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[A primeira coisa que os filósofos platonistas
objetaram ao argumento de Eudoxo está na premissa da qual
Eudoxo partia, dizendo os Platonistas não ser verdade que
aquilo que todos apetecem é bom].
[A isto o Filósofo responde que] aquilo que a
todos parece dizemos que assim o seja, e isto é como que um
princípio, porque não é possível que o julgamento natural
falhe em todos. Como o apetite não o é a não ser daquilo que
parece ser bom, aquilo que por todos é apetecido a todos
parece ser bom. Assim, a deleitação que por todos é apetecida
é boa.
Aquele, porém, que nega aquilo que por todos é
acreditado, não é totalmente de se acreditar. Quem afirma uma
coisa destas poderia sustentá-la se somente aqueles que não
possuem intelecto, isto é, os animais brutos e os homens
maus, apetecessem as deleitações, porque o sentido não julga
o bem a não ser na medida do agora. Assim a deleitação não
seria o bem de modo simples, mas somente bem na medida do
agora. Porém, como também os que possuem sabedoria apetecem
alguma deleitação, [os filósofos Platonistas] não parecem de
todo dizer algo.
Todavia, se também todos os que agem sem intelecto
apetecessem a deleitação, ainda assim seria provável que a
deleitação fosse algum bem, porque também nos homens maus há
algum bem natural que inclina o apetite ao bem conveniente, e
este bem natural é melhor do que os homens maus, enquanto
tais. De fato, assim como a virtude é perfeição da natureza,
e por causa disto a virtude moral é melhor do que a natural,
conforme declarado no livro sexto, assim [também], sendo a
malícia [uma] corrupção da natureza, o bem natural lhe é
melhor, assim como o íntegro ao corrupto. Ora, é manifesto
que os homens maus se diversificam segundo aquilo que
pertence à malícia, sendo as malícias contrárias entre si.
Portanto, aquilo segundo o qual os homens maus concordam,
isto é, o apetecer a deleitação, mais parece pertencer à
natureza do que à malícia.
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