3. Explica-se a primeira condição do fim último, que é ser perfeito.

Acerca da perfeição do bem final deve-se considerar que, assim como o agente move ao fim, assim também o fim move o desejo do agente. De onde que se torna necessário que os diversos graus do fim se proporcionem aos diversos graus do agente. [Examinando, assim, os graus que podem ser encontrados nos agentes, colocaremos em evidência os graus que se encontram nos fins].

O primeiro grau de um agente é imperfeitíssimo, é o agente que não age pela própria forma, somente na medida em que é movido por outro, como um martelo que golpeia uma espada. O efeito deste agente, segundo a forma alcançada, não se assmelha a este agente, mas àquele pelo qual é movido. O segundo grau de um agente é o de um agente perfeito, que age segundo sua forma de tal maneira que o efeito a ele se assemelha, como quando o fogo esquenta, mas que todavia necessita de um agente anterior principal para que seja movido. Por causa disso, este agente apresenta algo de imperfeição, por participar como instrumento. O terceiro grau de um agente é o agente perfeitíssimo, que age segundo a forma própria e que não é movido por outro.

Semelhantemente, existem três graus nos fins.

O primeiro grau de um fim é o fim imperfeitíssimo, que não é apetecido por causa de alguma bondade formal existente no mesmo, mas somente na medida em que é útil a algo, como o dinheiro.

O segundo grau de um fim é o dos fins perfeitos, que são apetecíveis por causa de algo que tem em si, sendo todavia, apetecidos por causa de outro, como a honra e os prazeres, os quais são por nós escolhidos por causa de si mesmos, visto que os escolheríamos mesmo que deles nada mais conseguíssemos, e não obstante isso, os escolhemos por causa da felicidade, porque através da honra e dos prazeres pensamos que futuramente seremos felizes.

O terceiro grau dos fins é o fim perfeitíssimo, que é apetecido por causa de si mesmo, e nunca é apetecido por causa de outro.

Fica assim manifesto que assim como aquilo que é apetecível segundo si é mais perfeito do que aquilo que é apetecível por causa de outro, assim também aquilo que nunca é apetecido por causa de outra coisa, é mais perfeito do que as coisas que, posto que sejam apetecidos per se, todavia também são apetecidas por causa de outra. Assim, as coisas que nunca são apetecidas por causa de outra, são ditas perfeitas de modo simples. Ora, a felicidade é uma coisa assim. Nós nunca a escolhemos por causa de outro, mas sempre por causa de si mesma. Já a honra, o prazer, a inteligência e a virtude são escolhidas por causa de si mesmo, já que as escolheríamos mesmo que se delas nada mais nos proviesse. Todavia, escolhemos estas coisas [também] por causa da felicidade, na medida em que através delas acreditamos que seremos felizes. Porém a felicidade não é escolhida por causa disso ou aquilo. De onde se conclui que a felicidade é perfeitíssima entre os bens, e por conseqüência, fim último e ótimo.