|
O Filósofo deseja provar agora ser necessário
haver um cuidado comum quanto às crianças, pois em uma cidade
una deve haver uma disciplina una para todas. O motivo para
tanto é que para qualquer coisa cujo fim seja uno per se deve
haver uma disciplina una das coisas que se ordenam ao fim,
pois a razão das coisas que são para o fim são tomadas a
partir do fim, e das coisas cuja razão é una, a disciplina
também é una, enquanto tal. Ora, para todos os que vivem em
uma cidade segundo uma república una há um só fim, que é o
fim da república. Pelo que é manifesto que necessariamente
deve haver uma só e mesma disciplina para todos.
[Este argumento, que vale para toda a cidade em
geral, é aplicado em seguida ao caso dos jovens e crianças].
O Filósofo passa a provar que é necessário haver um cuidado
das crianças no que diz respeito à disciplina.
É necessário que o legislador tenha um cuidado uno
e não dividido quanto à disciplina das crianças, ao contrário
do que se observa em algumas cidades onde cada um cuida das
próprias crianças segundo lhe parece, instruindo-as
separadamente por uma disciplina própria em qualquer coisa
que lhe pareça útil, uns e outros nisto e naquilo. A razão
disto é que nas coisas em que há uma disciplina una e comum,
convém possuir um cuidado e estudo comum, para que o cuidado
seja proporcional à disciplina. Mas na cidade una, para todos
há uma disciplina una, assim como também uma só e mesma
razão, conforme mostrado anteriormente. Portanto de todas
elas deve-se ter um cuidado comum e que seja a mesma quanto a
ela.
Ademais, o cuidado e a disposição da parte deve
ser segundo a relação para com o todo, seja porque a parte é
por causa do próprio todo, seja porque a parte possui razão e
ser proveniente do próprio todo. Agora, porém,
simultaneamente com isto que acabamos de dizer deve-se
entender que cada cidadão não é apenas de si mesmo, nem por
causa de si mesmo, mas são todos da cidade e por causa dela,
de onde que o cuidado de cada cidadão e a disposição que
deverá ter deverá ser segundo a relação para com toda a
cidade e o bem dela. Portanto, os jovens devem ser cuidados e
dispostos segundo o mesmo modo pelo qual toda a cidade deve
ser cuidada e disposta para o bem comum. Ora, de toda a
cidade deve-se ter um cuidado comum, de onde que também
deverá ser feito o mesmo no caso dos jovens.
O mesmo pode ser manifestado pelo exemplo. Alguém
poderia louvar razoavelmente os Lacedemônios, que são
considerados bons governantes neste assunto, principalmente
no cuidado e no estudo com que se empenham acerca da
disciplina das crianças, e isto não privativamente, mas
comunitariamente, bem considerando que a boa disposição comum
das crianças levaria como conseqüência a uma boa república. É
manifesto, portanto, ser necessário que o legislador tenha
cuidados e estabeleça leis sobre a disciplina dos jovens, e
que este cuidado e disciplina quanto a estas coisas deve ser
comum.
|
|