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É importante perceber que pertence de modo
universal e comum a todo sentido, que o sentido pode receber
a espécie sem a matéria, [isto é, a forma sem a matéria],
assim como a cera recebe o sinal de um anel sem o ferro ou o
ouro.
Mas, [por outro lado], isso parece ser válido para
todo o paciente. De fato, todo paciente recebe algo de um
agente na medida em que é agente. Ora, o agente age pela sua
forma, e não pela sua matéria. De fato, todo paciente recebe
forma sem matéria. Portanto, não parece ser [algo] próprio do
sentido que este seja receptivo da forma sem a matéria.
Quanto a isto, deve-se dizer que a diferença está
no modo de se receber a forma. A forma que o paciente recebe
do agente pode ser recebida de duas maneiras diversas.
De uma primeira maneira, a forma recebida tem no
paciente o mesmo modo de ser que no agente. Isto acontece
quando o paciente apresenta a mesma disposição para a forma
que o agente tem. Nesta primeira maneira, a forma é recebida
no paciente do mesmo modo como ela estava no agente, e assim
[diz-se] que a forma não é recebida sem a matéria. Isto
porque, mesmo sem que a matéria do paciente se [transforme]
na mesma matéria em número do agente, todavia, ela se
[transforma] de uma certa maneira na mesma matéria, enquanto
o paciente adquire uma disposição material à forma semelhante
àquela que havia no agente.
De uma segunda maneira, a forma pode ser recebida
no paciente segundo um modo diferente de ser que havia no
agente. [Isto acontece] porque a disposição material do
paciente [à recepção da forma] não é semelhante à disposição
material que está no agente. E por isso a forma [é dita]
recebida no paciente sem a matéria, na medida em que o
paciente é assemelhado ao agente segundo a forma, mas não
segundo a matéria.
É deste [segundo] modo que o sentido recebe a
forma sem a matéria, porque a forma existe de modo diferente
no sentido e no objeto sensível. No objeto sensível a forma
tem um ser natural, mas no sentido tem um ser intencional e
espiritual.
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