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Alguns dos antigos filósofos disseram que
somente algo está em potência quando está em ato. Por
exemplo, que aquilo que não edifica em ato, não pode
edificar, mas somente o pode, quando edifica em ato. E
assim [por diante].
[Aristóteles comenta, quanto e esta posição, o que se segue].
[O primeiro inconveniente desta posição pode ser
manifestado considerando que] ser edificante é ter potência
para edificar. Ora, se nada tem potência para fazer, a não
ser quando faz, não existe o edificador a não ser quando
edifica. E de modo semelhante ocorrerá com as demais artes,
porque todas as artes são potências, conforme já ficou
explicado. Segue-se, portanto, que ninguém possuirá alguma
arte, a não ser quando opera segundo a mesma. Porém isto é
impossível, porque não é possível que aquilo que não tinha
nenhuma arte, a venha a ter depois, a não ser que a
aprenda, ou de algum modo a receba, [como por exemplo],
descobrindo-a.
O segundo inconveniente procede das potências
irracionais que esta nas coisas inanimadas, como o quente e
o frio, o doce e o amargo, e outras assim. Se esta potência
não está em algo a não ser quando [este algo] age, seguir-
se-á que nada será quente ou frio, doce ou amargo, a não
ser quando for sentido pelo sentido imutante. O que é
manifestamente falso.
[O terceiro inconveniente à posição precedente
consiste em que] o sentido é uma certa potência. Se,
portanto, a potência não é sem o ato, seguir-se-ia que
alguém não teria sentidos a não ser quando estivesse
sentindo, como ocorreria com a vista e o ouvido. Mas aquilo
que não tem vista, tendo nascido para tê-la, é cego. Assim,
portanto, alguém seria no mesmo dia freqüentemente surdo e
cego, o que é manifestamente falso.
[O quarto inconveniente à posição precedente
está em que] para aquilo que carece de potência, a ação é
impossível. Se, portanto, as coisas não têm potência a não
ser quando agem, segue-se que quando algo não age, torna-se
impossível para o mesmo agir. Desta maneira, esta potência
remove o movimento e a geração.
[Podemos concluir, portanto] que se os preditos
inconvenientes não podem ser concedidos, torna-se manifesto
que a potência e o ato são diversos. Aqueles filósofos,
porém, que colocaram a posição acima, tornam idênticos a
potência e o ato, pelo fato de dizerem que somente algo
está em potência quando está em ato. Daqui fica patente que
a intenção deles era destruir [a razão] da natureza, por
removerem o movimento e a geração, conforme foi explicado.
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