12. Se os artífices são cidadãos.

A respeito da cidadania ainda resta uma dúvida: se somente será cidadão aquele que puder comunicar no principado da cidade, ou se também os vis artífices devem ser considerados cidadãos, aqueles que não sucede comunicarem no principado.

[Por um lado, parece que os mercenários não podem deixar de ser cidadãos], porque se nenhum deles for cidadão, em que gênero deverão ser colocados? Não se poderá dizer que sejam estrangeiros, como se tivessem vindo morar na cidade provenientes de outros lugares, nem se poderá dizer que sejam peregrinos, como os viajantes, que chegam à cidade por causa de algum negócio, não porém para nela permanecerem. Os artífices, [diversamente dos estrangeiros e peregrinos], possuem uma casa na cidade e nela nasceram, não tendo vindo de nenhum outro lugar.

[Estas razões, no entanto, não são suficientemente fortes para que, por causa delas, sejamos obrigados a considerar os artífices como cidadãos]. De fato, se os artífices não forem cidadãos, nenhum inconveniente se seguirá por causa [das objeções que acabam de ser expostas]. Há outros que não são cidadãos e nem por isso são estrangeiros ou peregrinos, como é evidente no caso dos servos. Nem todos aqueles que são necessários para completar a cidade, sem os quais a cidade não poderia subsistir, são cidadãos. Isto é manifesto não apenas no caso dos servos, mas também no das crianças, que não são perfeitos cidadãos como os homens. São, [ao contrário], cidadãos imperfeitos, e assim como os servos e as crianças são cidadãos de algum modo, mas não o são perfeitamente, assim também ocorre com os artífices.

Em uma cidade otimamente disposta os artífices não podem ser cidadãos. Se dissermos, todavia, que de algum modo o artífice é cidadão, então deveremos dizer que a virtude do cidadão que determinamos, isto é, pela qual ele possa bem governar e bem submeter-se, não pode pertencer ao cidadão, mas será necessário, para que esta virtude possa lhe pertencer, que não somente sejam homens livres, mas também descompromissados, isto é, absolvidos das obras necessárias à vida. Aqueles que são ordenados a estas obras necessárias, se com isto ministram a apenas um único homem, [são] servos; se, ao contrário, exibem estes ministérios comumente a qualquer um, [são] mercenários e pessoas sórdidas, os quais servem a qualquer um por dinheiro.

Com estas considerações fica, portanto, clara a verdade sobre a questão colocada. Como há muitas espécies diversas de política, e o cidadão é dito por ordenação à política, será necessário também que haja muitas espécies de cidadão. Por causa da diversidade de políticas e, por conseguinte, de cidadãos, será necessário que em alguma política, a saber, no estado popular, no qual se busca apenas a liberdade, os mercenários sejam cidadãos. De fato, estes podem [no estado popular] ser promovidos ao principado, já que são livres. Mas em outras políticas isto é impossível, como ocorre maximamente no estado dos ótimos, no qual as honras são dadas aos dignos segundo as suas virtudes, no qual aqueles que vivem uma vida mercenária não podem exibir em seu governo o que pertence à virtude, já que não se exercitaram nelas.

Deste modo, portanto, é manifesto que há diversas espécies de cidadãos, segundo a diversidade das políticas.