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Os que dizem que o principado deve ser distribuído
segundo a dignidade das riquezas não dizem a verdade nem o
justo, porque se o principado é distribuído segundo a
dignidade das riquezas, se ocorrer que um só homem seja mais
rico do que todos os demais, ficará evidente que, segundo
este modo da justiça será necessário que este homem governe.
Ora. isto seria inconveniente, porque este homem, não
possuindo virtude, governaria por causa das riquezas e seria
injuriado por todos. Seria, ademais, altivo e soberbo. Isto é
suficiente para mostrar que segundo a dignidade das riquezas
não devem ser distribuídos os principados.
O mesmo pode ser dito daqueles que crêem que o
principado deve ser distribuído pela dignidade da liberdade.
Isto seria inconveniente porque os homens livres, já que não
possuem virtude, mas apenas uma inclinação à virtude, podem
possuir malícia e, deste modo, farão injúria aos demais.
A distribuição do principado também não deveria
ser feita segundo a dignidade da virtude, porque se suceder
que alguém segundo a virtude seja melhor do que todos os
demais virtuosos que vivem na cidade, este deveria governar e
dominar. Ora, isto seria inconveniente, porque seguir-se-ia
que os demais seriam desonrados e com isto se seguiriam
sedições e turbações na cidade. Isto mostra que a
distribuição do principado não deve ser feita segundo a
dignidade da virtude.
Algo semelhante pode ser dito contra os que
argumentam que o principado deve ser distribuído segundo a
dignidade da multidão. Se a causa pela qual a multidão deve
dominar consiste em ser ela mais rica e melhor, então se
houver um homem que seja mais rico do que todos os outros, ou
mesmo muitos ou poucos, ficaria manifesto que este homem ou
estes poucos homens deveriam governar e dominar mais do que
toda a multidão. Mas neste caso seguir-se-ia que todos os
demais seriam desonrados, pelo que se seguiriam sedições e
revoltas na cidade. Ora, estas coisas corrompem a cidade.
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