14. Segundo comentário à questão levantada.

[Ainda que fosse verdade o que foi levantado na questão, acerca da arte, não é verdade que nas virtudes ocorre de modo semelhante como as artes].

A operação das artes transita para a matéria exterior, [e portanto], sua ação é a perfeição daquilo que é feito. Por isso, nas ações da arte, o bem consiste na própria [coisa que é ]feita. De onde que é sufiente para o bem da arte que as coisas que se façam sejam bem [feitas]. Já as virtudes são princípios das ações que não transitam à matéria exterior, mas permanecem no próprio agente. Por isso, tais ações são perfeições do agente, e o bem destas ações consiste no próprio agente. De onde que, para que alguém faça algo de modo justo ou temperante, não é suficiente que a obra que faça seja bem feita, mas se requer, a mais, que o operante opere do modo devido.

[As coisas que se requerem dos que operam a virtude são as seguintes]. Primeiro, no que diz respeito ao intelecto, requer-se que quem faça a obra da virtude não opere por ignorância, ou por acaso, mas saiba o que faz. Segundo, no que diz respeito ao apetite, que não opere por alguma paixão, como quem faz as obras da virtude por temor, mas o faça por causa da própria obra da virtude, a qual é per se [ agradável] ao que tem o hábito da virtude, como algo a si conveniente. Terceiro, no que diz respeito à razão do hábito, que o faça com firmeza e constância no que diz respeito a si mesmo, e por nada de externo seja disto removido.

[Já de um operante da arte somente se requer o] primeiro dos [três requisitos do operante da virtude], que é o saber [o que faz].

Alguém poderá ser um bom artífice, mesmo se nunca escolhe operar segundo a arte [por causa dela], ou se não persevera em sua obra. Requer-se, apenas, para um bom artífice, o saber. Mas para que o homem seja virtuoso em pouco ou nada importa a ciência, mas tudo consiste nas restantes duas coisas. De onde se conclui que não seja verdade que assim como ocorre nas artes, ocorra também nas virtudes.