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Embora a felicidade é primeiro e principalmente
segundo a especulação do intelecto, existe uma outra
felicidade [de modo] secundário, a qual consiste nas
operações das virtudes morais. Sendo aquele que descansa na
especulação da verdade felicíssimo, secundariamente é feliz
aquele que vive segundo a virtude da prudência, a qual dirige
todas as virtudes morais. Assim como a felicidade
especulativa é atribuída à sabedoria, que compreende em si os
outros hábitos especulativos como algo existente de modo
principal, assim também a felicidade ativa, que é segundo as
operações das virtudes morais, é atribuída à prudência, a
qual é perfectiva de todas as virtudes morais, conforme
mostrado no livro sexto.
As operações que o são segundo as outras virtudes
ativas são operações humanas, porque são acerca das coisas
humanas. São, de fato, acerca das coisas exteriores, que vem
para uso do homem, acerca do corpo e das paixões da alma. A
estas coisas, por uma certa afinidade, se apropriam as
virtudes morais. Porém a virtude moral vai sempre unida à
prudência intelectual existente [na virtude] segundo uma
certa afinidade e vice versa. Isto porque, [por um lado], os
princípios da prudência são tomados segundo as virtudes
morais, cujos fins são princípios da prudência, [enquanto que
por outro lado], a retidão das virtudes morais é tomada
segundo a prudência, porque ela faz a reta eleição das coisas
que [se fazem tendo em vista àquele] fim, como é patente
pelas coisas que foram ditas no livro sexto. As virtudes
morais e a prudência estão simultaneamente ligadas às
paixões, porque segundo estas ambas as paixões são
modificadas. As paixões, porém, pertencendo à parte
sensitiva, são comuns a todo o composto de corpo e alma. De
onde que é evidente que tanto a virtude moral quanto a
prudência são acerca do composto. As virtudes do composto,
porém, propriamente falando, são humanas, na medida em que o
homem é composto de corpo e alma. De onde que a vida que é
segundo [as virtudes morais e a prudência] é humana, a qual é
dita vida ativa. Por conseqüência, a felicidade que consiste
nesta vida [ativa], é humana. Mas a vida e a felicidade
especulativa, que é própria do intelecto, é separada e
divina.
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