2. Pertence à ciência política considerar sobre a política ótima.

O Filósofo mostra, em primeiro lugar, que pertence a esta ciência considerar sobre a política ótima, qual é e como é, e a quem e a que tipo de homens ela convém.

A razão para tanto consiste em que em todas as artes factivas e em todas as ciências ativas que não tratam de alguma natureza particular, mas de algo comum, e que perfeitamente consideram algo comum, pertence à mesma ciência considerar qual disposição convém a cada uma das coisas que estão debaixo daquele algo comum e qual é a disposição ótima que convém àquele comum e por primeiro. [Ora, este é o caso da ciência política]. A ciência política é uma ciência ativa, que considera algo comum e não particular, e que o considera perfeitamente. Por este motivo pertence a ela considerar qual é a política ótima, e qual política convém a quem.

Deve-se entender que todas as ciências consideram algum sujeito, mas em algumas ocorre que este sujeito é unívoco, em outros este sujeito não é unívoco, mas análogo, [isto é], predicado de muitos por atribuição a algo que é anterior a todos. Em todas as artes factivas e ciências ativas, que consideram algo único comum a muitos segundo uma analogia, compete a uma única ciência considerar qual é a disposição e as qualidades da disposição de cada uma daquelas coisas que tem uma atribuição a um primeiro, e qual é a disposição ótima que compete a este primeiro, à qual outros possuem atribuição.

Assim, a arte exercitativa considera qual e que tipo de exercício a qual e a que tipo de corpos convém. Considera também qual é a exercitação ótima, que convém ao corpo otimamente disposto. A exercitação ótima convém àquele que está otimamente disposto e proporcionado segundo a natureza e aquelas exercitações, que competem a muitos que possuem uma atribuição àquele algo único [que é otimamente disposto], compete-lhes segundo uma atribuição.

Alguém poderia objetar que a arte exercitativa não deveria considerar aquela disposição ótima, porque ninguém a alcança. Mas o Filósofo responde a isto dizendo que se alguém não deseja a disposição ótima, todavia a arte exercitativa ainda assim deve considerar sobre ela e sobre como dispor a potência do exercitado para a mesma. Pertence, portanto, à mesma ciência considerar a disposição ótima e quais [disposições] convém a quem.

De tudo isto pode-se concluir ser manifesto que a uma mesma ciência política pertence considerar qual é a política ótima. Esta é a que é maximamente desejada e é segundo a vontade, se não existe para a mesma nenhum impedimento extrínseco. Ocorre às vezes que por algum impedimento alguém não apeteça a política ótima. Esta ciência política considera, ademais, qual política convém a quais pessoas. Há, de fato, muitos que não podem alcançar a ótima, que lhes competeria, mas apenas a alguma outra que lhes é adequada.