6. Quando e em qual disposição algo existente é dito estar em potência ao ato.

Devemos determinar quando algo está em potência e quando não. De fato, não é em qualquer tempo e em qualquer disposição que algo pode ser dito ser em potência, inclusive em relação àquilo que é feito a partir dele. Por exemplo, nunca poderá ser dito que a terra está em potência ao homem. Isto é manifesto que não. O esperma já [pode ser dito] estar em potência ao homem, e ainda talvez nem assim, conforme será explicado adiante.

[Em que disposição a matéria existente é dita estar em potência ao ato?] Conforme foi explicado no livro VII, os efeitos de algumas artes ocorrem também sem a arte. As causas não se fazem sem a arte, mas a saúde pode ser feita sem a arte da Medicina, somente pela operação da natureza. Ora, não é qualquer coisa ou em qualquer disposição existente que é levada à saúde pela Medicina ou pela natureza, mas algo é possível de ser levado à saúde pela natureza ou pela arte em determinada disposição. Aquilo que é possível que por uma única operação da natureza ou da arte seja levado à saúde em ato é dito são em potência.

[Vamos explicar isto] mais plenamente, quanto à operação da arte e quanto à operação da natureza. É dito ser são em potência aquilo que por uma [única] operação da arte se torna são. Nas coisas que se fazem sãs pela natureza, estas são ditas em potência à saúde, quando não existe algo que impeça a saúde que deve ser movido ou transformado antes que a virtude [intrinsecamente] sanativa tenha efeito em sanar. E assim como dizemos da saúde que é feita pela arte, assim pode ser dito das demais coisas que são feitas pela arte. Por exemplo, a matéria está em potência à casa, quando nenhuma das coisas que estão na matéria proíbe a casa de ser feita prontamente por uma [única] ação, nem há nada que precise ser adicionado, ou retirado, ou mudado, antes que a matéria seja informada em casa. É assim que das árvores é preciso retirar e acrescentar até que [por elas] se [possa] compor uma casa. De onde que as árvores não estão em potência à casa, mas sim, a madeira já preparada. E semelhantemente ocorre nas demais [coisas], tanto se tiverem princípio de perfeição externo, como o são as coisas artificiais, ou internos, como o são as naturais. [Estas coisas] sempre estão em potência ao ato quando não houver impedimento externo e puderem ser reduzidos ao ato pelo próprio princípio ativo. O esperma não se enquadra neste caso, porque é necessário que o animal se faça a partir dele mediante muitas permutações. Mas, quando já pelo próprio princípio ativo possa ser feito existente em ato, então a coisa já está em potência. Aquelas coisas que é necessário serem transmutadas antes que sejam prontamente reduzíveis ao ato, necessitam de outro princípio ativo, a saber [um princípio] preparante da matéria, que é outro que não o perficiente, que induz a última forma. Assim fica patente que a terra não está em potência à estátua, porque nem por uma ação e nem por um agente é reduzido ao ato, mas primeiramente pela natureza deve ser transmutada e tornada cobre, e depois então pela arte será feita estátua.