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A política dos Lacedemônios a respeito das posses
foi nociva à cidade. Sucedia entre eles que alguns tinham
possessões imensamente grandes, enquanto que outros tinham
possessões imensamente pequenas, de tal modo que quase toda a
região acabou sob o domínio de poucos. Esta irregularidade
proveio de uma má ordenação da lei. O legislador havia
estabelecido entre eles que os cidadãos não teriam poder de
vender ou comprar de tal modo que pudessem vender ou comprar
suas propriedades por qualquer motivo. Isto foi bem que se
fizesse para regular a propriedade; todavia, não foi feito
corretamente, porque o foi de modo insuficiente, [já que o
legislador] deu poder aos cidadãos para que dessem suas
propriedades entre vivos ou também deixassem em testamento
seus bens a quem quer que quisessem, do que resultavam também
irregularidades nas propriedades assim como poderiam ter
ocorrido através da compra e da venda. Chegou-se ao ponto em
que, se todo o seu território fosse dividido em cinco partes,
duas delas pertenceriam a mulheres, ora porque muitas eram
constituídos herdeiras pelos homens que morriam, ora porque
quando se casavam recebiam dotes muito grandes, quando teria
sido muito melhor que não lhes fosse dado nenhum dote, ou
dotes pequenos ou moderados. Mas entre os Lacedemônios era
lícito, para quem quer que fosse, constituir como seu
herdeiro a quem bem lhe aprouvesse e, se não quisesse
constituir herdeiro em sua morte, poderia distribuir os seus
bens a quem lhe aprouvesse. O dano que daí se seguiu foi que,
sendo tão grande seu território que poderia sustentar mil e
quinhentos cavaleiros e trinta mil soldados de infantaria,
descambaram para uma tamanha pobreza, por causa de suas
propriedades se terem concentrado mas mãos de poucos, que não
havia mais do que mil guerreiros na cidade.
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