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As crianças maximamente vivem segundo a
concupiscência, porque elas apetecem maximamente a
deleitação, a qual pertence à natureza [ratio] da
concupiscência. A causa disto será explicada detidamente no
livro sétimo. Por isso, se as crianças e a concupiscência não
são bem persuadidas pela razão, serão dominadas pelo apetite
da deleitação, que é a concupiscência.
A razão disso é que o apetite da deleitação é
insaciável, e se o homem satisfaz a concupiscência, a
concupiscência mais cresce no homem, e ele será dominado. E
isto principalmente se a concupiscência ou as deleitações são
grandes da parte do objeto, isto é, de coisas muito
deleitáveis, e veemente da parte daquele que [deseja] e se
deleita, [de tal maneira] que impeçam o conhecimento ou o
raciocínio da parte do homem, já que, quanto mais [o
conhecimento e o raciocínio] permanecem, tanto menos a
concupiscência pode dominar. Por isso convém que as
deleitações sejam em justa medida, isto é, não excedentes em
magnitude, ou na veemência do afeto, e poucas segundo o
número, e que em nada contrariem à razão quanto à espécie da
concupiscência ou da deleitação, tomada da parte do objeto.
Aquele que assim se acha nas concupiscências e nas
deleitações, dizemos estar bem persuadido e punido, isto é,
castigado pela razão. Assim como convém que a criança viva
segundo o preceito do pedagogo, assim convém que a força
concupiscível concorde com a razão.
De modo que se conclui que o concupiscível se acha
de tal maneira no homem temperado, que [deseja] aquilo que
convém, como convém e quando convém, na medida em que a razão
ordena.
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