5. Se somente a substância tem essência, ou também o acidente. III.

Segundo a primeira solução do problema, a essência e definição não pertencem aos acidentes, mas às substâncias. Mas, segundo uma outra maneira de se resolver a questão, pode-se dizer que, tanto a definição como a essência é dita de múltiplas maneiras. Assim, de uma maneira, a essência significaria a substância, e de outra maneira significaria cada um dos demais predicamentos. Assim como o ente se predica de todos os predicamentos, não semelhantemente, mas primeiro da substância e posteriormente dos demais predicamentos, assim também a essência, simplesmente falando [simpliciter], convém à substância e aos demais predicamentos de outro modo, isto é, segundo algo.

Que, de alguma maneira, aos demais predicamentos convém uma essência, fica patente, por causa disto, que em cada predicamento algo é respondido à questão sobre o que [ele] seja. Perguntamos, de fato, da qualidade, o que seja, assim como [quando perguntamos] o que é o branco, e respondemos que é [uma] cor. De onde fica patente que a qualidade faz parte do número das coisas nas quais existe [uma] essência.

Pelo fato de que todos os demais predicamentos têm razão de ente pela substância, por causa disso o modo de ser da substância [modus entitatis substantiae] participa segundo uma certa semelhança de proporção em todos os demais predicamentos. [Como se disséssemos que] assim como o animal é a essência do homem, assim a cor é a essência do branco. Desta maneira dizemos que a qualidade não tem uma essência de modo simples [simpliciter], mas deste. Assim como alguns dizem, falando do não ente, que o não ente é, não porque o não ente seja "simpliciter", mas porque o não ente é não ente. Assim também a qualidade não tem essência "simpliciter".