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Triste e cheio de sombras é o quadro que os historiadores da Itália nos tem deixado do
tempo em que Santa Rita veio ao mundo. A guerra, a desolação, o luxo e a imoralidade
reinavam, em maior ou menor escala, em todos os estados, de Norte a Sul, da península,
desde os domínios lombardos, até o reino de Nápoles, sem que destas mesmas calamidades
ficassem livres as cidades dos estados pontifícios, especialmente durante o tempo que a
Sede Apostólica permaneceu em Avignon. E por si não foram bastantes os males internos,
preciso é acrescentar os que vieram de fora com as incursões feitas na Itália pela Germânia,
Hungria, Inglaterra e Borgonha, vendo-se invadida por hordas de aventureiros que a fizeram
teatro de suas rapacidades e tiranias, desde meados do século XIV até os tempos de Carlos
V. A depravação era tão grande e tão enraizada estava, que não foi bastante para contei-a o
cumulo de guerras, ódios e vexames, nem o castigo do céu com que Deus visitou aquela
desventurada terra, enviando a peste que, em melados daquele século, despovoou a me : da
península: tudo foi inútil para reduzir a melhor vida seus moradores e aplacar assim a colem
do Senhor.
A mesma Igreja, pouco antes do nascimento de Santa Dita, enfraquecida pelas heresias dos
Beguardos, Beguinos, Adamitas, Waldenses e Wiclefitas, viu rasgada sua túnica inconsútil
pelo grande cisma, que durou quase todo o tempo da vida de Santa Rita. Numa época de
tanta desordem e de confusão tanta veio ao mundo Rita, parecendo impossível que num
campo de tantos espinhos germinasse uma rosa de tanto perfume e tão bela como foi a serva
de Deus. Não obstante, a divina Providencia assim o quis, mostrando ao mundo que onde
abundou o delido superabundou a graça, pois a julgar pelas coisas que precederam e das que
se seguiram a seu nascimento, e pela inocência em que passou a vida, parecia vir santificada
desde o ventre materno
Na noite de 22 de Maio de 1381 sendo Pontífice de Roma Urbano VI, nasceu no pequeno
povoado de Rocca Porena esta singular criatura, primeiro e único fruto que, em sua bem
adiantada idade, tiveram Antonio Mancini e Amada Ferri. Vinha ao mundo no silencio da
meia noite, e seus pais que velavam esperando o feliz successo, exultaram de gozo
contemplando aquela formosa criatura; e beijando-a com ternura davam grafias a Deus por
lhes ter cumprido a promessa e consolado sua velhice. Quem agora suspeitaria que aquela
criatura havia de atrair a si um dia os olhares dos fiéis de todas as nações, que invocariam
com fé sua poderosa proteção, e que, pelos favores alcançados mediante a sua intercessão,
igrejas, se consagrariam se levantariam altares em sua honra, se estabeleceriam piedosas e
caridosas associações, se fundariam povoa com seu nome, e o mundo católico a honraria
com o titulo de Advogada de impossíveis?
Passadas que foram as primeiras alegrias de tão feliz acontecimento, os paca trataram logo
de que sua filha recebesse o santo Batismo, que apaga o pecado original e constitua os
homens filhos de Deus e herdeiros de sua glória. Mas na ocasião não havia pároco em Rocca
Porena e foi preciso levar a menina a Cássia, e ali, ao quarto dia de seu nascimento, foi
batizada na igreja de Santa Maria com o nome de Rita, ou talvez Margarida.
Nasceu, pois, Rita no mesmo mes e dia aniversário de seu transito glorioso ao Céu; e como a
Igreja chama nascimento a morte dos santos, porque então é que nascem a verdadeira vida,
tal coincidência parece dar a entender que esta privilegiada criatura, antes que para as lutas
da terra, nascia para o céu, como se qual outro Batista tivesse sido santificada no ventre de
sua mãe. Por agora basta-nos saber que seu nascimento foi precedido de sinais misteriosos, e
seguido de outros prodígios que veremos nos capítulos seguintes.
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