17. Nas substâncias separadas podem ser encontrados o gênero, a espécie e a diferença.

Pelo fato de nas substâncias separadas a quididade não ser idêntica ao ser, se segue que elas são ordenáveis em predicamento. Por causa disso nelas são encontrados gênero, espécies e diferenças, embora suas diferenças próprias nos sejam ocultas.

[Não somente nas substâncias separadas, mas também] nas coisas sensíveis as diferenças essenciais são por nós ignoradas. Nelas, as diferenças essenciais são significadas pelas diferenças acidentais que se originam das essenciais, assim como a causa pode ser significada pelo seu efeito. É assim que bípede é dito ser diferença de homem. Porém, nas substâncias imateriais, até os seus acidentes próprios no são ocultos, de onde se segue que as suas diferenças nem por si nem pelas diferenças acidentais podem ser por nós significadas.

Deve-se saber que o gênero e a diferença não são tomados do mesmo modo nas substâncias separadas e nas substâncias sensíveis.

Nas substâncias sensíveis, o gênero é tomado daquilo que é material na coisa. A diferença é tomada daquilo que é formal na coisa.

Não que a forma seja a diferença, mas sim que a forma é princípio da diferença. Por isso é que se diz que a diferença [nas substâncias sensíveis] é tomada daquilo que é parte da quididade da coisa, isto é, da forma.

Como as substâncias espirituais são simples quididade, não é possível que nelas a diferença seja tomada daquilo que é parte da quididade, mas deverá ser tomada de toda a quididade. De modo semelhante também, nestas substâncias, o gênero é tomado de toda a essência, todavia de modo diferente [de como foi tomada a diferença]. As substâncias imateriais têm em comum a imaterialidade, diferindo, todavia pelo grau da perfeição, na medida em que se afastam da potencialidade e se aproximam do ato puro. Por isso o gênero é tomado nelas daquilo que lhes é conseqüente enquanto imateriais, como a intelectualidade ou alguma outra coisa tal. E a diferença lhes é tomada naquilo que nelas se segue ao seu grau de perfeição, todavia por nós desconhecido.