16. Sexto argumento para mostrar que a felicidade consiste na operação especulativa. A felicidade consiste num certo descanso.

Há ainda uma outra condição da felicidade que não foi anteriormente mencionada, segundo a qual a felicidade consiste num certo descanso [vacatio]. Alguém é dito descansar quando não lhe resta mais nada para agir, o que acontece quando alguém já chegou ao [seu] fim. Nós trabalhamos operando, para que cheguemos a repousar no fim, que é descansar.

Deve-se, entretando, considerar que mais acima o filósofo tinha dito que o repouso é por causa da operação, [ o que parece contradizar a afirmação presente de que a operação é por causa do repouso]. [Quanto a isto deve-se dizer que anteriormente o filósofo tinha-se referido] ao repouso que interrompe a operação antes da consecução do fim por causa da impossibilidade da continuação do operar, o qual repouso se ordena à operação como a um fim. Já o descanso [vacatio] é o repouso no fim ao qual se ordena a operação. De modo que à felicidade, que é o fim último, maximamente competirá o descanso.

O descanso não é encontrado nas operações das virtudes práticas, das quais as principais são aquelas que consistem nas coisas políticas, na medida em que são ordenantes do bem comum, e nas coisas da guerra, pelas quais o próprio bem comum é defendido contra os inimigos. [Tanto a uma quanto a outra] destas obras não compete o descanso. Acerca das operações da guerra isto é inteiramente manifesto, porque ninguém elegeria fazer ou preparar uma guerra somente por guerrear, o que seria possuir descanso nas coisas da guerra. Quanto às coisas políticas é também manifesto que nelas não há descanso, porque os homens pretendem adquirir a felicidade através da vida política, mas de maneira que tal felicidade seja outra coisa que não a vida política. Esta é, de fato, a felicidade especulativa, à qual toda a vida política parece ordenada, na medida em que pela paz, a qual pela ordenação da vida política é estabelecida e conservada, é dada ao homem a faculdade de contemplar a verdade.

Se, portanto, entre todas as ações das virtudes morais se sobressaem as políticas e as da guerra, tanto pela beleza, é porque são as mais honoráveis, quanto pela magnitude, porque são acerca do bem máximo, que é o bem comum, e tais operações não possuem descanso em si mesmo, sendo feitas por causa do apetite de outro fim, não sendo elegíveis por causa de si mesmas, não haverá nas operações das virtudes morais perfeita felicidade. Mas a operação do intelecto, que é especulativa, difere destas operações segundo a razão de a ela nos aplicarmos, porque o homem descansa em tais operações por causa delas mesmo, de tal maneira que nenhum outro fim além delas mesmo apetece.

Assim, portanto, fica evidente que a perfeita felicidade do homem consiste na contemplação do intelecto.