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Se os sermões persuasivos fossem per se
suficientes para tornar os homens aplicados, muitas e grandes
recompensas seriam devidas a alguém por causa da arte de
persuadir ao bem. Mas não é assim universalmente.
De fato, vemos que os dircursos persuasivos podem
provocar e mover ao bem os jovens liberais, os quais não
estão sujeitos aos vícios e às paixões, e que possuem nobres
costumes, sendo aptos às operações das virtudes,
verdadeiramente amando o bem. Tais pessoas, que são bem
dispostas às virtudes, são provocadas à perfeição da virtude
pelas boas exortações.
Mas muitos homens não podem pelos discursos ser
provocados à bondade, porque não obedecem à vergonha que teme
a torpeza, sendo mais obrigados pelo temor das penas. De
fato, não se afastam das más obras por causa de sua torpeza,
mas por causa das penas que temem, porque vivendo segundo as
paixões, e não segundo a razão, pelas quais paixões estas
mais crescem neles, e fogem das tristezas contrárias às
deleitações procuradas. Estas pessoas não [compreendem]
aquilo que é verdadeiramente bom e deleitável, nem também a
doçura de seu gosto podem perceber. Tais homens não podem ser
mudados por nenhum discurso.
Para que alguém pelo discurso seja mudado, requer-
se que se proponha ao homem algo que [ele] aceite. Aquele,
porém, para quem o bem honesto não tem sabor, mas é inclinado
às paixões, não aceita o que é proposto pelo discurso
induzente à virtude. De onde que não é possível, ou pelo
menos não é fácil, que alguém pelo discurso possa mudar o
homem daquilo que ele compreende por antigo costume. Assim
como também nas [coisas] especulativas, não pode ser reduzido
à verdade aquele que firmemente se adere a princípios
contrários, os quais, nos operáveis, são proporcionados pelos
fins, conforme acima foi dito.
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