6. De que modo ao uno compete a razão da medida.

[Em qualquer gênero pode ocorrer a medida, e não somente na quantidade, como poderia parecer]. [Por exemplo, no gênero da qualidade ocorre que, por uma cor ser mais escura do que outra, e esta, por sua vez, mais escura do que outra ainda, a qualidade possa ser medida]. [E assim também nos outros gêneros]. [Acontece que] em qualquer gênero devemos tomar por medida aquilo que é de algum modo indivisível neste gênero. Ora, a razão do uno é ser indivisível. [Isto poder ser de modo simples, e então teremos o uno que se converte com o ente, ou segundo algo, e então teremos os diversos outros modos do uno, os quais, todavia, tomam sua razão de uma mesma e única razão comum, que é o ser indivisível]. [Portanto, se a razão do uno é ser indivisível, e a medida em qualquer gênero é feita por aquilo que naquele gênero é de algum modo indivisível, segue-se que é propriedade do uno ser medida].

[Porém, como se irá mostrar abaixo], é à quantidade que de uma certa maneira compete ser a primeira medida em qualquer gênero, [mesmo que este gênero a ser medido não seja o da quantidade]. [Isto acontece porque cada gênero, como a qualidade, por exemplo, pode ser tomado de duas maneiras]. [De uma primeira maneira pode ser tomado absolutamente, caso em que será inteiramente qualidade e não pertencerá de maneira alguma ao gênero da quantidade]. [De uma segunda maneira, pode ser tomado por comparação de uma qualidade a outra, quando poderá verificar-se que uma excederá a outra, e na razão deste excesso encontra-se uma razão de quantidade no gênero da qualidade]. [Este excesso, ainda que esteja no gênero da qualidade, terá assim que ser medido dentro do gênero da quantidade]. [Desta maneira], a quantidade será de uma certa maneira a primeira medida em qualquer gênero.

Ora, se àquilo que é indivisível em cada gênero, [que é uno neste gênero,] compete a razão de medida, maximamente competirá esta razão ao uno do gênero da quantidade, que é a primeira medida de qualquer gênero. [Isto pode ser explicado da seguinte maneira]. [O fato da quantidade ser a primeira medida em qualquer gênero acontece porque] a medida [em qualquer gênero] não é nada mais do que aquilo pelo qual a quantidade da coisa é conhecida, [ainda que esta coisa pertença a outro gênero, porque, conforme explicado, de uma certa maneira a quantidade pode encontrar-se nos demais gêneros]. Ora, a quantidade da coisa é conhecida pelo uno. [Portanto, é ao uno no gênero da quantidade que maximamente] compete a propriedade de ser medida, e é dele que a razão de medida é derivada aos demais gêneros.

Quando dizemos que esta coisa mede um estádio, ou um pé, a quantidade desta coisa [está sendo evidentemente] conhecida pelo uno. Quando dizemos que esta coisa mede três estádios ou três pés, a quantidade desta coisa está sendo conhecida pelo número. [Porém], como todo número é conhecido pelo uno, porque a unidade tomada várias vezes resulta naquele número, [na verdade, também neste caso em que a quantidade está sendo conhecida pelo número, o estará sendo na verdade pelo uno]. De onde se conclui que toda a quantidade, enquanto quantidade, é conhecida pelo uno.

E deve-se adicionar, "enquanto quantidade", porque as propriedades e demais acidentes da quantidade são conhecidas de maneiras diversas.

[Ao dizermos que toda quantidade enquanto quantidade é conhecida pelo uno, o uno a que nos estamos referindo é, portanto, o uno princípio de número, e não o uno que se convertecom o ente, principal objetivo deste tratado de Metafísica]. [O motivo deste uno estar aqui sendo determinado parece consistir em que, embora o uno possa ser dito de muitas maneiras, todas as são em virtude de uma razão comum, que é o ser indivisível, a qual pertence em grau máximo ao uno que se converte com o ente, por o ser do modo simples, a partir do qual todos os demais modos de unidade, segundo algo, são derivados].

É no gênero [da quantidade] onde é primeiramente encontrado o uno que tem razão de medida.