9. A divisão das terra da cidade.

Depois que o Filósofo declarou quais são as partes da cidade per se, e quais não, e que convém que os agricultores não sejam partes da mesma, passa a investigar sobre a divisão das terras da região [em que se situa a cidade], e quem devem ser os cultivadores da mesma.

Para investigar este assunto o Filósofo antepõe algumas suposições.

Deve-se saber, em primeiro lugar, que não convém que numa cidade bem ordenada as posses e as terras sejam propriedade comum, conforme Platão e seus seguidores estabeleceram. De fato, se assim fosse, as coisas mais necessárias ao seu cidade seriam negligenciadas. Os homens cuidam menos das coisas comuns do que das próprias, porque mais amam as próprias. Mas convém que estas posses [e terras], atribuídas a singulares quanto à propriedade e ao cuidado, se tornam comum quanto ao uso pelo ato da liberalidade e pela amizade.

Deve-se supor, em segundo, que não convém na mesma cidade que cidadão algum careça de alimento, assim como das coisas que são necessárias à vida, porque a cidade ótima deve ser suficiente per se, e a cidade é determinada pela civilidade.

Quanto aos convívios comuns, devem ser feitas também três outras suposições. A primeira é que parece oportuno que se promovam na cidade ótimos convívios comuns. O motivo pelo qual isto é oportuno e assim no-lo parece, conforme se manifestará melhor na decorrência deste livro, é que os convívios comuns dispõe à familiaridade dos cidadãos e à sua amizade. A segunda é que convém que todos os cidadãos, tanto os ricos quanto os pobres, se comuniquem entre si, de outro modo as coisas pelas quais o cidadão é determinado não seriam comuns a toda a cidade. A terceira suposição [quanto aos convívios comuns] é que, se houver cidadãos pobres ou menos ricos, tendo poucas posses, não lhes será fácil, sem que lhes pese muito, trazer ao convívio comum aquilo que lhe seria proporcional e ao mesmo tempo sustentar a sua própria família com a sua pouca riqueza.

A última suposição diz respeito aos gastos com o que é divino. O Filósofo diz que deve se tomar como suposto que as despesas que se fazem com o culto divino, por exemplo, nos sacrifícios que a este se ordenam, devem ser comuns a toda a cidade, assim como o deve ser também o culto divino.

Feitas estas suposições, diz o Filósofo que na cidade ótima a possa das [terras] da região deve ser dividida em duas partes. A primeira parte deve ser comum [a toda a república], para custear as despesas comuns, e a outra deve ser própria de cada um para prover às conveniências de cada família. Cada uma destas partes, [a comum e a particular], deve ser subdividida em duas outras partes.

Uma das partes das terras da propriedade comum deve ser ordenada às oblações e ao culto divino; a segunda para as despesas a serem feitas para os convívios comuns.

Quanto às terras particulares, uma parte das mesmas deve ser ordenada às necessidades próprias de cada um; a outra para os negócios comuns da cidade, que são as despesas com os armamentos, com o policiamento e com o ornamento da cidade.