2. A causa das virtudes morais.

A virtude moral tem em nós origem pelo costume das obras.

A virtude moral está na parte apetitiva [da alma]. Portanto, ela implica numa certa inclinação a algo apetecível. Esta inclinação pode ter sua origem ou na natureza que inclina para aquilo que é a si conveniente, ou no costume que se converte em natureza.

[A virtude moral não pode existir por natureza na alma]. Em todas as coisas que em nós existem pela natureza, a potência existe antes que a operação. Isso é manifesto, por exemplo, no caso dos sentidos. Não é pelo fato de muito termos visto ou ouvido que adquirimos o sentido da vista ou do ouvido. Ao contrário, é pelo fato de termos estes sentidos que começamos a utilizá-los. Ora, [no caso das virtudes morais acontece o oposto]. Nós adquirimos as virtudes [morais] pelo fato de operarmos segundo a virtude, assim como ocorre com as artes operativas. É assim que operando o que é justo ou moderado os homens se tornam justos ou moderados. Portanto, conclui-se que as virtudes morais não podem existir em nós pela natureza.

[As virtudes morais existem em nós pelo costume que dá origem a uma inclinação a modo de natureza]. A virtude moral pertence ao apetite, que opera na medida em que é movido pelo bem apreendido. Por isso, se o apetite operar muitas vezes, significa que está sendo movido muitas vezes pelo seu objeto. E disto se segue uma certa inclinação a modo de natureza. Assim portanto, fica patente que as virtudes morais não estão em nós por natureza, e nem estão em nós contra a natureza. Mas em nós existe uma certa aptidão natural para recebê-las, na medida em que a força apetitiva em nós é naturalmente apta a obedecer à razão. Mas elas, [isto é, as virtudes morais], se produzem em nós pelo costume, na medida em que pelo fato de que vezes repetidas agimos segundo a razão, a forma da força da razão imprime-se na força apetitiva. Esta impressão nada mais é do que a virtude moral.