3. Como o segundo efeito da amizade, que é a benevolência, convém ao homem virtuoso para consigo mesmo.

O homem virtuoso maximamente deseja para si o ser e o viver, e [isto] de modo especial quanto àquela parte da alma na qual está a sabedoria. De fato, se o homem é virtuoso, é necessário que queira aquilo que é para si o bem, porque cada um quer para si mesmo o bem. Ora, o bem é para o virtuoso o seu ser, isto é, que seja virtuoso, [porque] se acontecesse que alguém se tornasse outro, como se diziam nas fábulas, se o homem se transformasse numa pedra ou num asno, ninguém se importaria se aquilo que é transformado possuiria todos os bens. [De onde se conclui] que o desejo de cada um de querer o seu ser, isto é, que se conserve aquilo que [cada um] próprio é, [e aqui o compilador termina com suas palavras o raciocínio], [este desejo, dizíamos], [é como que a raiz da benevolência]. Ora, quem maximamente se conserva o mesmo em seu ser, é Deus, o qual não quer para si nenhum bem que agora não tenha, possuindo agora em si o bem perfeito, e ele próprio é sempre o que foi, porque é imutável. Porém, nós [homens], somos maximamente semelhantes a Deus segundo o intelecto, que é incorruptível e imutável. Por isso, o ser de cada homem maximamente [deve] ser considerado segundo o intelecto. De onde que o homem virtuoso, que totalmente vive segundo o intelecto e a razão, maximamente quer para si o ser e o viver. De fato, quer para si o ser e o viver segundo aquilo que nele permanece. Quem, porém, quer para si o ser e o viver principalmente segundo o corpo, que está sujeito à transmutação, não se quer verdadeiramente o ser e o viver.