8. Observação sobre as virtudes da guerra.

Vemos que muitas cidades, enquanto estão em algum exercício de guerra contra seus inimigos, se salvam. Quando, porém, alcançam a vitória contra os seus adversários e passam a viver em paz, sua república se corrompe.

De fato, os guerreiros possuem muitas virtudes, assim como foi dito antes, por exemplo, a fortaleza, a liberalidade e a religião, por causa das quais são menos injuriosos entre si. Quando conseguem a paz, não tendo mais ocasião de exercitar em ato estas virtudes, entregam-se aos prazeres reunindo as riquezas pelas quais julgam poderem viver voluptuosamente. Ao fazerem isto, tornam-se injuriosos entre si e induzem a sedição. Conduzindo uma vida delicada e tranqüila, como que contraem a ferrugem dos maus hábitos e costumes, enquanto que, ao se exercitarem na guerra, purificam-se pelos atos das virtudes, como o ferro, que tão facilmente contrai a ferrugem, mas que, ao ser trabalhado e ser consumido pelo uso, clarifica-se e purifica-se, conforme diz Sêneca.

A causa disto, porém, foi o próprio legislador, que não lhes ordenou ocupação honesta às quais pudessem dedicar-se quando cessasse a guerra, como o exercício da Filosofia e de suas partes. Esta, de fato, conforme diz o Filósofo no Décimo Livro da Ética, possui muitas e admiráveis deleitações por causa de sua pureza e firmeza.