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[Em primeiro], o intemperante não é de se
arrepender, porque peca por eleição na qual permanece por ter
elegido as deleitações corporais como fim. Todo incontinente,
porém, facilmente se arrepende, cessando a paixão pela qual
era vencido. De onde que fica evidente que o intemperante é
insanável, enquanto que o incontinente é sanável. Porque,
portanto, o intemperante é mais insanável, pode-se concluir
que é pior, assim como é pior a doença corporal que é
incurável.
[Em segundo], a malícia, isto é, a intemperança,
se assemelha àquelas doenças que existem no homem de modo
contínuo. Mas a incontinência se assemelha às doenças que não
continuamente invadem o homem, como a epilepsia. E isto
porque a intemperança e qualquer malícia é contínua. Possui,
de fato, um hábito permanente pelo qual faz eleição do mal.
Mas a incontinência não é contínua, porque o incontinente é
movido a pecar somente por causa da paixão que rapidamente
passa. Assim, a incontinência é como uma certa malícia não
contínua. Ora, o mal contínuo é pior do que o mal não
contínuo. Portanto, a intemperança é pior do que a
incontinência.
[Em terceiro], a incontinência e a malícia, dentro
da qual está contida a intemperança, são de gêneros
diferentes. De fato, a malícia está escondida à [pessoa] na
qual existe, estando ele enganado, estimando ser bom aquilo
que faz. Mas a incontinência não está escondida à [pessoa] na
qual existe, já que ele sabe pela razão ser mau aquilo para o
qual é conduzido pela paixão. Ora, o mais escondido é mais
perigoso do que o mal não escondido. Portanto, a intemperança
é pior do que a incontinência.
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