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Se se ordenasse nas cidades conforme agora se
ordena, isto é, que as posses sejam divididas entre os
cidadãos, e isto fosse ordenado por belos costumes e justas
leis, isto produziria uma grande diferença em uma muito maior
bondade e utilidade em relação ao que Sócrates propunha.
[Nesta ordenação encontrar-se-ia] o bem de dois modos, tanto
na medida em que as posses seriam tidas como próprias, quanto
na medida em que seriam tidas em comum.
Se, de fato, as posses forem próprias, e se ordene
por leis e costumes retos que os cidadãos comuniquem entre si
com seus próprios bens, este modo de vida possuirá o bem que
pertence tanto aos dois modos [anteriormente mencionados],
isto é, à comunidade das posses e à sua distinção. De fato, é
necessário que as posses, simplesmente consideradas, sejam
próprias quanto à propriedade do domínio, mas que, de algum
modo, [também] sejam comuns.
Pelo fato de que as posses são próprias, segue-se
que a busca [e o cuidado] da posse seja dividida, na medida
em que cada um cuida de sua própria posse. Disto seguem-se
dois bens, dos quais o primeiro é que, na medida em que cada
um se intromete de si no que lhe é próprio e não no que é de
outro, não se produzindo os litígios que entre os homens
costumam originar-se quando muitos devem ocupar-se de uma
mesma coisa, na medida em que a um parece que deva proceder-
se de um modo e a outro parece que deva proceder-se de outro.
O segundo bem é que cada um mais aumentará a sua posse
insistindo nela mais solicitamente como algo de próprio.
Deste modo as posses serão divididas, mas por causa da
virtude dos cidadãos, que serão liberais e propensos a
fazerem o bem entre si, estas posses serão comuns segundo o
uso, assim como se afirma no provérbio, que as coisas que são
do amigo são comuns.
Para que isto não pareça a alguém como coisa
impossível, o Filósofo acrescenta que em algumas cidades bem
ordenadas foi estabelecido que algumas coisas fossem de fato
comuns quanto ao uso, outras se tornassem comuns pela vontade
de seus próprios donos, na medida em que alguém, tendo sua
própria posse, dirigisse alguns de seus bens para a utilidade
de seus amigos e estes amigos utilizassem estes bens por si
mesmo como de coisas comuns. Assim era na cidade dos
Lacedemônios, na qual alguém poderia usar o servo do outro ao
seu próprio serviço como se fosse um servo próprio.
Semelhantemente poderiam usar também cavalos, cães e veículos
dos outros como se fossem seus, se necessitassem deles para
irem a um campo situado na mesma região. De onde que é
manifesto que é muito melhor que as posses sejam próprias
segundo o domínio, mas que se tornem, de algum modo, comuns
quanto ao uso. Como, porém, o uso das coisas próprias possa
se tornar comum, isto pertence à providência do bom
legislador.
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