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O Filósofo passa a determinar a disposição das
habitações que se ordenam aos atos principais e, em primeiro
lugar, da disposição daquelas que se ordenam ao culto divino.
Deve-se considerar que todas as coisas que aqui
existem, nós e nossas operações, são causadas pela bondade e
munificiência divinas. Somos, por isso, obrigados à sua
reverência e honra, já que de outro modo não podemos
retribuir. A reverência e a honra são exibidas pelo culto que
é necessário ser feito em algum lugar determinado para isto
e, por isso, na cidade importa haver um lugar conveniente
ordenado a tanto.
Diz, portanto, o Filósofo, convir que as
habitações que se ordenam ao culto divino tenham um lugar
conveniente e excelente, de tal modo que sua disposição
mostre a preeminência daquele a quem se exibe o culto e a
reverência dos que o cultuam. Diz também que deve haver uma
só e principal [habitação de culto] em toda a cidade, para
que não ocorra que, se fossem muitas, isto fosse ocasião de
divisão para a cidade, a não ser que em algumas partes da
cidade a lei que ordena o culto divino determine que haja
alguma outra habitação deste tipo separada, ou mesmo algumas,
dependentes todavia da primeira e principal. Este lugar de
culto será conveniente se for bem disposto quanto a duas
coisas.
A primeira é que tenha uma disposição digna para a
manifestação da virtude. A segunda, que seja mais eminente em
relação às demais partes da cidade. Pela própria eminência do
lugar mostra-se a eminência daquele que é cultuado, e pela
dignidade para com a manifestação da virtude a disposição dos
que cultuam.
Convém que, abaixo do lugar onde haja estas
habitações [de culto], haja também um foro preparado entre
estas e as demais habitações [da cidade], que alguns dizem
dever ser preservado livre de coisas imundas e torpes, e que
aqueles que ali vivem ou ali se refugiam tenham alguma
liberdade, ou ambas estas coisas. Este lugar convém que seja
segregado der qualquer atividade de comércio porque este
lugar deve ser um lugar de despreocupação e por isso é
necessário que seja seqüestrado de qualquer tumulto. Ademais,
este lugar deverá ser ordenado ao exercício das virtudes. Os
negócios que dizem respeito ao comércio, no entanto, estão
distante destas coisas. E por isso convém que os
comerciantes, os agricultores e outros homens vis como estes,
cujas operações não se ordenam per se às virtudes, não se
aproximem deste lugar, a não ser que sejam chamados por algum
príncipe por causa de alguma necessidade, se este lugar deve
ser totalmente ordenado ao exercício das virtudes.
É oportuno também que as habitações dos sacerdotes
e os lugares destinados ao convívio dos mesmos se situem
próximos aos lugares sagrados ordenados ao culto divino, para
que o lugar da habitação dos mesmos não fique longe do lugar
de culto ao qual se ordenam, já que é-lhes conveniente que
eles tenham um lugar tranqüilo por causa da contemplação na
qual eles, entre todos, devem maximamente viver.
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