19. Que existe uma felicidade secundária que consiste na operação das virtudes morais.

Embora a felicidade é primeiro e principalmente segundo a especulação do intelecto, existe uma outra felicidade [de modo] secundário, a qual consiste nas operações das virtudes morais. Sendo aquele que descansa na especulação da verdade felicíssimo, secundariamente é feliz aquele que vive segundo a virtude da prudência, a qual dirige todas as virtudes morais. Assim como a felicidade especulativa é atribuída à sabedoria, que compreende em si os outros hábitos especulativos como algo existente de modo principal, assim também a felicidade ativa, que é segundo as operações das virtudes morais, é atribuída à prudência, a qual é perfectiva de todas as virtudes morais, conforme mostrado no livro sexto.

As operações que o são segundo as outras virtudes ativas são operações humanas, porque são acerca das coisas humanas. São, de fato, acerca das coisas exteriores, que vem para uso do homem, acerca do corpo e das paixões da alma. A estas coisas, por uma certa afinidade, se apropriam as virtudes morais. Porém a virtude moral vai sempre unida à prudência intelectual existente [na virtude] segundo uma certa afinidade e vice versa. Isto porque, [por um lado], os princípios da prudência são tomados segundo as virtudes morais, cujos fins são princípios da prudência, [enquanto que por outro lado], a retidão das virtudes morais é tomada segundo a prudência, porque ela faz a reta eleição das coisas que [se fazem tendo em vista àquele] fim, como é patente pelas coisas que foram ditas no livro sexto. As virtudes morais e a prudência estão simultaneamente ligadas às paixões, porque segundo estas ambas as paixões são modificadas. As paixões, porém, pertencendo à parte sensitiva, são comuns a todo o composto de corpo e alma. De onde que é evidente que tanto a virtude moral quanto a prudência são acerca do composto. As virtudes do composto, porém, propriamente falando, são humanas, na medida em que o homem é composto de corpo e alma. De onde que a vida que é segundo [as virtudes morais e a prudência] é humana, a qual é dita vida ativa. Por conseqüência, a felicidade que consiste nesta vida [ativa], é humana. Mas a vida e a felicidade especulativa, que é própria do intelecto, é separada e divina.