26. A maneira de inteligir os diversos entes. II.

Os que são conjuntos nas coisas podem ser inteligidos um sem o outro e de uma maneira verdadeira contanto que um deles não esteja na razão do outro. Por exemplo, se Sócrates é músico e branco, podemos inteligir a brancura, nada inteligindo da música. Mas não podemos inteligir homem, nada inteligindo de animal, porque animal está na [natureza ratio] de homem. Já, porém, se o intelecto intelige as coisas que são conjuntas como sendo separadas, isto é [uma intelecção] falsa. Exemplo: se no exemplo anterior, dissesse que o músico não é branco. Isto ocorre porque o intelecto [verdadeiro] não intelige [as coisas conjuntas em que uma delas não está na razão da outra] como sendo separadas, mas o que acontece é que o intelecto as intelige separadamente.

O intelecto, quando intelige um nariz curvo, enquanto nariz curvo, não intelige separadamente o nariz curvo da matéria sensível, porque a matéria sensível, isto é, o nariz, está incluída na definição de nariz curvo. Mas se o intelecto intelige algo em ato enquanto curvo, intelige o curvo enquanto curvo sem a carne. Não porque intelige o curvo ser sem a carne, mas porque intelige o curvo não inteligindo a carne. E isto porque a carne não é inteligida na definição de curvo. E assim o intelecto intelige todos os [entes] matemáticos separadamente. Não intelige, porém, desta maneira os naturais. Isto porque na definição dos naturais está colocada a matéria sensível, não porém na definição dos matemáticos. Todavia, de um modo semelhante, o intelecto abstrai dos naturais o universal do particular, na medida em que intelige a natureza das espécies sem os princípios individuantes, que não caem na definição da espécie.