17. Segunda razão pela qual a cidade mais convém ser governada por muitos do que por um só.

A segunda razão pela qual se prova que não é natural que um só domina a muitos semelhantes segundo a virtude é a seguinte. Não convém que um só homem domine a semelhantes segundo a virtude, mas sim que muitos [o façam] porque é necessário que o governante examine muitas coisas, e um só homem não pode fazê-lo bem.

[O Filósofo afirma, na quarta razão], que é inconveniente dizer que um só [homem], por meio de dois olhos e dois ouvidos possa perceber melhor do que muitos [homens] por meio de muitos ouvidos e muitos olhos. E é inconveniente dizer que um só [homem] melhor opere por duas mãos e dois pés do que muitos por meio de muitos pés e muitas mãos. Semelhantemente é inconveniente que um só [homem] julgue melhor pela sua prudência do que muitos, e é por isso que vemos que os príncipes fazem por si muitos olhos e muitas mãos e pés, porque fazem para si muitos co-principantes, chamando a estes de pés, mãos e olhos, porque discernem e operam por meio deles. Fazem co-principantes aos que são seus amigos e amigos de seu principado porque, se não fossem amigos de ambos, mas apenas de um só, como se o fossem apenas do principado, não cuidariam do bem do príncipe, mas apenas do principado. Por outro lado, se não amassem o principado, mas apenas ao príncipe, não cuidariam do bem do principado. É necessário, porém, que os co-principantes cuidem tanto do bem do príncipe como do principado. E por isso fazem os príncipes co-principantes aos que são seus amigos e do principado, porque os amigos não fazem senão aquilo que é reto e honesto, e se forem amigos do príncipe e do principado buscam o bem de ambos. Ora, importa que os amigos sejam semelhantes.

[Continua, portanto, o Filósofo na segunda razão dizendo que] é manifesto que convém que haja muitos outros principantes sob o príncipe, de onde que, se desde o princípio houvesse muitos principantes, não pareceriam diferir em algo, pelo que seria melhor ordenado [que fossem muitos que governassem] do que se fossem muitos [governando] sob [o governo] de um só. Se, portanto, um só [homem] não pode governar se não tiver sob si outros que também governem, onde todos forem semelhantes e iguais segundo a virtude, ninguém naturalmente estará sob outro, do que se conclui ser manifesto que não é natural que um só governe a outros semelhantes e iguais segundo a virtude.