|
Devemos excluir o sentido tanto do conhecimento da
verdade como da ação. É manifesto que o conhecimento da
verdade não pertence ao sentido, e quanto à ação, o sentido
não é princípio de nenhum ato humano de maneira tal que
através do sentido o homem possa ter domínio sobre sua ação.
Isto também [se torna] evidente, [se considerarmos] que os
animais possuem sentido, mas não têm em comum com o homem a
ação, porque não possuem domínio de seus atos, não agindo por
si mesmos, mas sendo movidos pelo instinto da natureza.
O conhecimento da verdade não pertence ao apetite
[do mesmo modo como não pertence ao sentido].
[O conhecimento da verdade pertence a ambas as
razões, a científica ou especulativa, e a raciocinativa ou
prática. No primeiro caso, porém, trata-se da verdade
absoluta, e no segundo da verdade prática].
A razão absolutamente considerada, isto é, a razão
especulativa, nada move, porque nada diz quanto ao que se
deve perseguir ou fugir, e assim não é princípio de nenhuma
ação. Já a razão prática, que se ordena a algum particular
operável assim como a um fim, pode ser princípio de ação.
[Isto porque os atos do intelecto, conforme explicado no De
Anima, são a apreensão e o julgamento]. [Pela apreensão,
inteligimos o indivisível e incompleto, como homem ou boi.
Nesta operação não pode haver nem verdade nem falsidade].
[Pelo julgamento, combinamos coisas incomplexas anteriormente
separadas, e aqui], em julgando, o intelecto possui dois
atos, a afirmação, pela qual o intelecto consente com o
verdadeiro, e a negação, pela qual discorda do falso. A estes
dois atos correspondem proporcionalmente no apetite, a
prossecução, pela qual o apetite tende ao bem e nele
permanece, e a fuga, pela qual se afasta do mal. Segundo
estes, o intelecto, [juntamente com o apetite], pode ser
princípio de ação, na medida em que aquilo que o intelecto
afirma ser bom o apetite prossegue, e aquilo que o intelecto
nega ser bom o apetite foge. E, de fato, nas virtudes morais
os atos do intelecto e do apetite concordam entre si. A
virtude moral, como explicado no livro segundo, é um hábito
eletivo. A eleição, por sua vez, como explicado no livro
terceiro, é um apetite pré aconselhado, e o aconselhar é o
ato de uma parte da razão. Porque, portanto concorrem à
eleição a razão e o apetite, se a eleição deve ser boa, o que
é requerido pela natureza da virtude moral, será necessário
que a razão seja verdadeira e o apetite seja reto, de tal
maneira que o mesmo que a razão afirma o apetite prossiga.
Esta razão, que concorda com o apetite reto, é a razão
prática.
|
|