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Conforme explicado, assim como sentir não é
padecer por uma paixão propriamente dita, assim também o
inteligir. Entretanto, ainda que o sentido não padeça, pelo
sensível, por uma paixão propriamente dita, padece todavia
por acidente, na medida em que o órgão do sentido pode ser
corrompido pela excelência de um sensível. Mas com o
intelecto isso não pode acontecer, porque carece de órgão.
Portanto, o intelecto não pode padecer nem mesmo por
acidente.
A dessemelhança entre o sensitivo e o intelectivo
[também] se manifesta pelo fato de que o sentido é impotente
para sentir um grande sensível, assim como o ouvido não pode
ouvir um grande som, [porque este o corromperia]. Mas o
intelecto, porque não tem órgão corporal que possa ser
corrompido pela excelência do objeto próprio, inteligindo
algo muito inteligível, não intelige menos, mas intelige
mais. E isto também aconteceria com o sentido, se não tivesse
órgão corporal. O intelecto, entretanto, pode ser debilitado
indiretamente pela lesão de algum órgão corporal, na medida
em que para sua operação se requer a operação do sentido que
apresenta órgão.
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