5. Comentários ulteriores sobre a igualdade proporcional e a segurança das repúblicas.

O Filósofo retoma a consideração das causas da sedição, alargando [seus comentários].

Em todos os lugares as sedições se fazem por causa da desigualdade. [A desigualdade, porém, a que o Filósofo se refere, é a desigualdade segundo a proporção, da qual ele passa a explicar o que segue].

Não somente nos [desiguais segundo algo] pode haver uma igualdade proporcional, mas também entre os desiguais segundo algo pode haver uma desigualdade proporcional. Por exemplo, se alguém é mais digno do que os outros segundo a virtude, é digno de ser rei. Poderá, porém, não ser digno de ser rei perpetuamente, porque talvez sua dignidade em virtude não excederá tanto a dignidade dos outros quanto a dignidade do reino perpétuo excede a honra dos outros e, deste modo, também entre os desiguais pode ocorrer haver desigualdade proporcional.

Ora, de modo universal, os que estimam dever ter o igual [proporcional] e não o têm, movem sedições na república.

A proporção é na relação de duas quantidades entre si. Esta proporção pode ser considerada ou segundo a igualdade da quantidade, ou segundo a igualdade da dignidade. De fato, a igualdade [proporcional] pode ser dita segundo o número [ou segundo a quantidade] e segundo a dignidade.

Um exemplo de igualdade [proporcional] segundo a quantidade é [a igualdade segundo a proporção] do dois para p um e do três para o dois. O excesso de cada um dos dois é igual.

A igualdade [proporcional] segundo a dignidade ocorre quando dizemos que assim como o quatro está para o dois, assim o dois está para o um. Assim como, de fato, o dois é a metade do quatro, assim o um é a metade do dois.

O Filósofo afirma, em seguida, que todos querem a igualdade segundo a dignidade. O estado popular e o estado de poucos querem ambos a igualdade segundo a dignidade, mas diversamente.

Todos confessam que o justo é a igualdade segundo a dignidade, mas diferem entre si. Os que promovem o estado popular dizem que se alguns forem iguais segundo algo, por exemplo, segundo a liberdade, serão simplesmente iguais e deverão receber igualmente. Já os que promovem o estado de poucos dizem que se alguns são desiguais segundo algo, por exemplo, segundo as riquezas, serão simplesmente desiguais e mais dignos, e segundo isto deverão receber desigualmente.

Ambas estas repúblicas, porém, são mal ordenadas, isto é, o estado popular no qual se considera a igualdade segundo a liberdade e o estado de poucos no qual se considera a igualdade segundo as riquezas, pelo que ocorre que nenhuma destas repúblicas é duradoura. A razão de sua pouca durabilidade é ser impossível que naquilo que no princípio é corrompido e desordenado no fim não ocorra o mal. Ora, ambas estas repúblicas são desordenadas. Embora no princípio pareça tratar-se de uma pequena desordem, todavia depois torna-se grande, e o mal se torna evidente. Isto, porém, não pode ser duradouro.

Como ambas as repúblicas são viciadas e desordenadas, para que sejam mais duradouras é necessário que ambas às vezes façam uso da igualdade segundo a proporção aritmética, isto é, a igualdade que há do três para o dois e do dois para o um, e às vezes façam uso da igualdade segundo a proporção geométrica, isto é, a igualdade que há do quatro para o dois e do dois para o um.

No entanto, dentre estas duas repúblicas, o estado popular é mais seguro e menos propenso à sedição. [Diz o Filósofo que], embora o estado dos poucos e o estado dos muitos sejam mal ordenados, todavia o estado popular é mais seguro e menos sedicioso do que o estado de poucos. A razão disto é porque é mais segura aquela república na qual se fazem menos sedições. No estado popular, porém, há menos sedições do que no estado de poucos. De fato, no estado de poucos há duas sedições: uma, a dos ricos entre si, a outra, a dos pobres para com os ricos. No estado popular, porém, apenas há uma única sedição, a dos ricos para com os pobres. A sedição dos pobres entre si não é uma sedição que seja digna de consideração, porque entre si os pobres mais estão de acordo do que com os ricos.

A outra razão pela qual é manifesto que o estado popular é mais seguro é porque a república que é constituída [de cidadãos pertencentes ao termo] médio é mais próxima ao estado popular do que ao estado dos poucos no qual poucos dominam. A república média, porém, é a mais segura entre [as] repúblicas [que se] afastam da ótima, [e o estado popular], que está mais próximo dela [do que o estado de poucos], é mais seguro do que [este último].