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O Filósofo determinou o tempo da perfeição da
mulher aos dezoito anos ou aproximadamente, e do homem aos
trinta e sete anos ou aproximadamente. Poderia objetar-se que
a união conjugal deveria fazer-se antes do que determina o
Filósofo. Parece, de fato, que quando o homem principia a
espermatizar é que se deveria fazer tal união, e isto
acontece muito tempo antes do que o Filósofo determina, isto
é, no tempo da puberdade, e não aos trinta e sete anos.
Ademais, os vários direitos que determinam o que parece dever
considerar-se o bem comum, estabelecem que os matrimônios
podem realizar-se quando a mulher completa doze anos e o
homem completa catorze.
Para responder a esta possível objeção deve-se
considerar que, segundo a intenção do Filósofo, se
considerarmos a boa disposição dos que geram e a boa
disposição da prole a ser gerada e, por conseqüência, a
utilidade comum da cidade ou da região per se será melhor que
esta união se realize quando os corpos de ambos estiverem
perfeitos, que é o tempo determinado pelo Filósofo ou
aproximadamente, na maioria dos casos. Os corpos sendo
perfeitos, perfeitas serão as forças, e ademais não padecerão
no crescimento ou na sua compleição enquanto tal, senão pela
superfluidade ou algum outro motivo [extrínseco]. As crianças
também serão melhor dispostas e, por conseguinte, também
[serão melhor dispostas] quanto à alma, porque a boa
disposição do corpo dispõe à boa disposição da alma e, deste
modo, serão mais capazes da virtude e dos atos civis.
Por acidente, porém, convirá a alguns se casarem
mais cedo ou mais tarde, por exemplo, se seus corpos se
aperfeiçoam mais tardia ou precocemente, ou se tenha que se
temer a fornicação com outrem, ou ainda outros motivos
semelhantes. Embora a emissão do sêmen é encontrada [na
maioria] dos homens mais precocemente, todavia não se segue
daí que [apenas por isso] o homem seja melhor e mais apto à
geração. Não é necessário naquele que procede do imperfeito
ao perfeito que assim que este possa algo pela primeira vez
já o possa perfeitamente, assim como também ocorre que quando
alguém pode pela primeira vez tocar cítara de qualquer modo
não se segue por isso que irá tocá-la automaticamente, antes
ocorrerá o contrário. As coisas, de fato, que são anteriores
segundo a via da geração são mais imperfeitas, enquanto que
as que são posteriores são mais perfeitas, como é o caso do
homem que é posterior à criança.
Quanto aos direitos, estes não determinam ser
ótimo que o matrimônio se realize no tempo da puberdade, isto
é, quando a mulher alcança doze anos e o homem catorze,
aproximadamente, mas limitam-se a conceder que estão seja
este o primeiro momento em que o matrimônio possa ser
contraído, porque só a partir deste momento poderá valer o
consentimento matrimonial por causa do uso da razão.
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