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[É impossível existir movimento do movimento].
Se houvesse movimento do movimento, isto poderia acontecer
de duas maneiras. Ou haveria movimento do movimento como de
um seu sujeito, [como se disséssemos que o movimento
moveria um movimento], ou haveria movimento do movimento
como de um término, [como se disséssemos que haveria um
movimento que consistiria em passar de um movimento a outro
movimento].
Ambas estas alternativas são impossíveis.
[É também impossível existir movimento do
movimento como de um sujeito]. Dir-se-ia movimento do
movimento como de um seu sujeito do mesmo modo como se
diria existir movimento do homem, porque este homem estaria
sendo movido do branco ao preto, por exemplo. Desta
maneira, o movimento será movido, ou esquentando-se, ou
esfriando-se ou mudando segundo o lugar, ou aumentando
[segundo a quantidade]. Ora, isto é impossível, porque o
movimento não pode ser sujeito do calor ou frio, ou de
algum destes outros [acidentes]. Portanto, não existe
movimento do movimento, [entendido] como de seu sujeito.
[É impossível igualmente existir movimento do
movimento como de um término]. Isto se daria se disséssemos
haver um movimento pelo qual passamos de uma espécie de
movimento a outra [espécie de movimento]. Ora, pode-se
demonstrar que isto é impossível, a não ser por acidente.
Se existisse alguma permutação de uma permutação em outra,
por exemplo, uma permutação do adoecimento em alguma outra
permutação, seguir-se-ia que simultaneamente enquanto algo
permuta da saúde à doença, permutaria desta permutação em
outra permutação. Porém, como toda mutação é uma mutação de
um oposto a outro, segue-se que se existe permutação de
mutação a mutação, esta sempre seja em direção à mutação
oposta. De onde se seguiria que, enquanto algo muda em
direção a um dos opostos, permutaria simultaneamente à
mutação que se dirige ao outro oposto, o que é impossível,
porque significaria que a intenção da natureza tenderia
simultaneamente a dois opostos. Assim, não é possível que
haja mutação per se de uma permutação em outra. O que
ocorre na verdade é que uma mutação sucede a outra.
Acontece, de fato, que a esta mutação pela qual algo é
movido da saúde à doença suceda alguma outra mutação, como
um esbranquiçamento, uma mutação segundo o lugar ou
qualquer outra, [e não necessariamente a mutação oposta].
Trata-se, porém, de uma [permutação de mutação a mutação]
por acidente, porque o sujeito permuta ora a um término,
ora a outro, mas sem existir intenção do movente que,
enquanto simultaneamente permuta em algo, pretenda permutar
em outro.
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