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Conforme será mostrado mais adiante, a fantasia
não se faz sem o sentido, porque ela segue o sentido. [Também
se mostrará] que sem a fantasia não se dá a opinião. Assim, a
fantasia está para o sentido assim como a opinião está para o
intelecto.
[De um primeiro modo, pode demonstrar-se que a
opinião e a fantasia não são a mesma coisa dizendo que] a
fantasia está em nós da forma como a queremos, porque está ao
nosso alcance formar qualquer fantasia do que quisermos, como
montanhas de ouro, e [outras assim]. Mas a opinião não está
sob nosso poder. E isto acontece porque o opinante deve ter
uma razão pela qual opina, ou verdadeira ou falsa. Portanto,
a opinião não é o mesmo que a fantasia.
[De um segundo modo, pode demonstrar-se que a
opinião e a fantasia não são a mesma coisa dizendo que] a
paixão no apetite segue de imediato a opinião, porque
opinando algo ser grave ou terrível, imediatamente padecemos
entristecendo-nos ou temendo. Da mesma forma, se algo é para
se confiar ou ter esperança, imediatamente segue-se a
esperança e a alegria. Mas à fantasia não se segue a paixão
no apetite, porque quando algo nos aparece segundo a
fantasia, semelhantemente nos achamos como se considerássemos
em uma gravura algo terrível ou motivo de esperança.
Portanto, a opinião não pode ser o mesmo que a fantasia.
Esta diferença é devido a que o apetite não padece
e nem é movido pela simples apreensão da coisa, que é a que
propõe a fantasia. Mas importa que seja apreendida debaixo da
razão de bem ou de mal, de conveniente ou nocivo. E isto, no
homem, quem faz é a opinião, enquanto opinião isto ser
terrível ou mau, e aquilo outro motivo de esperança ou bem.
Todavia, nos animais o apetite padece pela estimação natural,
que opera neles o que a opinião opera nos homens.
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