14. Resposta aos que querem afastar os jovens da música.

Há alguns que reprovam a participação dos jovens na música. A estes o Filósofo responde dizendo que não é difícil remover esta reprovação pela qual alguns censuram a música e o seu uso.

O que parece ser razoavelmente reprovável é o que torna os jovens vis e mal dispostos segundo a inteligência. Os que reprovam a música sustentam que é precisamente isto o que a música produz nos jovens. Algumas melodias, de fato, dispõem à moleza, outras distraem das obras segundo a razão e por isso, dizem, a música é censurável com razão. Mas não é difícil resolver esta objeção considerando até onde importa participar da música para aqueles que pretendem ordenar as ações das crianças ao bem civil.

De fato, não se deve participar da música de qualquer modo, mas apenas na medida em que é útil à república, e considerando em quais melodias e em quais ritmos deve-se participar. Deve-se considerar também em quais instrumentos deve-se exercitar e aprender. Nisto há uma grande diferença no tocante ao que nos interessa e nisto também reside a solução da objeção que nos é proposta. Nada impede, de fato, mas ao contrário, é bastante manifesto, que há melodias, ritmos e instrumentos que dispõem mal os jovens segundo a inteligência, enquanto que há outras que dispõem bem a inteligência e os costumes. Por isso é necessário considerar muito bem quais instrumentos, melodias e ritmos devem ser usados para o bem da inteligência e para os costumes. Todas as dificuldades levantadas pelos que sustentam as objeções mencionadas são removidas através destas considerações.

É manifesto que o ensino e o uso da própria música é necessário que seja tanto e tal e por tais [meios] que não impeçam o homem quanto às ações civis futuras, nem tornem o seu corpo mal disposto às operações da inteligência e inútil às oportunidades bélicas e aos exercícios civis por causa da debilidade, agora aos exercícios e à progressiva adaptação e, no futuro, aos ensinamentos mencionados. Tudo o que diz respeito aos mais jovens deve ser comensurado e determinado segundo a sua utilidade ao fim da república, que é o bem perfeito segundo o intelecto.

Os jovens estarão bem dispostos acerca dos ensinamentos musicais se os que começarem a serem ensinados não se ocuparem em instrumentos trabalhosos e que tronam o corpo pesado para o movimento por um trabalho imoderado que pese sobre o corpo e suas forças, nem se exercitem em obras admiráveis e supérfluas, que acabam se transformando em jogos de lutas e nos quais hoje há muitos que querem instruir os jovens. Ao contrário, os jovens devem ser mais exercitados em cantos e instrumentos musicais mais fáceis e de moderado trabalho, até que possam deleitar-se retamente na harmonia musical e pela consideração dos ritmos, e não apenas na música comum, na qual todos os que possuem sentidos se deleitam, como alguns animais brutos, a multidão das crianças e também dos homens vis e servis.