8. Conseqüência da necessidade da virtude moral nos servos.

[O Filósofo acaba de mostrar que o servo, enquanto servo], necessita da virtude. Ora, é necessário que o homem que possui inclinação à virtude alcance a virtude pelo estudo de algum governante, como ocorre com os cidadãos que devem tornar-se virtuosos pelos legisladores, conforme está explicado no Segundo Livro da Ética.

É, portanto, manifesto que as virtudes que o servo deve possuir para que seja bom devem ter a sua causa em seu senhor, o qual deverá instruí-los sobre como devem agir, corrigindo-os se fizerem o mal e incentivando-os se fizerem o bem. [Não se pode dizer o mesmo do senhor quanto à própria obra servil]. Não se pode dizer que pertence ao senhor que ele deva possuir alguma ciência senhoril pela qual deverá ensinar as obras servis aos próprios servos como, por exemplo, que os ensine a cozinhar ou a fazer outras coisas semelhantes. Cabe, porém, ao senhor ensiná-los como eles devem alcançar a temperança, a humildade, a paciência e outras virtudes semelhantes.

Disto também se conclui que não sustentam uma posição correta aqueles que dizem que os senhores não devem usar da razão para com os servos, mas apenas devem fazer uso do preceito. Ao contrário, devemos ensinar os servos à virtude mais ainda do que aos nossos filhos quando ainda são crianças muito pequenas, porque nesta idade estas últimas não são capazes de acompanharem o raciocínio que fundamenta a virtude.