CAPÍTULO V. PRIMEIROS ANOS DE RITA

Como é bela a infância! Em seu rosto leva a criança e sinal da ternura, da confiança, na inocência. Sua fraqueza nos domina, sua palavra nos maravilha, todos os seus movimentos têm uma graça inimitável. Seu sorriso nos cativa, suas lagrimas nos, comovem, suas súplicas nos obrigam. Como não conhece outro estimulo que o amor, esquece logo as injurias voltando a sua natural placidez; e não faltando-lhe os afagos dos seus, e alguns brinquedos, é a criatura mais feliz do mundo. Porém essa florida primavera da vida logo passa para nunca mais voltar. À medida que vai crescendo em anos aparecem as contrariedades, se apresentam as paixões com todas as securas do largo inverno da vida. E não obstante, é certo que da boa ou má orientação dada na infância aos filhos depende a sorte futura deles. Verdade é que Deus tem depositado no coração das mães um tesouro de meiguices para guiar com brandura a seus filhos pelo bom caminho; mas também é verdade que nem todas as mães cuidam da empregar estes recursos, esquecendo a grave obrigação que lhes incumbe da educação moral de seus filhos.

O homem nasce, não para viver sempre neste mundo, senão para morar nele por algum tempo, consagrado ao cumprimento de deveres sagrados impostos pela lei natural e positiva, sofrendo com resignação cristã os trabalhos da vida presente ate chegar a hora de partir para a pátria celeste, para a qual foi criado. Tal é o fim do homem sobre a terra; porém, quando por culpa das mães ignora ou esquece este destino, a criança de hoje empreenderá amanhã a carreira da vida com passo incerto, na noite obscura do presente, sem a luz da fé e sem os ensinos salutares que inspira a fervorosa piedade da mãe, não podendo esperar, quando for entrando em anos, outra coisa senão graves e dolorosas quedas morais que multiplicando os males presentes, o despenharão por fim no abismo.

Mas Rita teve um pai verdadeiramente cristão, e sua mãe, tão gravados tinha na consciência seus deveres, que se considerava como o Anjo da Guarda da filha amada e, por isso, obrigada a iniciá-la na vida da fé, da caridade e do sacrifício de que a Santa havia de dar ao mundo os mais belos exemplos.

Nos braços, e entre os beijos do amor materno, começou a. germinar na menina Rita a caridade, manifestando-se por sentimentos ardentes, generosos, que mais tarde constituiriam os traços da sua fisionomia moral.

A mãe piedosa continuamente velava sobre o berço de sua filha, e, ao mesmo tempo que cuidava da vida material, ia também incutindo no seu tenro coração a virtude e gosto pelas coisas do céu. Logo que começou a falar, causou admiração a todos pela docilidade e extraordinária atenção com que recebia as advertências e carinhosos conselhos, que só as mães cristãs sabem incutir no coração dos filhos. Como as flores desabrocham para receberem o orvalho da manhã, assim a menina Rita abria seu coração aos primeiros germens da fé e da piedade cristã; e como a terra em que caíam era campo fértil, a semente começou logo a frutificar naquela abençoada criatura.

Contava ainda poucos anos e já mostrava certa compaixão pelos pobres, grande inclinação à piedade e nenhum entusiasmo pelos brinquedos próprios de sua idade seu rosto alegre e risonho aparecia mais belfo e encantador pela modéstia que realçava sua formosura; porém, o que caracterizou Rita em seus primeiros asnos foi um amor extraordinário a Jesus crucificado e às dores de sua Mãe Santíssima, dando assim a entender o que serro aquela menina quando chegasse ao desenvolvimento de sua inteligência.

Todos admiravam as excepcionais qualidades de Rita, o desenvolvimento precoce de seu entendimento. Sempre pronta a qualquer indicação, só mostrava relutância tratando-se de estrear algum vestido novo e vistoso a ponto de ficar contrariada, e, às vezes, ocultava-se para ver se a mãe se esquecia e não mais pedia que o vestisse. Todos os que têm escrito sobre a vida da Santa consignam este fato que prova inclinação de Rita a vestir com simplicidade, juntamente com grande recato e modéstia superiores a sua idade; acrescentando que o retro e a oração eram nela como que instintivos. Quem a procurasse, podia ter a certeza de não encontrai-a senão em casa ou na igreja. Este era o seu lugar predileto onde passava largas horas rezando ou meditando com tanto recolhimento que parecia uma estatua.

Ainda que a penitência era imprópria de seus poucos anos, não obstante, Rita começava a praticá-la impondo-se algumas privações, especialmente na comida, o que ela procurava coonestar ou disfarçar com o belo pretexto da caridade, fazendo assim mais agradáveis aquelas mortificações, e praticando essa virtude distribuindo entre as meninas pobres uma parte do alimento de que gostosamente se privava.

Como a aurora alegra ao viandante Porque lhe anuncia a próxima saída do sol, que iluminará seus passos, assim o historiador, quando nos descreve a w ;da d os Santos, sente alegria e prazer diante dos belos exemplos de santidade com que os servos de Deus vão aos poucos iluminando o horizonte de sua existência, se é que desde sua aparição no mundo já não são astros brilhantes, como aconteceu com Rita. Sua infância cheia de prodígios; sua modéstia, aquela prematura inclinação à penitência; seu desprendimento e caridade, que ela praticaria até chegar aos mais heróicos sacrifícios; ; que são estas liberalidades divinas e que nos mostram, senão que esta privilegiada criatura veio ao mundo para iluminá-lo desde o berço com o esplendor de suas virtudes?

Com o leite materno havia Rita mamado o amor intenso a Jesus Cristo e a sua Paixão dolorosíssima; e seu coração, enriquecido com os dons do céu, receba a abençoada semente que sua piedosa mãe ia depositando na alma da filha, fructificando nela de modo que Jesus ocupava seus pensamentos e cuidados.

Seus desejos, suas aspirações eram estar a sós com Jesus e meditar os mistérios de sua vida. As imagens de Jesus eram sua delicia e as contemplava como que extasiada; e era tal o fervor que experimentava, e tais os desejos de padecer com Cristo, que se sentia impelida a buscar a solidão; e sozinha, sem outra testemunha que seu Deus, abria o coração aos afetos mais puros e veementes, arrebatada em êxtase do amor divino. Uma cruz colocada sobre o cume dos rochedos que existem à entrada de Rocca Porena, lembra, ainda hoje, o lugar, uma gruta. onde Rita costumava retirar-se para orar. Sobre a laje era que ajoelhava, dizem conservar se os sinais dos joelhos.