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Embora as substâncias simples sejam forma sem
matéria, todavia não existe nelas inteira simplicidade, nem
são atos puros.
Ao contrário, apresentam [composição] com a
potência.
Tudo o que não pertence à [intelecção] da
essência, lhe é proveniente do exterior, e fazendo
composição com a essência. Ora, toda essência pode ser
inteligida sem que algo seja inteligido do seu ser feito.
Posso, de fato, inteligir o que é o homem ou uma ave
mitológica, e todavia ignorar se estas coisas apresentam
ser nas coisas da natureza. Daqui fica claro que o ser é
diferente da essência, a não ser que talvez existisse
alguma coisa cuja essência fosse o seu ser. Porém, se
houvesse uma coisa cuja essência fosse o seu ser, esta
coisa seria necessariamente una e primeira, o que pode ser
assim entendido: é impossível fazer-se uma plurificação de
algo a não ser por adição de alguma diferença, como quando
multiplicamos a natureza do gênero nas espécies, ou pela
recepção da forma em diversas matérias.
Ora, se supomos existir algo que seja somente
ser, de tal maneira que seja o próprio ser subsistente,
este ser não poderá receber adição de diferença, porque
então já não seria somente ser, mas seria ser e além disso,
alguma forma. Muito menos poderia receber adição de
matéria, porque então já não seria ser subsistente, mas
material. De onde que se conclui que uma tal coisa que seja
o seu ser, não pode ser senão única. E daqui se segue
também que em quaisquer outras coisas, que não esta que é o
seu ser, o seu ser seja uma coisa, e a sua [essência],
quididade, natureza ou forma seja outra.
De onde se conclui que nas substâncias
inteligentes o ser está além da forma e é por isso que se
diz que as inteligências são forma e ser.
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