3. Como erraram alguns que trataram sobre política.

É manifesto, pelo que foi dito, que o político considera a política de modo simples. Portanto, considerando a política, considera aquela que é ótima. Se, de fato, em uma cidade há muitos cidadãos virtuosos que excedem a outros na virtude, supostas estas coisas, estes [devem] ser regidos pela política ótima.

Mas, ademais, ao político pertence considerar a política que se fundamenta na suposição de algo que não é o bom de modo simples. Se existe uma política como esta, importa considerar no princípio como ela pode ser estabelecida, e como ela pode ser conservada por muito tempo. Portanto, além de todas estas coisas, o político considera também qual política é adequada a qual cidade.

[Houve, porém, estudiosos da política que erraram por defeito das considerações que o Filósofo acaba de fazer]. O político deve considerar a política ótima de modo simples e a política boa por suposição, que é adequada a muitos cidadãos, tal como o médico que não apenas considera a saúde de modo simples, mas a saúde que compete a este homem [individualmente considerado]. Nisto muitos dos que trataram da política falharam, na medida em que o político não apenas deve considerar da política simplesmente ótima, mas também daquela ótima por suposição, e tudo aquilo que convém a cada uma e que são possíveis. Ora, alguns apenas determinaram sobre a política ótima, que muitos não possuem e que pode ser alcançada por poucos. Por este motivo estes somente consideraram sobre aquelas coisas que dificilmente ou nunca podem existir. Outros, entretanto, falharam por considerarem apenas a política mais comum, nada dizendo sobre a política ótima.

[Todos estes são reprováveis porque], querendo corrigir alguma política é necessário encontrar um tal modo e uma tal ordem pela qual os cidadãos possam ser facilmente persuadidos e possam prosseguir com facilidade. Não foi assim que estes fizeram, e por isso erraram ao corrigir.

Ademais, além do que foi dito, é necessário que o político considere pelo que e como é possível auxiliar às políticas existentes, quando há erros nas mesmas, assim como o Filósofo fêz nos livros precedentes. Ora, isto não pode ser feito a não ser que seja manifesto quais as diferenças e as espécies das políticas, já que não é possível alguém ser auxiliado per se naquilo que não conhece.

É necessário que o político considere acerca das diferenças das leis, quais são ótimas segundo cada política e quais e de que tipo são convenientes a cada uma delas. A razão é que todas as leis são feitas ou devem ser feitas segundo o que compete a cada política per se e não, inversamente, ordenando as políticas segundo o que compete às leis. A política, de fato, é a ordem dos principados na cidade, segundo a qual estes principados são distribuídos segundo a razão; segundo esta ordem é determinado quem deve governar na cidade e qual é a finalidade da comunicação dos cidadãos. Ora, todas estas coisas são determinadas pelas leis.

As leis, consideradas separadamente, isto é, tomadas isoladamente, são enunciações de coisas a serem feitas que significam a ordem mencionada, isto é, qual é o fim da cidade, quem e de que modo convém que governe e como deve se proceder em relação aos que as transgridem.