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Universalmente falando, nem estes [que favoreceram
a oligarquia], nem aqueles [que favoreceram a democracia]
alcançaram o justo de modo simples. Ora, como o justo tem que
ser tomado nas operações que se ordenam a outro, em relação
ao fim da cidade, por isso o Filósofo declara qual é o fim da
cidade, para que a partir disto fique claro o que é o justo
de modo simples, e o que é o justo segundo um certo aspecto.
O Filósofo estabelece primeiramente que uma cidade
não é instituída para o viver absolutamente falando. Se a
cidade não é instituída tendo como finalidade as riquezas,
nem tampouco é instituída por causa somente do viver, de tal
modo que o próprio viver, em si mesmo, seja o fim último da
cidade. A cidade existe mais para viver bem do que apenas
para viver.
A cidade também não existe para tornar possível a
luta [militar] em comum ou por causa das permutas [que seus
habitantes fazem] entre si.
A cidade não é instituída por causa da compugnação
contra os inimigos, de tal modo que [esta cidade] não possa
padecer injustiça. A cidade também não existe por causa das
comutações, nem por causa de algum contrato ou uso que os
homens possam fazer entre si.
Se a cidade fosse instituída por causa da
compugnação, das comutações ou dos contratos que [seus
membros] pudessem fazer entre si, então os Tuscos e os
Cartagineses e todos entre os quais há e se fazem contratos
estariam sob uma só cidade. Entre estes há pactos de coisas
introdutíveis que podem ser intercambiadas entre si, de tal
modo que as coisas de uma cidade podem ser conduzidas a outra
e comutadas. Eles possuem também convenções pelas quais não
fazem entre si injustiças quanto à compugnação, pelas quais
eles como que estão sob uma só cidade quando devem se ajudar
mutuamente contra os inimigos.
É manifesto, no entanto, que Tuscos e Cartagineses
não são uma só cidade, porque uma cidade tem que possuir um
só principado. Mas os Tuscos, os Cartagineses e outros que
possuem contratos mútuos não estão sob um só principado, mas
sob muitos.
É manifesto, ademais, que estes não estão sob uma
só cidade, porque os Tuscos não cuidam como devem ser os
Cartagineses segundo a virtude, nem vice versa, nem cuidam de
como nenhum deles seja injusto ou não possua malícia, nem
trabalham para isto, nem cooperam para o mesmo. Sua única
preocupação é que não se façam injustiças mutuamente. No
entanto, quem quer que se preocupe com a boa legislação
considera a virtude e a malícia, de tal modo que afastam a
malícia dos cidadãos e os tornam virtuosos. Esta é a intenção
do bom legislador, pela qual é manifesto que a cidade boa e
verdadeira e não apenas segundo o discurso deve ser solícita
quanto à virtude, para que torne os cidadãos virtuosos.
Embora estes não cuidem entre si como devem ser segundo a
virtude, nem trabalhem para tanto, possuem no entanto alguma
comunicação, pois se ajudam ao lutar contra os inimigos e
comunicam nas comutações e nos contratos e em outras coisas.
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