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O gênero não está além daquelas que são espécies
do gênero. De fato, não pode ser encontrado animal que não
seja nem o homem, nem o boi, nem alguma outra coisa assim.
Se às vezes pode ser encontrado algo que é gênero
além das espécies, tomado de tal maneira que esteja além das
espécies, não estará sendo tomado como gênero, mas como
matéria. De fato, pode acontecer que algo seja gênero de
alguma coisa e sua matéria. Por exemplo, a voz é o gênero das
letras e também a sua matéria. É patente que é gênero, porque
as diferenças adicionadas à voz fazem dela a espécie [da voz
letrada]. E é também patente que seja matéria, porque é da
voz que se fazem as letras, assim como algo é feito da
matéria.
Deve-se saber, entretanto, que, posto que neste
caso a mesma [letra] segundo o nome possa ser gênero e
matéria, não todavia a mesma [letra] tomada do mesmo modo. A
matéria, de fato, é parte integral da coisa, e por isso não
pode ser predicada da coisa. Assim, não poderá ser dito que
o homem seja carne e osso. Já o gênero é predicado da
espécie. De onde se segue que de algum modo significa o todo.
[Muitos exemplos podem ser dados]. O corpo, por
exemplo, pode ser tomado como matéria do animal e como
gênero. Se no intelecto por corpo se entende a substância
completa pela última forma, tendo em si três dimensões, assim
então o corpo será gênero [do animal], e as suas espécies
serão as substâncias perfeitas determinadas por estas
últimas formas, como, por exemplo, a forma do ouro, a forma
da prata, a forma da azeitona e a forma do homem. Se no
intelecto se entende por corpo apenas o que tem três
dimensões com aptidão à forma última, então o corpo será
matéria.
O mesmo pode ser [exemplificado com a] voz. Se
aquilo que se entende por voz é a formação da voz em comum
segundo a forma que se distingue em diversas formas de letras
e sílabas, então assim a voz é gênero. Se por voz,
entretanto, se entende a substância do som, à qual é possível
tornar-se uma [determinada] formação, então assim a voz será
a matéria das letras.
[Assim fica claro que se alguma vez se encontra
algo que é gênero estando além de suas espécies, tomado num
sentido em que esteja além das espécies, ele não estará [na
verdade] sendo tomado como gênero, mas como matéria]. [Desta
maneira, fica sendo [universalmente] válida a regra de que o
gênero não está além das coisas que constituem as espécies
deste gênero].
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