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[A primeira consideração preliminar necessária à
definição do movimento é que o] ente se divide pelo ato e
pela potência. É isto o que Aristóteles quer dizer ao
afirmar que dentre os entes, algum é [em] ato, como o
primeiro movente, que é Deus. Outros são apenas potência,
como a matéria primeira. Outros potência e ato, como todos
os intermediários. [Outra maneira de se compreender isto é
que] ser somente em ato é dito daquilo que tem forma de
modo perfeito, como por exemplo aquilo que já é branco de
modo perfeito. Ser somente em potência, é dito daquilo que
ainda não tem forma, como por exemplo, aquilo que de nenhum
modo é branco. Está em ato e em potência aquilo que, posto
que ainda não tenha forma de modo perfeito, todavia está em
movimento à forma.
[A segunda é que] o ente se divide pelos 10
predicamentos.
[A terceira é que] o movimento não tem alguma
outra natureza separada das outras coisas. [Antes],
qualquer forma, na medida em que está sendo feita, é um ato
imperfeito que é dito movimento. De fato, isto mesmo é [o
que significa] ser movido à brancura, [ou seja], a brancura
começar a tornar-se em ato no sujeito. Ela não deve estar
em ato perfeito. Isto [é o que Aristóteles que dizer ao
afirmar] que o movimento não é algo além da coisa. Tudo o
que é mudado, é mudado segundo os predicamentos do ente.
[Desta maneira], assim como não existe algo comum aos 10
predicamentos que seja gênero deles, assim não há algum
gênero comum a todos os movimentos. Por causa disso o
movimento não é um predicamento distinto dos demais
predicamentos, [ao contrário], segue os demais
predicamentos.
[A quarta é que] em qualquer gênero sempre
encontramos algo de modo duplo, segundo perfeição e
imperfeição. No gênero da substância, por exemplo, um deles
é a forma, o outro a privação. No gênero da qualidade, o
que é perfeito é, por exemplo, o branco, que tem cor
perfeita, [e o que é imperfeito é ] o preto, que é o
imperfeito no gênero da cor.
No gênero da quantidade o que é perfeito é o que
é dito grande, e o que é imperfeito é o que é dito pequeno.
No gênero do lugar, no qual ocorre o movimento local, são o
acima e embaixo, e o pesado e o leve, na medida em que
pesado é dito daquilo que em ato está embaixo e leve é dito
daquilo que em ato está em cima. Destas coisas, uma está
como perfeito, a outra como imperfeito. O motivo porque
isto acontece em todo gênero é que todo gênero é dividido
por diferenças contrárias, e dos contrários sempre um está
como perfeito, e o outro está como imperfeito.
[A quinta, que é tirada por conclusão a partir
das quatro primeiras, é que] tantas são as espécies de
movimento e permutação, quantas forem as espécies do ente.
Isto não significa que em qualquer gênero do ente possa
encontrar-se o movimento. [Porque, de fato, conforme será
explicado, o movimento não é encontrado em todos os
predicamentos]. O que isto quer dizer é que, assim como o
ente é dividido pelo ato e pela potência, pela substância e
pela quantidade, [e outros predicamentos], e segundo o
perfeito e o imperfeito, assim também o movimento. E isto é
uma conseqüência do fato de que o movimento não é algo além
das coisas. [Motus non est praeter res].
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