5. Responde-se à opinião de Sócrates através de duas distinções.

De duas maneiras dizemos alguém ter ciência. De uma primeira maneira, é dito ter ciência aquele que possui o hábito mas não o usa, como por exemplo, o geômetra que não considera as coisas da geometria. De uma segunda maneira, é dito ter ciência aquele que usa a sua ciência, considerando as coisas que são desta ciência. Ora, em muito difere que alguém faça aquilo que não deve possuindo o hábito da ciência mas não o usando, ou possuindo o hábito e utilizando-o especulando. De fato, é duro que alguém aja contra aquilo que em ato especula, não parecendo, entretanto, duro que alguém aja contra aquilo que habitualmente sabe mas não considera.

Dois são os modos de proposição dos quais se utiliza a razão prática, que são a proposição universal e a proposição singular. Ora, nada parece proibir que alguém opere contra aquilo de que tem ciência, conhecendo por ciência tanto a proposição universal como a singular, mas que em ato considera somente o universal e não o particular. Isto [acontece] porque as operações são acerca do singular, de onde que, se alguém não considera o singular, não é admirável se fizer diferentemente.

Segundo, portanto, estes modos diversos de se ter ciência, em tanto difere o impossível que a Sócrates parecia, que nenhum inconveniente haverá em que alguém aja incontinentemente possuindo ciência, no universal e também no singular, mas em hábito e não em ato. Seria, entretanto, inconveniente, que alguém agisse incontinentemente se tivesse ciência em ato do singular.