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[O Filósofo acaba de mostrar que o servo, enquanto
servo], necessita da virtude. Ora, é necessário que o homem
que possui inclinação à virtude alcance a virtude pelo estudo
de algum governante, como ocorre com os cidadãos que devem
tornar-se virtuosos pelos legisladores, conforme está
explicado no Segundo Livro da Ética.
É, portanto, manifesto que as virtudes que o servo
deve possuir para que seja bom devem ter a sua causa em seu
senhor, o qual deverá instruí-los sobre como devem agir,
corrigindo-os se fizerem o mal e incentivando-os se fizerem o
bem. [Não se pode dizer o mesmo do senhor quanto à própria
obra servil]. Não se pode dizer que pertence ao senhor que
ele deva possuir alguma ciência senhoril pela qual deverá
ensinar as obras servis aos próprios servos como, por
exemplo, que os ensine a cozinhar ou a fazer outras coisas
semelhantes. Cabe, porém, ao senhor ensiná-los como eles
devem alcançar a temperança, a humildade, a paciência e
outras virtudes semelhantes.
Disto também se conclui que não sustentam uma
posição correta aqueles que dizem que os senhores não devem
usar da razão para com os servos, mas apenas devem fazer uso
do preceito. Ao contrário, devemos ensinar os servos à
virtude mais ainda do que aos nossos filhos quando ainda são
crianças muito pequenas, porque nesta idade estas últimas não
são capazes de acompanharem o raciocínio que fundamenta a
virtude.
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