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A república deve ser dos que usam as armas e dos
que as usam em ato. O motivo disto é porque a república deve
ser [daqueles que estão situados num termo] médio, e por isso
deve ser daqueles em que há muitos medianos. Ora, estes são
os que usam as armas.
Quanto porém deve ser o censo e a multidão [de
homens que] haja na cidade, isto não é [aqui determinado pelo
Filósofo]. Convém, de fato, determinar o censo na cidade
segundo a região e segundo a potência do adversário. Convém
que a multidão seja tanta quanta a região possa alimentar, e
tanta quanta possa repelir os adversários. Deve-se considerar
também que a qualidade e a boa disposição segundo a
disciplina e os costumes muito acrescentam à bondade da
república e, por isso, deve-se fazer com que os que
participam da política sejam muitos, pelo menos segundo a
qualidade, embora possam carecer de quantidade.
[Duas notas devem ser acrescentadas ao fato de que
a república deve ser dada aos que usam das armas]. A primeira
é que convém que haja mais pessoas que participam da
república do que os que não participam. O motivo é que os
pobres que vivem na cidade sem [participarem do] principado
desejam viver quietamente e sem turbação, sem que ninguém os
moleste e sem que ninguém lhes tire os seus bens. Isto,
porém, não é fácil de se obter, porque o que ocorre mais
freqüentemente é que os governantes não são mansos nem
humanos, e por isso é difícil que os pobres não sejam
molestados. Ademais, aqueles que fazem uso de armas, quando
deve-se lutar numa guerra, querem receber alimento dos pobres
se houver pobres e, se não os receberem, movem guerra contra
eles; se os receberem, porém, os pobres tentarão se insurgir
contra eles. Para que, portanto, não possam se insurgir
contra os governantes, importa que haja muitos mais que
estejam no uso de armas do que os que não o estejam.
[A segunda observação é que] devem participar da
república não somente os que possuem armas como também os que
as possuírem e fizerem uso delas. É costume entre alguns que
participem da república não apenas aqueles que vão às armas e
as usam em ato, como também aqueles que já o foram e já
tiveram o uso das mesmas. Isto é muito conforme a razão,
porque estes últimos foram mais exercitados nos atos das
virtudes e das armas. É razoável, portanto, que estes
participem da república.
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