CAPÍTULO XXI. PUREZA DE SANTA RITA

Da grande estima de Rita à santa pureza, mesmo desde sua meninice, são testemunhos a sua angelical modéstia, o seu amor ao retiro e à oração, e as muitas praticas de mortificação e penitência em que, desde aquela idade, vinha exercitando-se; penitencias que ela aumentou durante a vida de matrimonio e de viuvez, vivendo assim não só castíssima, mas imaculada também no tálamo, que ela olhava cone a veneração e reverencia devida a tão grande sacramento. Qual belfa flor de primavera que ao romper da aurora apresenta o cariz coberto de pérolas de rocie, assim Rita, nesta santa união, aparecia aos olhos de Deus adornada de pérolas das mais ricas virtudes. Bem podemos dizer que sua vida neste estado foi toda espiritual, toda de Deus; e quando o Senhor lhe concedeu que a Ele consagrasse sua pureza por meio dos santos votos, mais admirável apareceu até nos últimos detalhes de sua vida penitente. Que de indústrias não empregava para conservar-se pura e sem mancha aos olhos do seu amado Jesus! Dizem os seus biógrafos que a tal extremo chegava sua pureza que, se por acaso ouvia falar contra esta virtude, seu rosto se inflamava e sofria náuseas, chegando a conhecer, como que por instinto, as pessoas manchadas de impureza, livrando a muitas de tão feroz inimigo empregando os meios que lhe sugeria sua caridade e ardente zelo.

Sendo tão compassiva dos males do próximo, ao descobrir alguma pessoa descurada do tesouro da santa pureza, procurava solicita mover-lhe o coração e levantar-lhe o espirito acima destas misérias da carne. Sobre tudo, desde que também sendo ela tentada de tão traiçoeiro inimigo, não deixou de orar fervorosamente por si e pelos atribulados por este gênero de tentação. Por isso de nada serviam ao demônio suas artes; os fortes assaltos eram para Rita outras tantas vitórias. E como sabia que o divino Mestre dissera aos seus discípulos, que este gênero de tentações só se pôde vencer com a oração e o jejum, mortificava o corpo, dizendo: Não devemos tratar com brancura nosso corpo, porque quanto mais condescendentes sejamos, tanto mais rebelde se tornara contra nós.

Bem fundos e consistentes eram os alicerces que Rita havia construído para sobre eles, levantar o belfo edifício da castidade; macerava todos os dias seu corpo com jejuns e penitencias, nem omita tia fugir às ocasiões que podiam com a castidade, guardando a tolo momento escrupulosa modéstia; e não obstante, para que a castidade da insigne Rita brilhasse com mais vivos fulgores, permitiu o Senhor que sua serva passasse por violentos combates, pondo em jogo o tentador todos os seus diabólicos artifícios, até o ponto de apresentar-se a Rita em forma de formoso jovem; mas a Santa, que bem conhecia as astucias do inimigo infernal, afugentava-o invocando o nome de Jesus e lançando mão dos instrumentos de penitência. "Nos mais violentos combates das tentações, diz o P. Tardi, chegava até a queimar, ora uma das mãos, ora um pé; assim extinguindo, com os ardores de um fogo, outro fogo, para conservar-se toda pura aos puríssimos olhares de seu celeste Esposo." Com estas asperezas, a que sujeitava o corpo, e os repetidos atos de humildade, afugentava a tentação e conservava incólume a pureza de alma e de corpo, que é a que Deus estima; pois a pureza do corpo nada vale se lhe falta a, do espirito, nem esta é completa se não se procura a do corpo.

Quão grande era a estima que Rita tinha da santa virtude da castidade, além dos testemunhos aduzidos, no-lo manifesta também sua vida penitente e mortificada. Por isso, como diz o P. Sicardo, a temperança foi uma das virtudes que praticou nossa Santa, evitando todo excesso na comida e bebida, que foi diminuindo aos poucos até chegar àquela quantidade mínima, precisa unicamente para sustentar a vida, passando a maior parte dos dias só a pão e água.

Na. guarda dos sentidos era tão escrupulosa que nem as visitas dos seus parentes admitia com agrado; de modo que vivia afastada de todo contato humano, e raríssimas vezes conversava com pessoas estranhas, a não ser por necessidade ou obediência.

Como no tempo de nossa Santa não era rigorosa a clausura, se a obediência a obrigava a sair do convento, procurava levar o rosto coberto, de modo que sem ser vista, nem ver outra coisa que o caminho por onde ia, voltava ao convento sem saber dar razão de nada que não fosse a incumbência que lhe fora encomendada.

Quando alguma das religiosas lhe pedia conselho sobre o modo d.e portar-se exteriormente, costumava dizer que se fizesse amante do retiro, que não abandonasse os exercícios espirituais e evitasse toda familiaridade, mesmo com os parentes, por que nessas comunicações perde-se muito e pouco ou nada se ganha. De modo que Rita, tanto no que ela observava, como no que aconselhava aos outros, era implacável contra tudo o que, de algum modo, pudesse manchar ou obscurecer a brilho da santa pureza. Por isso foi tão amada de Deus, o qual, para honrar perpetuamente sua serva, faz que de seu corpo, ainda hoje, emane um aroma suavíssimo, tão celestial e divino, que deixa, como fora de si a quem tem a felicidade de aspirá-lo.