28. O intelecto necessita do sentido.

Porque alguém poderia pensar que o intelecto não depende do sentido, o que somente seria verdadeiro se os inteligíveis do nosso sentido fossem separados dos sensíveis segundo o ser, o filósofo pretende mostrar que o inteligir depende do sentido.

Já que nenhuma coisa inteligida por nós está além das magnitudes sensíveis, como separadas delas segundo o ser, faz-se necessário que os inteligíveis de nosso intelecto estejam sob a espécie sensível segundo o ser, tanto aqueles que são ditos por abstração, como os matemáticos, quanto os naturais. Por causa disso, sem o sentido não pode nenhum homem apreender mais ou adquirir nova ciência, ou inteligir utilizando-se do hábito da ciência [já adquirido]. Isto porque se faz necessário, para alguém que esteja especulando em ato, que simultâneamente forme algum fantasma. Ora, os fantasmas são semelhanças dos sensíveis. [Apesar, entretanto, dos fantasmas serem semelhanças dos sensíveis], diferem dos sensíveis porque estão além da matéria, já que o sentido é susceptivo das espécies sem a matéria, conforme explicado anteriormente, e a fantasia é um movimento [provocado] pelo sentido em ato.

Daqui fica patente a falsidade da opinião de Avicenna, de que o intelecto não necessita do sentido depois que adquiriu a ciência. Ora, é manifesto que depois que alguém já tenha adquirido o hábito da ciência, necessita de usar os fantasmas para que especule. E é [justamente por causa disso] que por uma lesão do órgão [corporal] se pode impedir o uso de uma ciência já adquirida.