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O Filósofo a seguir levanta duas dúvidas para a
[melhor] declaração do que foi dito. Ele diz que sobre o que
foi tratado ocorrem duas dúvidas, que são dignas de
consideração, para a [maior] evidência do que foi dito e do
que irá ser tratado em seguida.
A primeira é que, se há duas vidas principais do
homem, que são a vida prática e a vida especulativa, qual
destas duas mais deve ser escolhida, se aquela que consiste
na comunicação civil vivendo simultaneamente de modo civil,
isto é, a vida ativa, ou aquela que é peregrina e absolvida
desta comunicação civil, isto é, a contemplativa. O Filósofo
chama de vida contemplativa a vida absolvida e peregrina,
porque esta consiste principalmente na aplicação do homem
segundo a inteligência ao seu primeiro e ótimo objeto, o que
não pode ser sem a sedação dos movimentos e das perturbações
sem as quais não há vida civil e, por isso importa que ela
seja absolvida da comunicação civil e, por conseqüência,
peregrina. Chama-se peregrino aquilo que está distante do
hábito costumeiro. Ora, em geral a vida costumeira do homem é
a vida civil. Este é o motivo pelo qual Eustrato, comentando
o Primeiro Livro da Ética de Aristóteles, afirma que o homem
especulativo está separado do corpo e das coisas sensíveis
segundo a escolha, embora não segundo a coisa.
A segunda dúvida é qual seria a república ótima de
modo simples, e qual seria a ótima ordenação da cidade,
supondo que todos os homens, ou pelo menos a maioria, queiram
mais escolher a vida civil [do que a contemplativa], ainda
que nem todos decidam viver civilmente. Há, de fato, alguns
homens que não podem comunicar a vida civil por um defeito de
natureza ou de costume, como os homens bestiais, e alguns
outros que não escolhem a vida civil porque, como entes que
conseguiram aproximar-se da divindade, entendem já serem
suficientes per se, sem que necessitem da vida civil. A
maioria dos homens, entretanto, escolhe a vida civil.
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