|
Diz o Filósofo que talvez alguém poderia opinar,
devido ao que já foi dito acerca da vida ótima, isto é, que
ela é uma operação, que o ótimo seria dominar sobre todas as
coisas de qualquer modo. O ótimo, de fato, é alcançar a vida
ótima; se a vida ótima é alcançar a operação ótima, e aquele
que domina a tudo é também o senhor de muitas e belíssimas
operações, por isso parece que se deveria dizer quer o ótimo
é dominar a tudo.
Mas o Filósofo responde a esta objeção dizendo que
não é ótimo dominar a tudo de qualquer modo. Isto talvez
seria verdade se fosse possível que aquele que dominasse,
privando os demais de sues direitos, de suas inclinações
naturais e inferindo-lhes excelência, pudesse inerir naquilo
que fosse elegibilíssimo no homem. Mas talvez isso seja
impossível, pelo que o Filósofo acrescenta que os grandes
opinaram o contrário.
[De fato, é impossível que o ótimo seja dominar a
tudo de qualquer modo]. As ações do governante somente serão
ótimas se o próprio governante diferir tanto daqueles que são
governados em suas disposições naturais e adquiridas quanto o
homem dista da mulher, o pai do filho ou o senhor do servo.
Se, portanto, alguém transgredir [esta regra], querendo
dominar a outros sem possuir esta diferença para que os
súditos tal como a que existe do homem para com a mulher, ou
do pai para com o filho ou do senhor para com o servo, não
poderá operar otimamente ao governar, nem também poderá
operar tão retamente em suas ações posteriores quanto tiverem
sido suas transgressões no início ao querer governar sem
possuir as disposições para tanto, pois um pequeno erro no
princípio torna-se grande quando se chega às conseqüências
deste princípio.
Por isso aqueles que são semelhantes e iguais,
tanto segundo a natureza quando segundo a virtude, é bom e
justo que governem todos não de modo simples, mas segundo a
parte. Por exemplo, um em um tempo, e outro em outro tempo,
ou um em um principado e outro em outro principado. É justo
que os que são semelhantes e iguais tenham o semelhante e o
igual, que os desiguais, tanto segundo a virtude como segundo
a natureza, tenham o igual, enquanto que ao contrário que os
iguais tenham o desigual e os não semelhantes tenham o
semelhante, isto é contra a natureza. Os semelhantes e os
iguais inclinam-se segundo a natureza para [coisas] iguais e
semelhantes, e nada do que é além da natureza é bom, já que
aquilo que está além da natureza é excelente e nenhuma
excelência é boa. Portanto, que alguém domine sobre todos de
qualquer modo não é bom.
Isto, porém, não significa que alguém governar
sobre todos de algum modo seria além da natureza. Se assim o
fosse, isto seria contra a razão do reino, que é a república
ótima.
De fato, se é justo que os semelhantes e iguais
tenham o semelhante e o igual ao governar segundo a parte,
se, [por outro lado], alguém for encontrado na cidade que
seja melhor do que os outros tanto nos bens da virtude quanto
na potência ativa ao governar, pelo que pudesse coibir os
maus, seria bom submeter-se a este, porque é natural que o
deficiente se submeta ao perfeito em qualquer gênero, e
também será justo submeter-se [a este único] governante.
O justo é, de fato, que cada um possua segundo a
sua própria dignidade e um tal homem é suposto ser melhor do
que os demais segundo a virtude e segundo o poder. Convém ao
que deve bem governar que possua não somente a virtude pela
qual se incline ao bem e saiba dirigir as ações dos súditos,
mas também convém que ele possua o poder pelo qual possa agir
de tal modo que coiba os que declinam da retidão da razão.
|
|