|
[O primeiro argumento afirma que] se o lugar é
alguma coisa, deve ser um corpo, porque um lugar tem três
dimensões. E isto porque tudo o que tem três dimensões é um
corpo. Ora, já que o lugar e aquilo que está localizado no
lugar existem conjuntamente, segue-se que dois corpos co-
existem juntos.
Portanto, como isso é impossível, segue-se que o
lugar não existe.
[O segundo argumento afirma que] tudo o que existe
é um elemento ou composto de elementos. Mas o lugar não é nem
um elemento, e nem composto de elementos. Isto porque tudo o
que é composto de elementos ou é elemento pode ser corpóreo
ou incorpóreo. [Pode ser incorpóreo, como por exemplo, os
princípios intelegíveis, que são incorpóreos]. Mas o lugar,
apresentando magnitude, não pode ser enquadrado no número das
coisas incorpóreas. E também não pode ser enquadrado no
número das coisas corpóreas, porque não é um corpo, [conforme
se demonstrou no primeiro argumento]. Portanto, o lugar não é
um elemento, e nem é composto de elementos. Logo, o lugar não
existe.
[O terceiro argumento afirma que] tudo o que
existe é, de alguma maneira, causa de alguma outra coisa. Mas
o lugar não é causa de acordo com nenhum dos quatro tipos de
causa. Não é causa material, porque as coisas que existem não
são constituídas a partir do lugar. Não é causa formal,
porque então tudo o que ocupasse aquele lugar seria da mesma
espécie, já que o princípio da espécie é a forma. Não é causa
final, porque o lugar existe para aquilo que está no lugar, e
não vice versa. Não é causa eficiente, porque ele é o término
do movimento. Portanto, [conclui-se que] o lugar não existe.
[O quarto argumento afirma que] tudo o que existe
está no lugar. Se o lugar existe, então ele está num lugar. E
este outro lugar está em outro lugar e assim sucessivamente.
Ora, isto não pode ser. Portanto, o lugar não existe.
|
|