5. Não é correto dizer que o universal é algo que se predica de muitos, mas sim que é algo capaz de predicar-se de muitos.

Deve-se notar ainda que Aristóteles não disse que o universal é algo

"que se predica de muitos",

mas sim que é algo

"capaz de ser predicado de muitos".

[Para entendermos a razão desta diferença], deve-se considerar que a inteligência apreende a coisa inteligida segundo a sua própria essência ou definição. De fato, no Terceiro Livro do De Anima diz-se que o objeto próprio da inteligência é [a quididade ou o]

"quod quid est",

[isto é, "aquilo que algo é", ou a essência].

Ora, algumas vezes a razão própria de alguma forma inteligida não repugna a que ela esteja presente em muitos [sujeitos], mas esta [múltipla presença] é impedida por alguma outra razão, seja algo que lhe sobrevenha acidentalmente, como se falecessem todos os homens com exceção de um único, seja por causa da condição da matéria, como é o caso do Sol, que é único não porque repugne à razão do Sol que esteja em muitos segundo a condição de sua forma, mas porque não há outra matéria que seja susceptível de [receber] tal forma.

É por isso que Aristóteles não disse que o universal é "o que se predica de muitos", mas "o que é capaz de ser predicado de muitos".