CAPÍTULO XXXII. CULTO À ADVOGADA DOS IMPOSSÍVEIS E NOVOS MILAGRES NOS TEMPOS MODERNOS

Os milagres que vamos referir neste capitulo constam da obra Novas Graças e Milagres da Ilustre Advogada dos Impossíveis, escrita pelo Emmo. Cardeal Gennari, Assesor do Santo Oficio e Arcebispo de Lepanto, o qual, por sua devoção à Santa, foi a alma da Causa da Canonização.

Em um fato, atestado por inúmeros testemunhos, que a fama de santidade de Rita, desde sua morte, e sobre tudo depois de sua beatificação, começou a espalhar-se rapidamente por todo o mundo cristão.

Depois das primeiras homenagens de Cássia e sua Comarca, Camerino Ascoli, Terni, Espoleto, Folinho e Núrcia apressaram-se em venerar os restos de Santa Rita. Mais tarde, reis e príncipes, Cardeais e Bispos, clero e fiéis visitaram devotarnente o sepulcro, considerando-se felizes de possuir alguma relíquia da Bem-aventurada, como um pedacinho de seus vestidos ou de qualquer outra coisa que fôra de seu uso. Entre outros personagens numeram-se os Emmos. Cardeaes D' Cesara, Sabionini, De la Guenga e até o mesmo Pio IX, quando Arcebispo de Espoleto.

Com objetos que em vida usou a Santa, honraram-se os soberanos da Espanha e de Portugal, entre outros Carlos II e João V, e desde então as famílias reais das duas nações têm sido muito devotas da Bem-aventurada Rita, cujo culto espalhou-se rapidamente, com o seu exemplo, pela Península Ibérica, e até pelas províncias dos seus extensos domínios coloniais.

O povo espanhol, seguindo o exemplo de seus soberanos, professou sempre à Rita fervorosa devoção, e desde sua beatificação tributou-lhe as honras da santidade. Tão grandes e freqüentes eram os prodígios que o Senhor se dignava fazer pela intercessão desta sua amadíssima esposa, que seus devotos começaram a honrá-la com o título, nunca até então ouvido, de Advogada dos Impossíveis.

Os reis da Espanha e de Portugal; agradecidos pelos singulares favores alcançados pela intercessão de Santa Rita, fizeram grandiosos donativos ao Convento das Madalenas de Cássia. D. João V fez reconstruir por sua conta o convento da Santa, tal qual hoje se conserva, ostentando no frontispício as armas e escudo do reino de Portugal. D. Carlos II, da Espanha, ordenou ao Duque de Medillaceli, vice-rei de Nápoles; que, por conta do patrimônio real, fizesse construir uma belfa urna para nela depositar o corpo venerando da Santa. Por sua, vez, as religiosas de Cássia, agradecidas aos muitos favores recebidos do, referido monarca espanhol. enviaram-lhe varias relíquias da Santa, entre outras, parte da coroa que a Santa costumava usar, e ao rei de Portugal mandaram o anel dos seus desposórios, segundo afirmam diversos escritores.

O que acabamos de referir é bastante para compreender que a devoção e confiança ilimitada das famílias reais, e dos fiéis da Espanha e Portugal e dos seus domínios, unicamente podia ter com base o grande poder de Rita para favorecer aos seus devotos.

Quão rapidamente se espalhou por toda parte o culto e devoção da Santa o demonstram também os documentos que vamos transcrever.

O Santo Padre Paulo V, quatorze anos antes que Rita fosse beatificada, autorizou à Câmara Municipal de Cássia para que em honra à venerável Rita confeccionasse um estandarte para ser levado na procissão do dia 22 de Maio em que se celebrava já sua festa. A autorização referida diz assim:

Molto magnifico signore:

Si contento la S. E. che cotesta communità possa spendere cento cinquanta scudi nello standardo che desidera fare per portarlo in processione colla reliquia della Bta. Rita sua Avocata nel giorno de la sua festività. E Dio lo salvi.

Roma, 26 agosto 1614.
Al suo piacere.

Il Cardinale Borghese

Com os prodígios da humilde religiosa crescia e se propagava a devoção dos fiéis, penetrando até os recantos mais afastados da terra, sobre tudo depois da solene Beatificação. Em 1645 o P. Diege de los Rios, sendo Provincial da Província do Santíssimo Nome de Jesus, no México, estabeleceu a festa da Beata Rita em. todas as igrejas e conventos sob sua jurisdição. Pelo mesmo tempo, estabeleceu-se dita festa nas Ilhas Filipinas, onde a devoção à Beata Rita propagou-se tanto que, não só altares, mas também povos se fundaram com o seu nome. Este fato observa-se também no Brasil onde varias cidades levam o nome de Santa Rita. O Papa Bento XIII, em 17 de Setembro de 1724, concedeu que, na cidade do Rio de Janeiro, fosse ereta uma igreja em honra à Bem-aventurada Rita de Cássia. Na igreja de Santo Agostinho de Manilha, estabeleceu-se desde então a Associação da Beata Rita, para homens e mulheres, aprovada pelo Papa Bento XIV, pelo Breve de 3 de Fevereiro de 1752, enriquecendo-a com muitas graças e bens espirituais.

Passamos agora a referir alguns das milagres que traz o Cardeal Gennari na obra já citada.

Em Conversano (Itália), um menino de quatro anos teve a infelicidade de cair no fogo, de onde o tiraram com graves queimaduras no rosto; estas produziram-lhe a cegueira e quase lhe causaram a morte. A mãe aflita, depois de esgotados os recursos da ciência médica, recorreu à proteção dos santos seus advogados. Tudo em vão; o menino não melhorava de saúde, e nem esperanças havia de que lhe voltasse a vista. Uma noite, depois de terminar as suas orações, adormeceu, e durante o sono julgou ver uma freira que lhe dizia: "já que tantos santos tens invocado, porque não te lembras de mim?"

- Quem sois vós?, disse a mulher.

- "Eu sou a Bem-aventurada Rita, que se venera na igreja de São Cosme; se me visitares, prometo-te que quando voltares à tua casa encontrarás teu filho são e com a vista recuperada."

No dia seguinte, muito cedo, foi a mãe à igreja de São Cosme rogar Santa pela saúde do filho, e com tanto fervor e confiança fez a sua oração que, ao voltar ao seu lado, o encontrou com os olhos abertos e perfeitamente curado. A surpresa foi enorme em toda a vizinhança. Não havia duvida: a Beata Rita fizera um milagre. Isto aconteceu no ano de 1886.

O sacerdote Francisco Morea, de Noci, diocese de Conversano, zelosíssimo promotor do culto da Beata Rita, refere seguinte:

"Era perto de meia note de 10 de Abril de 1895, quando fui acordado por umas palpitações cardíacas tão fortes e rápidas que me sentia afogar. Sentando-me no leito e oprimindo o coração com a mão direita, permaneci neste estado, seriamente preocupado, durante algum tempo. Com o pensamento ofereci-me à Beata Rita, e, pondo sua imagem sobre a região cardíaca, prometo-lhe uni coração de prata se me livrasse daquela doença. Recitei em sua honra três Glória Patri, dizendo-lhe: Beata Rita rogai por mim. Feito isto cessaram no mesmo instante aqueles afogos, e, regularizando-se as pulsações, ainda pude dormir aquela noite. Desde então parece-me ter sentido alguma vez outras palpitações nervosas, nunca porém tão fortes nem de tanta duração. Cumpri, pois, minha promessa no dia 14 de Maio, colocando aos pés da Beata o prometido coração de prata. Francisco Morea."

Numa povoação da Itália, chamada Casa Máxima, caíu gravemente doente com pneumonia um vizinho daquela localidade. O médico que lhe assistia, considerando o caso desesperado, disse à esposa do doente: Rogai a Deus pelo valso marido. A esposa, aflita, lembrando-se que tinha um livrinho intitulado “A Santa Advogada dos Impossiveis”, que há pouco lhe enviara uma sua irmã,. religiosa de São Vicente de Paula, com todo o fervor começou a rogar à insigne Advogada dos casos desesperados. Uma noite, o doente, oprimido pela fadiga sentou-se no leito em estado delirante, e lá pela meia noite viu aproximar-se do leito uma freira, a qual sentando-se no mesmo e olhando-o fixamente permaneceu aí meia hora aproximadamente, retirando-se em seguida sem dizer palavra. Era Rita de Cássia. Desde aquele momento, o doente começou a melhorar, e, com admiração do médico e assombro de toda a família, em poucos dias tornou-se totalmente restabelecido. Espalhou-se logo a noticia, e, para satisfazer a devoção do povo, foi preciso colocar um quadro da. Bem- aventurada na igreja paroquial.

Em 1827, a princesa Telesio Antonacci, de Nápoles, sofria tão grande fraqueza do cérebro que em pouco tempo viu-se redunda a um estado verdadeiramente lamentável. Nada podia pensar, e nem fixar sua atenção em coisa alguma. O tratamento médico tornara-se inútil. Uma sua irmã mandou pedir uma Novena de Santa Rata, e com ela recebeu um pouco do azeite da lâmpada da Santa. Começou a novena, e cada dia unia a testa da irmã com o azeite. O remédio foi eficaz.

A doente ia melhorando aos poucos, no fim da novena achou-se completamente restabelecida. A princeza, em ação de graças, mandou para a lâmpada do altar da Beata Rita, em Conversano, um barril de azeite, e uma bôa esmola em dinheiro, para fomentar o culto da Advogada dos Impossíveis, e propagar sua devoção.

Uma menina, filha de Sebastião Giennulli, negociante na cidade de Bari, sentia-se atormentada desde a meninice de fortes dôres num dos joelhos. Como os médicos não estivessem concordes sobre a natureza do inchaço formado no joelho, foi consultado o doutor Zuccaro, médico de nomeada. Feito o exame, e depois de demorado reconhecimento, disse que era necessária uma operação dolorosa, que lhe foi praticada no dia 22 de Julho de 1897. Foi então preciso cortar parte da tíbia e do fêmur, tirando-lhe quase por completo a rotula. Depois foram colocados os ossos da coxa e da perna de tal modo que ambos formaram um só, ficando, portanto, sem jogo a perna e bastante mais curta que a outra.

Em vista da gravidade do caso e das poucas forças da menina, os médicos manifestaram à família as poucas esperanças que tinham a respeito da cura. Mas a doente que, devido às dores, não pudera fanar até o dia seguinte, pediu um quadro da admirável Taumaturga, que lá havia, e, dirigindo-se à Santa imagem, exclamou: Oh Rita Bem-aventurada! quanto estou sofrendo! Valei-me! É verdade que tenho sido muito ingrata contigo. pois, quando todos, devotos, rezavam tua novena, eu estava distraída e pouco me interessava rogar a ti. Conheço meu erro, e peço-te perdão. Ah! compadece-to de mim, porque não poderei sofrer mais. Ouvindo-a fanar assim, os que estavam presentes se aproximaram do leito; mas a menina disse: Vão-se embora... Agora vem...

- Quem? perguntaram-lhe.

Uma freira, respondeu:

- Donde vem?

- De lá, daquele canto.

- E que faz agora? tornaram a perguntar.

- Aproxima-se de minha cama e vem sentar-se perto de mim.

Por alguns instantes doente permanece em silencio, como se escutasse algo interessante; depois tornou a falar:

- Com a ajuda dos médicos do céu que bem ficou minha perna! Ela pôs dobre mim suas belas mãos e me curou.

Todos choravam julgando que a doente estava delirando.

- Não choreis, antes alegrai-vos. Não vêdes como eu estou alegre, por ter recebido a grana que pedia? Nada me dói já. A Bem-aventurada Rita disse-me que após três dias cessarão completamente minhas dores... Com a perna operada poderei dançar, pular e correr, sem sentir incômodo algum.

Como o havia assegurado a doente, assim aconteceu. Aos três dias estava completamente sã, e o mais admirável é que aquela perna que, devido à carie dos ossos, fôra preciso cortar meio palmo, devendo por tanto ficar mais curta e sem jogo, viu-se com grande assombro igual a outra, flexível e com o jogo completo, como se nela não houvesse havido doença alguma. Não é preciso dizer, quão agradecida ficou aquela família à Santa advogada dos impossíveis, e a alegria com que foi, ao seu santuário cumprir os votos, levando em sua companhia a jovem afortunada, que à vista de todos caminhava, radiante de alegria e sem dificuldade alguma.

Muitos outros casos admiráveis poderíamos transcrever do livrinho do piedoso e sábio Cardeal Gennari; porém, os referidos provam claramente ser vontade de Deus que sua serva Rita recebesse sem mais delongas as honras da solene canonização.

Seja-me permitido, diz o autor da Vida de Santa Rita, referir aqui, para maior honra e glória de Deus e em louvor de Santa Rita, a graça que me foi concedida, senda ainda menino, por .sua intercessão. O caso foi que, sem saber como nem porque, se me formou no peito do pé esquerdo um grave tumor que me ocasionava agudíssimas dores. Contristados meus pais com a noticia de que perderia o pé, minha. mãe, que fôra sempre muito devota de Santa Rita, encomendou-me a ela, prometendo-lhe levar, à imagem que se venera em Oviedo, azeite para sua tampada e umas velas para seu altar. Aconteceu isto no mês de Janeiro de 1862. Não havia terminado o mês de Março e, na companhia de minha muito boa mãe, que na santa, glória esteja, empreendi descalço, segundo a promessa feita, a viagem para a Capital, onde depositamos nossas humildes ofertas, dando fervorosas graças à Advogada dos Impossíveis. Sirva a narração deste fato como testemunho de gratidão, bem que, em atenção aos decretos de Urbano VIII e outras disposições pontifícias, é minha tenção não se dê ao caso presente senão fé puramente humana.