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Depois que o Filósofo apresentou os elementos
pelos quais a república é salva da corrupção por causa do
lucro, passa a expor os elementos pelos quais é salva da
corrupção por causa da impotência.
O Filósofo diz que em primeiro lugar o documento
máximo e eficacíssimo para salvar a república é buscar que
aquela parte que ama e deseja a salvação da república seja
mais forte e mais potente do que aquela que não a quer nem a
ama; deste modo, de fato, a república durará maximamente.
Além de todos os elementos que já foram
mencionados é necessário não ocultar o que é médio e
proporcional, pelo qual se salva a república, para que esta
seja conservada e que não seja transgredida. De fato, o
excesso deste termo médio é a causa, na maioria das vezes,
das transgressões que se fazem. É necessário salvar o termo
médio porque observa-se que muitas coisas que parecem ser
populares corrompem o estado popular por causa de seu
afastamento do termo médio. Semelhantemente, há muitas coisas
que corrompem o estado de poucos que parecem pertencer ao
estado de poucos. Aqueles que crêem ser obra da virtude ser
popular e fazer tudo o [que parece ser] popular e ser obra da
virtude para o estado de poucos fazer tudo o que [parece]
ordenar-se ao estado de poucos, estes [são os que o mais das
vezes] se afastam do termo médio segundo o excesso e
corrompem [com a intenção] de salvar. Deste modo é manifesto
que para a salvação da república é necessário considerar qual
é o termo médio no qual se salva a república.
Há, pois, certas coisas que pertencem ao estado
popular mas corrompem o estado popular, e há outras que
pertencem ao estado de poucos mas corrompem o estado de
poucos. Importa, pois, que o legislador e o cidadão não
ignore quais são as coisas que pertencem ao estado de poucos
que subvertem o estado de poucos [e quais coisas que
pertencem ao estado popular] que subvertem o estado popular.
Nenhuma destas repúblicas pode existir sem ricos e sem
pobres. A multidão e as riquezas fazem parte da integridade
da república e, por causa disto, se alguém quiser igualar
completamente as posses de tal modo que todos se tornam
igualmente ricos, não permanecerá a mesma república, mas será
corrompida. No estado popular pecam os condutores do povo
quando lutam contra os ricos e dividem a cidade em dois,
adulando a multidão e movendo-os contra os ricos. Isto não se
deve fazer se se pretende salvar o estado popular; ao
contrário, a multidão deverá parecer para os ricos esteja
fazendo o que eles querem. Somente assim poderá salvar-se [o
estado popular]. No estado de poucos igualmente peca a
potência dos poucos quando oprime a multidão, do que se segue
a corrupção do estado dos poucos. Se o estado dos poucos deve
salvar-se, é necessário que [seus governantes] façam o
juramento contrário ao que costuma ser feito, pois costuma-se
no estado dos poucos, quando são instituídos, que seus
príncipes jurem dizendo: "Juro que terei ódio para com o povo
e darei conselho para que se dêem mal". Semelhantemente, no
estado popular, o povo costuma jurar: "Serei maligno para com
os ricos e aconselharei tudo o que souber que seja mau para
eles". Nenhuma destas coisas, porém, deve ser feita; ao
contrário, deve-se sustentar que importa fazer o oposto e
estabelecer juramentos pelos quais os poderosos do estado de
poucos não cometam injustiças contra o povo. E, quanto ao
povo, deve jurar que não agirá injustamente contra os ricos.
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