9. Toda virtude moral é acerca de prazeres e tristezas.

Toda virtude moral é acerca de prazeres e tristezas. Esta afirmação não deve ser entendida como sendo que toda virtude moral é acerca de prazeres e tristezas como acerca de sua matéria própria. Com isto quer se dizer que em toda virtude moral se requer que cada um se deleite e se entristeça [conforme necessário]. Segundo isto, a virtude moral é acerca dos prazeres e tristezas, porque a intenção de qualquer virtude moral é que cada um corretamente se [comporte] deleitando-se ou entristecendo-se.

Toda virtude moral é acerca de atos, como a justiça, que é acerca de vendas e outras coisas assim, ou acerca de paixões, como a mansidão, que é acerca da ira. Mas a toda paixão segue-se a deleitação ou a tristeza. Porque as paixões da alma nada mais são do que movimentos da virtude apetitiva em busca do bem ou na fuga do mal. Assim, alcançando o bem ao qual o apetite tendia, ou evitando o mal do qual se refugiava, segue-se a deleitação. Quando se dá o contrário, segue-se a tristeza. Portanto, conclui-se que toda virtude moral é acerca de deleitações e tristezas como acerca de certos fins.

Está também explicado em outro lugar que pelo mesmo, feito de modo contrário, a virtude se gera e se corrompe. De fato, nós vemos que pelo prazer e pela tristeza a virtude pode corromper-se, porque pela concupiscência do prazer operamos o mal, e por causa da tristeza que tememos nos trabalhos honestos nos afastamos das operações virtuosas. Por isso é que Platão dizia que aquele que tende à virtude desde a juventude deve ser de alguma forma guiado para que se alegre e se entristeça com aquilo [que convém]. De fato, isto é a disciplina correta dos jovens, para que se acostumem a se deleitar nas boas obras e se entristeçam nas más. Por isso, os instrutores de jovens, ao procederem bem os aplaudem, ao procederem mal os repreendem. [De onde se conclui que a intenção da virtude moral é que o que tem a virtude proceda corretamente pela deleitação ou pela tristeza].