14. Resposta à segunda conclusão falsa: [a unidade da potência como consequência da unidade entre a matéria e a privação pela razão e não apenas pelo sujeito].

Deve-se mostrar que a matéria e a privação são diferentes pela razão.

A privação pertence a algo de mau, e isto é demonstrável pelo fato da forma ser algo divino, ótimo e apetecível.

A forma é divina porque o ser divino é ato puro. Mas as coisas estão em ato na medida em que têm forma. Portanto, toda forma é uma participação da semelhança do ser divino.

É ótima porque o ato é a perfeição da potência e o seu bem.

É apetecível, porque todas as coisas apetecem pela sua perfeição.

A privação, entretanto, se opõe à forma, não sendo outra coisa senão a sua remoção. De onde, sendo mau aquilo que se opõe ao bem e o remove, é manifesto que a privação pertence ao mal.

Ora, sendo a forma algo bom e apetecível, e a matéria, segundo a natureza, apetecendo-a, se não se distinguir a matéria da privação, chegaremos à conclusão que o contrário apetece a corrupção de si mesmo, o que é absurdo.

De onde fica demonstrado ser impossível que a matéria e a privação sejam o mesmo pela razão.

Deve-se esclarecer, entretanto, porque às vezes o torpe parece apetecer pelo bem e a fêmea parece apetecer pelo macho.

Não é a torpeza que apetece o bem em si mesmo contrário, a não ser por acidente, mas é aquilo ao qual ocorre a torpeza que apetece ser bem.

Não é a feminilidade que apetece a masculinidade, mas aquilo ao qual ocorre ser fêmea.

Da mesma maneira, a privação não apetece ser forma, mas aquilo a quem ocorre a privação, isto é, a matéria.