|
Poderia afirmar-se que a natureza não age tendo
algo em vista, porque não delibera.
[Responde-se a esta terceira objeção dizendo que]
é manifesto que a arte age por causa de algo, e no entanto a
arte não delibera. O artífice não delibera enquanto possui a
arte, mas apenas enquanto ainda não possui a certeza da arte.
O tocador de harpa, se deliberasse enquanto toca, seria muito
imperito.
Desse exemplo fica patente que ocorre a certos
agentes não deliberarem não porque não agem por causa de um
fim, mas porque têm algum meio pelo qual agem. Assim, porque
a natureza possui certo meio pelo qual pode agir, por causa
disto não delibera.
Na verdade, em nada a arte e a natureza diferem, a
não ser pelo fato de que a natureza é um princípio intrínseco
e a arte é um princípio extrínseco. Ainda mais, se a arte de
fazer um navio estivesse intrínseca à madeira, o navio seria
feito pela natureza exatamente do mesmo modo pelo qual é
feito através da arte.
[Podemos concluir o que foi dito dizendo que] fica
patente que a natureza nada mais é do que a ratio de uma
certa arte, a saber, a divina, situada nas coisas, pela qual
as mesmas coisas são movidas a um fim determinado, assim como
se o artífice fazedor de navios pudesse conceder à madeira
que por si mesmo se movesse a induzir a forma do navio.
|
|