quanto a considerarem a virtude pela qual o homem se dispõe
corretamente na guerra como sendo a maior entre todas as
virtudes. Outras virtudes, como a prudência e a justiça, são
mais dignas do que a fortaleza e a própria guerra deve ser
buscada por causa da paz e não o contrário.
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