5. A cidade ótima é a constituída num termo médio.

Depois que o Filósofo determinou quais são os cidadãos ótimos, isto é, os [situados num termo] médio, declara qual é a cidade ótima, isto é, a que é composta [dos que se situam] num termo médio.

Ele declara, em primeiro lugar, que os [homens que vivem num termo] médio são maximamente preservados na cidade. Isto é evidente, porque eles não desejam os bens alheios, como os pobres. Possuem-nos, de fato, à suficiência, e por isso não desejam o alheio e não armam ciladas aos ricos. Os pobres, por serem carentes, desejam o alheio, e por isso armam ciladas aos ricos. Os [situados num termo], não possuindo superabundância de riquezas, nem armam ciladas aos outros nem os outros lhes armam ciladas. São estes aqueles que são maximamente preservados, pelo que é manifesto que a cidade que é composta de [homens situados num termo] médio é aquela que é maximamente conservada. Os [homens situados num] termo médio vivem, de fato, sem perigo. Porque ninguém lhes prepara ciladas, nem eles próprios o fazem aos demais, vivem sem perigo.

Disto pode-se concluir que a república que é composta por [homens situados num termo] médio é a república ótima. É manifesto que a república ótima é constituída de [termos] médios e que aquelas cidades que possuem muitos homens [situados num termo] médio são as cidades que possuem uma república ótima. A razão disto é que a parte mais vigorosa da cidade e a melhor é a parte intermediária, mais do que as duas partes restantes em separado, porque se uma parte, além da razão, quiser oprimir a outra parte, assim como se os ricos quiserem oprimir os pobres, esta parte se acrescentará aos pobres e com ela reprimirá a malícia dos ricos. Se, porém, os pobres quiserem se insurgir além da razão contra os ricos, os médios se unirão aos ricos e reprimirão os pobres. E por isso os médios impedem que na cidade se cometam excessos. Ora, uma república assim constituída é ótima.

[Destes argumentos conclui-se também] ser manifesto que, dado que a cidade ótima é a constituída pelos intermediários, o bem máximo é que na cidade os governantes tenham uma riqueza moderada e posses moderadas. Onde houver pessoas que excedam imensamente a outras nas riquezas, ou houver outras imensamente indigentes, haverá ali ou um estado popular ou um estado de poucos intemperado, no qual poucos homens muito ricos dominarão segundo a sua vontade ou então haverá um tirano por causa de ambos os excessos, isto é, dos ricos e dos necessitados. De fato, dos estados populares excessivamente orgulhosos [facilmente] levantam-se os tiranos. O mesmo pode-se dizer da potência dos poucos, não porém [do estado constituído de homens situados] em um termo médio. Muito mais facilmente se origina um tirano de um estado popular do que entre aqueles que estão próximos de um termo médio. A causa para isto ficará evidente mais adiante ao tratarmos sobre as transmutações da república.