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Alguém poderia acreditar que, pelo fato da parte
intelectiva da alma ser incorruptível, após a morte
permaneceria nela a ciência das coisas da mesma maneira que
ela a possui [antes da morte].
[Esta opinião não é correta]. Já foi explicado que
pode se [comprometer] o entendimento por causa da corrupção
do órgão corporal. [Portanto, com muito mais razão]
corrompido o corpo [de maneira completa por causa da morte],
o intelecto não se recorda nem ama. Por isso é que depois da
morte não nos lembramos daquilo que em vida soubemos, porque
o intelecto não é sujeito das paixões da alma, como são o
amor e o ódio, a reminiscência e outras que ocorrem
[provenientes] de alguma paixão corporal. Sem, portanto, esta
parte corporal, o intelecto nada intelige. Não intelige nada
sem os fantasmas, como adiante se dirá. E, por isso,
destruído o corpo, não permanece na alma separada a ciência
das coisas segundo o modo pelo qual intelige. Mas como então
[a alma separada] intelige, não compete [a este tratado]
discutir.
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