CAPÍTULO III. NASCIMENTO DE SANTA RITA

Triste e cheio de sombras é o quadro que os historiadores da Itália nos tem deixado do tempo em que Santa Rita veio ao mundo. A guerra, a desolação, o luxo e a imoralidade reinavam, em maior ou menor escala, em todos os estados, de Norte a Sul, da península, desde os domínios lombardos, até o reino de Nápoles, sem que destas mesmas calamidades ficassem livres as cidades dos estados pontifícios, especialmente durante o tempo que a Sede Apostólica permaneceu em Avignon. E por si não foram bastantes os males internos, preciso é acrescentar os que vieram de fora com as incursões feitas na Itália pela Germânia, Hungria, Inglaterra e Borgonha, vendo-se invadida por hordas de aventureiros que a fizeram teatro de suas rapacidades e tiranias, desde meados do século XIV até os tempos de Carlos V. A depravação era tão grande e tão enraizada estava, que não foi bastante para contei-a o cumulo de guerras, ódios e vexames, nem o castigo do céu com que Deus visitou aquela desventurada terra, enviando a peste que, em melados daquele século, despovoou a me : da península: tudo foi inútil para reduzir a melhor vida seus moradores e aplacar assim a colem do Senhor.

A mesma Igreja, pouco antes do nascimento de Santa Dita, enfraquecida pelas heresias dos Beguardos, Beguinos, Adamitas, Waldenses e Wiclefitas, viu rasgada sua túnica inconsútil pelo grande cisma, que durou quase todo o tempo da vida de Santa Rita. Numa época de tanta desordem e de confusão tanta veio ao mundo Rita, parecendo impossível que num campo de tantos espinhos germinasse uma rosa de tanto perfume e tão bela como foi a serva de Deus. Não obstante, a divina Providencia assim o quis, mostrando ao mundo que onde abundou o delido superabundou a graça, pois a julgar pelas coisas que precederam e das que se seguiram a seu nascimento, e pela inocência em que passou a vida, parecia vir santificada desde o ventre materno

Na noite de 22 de Maio de 1381 sendo Pontífice de Roma Urbano VI, nasceu no pequeno povoado de Rocca Porena esta singular criatura, primeiro e único fruto que, em sua bem adiantada idade, tiveram Antonio Mancini e Amada Ferri. Vinha ao mundo no silencio da meia noite, e seus pais que velavam esperando o feliz successo, exultaram de gozo contemplando aquela formosa criatura; e beijando-a com ternura davam grafias a Deus por lhes ter cumprido a promessa e consolado sua velhice. Quem agora suspeitaria que aquela criatura havia de atrair a si um dia os olhares dos fiéis de todas as nações, que invocariam com fé sua poderosa proteção, e que, pelos favores alcançados mediante a sua intercessão, igrejas, se consagrariam se levantariam altares em sua honra, se estabeleceriam piedosas e caridosas associações, se fundariam povoa com seu nome, e o mundo católico a honraria com o titulo de Advogada de impossíveis?

Passadas que foram as primeiras alegrias de tão feliz acontecimento, os paca trataram logo de que sua filha recebesse o santo Batismo, que apaga o pecado original e constitua os homens filhos de Deus e herdeiros de sua glória. Mas na ocasião não havia pároco em Rocca Porena e foi preciso levar a menina a Cássia, e ali, ao quarto dia de seu nascimento, foi batizada na igreja de Santa Maria com o nome de Rita, ou talvez Margarida.

Nasceu, pois, Rita no mesmo mes e dia aniversário de seu transito glorioso ao Céu; e como a Igreja chama nascimento a morte dos santos, porque então é que nascem a verdadeira vida, tal coincidência parece dar a entender que esta privilegiada criatura, antes que para as lutas da terra, nascia para o céu, como se qual outro Batista tivesse sido santificada no ventre de sua mãe. Por agora basta-nos saber que seu nascimento foi precedido de sinais misteriosos, e seguido de outros prodígios que veremos nos capítulos seguintes.