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Os antigos filósofos supuseram que a alma se
movesse a si mesma pelo fato de que ela move o corpo.
Todavia, [alguns], muito mais racionalmente, supuseram que a
alma se movesse a si mesma considerando as operações da alma.
De fato, nós dizemos que a alma se entristece, fica feliz,
confia, se ira, sente e intelige. Ora, sendo estas operações
da alma, e sendo estas, [de uma certa maneira], movimentos,
pareceria que a alma se move a si mesmo.
Os filósofos que raciocinaram conforme explicado,
fizeram, [na realidade], duas colocações:
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A. Que alegrar-se e entristecer-se
e outros tais são movimentos.
B. Que tais [movimentos] são
atribuídos à alma.
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Ambas estas suposições são falsas. Alegrar-se,
sentir, irar-se e outras assim nem são movimentos, e nem
podem ser atribuídos à alma. E mesmo admitindo que fossem
movimentos, ainda assim é falso que possam ser atribuídos à
alma, e, consequentemente, é igualmente falso afirmar que a
alma se move a si mesma mediante tais operações.
Supondo que tais operações sejam movimentos e se
atribuam à alma, é manifesto que não podem ser atribuídas
exceto segundo algumas partes corporais determinadas. Por
exemplo: o sentir não é atribuído à alma, exceto em alguma
parte do corpo, como o olho, o irar-se no coração, e assim
por diante. Assim, aparece de maneira manifesta que não se
tratam de movimentos apenas da alma, mas conjuntos. São,
todavia, movimentos [provocados] pela alma.
[Temos, como exemplo, que] no irar-se, a alma
julga algo ser digno de ira, movendo, [então], o coração do
animal e fervendo o seu sangue. Desta maneira, não é que a
alma se mova, mas o movimento é que é [provocado] por ela no
coração. Não é a alma que se move, mas o homem pela alma.
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