6. A república é principalmente dos que usam as armas.

A república deve ser dos que usam as armas e dos que as usam em ato. O motivo disto é porque a república deve ser [daqueles que estão situados num termo] médio, e por isso deve ser daqueles em que há muitos medianos. Ora, estes são os que usam as armas.

Quanto porém deve ser o censo e a multidão [de homens que] haja na cidade, isto não é [aqui determinado pelo Filósofo]. Convém, de fato, determinar o censo na cidade segundo a região e segundo a potência do adversário. Convém que a multidão seja tanta quanta a região possa alimentar, e tanta quanta possa repelir os adversários. Deve-se considerar também que a qualidade e a boa disposição segundo a disciplina e os costumes muito acrescentam à bondade da república e, por isso, deve-se fazer com que os que participam da política sejam muitos, pelo menos segundo a qualidade, embora possam carecer de quantidade.

[Duas notas devem ser acrescentadas ao fato de que a república deve ser dada aos que usam das armas]. A primeira é que convém que haja mais pessoas que participam da república do que os que não participam. O motivo é que os pobres que vivem na cidade sem [participarem do] principado desejam viver quietamente e sem turbação, sem que ninguém os moleste e sem que ninguém lhes tire os seus bens. Isto, porém, não é fácil de se obter, porque o que ocorre mais freqüentemente é que os governantes não são mansos nem humanos, e por isso é difícil que os pobres não sejam molestados. Ademais, aqueles que fazem uso de armas, quando deve-se lutar numa guerra, querem receber alimento dos pobres se houver pobres e, se não os receberem, movem guerra contra eles; se os receberem, porém, os pobres tentarão se insurgir contra eles. Para que, portanto, não possam se insurgir contra os governantes, importa que haja muitos mais que estejam no uso de armas do que os que não o estejam.

[A segunda observação é que] devem participar da república não somente os que possuem armas como também os que as possuírem e fizerem uso delas. É costume entre alguns que participem da república não apenas aqueles que vão às armas e as usam em ato, como também aqueles que já o foram e já tiveram o uso das mesmas. Isto é muito conforme a razão, porque estes últimos foram mais exercitados nos atos das virtudes e das armas. É razoável, portanto, que estes participem da república.