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[Ao tratar] acerca do predicamento da relação, [o
Folósofos] primeiro coloca os modos das relações segundo se
e, segundo, das relações em razão de outro.
Acerca da primeira destas, o Filósofo enumera o
modo das relações segundo se e [em seguida] prossegue
considerando acerca deles.
Coloca, portanto, os três modos da relações, dos
quais o primeiro é aquele segundo o número e a quantidade,
assim como a relação do duplo à metade, e a do triplo à terça
parte, do múltiplo ao submúltiplo e do continente ao contido.
O continente é tomado como sendo aquele que excede segundo a
quantidade, pois todo excedente segundo a quantidade contém
em si aquele que é excedido, já que é este e ainda mais,
assim como o cinco contém em si o quatro, e três côvados
contém em si dois côvados.
O segundo modo é aquele segundo o qual a relação é
dita segundo a ação e a paixão, ou a potência ativa e
passiva, assim como a do calefativo ao calefatível, o que
pertence às ações naturais, e a do cortante ao cortável, o
que pertence às ações artificiais, e universalmente a todo
ativo ao passivo.
O terceiro modo é aquele segundo o qual o
mensurável é dito ser relativo à medida. Aqui a medida e o
mensurável não são tomados segundo a quantidade, pois isto
pertenceria ao primeiro modo, no qual ambos são ditos
relativos a ambos, isto é, o duplo é dito relativo à metade,
e a metade é dita relativa ao duplo. [Em vez disso, aqui a
medida e o mensurável são tomados] segundo o ser medida da
verdade. De fato, a verdade da ciência é medida pelo
cognoscível, pois pelo fato da coisa ser ou não ser é que a
sentença sabida é verdadeira ou falsa, e não inversamente.
Por causa disso não se relacionam mutuamente a medida ao
mensurável e vice versa, como nos outros modos, mas somente o
mensurável à medida. Semelhantemente também a imagem é dita
relacionar-se àquilo de quem é imagem como o mensurável à
medida, pois a verdade da imagem é medida pela coisa de que é
imagem.
A razão destes modos é a seguinte.
Como a relação, a qual está nas coisas, consiste
numa certa ordenação de uma coisa a outra, é necessário
existirem tantos modos de tais relações quantos forem os
modos pelos quais uma coisa possa se ordenar a outra. Ora,
uma coisa pode se ordenar a outra segundo o ser, na medida em
que o ser de uma coisa depende da outra, e assim teremos o
terceiro modo; ou segundo a virtude ativa e passiva, segundo
o qual uma coisa recebe de outra, ou a outra confere algo, e
assim teremos o segundo modo; ou ainda segundo que a
quantidade de uma coisa possa ser medida pela outra, e assim
teremos o primeiro modo.
Já a qualidade da coisa, enquanto tal, não diz
respeito senão ao sujeito em que está, de onde que segundo a
mesma uma coisa não se ordena a outra, senão na medida em que
uma qualidade toma razão de potência passiva ou ativa, na
medida em que é princípio de ação e paixão; ou por razão da
quantidade ou de algo pertencente à quantidade, assim como
quando algo é dito mais branco do que outro, ou semelhante,
se possuir alguma quantidade una.
Quanto aos outros gêneros, mais eles se seguem à
relação do que as podem causar. Assim, o predicamento do
tempo consiste em alguma relação ao tempo, enquanto que a do
lugar, ao lugar. A posição também implica em uma ordenação
das partes, enquanto que o hábito ou possessão numa relação
do paciente ao possuído.
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