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Sendo a geração uma transmutação do não ente ao
ente, alguém poderia levantar a questão sobre a partir de
qual não ente a geração é feita.
[A esta questão o Filósofo responde do seguinte
modo].
O não ente é dito de três maneiras. De uma
primeira maneira, não ente é aquilo que de nenhum modo é. A
partir deste não ente não se faz geração nenhuma, porque do
nada, nada se faz segundo a natureza. De uma segunda
maneira, não ente é a própria privação que é considerada em
algum sujeito. A partir deste não ente pode-se realizar
alguma geração, mas por acidente, na medida em que a
geração é realizada a partir do sujeito, ao qual, ocorre a
privação. De um terceiro modo, não ente é a própria
matéria, a qual, o quanto é de si, não é ente em ato, mas
ente em potência. A partir deste não ente as gerações se
realizam per se.
[Deve-se observar, entretanto, que] embora as
gerações se façam a partir dos não entes que estão em
potência, não se pode fazer todavia qualquer geração a
partir de qualquer matéria. [Ao contrário], gerações
diversas se realizam a partir de matérias diversas,
qualquer coisa gerável tendo uma matéria determinada a
partir da qual é feita, porque a forma necessita ser
proporcionada à matéria. Assim, embora a matéria primeira
esteja em potência a todas as formas, todavia as recebe em
uma certa ordem. Primeiramente, a matéria primeira está em
potência às formas elementares, e mediante elas, segundo
diversas proporções de mistura está em potência às [demais]
diversas formas, de onde fica claro [porque] a partir de
qualquer coisa não seja possível fazer-se qualquer coisa de
modo imediato. Esta conclusão vai contra os ditos de alguns
dos antigos filósofos, como por exemplo, Anaxágoras, que
colocaram que qualquer coisa poderia fazer-se a partir de
qualquer coisa.
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