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Três [coisas] se requerem para a perfeição do
governante no principal principado.
A primeira é o amor ao principado. Convém que o
governante, se deve governar perfeitamente, ame o principado.
A razão disto é que aquele que governa perfeitamente deve
possuir a prudência, pois a prudência é a reta razão doa
agíveis. Ora, o príncipe, tendo que reger a outros, convém
que tenha a reta razão dos agíveis. Pelo que importa que
tenha a prudência perfeita. Mas não poderá possuir a
prudência a não ser que tenha o apetite reto para com o fim;
este, porém, não poderá ser, a não ser que ame o fim, assim
como as coisas que se ordenam para com o fim, na medida em
que este principado é princípio das coisas que se ordenam ao
fim da república. Pelo que é manifesto que aquele que governa
bem deve possuir amor ao principado e à república.
A segunda [coisa que se requer para a perfeição do
governante no principal principado] é que possua poder em
relação às obras do governante que forem máximas. E isto é
evidente pois, de fato, o príncipe tem que dirigir os súditos
ao fim da república. Ora, entre os súditos alguns são bem
persuadíveis pela razão e, quanto a estes, não é necessário a
obra da coação. Há, porém, outros aos quais não é possível
persuadir facilmente pela razão, sendo desobedientes e
insolentes; para estes é necessário a potência coativa e não
é possível coagir e punir se não se tem o poder, pelo que é
manifesto que é necessário que tenha poder.
A terceira [coisa que se requer para a perfeição
do governante no principal principado] é a virtude. Isto é
manifesto pelo que já foi dito. É necessário, de fato, que o
governante tenha prudência, mas isto não será possível a não
ser que possua o reto apetite. Ora, a retidão do apetite se
dá pela virtude moral, de onde que importa que o governante
possua virtude e justiça segundo qualquer república. O
Filósofo acrescenta, porém, [não segundo qualquer república],
mas segundo aquela república, porque a justiça não é a mesma
segundo cada uma [delas], pois, de fato, em cada república
pretende-se [alcançar] o igual segundo alguma dignidade que
lhe é própria e por isso em cada república é necessário que
haja justiça segundo aquela república.
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