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Terminadas as cerimonias do batismo voltaram a Rocca Porena a madrinha e a pequena
comitiva que levou a menina Rita a Cássia; e, entretanto, os pais e parentes festejavam como
de costume o ato solene do batismo, a inocente menina, fatigada com os incômodos da
viagem e continuas caricias que de todos recebia, adormeceu num placidíssimo sono. Passou
a noite tranqüila, e ao amanhecer do dia seguinte, quinto de seu nascimento, ó prodígio! Um
enxame de abelhas brancas apareceu de improviso revoltando em roda do berço, e, como
que brincando em torno daquele rosto angelical, pareciam querer pousar sobre os lábios
entreabertos da menina, como se intentassem fabricar dentro deles rico favo de mel. Todos
os escritores da vida de Santa Rita estão acordes em referir este fato prodigioso, e os juízes
da Causa de sua Canonização o consideram admirável.
Grande foi a admiração que causou este extraordinário acontecimento em todos os que ali se
achavam, porém, de um modo especial impressionou o coração de Amada, já comovida
pelas maravilhas que precederam o parto. Certo que o sucesso não era novidade na Igreja da
:Deus, pois de Santo Ambrósio, de S. João Chrisóstomo e de algum outro Santo se contam
fatos semelhantes, mas nem assim o prodígio realizado com a menina Rita deixa de ser
maravilhoso. E se naqueles santos o sucesso foi considerado pela Igreja como prestigio de
especialistas virtudes com que haviam de ser enriquecidos; como augúrio feliz de uma vida
santa, admirável, foi considerado o não menos portentoso realizado em torno do berço de
Rita, para que os homens, movidos pelo extraordinário acontecimento, começassem a honrar
aquela criatura e se preparassem para pôr em prática os exemplos que dentro em pouco
dar-lhes-ia, imitando-a no exercício das mais heróicas virtudes, que mais tarde ela havia de
praticar.
O prodígio das abelhas brancas, que apareceram para festejar o nascimento de Rita, não
deve confundir-se com aquele outro também das abelhas que apareceram em sua morte sobre
o sepulcro e a cela que em vida ocupou a santa, milagre não menos maravilhoso que o
primeiro, pois, se em roda do berço de Rita só uma vez foram vistas aquelas abelhas
brancas, estas outras aparecem todos os anos por ocasião da Semana Santa, quando a Igreja
comemora os mistérios da Paixão de nosso divino Redentor, retirando-se aos seus
esconderijos lá pelos dias do aniversário da morte de Santa, Rita. Assim o referem vários
escritores, entre eles o diligente e consciencioso historiador Jacobilli, em cujas obras sopre
a Úmbria conta, que remetida uma destas abelhas ao Papa Urbano VII numa caixinha de
cristal, quando a tiraram para ser examinada levantou o vôo parecendo indicar pela direção,
que voltava à Cássia a unir-se com suas companheiras [Processo, fls. 680-83.].
Ali é fácil ver ainda hoje estas abelhas, conhecidas por abelhas da Santa, num muro antigo
do mosteiro, justamente no ponto meio entre a cena que ocupou Rita e o lugar onde foi
sepultada. Quantas vezes o dito muro é rebocado, outras tantas estas misteriosas abelhas
fabricam sua morada no mesmo lugar, sem que seja possível afastá-las de lá, mostrando-se
assim amigas inseparáveis de Rita. O número de abelhas é atualmente muito reduzido, doze
ou quinze; porém a sua ininterrupta permanência, sua aparição anual nos dias da Semana
Santa, para voltar a seu retiro pelos dias do aniversário da morte de Rita, sinais
extraordinários são e prova do muito que o Senhor tem querido exaltar os méritos de sua
serva Rita.
Em nossa visita ao Convento das MM. Agostinianas de Cassia, ocorrida aos 16 de Setembro
de 1930, acrescenta o tradutor desta obra, tivemos occasião de apreciar e ver o lugar em que
se ocultam estas misteriosas abelhas, que ainda hoje têm sua morada no muro a que se refere
o autor.
Mas voltando à nossa narração e parando a atenção sobre o bando de brancas abelhas que
como brincando apareceram em roda do berço de Rita, após o seu batismo; que podia
significar aquele entrar e sair das abelhas na boca da menina; aquele manso girar ao redor
do. seu rosto, como se temessem perturbar o seu sono; aquele pousar sobre os lábios
entreabertos, como sobre o calix de cheirosa flor, senão a grande doçura e mansidão de sua
alma, com que mais tarde havia de ganhar para Deus tantos corações, como o grande Doutor
Santo Ambrósio os ganhou com a eloquência de sua melíflua palavra? Sem dúvida a
presença daquelas abelhas era presságio da inocência de sua alma, da brandura de seu
caracter e da meiguice de suas palavras com que abrandaria os mais duros corações e os
consolaria em suas penas.
Gomo a aurora é mensageira das alegrias do dia que se aproxima, também o prodígio que
acompanhou o nascimento de Rita foi venturoso sinal que anunciava as maravilhas que o
Senhor havia de fazer brilhar em sua serva.
Apenas havia nascido, diz o P. Fontana, já o Senhor com mão divina começou a pincelar
sobre seu rosto toques suavíssimos de luz que, aformoseando-a aos poucos, cada dia a
faziam aparecer mais bela, dando a entender a alteza de perfeição e santidade a que havia de
chegar. Aquele enxame de abelhas brancas, até então desconhecido, querendo como que a
porfia apoderar-se de sua boca e lábios, era uma maravilha nunca vista. Porém a maravilha
cessará, continua o P. Fontana, desde o momento em que consideremos a Rita como lírio
puríssimo escolhido por Deus para derramar sobre seu cálix o orvalho de suas
misericórdias.
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