CAPÍTULO II. PÁTRIA E PAES DE SANTA RITA

Distante uma légua de Cássia eleva-se o gigantesco rochedo do Escolho, à cuja sombra, na ladeira de uma próxima coluna, se encontram os poucos edifícios que compõem o pequeno povoado de Rocca Porena.

Entre os moradores desta pequena aldeia viviam em meados do século XIV Antonio Mancini e Amada Ferri. Amavam-se os esposas com santo afeito. acompanhado do exercício de uma vida virtuosa e de exemplares costumes. Faltava-lhes, porém, para se considerarem felizes, que o Senhor lhes concedesse um filho a que 1r, prodigalizar seu carinho . e solicitude paternal. Era esta a única aspiração de seus corações, o fim de suas fervorosas preces. À medida que multiplicavam as súplicas, crescia sua esperança; mas o Senhor, que parecia mostrar-se surdo, foi diferindo o cumprimento dos desejos dos esposos, para melhor provar sua constância, e, com o exercício de novas virtudes, fazer-lhes mais merecedores do que pensava do soberano dom com que pensava premiar sua santa vida.

Os fatos vieram confirmar isto: o primeiro foi que, certo dia, teve Amada uma visão, na qual o Senhor lhe revelou que havia de ser mãe duma menina tão extraordinária que, com o brilho de suas virtudes e prodígios, deveria ser não só precioso ornato de sua família e de sua pátria, como também de fama universal no mundo cristão. Tão agradável revelarão sem duvida foi o prêmio da especial devoção que Antonio e Amada professavam à sacratíssima Paixão de N. Senhor Jesus Cristo, pois os mistérios da vida e da morte do divino Salvador constituíam, de ordinário, o objeto de suas meditações. Não outra coisa senão a meditação sobre estes mistérios era o que lhes fazia sumamente compassivos das necessidades de seus próximos, socorrendo-os se eram pobres, visitando-os se evitavam doentes, ou corrigindo com caridade seus erros e ignorância, chegando a conseguir por isto grande autoridade .e estima no conceito de seus conterrâneos.

Os biógrafos de nossa unta especificam estes detalhes para explicar, pela devoção dos pais, a que teve Santa Rita desde sua meninice aos mistérios da Cruz.

Ocupados em tão piedosos exercidos iam passando os anos para Antonio e Amada, e quase haviam perdido as esperanças de ter sucessão, quando Amada começou a sentir em si algo estranho que não sabia explicar; parecia-lhe sentir-se mãe, mas julgando ser vítima duma ilusão, cheia de duvidas, correu prostrar-se aos pés de Jesus crucificado orando devotamente; e quando mais fervorosa eram suas súplicas, o Senhor se dignou confirmar-lhe a revelação feita anteriormente, de gize daria a luz uma menina que chamaria Rita, a qual consolaria a velhice de seus pais e havia de ser Margarida preciosa pelo esplendor de suas virtudes, pois Rita é contração deste belo nome. Acalmaram-se completamente as inquietações de Amada, e em lugar daquelas ansiedades e dúvidas que sentia em seu espírito, nasceu em seu coração inefável gozo, misto de certo rubor, vendo-se mãe em idade tão avançada.

Não há para que dizer das fervorosas preces de ação de graças que endereçariam ao Senhor, e nem a natural impaciência com que esperariam os piedosos cônjuges o nascimento daquela menina que havia de ser enriquecida de preciosos dons, como depois o confirmaram os fatos que iremos referindo nesta historia.