10. Como as enunciações podem ser unas de modo simples ou por conjunção.

O Filósofo afirma que as enunciações podem ser unas absolutamente, [isto é, de modo simples], ou unas segundo algo, isto é, por conjunção.

Para entender isto deve-se considerar que, segundo Boécio, a unidade e a pluralidade de uma oração se refere ao significado; a simplicidade ou a composição de uma oração, porém, se refere às suas vozes.

[Neste sentido, a oração será una ou múltipla segundo a unidade ou pluralidade de seu significado; sendo una, será una de modo simples ou por composição segundo a pluralidade de suas vozes].

Assim, a enunciação será una e simples, [ou una de modo simples], quando se compões apenas de nome e verbo em um único significado, como quando se diz "o homem é branco".

A enunciação será una mas composta, [ou una por conjunção], quando significa uma única coisa, mas composta ou por muitos termos, como quando se diz "o animal racional mortal corre", ou por muitas enunciações, como ocorre nas condicionais, que significam uma só coisa e não muitas.

[As enunciações não serão unas, porém], havendo nelas tanto pluralidade como composição, quando se colocam muitas coisas no sujeito ou no predicado com as quais não se faça uma unidade, como ao dizer: "O homem branco músico discute". O mesmo ocorre quando se juntam diversas enunciações, unidas entre si com ou sem conjunções, como ao dizer: "Sócrates corre, Platão discute".

As enunciações, finalmente, poderão também não possuir unidade, apesar de sua simplicidade, quando em uma oração é colocado algum nome que [simultaneamente] signifique muitas coisas, [de modo que a enunciação, apesar da ausência de composição das vozes, possui efetivamente uma pluralidade de significados e não possa, por isso, ser dita una].