9. Como a obra da amizade que pertence à concórdia não convém ao homem para consigo mesmo.

Os homens maus não podem conviver consigo mesmo voltando-se para o seu coração, mas buscam outros com os quais possam demorar-se, falando e cooperando com eles segundo palavras e fatos exteriores. E isto porque imediatamente ao cogitar consigo de si mesmos recordam muitos e graves males que cometeram no passado e presumem que farão [outros] semelhantes no futuro, que lhes é doloroso. Mas quando estão com outros homens, derramam-se às coisas exteriores, esquecendo-se de seus males.

Tais homens nem se coalegram nem se condóem consigo mesmo. De fato, a alma deles está numa certa luta contra si mesma, na medida em que a parte sensitiva repugna à razão. Assim, de uma parte este homem se dói se se afasta dos deleitáveis por causa da malícia nele dominante, que causa tal tristeza na parte sensitiva. De outra parte se deleita segundo a razão que julga que o que é mal deve ser evitado. Deste modo, uma parte da alma traz o homem mau a uma parte, enquanto outra parte o traz à parte contrária, como se a sua alma estivesse esquartejada em diversas partes e se opusesse contra si mesma.