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A fortaleza não é acerca do temor de qualquer mal.
[Portanto, devemos declarar primeiro acerca do temor de quais
males não é a fortaleza, para depois declarar acerca do temor
de quais males é a fortaleza].
[A fortaleza não diz respeito ao temor da
infâmia]. [Isso pode ser mostrado pelo fato de que] o forte é
louvado por não temer. Ora, existem coisas que é necessário
temer para bem viver. [E não só isso], como também é bom
temer estas coisas na medida em que o próprio temor não
somente é necessário à conservação da honestidade, mas também
o próprio temor é algo honesto. Isto é patente na infâmia,
porque quem teme, é louvado como decente, enquanto que aquele
que a semelhante mal não teme, é vituperado.
Portanto, é patente que a fortaleza não pode ser
acerca do temor de tais males.
[A fortaleza não diz respeito ao temor da
pobreza]. O motivo pelo qual a fortaleza não diz respeito ao
temor da pobreza, nem da enfermidade é porque nenhuma delas
pertence à malícia do homem, no sentido em que o próprio
homem não é a sua causa. Portanto, estas coisas, [a pobreza e
a enfermidade, não é necessário temer]. De fato, em vão o
homem temerá as coisas que não pode evitar. Ao contrário, o
homem deve temer as coisas nas quais poderá cair por sua
própria malícia, porque assim o temor será útil para evitá-
las. Portanto, como não importa temer a [pobreza], quem a
esta permanece impávido, não é chamado forte a não ser talvez
segundo uma semelhança, porque não temer a pobreza parece
pertencer a uma outra virtude, chamada de liberalidade, por
cujo ato alguém é levado a gastar audaciosamente o [seu]
dinheiro.
[E, além disso, é fácil ver que os liberais não
são fortes necessariamente, porque poderão] perante maiores
perigos como os da guerra se tornar tímidos. Portanto, não há
fortaleza no que diz respeito ao temor da pobreza.
[A fortaleza não diz respeito a qualquer temor de
males pessoais]. Nenhum homem é dito tímido porque tema que
seja injuriado ou invejado, ou os seus filhos e sua esposa,
ou outros [males semelhantes]. Também ninguém é dito forte
porque não teme os flagelos, mas antes enfrenta com audácia
os flagelos, porque estes não são maximamente terríveis.
Alguém será dito forte de modo simples pelo fato que é forte
acerca do que é maximamente terrível. Quem em algumas outras
coisas for intrépido, não será dito forte de modo simples,
mas naquele gênero.
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