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Existem três razões prováveis pelas quais os
primeiros princípios devem ser contrários. Os primeiros
princípios devem preencher os seguintes requisitos:
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A. Que não sejam a partir de outros.
B. Que não sejam a partir um do
outro.
C. Que todas as demais coisas sejam a
partir deles.
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Ora, estes requisitos convêm aos primeiros contrários.
Para entender o que significa primeiros
contrários, é de se saber que alguns pares de contrários são
causados por outros. [Tomemos alguns] exemplos: o doce e o
amargo são causados a partir do úmido e do seco, e do quente
e do frio. Estes, por sua vez, são causados por outros
contrários e os primeiros contrários são aqueles que não são
causados por outros.
Os primeiros contrários [também] não podem ser
provenientes um a partir do outro. Apesar do frio se tornar
frio a partir daquele que antes era quente, todavia a
frigidez em si mesmo nunca se faz a partir da quentura,
conforme será explicado adiante.
[Aristóteles mostra a seguir como todas as coisas
se fazem a partir de contrários ou são os próprios
contrários.]
Qualquer coisa não se torna a partir de qualquer
coisa. Isso poderia acontecer somente por acaso e como por
acidente.
Nas coisas simples, [isto é, que não são compostas
de matéria e forma], isso é manifesto. O branco não se torna
branco a partir do músico, exceto por acidente, na medida em
que o músico comporta as qualidades de branco ou preto. O
branco se faz do não branco, que seria o negro ou alguma
outra cor intermediária. Da mesma maneira, o branco se
corrompe no não branco, e não em qualquer não branco, mas no
negro ou em alguma cor intermediária, e não no músico, exceto
por acidente.
Nas coisas compostas isso também é manifesto,
apesar dos opostos das coisas compostas não terem nome como
os opostos das coisas simples. Mas como todo composto
consiste em alguma consonância, o consonante se faz a partir
do inconsonante e vice-versa. E o consonante não se corrompe
em qualquer inconsonante, mas no inconsonante oposto, e vice-
versa.
Assim, todas as coisas da natureza ou são
contrárias ou se tornam a partir de contrários.
Muitos filósofos seguiram a verdade até aqui,
porque colocaram os princípios serem contrários. Todavia, não
o fizeram movidos por alguma razão, mas como se fossem
coagidos pela própria verdade. A verdade é o bem do
intelecto, à qual naturalmente este se ordena. [Desta
maneira], assim como as coisas carentes de conhecimento se
movem a seus fins sem serem movidos pela razão, assim algumas
vezes o intelecto do homem por alguma inclinação natural
tende em direção à verdade, não obstante não perceber a razão
da verdade.
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