2. Sobre o ente.

Porque, segundo as palavras de Aristóteles, um pequeno erro no princípio se torna grande no fim, e o ente e a essência são as [coisas] que por primeiro são concebidas no intelecto, para que pela sua ignorância não caiamos em erro, vamos em seguida tratar do ente e da essência.

No quinto livro da Metafísica, Aristóteles afirma que o ente pode ser dito de duas maneiras. De uma primeira maneira, [segundo que possa] ser dividido pelos 10 predicamentos. De uma segunda maneira, [segundo que] signifique a verdade das proposições.

A diferença entre estes dois modos está em que, pelo segundo modo pode ser dito ente tudo aquilo que pode fazer parte de uma proposição afirmativa, ainda que não possa de nenhuma maneira ser colocado nas coisas. Por este segundo modo as privações e as negações podem ser ditos entes. Assim, pelo fato de que podemos dizer que "a afirmação é oposta à negação", a negação é um ente. Pelo fato de que podemos dizer que "a cegueira está no olho", a cegueira é um ente. Mas, segundo o primeiro modo, nada pode ser dito ente a não ser que possa ser colocado nas coisas. De onde se segue que a cegueira e a negação e outras tais não podem ser ditos entes segundo este primeiro modo.