9. A verdade sobre a questão da mudança das leis.

Se alguém considerar de outro modo, verá ser muito temerário modificar leis antigas inclusive por outras melhores. De fato, pode ocorrer que a nova ordenação encontrada seja apenas um pouco melhor [do que a antiga], enquanto que acostumar-se a dissolver leis é algo imensamente mau. De onde que é manifesto que devem ser suportados alguns pequenos defeitos e erros que ocorrem aos príncipes e aos sábios quando estabelecem leis, porque aquele que as quiser mudar por causa de algo melhor não aproveitará tanto ao mudá- las quando causará dano, na medida em que acostumará os cidadãos a não observar os preceitos estabelecidos pelos príncipes.

Quanto ao exemplo que foi tomado das artes, nas quais há muitas vantagens nas mudanças, [deve-se dizer] que as mudanças na arte e na lei não são semelhantes. [As coisas que são da arte, de fato], possuem sua eficácia por causa da razão, mas a lei não possui nenhuma força para persuadir os súditos a não ser o costume, o qual, de fato, não é gerado senão depois de muito tempo. De onde que aquele que com facilidade muda a lei, o quanto é de si, debilita a [própria] força da lei.

Para as demais razões a solução é evidente. Estas, de fato, não concluem que as leis devam ser facilmente mudadas, mas sim que algumas leis, isto é, as leis más, devem ser mudadas, o que é verdade.