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A diferença entre sorte e acaso é que eles diferem
pela definição, no sentido em que o acaso pertence a mais
coisas do que a sorte.
Tudo o que é pelo acaso é também pela sorte, mas
não vice-versa.
Um ser inanimado, uma criança ou um animal, não
podendo agir voluntariamente, por livre arbítrio, não podem
agir pela sorte.
Mas podem ser movidos pela sorte, na medida em que
algum agente voluntário aja sobre os mesmos.
O acaso pode ser encontrado não apenas nos homens,
que agem voluntariamente, mas também em animais e seres
inanimados. Como exemplo, se um cavalo, indo em um
determinado lugar, recupera a saúde, caso não tenha sido por
esse motivo que para lá se dirigiu.
Quando coisas quem vêm a ser com a finalidade de
alguma coisa, não vêm a ser para a finalidade daquilo que
acontece, mas para a finalidade de alguma coisa extrínseca,
então nós dizemos que estas coisas vêm a ser pelo acaso.
Uma corroboração da afirmativa acima consiste em
que o termo "em vão" na língua grega é bastante semelhante
ao termo "acaso".
"Em vão" é usado quando aquilo que é para alguma
finalidade não vem a ser por causa desta finalidade, isto é,
quando aquilo por causa do qual algo é feito não ocorre, [se
aquilo que se espera vir a ocorrer a partir de algo realmente
é capaz de ser provocado por causa deste algo].
Esta última restrição se impõe para o caso de
alguém afirmar que tomou banho em vão porque não ocorreu um
eclipse do Sol.
Assim, da mesma maneira, ocorre um acaso quando
uma pedra caindo golpeia alguém, sendo porém que ela não caiu
com o propósito de golpeá-lo.
Uma coisa é dita "em vão" por causa do fato de que
aquilo que estava intencionado não se segue. Uma coisa é dita
"acaso" por causa do fato de que algo mais que não estava
planejado realmente ocorre.
De onde algumas vezes uma coisa é "em vão" e
"acaso" ao mesmo tempo, quando aquilo que se visava não
ocorre, mas ocorre algo a mais que não se visava.
Algumas vezes existe "acaso" mas não "em vão",
quando o que se visava ocorre e ocorre também algo mais.
Outras vezes existe "em vão" mas não "acaso",
quando aquilo a que se visava não ocorre, e não ocorre também
algo a mais que não se visava.
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