5. Comentário do compilador.

[A esta altura, apresenta-se a seguinte questão: Aristóteles afirma que nenhum contínuo é formado de partes indivisíveis. Portanto, uma linha não é composta de pontos, nem o tempo é composto de "agoras".

Por isso, entende-se que parece que Aristóteles quis dizer que o ponto [isolado] não existe em ato, mas apenas em potência, na medida em que uma linha é infinitamente divisível. Ora, se isto se aplicar também ao tempo, dever-se-ia dizer que o "agora" também não existe, exceto em potência. Porque, se o "agora" existe em ato, o "agora" faz parte do tempo, e portanto, o tempo deveria ser composto de "agoras". Mas, a discussão de Aristóteles provando que o "agora" é indivisível e que não existe movimento ou repouso no "agora", parece mostrar que ele entende que o "agora", ao contrário do ponto, existe em ato.

Ora, isso parece ir contra a afirmação precedente que diz que todo contínuo não é composto de partes indivisíveis e que o tempo não é composto de "agoras"].

Esta dificuldade pode ser resolvida considerando que o "agora" realmente existe em ato, mas o ponto não tem existência, exceto em potência. E ambos são realmente indivisíveis.

Não obstante isso, nem o tempo é composto de "agoras", nem uma linha é composta de pontos.

A linha não é composta de pontos, porque a linha, como tal, existe em ato, mas os pontos não, existindo estes últimos apenas em potência. A linha toda, que existe em áto, é composta de partes em ato, mas que não são pontos, e sim linhas menores, infinitamente divisíveis.

O tempo não é composto de vários "agoras", porque somente apresenta existência real este único "agora", sendo que o passado e o futuro não têm existência real. Portanto, na natureza, somente existe do tempo um único "agora", que é a extremidade comum do passado e do futuro. O passado e o futuro não têm existência na realidade, mas são fundamentados na realidade, na medida em que são uma construção da alma fundada sobre a sua percepção de antes e depois no movimento, conforme foi explicado.

Portanto, apesar do "agora" existir em ato, o tempo não é composto de "agoras" em sucessão, em contiguidade, ou em continuidade. Assim, apesar do "agora" ser indivisível, ele existe em ato, ao contrário do ponto, que também é indivisível, mas não existe na natureza senão em potência. Mas, enquanto pode-se dizer que de uma certa forma uma linha é composta de uma infinidade de pontos que existem somente em potência, somente existe no tempo um único "agora"].