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O Filósofo, em seguida, declara que as multidões
constituídas por pastores é a melhor depois da constituída
por agricultores. As demais são todas piores do que estas.
Depois da multidão constituída pelos agricultores
a multidão popular ótima é aquela constituída de pastores que
vivem do rebanho. Em muitas coisas estes se parecem aos
agricultores. Assim como aquele deve habitar fora da cidade
próximo aos campos cultivados, assim também este deve habitar
próximo dos campos onde devem ser guardados e alimentados os
animais. A multidão dos pastores é mais exercitada nas ações
bélicas pelos seus hábitos; exercitam-se, de fato, pela
necessidade de se guardarem dos lobos e dos ladrões. Ademais,
possuem corpos bem dispostos, são corporalmente fortes,
acostumados aos frio e exercitados na caça. Tudo isto
predispõe corretamente aos atos bélicos.
As demais multidões são muito piores do que estas.
Todas as demais multidões dos estados populares, como a dos
mercenários em seus trabalhos, a dos mercadores que negociam
no foro com pessoas vis e venais e daqueles que vendem o seu
trabalho em troca de dinheiro, são muito piores do que todas
as anteriores que já mencionamos. De fato, muito pouco
participam da vida que é segundo a razão e nenhum de seus
trabalhos, enquanto tais, são exercícios da virtude.
Além disso, a multidão forense e mercenária, que
habita dentro dos muros da cidade, em sua maioria querem
fazer assembléias nas quais promovem coligações e
conspirações contra o príncipe, e também sentenciam
depravadamente, porque recebem destas mesmas assembléias
algum lucro [monetário]. Estas multidões são corruptivas da
república, e por isso são piores para serem governadas. Os
agricultores que possuem suas moradas dispersas pelas regiões
próximas às terra que cultivam não se dirigem de boa vontade
a estas assembléias, porque por este motivo são retardados de
seus hábitos necessários, nem necessitam de tais assembléias,
pois têm mais com que se ocupar do que é necessário à vida.
[Nas repúblicas em que convivem agricultores e
multidões forenses e mercenárias], os agricultores não se
preocupam muito de vir às assembléias pelas causas já
apontadas, enquanto que as multidões forense e mercenária
querem promover assembléias com freqüência, com o que
poderiam propor inconveniências para os agricultores. O
Filósofo, para afastar esta possibilidade, diz que se a turba
forense e mercenária deseja congregar-se com freqüência,
convém ordenar pela lei ou estabelecer pelo costume não
promover assembléias em que [a turba mercenária e forense]
tenha poder [de decidir] coisas grandes sem chamarem aqueles
que habitam fora da cidade nos campos. Disto se seguem duas
vantagens. A primeira é que haverá poucas assembléias, porque
os agricultores não poderão vir a elas por causa de seus
afazeres necessários. A segundo é que os agricultores são
menos maliciosos e [são] melhores, e freqüentemente reprimem
de algum modo a malícia e a astúcia da multidão forense.
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