7. Se é mais conveniente que uma multidão governe do que poucos homens virtuosos. Considerações iniciais.

{Deve-se considerar, sobre esta questão, que quando] muitos homens, não virtuosos considerados de modo simples, se reúnem em um só [todo], formam algo estudioso, não de tal maneira que cada um faz algo estudioso ou melhor por si, mas de modo que todos simultaneamente fazem algo estudioso, e serão [todos] algo melhor do que cada um deles tomado isoladamente. Por exemplo, se houver muitos homens e cada um possui algo da virtude da prudência, quando se unem em um só [todo] farão algo grande e virtuoso. De fato, naquilo em que um é deficiente, ocorre que o outro tenha abundância, de tal modo que, se um não se inclina à fortaleza, outro se inclinará, e se um não se inclina à temperança, outro se inclinará, e onde um não puder prever bem, outro o poderá e assim, ao [todos se] unirem, formarão como que um só homem virtuoso e perfeito, um homem possuidor de uma multidão de sentidos, pelos quais poderá discernir, e uma multidão de mãos e pés pelos quais poderá mover-se para a obra e operar.

De todos eles, de fato, ao se reunirem, se formará como que um só homem perfeito segundo a inteligência, quanto às virtudes intelectuais, e segundo o apetite, quanto às virtudes morais. Foi assim que se descobriram as artes e as ciências, porque primeiro alguém descobriu algo e o transmitiu, talvez desordenadamente. Outro depois, tendo-o recebido, acrescentou-lhe algo e retransmitiu o todo mais ordenadamente, e assim sucessivamente até que surgiram as artes e as ciências perfeitas. E é manifesto que é mais e é mais perfeito aquilo que todos encontram, do que aquilo que cada um encontrou por si.

Há, porém, uma diferença, entre um só homem virtuoso de modo simples e qualquer um daqueles homens a partir dos quais, ao se terem reunido em um só, formaram algo estudioso. Os homens estudiosos ou virtuosos diferem de qualquer um dos que compõem esta multidão assim como o bom difere do que não é bom, pois os homens virtuosos são bons de modo simples, mas qualquer um destes [que compõe a multidão], quando tomado segundo si, não é bom, porque não é perfeitamente virtuoso.

Os homens virtuosos, ademais, diferem destes [que compõe a multidão] quando tomados isoladamente, assim como a pintura artística difere de algo verdadeiro.

O que posso entender [por meio desta comparação do Filósofo] é que o pintor, quando quer pintar algo pela arte, como uma imagem humana, considera a boa disposição dos olhos deste homem, desconsiderando as más disposições dos demais membros. Semelhantemente considera a boa disposição da mão em outro, desconsiderando as más disposições dos demais membros e assim, considera também as melhores disposições dos demais membros em diversos outros homens e desconsidera as disposições torpes. Pela união de todas estas coisas faz uma imagem mais bela do que qualquer uma das coisas a partir das quais tomou algo. E é manifesto que qualquer um dos quais o pintor tomou algo possui algo da beleza, mas não de modo simples; aquele, porém, que foi formado de todos estes é belo de modo simples.

De modo semelhante no que diz respeito ao nosso propósito, qualquer homem destes muitos possui algo de virtude, mas não é virtuoso de modo simples, enquanto que aquele que se reuniu a partir de todos é, no entanto, virtuoso de modo simples.

[No entanto, de tudo o que foi dito ainda não fica] manifesto se toda uma multidão é melhor do que poucos virtuosos. Com certeza, porém, é impossível que uma certa multidão seja melhor do que poucos virtuosos no caso de uma multidão bestial, cujos homens se inclinam a atos bestiais e possuem pouco de razão. Em uma multidão deste tipo não é verdade que destes himens possa se formar algo virtuoso se todos se unirem em um só. A multidão na qual cada um possui algo de virtude e de prudência e se inclinam ao ato da virtude é muito diversa da [multidão bestial], e somente nesta [em que cada um possui algo da virtude e da prudência] é que pode ser verdade que aquilo que se forma a partir dela, quando todos se reúnem em um só, seja algo virtuoso.