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Depois que o Filósofo investigou as coisas que
devem ser supostas por parte da magnitude da cidade civil,
passa a investigar agora as coisas que devem ser supostas por
parte das regiões adjacentes.
A região adjacente à cidade deve ser procurada na
medida em que é útil para bem viver civilmente. O Filósofo
declara primeiro a qualidade e a quantidade que deverá ter a
região; investigará, depois, também a sua localização.
Como toda região é procurada por causa dos
cidadãos ou para o uso dos mesmos, convém que a região seja
proporcionada aos cidadãos e que a disposição da mesma seja
procurada segundo o que compete ao uso dos cidadãos.
É manifesto, no tocante à qualidade que convém que
a região deva ter, que ela deverá ser per se suficiente para
o uso dos habitantes. Todos louvam uma região tal que seja
suficiente para tudo aquilo que é necessário para bem viver.
Convém que uma região assim seja fértil e que possa produzir
todas as coisas a partir das quais a natureza humana
sustenta-se pela bebida e pela comida. Dizemos ser per se
suficiente a região quer tudo tem e à qual nada falta.
Importa que a região seja, segundo a qualidade, tal que possa
produzir tudo o que é necessário à suficiência da vida per
se. Poderá fazê-lo se for temperada segundo as qualidades
primárias, o quente, o frio, o húmido e o seco, e que lhe
convirá pela relação adequada à figura celeste e à disposição
do lugar.
Quanto à quantidade, convém que a região seja
tanta segundo a magnitude total e segundo a multidão
considerada na diversidade das terras cultivadas e não
cultivadas, aptas ao cultivo e ao pasto, [e outras diferenças
de uso semelhantes], de tal modo que os homens possam viver
segundo o que compete ao homem, isto é segundo a virtude. Por
isso, tanta convém ser a região quanta for necessária para
que nela os habitantes possam viver segundo a virtude que é
diretiva das coisas pelas quais a natureza se sustenta, que
são a temperança e a liberalidade. A temperança é a virtude
segundo a qual a natureza se sustenta absolutamente; a
liberalidade é [a virtude segundo a qual a natureza se
sustenta] em comparação a outro. A região [adjacente à
cidade] importa que seja aquela pela qual os habitantes
possam viver com temperança, não declinado para as delícias,
e liberalmente, não retraídos pela tenacidade. Se este termo
da magnitude da cidade está ou não bem assinalado, trata-se
de algo que será diligentemente considerado mais adiante,
quando considerarmos a posse e a abundância dos bens.
Há muitas e contrárias dúvidas entre os homens
sobre se este limite da magnitude da cidade está bem
assinalado ou não, sobre quanta deve ser a região e como deve
ser ordenada ao uso. Isto se deve às inclinações naturais dos
homens a ambos os excessos [acima mencionados], alguns para
as delícias e a intemperança, outros para a avareza. Os
homens, de fato, no que diz respeito aos agíveis, e talvez
até mesmo no que diz respeito aos especuláveis, costumam
formar opinião segundo suas inclinações, de tal modo que
aqueles que se inclinam às delícias opinam que nisto consiste
o sumo bem, e que as riquezas debem ser procuradas na medida
em que são úteis para a vida em delícias e, tais como estes,
assim também semelhantemente opinam outros homens, em sua
maioria. Isto lhes ocorre por causa da enfermidade de seus
intelectos que não lhes permite superar o sentido, nem
discutir a verdade [independentemente] da inclinação de suas
naturezas.
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