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Alguns filósofos alegaram a existência de apenas
um princípio [na natureza]. Outros alegaram a existência de
muitos.
Dos que alegaram ser apenas um princípio, alguns
afirmaram ser imóvel, e outros afirmaram ser móvel.
Dos que alegaram existirem muitos princípios,
ninguém os colocou como sendo imóveis. Todos foram
considerados móveis. A grande divisão entre os que afirmaram
existirem muitos princípios estava no fato dos mesmos serem
finitos ou infinitos em número.
[O termo móvel ou imóvel no texto de Aristóteles
não deve ser entendido como se referindo apenas ao movimento
segundo o lugar, mas no sentido mais amplo de simplesmente
mutável ou imutável].
Dos que afirmaram serem os princípios em número
finito, houve diversas opiniões:
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A. Que haveria dois princípios, o
fogo e a terra.
B. Que haveria três princípios, o
fogo, o ar e a água.
C. Que haveria quatro princípios.
D. Que haveria outros números de
princípios.
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Dos que afirmaram serem infinitos princípios [devem ser
mencionadas as posições de] Demócrito e de Anaxágoras.
Demócrito afirmou existirem corpos invisíveis,
chamados átomos, que eram todos do mesmo gênero, mas diferiam
segundo a figura e a forma.
Anaxágoras afirmou existirem infinitos princípios,
mas não de um único gênero. Eram infinitas e minúsculas
partes de carne, osso e outras substâncias.
Quanto aos entes, os antigos filósofos, inquirindo
acerca disto, se perguntaram se os entes são apenas um, ou se
são muitos. E se fossem muitos, se seriam finitos ou
infinitos.
O motivo disto é que os antigos filósofos
praticamente só conheciam a causa material. As formas eram
consideradas como acidentes, e assim a substância das coisas
naturais era a sua matéria. É deste modo que os que colocaram
o ar como sendo o único princípio da natureza, afirmaram que
todos os entes eram ar segundo a sua substância. E assim por
diante.
[Quanto à relação destas opiniões com o presente
tratado de Física, deve-se colocar que alguns destes
filósofos falaram da natureza de modo não natural, e outros
falaram da natureza de modo natural].
Falaram da natureza de modo não natural os
filósofos que colocaram que o ente é um e imóvel. Tal
opinião, segundo os antigos filósofos, não é diferente da
opinião que diz que o princípio das coisas naturais é um e
imóvel. Esta opinião pertence aos filósofos que falaram da
natureza de modo não natural, porque com esta colocação eles
negaram à natureza o movimento.
Demonstrar a inveracidade desta opinião não
pertence,[de maneira própria], à Física [ou Ciência da
Natureza], porque semelhante opinião destrói os princípios da
natureza. Ora, a nenhuma ciência pertence disputar contra
aqueles que destroem os seus princípios. Essa função pertence
a
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A. Alguma ciência particular, como no
caso em que, sendo a música subalterna
da geometria, pertenceria à geometria
disputar contra os que tentam destruir
os princípios da música.
B. Às ciências gerais, como a Lógica e a
Metafísica.
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Entretanto, isso não significa que não se possa disputar
neste tratado contra algumas destas afirmações, por causa de
sua utilidade e por elas se referirem às coisas naturais.
Já no que diz respeito aos filósofos que falaram
da natureza de maneira natural, sendo por isso chamados de
físicos ou filósofos naturais, deve-se mencionar que
colocaram a maneira pela qual as coisas se geram a partir dos
princípios, como sendo basicamente uma destas duas seguintes:
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A. Alguns afirmaram existir apenas um
único princípio material, a saber,
o fogo, o ar ou a água, nenhum
deles afirmando a terra ser
princípio, ou algum intermediário
entre estes, e afirmaram que todas
as demais coisas deste princípio
se formavam por condensação ou
rarefação.
B. Outros afirmaram os princípios
serem diversos e contrários, e que
no princípio estavam todos
misturados em uma única coisa
indistinta e confusa, da qual
foram se separando, dividindo e
formando todas as coisas do
universo.
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[Colocado este apanhado das posições dos antigos filósofos,
Aristóteles em seguida começa a inquirir acerca da verdade
sobre os princípios da natureza].
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