6. Levantam-se duas questões importantes.

O Filósofo a seguir levanta duas dúvidas para a [melhor] declaração do que foi dito. Ele diz que sobre o que foi tratado ocorrem duas dúvidas, que são dignas de consideração, para a [maior] evidência do que foi dito e do que irá ser tratado em seguida.

A primeira é que, se há duas vidas principais do homem, que são a vida prática e a vida especulativa, qual destas duas mais deve ser escolhida, se aquela que consiste na comunicação civil vivendo simultaneamente de modo civil, isto é, a vida ativa, ou aquela que é peregrina e absolvida desta comunicação civil, isto é, a contemplativa. O Filósofo chama de vida contemplativa a vida absolvida e peregrina, porque esta consiste principalmente na aplicação do homem segundo a inteligência ao seu primeiro e ótimo objeto, o que não pode ser sem a sedação dos movimentos e das perturbações sem as quais não há vida civil e, por isso importa que ela seja absolvida da comunicação civil e, por conseqüência, peregrina. Chama-se peregrino aquilo que está distante do hábito costumeiro. Ora, em geral a vida costumeira do homem é a vida civil. Este é o motivo pelo qual Eustrato, comentando o Primeiro Livro da Ética de Aristóteles, afirma que o homem especulativo está separado do corpo e das coisas sensíveis segundo a escolha, embora não segundo a coisa.

A segunda dúvida é qual seria a república ótima de modo simples, e qual seria a ótima ordenação da cidade, supondo que todos os homens, ou pelo menos a maioria, queiram mais escolher a vida civil [do que a contemplativa], ainda que nem todos decidam viver civilmente. Há, de fato, alguns homens que não podem comunicar a vida civil por um defeito de natureza ou de costume, como os homens bestiais, e alguns outros que não escolhem a vida civil porque, como entes que conseguiram aproximar-se da divindade, entendem já serem suficientes per se, sem que necessitem da vida civil. A maioria dos homens, entretanto, escolhe a vida civil.