4. Como, para que alguém se torne bom, requer-se o costume.

Muito nos deve ser querido, se possuindo tudo aquilo pelo qual os homens parecem se tornar virtuosos, alcancemos a virtude. Acerca disto, [os filósofos colocaram] três opiniões. Alguns dizem que os homens se tornam bons pela natureza, por exemplo, pela compleição natural com a impressão dos corpos celestes. Outros dizem que os homens se tornam bons pelo exercício. Já outros, finalmente, dizem que os homens se tornam bons pela doutrina.

As três opiniões [acima colocadas] são de algum modo verdadeiras, [o que pode ser mostrado conforme se segue]. A disposição natural aproveita para a virtude, conforme já explicado no livro sexto. Tal virtude natural, é, porém, imperfeita, conforme explicado no mesmo livro. Para a sua perfeição exige-se que sobrevenha a perfeição do intelecto ou da razão. [Como, porém, não é somente a perfeição do intelecto que] se requer à virtude, exigindo-se também a retidão do apetite, faz-se necessário também o costume pelo qual o apetite é inclinado ao bem.

[Podemos concluir que ] é evidente que o que pertence à natureza não está em nosso poder. Também já foi dito que o discurso e a doutrina não possuem eficácia em todos, sendo necessário, para que tenham eficácia em alguém, que a alma do ouvinte esteja preparada por muitos bons costumes para se alegrar com o bem e odiar ao mal, assim como é necessário para a terra que esteja bem lavrada para que se nutra com a boa semente. De fato, o bom discurso ouvido está para a alma assim como a semente está para a terra. Aqueles, portanto, que vivem segundo as paixões, não ouvirão livremente os discursos exortatórios, nem também os entenderão, de tal maneira que julgam ser bom aquilo ao qual são induzidos. De onde que não podem ser persuadidos por alguém. E para que falemos universalmente, a paixão que domina estabelecida no homem pelo costume, não cede ao discurso somente, sendo necessário usar de violência, para que o homem seja compelido ao bem. E assim é evidente que, para que o discurso exortatório tenha eficácia em alguém, é necessário pré existir o costume, pelo qual o homem adquire o costume próprio à virtude, de tal maneira que ame o bem honesto e abomine o que é torpe.