3. Sobre a maneira como as potências se distinguem entre si.

Trata-se de investigar se as potências anteriormente enumeradas se distinguem entre si pela natureza [secundum rationem], ou se separam pelo sujeito e lugar, como se uma parte do corpo correspondesse à potência sensitiva, outra à intelectiva, e assim por diante.

É patente que algumas das potências são separáveis segundo o sujeito e lugar. Para outras, entretanto, não há elementos ainda para se responder a esta questão.

Que algumas potências da alma sejam separáveis pelo sujeito e lugar fica patente pelo fato de que certas partes das plantas, quando cortadas, se são plantadas, novamente crescem, o que não aconteceria se não permanecesse nelas a vida, e, portanto, a alma. [Daqui fica claro que a potência vegetativa é separável segundo o sujeito e o lugar]. E também nos animais inferiores acontece o mesmo, que partes de seu corpo, quando cortados, conservam, além da potência vegetativa, o sentido e o movimento segundo o lugar. [Daqui se segue que a potência sensitiva e a potência motora também são separáveis segundo o lugar]. Ora, aonde existe sentido, existe necessariamente fantasia. Isso decorre da própria natureza da fantasia, que, conforme será explicado no fim do tratado, é [um] movimento [causado] pelo sentido segundo [o] ato. Da mesma maneira, aonde existe sentido, existe necessariamente apetite, porque ao sentido segue a alegria e a tristeza, gozo e dor. Isso segue-se do fato de que o sentido deverá ser conveniente ou não, e daí será deleitável ou doloroso. E, aonde existe dor e gozo, existe apetite. Assim, os princípios vegetativo, sensitivo, apetitivo e motor são separáveis segundo o lugar, conforme explicado acima.

Nas plantas e nos seres inferiores a alma é una em ato e múltipla em potência. Isto se explica por ser algo idêntico ao que ocorre nos corpos inanimados: nos seres viventes que pela sua imperfeição não requerem diversidade de partes, a alma e o próprio corpo é una em ato e múltipla em potência. Ela pode, portanto, ser dividida em diversas partes de espécies semelhantes, como ocorre com a água ou os corpos minerais.

Quanto a outras potências particulares, como a visão, audição, olfato, gosto e paladar, é manifesto que se encontram localizadas. Apenas o tato está em todo o ser vivente, e não localizado num órgão.

[No que diz respeito à fantasia], algumas fantasias são atribuídas a determinado órgão, mas isso ocorre nos animais superiores. Nos animais inferiores, sendo a fantasia indeterminada, conforme explicado acima, não se encontra localizada em alguma parte determinada.

[Em relação ao] intelecto, porém, a exposição feita até aqui não fornece elementos para que se afirme que ele apresenta algum lugar distinto no corpo ou não.

[Segundo a razão, porém], as potências são todas separáveis pela razão [ratio], porque as [ratio] razões das potências se ordenam conforme os respectivos atos. Ora, se os atos são de espécies diferentes, assim também o serão as potências.