3. A semelhança entre o principado paterno e o principado real.

O principado do pai em relação aos filhos é o [principado] real. Neste principado duas coisas devem ser consideradas: o pai que gera exerce o principado pelo amor, porque ama naturalmente aos filhos e exerce o principado segundo a idade, porque possui uma certa prerrogativa de idade sobre os filhos e há, quanto a estas [características], uma espécie ou semelhança com o principado real. De fato, é necessário que o rei, que exerce um principado perpétuo e um poder plenário sobre todos, difira dos súditos segundo a natureza em uma certa grandeza de bondade e, todavia, que seja da mesma espécie que os súditos, pelo menos segundo a espécie humana, embora seja melhor para ele que seja também do mesmo povo.

Ora, esta também é a comparação do mais velho para com o mais jovem, e a do que gera para o que é gerado, isto é, que tenha uma prerrogativa natural de perfeição. Por isso é necessário que o rei difira por natureza de todos os demais; a não ser que o rei seja melhor por uma certa bondade natural, não seria justo que dominasse sempre e por um poder plenário sobre outros que lhe fossem iguais, conforme adiante se dirá.

Assim, portanto, é uma diferença natural que separa o principado real do principado político, que é o principado [exercido por iguais sobre] iguais segundo a natureza. O amor, por outro lado, separa o principado real do tirânico, que não é pelo amor que há para com os súditos, mas por causa da própria comodidade.