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Alguém poderia dizer que a lei deve governar, não
o homem.
Em favor desta posição pode-se dizer que é mau e
injusto que o homem governe, e não a lei, porque o homem tem
paixões que lhe são conjuntas. Ora, as paixões distraem a
vontade e a fazem desviar do reto fim, e por conseqüência
pervertem o julgamento da razão. A lei, porém, não possui
paixões, razão pela qual não ocorre que pela lei nos
desviamos do reto julgamento da razão. Como é melhor e mais
justo que governe aquele que não pode desviar-se do reto fim
do que aquele que o pode, e o homem pode desviar-se do reto
fim enquanto que a lei não o pode, pareceria ser manifesto
que seja a lei quem deve governar, e não o homem.
Porém, ao contrário, também parece não ser verdade
que seja justo que a lei domine universalmente, porque as
leis pertencerão a uma oligarquia ou a uma democracia e,
portanto, tais leis serão dadas e ordenadas aos fins de uma
minoria ou uma maioria. [Na minoria dos ricos ou na maioria
dos pobres] supomos que não haja um reto fim considerado de
modo simples, conforme já explicado. Portanto, sequer estas
leis serão também justas de modo simples. Disto fica
manifesto que não difere que se diga que deve ser a lei ou
algum grupo de homens que governe, pois em ambos os casos
ocorrerão os mesmos inconvenientes, conforme foi
anteriormente explicado de cada um deles.
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