2. Que a benevolência não é o amor de amizade.

A benevolência também não é o amor de amizade, o que pode ser mostrado de duas maneiras.

[Primeiro porque] a benevolência não possui [deleitação] da alma, nem apetite, isto é, paixão no apetite sensitivo, que distende pelo seu ímpeto a alma como com certa violência, movendo a algo. De fato, isto acontece nas paixões do amor, não porém, na benevolência, que consiste num simples, movimento da vontade.

[Segundo porque] o amor de amizade [assim] se torna pelo costume. De fato, o amor de amizade importa num certo ímpeto veemente da alma, conforme já foi explicado. Porém a alma não costuma ser movida a algo de modo veemente imediatamente, sendo conduzida a mais gradativamente. Por isso, o amor de amizade cresce por um certo costume. Já a benevolência, por implicar num simples movimento da vontade, pode fazer-se repentinamente, como acontece aos homens que assistem às lutas dos atletas. De fato, tornam-se benévolos a um ou outro dos lutadores, os quais têm prazer em considerar que este ou aquele vencerá. Todavia, nenhuma obra fariam para que isso acontecesse, porque os homens são repentinamente benévolos e amam superficialmente, isto é, somente segundo um débil movimento da vontade, não se lançando à obra.