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A arte aquisitiva de alimento é algo natural, o
que pode ser demonstrado do seguinte modo. Assim como a
natureza provê aos animais imediatamente em sua primeira
geração, assim também quando a sua geração se torna perfeita.
Provê à sua alimentação em sua primeira geração, o que é
evidente em diversos animais. Há, de fato, alguns animais que
não geram animais perfeitos, mas põem ovos, como ocorre nas
formigas, nas abelhas e em outros tais. Estes animais dão à
luz, com os próprios fetos, tanto alimento quanto lhes possa
ser suficiente até que o animal gerado chegue à perfeição. Há
outros animais que geram animais perfeitos, como os cavalos e
outros semelhantes; estes animais, quando dão à luz, têm
durante um certo tempo em si mesmos algum alimento por parte
de seus pais, alimento este que é chamado de leite. É assim
evidente que a natureza, na primeira geração, provê o
alimento aos animais.
É manifesto que depois que os animais se tornam
perfeitos, a natureza também lhes providencia o alimento. É
assim que as plantas são por causa de outros animais, porque
se nutrem delas. Os demais animais são por causa dos homens;
os domésticos por causa do alimento e por causa de outras
utilidades, os selvagens também, embora não todos, porque
muitos deles se tornam alimento dos homens ou de algum modo
vêm em seu auxílio, na medida em que o homem deles obtém suas
vestimentas de suas peles, ou se utiliza de seus chifres,
ossos ou dentes como de instrumentos. É manifesto, portanto,
que o homem necessita para a sua vida dos demais animais e
plantas.
A natureza, porém, não deixa nada imperfeito nem
faz algo em vão. É manifesto, portanto, que a natureza faz os
animais e as plantas para o sustento dos homens. Quando
alguém, portanto, adquire algo que a natureza faz por causa
dele, esta é uma aquisição natural. De onde que se conclui
que a [arte] possessiva pela qual estas coisas que pertencem
à necessidade da vida são adquiridas pertence à natureza.
Pode-se concluir, de tudo quanto foi dito, que há
uma espécie [de arte] possessiva que é natural, que é a já
mencionada, a qual é uma parte da econômica, na medida em que
a subministrativa é dita ser parte. Esta subministra, porém,
não apenas à econômica, mas também à política, porque é
necessário para o ato político e o ato econômico que sejam
adquiridas aquelas coisas que são entesouradas para as
necessidades da vida e para a utilidade da comunidade, tanto
da casa como da cidade, porque nem a casa nem a cidade pode
ser governada sem o que é necessário à vida.
Esta [arte] possessiva não é infinita. De fato, as
verdadeiras riquezas são provenientes destas coisas pelas
quais são subvencionadas as necessidades da natureza. Estas
são verdadeiras riquezas porque podem remover a indigência e
produzir a suficiência daquele que as possui, para que o
homem seja suficiente a si mesmo para bem viver.
Há outras riquezas, das quais a possessão é
infinita, conforme mais adiante se dirá, das quais não se
pode preestabelecer nenhum termo aos homens. Estas não são
verdadeiras riquezas, porque não preenchem nunca o apetite
humano.
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