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Aristóteles pretende demonstrar que não existe um
bem separado do modo como foi colocado pelos Platônicos, e
depois disso, pretende demonstrar que mesmo que existisse, a
felicidade humana não consistiria nesse [bem separado,
entendido como] uma certa idéia comum de bem. De fato, deve-
se considerar em primeiro lugar que Aristóteles não pretendeu
reprovar a opinião de Platão, quanto ao fato que este
colocava um bem separado, do qual dependem todos os bens. E
isto porque o próprio Aristóteles no décimo segundo livro da
Metafísica mostrou que existe um certo bem separado de todo o
universo, ao qual todo o universo se ordena, como o exército
ao bem do comandante. O que Aristóteles reprova é a opinião
de Platão quanto ao fato dele colocar ser este bem separado
uma certa idéia comum a todos os bens. [E isto Aristóteles
demonstra que não pode existir, demonstração que, contudo, é
omitida nesta compilação].
Porém, ainda que existisse um tal bem separado, a
felicidade humana não poderia consistir nele, e o motivo
disto é porque se existisse um bem univocamente predicado de
todos os bens que existisse por si mesmo separado, não seria
tal que pudesse ser operado ou possuído pelo homem. Mas a
felicidade que aqui procuramos é algo assim. Buscamos, de
fato, a felicidade que é fim dos atos humanos. Ora, o fim do
homem ou é sua própria operação, ou alguma coisa exterior;
[se for alguma coisa exterior], será fim do homem ou porque é
o fim de alguma operação do homem, como a casa é o fim da
operação de edificação, ou porque é possuído assim como as
coisas que [são por ele] usadas. É manifesto, porém, que o
bem separado como foi colocado pelos Platônicos não pode ser
uma operação do homem, nem pode ser algo feito pelo homem, e
nem pode ser possuído pelo homem como possuímos as coisas que
usamos nesta vida. De onde se conclui que este bem comum
separado colocado pelos Platônicos não pode ser o bem do
homem que aqui buscamos.
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