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Não somente, [conforme ficou dito], o vidente é,
de alguma forma, colorido, [porque possui uma] semelhança do
colorido, mas também pode-se dizer que o ato de qualquer
sentido é uno e o mesmo pelo sujeito com o ato do sensível,
diferindo [apenas] pela razão.
[Estes termos se explicam do seguinte modo]. Diz-
se ato do sentido, assim como [ouvir] em ato. Diz-se ato do
sensível, assim como o som em ato. E isto [diz-se] porque o
que tem ouvido acontece que não ouça, e o que tem som
acontece que nem sempre soe.
[A demonstração de que o ato do sentido é idêntico
ao ato do sensível pelo sujeito é proveniente da teoria do
movimento exposta no livro III da Física]. É manifesto,
[conforme explicado no livro terceiro da Física], que o
movimento, a ação e a paixão estão no móvel e no paciente, [e
não no movente].
[Explicando melhor: o movimento é ato do existente
em potência enquanto tal. O existente em potência enquanto
tal é o móvel, e portanto, [em seu sentido primário], o
movimento é ato do móvel. Este ato, além disto, deve ser
localizado no móvel, porque aquilo que é ato de alguém está
naquilo de quem é ato]. [Não obstante isto, a primeira parte
[desta acepcão em seu sentido primário] pode ser estendida de
tal maneira que o movimento possa ser considerado como ato do
movido, enquanto situado no movido, e sob esta razão é dito
paixão, ou como ato do movente, enquanto provém do movente, e
sob esta razão é dito ação. Ambos estes atos, porém, são um
só pelo sujeito, diferindo apenas pela razão, e se localizam
no paciente]. [Quanto, porém, à segunda parte da acepção
primitiva, dizendo que o movimento esteja no paciente, isto
não é possível de ser ampliado de maneira alguma, ainda que,
conforme visto, o movimento também possa ser considerado como
ato do movente]. [E, se na maioria dos movimentos, o movente,
ao mover, também se move, isto ocorre por acidente, enquanto
este movente também é móvel e porque agente e paciente se
comunicam pela matéria e portanto, a ação do agente sobre o
paciente se faz tangendo].
[A teoria do terceiro livro da Física se aplica ao
caso em questão porque] o ouvido padece pelo som. Assim,
torna-se necessário que o som em ato, assim como o ouvido em
ato, estejam naquilo que está em potência, isto é, o órgão do
ouvido. E isto porque o ato ativo e motivo se realizam no
paciente, e não no agente ou movente. E assim como na Física
se demonstra que a ação e a paixão são apenas um único ato
pelo sujeito diferindo pela razão, assim também o ato do
sensível e do sensciente é o mesmo pelo sujeito, mas não pela
razão.
[Isto explica que é pela vista que sentimos que
vemos porque] do fato que o ato do vidente seja idêntico e o
mesmo ato pelo sujeito com o ato do sensível, ainda que não o
seja pela razão, segue-se que não há motivo para se colocar
que não seja a mesma virtude [a responsável] pela visão da
cor e pela [percepção] da mutação que se faz pela cor. A
potência pela qual nós vemos que nós vemos não é, portanto,
estranha à potência visiva, mas difere da segunda pela mesma
razão.
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