27. A relação.

[Ao tratar] acerca do predicamento da relação, [o Folósofos] primeiro coloca os modos das relações segundo se e, segundo, das relações em razão de outro.

Acerca da primeira destas, o Filósofo enumera o modo das relações segundo se e [em seguida] prossegue considerando acerca deles.

Coloca, portanto, os três modos da relações, dos quais o primeiro é aquele segundo o número e a quantidade, assim como a relação do duplo à metade, e a do triplo à terça parte, do múltiplo ao submúltiplo e do continente ao contido. O continente é tomado como sendo aquele que excede segundo a quantidade, pois todo excedente segundo a quantidade contém em si aquele que é excedido, já que é este e ainda mais, assim como o cinco contém em si o quatro, e três côvados contém em si dois côvados.

O segundo modo é aquele segundo o qual a relação é dita segundo a ação e a paixão, ou a potência ativa e passiva, assim como a do calefativo ao calefatível, o que pertence às ações naturais, e a do cortante ao cortável, o que pertence às ações artificiais, e universalmente a todo ativo ao passivo.

O terceiro modo é aquele segundo o qual o mensurável é dito ser relativo à medida. Aqui a medida e o mensurável não são tomados segundo a quantidade, pois isto pertenceria ao primeiro modo, no qual ambos são ditos relativos a ambos, isto é, o duplo é dito relativo à metade, e a metade é dita relativa ao duplo. [Em vez disso, aqui a medida e o mensurável são tomados] segundo o ser medida da verdade. De fato, a verdade da ciência é medida pelo cognoscível, pois pelo fato da coisa ser ou não ser é que a sentença sabida é verdadeira ou falsa, e não inversamente. Por causa disso não se relacionam mutuamente a medida ao mensurável e vice versa, como nos outros modos, mas somente o mensurável à medida. Semelhantemente também a imagem é dita relacionar-se àquilo de quem é imagem como o mensurável à medida, pois a verdade da imagem é medida pela coisa de que é imagem.

A razão destes modos é a seguinte.

Como a relação, a qual está nas coisas, consiste numa certa ordenação de uma coisa a outra, é necessário existirem tantos modos de tais relações quantos forem os modos pelos quais uma coisa possa se ordenar a outra. Ora, uma coisa pode se ordenar a outra segundo o ser, na medida em que o ser de uma coisa depende da outra, e assim teremos o terceiro modo; ou segundo a virtude ativa e passiva, segundo o qual uma coisa recebe de outra, ou a outra confere algo, e assim teremos o segundo modo; ou ainda segundo que a quantidade de uma coisa possa ser medida pela outra, e assim teremos o primeiro modo.

Já a qualidade da coisa, enquanto tal, não diz respeito senão ao sujeito em que está, de onde que segundo a mesma uma coisa não se ordena a outra, senão na medida em que uma qualidade toma razão de potência passiva ou ativa, na medida em que é princípio de ação e paixão; ou por razão da quantidade ou de algo pertencente à quantidade, assim como quando algo é dito mais branco do que outro, ou semelhante, se possuir alguma quantidade una.

Quanto aos outros gêneros, mais eles se seguem à relação do que as podem causar. Assim, o predicamento do tempo consiste em alguma relação ao tempo, enquanto que a do lugar, ao lugar. A posição também implica em uma ordenação das partes, enquanto que o hábito ou possessão numa relação do paciente ao possuído.