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As partes da substância são a matéria, a forma e o
composto de ambos. Qualquer um destes três, a matéria, a
forma e o composto de ambos é substância, conforme ficou
acima dito. Em vista disso, de um certo modo a matéria é
parte de algo, e de um outro certo modo a matéria não é parte
de algo. O cobre é parte da estátua toda, que é composta de
matéria e forma. Não é parte, todavia, da estátua, na medida
em que esta é tomada pela espécie, isto é, pela forma.
Para que se saiba o que é a espécie e o que é a
matéria, deve-se dizer que pertence à espécie aquilo que
convém a qualquer coisa enquanto tem a espécie. Mas aquilo
que é material à espécie nunca pode ser dito per se da
espécie.
Deve-se saber, ainda, que nenhuma matéria, nem a
comum, nem a que é individuada [pertence] per se à espécie,
se ela for entendida como forma. Porém, se a espécie é tomada
pelo universal, como quando dizemos o homem ser espécie,
assim a matéria comum pertence per se à espécie, não
entretanto a matéria individual, a qual recebe a natureza de
espécie. Por isso é que deve-se dizer que a definição do
círculo não contém em si a definição do semicírculo ou da
quarta parte do círculo. Mas a definição das sílabas
compreende em si a definição que é das letras, que são os
seus elementos. A razão disso é que as letras são partes da
sílaba quanto à sua espécie e não segundo a matéria. De
fato, a própria forma da sílaba consiste nisso, que seja
composta de letras. Já as partes do círculo são partes do
círculo não segundo a espécie, mas deste círculo em
particular, como a matéria na qual a espécie do círculo se
[forma].
Isto pode ser tomado a partir da regra acima
colocada. [Segundo esta], pertence à espécie aquilo que
segundo se está em todas as coisas que têm [essa] espécie.
Pertence à matéria, entretanto, aquilo que [é acidente] da
espécie.
Pertence à sílaba per se o fato de ser composta de
letras. Já que o círculo seja em ato dividido em
semicírculos, isto acontece ao círculo, não enquanto é
círculo, mas enquanto é este círculo. Fica assim patente que
o semicírculo é parte do círculo segundo a matéria individual
[e não segundo a espécie]. Esta matéria, [que é esta linha do
semicírculo], entretanto, é mais próxima à espécie do que o
cobre, que é matéria sensível.
E assim as partes do círculo, que são segundo a
matéria individual, não são colocadas na sua definição, e
assim também não todas as letras são postas na definição da
sílaba, como as letras escritas em cera ou em cobre. Estas já
são partes da sílaba, como matéria sensível.
Não é necessário que todas as partes em que alguma
coisa, ao corromper-se, [se divide], sejam partes da
substância. Se a linha, ao corromper-se, divide-se em duas
metades, ou se o homem, ao corromper-se, se decompõe em
ossos, nervos e carne, nem por isso segue-se que estas sejam
partes de sua substância. Mas [o que é verdade é que] a linha
e o homem são [feitos] destas partes como de matéria. Por
cujo motivo nenhuma destas partes podem ser convenientemente
postas nas razões.
Deve-se saber, todavia, que a razão de tais partes
em algumas definições é colocada. Isso ocorre nas definições
dos compostos, dos quais são parte.
Em outras definições não é necessário colocá-las,
a saber, na definição das formas, a não ser que sejam tais
formas simultaneamente tomadas com a matéria. [Nestes casos],
posto que a matéria não seja parte da forma, todavia a
matéria sem a qual não pode ser concebida a forma pelo
intelecto, importa que seja colocada na definição da forma.
Assim, por exemplo, o corpo orgânico é colocado na definição
da alma. [Nestes casos], [ainda], assim como os acidentes não
têm o ser perfeito, a não ser segundo que estejam no sujeito,
assim nem as formas, a não ser segundo que estejam em sua
matéria própria. E por causa disso, assim como os acidentes
são definidos pela adição do sujeito, assim a forma pela
adição da matéria própria.
A matéria é colocada por adição na definição no
caso da definição das formas, e esta é uma definição por
adição. Mas quando a matéria é colocada na definição do
composto, não é uma definição por adição.
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