3. Como, para que alguém se torne bom, não é suficiente o discurso persuasivo.

Se os sermões persuasivos fossem per se suficientes para tornar os homens aplicados, muitas e grandes recompensas seriam devidas a alguém por causa da arte de persuadir ao bem. Mas não é assim universalmente.

De fato, vemos que os dircursos persuasivos podem provocar e mover ao bem os jovens liberais, os quais não estão sujeitos aos vícios e às paixões, e que possuem nobres costumes, sendo aptos às operações das virtudes, verdadeiramente amando o bem. Tais pessoas, que são bem dispostas às virtudes, são provocadas à perfeição da virtude pelas boas exortações.

Mas muitos homens não podem pelos discursos ser provocados à bondade, porque não obedecem à vergonha que teme a torpeza, sendo mais obrigados pelo temor das penas. De fato, não se afastam das más obras por causa de sua torpeza, mas por causa das penas que temem, porque vivendo segundo as paixões, e não segundo a razão, pelas quais paixões estas mais crescem neles, e fogem das tristezas contrárias às deleitações procuradas. Estas pessoas não [compreendem] aquilo que é verdadeiramente bom e deleitável, nem também a doçura de seu gosto podem perceber. Tais homens não podem ser mudados por nenhum discurso.

Para que alguém pelo discurso seja mudado, requer- se que se proponha ao homem algo que [ele] aceite. Aquele, porém, para quem o bem honesto não tem sabor, mas é inclinado às paixões, não aceita o que é proposto pelo discurso induzente à virtude. De onde que não é possível, ou pelo menos não é fácil, que alguém pelo discurso possa mudar o homem daquilo que ele compreende por antigo costume. Assim como também nas [coisas] especulativas, não pode ser reduzido à verdade aquele que firmemente se adere a princípios contrários, os quais, nos operáveis, são proporcionados pelos fins, conforme acima foi dito.