3. Que a alma não se move a si mesma.

Já no livro VIIIº da Física foi demonstrado que o movente de si mesmo se constitui de duas [partes]: uma, que é movente, e a outra, que é movida. [E isto de tal maneira que] seja impossível que a parte movente se mova per se. Nos animais, entretanto, a parte movente, posto que não se mova per se, todavia é movida por acidente.

Entretanto, os antigos filósofos colocaram a alma mover-se per se. Por isso, vamos demonstrar que isto não é possível.

[A alma não se move a si mesma]. Os filósofos afirmavam que a alma se move a si mesma pelo fato de que viam que ela movia o corpo. Ora, o corpo é movido segundo uma mutação do lugar. Portanto, a alma deveria mover-se a si mesma segundo o lugar. Porém, a alma mover-se a si mesma segundo o lugar significa mudar de corpo, saindo e novamente entrando no corpo.

Entretanto, [a alma sair do corpo significa a morte do ser vivente] e a alma entrar no corpo significa a vivificação do corpo. Portanto, a alma mover-se a si mesma segundo o lugar implicaria na [naturalidade] da morte e ressurreição dos animais, o que é um absurdo.

Poderia objetar-se que não é verdade que a alma se move pelo mesmo movimento pelo qual move o corpo, dizendo que na verdade a alma não se move a si mesma senão pela vontade e pelo apetite, movendo os corpos por outros movimentos. Quanto a isto [Aristóteles] afirma que apetecer, querer e outros tais, não são movimentos da alma, mas operações. A diferença entre movimento e operação consiste em que o movimento é um ato do imperfeito, a operação, entretanto, é ato do perfeito. [Este assunto, todavia, merece especial consideração, como é feito a seguir].