15. Três razões que mostram que a intemperança é pior do que a incontinência.

[Em primeiro], o intemperante não é de se arrepender, porque peca por eleição na qual permanece por ter elegido as deleitações corporais como fim. Todo incontinente, porém, facilmente se arrepende, cessando a paixão pela qual era vencido. De onde que fica evidente que o intemperante é insanável, enquanto que o incontinente é sanável. Porque, portanto, o intemperante é mais insanável, pode-se concluir que é pior, assim como é pior a doença corporal que é incurável.

[Em segundo], a malícia, isto é, a intemperança, se assemelha àquelas doenças que existem no homem de modo contínuo. Mas a incontinência se assemelha às doenças que não continuamente invadem o homem, como a epilepsia. E isto porque a intemperança e qualquer malícia é contínua. Possui, de fato, um hábito permanente pelo qual faz eleição do mal. Mas a incontinência não é contínua, porque o incontinente é movido a pecar somente por causa da paixão que rapidamente passa. Assim, a incontinência é como uma certa malícia não contínua. Ora, o mal contínuo é pior do que o mal não contínuo. Portanto, a intemperança é pior do que a incontinência.

[Em terceiro], a incontinência e a malícia, dentro da qual está contida a intemperança, são de gêneros diferentes. De fato, a malícia está escondida à [pessoa] na qual existe, estando ele enganado, estimando ser bom aquilo que faz. Mas a incontinência não está escondida à [pessoa] na qual existe, já que ele sabe pela razão ser mau aquilo para o qual é conduzido pela paixão. Ora, o mais escondido é mais perigoso do que o mal não escondido. Portanto, a intemperança é pior do que a incontinência.