8. Primeira colocação acerca da fantasia.

Conforme será mostrado mais adiante, a fantasia não se faz sem o sentido, porque ela segue o sentido. [Também se mostrará] que sem a fantasia não se dá a opinião. Assim, a fantasia está para o sentido assim como a opinião está para o intelecto.

[De um primeiro modo, pode demonstrar-se que a opinião e a fantasia não são a mesma coisa dizendo que] a fantasia está em nós da forma como a queremos, porque está ao nosso alcance formar qualquer fantasia do que quisermos, como montanhas de ouro, e [outras assim]. Mas a opinião não está sob nosso poder. E isto acontece porque o opinante deve ter uma razão pela qual opina, ou verdadeira ou falsa. Portanto, a opinião não é o mesmo que a fantasia.

[De um segundo modo, pode demonstrar-se que a opinião e a fantasia não são a mesma coisa dizendo que] a paixão no apetite segue de imediato a opinião, porque opinando algo ser grave ou terrível, imediatamente padecemos entristecendo-nos ou temendo. Da mesma forma, se algo é para se confiar ou ter esperança, imediatamente segue-se a esperança e a alegria. Mas à fantasia não se segue a paixão no apetite, porque quando algo nos aparece segundo a fantasia, semelhantemente nos achamos como se considerássemos em uma gravura algo terrível ou motivo de esperança. Portanto, a opinião não pode ser o mesmo que a fantasia.

Esta diferença é devido a que o apetite não padece e nem é movido pela simples apreensão da coisa, que é a que propõe a fantasia. Mas importa que seja apreendida debaixo da razão de bem ou de mal, de conveniente ou nocivo. E isto, no homem, quem faz é a opinião, enquanto opinião isto ser terrível ou mau, e aquilo outro motivo de esperança ou bem. Todavia, nos animais o apetite padece pela estimação natural, que opera neles o que a opinião opera nos homens.