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Foi demonstrado no início do livro VIII que tudo o
que é movido é movido por um outro, exceto os auto moventes,
tais como os animais. Ora, uma pedra arremessada [ao longe]
não está incluída neste caso. Além do mais, um corpo move
como resultado do contato. Existe, portanto, uma dificuldade
em relação a [explicar-se] a maneira de como uma pedra
arremessada continua a ser movida até mesmo depois que não
está mais em contato com o movente, porque parece que então
estaria sendo movida sem ter um movente.
[A solução deste paradoxo, atribuída a Platão
consiste em dizer que] o arremessador, ao mover a pedra, move
também o ar, e o ar movido move a pedra subseqüentemente ao
contato do arremessador, [pelo fato de estar sendo movida].
[Esta solução, entretanto, não resolve a
dificuldade], porque é tão impossível o ar ser movido sem
contato com o primeiro movente, como o era para a pedra. [A
dificuldade continua] porque parece ser necessário que
enquanto o primeiro motor move, tudo seja movido e quando o
primeiro motor entra em repouso, tudo entra em repouso.
[Quando Aristóteles tentou resolver esta
dificuldade, por inacreditável que pareça, não nega que o ar
realmente mova a pedra. Ele simplesmente explica como isso
pode acontecer tendo o ar deixado de ser movido quando o
arremessador parou de mover tanto a pedra quanto o ar].
[Segundo Aristóteles, a dificuldade de Platão se resolve
reconhecendo que] se o segundo motor move aquilo que foi
movido pelo primeiro motor, deve-se dizer que o primeiro
motor confere ao segundo motor a potência de mover e ser
movido, porque o ar recebe do arremessador tanto a potência
de mover como a de ser movido. Mas mover e ser movido não
estão necessariamente no mesmo ser, porque nós demonstramos
que existe um motor que não é movido. Portanto, o ar movido
pelo arremessador não cessa simultaneamente de mover e ser
movido. Ao invés disso, tão logo o primeiro movente cessa de
mover, o ar cessa de ser movido, mas ele é ainda um movente.
[Que uma coisa destas seja possível na natureza] é aparente
aos sentidos, porque quando um objeto móvel alcançou o
término do seu movimento, neste último ponto ele ainda pode
mover. [Em afirmando isso, Aristóteles parece referir-se ao
caso de uma esfera rolando até parar repentinamente devido ao
choque com outra esfera, e a segunda esfera continuar o
movimento desta]. Mas como o segundo motor tem menos potência
de mover do que o primeiro, e o terceiro menos do que o
segundo, o movimento de arremesso deverá cessar porque existe
menos potência movente no movente consecutivo do que haveria
no primeiro. E, finalmente, por causa do decremento na
potência da força motora, nós chegaremos a um ponto onde
aquilo que será anterior ao próximo objeto móvel não poderá
ser causa do próximo objeto apresentar potência de mover mas
somente será causa desse objeto ser movido. Assim, quando
este último motor pára de mover, aquilo que por ele é movido
simultaneamente cessa de ser movido. Conseqüentemente, todo o
movimento cessa.
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