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[Ao argumento do incontinente que causa dano a si
mesmo deve-se responder que] ninguém quer por completa
vontade padecer o injusto, nem também o incontinente. O
incontinente opera o que é nocivo para si para além de sua
vontade. De fato, ele tem per se a vontade do bem, mas pela
concupiscência é trazido ao mal. E isto se demonstra pelo
fato que, como a vontade o é do bem aparente, ninguém quer
aquilo que não julga ser bom. O incontinente, quando não está
dominado pela paixão, não julga ser bom o que faz, de onde
que, de modo absoluto, não quer aquilo, operando, todavia,
aquilo que ele julga não dever operar, por causa da
concupiscência que está no apetite sensitivo.
[Ao argumento do apaixonado pela meretriz que se
deixa espoliolar deve-se dizer que] falando per se, não
padece o injusto aquele que querendo dá do que é seu. Tal
pessoa não padece o injusto pelo fato que está em poder do
homem que ele dê do que é seu, enquanto que padecer o injusto
não está em poder daquele que padece o injusto, sendo
necessário existir alguém que faça o injusto. Por isso,
portanto, padecer o injusto é involuntário, fazer o injusto é
voluntário, porque o princípio da ação está no agente, o que
pertence à natureza do voluntário, enquanto que o princípio
da paixão não está no paciente, mas em outro, e isto pertence
à natureza do involuntário.
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