34. Uma outra maneira de se dividir as mutações, em geração, corrupção e movimento.

[Em toda mutação são encontradas cinco coisas].

Primeiro, o movente. Segundo, o movido. Terceiro, o tempo no qual ocorre a mutação, porque toda mutação está no tempo. Quarto, o término a partir do qual o movimento principia. Quinto, o término para o qual o movimento se dirige.

As mutações não se dividem em suas espécies nem segundo o movente, nem segundo o movido, e nem segundo o tempo. Porque estas coisas são comuns a toda mutação. As mutações são divididas segundo os términos a partir do qual e para o qual.

Os términos das mutações podem ser variados de quatro modos. De um primeiro modo, sendo ambos afirmativos, como quando dizemos o branco ser mudado em preto. Esta é a mutação de sujeito a sujeito. De um segundo modo, sendo ambos negativos, como quando dizemos o não branco ser mudado no não preto. Esta é a mutação do não sujeito ao não sujeito. De um terceiro modo, o término a partir do qual sendo afirmativo e o término para o qual negativo, como quando dizemos o branco ser mudado ao não branco. Esta é a mutação do sujeito ao não sujeito. De um quarto modo, o término a partir do qual sendo negativo e o término para o qual sendo afirmativo, como quando dizemos o não branco ser mudado ao branco. Esta é a mutação do não sujeito ao sujeito.

Destas quatro combinações, uma delas é inútil. De fato, não existe uma permutação do não sujeito ao não sujeito. Duas negações, como o não branco e o não negro, não são opostas. Podem, de fato, verificar-se da mesma [coisa]. Por exemplo, existem muitas coisas que são não brancas e não negras [ao mesmo tempo]. De onde se segue que, como a mutação ocorre entre opostos, conforme provado no primeiro livro da Física, não há mutação do não sujeito ao não sujeito. E assim se conclui que somente há três permutações.

Das três mutações acima mencionadas, aquela que vai do não sujeito ao sujeito, é chamada de geração. Isto pode se dar de duas maneiras. Ou tratar-se-á de uma mutação do não ente de modo simples ao ente de modo simples, e então esta será chamada geração de modo simples. Ou tratar- se-á de uma mutação do não ente ao ente não de modo simples, mas segundo algo, assim como do não branco ao branco. Esta é então, uma certa geração e segundo algo.

Quanto à mutação que é do sujeito ao não sujeito, ela é dita corrupção. E de modo semelhante, nela podemos distinguir entre corrupção de modo simples e corrupção segundo algo.

[Vamos agora mostrar que a geração não pode ser movimento. A geração é uma mutação do não ente ao ente. Ente e não ente são aqui tomados] segundo o ato e a potência.

Aquilo que é em ato, será ente de modo simples. Aquilo que é somente segundo a potência, será o não ente. Ora, o ente em potência que se opõe ao ente em ato, mas que não é ente em ato de modo simples, este pode ser movido. [Isto acontece porque nestes casos] não é o não branco que é movido, mas o sujeito em que está esta privação, que é ente em ato. [Mas o ente em potência que se opõe ao ente em ato de modo simples], que é o não ente em ato de modo simples, isto é, segundo a substância, este de nenhum modo poderá ser movido. Assim, é impossível que o não ente seja movido. Portanto, deve-se concluir que se a geração é do não ente ao ente, se a geração de modo simples fosse um movimento, seguir-se-ia que o não ente de modo simples mover-se-ia. Logo, a geração de modo simples não é um movimento.

[Vamos agora mostrar que também a corrupção não pode ser movimento]. O movimento somente pode ter como contrário um movimento ou o repouso. Ora, a corrupção é contrário da geração. Se, portanto, a corrupção é movimento, será necessário que a geração seja ou movimento ou repouso. O que é impossível como foi demonstrado. Logo, a corrupção [de modo simples] não é um movimento.

Vamos, [finalmente], mostrar qual é a mutação dita movimento. Todo movimento é uma mutação. Ora, somente há três mutações, das quais duas, que são a geração e a corrupção, não são movimento. Portanto, a mutação restante, de sujeito para sujeito, é o movimento.