3. Os virtuosos podem mover dissensões justissimamente, mas freqüentemente não o fazem.

Há alguns que com justiça podem mover dissensões na cidade e todavia não o fazem. Há alguns entre todos que podem mover justissimamente uma dissensão na cidade e, todavia, não o fazem; são os homens virtuosos que sobrepassam a todos os demais segundo a virtude.

A razão para tanto é que aqueles que são desiguais de modo simples, se não receberem segundo esta desigualdade, a injustiça que lhes é feita é uma injustiça de modo simples. Ora, os virtuosos são, simplesmente considerados, desiguais em relação aos outros, já que os excedem segundo a virtude. Portanto, se não receberem segundo esta desigualdade, faz-se- lhes injustiça. E, por excederem aos demais naquilo que é o bem de modo simples, justissimamente podem mover uma dissensão, mas não o fazem por duas causas.

A primeira é porque freqüentemente ocorre, por causa da dissensão, um detrimento do bem comum. O sábio, entretanto, no mais das vezes mais ama o bem comum do que o bem próprio e por isso não promove dissensões.

A segunda razão é porque para que alguém deva mover uma sedição na cidade é necessário que tenha uma justa causa e poder. Mas estes virtuosos freqüentemente não têm este poder, nem consideram que tenham justa causa e, por isso, não movem a dissensão. Mas se concorrerem a posse da justa causa e o poder, e não houver detrimento do bem comum, moverão a sedição racionalmente, e pecariam se não a movessem.