|
A amizade [por causa do bem] é rara, o que é sinal
de perfeição, porque a perfeição em qualquer gênero raramente
é encontrada. Isto pode ser mostrado por duas razões.
Primeiro porque esta amizade o é entre pessoas
virtuosas. Ora, poucos são tais por causa da dificuldade em
se atingir o termo médio, conforme explicado no livro II. De
onde que é [razoável] que tais amizades sejam raras.
[Uma segunda razão para a raridade destas amizades
está em que] ela necessita de um longo tempo e acostumamento
mútuo, para que os amigos e virtuosos possam se conhecer
entre si, já que, diz o provérbio, [duas] pessoas não se
conhecerão entre si antes que tenham comido juntos a medida
[do] sal. Assim, não será conveniente que um aceite o outro
como seu amigo antes que ele lhe pareça digno de ser amado e
o mostrar ser, o que raramente ocorre. De onde que, por causa
disso, tais amizades são raras.
Aqueles que, portanto, com presteza exibem
mutuamente obras de amizade, manifestam um ao outro que
querem ser amigos, não o sendo, todavia, até que saibam que
são mutuamente amáveis. Assim, fica claro que a vontade da
amizade pode se produzir prontamente no homem, mas o mesmo
não pode ser dito da amizade.
|
|