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Depois que o Filósofo declarou quais são as partes
da cidade per se, e quais não, e que convém que os
agricultores não sejam partes da mesma, passa a investigar
sobre a divisão das terras da região [em que se situa a
cidade], e quem devem ser os cultivadores da mesma.
Para investigar este assunto o Filósofo antepõe
algumas suposições.
Deve-se saber, em primeiro lugar, que não convém
que numa cidade bem ordenada as posses e as terras sejam
propriedade comum, conforme Platão e seus seguidores
estabeleceram. De fato, se assim fosse, as coisas mais
necessárias ao seu cidade seriam negligenciadas. Os homens
cuidam menos das coisas comuns do que das próprias, porque
mais amam as próprias. Mas convém que estas posses [e
terras], atribuídas a singulares quanto à propriedade e ao
cuidado, se tornam comum quanto ao uso pelo ato da
liberalidade e pela amizade.
Deve-se supor, em segundo, que não convém na mesma
cidade que cidadão algum careça de alimento, assim como das
coisas que são necessárias à vida, porque a cidade ótima deve
ser suficiente per se, e a cidade é determinada pela
civilidade.
Quanto aos convívios comuns, devem ser feitas
também três outras suposições. A primeira é que parece
oportuno que se promovam na cidade ótimos convívios comuns. O
motivo pelo qual isto é oportuno e assim no-lo parece,
conforme se manifestará melhor na decorrência deste livro, é
que os convívios comuns dispõe à familiaridade dos cidadãos e
à sua amizade. A segunda é que convém que todos os cidadãos,
tanto os ricos quanto os pobres, se comuniquem entre si, de
outro modo as coisas pelas quais o cidadão é determinado não
seriam comuns a toda a cidade. A terceira suposição [quanto
aos convívios comuns] é que, se houver cidadãos pobres ou
menos ricos, tendo poucas posses, não lhes será fácil, sem
que lhes pese muito, trazer ao convívio comum aquilo que lhe
seria proporcional e ao mesmo tempo sustentar a sua própria
família com a sua pouca riqueza.
A última suposição diz respeito aos gastos com o
que é divino. O Filósofo diz que deve se tomar como suposto
que as despesas que se fazem com o culto divino, por exemplo,
nos sacrifícios que a este se ordenam, devem ser comuns a
toda a cidade, assim como o deve ser também o culto divino.
Feitas estas suposições, diz o Filósofo que na
cidade ótima a possa das [terras] da região deve ser dividida
em duas partes. A primeira parte deve ser comum [a toda a
república], para custear as despesas comuns, e a outra deve
ser própria de cada um para prover às conveniências de cada
família. Cada uma destas partes, [a comum e a particular],
deve ser subdividida em duas outras partes.
Uma das partes das terras da propriedade comum
deve ser ordenada às oblações e ao culto divino; a segunda
para as despesas a serem feitas para os convívios comuns.
Quanto às terras particulares, uma parte das
mesmas deve ser ordenada às necessidades próprias de cada um;
a outra para os negócios comuns da cidade, que são as
despesas com os armamentos, com o policiamento e com o
ornamento da cidade.
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