8. Que a virtude e as operações causantes da virtude podem corromper-se por superabundância ou deficiência.

As virtudes e as operações causantes da virtude podem corromper-se tanto por deficiência como por superabundância. Vamos mostrar isto primeiramente em relação às virtudes do corpo, que são [quanto a isto] mais manifestas, para depois passarmos às virtudes da alma.

A força corporal pode corromper-se pela superabundância de alguns exercícios corporais, pelo fato de que, devido ao excesso de trabalho, a força natural do corpo é enfraquecida. De modo semelhante, a força corporal pode corromper-se pelo defeito destes exercícios porque pela deficiência destes exercícios os membros se tornam débeis para o trabalho. E o mesmo ocorre na saúde. Tanto se alguém toma uma quantidade excessiva de bebida ou comida, como uma quantidade deficiente, com isto a saúde se corrompe.

Assim também ocorre com as virtudes da alma, como com a fortaleza, a temperança e as demais virtudes. Aqueles que tudo temem e fogem, e nada enfrentam de terrível, se tornam tímidos. Aqueles que nada temem, e a todos os perigos se precipitam, se tornam audazes. E assim também ocorre com a temperança. Aqueles que se embriagam com qualquer prazer, não evitando nenhum, se tornam intemperantes. Já aqueles que evitam todos, assim como fazem os homens selvagens sem razão, estes se tornam insensíveis.

[Neste ponto de seu comentário, S. Tomás faz uma observação sobre a virgindade]. Disto não se conclui, [diz S. Tomás], que a virgindade, que se abstém de todo prazer venéreo, seja um vício. Tanto porque pela virgindade não nos abstemos de todos os prazeres, como porque destas deleitações nos abstemos segundo a razão reta. Quando nós dizemos que a temperança e a fortaleza se corrompem por superabundância ou por deficiência, e se salvam pela medietate, esta medietate deve ser tomada não segundo a quantidade, mas segundo a reta razão.