4. Uma possível resposta à dúvida sobre a utilidade da prudência, que é falsa.

[Ao levantar-se a dúvida sobre a utilidade da prudência, argumentou-se através de uma comparação, dizendo que assim como o homem não é mais operativo das obras da saúde pelo fato de conhecê-las através da arte da medicina, assim também] o homem virtuoso não é mais operativo das obras da virtude por possuir elas conhecimento pela prudência. Todavia, pode-se a isto responder [que nem por isso a prudência é inútil] porque ela é necessária para que o homem se torne virtuoso, [o que pode ser melhor mostrado pela mesma comparação com a Medicina feita acima]. [Trata-se, de fato, do mesmo que acontece com a arte da] medicina, a qual, se não é necessária para que o [homem] são execute as obras [que são próprias] da saúde, todavia, [nem por isso ela é inútil], porque ela é necessária para que o homem se torne são. De onde que se conclui que [a prudência é inútil e necessária], mas não para [executar] as obras da virtude, e sim para tornar-se virtuoso.

Segundo a resposta acima, a prudência [somente] seria necessária àqueles que não possuem ainda a virtude. Mas, se ela fosse verdadeira, também para estes a prudência não seria necessária. De fato, em nada difere para que alguém se torne virtuoso, se os mesmos possuem a prudência ou são persuadidos por outros que a possuem, já que através disso o homem teria [recurso] suficiente para tornar-se virtuoso. E isto é evidente no caso da saúde. De fato, se desejamos nos tornar sãos, não por causa disso procuraremos aprender medicina, mas será suficiente para nós utilizar o conselho dos médicos. Portanto, pela mesma razão, para que nos tornemos virtuosos, não é necessário que nós mesmos tenhamos a prudência, mas é suficiente que sejamos instruídos pelos prudentes.