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Prosseguindo no seu intento, o Filósofo quer
estabelecer que os antigos, embora tenham distinguido as
políticas pelo justo, o justo tomado por eles é o justo
segundo algo, e não o justo de modo simples.
Todos os antigos que determinaram o estado da
minoria e o estado popular tomaram o justo segundo algo, não
de modo simples, chegando em suas considerações apenas até um
certo ponto. Ao se referirem ao justo, não o faziam segundo
tudo aquilo que é propria e simplesmente justo, mas segundo o
que é impropriamente justo e apenas segundo um certo aspecto.
[Que seja possível tomar o justo neste sentido
impróprio é] manifesto, porque o justo é tomado segundo uma
certa proporção e segundo alguma dignidade, pelo menos no que
diz respeito 1a justiça distributiva. [Na justiça
distributiva as coisas são distribuídas às pessoas segundo
uma certa igualdade, que consiste na igualdade da proporção
das coisas distribuídas e a dignidade das pessoas que as
recebem. Esta dignidade pode ser tomada de acordo com o bem
de modo simples ou de acordo com o bem segundo um certo
aspecto]. E por isso, onde há o justo segundo uma proporção,
[se esta proporção for] segundo a dignidade em relação ao bem
de modo simples, ali haverá o bem de modo simples; onde o
justo, porém, não o é em relação ao bem de modo simples, mas
segundo algo, ali não haverá o justo de modo simples, mas
segundo um certo aspecto. Ora, é isto o que ocorre nas
democracias e nas oligarquias.
Na oligarquia o justo é tomado em relação à
riqueza, na democracia em relação à liberdade. Ora, é
manifesto que nenhuma destas coisas é o bem de modo simples.
Os bens de modo simples são os bens da virtude, por onde fica
evidente que os antigos abordaram o justo segundo um certo
aspecto, não de modo simples.
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