11. A divisão das enunciações segundo a quantidade.

Como o universal pode ser considerado enquanto abstraído dos singulares em que esteja, ou na medida em que esteja nos próprios singulares, podem ser-lhe feitas atribuições diversas, conforme [o Filósofo acaba de discutir].

Para designar estes diversos modos de atribuição foram elaboradas algumas expressões, que podem ser ditas determinações ou sinais, pelas quais designa-se que do universal predica-se algo de um ou outro modo.

[Conforme diz S. Tomás de Aquino comentando o Filósofo, segundo a quantidade algo pode ser predicado do universal de três modos; se a estes acrescentamos um quarto modo pelo qual pode-se atribuir um predicado a um sujeito não universal, mas singular, teremos uma divisão quadripartida das enunciações segundo a quantidade].

A. Atribuição do predicado ao universal em razão de sua natureza universal.

Algumas vezes, conforme foi dito, atribui-se algo ao universal segundo a sua própria natureza de universal. Por isto, [segundo este modo], algo é dito ser predicado do universal universalmente, porque [esta atribuição] lhe convém segundo toda a multidão [dos sujeitos] em que se encontra.

Para designar este modo de predicação, nas predicações afirmativas foi estabelecida a palavra "Todo", que designa que o predicado é atribuído ao sujeito universal quanto à totalidade do que está contido sob este sujeito. [É assim que dizemos:

"Todo homem é mortal"].

Para designar este modo de predicação, nas predicações negativas foi estabelecida a palavra "Nenhum", pela qual significa-se que o predicado é removido do sujeito universal segundo a totalidade do que está contido sob este sujeito. De fato, `nenhum' em latim se diz `nullus', que significa `non ullus' ou `não algum'. Em grego, a mesma expressão significa `nem sequer um'. [É assim que dizemos

"Nenhum homem é árvore"].

B. Atribuição do predicado ao universal em razão do particular.

Outras vezes atribui-se ou remove-se algo do universal em razão do particular. Para designar [este modo de atribuição] foi estabelecida para as enunciações afirmativas a expressão "Algum", pela qual significa-se que o predicado é atribuído ao sujeito universal em razão do próprio particular; para as enunciações negativas não foi colocada [por Aristóteles] nenhuma expressão, mas podemos tomar a expressão "Não todo". [Será assim que diremos

"Algum homem é músico",

ou

"Não todo homem é músico"].

C. Atribuição do predicado ao universal sem determinação da universalidade ou particularidade.

[Neste modo de atribuição] algo é predicado do universal sem determinação de universalidade ou particularidade. Esta enunciação costuma ser chamada de `indefinida'. [Será assim que se diz:

"O homem é mortal"].

D. Atribuição do predicado ao singular.

Embora possa predicar-se algo do singular por razões diversas, [conforme já tratado pelo Filósofo], todavia todos estes diversos modos se referirão à sua [própria] singularidade porque, [ainda que se lhe atribua algo segundo a razão de sua natureza comum, como quando se diz "Sócrates é animal"], mesmo esta natureza universal [comum, quando considerada] no próprio singular, é individuada. Por isso não varia a natureza da singularidade se algo se predica do singular em razão da natureza universal ou se lhe atribui algo em razão da singularidade.

[Há, por conseguinte, quanto à quantidade, três modos de atribuição de um predicado a um sujeito universal e um modo a um sujeito singular].

[Estes] quatro modos da enunciação que dizem respeito à quantidade da mesma [são assim denominados]:

A. Universal [`Todo homem é mortal'];

B. Singular [`Sócrates é mortal'];

C. Indefinido [`O homem é mortal'];

D. Particular [`Algum homem é mortal'].