9. Se convém que a multidão escolha e corrija os que ocuparão os principados.

A argumentação precedente é útil para solucionar uma questão conseqüente à se convém que uma multidão domine mais do que alguns virtuosos. A questão conseqüente é se convém que uma multidão escolha os que irão ocupar os principados, se convém que os corrija e se convém [que estes que irão ocupar os principados sejam escolhidos] desta mesma multidão em que os homens não possuem nenhuma dignidade nem nenhum bem da virtude.

Por um lado, não convém que os homens livres que participam desta multidão alcancem os principados. Este seria o máximo e o primeiro de todos os perigos, porque estes são homens injustos e imprudentes, e por causa de sua imprudência falhariam ao julgar corretamente e por causa da injustiça seriam inclinados à obra injusta. Seguir-se-ia, portanto, que fariam muitos males em relação a si próprios, e muitas injustiças quanto aos demais, injuriando-os e molestando-os, e isto seria perigoso. Portanto, chamá-los a participar do principado seria o inconveniente máximo.

Por outro lado, porém, seria terrível que de nenhum modo eles participassem das honras e que de nenhum modo se lhes concedesse o principado e que eles não o pudessem alcançar. Isto seria um inconveniente terrível, porque se considerariam desonrados e, sendo muitos e pobres, seguir-se-ia a sedição e a revolta na cidade, o que é terrível.

Daqui deve-se concluir que, pelo fato de se seguirem tais males na cidade se os participantes da multidão de nenhum modo alcançam o principado, resta que devem participar do principado de algum modo, pelo menos quanto ao aconselhamento e ao julgamento.