|
O primeiro motivo pelo qual a iliberalidade é mais
grave do que a prodigalidade está em que a prodigalidade não
pode aumentar muito e é facilmente curável pelo fato que as
riquezas abandonam com rapidez as pessoas que dão
indiscretamente. A própria pobreza que se segue à doação
supérflua do pródigo impede o pródigo de dar, tanto pela
própria impossibilidade de dar como pela experiência do [
erro]. Além disso, a prodigalidade é facilmente curável pela
idade, porque quanto mais alguém se aproxima da velhice, mais
se inclina a reter do que dar. Assim, já que o vício que não
[pode] aumentar muito, mas é facilmente curado, é menos
grave, daqui se segue que o pródigo é não pouco melhor do que
o iliberal.
O segundo motivo [pelo qual devemos julgar a
prodigalidade menos grave do que a iliberalidade] está na
semelhança da prodigalidade com a liberalidade. O pródigo
pode ser facilmente reduzido ao termo médio da virtude por
causa da [semelhança] que tem com o liberal. O pródigo possui
aquilo que o liberal possui, isto é, o dar com liberdade, e o
não facilmente receber. Difere, porém, do liberal, porque o
pródigo não faz [o mesmo] na medida conveniente e segundo a
reta razão. Não há defeito no pródigo segundo o que
propriamente pertence à virtude moral, que está relacionada
diretamente com a potência apetitiva. De fato, que alguém
seja superabundante no dar e no não receber, não pertence a
uma corrupção do apetite, nem a um defeito de virilidade da
alma. Pertence, outrossim, a uma certa loucura, de tal
maneira que a prodigalidade não tanto pertence à malícia
moral, que diz respeito a uma inclinação do apetite ao mal,
do que a um defeito da razão.
|
|