CAPÍTULO VII. OS PAES DE RITA OBRIGAM-NA A TOMAR O ESTADO DE MATRIMONIO

Chegava para Rita essa época da vida em que é preciso decidir qual o estado que devemos abraçar e que mas conforme seja com a nossa própria inclinação, pois do acerto desta eleição depende, de ordinário, nossa futura sorte temporal e mesmo eterna. Examinar seriamente as próprias inclinações, as tendências e aptidões que predominam em nós, é um dever sagrado que alcança por igual a pais e a filhos, para se não exporem a incorrer em erros graves, que tarde ou nunca se podem corrigir.

Certo que Deus, às vezes, se serve destes erros de pais e filhos para fins mais elevados de sua providencia, e para nos dar a entender que seus desígnios nunca são baldados, antes, bens ou males, sucessos prósperos ou adversos, tudo, afinal, redundará em provento daqueles que, segundo a sua vontade, hão de ser santos. A verdade que encerra este grande mistério aparece com singular relevo nesta passagem da vida de Santa Rita.

Já ficou dito que desde os primeiros anos observava-se em Rita uma especial propensão à soledade, para inteiramente dedicar-se à contemplação, e consagrar-se sem reservas ao Amado de sua alma; a semelhança daqueles religiosos cuja vida penitente a santa tanto ela admirava. Não ignoravam seus pais, cristãos e piedosos que eram, as incomparáveis vantagens do estado religioso para aqueles que, com tão manifestos sinais de vocação, como Rita, são chamados a abraça-lo; não obstante, deixando-se levar em demasia dos sentimentos humanos, decidiram propor a Rita o matrimonio.

Luta medonha se desencadeou no coração de Rita quando escutou a resolução de seus pais. De um lado, se apresentava o amor à virgindade que havia oferecido a Jesus, esposo das almas; de outro, a obediência devida aos pais. Surpreendida pelo projeto destes, Rita ficou como muda, sem saber o que responder; mas passaram os primeiros momentos, e procurando serenar o seu espirito Começou a excusar-se aduzindo as motivos que tinha para não aceitar o estado de matrimonio; e quando se convenceu que tudo era inútil, às razões seguiram as lagrimas. Chorava Rita, e também choravam seus pais ouvindo-a fanar com tanta convicção e de modo tão persuasivo; porém, a decisão era irrevogável. Então caindo de joelhos diante de sua mãe, com as mãos súplices, derramando abundantes lagrimas, entre suspiros de amargura exclamou: "Ah minha mãe! Eu nunca soube o que é desobedecer nem contrariar tua vontade; mas o sacrifício que me exiges é superior às minhas forças, concede-me ao menos, que, antes de dar uma resposta, consulte assumpto tão delicado." E Rita foi prostrou-se aos pés de Jesus: ali orou e chorou; e depois de haver desabafado seu coração, veio a paz, e abandonou-se completamente à vontade de Deus, manifestada na de seus pais, pois o Senhor lhe inspirou nessa obediência que ocasião que é melhor a obediência que o sacrifício. E dando-lhe as forças necessárias para abraçar a cruz que ia carregar sobre seus ombros, aceitando o mais, doloroso sacrifício de sua vida (pois mal sabia o cumulo de sofrimentos que de tal estado se originariam) levantou-se da oração decidida a comprazer os pais, fazendo-lhes a vontade, e disposta a aceitar o matrimonio, embora tivesse de renunciar a idéia, por tanto tempo acariciada, de consagrar sua virgindade a Jesus no recolhimento do claustro.