4. As coisas necessárias para a consistência da cidade.

Antepostas todas estas coisas, devemos agora considerar quais e quantas são as coisas necessárias à consistência da cidade. Entre estas encontraremos aquelas que são partes da cidade per se.

Como cada uma das coisas que são pela natureza ou pela arte são determinadas por alguma operação própria, conforme é explicado no Primeiro Livro desta Política, devemos considerar as operações das coisas que há na cidade pois, pela diversidade destas operações, será manifesta a multidão das coisas que lhe serão necessárias.

Para qualquer cidade, se deve ser cidade, é necessário preexistir a preparação do alimento, se devem viver e alimentar-se.

Em seguida, devem existir as operações das artes, a construção, a carpintaria e outras semelhantes. A cidade necessita de muitos instrumentos que são preparados por tais obras.

Em terceiro é necessário que haja armas. Para os que convivem pela comunicação civil as armas são necessárias por dois motivos: primeiro para si próprios, para punir os agressores e os que transgridem as leis ou os principados; segundo para defender-se dos que desde fora querem lhes causar um injusto dano.

Em quarto lugar importa que a cidade tenha abundância de dinheiro por causa de duas outras razões semelhantes. Primeiro, por causa das oportunidades para as comunicações que devem ser feitas entre si; segundo, para as expedições de guerra se estas surgirem.

Em quinto lugar convém haver na cidade as coisas que são necessárias ao culto divino, ao qual chamamos de sacerdócio.

Em sexto lugar convém haver na cidade uma reta deliberação do que é conveniente e nocivo, e um julgamento junto daquilo que é objeto de disputas.

Todas estas coisas são necessárias à cidade por uma razão comum, pois a cidade é uma certa comunidade de uma multidão de cidadãos, não qualquer, mas per se suficiente para bem viver, conforme já anteriormente exposto. Se, porém, em alguma multidão faltar alguma das obras anteriores, como a preparação dos alimentos ou do que é elaborado pelos artífices, ou também as armas, ela não será mais per se suficiente para bem viver, como é manifesto por si mesmo. Não será mais, portanto, uma cidade. Se, portanto, deve ser uma cidade, é necessário que haja nela todas estas obras.

O Filósofo, portanto, conclui o número das coisas que é necessário haver na cidade dizendo que, se estas operações são necessárias, e elas não podem ser sem outras coisas, por exemplo, a preparação dos alimentos não pode ser sem os agricultores, a obra das artes sem os artífices, a obra dos armamentos sem os que lutam, nem o culto divino sem os sacerdotes ou o julgamento sem os juízes, é manifesto que para a consistência da cidade são necessários os agricultores, os artífices, os guerreiros, os ricos, os sacerdotes e os juízes.