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O homem virtuoso maximamente deseja para si o ser
e o viver, e [isto] de modo especial quanto àquela parte da
alma na qual está a sabedoria. De fato, se o homem é
virtuoso, é necessário que queira aquilo que é para si o bem,
porque cada um quer para si mesmo o bem. Ora, o bem é para o
virtuoso o seu ser, isto é, que seja virtuoso, [porque] se
acontecesse que alguém se tornasse outro, como se diziam nas
fábulas, se o homem se transformasse numa pedra ou num asno,
ninguém se importaria se aquilo que é transformado possuiria
todos os bens. [De onde se conclui] que o desejo de cada um
de querer o seu ser, isto é, que se conserve aquilo que [cada
um] próprio é, [e aqui o compilador termina com suas palavras
o raciocínio], [este desejo, dizíamos], [é como que a raiz da
benevolência]. Ora, quem maximamente se conserva o mesmo em
seu ser, é Deus, o qual não quer para si nenhum bem que agora
não tenha, possuindo agora em si o bem perfeito, e ele
próprio é sempre o que foi, porque é imutável. Porém, nós
[homens], somos maximamente semelhantes a Deus segundo o
intelecto, que é incorruptível e imutável. Por isso, o ser de
cada homem maximamente [deve] ser considerado segundo o
intelecto. De onde que o homem virtuoso, que totalmente vive
segundo o intelecto e a razão, maximamente quer para si o ser
e o viver. De fato, quer para si o ser e o viver segundo
aquilo que nele permanece. Quem, porém, quer para si o ser e
o viver principalmente segundo o corpo, que está sujeito à
transmutação, não se quer verdadeiramente o ser e o viver.
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