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[Quanto, porém, à opinião daqueles que colocaram
que o homem feliz não necessitaria de amigos, devemos dizer]
que há muitas pessoas que julgam serem amigos aqueles que
lhes são úteis na obtenção dos bens exteriores, que são os
únicos que os homens populares conhecem. De tais amigos o
homem feliz não necessita, porque ele se é suficiente nos
bens que possui. Semelhantemente, o homem feliz também não
necessita de amigos por causa do deleitável, a não ser pouco,
isto é, na medida em que no convívio humano é necessário
atualizar-se da brincadeira para repousar, conforme explicado
no livro IV. De fato, a vida do homem feliz, sendo deleitável
segundo si mesmo, conforme explicado no livro primeiro, não
necessitará de acréscimo de outras deleitações, por causa da
quais houvesse necessidade de amigos. Portanto, como o homem
feliz não necessita de tais amigos, isto é, úteis e
deleitáveis, pareceu a estas pessoas que não necessitaria [de
nenhum modo] de amigos. Porém, isto não é verdade, isto é,
que se o homem feliz não necessita de amigos úteis e
deleitáveis, que por causa disto não necessite de amigos. De
fato, há alguns amigos por causa da virtude dos quais
necessita. E se alguém quiser considerar por argumentos mais
naturais, aparecerá com evidência que ao homem virtuoso e
feliz o amigo virtuoso é naturalmente elegível, mais ainda do
que os demais bens exteriores.
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