|
[Acerca do intelecto], os antigos filósofos
tiveram duas opiniões acerca deste ponto. A primeira, de que,
já que o intelecto conhece tudo, deve ser composto de todos
os princípios. A segunda, de que o intelecto é simples e não
misturado, não apresentando nada de comum com as coisas
corporais.
[Mas, na posição de Aristóteles], pelo fato de que
o intelecto [possível] não é inteligente em ato, mas em
potência, o Filósofo conclui que, pelo fato de que o
intelecto intelige em potência a todas as coisas, ele não
pode ser misturado com as coisas corporais, mas deve ser não
misturado, [não composto de princípios materiais].
[A explicação disto é que] tudo o que está em
potência a alguma coisa e é recptivo desta alguma coisa,
carece daquilo a que está em potência e do que é receptivo.
[Por exemplo], a pupila, que está em potência em relação às
cores, e é receptiva das cores, carece de toda a cor. Ora, o
intelecto está em potência ao inteligível e é receptivo dos
inteligíveis assim como o sentido ao sensível. Portanto,
carece de todas aquelas coisas para as quais está apto a
inteligir. O intelecto é apto para inteligir todas as coisas
sensíveis e corporais. Portanto, e necessário que careça de
toda a natureza corporal, assim como o sentido da visão
carece de toda a cor. Se, de fato, o sentido da visão tivesse
alguma cor, aquela cor lhe impediria de ver outras cores.
Assim também o intelecto, se tivesse alguma natureza
determinada, esta natureza lhe proibiria de conhecer as
demais naturezas.
Conclui-se, portanto, que o intelecto somente
apresenta esta natureza, que é possível em relação a tudo. E
porque o intelecto não é cognoscitivo de um único gênero de
sensível, mas universalmente de toda a natureza sensível,
assim como a visão carece de um certo gênero de sensível,
assim importa que o intelecto careça de toda a natureza
sensível.
[Como observação final, o Filósofo coloca que],
para que não se creia que isto seja verdade de qualquer
intelecto, que seja em potência a todos os inteligíveis,
antes que intelija, [Aristóteles] observa que ele está
falando do intelecto pelo qual a alma opina e intelige. Esta
observação é para que se preserve o intelecto divino, que não
é em potência, mas de alguma forma é intelecto de tudo.
|
|