8. Quem é o homem livre.

Deve-se saber que, conforme diz o Filósofo no livro primeiro da Metafísica, o homem livre é aquele que é causa de si mesmo. Esta afirmação não pode ser entendida no sentido de que alguém seja a causa de si mesmo por primeiro. De fato, nada pode ser causa de si mesmo. A sentença deve ser entendida no sentido de que é livre aquele que segundo algo próprio a si mesmo é causa de sua operação. Neste sentido será verdade dizer que o homem livre é causa de si mesmo segundo dois gêneros de causa, pela razão do agente, e pela razão do fim. Pela razão do agente, na medida em que opera por meio de algum princípio que nele é principal. Pela razão do fim, na medida em que opera ao fim que lhe é devido segundo aquele princípio.

E porque o homem maximamente é constituído no ser pelo intelecto, sendo ele inteligência ou maximamente segundo a inteligência, conforme diz o Filósofo no Décimo Livro da Ética, por isso é dito homem livre aquele que, vivendo pela virtude do intelecto, nela opera não recebendo de outro a razão de operar, nem tendo impedimento para tanto por parte da matéria, e que opera para o fim que lhe é devido segundo a natureza mencionada. E quanto mais for capaz de operar segundo aquilo que é mais perfeito na inteligência que há nele, e a um fim mais excelente segundo [a inteligência], tanto mais será livre. E, por isso, aquele que opera de modo simples segundo a virtude da inteligência, e a um fim segundo a inteligência, este será perfeitissimamente livre.

Ao contrário, porém, o homem é dito servo quando não é capaz de operar segundo a virtude e a razão de operar de outro e, obedecendo, opera. E porque o fim corresponde ao agente, é servo também aquele que opera principalmente para o fim de outro e por isso, assim como o homem livre é aquele que é causa de si mesmo, tanto segundo a razão do fim como segundo a razão do agente, assim também é servo aquele que de nenhum destes modos governa a si mesmo, e isto por causa da imperfeição da inteligência que há segundo si, ou pela disposição da matéria.

A vida do homem livre, portanto, é dita ser a vida segundo a razão própria, enquanto que a vida do servo é dita ser a vida segundo a razão de outro.