11. Que na ciência moral não é conveniente a certeza perfeita.

Na ciência moral não é conveniente chegarmos à certeza perfeita. Isto pode ser manifestado por dois fatos.

[Em primeiro], à ciência moral pertence de modo principal tratar das obras virtuosas, aqui denominadas de obras justas. Ora, acerca destas obras não existe sentença certa dos homens, existindo, ao contrário, grande diferença naquilo que os homens julgam a este respeito. De onde, porém, não se deve cair no erro que daqui muitos derivaram, porque por terem visto tantas diferenças de julgamento [acerca dos mesmos atos], que dependem de diferenças de tempo, lugar e pessoas, muitos opinaram que nada é naturalmente justo ou honesto, a justiça ou a honestidade de algum ato se dando apenas em virtude da lei [ou dos costumes de um dado tempo ou lugar].

[Em segundo], pertence também à ciência moral tratar dos bens exteriores dos quais o homem se utiliza para alcançar o seu fim. Acerca destes bens também encontramos nos homens os mesmos erros apontados acerca da justiça ou honestidade dos atos da vontade. De fato, por um mesmo bem exterior alguns homens puderam ser ajudados, enquanto outros através deles somente foram prejudicados. Muitos homens, por exemplo, por causa de suas riquezas, foram assassinados por ladrões, enquanto outros pereceram por causa de sua força corporal, tendo-se expostos temerariamente a certos perigos em virtude da confiança que depositavam em sua força.

Assim fica manifesto que a matéria moral é muito vária e não uniforme, não apresentando completa certeza.