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Para quem pensa corretamente, será claro que
Averróes enganou-se.
A potência ativa de um agente particular pressupõe
uma matéria, que é produzida por um agente mais universal.
Mas do fato que todo agente particular pressupõe uma matéria
que ele não faz, não é necessário pensar que o primeiro
agente universal pressuponha algo que não seja causado por
ele.
Isso é concordante com a opinião de Aristóteles,
porque no segundo livro da Metafísica se demonstra que aquilo
que é mais verdadeiro e mais ser é causa do ser para todas as
coisas existentes. De onde se segue que o próprio ser em
potência que a matéria primeira apresenta é derivado do
primeiro princípio do ser, que é o mais ser.
Mas, quanto a que todo movimento requeira um
sujeito, conforme Aristóteles demonstra e é verdade, segue-se
que a produção universal do ser por Deus não é nem movimento
nem mutação, mas uma certa simples emanação.
[A diferença entre a posição de Aristóteles e a fé
cristã está no fato de que Aristóteles acreditava que, embora
as coisas existentes tivessem o seu ser por causa de Deus,
essa produção das coisas provém desde toda a eternidade e não
teve jamais início].
[Mas], mesmo admitindo que a produção dos seres
por Deus é desde toda a eternidade, conforme a opinião de
Aristóteles, não é necessário, e é impossível, que algum
sujeito não produzido tenha que ser subentendido para essa
produção universal.
Mais ainda, se nós sutentamos, de acordo com o
julgamento da fé cristã, que Deus não produziu as coisas
desde a eternidade, mas que Deus as produziu depois que elas
não eram, não é necessário de forma alguma subentender algum
sujeito para esta produção universal.
[Deve-se concluir, portanto] que que o fato de que
todo movimento requer um sujeito móvel não é contrário ao
julgamento da fé cristã. O movimento ou mutação requer que
uma coisa seja agora diferente do que antes era, e assim a
coisa devia estar em existência previamente.
Consequentemente, não estamos falando a respeito da produção
universal das coisas.
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