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Dizemos ser humano aquilo que é próprio do homem.
Ora, esta primeira parte da alma, totalmente irracional, é
maximamente comum [a tudo o que vive]. Logo, ela não é
humana.
Que seja verdade que a parte totalmente irracional
da alma não é humana, pode ser visto através do que se segue.
Aquilo que é próprio do homem [é aquilo] segundo o que o
homem é dito bom ou mau. Ora, este quase não opera durante o
sono, de tal maneira que existe até um provérbio que diz que
os felizes não diferem dos miseráveis segundo o sono, que é
meia vida. Isto porque no sono se prende o julgamento da
razão e os sentidos exteriores não operam. Operam somente a
força nutritiva e a fantasia. O homem bom difere do mau no
sono não por causa de uma diferença que se faz dormindo, mas
por causa de uma diferença que se fez enquanto estavam de
vigília, na medida em que os movimentos dos vigilantes
paulatinamente se transferem aos dormentes, enquanto o que o
homem vê, ouve ou cogita em vigília sucede à fantasia do que
dorme. Assim, os fantamas dos que dormem são melhores
naqueles que durante a vigília se ocupam de coisas honestas
do que os que na vigília se ocupam de coisas vãs e
desonestas.
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