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[Já foi anteriormente explicado como há um hábito
denominado] intelecto, pelo qual o homem conhece os
princípios das demonstrações, cujo conhecimento não pode ser
retirado do homem, [o qual conhece por natureza estes
princípios indemonstráveis em virtude da luz do intelecto
agente].
[Há um outro hábito também denominado intelecto,
acerca dos princípios dos operáveis]. [Ao lado do intelecto
que é hábito segundo o qual o homem conhece os princípios das
demonstrações, há um outro hábito também denominado
intelecto, pelo qual o homem conhece os princípios dos
operáveis].
[Uma primeira diferença que há entre o intelecto
que é acerca dos princípios das demonstrações e o que é
acerca dos princípios dos operáveis está em que o primeiro] é
acerca do universal, enquanto que o segundo é acerca do
singular e do contingente. Isto acontece porque o intelecto o
é dos princípios, e estes singulares dos quais se diz haver
intelecto são princípios por modo de causa final. E que estes
singulares possam ter razão de princípio fica evidente porque
a partir destes singulares, [no que é operável], se alcança o
universal. De fato, por causa desta erva ter restituído a
saúde a este homem, aceitou-se que esta espécie de erva tem
força curativa.
[A segunda diferença entre estes hábitos está em
que, embora sendo ambos hábitos naturais, o são de modos
diferentes]. [O intelecto acerca dos princípios das
demonstrações é um hábito natural por sê-lo totalmente pela
natureza]. Já o intelecto acerca dos princípios dos
operáveis, por ser intelecto acerca dos singulares, e sendo
os singulares conhecidos de modo próprio pelo sentido,
necessita, de algum modo, das virtudes sensitivas. Assim,
destes princípios e extremos, é necessário que o homem tenha
não somente um sentido exterior, mas também interior, que é a
força cogitativa ou estimativa, que é dita razão do
particular. Ora, estas virtudes sensitivas operam pelos
órgãos corporais, [de tal maneira que] o hábito do intelecto
acerca dos princípios dos operáveis é um hábito natural, não
à maneira do que é acerca dos princípios das demonstrações,
que é] totalmente pela natureza, mas pelo fato de que, por
disposição natural do corpo, algumas [pessoas] são prontas a
este hábito, [de modo que] por uma pequena experiência já se
tornam perfeitos nele.
É sinal de que este hábito esteja em alguns
segundo a natureza o fato de estimarmos que são conseqüência
da idade dos homens, segundo a qual a natureza corporal se
transmuta. Há, de fato, uma idade, que é a idade senil, que
por causa da quietação das transmutações corporais e animais,
o homem possui intelecto e gnome, como se a natureza fosse
causa deles.
Assim se conclui que o intelecto que é dos
princípios dos operáveis, se adquire pela experiência, pela
idade, e se aperfeiçoa pela prudência. Conseqüência disto é o
ser necessário ouvir as coisas que opinam e anunciam acerca
dos agíveis os homens experientes, os velhos e os prudentes.
Embora estes homens não nos forneçam
demonstrações, todavia devem ser [procurados] não menos do
que as próprias demonstrações, e até mesmo mais. Isto porque
tais homens, pelo fato de possuírem experiência [de coisas
vistas], isto é, um reto julgamento acerca dos operáveis,
enxergam os princípios dos operáveis, [os quais] princípios
são mais certos do que as conclusões das demonstrações.
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