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As virtudes e as operações causantes da virtude
podem corromper-se tanto por deficiência como por
superabundância. Vamos mostrar isto primeiramente em relação
às virtudes do corpo, que são [quanto a isto] mais
manifestas, para depois passarmos às virtudes da alma.
A força corporal pode corromper-se pela
superabundância de alguns exercícios corporais, pelo fato de
que, devido ao excesso de trabalho, a força natural do corpo
é enfraquecida. De modo semelhante, a força corporal pode
corromper-se pelo defeito destes exercícios porque pela
deficiência destes exercícios os membros se tornam débeis
para o trabalho. E o mesmo ocorre na saúde. Tanto se alguém
toma uma quantidade excessiva de bebida ou comida, como uma
quantidade deficiente, com isto a saúde se corrompe.
Assim também ocorre com as virtudes da alma, como
com a fortaleza, a temperança e as demais virtudes. Aqueles
que tudo temem e fogem, e nada enfrentam de terrível, se
tornam tímidos. Aqueles que nada temem, e a todos os perigos
se precipitam, se tornam audazes. E assim também ocorre com a
temperança. Aqueles que se embriagam com qualquer prazer, não
evitando nenhum, se tornam intemperantes. Já aqueles que
evitam todos, assim como fazem os homens selvagens sem razão,
estes se tornam insensíveis.
[Neste ponto de seu comentário, S. Tomás faz uma
observação sobre a virgindade]. Disto não se conclui, [diz S.
Tomás], que a virgindade, que se abstém de todo prazer
venéreo, seja um vício. Tanto porque pela virgindade não nos
abstemos de todos os prazeres, como porque destas deleitações
nos abstemos segundo a razão reta. Quando nós dizemos que a
temperança e a fortaleza se corrompem por superabundância ou
por deficiência, e se salvam pela medietate, esta medietate
deve ser tomada não segundo a quantidade, mas segundo a reta
razão.
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