IV. A OPOSIÇÃO ENTRE AS VIRTUDES E OS VÍCIOS


1. A oposição entre as virtudes e os vícios.

Na oposição entre as virtudes e os vícios, existe uma dupla contrariedade. Uma delas é a dos vícios entre si, a outra entre os vícios e as virtudes. [Isto acontece porque] há três disposições, das quais duas são viciosas, uma por superabundância e outra por defeito, e uma é segundo a virtude, que está no termo médio, e qualquer uma destas se opõe a qualquer das outras, já que as disposições extremas são mutuamente contrárias, e ambas são contrariadas pelas disposições intermédias.

Não é necessário provar que os dois vícios, que se acham segundo a superabundância e o defeito, sejam contrários pelo fato de existirem à máxima distância. Mas, quanto à virtude, estando no termo médio entre dois vícios, como ela não dista maximamente de ambos, precisamos mostrar que ela é, de fato, contrariada por ambos os vícios. Quanto a isto, devemos considerar que como o termo médio participa de alguma forma de ambos os extremos, na medida em que participa de um deles é contrariado pelo outro, assim como o igual, que é médio entre o grande e o pequeno, é pequeno em comparação ao grande, e grande em comparação ao pequeno. Assim, portanto, o hábito do meio se acha como superabundante em relação àquele que está em defeito, e como deficiente em relação àquele que é superabundante. Assim é que o forte em comparação ao tímido é audaz, em comparação, porém, ao audaz, é tímido, e o temperante em comparação com o insensível é intemperante, e em comparação ao intemperante é insensível.

E porque o hábito do meio se acha em comparação a um dos extermos segundo a razão do outro [extremo], daí é que [os homens] existentes em ambas as extremidades julgam o termo médio como o outro extremo a si opostos. Assim é que o tímido chama o forte de audaz, e o audaz chama o forte de tímido. O que é um sinal de que a virtude é contrariada por ambos os extremos.