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A república e também o estado dos ótimos corrompe-
se por causa da transgressão da justiça que há na república.
De fato, somente é duradoura a república na qual observa-se o
igual segundo a dignidade e dá-se a cada um segundo o que é
seu. Se, portanto, na república denominada por este nome
comum mais se atribui aos pobres do que aos ricos e aos ricos
não se atribui segundo a dignidade, os ricos se insurgem
contra a república e a transmutarão num estado de poucos.
A causa e o princípio pelo qual faz-se a
transgressão do justo no estado dos ótimos e na república é
porque não são bem mesclados a partir daqueles pelos quais
nasceram para serem mesclados. Por exemplo, quando a
república não é bem mesclada a partir da potência de poucos e
do estado popular de que se compõe, ou quando o estado dos
ótimos não é bem mesclado a partir do estado dos poucos, do
estado popular e da virtude. As repúblicas maximamente
declinam do justo quando não são bem mescladas e
proporcionadas quanto às duas [primeira coisas], isto é, o
estado de poucos e o estado popular; de fato, as repúblicas,
e semelhantemente muitos estados de ótimos, são maximamente
mesclados a partir destes dois. O estado dos ótimos difere
das repúblicas porque as repúblicas são mescladas apenas do
estado popular e do estado de poucos, enquanto que o estado
dos ótimos é mesclado a partir do estado popular, do estado
de poucos e da virtude, embora haja alguns estados de ótimos
que são mais mesclados dos dois primeiros do que da virtude.
Por este motivo, porque as repúblicas e os estados
dos ótimos são mesclados a partir destes [componentes] é
manifesto que poderão ser mais e menos duradouros. Os que são
melhor mesclados podem ser mais duradouros do que os que são
pior mesclados.
As repúblicas que se afastam do estado de poucos
são chamadas por alguns de estado de ótimos, enquanto que
aquelas que se inclinam para a multidão são chamadas pelo
nome comum de república.
Disto também é manifesto que a república
denominada pelo seu nome comum é mais segura que o estado de
poucos e do que o estado dos ótimos. Há duas razões para tal.
A primeira é que na república domina a multidão, mas no
estado dos poucos e no estado dos ótimos dominam poucos; ora,
a multidão pode mais do que um pequeno número e é mais forte,
pelo que as repúblicas mais podem ser conservadas do que as
demais. A segunda razão é que na república a distribuição dos
bens e dos principados é mais realizada segundo a igualdade
do que nos demais estados. Ora, os homens comumente apetecem
mais a igualdade; por isso os homens mais amam as repúblicas
do que os demais estados, de onde que se segue que estas são
mais conservadas e mais seguras do que os outros.
Algumas vezes a república é totalmente transmutada
naquilo para o qual se inclina mais, que é o estado popular,
pelo ímpeto dos que querem transmutar a república aumentando
a inclinação da república e pela inclinação da república que
aumenta o ímpeto dos que a querem transmutar.
Semelhantemente. algumas vezes o estado dos ótimos
é transmutado ao estado dos poucos para o qual se inclina.
Outras vezes p estado dos ótimos pode ser
transmutado ao seu estado contrário, que é o estado popular,
assim como as repúblicas podem ser às vezes transmutadas ao
estado dos poucos. [O estado de ótimos pode ser transmutado
ao estado popular] quando os ricos se sobressaem muito e se
inclina fortemente ao estado de poucos; os pobres, vendo-se
deste modo agravados, e já tendo que sustentar injustiças,
insurgem-se contra os ricos e transmutam o estado dos ótimos
em estado popular.
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