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A. Não teria nunca havido necessidade de se
inquirir o que é o lugar se não existisse
movimento em relação ao lugar. Isto porque
houve necessidade de se colocar que o lugar é
diferente do que está localizado no lugar,
pelo fato de que dois corpos podem ser
achados sucessivamente no mesmo lugar, e
também porque um mesmo corpo pode ser achado
em dois lugares diferentes. [Esse foi o mesmo
caminho pelo qual] a transmutação das formas
em uma matéria levou a um conhecimento da
matéria.
B. Algumas coisas são movidas per se e outras
por acidente. E isto pode acontecer de dois
modos. [O primeiro é aquele pelo qual]
algumas coisas que podem ser movidas per se o
são por acidente. Assim ocorre com as partes
de um corpo, na medida em que estão no todo,
que são movidas por acidente, enquanto o todo
é movido per se. [O segundo é aquele pelo
qual] outras coisas não podem nunca ser
movidos per se, mas são sempre movidos por
acidente. Por exemplo, a brancura e a ciência
mudam de lugar, na medida em que aquilo em
que elas estão é mudado de lugar.
C. Quando dizemos que alguém está no ar, não
queremos dizer com isso que alguém está
primariamente e per se em todo o ar. Ao invés
disso, a pessoa é dita estar no ar por causa
da última extremidade do ar que contém essa
pessoa. Porque se todo o ar fosse o lugar
desse alguém, enão o lugar e aquilo que está
localizado no lugar não seriam iguais, o que
é contrário à suposição dada acima. Por isso,
aquilo em que algo está primariemtne parece
ser a extremidade do corpo continente.
D. Quando o continente não é dividido do que é
contido, mas é contínuo com ele, então o
contido não é dito estar no continente como
num lugar, mas como uma parte em um todo. Por
exemplo, quando dizemos que uma parte do ar é
contida por todo o ar. Porque quando existe
um contínuo, não existe extremidade em ato, o
que, segundo a terceira consideração, se
requer para a existência do lugar. Mas,
quando o continente é dividido e contínuo ao
que é contido, então o que é contido está no
lugar, existindo na extremidade do continente
primariamente e per se. A diferença consiste
em que estar num lugar significa algo como
isto num vaso, e não como uma parte em um
todo, como por exemplo a vista no olho como
parte formal, ou a mão em um corpo. E esta
diferença [é palpável porque] a mão é movida
com o corpo, mas não no corpo, enquanto que a
água é movida no jarro, [mas não com o
jarro]. Segue-se disto que o lugar é como um
continente dividido.
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