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Não há nada que tão eficazmente influa na vida privada e pública das pessoas como o
exemplo. Por isso, os servos de Deus que, a imitação do divino Mestre, passaram pelo
mundo fazendo bem a todos, foi o seu exemplo o facho luminoso que mostrou ao homem o
caminho a seguir por entre o mar tempestuoso desta vida, e muitas vezes esse mesmo
exemplo salvou povos e sociedades inteiras da ruins iminente. Este fato, que freqüentemente
achamos consignado na História, tanto religiosa como profana, vêmo-lo também
admiravelmente na vida de Santa Rita de Cássia: ao mérito de sua virtude aprouve ao Senhor
acrescentar o poder dos milagres; e assim o exemplo desta Santa, em muitas ocasiões, foi de
valor indiscutível para o bem da Igreja e do povo cristão, cuja prosperidade tanto a
interessava.
Não se pôde duvidar da grande influência que sobre a vida moral de Cássia e seus arredores
exerceu a virtude e santidade de Rita; por isso, a ela acudia toda classe de pessoas buscando
alivio para seus males; mas o Senhor quis que a fama dos merecimentos de sua serva e dos
milagres alcançados por sua intercessão ultrapassasse os limpes daquela região,
espalhando-se por todo o mundo cristão, para que de um lado fosse espelho de santidade, e
de outro se arraigasse em todos a devoção a Santa Rita, e assim;, invocando-a nas
necessidades, experimentassem o seu poderoso patrocínio.
Santa Rita morreu no dia 22 de Maio de 1457, aos setenta e seis anos de idade e quarenta e
quatro de profissão religiosa, governando a Igreja de Jesus Cristo o Papa Calixto III. Na
ocasião da morte de Rita, os moradores da cidade de Cássia não só haviam melhorado seus
costumes, gozando ao mesmo tempo do beneficio da paz, como se sentiam orgulhosos de
poder acrescentar às passadas glorias o brilho das virtudes daquela insigne filha de Cássia,
a quem o povo começou a dar o nome da histórica cidade, chamando-a Bem-aventurada Rita
de Cássia. Crescia rapidamente a fama das virtudes da penitente religiosa, de modo que,
quando o Senhor, por meio dum milagre, quis que chegasse ao povo a noticia da morte de
Rita, de toda parte veio gente venerar as restos mortais daquela bem-aventurada filha de
Santo Agostinho.
E o milagre foi o seguinte: morta Rita, já bem alta note, os sinos do convento, sem que
ninguém os tocasse, repicaram festivamente, acontecendo a mesma coisa nos sinos da
cidade.
Os moradores da mesma, cientes desse maravilhoso acontecimento, ficaram possuídos de um
sentimento de admiração e cheios de alegria indescritível. Choravam as religiosas a morte
de sua querida e santa irmã, mas aquele pranto terminou em lagrimas de alegria.
Continuavam os sinos batendo sozinhas, quando advertidas do fato, uma venerável religiosa,
exclamou: “Não vedes, minhas, como vai subindo ao céu, entre resplendores de
deslumbrante claridade, a alma de Rita?”.
Não chegaram a ver as demais religiosas o que esta vira, mas todas contemplaram e
experimentaram outras coisas não menos prodigiosas. A cela de Rita apareceu iluminada de
uma claridade extraordinária. O mau cheiro da chaga desapareceu por completo,
substituindo-o um suave e incomparável perfume. Esse tão misterioso e grato perfume se
desprendia não só do corpo da Santa como de todos os objetos que a cercavam,
espalhando-se até os cantos mais afastados do convento. Da chaga da testa, quase
completamente fechada, só ficou à vista um pequeno ponto que irradiava uma luz mais pura
que a do melhor brilhante. A piedosa Comunidade, entre lagrimas desama emoção, louvava a
Deus pelo modo maravilhoso com que se aprazia manifestar os méritos de Rita, e
consolavam-se pensando que no céu tinham já uma solícita e poderosa advogada.
Enquanto isto se dava no convento, o povo ia chegando ao Mosteiro das Madalenas para
informar-se sobre a santa doente. Amanheceu por fim o domingo, e, jogo que foram
franqueadas as pomas da igreja, penetraram todos aí para tributar à morta as homenagens de
sua admiração, contemplando seu corpo.
Este foi colocado num caixão provisório e depositado no velho oratório, em quanta se
dispunham as coisas para os funerais, que o município quis fazer a sua custa com toda
solenidade, para que todo o povo desse testemunho de sua veneração à finada.
As exéquias, assistidas por quase todo o povo de Cássia e dos lugares próximos,
assemelhavam-se a uma solenidade festiva. Foi preciso depois do funeral deixar insepulto a
cadáver porque o povo não se cansava de admirar e venerar aquele corpo santo antes
emagrecido pelas penitencias e trabalhos e agoira rejuvenescido, agradável e tranqüilo em
suas feições, parecendo revestido com os resplendores da glória.
Logo depois da morte de Rita quis o Senhor manifestar seu poder pela intercessão da Santa.
Divulgada a morte de Rita chegou de Rocca Porena uma mulher sua parente e muito amiga
que, atravessando com dificuldade a multidão, aproximou-se do corpo da Santa, deitou-se
sobre ele abraçando-o e beijando-o; entre lagrimas e suspiros rogou com grande fé e
confiança à Bem-aventurada pedindo-lhe a cura do seu braço, ha tantos anos mirrado e sem
vida. todos os presentes comovidos pela morte de Rita, mais ainda ficaram quando ouviram
a mulher, entre lagrimas de alegria, bradar: Milagre, milagre, estou curada! Com efeito, o
braço, até ha pouco seco, tornara à vida e havia recuperado o movimento. Não se podia
duvidar disto, pois aquela era conhecida de muitos dos presentes, que sabiam de sua
enfermidade.
À vista de todos se patenteava que a incomparável Rita continuava do céu a proteger o povo
cristão. Este fato maravilhoso, assim como outros referidos, foram publicamente
testemunhados, e se encontram nos autos do Processo de Beatificação e Canonização da
Santa.
O povo devoto, com cânticos e orações, louvou as maravilhas de Deus que tão admirável se
mostra nos seus santos.
Para depositar o santo corpo construíram-se duas caixas: uma de cipreste, em que
provisoriamente foi colocado, e outra maior de nogueira, que recebeu o corpo com a
primeira caixa. Não foi sepultado, ficando simplesmente depositado no oratório onde
recebera o espinho com que a presenteara o Senhor Crucificado. Neste mesmo oratório, que
se acha colocado atras do altar mór da igreja, separada apenas por uma grade de ferro,
acha-se exposto o corpo da Santa a veneração dos fiéis.
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