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Há alguns que reprovam a participação dos jovens
na música. A estes o Filósofo responde dizendo que não é
difícil remover esta reprovação pela qual alguns censuram a
música e o seu uso.
O que parece ser razoavelmente reprovável é o que
torna os jovens vis e mal dispostos segundo a inteligência.
Os que reprovam a música sustentam que é precisamente isto o
que a música produz nos jovens. Algumas melodias, de fato,
dispõem à moleza, outras distraem das obras segundo a razão e
por isso, dizem, a música é censurável com razão. Mas não é
difícil resolver esta objeção considerando até onde importa
participar da música para aqueles que pretendem ordenar as
ações das crianças ao bem civil.
De fato, não se deve participar da música de
qualquer modo, mas apenas na medida em que é útil à
república, e considerando em quais melodias e em quais ritmos
deve-se participar. Deve-se considerar também em quais
instrumentos deve-se exercitar e aprender. Nisto há uma
grande diferença no tocante ao que nos interessa e nisto
também reside a solução da objeção que nos é proposta. Nada
impede, de fato, mas ao contrário, é bastante manifesto, que
há melodias, ritmos e instrumentos que dispõem mal os jovens
segundo a inteligência, enquanto que há outras que dispõem
bem a inteligência e os costumes. Por isso é necessário
considerar muito bem quais instrumentos, melodias e ritmos
devem ser usados para o bem da inteligência e para os
costumes. Todas as dificuldades levantadas pelos que
sustentam as objeções mencionadas são removidas através
destas considerações.
É manifesto que o ensino e o uso da própria música
é necessário que seja tanto e tal e por tais [meios] que não
impeçam o homem quanto às ações civis futuras, nem tornem o
seu corpo mal disposto às operações da inteligência e inútil
às oportunidades bélicas e aos exercícios civis por causa da
debilidade, agora aos exercícios e à progressiva adaptação e,
no futuro, aos ensinamentos mencionados. Tudo o que diz
respeito aos mais jovens deve ser comensurado e determinado
segundo a sua utilidade ao fim da república, que é o bem
perfeito segundo o intelecto.
Os jovens estarão bem dispostos acerca dos
ensinamentos musicais se os que começarem a serem ensinados
não se ocuparem em instrumentos trabalhosos e que tronam o
corpo pesado para o movimento por um trabalho imoderado que
pese sobre o corpo e suas forças, nem se exercitem em obras
admiráveis e supérfluas, que acabam se transformando em jogos
de lutas e nos quais hoje há muitos que querem instruir os
jovens. Ao contrário, os jovens devem ser mais exercitados em
cantos e instrumentos musicais mais fáceis e de moderado
trabalho, até que possam deleitar-se retamente na harmonia
musical e pela consideração dos ritmos, e não apenas na
música comum, na qual todos os que possuem sentidos se
deleitam, como alguns animais brutos, a multidão das crianças
e também dos homens vis e servis.
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