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[Quer-se investigar agora a que se deve atribuir o
discernimento dos sensíveis entre si]. Este discernimento
excede os primeiros sentidos. Ora, se podemos discernir não
apenas o preto do branco ou o doce do amargo, mas também o
branco do doce, e discernimos qualquer sensível de qualquer
outro sensível e sentimos que diferem, importa que isto seja
pelo sentido, porque conhecer o sensível, enquanto sensível,
é [coisa] do sentido. De fato, conhecemos as diferenças entre
o branco e o doce, não apenas quanto ao que é cada um deles,
coisa esta quepertence ao intelecto, mas também quanto às
diversas mutações dos sentidos. E isto não pode ser feito
senão pelo sentido.
E se isto por algum sentido se faz, parece
principalmente que se faça pelo tato, que é o primeiro dos
sentidos, e de uma certa forma raiz e fundamento de todos os
sentidos.
[Santo Tomás explica isto dizendo que] Aristóteles
atribui este discernimento ao tato não enquanto o tato é
sentido próprio, mas enquanto é o fundamento de todos os
sentidos e mais próximo se acha da raiz fontal de todos os
sentidos, que é o sentido comum. Importa para este princípio
sensitivo comum ter algum órgão, porque a parte sensitiva não
tem nenhuma operação sem órgão. Ora, o órgão do tato,
difundindo-se por todo o corpo, parece necessário que o órgão
deste princípio sensitivo comum esteja [ali] aonde se situa a
primeira raiz do órgão do tato.
As mudanças que ocorrem neste princípio comum são
provenientes dos sentidos próprios, porque ao sentido comum
chegam as mudanças de todos os sentido próprios como a um
término comum. Ao sentido próprio compete discernir entre os
sensíveis contrários, porque o mesmo sentido próprio é um
término de diversas mutações que se fazem por meio de
sensíveis contrários. Mas o sentido próprio faz isto enquanto
participa em algo da virtude do sentido comum. [Por isso], o
último julgamento e o último discernimento pertencem ao
sentido comum.
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