2. A origem das monarquias e tiranias.

Tanto a monarquia como a tirania geram-se a partir de contrários. O reino é instituído para auxílio dos bons contra a multidão, para que a multidão não oprima os homens virtuosos. O rei, nestes casos, é tomado dentre os homens virtuosos como alguém que os excede segundo a virtude ou na obra da virtude, ou é tomado segundo a nobreza da descendência, [por proceder de uma família que possui estas qualidades], para que estes não sejam oprimidos pela multidão.

A tirania tem sua origem do próprio povo, a partir do povo e da multidão [em dissensão] contra os ricos e insignes, para que o povo não seja mais molestado pelos ricos. Isto é algo manifesto [pela experiência de fatos] já ocorridos. Muitos tiranos se fizeram [a partir de homens que antes] eram condutores do povo, aos quais o povo dava muito crédito pelo fato de que de muito boa vontade impunham crimes aos ricos por meio de calúnias. [Este é o modo pelo qual surgem as tiranias nas épocas em que as cidades já se tinham tornado bastante grandes]. Antes dessa época, porém, algumas tiranias se originaram de reis que transgrediam as leis e costumes paternos nos quais haviam sido educados e que mais queriam governar por um principado dominativo, que é do senhor ao servo, querendo usar dos súditos como se fossem servos.

Outras vezes os tiranos se fizeram a partir daqueles que foram eleitos para os principados mais excelentes e poderosos. Antigamente, de fato, o povo instituía muitos governantes e reitores do povo. Acontecia então que alguns mais perversos traziam para si o domínio da cidade e tiranizavam. Outras vezes ainda os tiranos se fizeram a partir da potência de poucos, quando os homens escolhiam um homem poderoso para algum dos principados máximos, o qual depois se tornava um tirano.

O reino, conforme já mencionado anteriormente, institui-se como o estado dos ótimos, que é instituído segundo a dignidade da virtude ou da descendência, ou por causa de um benefício concedido a uma região, ou por causa de todas estas coisas simultaneamente com o poder. Isto é evidente porque todos os reis antigos, conforme já foi mencionado, tendo feito algum benefício à cidade ou ao povo de uma região, [por causa da virtude] ou porque eram poderosos para beneficiar, receberam a honra de terem sido tomados como reis. Codro, por exemplo, que lutou contra os adversários da cidade e impediu-os de se tornarem seus servos, foi feito rei. Outros, como Ciro que libertou os persas da servidão do rei dos Caldeus, foi feito rei da Pérsia. Outros foram feitos reis porque constituíram uma cidade, outros ainda porque adquiriram uma região, como os reis dos Lacedemônios, dos Macedônios e dos Molosios.