|
{Deve-se considerar, sobre esta questão, que
quando] muitos homens, não virtuosos considerados de modo
simples, se reúnem em um só [todo], formam algo estudioso,
não de tal maneira que cada um faz algo estudioso ou melhor
por si, mas de modo que todos simultaneamente fazem algo
estudioso, e serão [todos] algo melhor do que cada um deles
tomado isoladamente. Por exemplo, se houver muitos homens e
cada um possui algo da virtude da prudência, quando se unem
em um só [todo] farão algo grande e virtuoso. De fato,
naquilo em que um é deficiente, ocorre que o outro tenha
abundância, de tal modo que, se um não se inclina à
fortaleza, outro se inclinará, e se um não se inclina à
temperança, outro se inclinará, e onde um não puder prever
bem, outro o poderá e assim, ao [todos se] unirem, formarão
como que um só homem virtuoso e perfeito, um homem possuidor
de uma multidão de sentidos, pelos quais poderá discernir, e
uma multidão de mãos e pés pelos quais poderá mover-se para a
obra e operar.
De todos eles, de fato, ao se reunirem, se formará
como que um só homem perfeito segundo a inteligência, quanto
às virtudes intelectuais, e segundo o apetite, quanto às
virtudes morais. Foi assim que se descobriram as artes e as
ciências, porque primeiro alguém descobriu algo e o
transmitiu, talvez desordenadamente. Outro depois, tendo-o
recebido, acrescentou-lhe algo e retransmitiu o todo mais
ordenadamente, e assim sucessivamente até que surgiram as
artes e as ciências perfeitas. E é manifesto que é mais e é
mais perfeito aquilo que todos encontram, do que aquilo que
cada um encontrou por si.
Há, porém, uma diferença, entre um só homem
virtuoso de modo simples e qualquer um daqueles homens a
partir dos quais, ao se terem reunido em um só, formaram algo
estudioso. Os homens estudiosos ou virtuosos diferem de
qualquer um dos que compõem esta multidão assim como o bom
difere do que não é bom, pois os homens virtuosos são bons de
modo simples, mas qualquer um destes [que compõe a multidão],
quando tomado segundo si, não é bom, porque não é
perfeitamente virtuoso.
Os homens virtuosos, ademais, diferem destes [que
compõe a multidão] quando tomados isoladamente, assim como a
pintura artística difere de algo verdadeiro.
O que posso entender [por meio desta comparação do
Filósofo] é que o pintor, quando quer pintar algo pela arte,
como uma imagem humana, considera a boa disposição dos olhos
deste homem, desconsiderando as más disposições dos demais
membros. Semelhantemente considera a boa disposição da mão em
outro, desconsiderando as más disposições dos demais membros
e assim, considera também as melhores disposições dos demais
membros em diversos outros homens e desconsidera as
disposições torpes. Pela união de todas estas coisas faz uma
imagem mais bela do que qualquer uma das coisas a partir das
quais tomou algo. E é manifesto que qualquer um dos quais o
pintor tomou algo possui algo da beleza, mas não de modo
simples; aquele, porém, que foi formado de todos estes é belo
de modo simples.
De modo semelhante no que diz respeito ao nosso
propósito, qualquer homem destes muitos possui algo de
virtude, mas não é virtuoso de modo simples, enquanto que
aquele que se reuniu a partir de todos é, no entanto,
virtuoso de modo simples.
[No entanto, de tudo o que foi dito ainda não
fica] manifesto se toda uma multidão é melhor do que poucos
virtuosos. Com certeza, porém, é impossível que uma certa
multidão seja melhor do que poucos virtuosos no caso de uma
multidão bestial, cujos homens se inclinam a atos bestiais e
possuem pouco de razão. Em uma multidão deste tipo não é
verdade que destes himens possa se formar algo virtuoso se
todos se unirem em um só. A multidão na qual cada um possui
algo de virtude e de prudência e se inclinam ao ato da
virtude é muito diversa da [multidão bestial], e somente
nesta [em que cada um possui algo da virtude e da prudência]
é que pode ser verdade que aquilo que se forma a partir dela,
quando todos se reúnem em um só, seja algo virtuoso.
|
|