10. Últimas observações.

Cabe ao legislador não trabalhar muito instituindo uma grande obra, mas principalmente empenhar-se naquilo pelo que a república pode salvar-se por muito tempo. Não é difícil que uma república ordenada de qualquer modo permaneça por pouco tempo. O que é dificílimo é que ela permaneça por muito tempo. Por isso importa trazer muito à memória tudo aquilo que são elementos salvadores e corrompentes das repúblicas, e por meio delas procurar salvar a república, fugindo daquilo que as corrompe, elaborando leis e costumes não escritos que incluam tudo aquilo que as salva.

E não se deve cair no erro de crer que o estatuto mais popular seja aquele que mais faz a cidade viver popularmente. De fato, muitas das coisas que parecem ser populares [na realidade] dissolvem os estados populares.

O que mais deve ser observado por quem tem cuidado com o estado popular é providenciar o modo pelo qual a multidão dos pobres enriqueça ou pelo menos não passe necessidade. A necessidade, de fato, faz esta multidão ser má; é difícil que aquele que vive na indigência trabalhe bem, conforme se diz no Primeiro Livro da Ética. Por isso deve-se trabalhar muito para que [a multidão] tenha uma abundância contínua.

O Filósofo também aponta alguns modos pelos quais é possível tornar os pobres ricos.

Em primeiro lugar, para evitar a indigência no estado popular convém reunir em alguma quantidade notável aquilo que provém dos rendimentos comuns e então distribuir aos pobres partes suficientemente grandes pelas quais cada um possa adquirir uma pequena quantidade de terra da qual depois possa auferir algum lucro. Isto convém aos ricos, porque não são agravados por isso, e também convém aos pobres, mais do que se recebessem segundo pequenas partes e com maior freqüência.

Em segundo lugar, se isto não puder ser feito comodamente, devem ser oferecidas a eles pelo menos ocasiões que os favoreçam à negociação e à agricultura, para que deste modo, por ambas as coisas, possam enriquecer-se.

Em terceiro lugar, se não é possível para os ricos disporem de algo para ser distribuído aos pobres, pelo menos convém que eles doem alguma quantidade de dinheiro, segundo as tribos ou segundo as fraternidades, ou segundo algum outro modo de agrupamento, para que seja distribuída aos pobres nas reuniões necessárias. E para que façam isto mais prontamente, devem ser abolidos os gastos desnecessários que os ricos costumam fazer, como as despesas com banquetes e presentes inúteis.