2. Três razões para a amizade paterna ser maior do que a filial.

[Primeira razão]. É tanto mais razoável amar quanto mais conhecemos a causa deste amor. Conforme foi dito, a causa porque os pais amam os filhos é por serem [os filhos como que parte dos pais]. A causa, porém, porque os filhos amam os pais é por serem [ os filhos algo proveniente dos pais]. Ora, mais podem os pais conhecer aqueles que nasceram deles do que os filhos conhecerem os pais dos quais se originaram. De fato, aos pais foi conhecida a geração, não porém aos filhos que ainda não existiam. De onde que é razoável que os pais mais amem os filhos do que inversamente.

[Segunda razão]. A razão do amor em toda a amizade entre consanguíneos é a proximidade de um ao outro. Porém, o que gera está mais próximo do gerado do que o gerado daquele que o gerou. De fato, o gerado é como uma certa parte separada do gerante, de onde que se compara ao gerante como as partes separáveis para com o todo. Tais partes possuem proximidade para com o todo porque o todo em si contém estas partes, não acontecendo, porém, o inverso. Por isso o todo menos pertence às partes do que as partes ao todo. De onde que é razoável que os pais mais amem aos filhos do que o inverso.

[Terceira razão]. A amizade se confirma [e se robustece] com o tempo. Ora, os pais [amaram] aos filhos por uma quantidade maior de tempo do que os filhos aos pais. De fato, os pais amam os filhos imediatamente desde o nascimento. Mas os filhos amam os pais já passado algum tempo quando [principiam a] utilizar o intelecto, ou pelo menos o sentido, para que distingam os pais dos outros, já que no início as [crianças] chamam a todos os homens de pai e a todas as mulheres de mãe. De onde que é razoável que os pais mais amem os filhos do que o inverso.