II. AS DELEITAÇÕES E AS TRISTEZAS


1. A primeira de três opiniões diversas dos antigos filósofos acerca das deleitações.

A alguns [filósofos] pareceu que nenhuma deleitação fosse boa, nem per se, nem por acidente. E se acontece que alguma coisa deleitável seja [um] bem, todavia o bem e a deleitação nesta coisa não são o mesmo. [Estes filósofos foram levados a esta conclusão movidos pelas razões dadas a seguir].

A primeira razão provém da definição de deleitação que estes filósofos colocavam, dizendo que a deleitação é uma geração sensível na natureza. De fato, na medida em que algo se gera sensivelmente na nossa natureza, como algo a nós conatural, por isto nos deleitamos, como é evidente ao se tormar alimento e bebida. Porém, nenhuma geração está no gênero dos fins, ao contrário, a geração é mais [uma] via [em direção] ao fim, assim como a edificação não é a casa. Ora, o bem possui razão de fim. Portanto, nenhuma geração, e por conseguinte, nenhuma deleitação, pode ser [um] bem.

[A segunda razão é a seguinte]. A prudência não é impedida por nenhum bem. É impedida, porém, pelas deleitações, e isto tanto mais quanto maiores forem [as deleitações], de onde [inclusive] parece que impeça [a prudência] per se e não por acidente, assim como é evidente nas deleitações venéreas, que são máximas, que tanto impedem a razão que ninguém que esteja [em ato] nestas deleitações pode inteligir algo em ato, pois toda a intenção da alma é trazida à deleitação. Portanto, [conclui-se daí que] a deleitação não é algum bem.