5. Se, ao mudar a política, o que anteriormente havia sido feito o havia sido feito pela cidade.

Outra dúvida que pode levantar-se consiste em como conhecer quando aquilo que se faz é feito pela cidade e quando não. De fato, às vezes ocorre que a política de uma cidade muda de uma tirania ou do poder dos ricos em um poder popular e, neste caso, o povo recebendo o poder político, não quer mais cumprir com acordos que haviam sido feitos pelo tirano ou pelos ricos anteriormente dominantes. Dizem, de fato, que se algumas coisas foram feitas pelo tirano ou pelos ricos da cidade não foi a cidade quem as fêz. O mesmo ocorre em muitas outras circunstâncias, quando aqueles que presidem obtém algo de outros não por causa da utilidade comum da cidade, mas por causa da comodidade própria.

A solução destas questão [depende de se determinar] se a cidade permanece a mesma quando se faz uma transmutação politica. [Se a cidade for a mesma, aquilo que tiver sido feito pelo estado popular terá sido feito pela mesma cidade pelo poder de poucos ou pela tirania]. O discurso próprio para resolver a questão acima, portanto, consiste em determinar-se como uma cidade pode ou não ser dita a mesma.

Mesmo um exame superficial da questão revela que ela diz respeito a duas coisas: o lugar da cidade e os homens que habitam a cidade.

Às vezes os cidadãos são expulsos da cidade, de tal modo que alguns são conduzidos a um lugar, outros a outro e, onde existiu a cidade, outros habitantes inteiramente novos são introduzidos. Como a cidade é dita de muitos modos, na medida em que é dita cidade o próprio lugar da cidade, tratar-se-á da mesma cidade; na medida em que a cidade é dita o povo da cidade, esta cidade não será a mesma.

Dúvidas menos simples ocorrem quando se deseja determinar a razão da unidade de uma cidade quando o lugar é sempre o mesmo mas não o são os seus habitantes. É evidente que não são os muros estabelecem a unidade da cidade. Uma região muito grande, de fato, poderia ser circundada por um só muro e, mesmo assim, não ser uma só cidade aquela que está dentro dela.

Quando os homens permanecem no mesmo lugar, uma cidade deve ser dita a mesma por causa do mesmo gênero de habitantes, quando, a saber, alguns sucedem a outros, embora não sejam os mesmos pelo número. É assim que dizemos as fontes e os rios serem soo mesmos por causa da sucessão das águas. Assim também dizemos tratar-se da mesma cidade, embora alguns morram e outros nasçam, sempre que permanece o mesmo gênero de homens. A sucessão de homens de um só gênero pode de algum modo ser dita a mesma multidão de homens. Não poderá, porém, ser dita a mesma cidade, se for alterada a ordem política. Já que a comunicação dos cidadãos, que é chamada de política, pertence à razão da cidade, é manifesto que, mudada a política, não permanece a mesma cidade. A cidade deve ser dita a mesma em relação à ordem política, de tal modo que, mudada a ordem política, ainda que permaneça o mesmo lugar e os mesmos homens, não será mais a mesma cidade, embora materialmente seja a mesma. A cidade assim alterada poderá ser chamada pelo mesmo ou por outro nome; se, porém, permanecer com o mesmo nome, será equivocamente dita a mesma.

Se, porém, é justo ou injusto que, não mais permanecendo a mesma cidade por causa de uma transmutação política, as convenções da política anterior sejam cumpridas, esta questão pertence a outra consideração que será determinada a seguir.