2. Resumo sobre o uno.

O uno e o ente significam uma única natureza segundo razões diversas, estando um para o outro assim como estão entre si o princípio e a causa, [que também significam uma única natureza segundo razões diversas], e não como estão um para o outro a túnica e o vestido, que são inteiramente sinônimos.

O uno e o ente, ao se predicarem de alguma substância, não lhe adicionam nenhum ente, [isto é, não lhe acrescentam nenhuma outra natureza].

Uma outra maneira de dizer isso é que uno que se converte com o ente e o ente não adicionam algo à essência da coisa.

O uno que se converte com o ente não é o mesmo uno que é princípio do número. O uno que é princípio do número significa uma natureza adicionada à substância, por estar no predicamento da quantidade, que é um acidente adicionado à substância, por estar no predicamento da quantidade, que é um acidente adicionado à substância.

O uno que se converte com o ente, portanto, não significa uma quantidade que ineriria a todo ente, não significa um acidente que inere a todo o ente.

Além disso, não é verdade que o uno princípio do número que está no gênero da quantidade discreta se pode converter universalmente com todo ente. Nada que está em determinado gênero pode seguir-se a todo ente.

O motivo porque o uno se converte com o ente está em que ele designa o próprio ente, acrescentado-lhe apenas a razão de indivisão, a qual, sendo negação ou privação, não pode colocar nenhuma natureza adicionada ao ente.

Desta maneira, o uno e o ente diferem apenas pela razão, mas significam a mesma natureza.

Tantas quantas são as espécies do ente, tantas serão as espécies do uno, que se corresponderão mutuamente.

O uno princípio do número pertence à consideração da Matemática. O uno que se converte com o ente pertence à consideração da Metafísica.

A negação e a privação pertencem à razão do uno. Ora, a consideração do uno pertence à Metafísica. Portanto, a consideração da negação e da privação também pertence à Metafísica.

A privação implícita no uno que se converte com o ente não é a privação da multidão.

Quando se afirma que a privação implícita no uno que se converte com o ente é a privação da divisão, esta divisão não é a divisão segundo a quantidade.

A privação implícita no uno que se converte com o ente é a privação da divisão formal cuja raiz é a oposição da afirmação e da negação, pela qual são divididas mutuamente as coisas que se acham de tal maneira que isto não seja aquilo. É desta maneira que é inteligido primeiro o próprio ente, depois o não ente, e conseqüentemente a divisão.

A privação contida na razão do uno que se converte com o ente é a privação da divisão, e não da multidão. Porém é correto dizer que o uno que se converte com o ente, ao privar a divisão, priva por conseqüência a multidão.

Portanto, é também correto dizer que o uno que se converte com o ente se opõe à multidão.

Como, ainda, pertence à mesma ciência a consideração dos opostos, segue-se que se pertence à Metafísica especular sobre o uno que se converte com o ente, também pertence à Metafísica especular sobre a multidão.