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Não é sempre verdade [que quem recebe a ciência o
faz pelo sciente em ato, isto é, pelo mestre]. A ciência não
se adquire somente pelo professor, mas também buscando por si
mesmo.
[Esta afirmação deve ser interpretada do seguinte
modo]. Algumas coisas se reduzem da potência ao ato apenas
por um princípio extrínseco: como por exemplo o ar, que é
iluminado por aquilo que é luz em ato. Outras vezes, algumas
coisas se reduzem da potência ao ato por um princípio
extrínseco e intrínseco: assim como um homem pode sarar pela
natureza e pelo médico. Mas, em ambos os casos o homem sara
pela saúde em ato. Isto fica claro porque na mente do médico
está a "ratio sanitatis", segundo a qual ele confere a
saúde. Naquele que adquire a saúde, é necessário, por outro
lado, existir uma parte sã em ato, por cuja virtude as demais
partes saram. E, em relação a esta, o médico nada mais faz do
que auxiliar a natureza a expulsar a doença.
Da mesma maneira ocorre na aquisição da ciência. O
homem adquire a ciência por um princípio intrínseco, enquanto
encontra, e por um princípio extrínseco, enquanto aprende de
um mestre. Em ambos estes casos ocorre uma passagem da
potência ao ato por algo que está em ato. De fato, o homem,
pela luz do intelecto agente, conhece de imediato os primeiro
princípios naturalmente conhecidos e tira conclusões a partir
destes princípios que conhece em ato, chegando ao
conhecimento atual das coisas que conhecia em potência. E é
desta maneira que o mestre externo o auxilia a conhecer. De
onde que o auxílio externo de outro homem não é necessário,
se existe uma suficiente perspicácia do intelecto. [Mas,
mesmo assim, conforme fica explicado, o homem passa da
potência primeira à ciência através daquilo que está em ato].
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