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Sabe-se, [comenta S. Tomás de Aquino], que toda
enunciação consta de um nome e um verbo. Pode-se perguntar
então por que motivo o Filósofo diz apenas que toda
enunciação deve conter um verbo, em vez de dizer que deve
conter um nome e um verbo.
A isto pode-se responder de três maneiras.
Em primeiro lugar, porque não se encontra nenhuma
oração enunciativa sem verbo ou sem algum caso do verbo, ao
passo que encontram-se algumas orações enunciativas sem
nomes, como quando são utilizados verbos infinitivos no lugar
dos nomes, como quando dizemos `Correr é mover-se'.
Em segundo lugar, pode-se dizer melhor que,
conforme já foi dito, o verbo é sinal de coisas que são
predicadas de outras. Ora, o predicado é a parte principal da
enunciação, por ser parte formal e completiva da mesma, de
onde que a enunciação é chamada pelos gregos de proposição
categórica, isto é, predicativa. A denominação, porém, é
feita pela forma, a qual dá a espécie à coisa. [Neste
sentido], Aristóteles mencionou preferencialmente o verbo [em
vez do nome] como uma parte principal e mais formal.
Em terceiro lugar pode-se dizer também, e ainda
melhor, que não era a intenção de Aristóteles mostrar que o
nome ou o verbo não são suficientes para constituir a
enunciação. [Se Aristóteles tocou neste assunto, isto deveu-
se ao ter ele afirmado] que algumas enunciações são unas de
modo simples, enquanto que outras são unas por conjunção.
[Lendo isto], alguém poderia entender que as enunciações unas
de modo simples careceriam de toda composição. [Terá sido,
portanto, para excluir] esta colocação que o Filósofo afirmou
que em toda oração é necessário que haja um verbo, [sem fazer
menção do nome], pois o verbo implica composição, [enquanto
que o nome, não implicando esta composição, não teria
necessidade de ser mencionado se o propósito do Filósofo era
apenas o de mostrar que a enunciação, ainda que seja una de
modo simples, não por isso carece de composição].
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