10. O Filósofo responde à primeira questão.

O Filósofo, a seguir, responde à primeira das questões levantadas, de cuja solução seguir-se-á a solução da segunda.

Deve-se entender que a felicidade é a operação humana segundo a inteligência. Na inteligência deve-se considerar o intelecto especulativo, cujo fim é o conhecimento da verdade, e o intelecto prático, cujo fim é a operação.

Segundo isto pode-se assinalar uma dupla felicidade para o homem. A [primeira] é a [felicidade] especulativa que é a operação do homem segundo a perfeita virtude contemplativa que é a sabedoria. A outra é [a felicidade] prática, que é a perfeição do homem segundo a virtude prática perfeita do homem que é a prudência.

Há uma certa operação segundo a prudência e uma certa especulação segundo a sabedoria do homem apenas segundo si mesmo. E há também uma certa operação da prudência e uma certa especulação [da sabedoria] de toda a cidade. Por isso, há uma certa felicidade prática e uma certa felicidade especulativa do homem segundo si mesmo, e há uma certa felicidade prática de toda a cidade e uma certa felicidade contemplativa de toda a cidade.

A felicidade especulativa segundo um só homem é melhor do que a prática que é segundo um só homem, conforme evidentemente ensina Aristóteles no Décimo Livro da Ética, já que a perfeição da inteligência que é preferível é aquela que diz respeito ao objeto mais inteligível, porque a razão da perfeição é tomada do objeto. Ora, esta é a especulativa. A felicidade, de fato, é a perfeição da inteligência em relação ao primeiro e maximamente inteligível. Já a felicidade prática é a perfeição da inteligência em relação aos agíveis do homem, o que é muito carente em relação à razão do primeiro inteligível. Portanto, a felicidade contemplativa de um só homem deve ser mais escolhida do que a felicidade prática. Ademais, a felicidade contemplativa é também mais contínua, suficiente e deleitável do que a prática.

Pela mesma razão, a felicidade contemplativa de toda a cidade deve ser mais escolhida do que a felicidade política ou civil, sendo a felicidade contemplativa de toda a cidade mais elegível do que a felicidade contemplativa de um só homem. Semelhantemente, o mesmo pode ser dito da felicidade civil e prática de um só homem. E é isto o que pretendia dizer Aristóteles no Primeiro Livro da Ética, ao afirmar que se o mesmo é para um só homem e para a cidade, maior e mais perfeito parecerá o que é tomado e salvo para a cidade. Amável já o será para um só, melhor, porém, e mais divino para um povo ou uma cidade. E a razão disto é que a vida contemplativa e civil da cidade compara-se à vida contemplativa [e prática] de um só homem como o todo se compara à parte, e o todo possui razão de mais perfeito e de maior bem do que a parte.