|
Depois que o Filósofo declarou que há muitas
políticas e por causa de qual causa são muitas e, de algum
modo, quantas são, passa a declarar que há mais políticas do
que as que foram mencionadas.
Afirma primeiro que há muitas políticas, algumas
das quais são retas, e estas são três: o reino, o estado dos
ótimos e a república. Há também três não retas, que são a
tirania, o estudo dos poucos e o estado popular. Agora ele
deseja dizer que há mais políticas do que estas que foram
ditas; deseja também declarar quais são elas e por causa de
que são muitas. O Filósofo toma como princípio para provar
estas afirmações o mesmo que antes havia tomado para provar
que seriam muitas, isto é, que toda cidade possui muitas
partes e não apenas uma. Será, de fato, através disto que o
Filósofo irá demonstrar que as políticas são mais do que as
que já foram mencionadas.
A prova é feita por semelhança nas coisas que se
fazem segundo a natureza, porque a política se assemelha a
elas. A política, de fato, é segundo a razão; as coisas que
são segundo a razão são posteriores àquelas que são segundo a
natureza e possuem origem nelas, e é por isso que o Filósofo
toma uma semelhança nestas para provar o seu intento.
A semelhança tomada da natureza é a seguinte.
Deve-se entender que, assim como foi dito acima, das partes
materiais de [cada coisa] alguma pertencem à espécie,
enquanto que outras não. As partes pertencentes à espécie são
aquelas sem as quais a espécie não pode existir, assim como a
carne e os ossos pertencem à espécie humana, porque sem estas
não pode haver homem. As partes materiais que não pertencem à
espécie são aquelas sem as quais pode encontrar-se a espécie,
como estes ossos e estas carnes não pertencem à espécie
humana, porque sem estas pode existir o homem. Segundo a
distinção das partes pertencentes à espécie distingue-se a
forma, embora a distinção da forma não seja por causa da
distinção da matéria.
O Filósofo fala aqui da distinção de tais partes
segundo as quais se distinguem a forma e a espécie, e afirma
que se alguém quiser tomar a espécie animal é necessário que
distingua as partes materiais do animal sem as quais não pode
haver forma animal, não aquelas sem as quais o animal pode
ser. É manifesto que segundo a distinção destas partes se
dará a distinção das espécies dos animais.
[A aplicação desta semelhança à política é a
seguinte]. Segundo a distinção das partes que pertencem à
espécie distingue-se a espécie. Há, porém, muitas partes que
pertencem à razão da política, e mais do que foram ditas. Há,
portanto, várias políticas e mais do que as que foram ditas.
Assim como segundo a distinção das partes dos
animais pertencentes à espécie há uma distinção das espécies
do animal, e há muitas espécies de animais porque há muitas
de tais partes, do mesmo modo há muitas políticas, porque
diversas são as partes da cidade que diferem segundo a
espécie.
O Filósofo passa a seguir a mostrar que há muitas
partes da cidade. Há, de fato, três graus na cidade: o menor,
o médio e o supremo. Segundo isto a cidade é dividida em três
partes.
[O Filósofo, a seguir, passará a dividir cada uma
das três partes da cidade].
|
|