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Diz o Filósofo que a causa pela qual Sócrates
desviou-se da verdade a respeito da lei da comunidade das
posses, dos filhos e das esposas deve ser estimada como sendo
a suposição incorreta de que o sumo bem das cidades seria a
sua máxima unidade.
Esta suposição, porém, não é correta porque para a
cidade e para a casa, conforme anteriormente dito, requer-se
alguma unidade, mas não completa unidade. Importa, de fato,
que na cidade haja uma certa multidão de diversos, mas de tal
modo que a cidade de torne una e comum por causa de uma certa
disciplina de leis corretamente colocada. Mas se alguém que
fosse introduzir uma disciplina para unir a cidade julgasse
que pela lei da comunidade dos filhos e das esposas a cidade
se tornaria boa, seria inconveniente que considerasse que com
tais comunidades poder-se-ia retificar uma cidade, e não mais
pelos bons costumes e pelas boas leis e pela sabedoria acerca
destas coisas, conforme foi dito anteriormente sobre os
Lacedemônios que faziam suas próprias posses comuns quanto ao
uso. Em Creta o legislador também tornou algo comum ao
instituir certas convívios públicos dos cidadãos, segundo
alguns tempos instituídos para isso, para que entre eles
houvesse uma maior familiaridade.
Para que as leis possam ser introduzidas
corretamente é necessário não ignorar que elas devem ser
consideradas durante muito tempo e durante muitos anos, para
que seja manifesto pela experiência se tais ou quais leis e
estatutos foram bem colocadas. Deve-se estimar, ademais, que
na grande quantidade dos tempos passados foram experimentados
quase todas as coisas sobre a conversação humana que possam
ser pensadas. Algumas delas não foram introduzidas, isto é,
não entraram em processo de serem estabelecidas pela lei
porque sua inconveniência era imediatamente manifesta; já
outras foram efetivamente estabelecidas, mas cessaram de ser
usadas quando os homens entenderam que não eram úteis.
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