38. Demonstra-se que não existe movimento na ação e na paixão.

[É impossível existir movimento do movimento]. Se houvesse movimento do movimento, isto poderia acontecer de duas maneiras. Ou haveria movimento do movimento como de um seu sujeito, [como se disséssemos que o movimento moveria um movimento], ou haveria movimento do movimento como de um término, [como se disséssemos que haveria um movimento que consistiria em passar de um movimento a outro movimento]. Ambas estas alternativas são impossíveis.

[É também impossível existir movimento do movimento como de um sujeito]. Dir-se-ia movimento do movimento como de um seu sujeito do mesmo modo como se diria existir movimento do homem, porque este homem estaria sendo movido do branco ao preto, por exemplo. Desta maneira, o movimento será movido, ou esquentando-se, ou esfriando-se ou mudando segundo o lugar, ou aumentando [segundo a quantidade]. Ora, isto é impossível, porque o movimento não pode ser sujeito do calor ou frio, ou de algum destes outros [acidentes]. Portanto, não existe movimento do movimento, [entendido] como de seu sujeito.

[É impossível igualmente existir movimento do movimento como de um término]. Isto se daria se disséssemos haver um movimento pelo qual passamos de uma espécie de movimento a outra [espécie de movimento]. Ora, pode-se demonstrar que isto é impossível, a não ser por acidente. Se existisse alguma permutação de uma permutação em outra, por exemplo, uma permutação do adoecimento em alguma outra permutação, seguir-se-ia que simultaneamente enquanto algo permuta da saúde à doença, permutaria desta permutação em outra permutação. Porém, como toda mutação é uma mutação de um oposto a outro, segue-se que se existe permutação de mutação a mutação, esta sempre seja em direção à mutação oposta. De onde se seguiria que, enquanto algo muda em direção a um dos opostos, permutaria simultaneamente à mutação que se dirige ao outro oposto, o que é impossível, porque significaria que a intenção da natureza tenderia simultaneamente a dois opostos. Assim, não é possível que haja mutação per se de uma permutação em outra. O que ocorre na verdade é que uma mutação sucede a outra. Acontece, de fato, que a esta mutação pela qual algo é movido da saúde à doença suceda alguma outra mutação, como um esbranquiçamento, uma mutação segundo o lugar ou qualquer outra, [e não necessariamente a mutação oposta]. Trata-se, porém, de uma [permutação de mutação a mutação] por acidente, porque o sujeito permuta ora a um término, ora a outro, mas sem existir intenção do movente que, enquanto simultaneamente permuta em algo, pretenda permutar em outro.