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[Depois do filósofo ter demonstrado, através de
considerações sobre o movimento, que o vazio não existe],
aqui mostra que o vazio não existe através de argumentos
tirados do vazio em si mesmo.
[O primeiro argumento consiste em que] se alguém
colocar dentro da água um corpo cúbico, é necessário que a
quantidade de água que se desloca de seu lugar seja igual à
quantidade do cubo. E isso tanto é verdadeiro da água como do
ar, apesar do caso do ar não ser tão evidente, por ser o ar
menos sensível do que a água. Então, pela mesma razão, é
universalmente verdadeiro que um corpo dentro do qual um
outro corpo é colocado deve-se afastar, para que não existam
dois corpos no mesmo lugar. Mas não se pode dizer que o vazio
se afasta quando um corpo é colocado nele. Porque o vazio não
é um corpo, [antes, pelo contrário, trata-se de um lugar
aonde não existe nenhum corpo, de espaço dentro de um corpo].
Portanto, se existe um espaço vazio, deve-se admitir que
quando um corpo é nele colocado, ele penetra dentro daquele
espaço que primariamente era um vazio e que existe
conjuntamente com o vazio. Mas é impossível para um corpo
coexistir com um espaço vazio, porque o corpo teria a mesma
magnitude do espaço vazio. Ora, duas magnitudes de igual
quantidade não podem diferir exceto em relação ao lugar.
Porque é impossível imaginar uma linha diferente de outra
linha igual a menos que elas estejam em lugares diferentes.
De onde, se duas magnitudes são colocadas juntas, não parece
que elas difiram. Portanto, se existem dimensões num espaço
vazio como existem num corpo sensível, o corpo sensível e o
espaço vazio deveriam co-existir conjuntamente, [o que é
impossível]. [Aonde teria ido parar, então, o espaço vazio se
ele deixa de existir quando um corpo é nele colocado?]. [De
onde se vê que o espaço vazio não pode ter dimensões, como um
corpo sensível. E, portanto, não existe espaço vazio].
[No segundo argumento considera-se que] se as
dimensões do corpo cúbico não diferem das dimensões do lugar
de acordo com a razão, não se percebe porque seria necessário
assinalar alguma dimensão para os corpos além de suas
próprias dimensões. Já que um corpo tem as suas próprias
dimensões, porque colocar em torno dele outras dimensões
igual em espaço às suas próprias dimensões? Portanto, se o
vazio ou o lugar é realmente um espaço separado, segue-se não
ser necessário que os corpos estejam num lugar.
[Finalmente, no terceiro argumento considera-se
que] se o vazio existe, ele deveria se manifestar na
natureza. Mas em nenhum lugar se vê um vazio. Aquilo que está
preenchido com o ar não é um vazio. [Portanto, não existe
vazio].
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