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Conforme está dito no livro primeiro, julgamos
comumente que a deleitação é adjunta à felicidade. Porém,
entre todas as operações da virtude deleitabilíssima é a
contemplação da sabedoria, conforme é manifesto e concedido
por todos. De fato, a filosofia possui na contemplação da
sabedoria deleitações admiráveis, quanto à pureza e quanto à
firmeza. A pureza de tais deleitações provém de serem acerca
de coisas imateriais. A firemza delas é tomada segundo que
são acerca de coisa imutáveis. Quem, de fato, se deleita
acerca das coisas materiais, incorre em uma certa impureza de
afeto, pelo fato de ocupar-se acerca do que é inferior. E
quem se deleita acerca das coisa mutáveis, não pode possuir
firme deleitação, porque mudada a coisa ou corrompido aquilo
que trazia deleitação, cessa a deleitação, e às vezes se
transforma em tristeza.
A especulação da verdade, porém, pode sê-lo de
dois modos. A primeira consiste na inquisição da verdade. A
segunda consiste na contemplação da verdade já descoberta e
conhecida, a qual é mais perfeita, sendo o término e o fim da
inquisição. De onde que é maior a deleitação que há na
consideração da verdade já conhecida do que na inquisição
dela, sendo por isso que Aristóteles diz que mais
deleitavelmente vivem aqueles que já conhecem a verdade. De
onde que a perfeita felicidade não consiste em qualquer
especulação, mas naquela que é segundo [a contemplação da
verdade].
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