9. A natureza. Modos de dizer a natureza.

De uma primeira maneira, natureza é dita ser a geração dos seres viventes. A geração dos seres não viventes não pode ser dita natureza segundo o uso comum deste vocábulo, mas apenas a geração dos viventes.

Pelo fato de que por um primeiro modo a natividade é dita natureza, segue-se o segundo modo, pelo qual o princípio da geração segundo o qual algo é gerado como um princípio intrínseco é dito natureza.

Segundo a semelhança da natividade aos demais movimentos, diz-se natureza de um terceiro modo o princípio de movimento em qualquer ente segundo a natureza, que esteja [neste ente] enquanto tal, e não por acidente.

Segundo o terceiro modo, o princípio de movimento das coisas naturais é dito natureza. Ora, pareceu a alguns que o princípio de movimento das coisas naturais fosse a matéria, de onde se seguia que diziam que a matéria seria a natureza. Porque seria o princípio da coisa quanto ao ser e quanto ao tornar-se. E como estes filósofos pensavam que a matéria e a forma existiam nas coisas naturais de uma maneira semelhante à maneira como elas existem nas coisas artificiais, nas quais a forma é acidente e somente a matéria é substância, visto que as disposições da forma não permanecem na geração, introduzindo-se uma forma quando sai a outra. Por causa disso a forma parecia ser um acidente, e somente a matéria era dita substância e natureza.

[Mas] porque o movimento das coisas naturais mais é causado pela forma do que pela matéria, por isso, de um quinto modo, a forma é dita natureza. Por esta quinta forma, a natureza é dita da própria substância, isto é, a forma das coisas existentes segundo a natureza. Os filósofos que colocaram a forma ser natureza eram induzidos pela seguinte razão, porque as coisas que são e se fazem naturalmente são ditas ter natureza, existindo a matéria pela qual são [aptas] a tornar se ou a ser, a não ser que tenham espécie própria e a forma, pela qual se segue a espécie.