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Porque a causa é dita de muitos modos, pode
acontecer que muitas causas haja de uma só coisa, e isto não
por acidente, mas per se. E isto fica manifesto pelo
seguinte, porque as causas são ditas de múltiplas maneiras. O
escultor é causa da estátua per se e não por acidente. O
cobre também é causa da estátua per se e não por acidente.
Mas [ambas estas causas] não o são do mesmo modo.
[Ademais], pode acontecer que duas coisas sejam
causa de uma outra. Isto porém é impossível que aconteça no
mesmo gênero de causa. Assim como a dor provocada por um
corte numa ferida é a causa da saúde, como causa eficiente, a
saúde todavia é a causa daquela dor, como causa final.
Sendo quatro as causas acima colocadas, duas das
mesmas se correspondem mutuamente, e as outras duas também. A
causa eficiente e a causa final se correspondem mutuamente,
porque a eficiente é princípio de movimento, e a final é o
término. A causa material e a causa formal se correspondem
também mutuamente, porque a forma dá o ser, e a matéria o
recebe. A eficiente é causa da final, e a final é causa da
eficiente. A eficiente é causa da final quanto ao ser,
porque, movendo, a causa eficiente conduz ao fim. A final é
causa da eficiente não quanto ao ser, mas quanto à razão da
causalidade. A forma e a matéria são mutuamente causas quanto
ao ser. A forma é causa da matéria na medida em que lhe dá o
ser em ato. A matéria é causa da forma na medida em que a
sustenta.
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