2. Levanta-se uma objeção: a prudência ou a política parecem ser as principais virtudes intelectuais.

Alguns atribuíram a principalidade entre todas as ciências à política, pela qual governa-se uma multidão, ou à prudência, pela qual alguém governa a si mesmo, fazendo mais atenção à utilidade, do que à dignidade da ciência. Ora, as ciências especulativas, conforme explicado no princípio da Metafísica, não são buscadas como úteis para algo, mas como algo honorável por si mesmo.

[A estes argumerntos devemos dizer que] é [muito] inconveniente que alguém julgue a prudência ou a política ser ciência ótima entre as ciências. Isso não poderia ser, a não ser que o homem fosse a mais excelente das coisas que estão no mundo. De fato, entre as ciências, uma é melhor e mais honorável do que outra, pelo fato de ser [ciência] de coisas melhores e mais honoráveis. Ora, que o homem seja a mais excelente entre todas [as coisas] que há no mundo é [coisa] falsa, porque há outras coisas que segundo a sua natureza são muito mais divinas por causa de sua excelência, do que o homem. E, se [quanto a isto], calarmos de Deus e das substâncias separadas, os quais não caem debaixo dos sentidos, também entre as coisas que são manifestíssimas aos sentidos, há os corpos celestes que são melhores do que o homem, tanto se os compararmos com o corpo, como se compararmos as substâncias moventes à alma humana. De onde que se conclui que nem a política, nem a prudência, que são acerca das coisas humanas, são as mais excelentes entre as ciências.