4. Qual é a felicidade ou a vida ótima da cidade.

É oportuno, portanto, mostrar agora, pelas mesmas razões, qual é a felicidade da cidade.

Dizemos ser feliz, e também ótima, aquela cidade que opera otimamente. Pelo que se expõe no Primeiro Livro da Ética, a felicidade é suposta ser a operação ótima. Ora, é impossível que operem otimamente aqueles que não operam coisas ótimas, já que o bem na operação se segue à bondade do objeto ou do operado. Mas nenhuma obra é boa, nem de um só homem segundo si mesmo, nem de uma cidade, sem a virtude moral e a prudência intelectual. Portanto é impossível que a cidade seja feliz e ótima simplesmente considerada sem a virtude moral e intelectual.

Mas porque alguém poderia dizer que a fortaleza e a justiça, assim como as demais virtudes, não são de uma só [e mesma] natureza [no homem e na cidade], o Filósofo acrescenta que a virtude de toda a cidade e a virtude de cada homem são da mesma natureza em si mesmo e em sua ordenação à operação, não diferindo senão como o todo difere da parte e o maior difere do menor. De fato, a virtude moral da cidade é a reunião das virtudes parciais dos cidadãos e por isso a mesma é a virtude de um só homem e a de toda a cidade.

O Filósofo conclui desculpando-se da necessidade de uma mais certa consideração de todas estas coisas, porque sobre a felicidade de um só homem e a felicidade de toda a cidade foi exposto apenas o que era necessário ao modo de um prêmio, tendo em vista o assunto a ser tratado a seguir. Expor tudo o que pertence a este assunto é o trabalho de outro gênero de estudo, do qual ele tratou no Primeiro e no Décimo Livro da Ética.

Agora, portanto, supomos para a intenção a que nos propomos que a vida ótima e a felicidade de cada homem segundo si mesmo, e de toda a cidade, consiste na perfeição que há na virtude, não na medida em que esta é hábito, mas na medida em que redunda em obra, deixando de lado para as presentes considerações todo o restante que poderia ser tratado a este respeito.