5. Extensão da explicação precedente.

Não somente, [conforme ficou dito], o vidente é, de alguma forma, colorido, [porque possui uma] semelhança do colorido, mas também pode-se dizer que o ato de qualquer sentido é uno e o mesmo pelo sujeito com o ato do sensível, diferindo [apenas] pela razão.

[Estes termos se explicam do seguinte modo]. Diz- se ato do sentido, assim como [ouvir] em ato. Diz-se ato do sensível, assim como o som em ato. E isto [diz-se] porque o que tem ouvido acontece que não ouça, e o que tem som acontece que nem sempre soe.

[A demonstração de que o ato do sentido é idêntico ao ato do sensível pelo sujeito é proveniente da teoria do movimento exposta no livro III da Física]. É manifesto, [conforme explicado no livro terceiro da Física], que o movimento, a ação e a paixão estão no móvel e no paciente, [e não no movente].

[Explicando melhor: o movimento é ato do existente em potência enquanto tal. O existente em potência enquanto tal é o móvel, e portanto, [em seu sentido primário], o movimento é ato do móvel. Este ato, além disto, deve ser localizado no móvel, porque aquilo que é ato de alguém está naquilo de quem é ato]. [Não obstante isto, a primeira parte [desta acepcão em seu sentido primário] pode ser estendida de tal maneira que o movimento possa ser considerado como ato do movido, enquanto situado no movido, e sob esta razão é dito paixão, ou como ato do movente, enquanto provém do movente, e sob esta razão é dito ação. Ambos estes atos, porém, são um só pelo sujeito, diferindo apenas pela razão, e se localizam no paciente]. [Quanto, porém, à segunda parte da acepção primitiva, dizendo que o movimento esteja no paciente, isto não é possível de ser ampliado de maneira alguma, ainda que, conforme visto, o movimento também possa ser considerado como ato do movente]. [E, se na maioria dos movimentos, o movente, ao mover, também se move, isto ocorre por acidente, enquanto este movente também é móvel e porque agente e paciente se comunicam pela matéria e portanto, a ação do agente sobre o paciente se faz tangendo].

[A teoria do terceiro livro da Física se aplica ao caso em questão porque] o ouvido padece pelo som. Assim, torna-se necessário que o som em ato, assim como o ouvido em ato, estejam naquilo que está em potência, isto é, o órgão do ouvido. E isto porque o ato ativo e motivo se realizam no paciente, e não no agente ou movente. E assim como na Física se demonstra que a ação e a paixão são apenas um único ato pelo sujeito diferindo pela razão, assim também o ato do sensível e do sensciente é o mesmo pelo sujeito, mas não pela razão.

[Isto explica que é pela vista que sentimos que vemos porque] do fato que o ato do vidente seja idêntico e o mesmo ato pelo sujeito com o ato do sensível, ainda que não o seja pela razão, segue-se que não há motivo para se colocar que não seja a mesma virtude [a responsável] pela visão da cor e pela [percepção] da mutação que se faz pela cor. A potência pela qual nós vemos que nós vemos não é, portanto, estranha à potência visiva, mas difere da segunda pela mesma razão.