4. Mostra-se, através de três razões, que a eleição não é ira nem concupiscência.

[A primeira razão é comum à ira e concupiscência]. Tanto a concupiscência como a ira são comuns aos homens e aos animais irracionais. Mas nos animais irracionais não encontramos a eleição, como já foi dito. Portanto, a eleição não é concupiscência, nem ira.

[A segunda razão vale somente para a concupiscência]. Se a eleição fosse concupiscência, todos os que operassem pela eleição operariam pela concupiscência e vice-versa. Mas isto é falso. [Quando os incontinentes não permanecem na própria eleição] por causa da concupiscência, estão operando segundo a concupiscência, mas não segundo a eleição. Os continentes, inversamente, operam pela eleição, não todavia pela concupiscência, à qual resistem pela eleição, conforme será explicado no sétimo livro. Portanto, a eleição não pode ser o mesmo que a concupiscência.

[A terceira razão vale para a ira]. [Segundo ela], a eleição será muito menos ira do que concupiscência. Mesmo segundo a aparência, as coisas que são feitas por causa da ira, não parecem ser feitas segundo a eleição, pelo fato de que, devido à velocidade do movimento da ira as coisas que são feitas pela ira são maximamente repentinas. Embora, de fato, na ira exista algum uso da razão, na medida em que aquele que se ira principia a ouvir a razão que julga que a injúria deva ser vingada, todavia não a ouve perfeitamente na determinação do modo e da ordem da vingança. De onde se vê que a ira maximamente exclui a deliberação, que é requerida à eleição. Já a concupiscência não opera tão repentinamente. De onde se conclui que as coisas que são feitas pela concupiscência, não parecem ser tão afastadas da eleição como as coisas que são feitas pela ira.