17. Se todas as coisas podem ser reduzidas de alguma maneira a uma.

É necessário investigar se todas as coisas podem ser reduzidas de alguma maneira a uma. Isto porque a ciência da filosofia é do ente enquanto ente, de tal maneira que considera o ente segundo a razão universal do ente, e não segundo a razão de um ente particular. Ora, como o ente é dito de muitas maneiras, e não de uma única, se esta multiplicidade fosse uma pura equivocação, não cairiam todos os entes debaixo de uma ciência, porque não poderiam ser reduzidos de algum modo a um gênero. Mas, se esta multiplicidade tivesse algo em comum, todos os entes poderiam estar debaixo de uma [só] ciência.

[A solução para esta questão consiste em que] o ente é dito de maneira que é dito de modo múltiplo segundo algo de comum. Isto pode ser manifestado através de um exemplo. O medicativo pode ser dito de diversos modos, todavia são redutíveis a um certo uno, que é uma mesma e idêntica coisa à qual esta redução é feita, ainda que de modos diversos. Por exemplo, o sermão é dito medicativo, pelo fato de ser proveniente da ciência médica. A faca é dita medicativa, pelo fato de ser útil à mesma ciência como instrumento. E semelhantemente ocorre com as outras coisas que deste modo são ditas. É manifesto que as coisas que assim são ditas, são intermediárias entre unívocas e as equívocas. Nas [coisas] unívocas um nome único é predicado de diversas [coisas] segundo uma razão totalmente idêntica. Nas [coisas] equívocas, todavia, um mesmo nome é predicado de diversas [coisas] segundo razões totalmente diversas. Nas [coisas], porém, que são ditas do modo predito, um mesmo nome é predicado de [coisas] diversas segundo uma razão em parte idêntica, e em parte diversa. Diversa, quanto aos diversos modos de relação. Idêntica, quanto a aquilo ao qual é feita a relação. E por causa disso [tal modo de predicação é dito] analógico, porque todas as [coisas] se proporcionam a uma única. Assim é que ocorre com a multiplicidade do ente. Ente de modo simples é dito aquilo que tem o ser em si, isto é, a substância. As demais coisas são ditas entes porque são deste [ente] que é [ente] per se, como [por exemplo], uma paixão [do ente per se], ou um hábito [do ente per se], ou algo assim. De fato, a qualidade não é dita ente, porque ela tenha [um] ser, mas porque por ela a substância é dita estar [assim] disposta. O mesmo pode ser dito dos demais acidentes, e por causa disso é que são ditos entes. E assim fica patente que multiplicidade do ente apresenta algo de comum, ao qual a redução é feita.