17. Se a essência é idêntica com aquilo de quem é essência. [Comentário].

É de se notar que na sentença que o filósofo colocou, de que a essência é idêntica com aquilo de quem é essência, duas coisas foram excluídas, que são as coisas que são ditas por acidente, e as substâncias materiais. Anteriormente, porém, o filósofo [ao abordar a mesma questão], não excluiu senão as coisas que são ditas por acidente. [Devemos, pois, esclarecer isto].

[Nas substâncias materiais a essência não é idêntica com aquilo de quem é essência]. É, de fato, necessário não somente excluir as coisas que são ditas por acidente, como também as substâncias materiais. Conforme foi acima dito, a essência é aquilo que a definição significa. A definição, porém, não se dá do indivíduo, mas da espécie. Por isso, a matéria individual, que é princípio de individuação, está além daquilo que é a essência. Ora, é impossível nas coisas da natureza existir a espécie a não ser neste indivíduo. Daqui seguir-se-á que qualquer coisa da natureza, se tiver matéria que seja parte da espécie, a qual [portanto] pertencerá à essência, [deverá necessariamente] ter matéria individual, a qual não pertencerá à essência. Daqui se conclui que nenhuma coisa da natureza, se tiver matéria, será idêntica com a sua essência, [mas sim será algo] possuidor [habens] de essência. [Por exemplo], assim como Sócrates não é humanidade, mas possuidor [habens] de humanidade. Se, porém, fosse possível existir um homem composto de corpo e alma, que não fosse este homem composto deste corpo e desta alma, [certamente] seria idêntico com a sua essência, não obstante tivesse matéria.

Posto que um homem além dos singulares não existe nas coisas da natureza, todavia existe na razão que pertence à consideração lógica. É por isso que anteriormente, aonde de modo lógico considerou-se acerca da essência, Aristóteles não excluiu as substâncias materiais, mas antes afirmou que nelas a essência seria idêntica com aquilo de quem é essência. De fato, o homem em comum é idêntico com a sua essência, logicamente falando. Agora, porém, depois que já descemos aos princípios naturais, que são a matéria e a forma, e mostramos como de diversas maneiras se comparam quanto ao universal e ao particular que subsiste na natureza, devemos excluir daquilo que se disse ser idêntica a essência com aquilo de quem é a essência, as substâncias materiais existentes nas coisas naturais. Permanece, entretanto, que aquelas substâncias que são formas subsistentes não têm algo pelo qual sejam individuadas que esteja além da razão da coisa ou da espécie significante a essência. Por isso, nestas coisas, é verdadeiro de modo simples [simpliciter] que qualquer uma delas é a sua essência.