6. Como, em decorrência do que foi dito, é necessário que o homem se torne legislador.

Embora, conforme já explicado, a legislação seja necessária à educação e às operações dos homens, todavia somente na cidade dos Lacedemônios e em poucas outras o legislador cuidou de ordenar nas leis acerca da educação das crianças e dos caminhos descobertos para operar. Na maioria das cidades, porém, tais coisas são neglicenciadas. É, portanto, ótimo que se tenha um cuidado correto acerca da educação das crianças, e das ações virtuosas dos cidadãos segundo a pública autoridade, de tal maneira que o homem seja instruído para que possa operar estas coisas idoneamente. Como, porém, em geral os homens neglicenciam estas coisas, não exibindo para isto cuidados públicos, parece ser conveniente para cada pessoa particular que confiram aos filhos e amigos algo para que sejam virtuosos, o que maximamente pode ser feito se o homem se torna legislador, isto é, se o homem adquire idoneidade pela qual possa fazer leis corretas. De maneira que ser legislador compete de modo principal à pessoa pública, secundariamente, todavia, também compete à pessoa particular.

[Em um certo sentido, é mais importante que seja legislador a pessoa particular do que a pública]. É manifesto que os cuidados [universais], que são tomados pelas pessoas públicas, às quais pertence o fazer as leis, são tomados através das leis. Não difere, porém, para o presente propósito, se isto é feito através de leis escritas ou não escritas, ou se pelas leis muitos são instruídos ou um só. Assim, [pertence] à mesma natureza que algum pai de família instrua os seus filhos ou alguns poucos domésticos através de um discurso exortativo ou por escrito, e que algum príncipe faça alguma lei escrita para ordenar a toda a multidão da cidade. De fato, assim como as leis públicas e os costumes por ele introduzidos estão para a cidade, assim os discursos [do pai de família] e os costumes por eles introduzidos estão para a casa. Há somente esta diferença: que o discurso paterno não possui força coativa plena, assim como o discurso do rei. Conseqüentemente, quanto a algo, [o ser legislador] mais competirá à pessoa privada do que à pública, porque os filhos amam os pais e facilmente obedecem à amizade natural, que é a dos filhos para com os pais. Assim, portanto, ainda que o discurso do rei mais possa pela via do temor, todavia o discurso paterno mais pode pela via do amor, a qual é mais eficaz naqueles que não estão totalmente mal dispostos.