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Pareceria que as virtudes morais possam ser
separadas entre si, de tal maneira que uma virtude possa ser
possuída sem a outra. De fato, vemos que um mesmo homem não é
inclinado a todas a virtudes, mas um à liberalidade, outro à
temperança, e assim por diante. Isto acontece porque é fácil
alguém ser conduzido àquilo ao que é naturalmente inclinado.
Porém é difícil conseguir algo contra o impulso da natureza.
Segue-se, portanto, que o homem que está naturalmente
disposto a uma virtude e não a outra, alcançará esta virtude
à qual está naturalmente disposto, enquanto que esta outra, à
qual não está naturalmente disposto, de maneira alguma
alcançará. [De onde que se conclui que é possível possuir
alguma virtude moral sem possuir as outras].
[A esta questão deve-se dizer que] o que foi dito
é correto no que diz respeito às virtudes naturais, mas não
quanto às virtudes morais. Isto porque nenhuma das virtudes
morais pode ser possuída sem a prudência, e assim, quando a
prudência, que é uma [só] virtude, existe em alguém
simultaneamente existirão com ela todas [as virtudes morais],
das quais nenhuma [existiria] se a prudência não [existisse].
Desta maneira, se houvesse diversas prudências acerca das
matérias das diversas virtudes morais, assim como há diversos
gêneros de coisas artificiais, não haveria impedimento para
uma virtude moral existir sem que uma outra existisse, cada
uma delas tendo a prudência a si correspondente. Mas isto não
pode ser, porque os princípios da prudência são os mesmos
para toda a matéria moral, e portanto, por causa da unidade
da prudência, todas as virtudes são conexas entre si.
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