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Aquilo que foi dito acerca da diferença das
deleitações segundo as operações fica ainda mais evidente
pelo fato que as operações são impedidas pelas deleitações
provenientes de outras operações. Por este fato fica ainda
mais manifesto que as deleitações diferem entre si segundo as
operações, porque o fato mencionado precedentemente, isto é,
que as deleitações aumentam as operações, poderia ser
atribuído à [natureza] comum da deleitação, e não à
[natureza] própria [da deleitação], segundo a qual diferem as
deleitações entre si. Entretanto, torna-se manifesto que as
deleitações diferem pela espécie, na medida em que
encontramos que a deleitação própria aumenta a operação e a
[deleitação] estranha a impede.
De fato, vemos que aqueles que são amantes do som
das flautas não podem prestar atenção aos discursos que lhes
são ditos quando ouvem alguém tocando flauta, pelo fato de
mais deleitarem-se na operação da arte da flauta do que na
operação presente, isto é, na audição dos discursos a si
ditos. E assim é evidente que a deleitação que se faz segundo
a operação da arte da flauta corrompe as operações segundo os
discursos. De fato, é manifesto que a operação mais
deleitável exclui a outra na medida em que, se houver uma
grande diferença no excesso da deleitação, o homem totalmente
omitirá operar segundo a operação que lhe é menos deleitável.
Daqui é que quando veementemente nos deleitamos em alguma
coisa, nada mais podemos operar. Mas quando algo nos apraz
pouco ou frouxamente, podemos também alguma outra coisa
fazer, como é evidente naqueles que se deleitam nos teatros,
isto é, nos espetáculos dos jogos, que podem se [entreter]
comendo legumes, o que não é muito deleitável.
Porque, portanto, [por um lado], a deleitação
própria confirma as operações das quais se segue, de modo a
que o homem mais veementemente a elas se aplique, e as torna
de mais longa duração, de modo que o homem persevera mais
nelas, e as torna melhores, isto é, mais perfeitamente
alcançantes de [seu] fim; [enquanto que por outro lado], as
deleitações estranhas, isto é, as que se seguem a outras
operações, lhe causa dano, segue-se manifestamente que as
manifestações muito diferem entre si, porque aquilo que uma
deleitação ajuda, a outra impede.
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