12. Sobre a primeira produção das coisas por Deus.

[Levanta-se aqui uma dificuldade].

Se o primeiro princípio, que é Deus, não se relaciona diferentemente agora do que ele era antes, ele não produz coisas agora ao invés do que antes. E se ele estivesse relacionado diferentemente, pelo menos uma mutação de sua parte seria anterior à mutação que é primeira.

[A estes argumentos devemos dizer que] se Deus fosse um agente apenas através da natureza, e não através da vontade e do intelecto, esse argumento concluiria com necessidade. Mas porque ele age através de sua vontade, ele é capaz, através de sua eterna vontade, de produzir um efeito que não é eterno, justamente como, através de seu eterno intelecto, ele poderá entender uma coisa que não é eterna.

Quando nós afirmamos que as coisas não foram eternamente produzidas por Deus, não queremos com isso dizer que um tempo infinito houve no qual Deus não agiu, e que depois de um determinado tempo ele começou a agir. Ao invés disso, queremos dizer que Deus produziu o tempo e as coisas depois que [estas coisas e o tempo] não existiam. E assim nós não precisamos considerar que a divina vontade desejou fazer as coisas não agora, mas depois, como se o tempo realmente existisse.

Se, entretanto, perguntarmos porque Deus quis isso, sem dúvida deverá ser dito que ele fez isto por causa de si mesmo. Porque assim como ele fez as coisas por causa de si mesmo, de tal maneira que uma semelhança de sua divindade estivesse nelas manifestada, assim ele quis que elas não existissem sempre, de tal maneira que a sua suficiência estivesse manifestada nisso, que quando todas essas demais outras coisas não existiam, ele tinha em si mesmo toda a suficiência de beatitude e do poder para a produção das coisas. Isto é o que pode ser dito na medida em que a razão humana pode entender as coisas divinas. Não obstante, os segredos da sabedoria divina, que por nós não podem ser compreendidos, estão preservados.