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Não se havia apagado ainda o eco das festas do Jubileu em Roma, quando o Sumo Pontífice
Leão XIII, aproveitando a circunstancia do Jubileu, ao qual havia concorrido numerosa
multidão de romeiros de todas as partes do mundo católico, procedeu à canonização da
Beata Rita de Cássia, juntamente com a do Beato João Batista de la Salle. Foi designado
pelo Santo Padre o dia 24 de Maio, dia da Ascensão do Senhor para este solene
acontecimento. Cedo anda, o povo romano e grande número de peregrinos esperavam na
Praça de São Pedro a hora de entrar na Basílica. "O aspecto desta não podia ser mais
surpreendente e majestoso. Na ornamentação do templo, dirigida pelo arquiteto Constantino
Sneider, trabalharam mais de 1500 Pessoas, entre operários e artistas. Empregou-se pela
primeira vez, para iluminar o majestoso templo, maravilha do mundo, a luz elétrica,
fornecida pela Oficina Vaticana Alexandre Volta, sendo empregadas perto de 1200 tampadas
e 400 lustres para cuja colocação foram necessários 8000 metros de cordão".
Enquanto a multidão entrava no templo e acomodava-se nas platéias, palcos e tribunas,
organizava-se nos salões do Vaticano e na Capela Sixtìna a procissão que havia de
acompanhar e conduzir o Soberano Pontífice até o altar mór da Basílica, onde devia
celebrar-se a cerimonia.
"Às oito horas da manhã chegou Sua Santidade, acompanhado da Corte Nobre, à Capela
Sixtina, onde o esperavam o Sacro Colégio, os Arcebispos e Bispos, e todos aqueles que
tomam parte nas funções pontificais. Entoado o Ave Maris Stella, e depois de breve oração,
subiu o Santo Padre à cadeira gestatória, dirigindo-se a procissão para a Basílica Vaticana.
A comitiva organizou-se do modo seguinte: Clero regular, com numerosas representações
dos Agostinianos, Irmãos das Escolas Cristãs, Capuchinhos, Jerônimos, Carmelitas,
Dominicanos, Beneditinos, Cônegos de São João de Latrão, etc., Clero secular, representado
pelo Colégio dos Párocos, Cônegos das Basílicas e Colegiatas de Roma, Oficiais, Padres
Prelados, Consultores da Sagrada Congregação de Ritos, etc., e, por ultimo a Corte
Pontifícia, formada pelos Capelães, Camareiros secretos e comuns, Procuradores gerais das
Ordens Religiosas, Auditores e Relatores da Rota, Arcebispos, Primados, Cardeais, etc. Sua
Santidade ia na cadeira gestatória, cercado dos chefes e Oficiais da Guarda Nobre, da
Guarda Suiça e palatina, fechando o acompanhamento os Gerais das Ordens Religiosas.
Eram dez horas menos um quarto quando chegou Leão XIII à Basílica Vaticana, onde depois
de lido o decreto de canonização, segundo as prescrições de rubrica, sob a direção do
Maestro Mustafá, da Capela Sixtina, deu começo a Missa solene, oficiando o Decano do
Sacro Colégio, Cardeal Oreglia. Terminada a Missa, Sua Santidade deu a Benção Papal,
retirando-se depois, por entre as demonstrações de afeto, às suas habitações particulares".
A solene canonização de Santa Rita de Cássia foi celebrada no mundo católico com grandes
e soleníssimas festas, chamando certamente a atenção as celebradas nos dias 23, 24 e 25 de
Novembro do mesmo ano de 1900, na Igreja de Santo Agostinho de Roma. Os Padres
Agostinianos nada pouparam para que estas se revestissem do maior brilhantismo.
Cortinados, festões, estandartes, inscrições, centos de lustres, uma imensidade de velas e
chios, dispostos com arte e gosto, davam ao templo de Santo Agostinho um esplendor
inigualável.
Na parte mais elevada do altar mór, entre nuvens e raios de glória, colocou-se um belfo
quadro da Santa em atitude de subir ao céu, o mesmo que os fiéis admiraram e veneraram no
dia da canonização, no ponto mais elevado do trono pontifício de São Pedro. Na frente da
Igreja via-se outro quadro de grandes dimensões, inundado de luz, lendo-se sob ele a
seguinte inscrição latina:
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Honoribus sanctorum coelitum.
Ritae a Casia sorori augustinianae
Decreto Leonis XIII P. M. attributis
Sodales Ordinis ejusdem solemnia gratiarum
In triduum Deo Aeterno
Quo Auctore tanta virtus
Admirabilitate prodigiorum et frequentia
Insignem famam merita
Ad Ecclesiae Catholicae gloriam effulsit.
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Sobre os arcos do cruzeiro tombem se haviam colocado outros quadros representando os
maiores milagres operados por Deus pela intercessão de sua serva. Em resumo, o templo de
Santo Agostinho, interior e exteriormente, apresentara-se deslumbrante. "Que bela é nossa
igreja, diziam os romanos! Parece um paraíso!" Chama sua, o povo romano, esta Basílica,
pela grande devoção que professa à miraculosa imagem da Santíssima Virgem do Parto, e ao
corpo de Santa Mônica que nela se venera.
Os membros mais ilustres do clero romano e do Sacro Colégio de Cardeais tomaram parte
na celebração do Tríduo, como homenagem de devoção à gloriosa, Advogada dos
impossíveis.
Dia 23. Oficiou de pontifical o Exmo. Snr. D. José Chepetelli, Arcebispo Vice-gerente de
Roma, pregando o panegírico da Santa Mons. Sardi, da Sagrada Congregação de Ritos:
cantou as Vésperas Sua Excia. Revma. Mons. Casemiro Gennari, Assessor do Santo Ofício,
e deu a Benção do Santíssimo o Exmo. Cardeal Ferrata, Prefeito da Sagrada Congregação de
Ritos.
Dia 24. Oficiou nas Vésperas o Exmo. Sr. Arcebispo de Marcionópolis, Mons. Macário
Sorini; pregou o Revmo. P. Missionario e Cura del Popolo, Rafael Coluantoni, da Ordem de
Santo Agostinho. Cantou a missa pontifical Mons. Panici, Arcebispo e Secretário da
Congregação de Ritos e, à tarde, deu a Benção do Santíssimo o Emmo. Cardeal Casca, da
Ordem de Santo Agostinho, Prefeito da Propaganda Fide.
Dia 25. Comunhão geral pelo Emmo. Cardeal Mazella, que fôra Relator na causa de Santa
Rita; celebrou de pontifical o Emmo. Cardeal Cretoni; oficiou nas Vésperas o Exmo.
Arcebispo de Cuba, Mons. Santander, e pregou o Ilmo. Mons. Marini, Secretario do Instituto
de Breves. Depois o Emmo. Cardeal Respighi presidiu a solene procissão e deu, com o
Santíssimo, a Benção a aquela imensa multidão de fiéis que, não podendo acomodar-se
dentro das naves do templo, se encontrava no átrio, praça e avenidas.
A afluência de fiéis à Igreja de Santo Agostinho, durante os dias do Tríduo, foi imensa. Nas
quinze capelas de que consta a Igreja sucediam-se ininterruptamente as missas desde o
amanhecer até o meio dia. Mais de quinhentas missas se celebraram na referida igreja nos
dias do Trilou por Bispos, Arcebispos Cardeais, Superiores das diferentes Ordens
Religiosas e Sacerdotes do Clero secular.
Para maior esplendor destas festas contribuiu o número extraordinário de romeiros que,
vindos de toda parte, se encontravam em Roma para ganhar o Jubileu, cujo fim se avizinhava
com o fecho da Porta Santa. Muitos visitaram o belfo templo de Santo Agostinho e assistiram
às festas em louvor à Santa Rita, ficando admirados pelo extraordinário esplendor das
mesmas.
Também em outros templos celebraram-se solenes cultos, particularmente na igreja
agostiniana de Santa Maria del Popolo, em Roma, reservando para si a honra de cantar as
glorias de Santa Rita o Cardeal Vigário, Mons. Lucido Parochi, figura das mais eminentes do
"Sacro Colégio".
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