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Existem alguns animais que, não obstante terem
sentido, não têm memória, que se faz a partir do sentido. A
memória, de fato, segue a fantasia, que é um movimento feito
pelo sentido em ato. Ora, em alguns animais, o sentido não
[provoca] a fantasia e, assim, neles não pode existir a
memória. Estes são os animais imperfeitos, que são imóveis
segundo o lugar, como as conchas. [Este é o primeiro grau de
conhecimento nos animais].
Outros animais, [além do sentido], devem
[necessariamente] ter memória, já que se movem localmente por
um movimento progressivo. Isto não acontece com os animais
imóveis, para os quais é suficiente que recebam os sensíveis
presentes. Portanto, apresentam uma imaginação confusa, que
lhes [provoca] um certo movimento indeterminado. [Este é o
segundo grau de conhecimento nos animais]
Devido ao fato de que alguns animais apresentam
memória e outros não, segue-se que alguns são prudentes e
outros não. A prudência prevê a respeito do futuro a partir
da memória do passado. Esta prudência é dita de uma certa
maneira nos animais brutos, e de outra maneira nos homens.
Nos homens, a prudência é algo segundo a qual pela razão
deliberam o que lhes importa agir. Nos animais, é dito
prudência o juízo acerca das coisas para agir não devido à
deliberação, mas por um certo instinto da natureza. De onde
que a prudência nos outros animais além do homem é uma
estimação natural do que é conveniente prosseguir ou fugir,
assim como a ovelha segue a mãe e foge do lobo.
Entre os animais que apresentam memória, alguns
apresentam ouvido e outros não. Aqueles que não possuem
ouvido, ainda que tenham prudência, não são disciplináveis,
de tal maneira que pela instrução de outros possam aprender a
fazer ou evitar algo. Ora, tal instrução é recebida pelo
sentido do ouvido. De onde se diz, em outro livro de
Aristóteles, que o ouvido é o sentido da disciplina. [Este é
o terceiro grau de conhecimento nos animais]
[Pode-se concluir, portanto, que] existem três
graus de conhecimento nos animais. O primeiro corresponde
àqueles que não apresentam nem ouvido, nem memória. Estes não
são disciplináveis, nem prudentes. O segundo corresponde
àqueles que têm memória, mas não ouvido. Estes são prudentes,
mas não disciplináveis. O terceiro corresponde àqueles que
apresentam ambos, e são prudentes e disciplináveis.
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