6. Se é possível possuir alguma virtude moral sem as demais.

Pareceria que as virtudes morais possam ser separadas entre si, de tal maneira que uma virtude possa ser possuída sem a outra. De fato, vemos que um mesmo homem não é inclinado a todas a virtudes, mas um à liberalidade, outro à temperança, e assim por diante. Isto acontece porque é fácil alguém ser conduzido àquilo ao que é naturalmente inclinado. Porém é difícil conseguir algo contra o impulso da natureza. Segue-se, portanto, que o homem que está naturalmente disposto a uma virtude e não a outra, alcançará esta virtude à qual está naturalmente disposto, enquanto que esta outra, à qual não está naturalmente disposto, de maneira alguma alcançará. [De onde que se conclui que é possível possuir alguma virtude moral sem possuir as outras].

[A esta questão deve-se dizer que] o que foi dito é correto no que diz respeito às virtudes naturais, mas não quanto às virtudes morais. Isto porque nenhuma das virtudes morais pode ser possuída sem a prudência, e assim, quando a prudência, que é uma [só] virtude, existe em alguém simultaneamente existirão com ela todas [as virtudes morais], das quais nenhuma [existiria] se a prudência não [existisse]. Desta maneira, se houvesse diversas prudências acerca das matérias das diversas virtudes morais, assim como há diversos gêneros de coisas artificiais, não haveria impedimento para uma virtude moral existir sem que uma outra existisse, cada uma delas tendo a prudência a si correspondente. Mas isto não pode ser, porque os princípios da prudência são os mesmos para toda a matéria moral, e portanto, por causa da unidade da prudência, todas as virtudes são conexas entre si.