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Tanto a monarquia como a tirania geram-se a partir
de contrários. O reino é instituído para auxílio dos bons
contra a multidão, para que a multidão não oprima os homens
virtuosos. O rei, nestes casos, é tomado dentre os homens
virtuosos como alguém que os excede segundo a virtude ou na
obra da virtude, ou é tomado segundo a nobreza da
descendência, [por proceder de uma família que possui estas
qualidades], para que estes não sejam oprimidos pela
multidão.
A tirania tem sua origem do próprio povo, a partir
do povo e da multidão [em dissensão] contra os ricos e
insignes, para que o povo não seja mais molestado pelos
ricos. Isto é algo manifesto [pela experiência de fatos] já
ocorridos. Muitos tiranos se fizeram [a partir de homens que
antes] eram condutores do povo, aos quais o povo dava muito
crédito pelo fato de que de muito boa vontade impunham crimes
aos ricos por meio de calúnias. [Este é o modo pelo qual
surgem as tiranias nas épocas em que as cidades já se tinham
tornado bastante grandes]. Antes dessa época, porém, algumas
tiranias se originaram de reis que transgrediam as leis e
costumes paternos nos quais haviam sido educados e que mais
queriam governar por um principado dominativo, que é do
senhor ao servo, querendo usar dos súditos como se fossem
servos.
Outras vezes os tiranos se fizeram a partir
daqueles que foram eleitos para os principados mais
excelentes e poderosos. Antigamente, de fato, o povo
instituía muitos governantes e reitores do povo. Acontecia
então que alguns mais perversos traziam para si o domínio da
cidade e tiranizavam. Outras vezes ainda os tiranos se
fizeram a partir da potência de poucos, quando os homens
escolhiam um homem poderoso para algum dos principados
máximos, o qual depois se tornava um tirano.
O reino, conforme já mencionado anteriormente,
institui-se como o estado dos ótimos, que é instituído
segundo a dignidade da virtude ou da descendência, ou por
causa de um benefício concedido a uma região, ou por causa de
todas estas coisas simultaneamente com o poder. Isto é
evidente porque todos os reis antigos, conforme já foi
mencionado, tendo feito algum benefício à cidade ou ao povo
de uma região, [por causa da virtude] ou porque eram
poderosos para beneficiar, receberam a honra de terem sido
tomados como reis. Codro, por exemplo, que lutou contra os
adversários da cidade e impediu-os de se tornarem seus
servos, foi feito rei. Outros, como Ciro que libertou os
persas da servidão do rei dos Caldeus, foi feito rei da
Pérsia. Outros foram feitos reis porque constituíram uma
cidade, outros ainda porque adquiriram uma região, como os
reis dos Lacedemônios, dos Macedônios e dos Molosios.
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