11. Como é a mesma ou diversa a virtude do governante e do súdito.

Existe um modo de governo no qual é diversa a disciplina do príncipe e do súdito. Existe um principado dominativo, no qual o príncipe é senhor dos súditos e este príncipe não necessita saber fazer as coisas que pertencem aos ministérios do que é necessário à vida, mas que saiba utilizar-se destes ministérios.

Existe outro modo de principado em que o príncipe e o súdito devem aprender as mesmas coisas. Este é o principado no qual alguém governa não como um senhor aos servos, mas como a livres e a si iguais. Este é o principado civil, segundo o qual nas cidades ora estes, ora aqueles são assumidos ao governo. Tais príncipes devem aprender, como súditos, de que modo devem governar, assim como alguém que aprende a comandar um exército por ter se submetido a um comandante do exército. O homem aprende a exercer um grande principado pela submissão e pelo exercício nos ofícios menores. Quanto a isto está bem posto o provérbio que diz que não pode governar bem aquele que não foi submisso a um príncipe.

Mesmo no [segundo] principado a virtude do governante é diversa da virtude do súdito. Todavia, nele importa que aquele que é um bom cidadão de modo simples saiba tanto governar como submeter-se ao que governa, e esta é a virtude do cidadão, que se ordena bem a ambas as coisas. Deste modo, neste segundo principado, para o bom cidadão, na medida e, que ele é alguém que pode vir a governar, sua virtude será a mesma que a do homem bom mas, enquanto súdito, a virtude do príncipe e do homem bom será diversa do que a do bom cidadão.

De fato, a virtude própria do príncipe é a prudência, que é regente e governativa. As demais virtudes morais, cujas razões consistem em serem governados e submeterem-se, são comuns aos súditos e aos príncipes. Todavia, os súditos participam em algo da prudência, na medida em que possuem uma opinião verdadeira sobre o que se deve agir, pela qual podem governar a si mesmos nos próprios atos segundo o governo do príncipe. [Deve notar-se que o Filósofo] refere-se nesta passagem à virtude do súdito não na medida em que é homem bom, porque se este fosse o caso o súdito necessitaria possuir a prudência, mas refere-se à virtude do súdito enquanto é um bom súdito, para o que não necessita senão possuir uma opinião verdadeira sobre o que lhe é ordenado.