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Sobre a questão de se é bom para a cidade ter ou
não um rei, o Filósofo diz que tratará do assunto no livro
terceiro. Mas, supondo que fosse melhor ter um rei, isto não
seria melhor conforme o era entre os Lacedemônios, já que
entre eles o rei não reinava por toda a vida. É claro que é
melhor para todos que a instituição real seja vitalícia,
porque o rei é útil à cidade para que, pelo seu poder, possa
conservar eficazmente o estado da cidade. O contrário deve-se
dizer dos senadores ou anciãos, os quais são escolhidos para
o aconselhamento ou para determinados julgamentos.
A causa pela qual o legislador instituíu entre os
Lacedemônios que os reis não fossem perpétuos está na
consideração de que ele não poderia tornar nenhum cidadão
perfeitamente bom. De onde que desconfiou de todos os
cidadãos como de pessoas [entre as quais não poderia achar
ninguém] perfeitamente bom. Este é o motivo também pelo qual
quando os Lacedemônios enviavam delegados ou embaixadores,
escolhiam [pares de] pessoas inimigas ou discordantes, para
que um pudesse impedir o outro se quisesse fazer algo contra
o bem da cidade. De um modo semelhante consideravam que fosse
salutar para a cidade se os reis discordassem entre si, de
tal modo que um sucedesse ao outro e um pudesse corrigir o
que o outro tivesse mal feito.
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