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O Filósofo mostra, em primeiro lugar, que pertence
a esta ciência considerar sobre a política ótima, qual é e
como é, e a quem e a que tipo de homens ela convém.
A razão para tanto consiste em que em todas as
artes factivas e em todas as ciências ativas que não tratam
de alguma natureza particular, mas de algo comum, e que
perfeitamente consideram algo comum, pertence à mesma ciência
considerar qual disposição convém a cada uma das coisas que
estão debaixo daquele algo comum e qual é a disposição ótima
que convém àquele comum e por primeiro. [Ora, este é o caso
da ciência política]. A ciência política é uma ciência ativa,
que considera algo comum e não particular, e que o considera
perfeitamente. Por este motivo pertence a ela considerar qual
é a política ótima, e qual política convém a quem.
Deve-se entender que todas as ciências consideram
algum sujeito, mas em algumas ocorre que este sujeito é
unívoco, em outros este sujeito não é unívoco, mas análogo,
[isto é], predicado de muitos por atribuição a algo que é
anterior a todos. Em todas as artes factivas e ciências
ativas, que consideram algo único comum a muitos segundo uma
analogia, compete a uma única ciência considerar qual é a
disposição e as qualidades da disposição de cada uma daquelas
coisas que tem uma atribuição a um primeiro, e qual é a
disposição ótima que compete a este primeiro, à qual outros
possuem atribuição.
Assim, a arte exercitativa considera qual e que
tipo de exercício a qual e a que tipo de corpos convém.
Considera também qual é a exercitação ótima, que convém ao
corpo otimamente disposto. A exercitação ótima convém àquele
que está otimamente disposto e proporcionado segundo a
natureza e aquelas exercitações, que competem a muitos que
possuem uma atribuição àquele algo único [que é otimamente
disposto], compete-lhes segundo uma atribuição.
Alguém poderia objetar que a arte exercitativa não
deveria considerar aquela disposição ótima, porque ninguém a
alcança. Mas o Filósofo responde a isto dizendo que se alguém
não deseja a disposição ótima, todavia a arte exercitativa
ainda assim deve considerar sobre ela e sobre como dispor a
potência do exercitado para a mesma. Pertence, portanto, à
mesma ciência considerar a disposição ótima e quais
[disposições] convém a quem.
De tudo isto pode-se concluir ser manifesto que a
uma mesma ciência política pertence considerar qual é a
política ótima. Esta é a que é maximamente desejada e é
segundo a vontade, se não existe para a mesma nenhum
impedimento extrínseco. Ocorre às vezes que por algum
impedimento alguém não apeteça a política ótima. Esta ciência
política considera, ademais, qual política convém a quais
pessoas. Há, de fato, muitos que não podem alcançar a ótima,
que lhes competeria, mas apenas a alguma outra que lhes é
adequada.
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