5. A diferença entre a eleição e a vontade.

Embora a eleição seja próxima à vontade, a eleição também não é a vontade. Tanto a vontade como a eleição pertencem à mesma potência, que é o apetite racional, que é dito vontade. Mas vontade designa o ato de tal potência relacionado com o bem absoluto. A eleição designa o ato da mesma potência relacionado com o bem na medida em que pertence à nossa operação, pela qual nos ordenamos em algum bem. Isto pode ser mostrado através de três razões.

[Primeiramente], pelo fato que a eleição se refere à nossa operação, não é dita ser do impossível. Por isso, se alguém afirma ter [feito eleição] de algo impossível, [será tido como] estulto. Mas a vontade, dizendo respeito ao bem de modo absoluto, pode ser de qualquer bem, ainda que seja impossível. Por exemplo, alguém poderá querer ser imortal, o que é impossível segundo o estado desta vida corruptível. Portanto, a eleição e a vontade não são o mesmo.

[Em segundo], a vontade de alguma pessoa pode ser acerca das coisas que não se fazem por ele: por exemplo, aquele que assiste a um duelo, pode querer que vença [um ou outro dos duelantes]. Mas ninguém [fará eleição] destas coisas que são feitas por outros, mas somente daqueles que ele estima poderem ser feitas por si mesmo. Portanto, a eleição difere da vontade.

[Em terceiro] a vontade é mais do fim do que daquilo que é para o fim, porque as coisas que são para o fim nós as queremos por causa do fim. Mas a eleição é somente das coisas que são para o fim, e não do próprio fim, porque o fim na eleição é pressuposto, como já predeterminado. Por exemplo, a saúde, que é fim da medicação, nós a queremos de modo principal. Mas [fazemos eleição] dos remédios pelos quais somos sarados. De modo semelhante, nós queremos ser felizes, que é o fim último, e isto nós dizemos querer. Mas não é [correto] dizer que [fazemos] eleição de nós sermos felizes. Portanto, a eleição não é o mesmo que a vontade.

[Podemos concluir dizendo que] a raiz de toda diferença, à qual universalmente todas as preditas diferenças se reduzem é que a eleição é acerca das coisas que estão em nosso poder. Esta é a causa do porque a eleição não é nem dos impossíveis, nem das coisas que são feitas pelos outros, nem do fim, que em geral é pré-constituído em nós pela natureza.