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O Filósofo, a seguir, declara por causa de qual
fim são feitas as dissensões.
Deve-se entender que há um fim [que é] segundo a
verdade, como é o bem da alma. Há um outro fim segundo a
aparência, como é o bem do corpo. O bem do corpo é o lucro; o
bem da alma é a honra. O Filósofo afirma, [ao dizer isto],
que as coisas pelas quais se promovem asa dissensões são
duas, o lucro e a honra. Sob [o nome de] lucro [o Filósofo]
entende todos os bens que o são segundo um certo aspecto, ou
seja, os bens do corpo. Sob o nome de honra [o Filósofo
entende] todos os bens de modo simples, que são os bens da
alma.
Os homens promovem sedições por causa dos
contrários destas coisas, isto é, por causa do dano e da
desonra. Por causa do dano, porque pertence à mesma razão
apetecer o lucro e fugir do dano. Por causa da desonra,
porque pertence à mesma razão apetecer a honra e fugir de seu
oposto. Mas porque o amigo é como um outro [si mesmo], o
Filósofo acrescenta também que os homens promovem a sedição
por causa da honra e do dano próprios ou dos amigos.
[Tendo dito isto], o Filósofo diz que os
princípios e as causas das transmutações das repúblicas pelas
quais os homens se dispõe a promover a sedição por causa do
lucro são sete em número. Se, de fato, forem enumeradas as
causas que dispõe à dissensão oculta, que é a sedição, pois a
sedição é uma dissensão oculta, haverá sete causas em número.
Se, porém, forem enumeradas as causas que dispõe às
dissensões ocultas e acrescentarmos as que dispõe à dissensão
manifesta, o número será maior.
Os primeiros princípios dispositivos à sedição são
as duas coisas já mencionadas, isto é, a honra e o lucro, não
porém conforme foi dito anteriormente. De fato, a honra e o
lucro podem ser considerados de dois modos diversos.
A honra e o lucro podem ser considerados de um
primeiro modo na medida em que são almejados por alguém, e
deste modo possuem razão de fim. Podem ser considerados de um
segundo modo na medida em que alguém os contempla em outro e,
então, porque contempla o lucro e a honra, e vê que um os
possui com justiça enquanto que outro não, se entristece, e
isto não porque os queira possuir, mas porque alguém possui
injustamente destas coisas mais do que deveria.
Há, portanto, [estes dois primeiros] princípios
pelos quais os homens promovem a sedição, que são a honra e o
lucro. Há também outros, que são a injúria, o temor, o
excesso, o desprezo e a excelência além das proporções. À
dissensão manifesta o homem é disposto por causa da vergonha,
do desprezo com julgamento de inferioridade [parvipensio], da
pusilinamidade, da imparidade e da negligência.
O Filósofo prossegue declarando como estas coisas
dispõe à sedição. Em primeiro lugar, trata das coisas que
dispõe indiferentemente à dissensão manifesta e oculta.
Depois, daquelas que dispõem principalmente à dissensão
manifesta.
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