10. Sobre a definição de infinito.

Alguns filósofos definiram o infinito como

"aquilo além do qual nada existe".

Mas essa definição não é correta. Segundo diz o filósofo, a definição correta seria

"aquilo além do qual sempre existe algo".

Que o infinito é "aquilo para além do qual sempre existe algo", é fácil de se demonstrar, porque, para que uma coisa seja infinita, é preciso que, para além de qualquer parte tomada haja uma outra parte, de tal maneira que a parte que tinha sido previamente tomada nunca seja tomada novamente.

A última cláusula, de que a parte que tinha sido previamente tomada nunca seja tomada novamente, é necessária, porque senão seria válido, como alguns filósofos antigos disseram, que o círculo é infinito porque pode ser infinitamente percorrido sem que nunca se chegue ao fim.

[Antes de prosseguir, Aristóteles demonstra que existe semelhança entre o infinito e a matéria]. O infinito por divisão existe somente em potência. E ele está simultaneamente em ato e em potência, no sentido em que foi previamente discutido. E já que o infinito está sempre em potência, ele é semelhante à matéria, que está sempre em potência. O infinito não existe em si mesmo como um todo em ato, como o finito existe em ato.

[Demonstra-se, a seguir, de um primeiro modo, que a definição dos antigos filósofos é incorreta].

A definição

"aquilo além do qual não existe nada",

não é a definição do infinito, mas a definição do perfeito e do todo. O todo é definido como aquilo ao qual nada lhe falta. E isso pode ser dito tanto para um todo em particular, como também para aquilo que mais propriamente é um todo, isto é, o universo, além do qual não existe nada. Assim, fica claro que a definição do todo é realmente

"aquilo além do qual nada lhe falta".

[Continuando a demonstração, deve-se dizer, em segundo lugar, que] na ordem da natureza, o todo e o perfeito são a mesma coisa ou quase a mesma coisa. A cláusula

"na ordem da natureza"

se deve porque o todo não se encontra nas coisas simples, que não têm partes. Estas coisas, entretanto, da ordem da Metafísica, são chamadas de perfeitas. Assim,

"aquilo além do qual não existe nada",

é também a definição do perfeito. Mas nada a que lhe falte um fim é perfeito. Portanto, a definição acima não pode ser a definição do infinito.

[Do fato do infinito ser um ser em potência, seguem-se três conclusões]:

A. Que o infinito, ao contrário do todo, que contém, o infinito não contém, mas é contido, à semelhança da matéria. Isto é, o que pertence ao infinito em ato, está sempre contido em algo maior, já que é sempre possível algo além dele.

B. O infinito como tal é desconhecido, porque ele é como a matéria que não tem forma. Ora, a matéria somente é conhecida através da forma.

C. O infinito tem natureza [ratio] de parte, em vez de todo. [Esta conclusão é muito menos óbvia do que poderia parecer à primeira vista]. O infinito é corretamente relacionado com a parte, na medida em que somente uma parte dele pode ser tomado em ato.