6. A partir de qual não ente se faz a geração ao ente.

Sendo a geração uma transmutação do não ente ao ente, alguém poderia levantar a questão sobre a partir de qual não ente a geração é feita.

[A esta questão o Filósofo responde do seguinte modo].

O não ente é dito de três maneiras. De uma primeira maneira, não ente é aquilo que de nenhum modo é. A partir deste não ente não se faz geração nenhuma, porque do nada, nada se faz segundo a natureza. De uma segunda maneira, não ente é a própria privação que é considerada em algum sujeito. A partir deste não ente pode-se realizar alguma geração, mas por acidente, na medida em que a geração é realizada a partir do sujeito, ao qual, ocorre a privação. De um terceiro modo, não ente é a própria matéria, a qual, o quanto é de si, não é ente em ato, mas ente em potência. A partir deste não ente as gerações se realizam per se.

[Deve-se observar, entretanto, que] embora as gerações se façam a partir dos não entes que estão em potência, não se pode fazer todavia qualquer geração a partir de qualquer matéria. [Ao contrário], gerações diversas se realizam a partir de matérias diversas, qualquer coisa gerável tendo uma matéria determinada a partir da qual é feita, porque a forma necessita ser proporcionada à matéria. Assim, embora a matéria primeira esteja em potência a todas as formas, todavia as recebe em uma certa ordem. Primeiramente, a matéria primeira está em potência às formas elementares, e mediante elas, segundo diversas proporções de mistura está em potência às [demais] diversas formas, de onde fica claro [porque] a partir de qualquer coisa não seja possível fazer-se qualquer coisa de modo imediato. Esta conclusão vai contra os ditos de alguns dos antigos filósofos, como por exemplo, Anaxágoras, que colocaram que qualquer coisa poderia fazer-se a partir de qualquer coisa.