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[Três são as obras da amizade]. Primeiro, a
exibição voluntária de benefícios, [ou beneficência].
Segundo, a benevolência. Terceiro, a concórdia.
[A exibição voluntária de benefícios, ou
beneficência, consiste no que segue]. Os homens reputam ser
amigos aqueles que querem e operam o bem, ou o que tem
aparência de bem, aos amigos, por causa do próprio amigo.
Dizemos que querem e operam, porque uma coisa sem a outra não
é suficiente à amizade. Dizemos o bem ou o que tem aparência
de bem porque muitas vezes o amigo exibe por amizade ao amigo
aquilo que estima ser o bem, ainda que não o seja. E dizemos
por causa do próprio amigo, porque se o homem exibisse
voluntariamente benefícios a alguém, não pretendendo com isso
o bem deste alguém mas o seu próprio, como quando alguém
alimenta um cavalo para sua própria utilidade, não parece ser
amigo verdadeiro do outro, mas de si mesmo.
[A benevolência explica-se do seguinte modo]. O
amigo quer o ser e o viver do seu amigo, por causa do amigo e
não de si mesmo, como aconteceria se no amigo buscasse
somente a comodidade própria.
A concórdia, [finalmente], pode ser tomada de três
[modos]. Primeiro, quanto ao convívio exterior. Segundo,
quanto à eleição. Terceiro, quanto às paixões, das quais a
todas se seguem a alegria e a tristeza. De onde que são ditos
serem amigos aqueles que vivem na concórdia quanto ao
convívio exterior, que fazem eleição das mesmas [coisas] e
que se condóem e se co-alegram [um com o outro].
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