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Nossa vida está cercada de prodígios que claramente nos manifestam a existência de Deus;
porém o habito de contemplai-os faz com os consideremos indiferentemente sem nos
impressionarmos. O Senhor então para mais obrigar-nos a reconhecer o seu soberano poder,
e mostrar o seu amor para conosco, digna-se fazer por intermédio dos Santos prodígios que
atestam a sua valiosa proteção no céu em nosso favor, justificando assim o culto que lhes
devemos tributar na terra. Mas para que os servos de Deus sejam merecedores do nosso
culto e veneração, a Igreja, regrada e governada pelo Espírito Santo, não admite como prova
de santidade somente os milagres operados durante a vida se, depois da morte, não foram
confirmados por outros de mérito e valor indiscutíveis. É tal o rigor que se observa na
formação os processos de beatificação e canonização dos Santos, que o homem de
consciência mais escrupulosa recearia apresentar-se ante tão severo tribunal, se este tivesse
d.e examinar um por um todos os passos de sua vida publica e particular, sem desculpas e
nem apelações.
Entre os fiéis que, morrendo na paz do Senhor, passam a gozar da sua glória no céu, poucos
são os que têm conseguido a honra dos altares, parque Deus só concede este privilegio
aqueles que mais se distinguiram no grande amor e fidelidade ao Divino Esposo.
Entre esses ocupa lugar saliente Santa Rita de Cássia que, em vida e depois da morte, com
seus numerosos e estupendos milagres, patenteou ao mundo cristão a preferencia acentuada
de Deus pela sua serva fiel. Dos inúmeros milagres alcançadas por Santa Rita após a morte,
os seus biógrafos narram os seguintes que estão arquivados e se encontram nos Processos de
beatificação e canonização da Santa.
A 25 de Maio, três dias depois do transito da Bem-aventurada Rita, Ângelo Batista, morador
de Col-Giacone, do município de Cássia, achando-se completamente cego, e ouvindo falar
dos prodígios obrados pela intercessão da venerável religiosa durante a sua ultima doença,
cheio de fé, recorreu à Santa, alcançando no mesmo dia a vista, ardentemente suplicada, sem
que lhe ficasse vestígio do sofrimento.
Quatro dias depois, Jacobina Leonardo, de Ocorce, lugar próximo de Cássia, implorou com
fervorosas orações a proteção da Santa, ficando completamente livre da grave doença que a
fazia sofrer dores horríveis.
Francisca João Biselli, do condado de Nórcia, muda de nascença, foi na mesma data visitar
o milagroso corpo de Santa Rita, e aí, depois de praticar alguns atos de piedade e devoção,
encomendou-se ao seu poder, e, com grande assombro dos presentes, começou a falar, sendo
suas primeiras palavras Ave Maria.
No dia 2 de Junho do mesmo ano, o jovem Bernardo, filho de Mateus del Ore, natural de
Ocosce, sofrendo de pedra ou cálculos, que o atormentavam cruelmente: levado por seu pai
a visitar a urna da Santa, encomendou-se a ela com fervor ficando no mesmo instante livre
do seu mal.
No dia 7 do mesmo mês, a jovem Matea de Cancro, surda e muda de nascença, foi levada
pelo pai em visita ao sepulcro de Rita, e invocando a Santa com grande fé e devoção
recuperou a fana e a audição; sendo o milagre de tão grande vulto obrigaram-na a subir a um
púlpito para satisfazer a curiosidade do publico, que maravilhado a ouvia repetir: Milagre!
Milagre!.
Treze dias depois, 20 de Junho, Luzia dos Santos Lalli, do Castelo de Santa Maria, no
território de Nórcia, havia perdido uma vista, ameaçando a moléstia invadir a outra.
Acompanhada pela mãe„ foi orar ante o sagrado corpo de Rita e poucos dias depois,
recuperou a vista e ficou livre da enfermidade.
No ano de 1471, Vannetta, da vila de Foliano, perto de Cássia, tinha, na garganta uma grave
doença que continuamente ameaçava afogá-la. Às vezes perdia a respiração, e num destes
acessos os presentes, julgando-a em perigo, começaram a agitá-la para fazê-la voltar a si.
Lamentou-se Vannetta dizendo que lhe haviam interrompido uma bela visão. Perguntaram-lhe
o que vira, e ela afirmou que lhe aparecera a Bem-aventurada Rita de Cássia chamando-a
pelo nome, e com a mão tocara-lhe na garganta. Não foi ilusão, pois Vannetta achou-se
completamente sã, conforme atestaram os que ali se achavam presentes.
No decorrer do ano de 1492 operaram-se mais duas curas miraculosas. Por uma delas foi
favorecida uma senhora de S. Anatolia, da jurisdição de Cássia, de nome Jacoba, a qual
caindo sobre umas guinas, as pedras que juntamente com ela rolaram, de tal forma a
machucaram, que ficou não só inútil, mas ainda em perigo de morte. Recorreu com fé à Santa
Rita„ prometendo-lhe uma esmola; em pouca tempo desapareceu o perigo e sarou das
gravíssimas contusões.
Outro acontecimento deu-se no dia 18 de Novembro com um jovem, filho de Julião e de
Gemma, moradores de Nórcia„ que foi agredido por uns malvados recebendo quinze
facadas, faltando pouco para separar-se-lhe a cabeça do corpo. Seus Paes e uma sua irmã, de
nome Maria, dominados pela angustia, só pensaram em recorrer ao Senhor pela intercessão
de Santa Rita, pedindo-lhe a conservação da vida daquele, filho e irmão querido.
Prometeram visitar o corpo da Santa, e cumprida a promessa, o jovem começou a melhorar
das feridas, e em pouco tempo recuperou a saúde.
Em Dezembro de 1494 encaminhava-se a Cássia João André de Juanucho, para dar graças a
Deus, por ter alcançado pela intercessão de Santa Rita a realização de dois milagres: o
primeiro a cura de uma grave enfermidade, e o segundo o ter-se visto livre de um desastre
que lhe ia custando a vida. Estando a derribar uma nogueira, procedeu com tanta
'infelicidade que esta, sem lhe dar tempo para afastar-se, caiu-lhe sobre si. Cheio de fé
invocou em seu auxilio a gloriosa Santa, saindo ileso desse acidente.
Em Maio de 1501, João Bartolomeu, condestável de Rocca Sucuri, ocupando-se em limpar
uma espada, esta caíu-lhe das mãos cortando-lhe uma das principais veias do pé o ferimento
produziu uma forte hemorragia. Chamou-se o médico doutor Gaspar de previ que, depois de
aplicar todos os recursos da medicina, sem nada conseguir, declarou desesperado o caso. O
condestável, neste terrível transe, conhecedor das maravilhas operadas pela Bem-aventurada
Rita, encomendou-se à Santa, prometendo visitar o seu corpo em peregrinação, se
conseguisse a cura daquele mal. Feito o pedido, a hemorragia foi aos poucos cedendo,
fechando-se a ferida completamente, com admiração, não só do referido médico, como
também de vários outros que haviam visitado o paciente. Este, logo que recuperou as forças
perdidas, cumpriu a promessa, levando, entre outros presente, uma coroa de prata que
depositou sobre a urna da Santa.
No dia 7 de Março de 1503, Ângelo Damiano, de Somboleta, município de Nórcia, acabava
de perder uma filha em conseqüência da peste que grassava no lugar. A família, cheia de
angustia, e temerosa de que o terrível flagelo causasse entre eles alguma outra vítima, rogou
ao Senhor, pela intercessão de Santa Rita, que a livrasse da epidemia. Ouviu o Senhor
aquelas súplicas, e a epidemia não se propagou entre os membros da família; pelo que,
agradecida, cumpriu a promessa feita, de visitar o sepulcro e a Igreja da Santa, deixando aí
algumas esmolas.
A primeiro de Maio de 1539, Antônia, de nove anos de idade, natural de Rocca Porena, filha
de Silvestre, passando pela ponte do rio Corno, caiu na água e desapareceu arrastada pela
correnteza, sendo improfícuos os esforços que para salvai-a empregaram algumas pessoas
que viram cair a menina. Continuaram as pesquisas rio abaixo e, com grande admiração, à
beira do rio, meia milha distante do lugar onde havia caído, encontraram a pequena Antônia,
aí sentada, sã e salva. Indagaram-lhe como conseguira salvar-se e a menina respondeu que,
ao cair na água intercedera a Santa Rita, a quem devia a salvação.
Outro caso miraculoso deu-se com uma mulher de Áquila, chamada Cassandra. No nano de
1541 adoeceu gravemente um dos três filhos que tinha, e, para salvá-lo recorreu a Santa Rita,
prometendo levar o menino a Cássia se alcançasse a graça. Recuperou o menino a saúde,
mas a mãe não cumpriu a promessa que fizera. Passado algum tempo, o menino novamente
adoeceu, vindo a falecer. A infortunada mãe, julgando que por sua culpa havia perdido
aquele filho, ficou louca endemoninhada, assegurando que todos os dias ouvia a voz do filho
defunto. Os outros dois filhos, vendo a pobre mãe em tal estado, e atribuindo-o à promessa
não cumprida, à força levaram-na a Cássia. Antes de aí chegar, quando avistaram a cidade,
foi-lhes preciso segurai-a e levai-a nos braços até a urna da Santa. Ali os bons filhos
começaram a orar com devoção, pedindo aos fiéis presentes que orassem também pela
doente; passado algum tempo, a mulher, voltando a si de um daqueles freqüentes delírios que
padecia, ouviu claramente, como os demais que lá estavam, a voz do espirito, como se fosse
a do filho defunto, que dizia: "Milagre! Milagre! Minha mãe recuperou o juízo!"
Com efeito, a infeliz Cassandra, que por algum tempo ficara sem sentidos; começou a
derramar abundantes lagrimas, e prostrando-se diante do corpo da Santa não se cansava de
dar graças a Deus que a livrara da triste loucura, e, abraçando os filhos, juntamente com eles
volta a Áquila, louvando ao Senhor que tão grande zelo mostra pela glória dos seus santos.
No ano de 1548 deu-se outro importante milagre com uma, senhora de Nórcia que tinha uma
filha doente dos olhos, um dos quais já inutilizado, por achar-se coberto de uma nuvem. A
boa mãe, sumamente aflita, recorreu a Santa Rita e, de acordo com a filha, fez o voto de
consagrai-a durante toda a vida ao serviço da Bem-aventurada, se esta a livrasse da cegueira
que a ameaçava. Pouco depois a jovem recuperou a vista e se fez religiosa, entrando no
convento da Santa, onde, durante trinta e nove anos seguidos, desempenhou, a contento geral,
o cargo de Abadessa.
Para comemorar o transito ao céu da Bem-aventurada Rita, todos os anos nesse dia a
Comunidade fazia e distribuía entre os pobres uns pãezinhos; mas como advertissem que,
conservados ficavam durante muito tempo frescos, e dados aos doentes os curavam de suas
doenças, determinaram as Madres do convento fazer outros pães menores que se benzem e
distribuem como as rosas no dia da Santa, com grande alegria e proveito espiritual dos fiéis
devotos de Santa Rita.
Finalmente, até do azeite da lâmpada acesa diante do corpo de Santa Rita fazem dele os fiéis
grande apreço pelas muitas dores e males que a misericórdia divina se tem dignado curar
mediante o dito azeite, segundo consta, além de muitos outros testemunhos, das Catas dos
Processos de Beatificação e Canonização da Santa, do mesmo modo que dos pães e das
rosas.
Bemdito e louvado seja mil vezes o Senhor que, pelos méritos e intercessão dos Santos, aos
homens se mostra tão liberal e misecordioso!
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