2. O justo utilizado pelas definições dos antigos é o justo apenas segundo um certo aspecto.

Prosseguindo no seu intento, o Filósofo quer estabelecer que os antigos, embora tenham distinguido as políticas pelo justo, o justo tomado por eles é o justo segundo algo, e não o justo de modo simples.

Todos os antigos que determinaram o estado da minoria e o estado popular tomaram o justo segundo algo, não de modo simples, chegando em suas considerações apenas até um certo ponto. Ao se referirem ao justo, não o faziam segundo tudo aquilo que é propria e simplesmente justo, mas segundo o que é impropriamente justo e apenas segundo um certo aspecto.

[Que seja possível tomar o justo neste sentido impróprio é] manifesto, porque o justo é tomado segundo uma certa proporção e segundo alguma dignidade, pelo menos no que diz respeito 1a justiça distributiva. [Na justiça distributiva as coisas são distribuídas às pessoas segundo uma certa igualdade, que consiste na igualdade da proporção das coisas distribuídas e a dignidade das pessoas que as recebem. Esta dignidade pode ser tomada de acordo com o bem de modo simples ou de acordo com o bem segundo um certo aspecto]. E por isso, onde há o justo segundo uma proporção, [se esta proporção for] segundo a dignidade em relação ao bem de modo simples, ali haverá o bem de modo simples; onde o justo, porém, não o é em relação ao bem de modo simples, mas segundo algo, ali não haverá o justo de modo simples, mas segundo um certo aspecto. Ora, é isto o que ocorre nas democracias e nas oligarquias.

Na oligarquia o justo é tomado em relação à riqueza, na democracia em relação à liberdade. Ora, é manifesto que nenhuma destas coisas é o bem de modo simples. Os bens de modo simples são os bens da virtude, por onde fica evidente que os antigos abordaram o justo segundo um certo aspecto, não de modo simples.