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A segunda razão pela qual se prova que não é
natural que um só domina a muitos semelhantes segundo a
virtude é a seguinte. Não convém que um só homem domine a
semelhantes segundo a virtude, mas sim que muitos [o façam]
porque é necessário que o governante examine muitas coisas, e
um só homem não pode fazê-lo bem.
[O Filósofo afirma, na quarta razão], que é
inconveniente dizer que um só [homem], por meio de dois olhos
e dois ouvidos possa perceber melhor do que muitos [homens]
por meio de muitos ouvidos e muitos olhos. E é inconveniente
dizer que um só [homem] melhor opere por duas mãos e dois pés
do que muitos por meio de muitos pés e muitas mãos.
Semelhantemente é inconveniente que um só [homem] julgue
melhor pela sua prudência do que muitos, e é por isso que
vemos que os príncipes fazem por si muitos olhos e muitas
mãos e pés, porque fazem para si muitos co-principantes,
chamando a estes de pés, mãos e olhos, porque discernem e
operam por meio deles. Fazem co-principantes aos que são seus
amigos e amigos de seu principado porque, se não fossem
amigos de ambos, mas apenas de um só, como se o fossem apenas
do principado, não cuidariam do bem do príncipe, mas apenas
do principado. Por outro lado, se não amassem o principado,
mas apenas ao príncipe, não cuidariam do bem do principado. É
necessário, porém, que os co-principantes cuidem tanto do bem
do príncipe como do principado. E por isso fazem os príncipes
co-principantes aos que são seus amigos e do principado,
porque os amigos não fazem senão aquilo que é reto e honesto,
e se forem amigos do príncipe e do principado buscam o bem de
ambos. Ora, importa que os amigos sejam semelhantes.
[Continua, portanto, o Filósofo na segunda razão
dizendo que] é manifesto que convém que haja muitos outros
principantes sob o príncipe, de onde que, se desde o
princípio houvesse muitos principantes, não pareceriam
diferir em algo, pelo que seria melhor ordenado [que fossem
muitos que governassem] do que se fossem muitos [governando]
sob [o governo] de um só. Se, portanto, um só [homem] não
pode governar se não tiver sob si outros que também governem,
onde todos forem semelhantes e iguais segundo a virtude,
ninguém naturalmente estará sob outro, do que se conclui ser
manifesto que não é natural que um só governe a outros
semelhantes e iguais segundo a virtude.
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