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[De acordo com o que foi dito], nas substâncias
simples a verdade [consiste na mente] atingí-las ou dizê-
las. Não atingí-las, porém, não é o falso ou enganar-se,
mas sim ignorá-las, e a causa disto está em que o intelecto
não pode enganar-se acerca da essência, a não ser por
acidente.
Conforme está explicado nos livros VII e VIII,
nas substâncias simples a coisa e a essência são idênticas.
Ora, acerca da essência o intelecto não pode enganar-se, a
não ser por acidente: ou o intelecto atinge a essência e
então verdadeiramente conhece o que é a coisa, ou não a
atinge, e assim não apreende a própria coisa. Desta
maneira, acerca das substâncias simples não poderá enganar-
se. Isto acontece por causa daquilo que Aristóteles afirma
no livro III do De Anima, que assim como o sentido acerca
dos seus objetos próprios sempre é verdadeiro, assim o é
também o intelecto acerca da essência, como a cerca de seu
objeto próprio. E que o intelecto acerca da essência não se
engana, não ocorre somente nas substâncias simples, mas
também nas compostas.
Pode, porém, enganar-se por acidente.
[O intelecto, porém, pode enganar-se por
acidente, acerca da essência das substâncias compostas e]
devemos agora considerar como o intelecto pode enganar-se
por acidente acerca da essência. Somente é possível
enganar-se acerca da essência por composição ou divisão, e
isto, nas substâncias compostas, pode acontecer de duas
maneiras [distintas]. Pela primeira maneira, pela
composição da definição à coisa definida. Este é o caso,
por exemplo, de alguém que diz que o asno é um animal
racional mortal, ou o homem não é um animal racional
mortal. Em ambos estes casos há falsidade. Pela segunda
maneira, quando a definição é constituída de partes que não
são mutuamente componíveis. Este seria o caso de alguém que
definisse o homem como animal insensível. Na segunda
maneira de enganar-se, a falsidade é dita per se. Já na
primeira maneira, a definição é dita falsa porque a
definição posta não é correspondente ao sujeito.
Assim é que há dois modos de enganar-se acerca
da essência das substâncias compostas.
Nas substâncias simples, porém, somente pode
haver engano a respeito da essência delas pelo primeiro
deste dois modos, porque na essência delas não há
composição, a respeito de cuja composição ou divisão possa
ocorrer engano.
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