|
Pouco tempo levava Rita de viuvez quando lhe apareceu de novo n desejo de abraçar a vida
religiosa, estado a que tão afeiçoada sentiu-se .deste sua infância. Faltava-lhe unicamente
este estado de vida para percorrei-os todos; e da vocação, firmeza e bondade de seu
propósito asseguravam-lhe o desejo ardente de consagrar-se a Deus e a aprovação do
confessor. Refere a este propósito o P. Cavallucci que Rita ouvindo missa um dia na Igreja
do convento das religiosas agostinianas de Cássia, escutou aquelas palavras de Jesus Cristo:
"Eu sou o caminho, a verdade e a vida". Essas palavras se lhe imprimiram no coração com
tal violência, e a inflamaram em labaredas tais de amor divino, que, desde aquele dia, não
lhe fugiu mais o pensamento de entrar pára o convento.
A Igreja e o convento eram dedicados a Santa Maria Madalena : a vida de penitência e de
rigorosa observância que faziam as religiosas correspondia bem ao nome que a Comunidade
levava, pelo que gozava da veneração e respeito de todos.
A circunstância de encontrar-se em Cássia a decidiu a pôr em prática seu intento. Pediu no
convento para falar com a Madre Superiora, e, quando em presença delta, de joelhos,
suplicou-lhe que se dignasse admiti-la no número das religiosas. Embora Rita fosse ali
conhecida por suas virtudes e pelas desgraças de sua família, a Superiora manifestou-lhe não
poder aceder ao seu pedido porque aquela Comunidade não aceitava viúvas.
Grande foi esta contrariedade para Rita, mas não desanimou: despediu-se com humildade e
voltou aflita à sua casa. Decorridos alguns dias tornou a Cássia: fez o mesmo pedido, e mais
uma vez foi negada sua petição. Grande desgosto causaram a Rita estas recusas, mas nem por
isso abalou sua esperança, antes, cada dia que passava, firmava-se na crença de que havia de
ser religiosa agostiniana no convento de Cássia.
Não é para duvidar, dado o espirito de oração de Rita, que o Senhor lhe inspirara a firme
esperança de que se aplainariam todas as dificuldades para conseguir o que desejava; assim
tem explicação a sua presença pela terceira vez no convento, onde com muitas lagrimas
pediu novamente para ser admitida no número das religiosas; ruas, desta vez, afirmam os
escritores da. Santa, foi despedida com desconsideração. Nenhum outro detalhe consignam
os biógrafos; porém é de crer que a desolada viúva, voltando a casa, desenganada e sem
esperança humana de que lhe abrissem as portas do convento, deixasse correr as Lagrimas, e
na solidão daquelas montanhas elevasse ao céu tristes gemidos lamentando sua sorte e
temendo pelo futuro. Quantas e que tristes reflexões acudiriam à sua memória naquele
caminho solitário, que ela percorria voltando à casa!
Fatigada pela dificuldade de vencer aquele caminho escabroso, e curvada sob o peso da
recusa, que oprimia seu coração, entrou Rita em casa; ajoelhou-se aos pés de Jesus
crucificado confiando-lhe toda a magoa que lhe ia na alma, e suplicando-lhe que fizesse por
tirá-la daquele lugar, de tão tristes recordações para ela, e a levasse para aquele asilo de paz
em companhia das virgens do Senhor.
Convencida Rita de que tão freqüentes chamados da graça não podiam ficar sem efeito,
considerava as repetidas negativas que recebera no convento como outras tantas :provas com
que o Senhor queria experimentar sua constância. Enquanto não chegava a hora de ver
realizados seus intentos, multiplicava suas orações, aumentando desse modo a esperança de
consegui-los. Rogava, invocava a proteção dos santos, especialmente a de seus advogados
particulares, S. João Batista, Santo Agostinho e São Nicolau de Tolentino; e convencida da
verdade daquela sentença do grande Mestre: Que tanto mais certos estamos de conseguir o
que pedimos, quanto mais fervorosas e constantes forem nossas súplicas, a todo momento e
com grande fervor pedia ao Senhor que deferisse suas aspirações. Oração tão constante e
fervorosa não podia ficar sem ser ouvida: e o Senhor, movido das súplicas de sua
fidelíssima serva, quis mostrar-se benigno do modo mas maravilhoso que registam os anais
eclesiásticos.
Achava-se Rita, alta noite, em sua casa enlevada em altíssima contemplação, quando escuta
que batem à porta chamando-a pelo nome: Rita... ! Rita... ! Turvou-se a jovem viúva e teve
medo; mas reagindo e invocando o auxilio divino abriu a janela para ver quem a chamava.
Olhou, escutou com atenção, mas ninguém viu e nada escutou. Tornou à oração, e, daí a
pouco, ouviu que outra vez a chamavam. Espiou novamente, e tudo era silencio e escuridão.
Pensando em alguma cilada do demônio, teve medo; e nestas duvidas voltou ao lugar onde
orava, lançou-se aos pés do crucifixo, rogando ao Senhor que a esclarecesse de modo a
compreender o que aquilo significava; se era obra divina ou engano do demônio.
Durante esta fervorosa oração Rita foi arrebatada em êxtase, e o divino Esposa fez-lhe ouvir
estas consoladoras palavras: Levanta-te, minha amiga, apressa-te e vem ao asilo por ti
suspirado, que suas portas já estão abertas para ti, e por meio de meus santos, teus
protetores, conduzir-te-ei à morada de minhas esposas.
Voltando a si do êxtase, Rita levanta-se pressurosa, do Jogar em que estava prostrada; corre
à janela e vê três varões de aspecto venerável que a esperavam à porta Perguntou-lhes com
respeito o que desejavam em hora tão avançada da noite, e enes com reverencia explicam a
missão que n Senhor lhes confiara, convidando-a a segui-los. Conheceu Rita que aqueles
celestiais mensageiros eram seus protetores, São João Batista, Santo Agostinho e São
Nicolau de Tolentino, pois a fisionomia e vestes correspondiam ao que o Senhor lhe
mostrara ha pouco na misteriosa revelação que tivera. Nada temas, irmã lhe dizem, e
apressa-te em deixar esta morada, pois outra mais feliz te espera entre as esposas de Jesus
Cristo. Somos os guias que conduzir-te-ão ao lugar dos teus anelos, pelo qual tanta tens
suspirado, e onde não acharás mais recusas.
Não duvidou Rita do que em nome de Deus lhe duram seus advogados. Preparou-se com
presteza a afortunada serva de Deus, e num momento ,esteve na rua. Venerou, como melhor
soube, aqueles santíssimos guias que o céu lhe enviava; a santa, comitiva pôs-se logo em
marcha para Cássia, porém por lugares tão diferentes do caminho usual, que Rita sentiu-se
desnorteada; guiavam-na à montanha onde ela costumava ocultar-se para orar, não sendo a
mesma caminho para parte alguma.
Mas o que ali aconteceu, assim como outras circunstancias daquela viagem misteriosa,
ver-se-á no capitulo seguinte.
|
|