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Chama-se posição intermediária em uma magnitude a
aquilo que se encontra a igual distância entre dois extremos,
a qual será sempre única e idêntica para todos.
Chama-se termo médio em relação a nós aquilo que
não conota nem superabundância nem escassez ou defeito. Nesta
caso, porém, o termo médio não é único e nem idêntico para
todos. Por exemplo, se dez uma quantidade grande e dois é uma
quantidade pequena, seis será o termo médio por relação à
soma, porque seis é a média aritmética entre dez e dois.
Mas, no que diz respeito ao termo médio em relação
a nós, as coisas não podem ser vistas desta maneira. Se dez
proporções de alimento são excessivas e duas são deficientes,
não vamos concluir que o mestre de ginástica irá prescrever
seis porções de alimento a todos os atletas. De fato, uma
alimentação deste tipo poderá ser, de acordo com a pessoa,
excessiva ou insuficiente.
Em toda ciência operativa o homem conhecedor foge
da superabundância e da deficiência, e deseja investigar
aquilo que é o termo médio, não segundo a coisa, mas em
relação a nós. De onde que toda ciência operativa bem faz a
sua obra se segundo a intenção mira o termo médio e segundo a
execução conduz a sua obra ao termo médio.
Um sinal de que é assim está em que os homens,
quando fazem alguma coisa bem feita, costumam dizer que nada
é para se lhe acrescentar ou retirar, quando estão querendo
dizer que a superabundância ou defeito corrompem a bondade da
obra, que é preservada pelo termo médio. De onde que os bons
artífices operam com os olhos postos no termo médio.
Ora, a virtude é mais exata do que toda a arte, e
também melhor [do que elas], assim como a natureza.
[A virtude é mais exata do que as artes] porque o
costume, [que gera a virtude], se converte em natureza, e
assim a virtude moral age inclinando determinadamente a uma
só [coisa], assim como a natureza. As artes, ao contrário,
sendo segundo a razão, podem [agir dirigindo-se] a diversos.
Portanto, a virtude é mais exata do que a arte, assim como a
natureza.
[A virtude é melhor do que a arte] porque pela
arte o homem pode fazer a obra boa; todavia, não é da arte
que lhe vêm que faça uma boa obra, porque pode ter arte e
fazer uma má obra. Isto porque a arte não inclina ao bom uso
da arte, assim como um gramático pode falar erroneamente. Mas
pela virtude alguém não somente pode bem operar, mas pode
também ser bem operante, porque a virtude inclina à boa
operação, assim como a natureza. Já a arte somente dá o
conhecimento da boa operação.
De onde que se conclui que, se as artes se propõe
como meta um termo médio, a virtude, sendo melhor e mais
exata do que as artes, também terá como meta o termo médio. E
isto deve ser entendido da virtude moral, que diz respeito às
paixões e operações nas quais podem ser tomadas
superabundâncias, defeitos e termos médios. Assim, a virtude
moral, considerada em si mesma, é um certo termo médio, e tem
por meta [um certo] termo médio, na medida em que diz
respeito ao termo médio e opera o termo médio.
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