15. Quais melodias e ritmos devem ser usados no ensino da música.

O Filósofo afirma ter aprovado razoavelmente a divisão das melodias musicais [tomando-a] segundo a divisão de outros experientes na Filosofia que as dividiram dizendo algumas serem morais ou disponentes aos costumes, outras serem práticas, isto é, capazes de produzir as paixões [como] a ira e a mansidão, enquanto que outras produzem o rapto, as quais tornam o ouvinte como que imóveis e insensíveis, e mais requintadamente assinalando uma melodia e harmonia determinada a cada uma das mesmas, dizendo que naturalmente a melodia frígia produz o rapto, a melodia lídia mista dispõe ao pranto e à compaixão e a dórica ao costume.

Dissemos também que a música não deve ser procurada de modo simples por causa de uma só utilidade, nem deve ser usada por causa de uma só, mas por causa de muitas. A música, de fato, deve ser usada por causa da atividade lúdica, da purificação e para a dedicação, isto é, a deleitação intelectual, e para os costumes.

O que o Filósofo entende por purificação é [neste tratado de Política] simplesmente suposto, mas no tratado de Poética Aristóteles trata mais manifestamente do mesmo. A purificação é, de fato, a corrupção de alguma paixão nociva existente. Ora, como a corrupção de algo se dá pela geração de outro, deve-se entender que a purificação seja a corrupção de uma paixão pela geração de [outra] contrária, assim como a corrupção da ira se dá pela geração da mansidão.

Tudo isto suposto, o Filósofo declara quais harmonias devem ser usadas na disciplina musical.

Para o abrandamento do trabalho e a distensão do repouso deve-se usar universalmente de todas as harmonias musicais para os homens que são bem dispostos segundo a natureza. Todas as harmonias da música que consistem em uma razão média quanto ao sentido, o qual semelhantemente consiste em uma certa razão média, parecem induzir a deleitação naqueles que possuem os sentidos bem dispostos pela natureza.

Mas para a disciplina e os costumes deve-se usar maximamente as [melodias] morais, [tanto] práticas [como] raptivas, isto é, as que conduzem de alguma paixão ao seu contrário ou ao termo médio.

As [melodias] que devem ser usadas na disciplina, a qual é deleitável como uma atividade lúdica, são as [melodias] morais e as harmonias que dispõe à mesma. Esta é a que chamamos de [melodia] dórica, conforme dissemos antes e ficará claro mais adiante. Portanto, para a disciplina deve ser usada esta [melodia], acrescentando-lhes algumas, se outras forem aproveitadas como convenientes por homens experientes no exercício filosófico e na disciplina musical.

A melodia dórica é a maximamente moral. Todos universalmente reconhecem que a melodia dórica é aquela que entre todas as melodias é a que existe mais estavelmente. Por este motivo convém com a virtude para a qual se requer a constância da mente nas coisas que são segundo a razão, e maximamente possui o costume viril, isto é, virtuoso. A melodia dórica possui razão de termo médio em comparação com as demais, pois não é tão aguda como a que é dita lídia mista, que é a melodia de sétimo tom, nem tão profunda na gravidade, como a hipodórica ou a hipofrígia, que são do segundo ou do quarto tom. É, portanto, manifesto que é a maximamente louvável e a que deve ser buscada, como algo disponente à virtude, por causa do que os jovens devem ser maximamente exercitados nela.

Não se deve usar, porém, de qualquer melodia moral de qualquer modo por qualquer um, mas devem ser usadas segundo determinações diversas segundo a diversidade das idades. Há duas coisas pelas quais devem ser determinadas, que são o possível e o adequado; de fato, entre todos os bens operáveis importa mais operar aqueles que são possíveis ao que opera, e aqueles que são mais condizentes com o próprio operante. A possibilidade e a adequação se distinguem segundo a diversidade das idades. Algumas coisas, de fato, são possíveis ao homem perfeito e condizentes com ele, que não seriam possíveis ao jovem nem condizentes com este.

Foi por este motivo que alguns músicos posteriores reprovaram corretamente a Sócrates por ter este reprovado toas as harmonias brandas dizendo que elas seriam como que inebriativas dos homens. A ebriedade, porém, produz duas coisas no homem, que são a impetuosidade do movimento e o abandono da sobriedade e da disposição natural; Sócrates certamente queria dizer que estas melodias eram inebriantes não segundo a impetuosidade, porque tais melodias brandas não induzem esta impetuosidade no homem, mas chamava-as de inebriantes porque afastava o ouvinte da igualdade e do termo médio.

Isto dizia Platão, [seguindo a Sócrates seu mestre], como se todos os homens sempre existissem no estado de igualdade média segundo a natureza e ninguém se afastasse jamais do mesmo. Se, de fato, assim fosse, a ninguém conviria usar de harmonias brandas. Mas porque alguns homens estão no estado de igualdade, enquanto que outros declinam do mesmo pela velhice ou por outro modo, e cada um se deleita naquilo que lhe é conveniente segundo a natureza, conforme já explicado anteriormente, não convém portanto que todos se utilizem de melodias médias, mas a alguns convém usar de melodias brandas médias, de tal modo que para os idosos que se afastam da igualdade mencionada e são fracos de virtude [corporal] convém usar melodias e harmonias brandas.

Quanto aos jovens, se há uma harmonia média não branda que é adequada para a idade das crianças, que tenha algum ornamento pela razão da consonância que deleita e pela disposição à doutrina ou disciplina, a harmonia que maximamente parece possuir esta força é a que é denominada de lídia, que é a cantilena do quinto tom.

É manifesto que na música que dispõe à disciplina é necessário preexistir três coisas: que tenha razão de termo médio entre o agudo e o grave, que seja possível ao próprio usuário e adequada à sua própria condição.

Se assim for a música, é manifesto que os que se utilizam dela mais se inclinarão à virtude e aos costumes, inclinados à virtude mais operarão segundo a razão e operando segundo a razão facilmente alcançarão a felicidade que consiste na perfeitíssima operação do homem segundo a sua suprema virtude em relação ao seu perfeitíssimo objeto. Este é Deus, bendito pelos séculos dos séculos.