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Algumas pessoas dizem que os homens felizes, sendo
a si suficientes per se, não necessitariam dos amigos,
porque, possuindo [já] a suficiência per se dos bens, de
nenhum outro [bem] parecem necessitar. O amigo, [porém, lhes]
parece ser mais necessário porque, sendo um outro si mesmo,
tributa as coisas que o homem por si mesmo não poderia ter.
De onde que parece concluir-se que o homem feliz não
necessitaria de amigos.
[Quanto a isto devemos responder que o homem feliz
necessita de amigos, o que pode ser mostrado através de dois
argumentos].
[De acordo com o primeiro argumento], conforme foi
explicado, mais pertence ao amigo fazer benefícios do que ser
beneficiado. Porém, fazer benefícios é próprio da virtude, e
a felicidade consiste na operação da virtude, conforme
explicado no livro primeiro. Assim, é necessário que o homem
feliz seja virtuoso, e por conseqüência, que beneficie.
Entretanto, melhor é que o homem beneficie aos amigos do que
aos estranhos, o resto sendo igual, porque isto o homem faz
mais deleitável e prontamente. Portanto, o homem feliz, por
ser virtuoso, necessita de amigos, aos quais beneficie.
[De acordo com o segundo argumento] parece ser
inconveniente que o homem feliz seja solitário. De fato, isto
é contra toda eleição de todos. Ninguém faria eleição de
sempre viver sozinho, mesmo depois que tivesse todos os
outros bens, porque o homem é naturalmente animal político e
nascido para conviver com os outros. Portanto, já que o homem
feliz possui as coisas que são naturalmente boas ao homem,
segue-se que tenha com quem conviva. Porém, é evidente que é
melhor conviver com os amigos e virtuosos do que com
estranhos e quaisquer. Assim, portanto, é evidente que o
homem feliz necessita dos amigos.
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