5. Que há um outro objeto do intelecto, que é acerca dos princípios dos operáveis.

[Já foi anteriormente explicado como há um hábito denominado] intelecto, pelo qual o homem conhece os princípios das demonstrações, cujo conhecimento não pode ser retirado do homem, [o qual conhece por natureza estes princípios indemonstráveis em virtude da luz do intelecto agente].

[Há um outro hábito também denominado intelecto, acerca dos princípios dos operáveis]. [Ao lado do intelecto que é hábito segundo o qual o homem conhece os princípios das demonstrações, há um outro hábito também denominado intelecto, pelo qual o homem conhece os princípios dos operáveis].

[Uma primeira diferença que há entre o intelecto que é acerca dos princípios das demonstrações e o que é acerca dos princípios dos operáveis está em que o primeiro] é acerca do universal, enquanto que o segundo é acerca do singular e do contingente. Isto acontece porque o intelecto o é dos princípios, e estes singulares dos quais se diz haver intelecto são princípios por modo de causa final. E que estes singulares possam ter razão de princípio fica evidente porque a partir destes singulares, [no que é operável], se alcança o universal. De fato, por causa desta erva ter restituído a saúde a este homem, aceitou-se que esta espécie de erva tem força curativa.

[A segunda diferença entre estes hábitos está em que, embora sendo ambos hábitos naturais, o são de modos diferentes]. [O intelecto acerca dos princípios das demonstrações é um hábito natural por sê-lo totalmente pela natureza]. Já o intelecto acerca dos princípios dos operáveis, por ser intelecto acerca dos singulares, e sendo os singulares conhecidos de modo próprio pelo sentido, necessita, de algum modo, das virtudes sensitivas. Assim, destes princípios e extremos, é necessário que o homem tenha não somente um sentido exterior, mas também interior, que é a força cogitativa ou estimativa, que é dita razão do particular. Ora, estas virtudes sensitivas operam pelos órgãos corporais, [de tal maneira que] o hábito do intelecto acerca dos princípios dos operáveis é um hábito natural, não à maneira do que é acerca dos princípios das demonstrações, que é] totalmente pela natureza, mas pelo fato de que, por disposição natural do corpo, algumas [pessoas] são prontas a este hábito, [de modo que] por uma pequena experiência já se tornam perfeitos nele.

É sinal de que este hábito esteja em alguns segundo a natureza o fato de estimarmos que são conseqüência da idade dos homens, segundo a qual a natureza corporal se transmuta. Há, de fato, uma idade, que é a idade senil, que por causa da quietação das transmutações corporais e animais, o homem possui intelecto e gnome, como se a natureza fosse causa deles.

Assim se conclui que o intelecto que é dos princípios dos operáveis, se adquire pela experiência, pela idade, e se aperfeiçoa pela prudência. Conseqüência disto é o ser necessário ouvir as coisas que opinam e anunciam acerca dos agíveis os homens experientes, os velhos e os prudentes. Embora estes homens não nos forneçam demonstrações, todavia devem ser [procurados] não menos do que as próprias demonstrações, e até mesmo mais. Isto porque tais homens, pelo fato de possuírem experiência [de coisas vistas], isto é, um reto julgamento acerca dos operáveis, enxergam os princípios dos operáveis, [os quais] princípios são mais certos do que as conclusões das demonstrações.