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O princípio de nossas considerações deverá ser
tomado a partir daquilo que primeiro ocorre que deve ser
considerado segundo a natureza da cidade. Como a cidade é uma
comunidade, é necessário considerar em primeiro lugar se
todos os cidadãos devem comunicar em tudo, ou em nada ou em
algumas coisas [com exclusão] de outras.
Ora, é impossível dizer que os cidadãos não devem
comunicar em nada, o que se demonstra de duas maneiras.
Primeiro, porque a cidade é uma certa comunicação.
De onde que seria contra a razão da cidade que os cidadãos
não comunicassem em nada. Segundo, porque é manifesto que
todos os cidadãos necessitam comunicar, pelo menos pelo
lugar, porque há um só lugar para uma só cidade.
De onde que esta dúvida [verdadeiramente se
levanta] em relação a se é melhor que a cidade que deva bem
conversar comunique de tal maneira que tudo possa ser
comunicado entre todos ou se em algumas coisas deve haver
esta comunicação enquanto que em outras não. De fato, há
algumas coisas que não é possível comunicar de nenhum modo,
como naquelas coisas inteiramente pessoais como os membros do
corpo. Mas quanto aos filhos, às esposas e às pessoas pode
ocorrer que os cidadãos as comuniquem entre si, conforme se
coloca na Política de Platão, onde Sócrates diz que é
necessário para a cidade perfeita que as posses de todos os
cidadãos e também as suas mulheres sejam comuns, de tal
maneira que todos indiferentemente tenham acesso a tudo e,
por conseqüência, que os próprios filhos sejam comuns pela
incerteza [da paternidade], o que é tratado no princípio do
Timeu.
Mas a posição de Sócrates é reprovável, primeiro
no que diz respeito à comunicação das esposas e dos filhos,
segundo, quanto à comunidade das posses e, terceiro, quanto a
ambos.
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