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Depois que o Filósofo determinou a relação entre o
senhor e o servo, acrescentando também um tratado geral sobre
a posse, passa a determinar sobre as duas outras relações
domésticas, que é a existente entre o marido e a esposa e a
entre o pai e o filho.
Já havia sido dito que há três partes da arte
econômica, que é a governativa da casa, segundo três relações
já mencionadas. A primeira é a relação despótica, que
pertence ao senhor e ao servo, da qual já se tratou. Resta
agora discursar sobre a segunda, que é a paterna, pertencente
ao pai e ao filho, e sobre a terceira, que é a conjugal,
pertencendo ao marido e à mulher.
[Há três coisas que devem ser ditas sobre as duas
últimas relações].
A primeira é que em ambas estas relações há uma
certa prelazia ou principado. O homem, de fato, preceitua à
mulher assim como o pai ao filho, não porém como a servos,
mas como a livres. Nisto estes dois principados diferem do
principado despótico.
A segunda é que estes dois principados não se dão
segundo um único modo. O homem preceitua à mulher por um
principado político, isto é, como o principado em que alguém
que é escolhido para governante preside a uma sociedade,
enquanto que o pai preside aos filhos por um principado real,
e isto porque o pai possui um poder plenário sobre os filhos,
assim como o rei no reino. O homem, porém, não possui poder
plenário sobre a esposa quanto a tudo, mas apenas segundo o
que o exige a lei do matrimônio, assim como o governante da
cidade possui poder sobre os cidadãos segundo os estatutos.
A terceira [coisa a ser dita sobre estas duas
relações] é que são segundo a natureza, porque sempre
principia aquele que é principal na natureza, conforme acima
foi dito. Mas o homem é naturalmente principal em relação à
mulher, a não ser que alguma coisa ocorra além da natureza,
como no caso dos homens efeminados. Semelhantemente, o pai é
naturalmente principal ao filho, assim como o é o mais velho
em relação ao mais jovem e o perfeito em relação ao
imperfeito. Portanto, é segundo a natureza que o homem
principia sobre a mulher e o pai principia sobre o filho.
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