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Depois de Aristóteles ter mostrado que nenhuma
mutação pode ser contínua e eterna, exceto o movimento local,
aqui ele mostra que nenhum movimento local pode ser contínuo
e eterno exceto o movimento circular.
Tudo o que é movido localmente é movido ou pelo
movimento circular, ou pelo movimento em linha reta, ou por
um movimento composto dos dois, como quando algo é movido
através de uma corda e um arco. É claro que se um dos dois
movimentos simples, isto é, o circular ou o em linha reta,
não podem ser infinitamente contínuos, então muito menos
aquele que é composto de ambos será infinitamente contínuo.
Portanto, na discussão que vem a seguir, podemos omitir os
movimentos compostos e discutir apenas os movimentos simples.
Através de uma magnitude reta e finita não pode
haver movimento em linha reta infinitamente contínua. Assim,
nenhum movimento contínuo em linha reta pode ser infinito a
menos que uma magnitude infinita existente em ato seja
admitida. Mas uma magnitude infinita existente em ato não
existe, conforme foi demonstrado no livro III. Portanto, se
existe um movimento infinito sobre uma magnitude em linha
reta e finita, deverá tratar-se de um movimento reflexo, o
objeto móvel retornando por movimento reflexo ao início da
magnitude onde o seu movimento começou e assim
sucessivamente. Mas o que é refletido no movimento em linha
reta é movido por movimentos contrários. [E isso se prova]
porque movimentos contrários são aqueles que apresentam
términos contrários. Mas as contrariedades do lugar são o
acima e o abaixo, antes e depois, esquerda e direita. Tudo o
que é refletido deve ser refletido em relação a uma destas
contrariedades. Portanto, tudo o que é refletido é movido por
movimentos contrários. Logo, segue-se que é impossível para
aquilo que é refletido ser movido por um único e contínuo
movimento.
Pode-se questionar esta demonstração [com base em
que] a contrariedade no lugar não parece ser tão clara e
determinada como nos demais gêneros em que existe movimento.
Portanto, [para responder a isso], coloca-se um exemplo
adicional para provar a mesma coisa.
O movimento de A para B é contrário ao movimento
de B para A, como ocorre no movimento reflexo, porque se tais
movimentos ocorrem ao mesmo tempo, eles se impedem mutuamente
e provocam a parada [do movimento]. Mas movimentos que são
diversos e não contrários não se impedem mutuamente. Por
exemplo, o movimento para cima e o movimento lateral, não se
impedem mutuamente. Ao invés disso, uma coisa poderá ser
movida para cima e para a direita ao mesmo tempo.
[Como uma segunda demonstração de que o movimento
reflexo não pode ser infinitamente contínuo pode-se
acrescentar que] o movimento em linha reta reflexo não pode
ser infinitamente contínuo por causa do fato de que tudo o
que é refletido deve estar em repouso entre dois movimentos.
A verdade a respeito deste ponto pode ser estabelecida tanto
pela sensação, já que é algo [perceptível] para os sentidos,
mas também pela razão.
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