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Depois que o Filósofo declarou o que deve ser
suposto de parte da multidão civil para a reta república,
quer agora declarar o que deve ser suposto para a mesma por
parte de sua localização e de seus edifícios, tanto os que há
dentro da cidade como no campo, e especialmente dos mais
importantes.
Já foi determinado que se a cidade ótima pode ser
localizada conforme se queira, importa que se comunique com o
mar e com a terra do melhor modo, de maneira que possa ser
ajudada no que é necessário à vida e contra os vizinhos que a
queiram impugnar.
Mas, ademais, se é possível localizar a cidade
conforme se queira, importa posicioná-la de modo que se volte
para o oriente, para que esteja sob a ação dos ventos que
sopram do oriente, os quais são mais sadios do que os outros.
Os ventos orientais são mais sadios, já que a maior parte de
sua matéria permanece mais tempo sob o caminho do Sol e por
causa de seu calor dissolvem as nuvens, sutilizando o ar e
purificando-o. O ar que procede dos charcos, nebuloso e
grosso, é propício as doenças e o vento que procede do
ocidente, frio e que pouco permanece sob o caminho do Sol,
que na maior parte das vezes não é forte, por causa de sua
frieza congrega os vapores, engrossa o ar e por causa da
pouca força de seu sopro não pode espalhar as nuvens. Tudo
isto não convém à boa disposição do corpo e por isso os
lugares voltados para o ocidente não são salutares na maior
parte dos casos.
Convém também que a cidade se incline para o norte
e para os ventos boreais, o que a fará menos propensa à
putrefação, porque os ventos que procedem do norte são mais
sadios. A razão disto é que o vento setentrional é muito
frio, seu sopro é muito forte, e por causa da força de seu
sopro espalha as nuvens e os vapores grossos purificando o
ar. Por causa da sua frieza congrega o calor interno fechando
os poros exteriormente. Por causa do primeiro, impede a
putrefação; por causa do segundo conforta a digestão, ambas
estas coisas convindo à saúde. Ao contrário, o vento austral
é quente e de sopro tortuoso. Por causa de sue calor eleva os
vapores e abre os poros e por causa de seu trajeto tortuoso
congrega as nuvens. Por isto este vento engrossa o ar, dispõe
à putrefação e debilita a digestão, coisas que são princípios
da doença, pelo que o vento austral não é salubre.
O fundador da cidade deve ser muito solícito
quanto à saúde de seus habitantes. Em primeiro lugar e
principalmente deve ser solícito quanto à boa disposição da
alma; em segundo, quanto à boa disposição do corpo no que se
ordena à alma.
A boa disposição do corpo ou a saúde parece ser
causada em primeiro lugar pela disposição da cidade em
relação a tal ou qual disposição, por exemplo, para o oriente
e para o norte, por causa da boa disposição [dos ventos que
daí decorre]. A saúde é causada em segundo lugar pelo uso das
águas bem dispostas, por exemplo, das águas doces e leves.
Por isto o fundador da cidade deve cuidar principalmente da
água e do ar, e não considerar esta matéria como acessória.
As coisas que na maior parte dos casos e freqüentissimamente
são usadas pelos homens para sustentar a vida do corpo
importam muito para a saúde e a boa disposição, e estas são a
natureza das águas e do ar. A água é usada para beber per se
e para comer pelo menos na medida em que é mesclada [com o
alimento sólido]. O ar é necessário à respiração e, portanto,
importa muito para a saúde. É necessário, portanto, que o
fundador da cidade seja muito solícito quanto à disposição
das águas e do ar, e talvez mais ainda quanto à disposição do
ar.
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