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Da grande estima de Rita à santa pureza, mesmo desde sua meninice, são testemunhos a sua
angelical modéstia, o seu amor ao retiro e à oração, e as muitas praticas de mortificação e
penitência em que, desde aquela idade, vinha exercitando-se; penitencias que ela aumentou
durante a vida de matrimonio e de viuvez, vivendo assim não só castíssima, mas imaculada
também no tálamo, que ela olhava cone a veneração e reverencia devida a tão grande
sacramento. Qual belfa flor de primavera que ao romper da aurora apresenta o cariz coberto
de pérolas de rocie, assim Rita, nesta santa união, aparecia aos olhos de Deus adornada de
pérolas das mais ricas virtudes. Bem podemos dizer que sua vida neste estado foi toda
espiritual, toda de Deus; e quando o Senhor lhe concedeu que a Ele consagrasse sua pureza
por meio dos santos votos, mais admirável apareceu até nos últimos detalhes de sua vida
penitente. Que de indústrias não empregava para conservar-se pura e sem mancha aos olhos
do seu amado Jesus! Dizem os seus biógrafos que a tal extremo chegava sua pureza que, se
por acaso ouvia falar contra esta virtude, seu rosto se inflamava e sofria náuseas, chegando a
conhecer, como que por instinto, as pessoas manchadas de impureza, livrando a muitas de
tão feroz inimigo empregando os meios que lhe sugeria sua caridade e ardente zelo.
Sendo tão compassiva dos males do próximo, ao descobrir alguma pessoa descurada do
tesouro da santa pureza, procurava solicita mover-lhe o coração e levantar-lhe o espirito
acima destas misérias da carne. Sobre tudo, desde que também sendo ela tentada de tão
traiçoeiro inimigo, não deixou de orar fervorosamente por si e pelos atribulados por este
gênero de tentação. Por isso de nada serviam ao demônio suas artes; os fortes assaltos eram
para Rita outras tantas vitórias. E como sabia que o divino Mestre dissera aos seus
discípulos, que este gênero de tentações só se pôde vencer com a oração e o jejum,
mortificava o corpo, dizendo: Não devemos tratar com brancura nosso corpo, porque quanto
mais condescendentes sejamos, tanto mais rebelde se tornara contra nós.
Bem fundos e consistentes eram os alicerces que Rita havia construído para sobre eles,
levantar o belfo edifício da castidade; macerava todos os dias seu corpo com jejuns e
penitencias, nem omita tia fugir às ocasiões que podiam com a castidade, guardando a tolo
momento escrupulosa modéstia; e não obstante, para que a castidade da insigne Rita
brilhasse com mais vivos fulgores, permitiu o Senhor que sua serva passasse por violentos
combates, pondo em jogo o tentador todos os seus diabólicos artifícios, até o ponto de
apresentar-se a Rita em forma de formoso jovem; mas a Santa, que bem conhecia as astucias
do inimigo infernal, afugentava-o invocando o nome de Jesus e lançando mão dos
instrumentos de penitência. "Nos mais violentos combates das tentações, diz o P. Tardi,
chegava até a queimar, ora uma das mãos, ora um pé; assim extinguindo, com os ardores de
um fogo, outro fogo, para conservar-se toda pura aos puríssimos olhares de seu celeste
Esposo." Com estas asperezas, a que sujeitava o corpo, e os repetidos atos de humildade,
afugentava a tentação e conservava incólume a pureza de alma e de corpo, que é a que Deus
estima; pois a pureza do corpo nada vale se lhe falta a, do espirito, nem esta é completa se
não se procura a do corpo.
Quão grande era a estima que Rita tinha da santa virtude da castidade, além dos testemunhos
aduzidos, no-lo manifesta também sua vida penitente e mortificada. Por isso, como diz o P.
Sicardo, a temperança foi uma das virtudes que praticou nossa Santa, evitando todo excesso
na comida e bebida, que foi diminuindo aos poucos até chegar àquela quantidade mínima,
precisa unicamente para sustentar a vida, passando a maior parte dos dias só a pão e água.
Na. guarda dos sentidos era tão escrupulosa que nem as visitas dos seus parentes admitia
com agrado; de modo que vivia afastada de todo contato humano, e raríssimas vezes
conversava com pessoas estranhas, a não ser por necessidade ou obediência.
Como no tempo de nossa Santa não era rigorosa a clausura, se a obediência a obrigava a sair
do convento, procurava levar o rosto coberto, de modo que sem ser vista, nem ver outra
coisa que o caminho por onde ia, voltava ao convento sem saber dar razão de nada que não
fosse a incumbência que lhe fora encomendada.
Quando alguma das religiosas lhe pedia conselho sobre o modo d.e portar-se exteriormente,
costumava dizer que se fizesse amante do retiro, que não abandonasse os exercícios
espirituais e evitasse toda familiaridade, mesmo com os parentes, por que nessas
comunicações perde-se muito e pouco ou nada se ganha. De modo que Rita, tanto no que ela
observava, como no que aconselhava aos outros, era implacável contra tudo o que, de algum
modo, pudesse manchar ou obscurecer a brilho da santa pureza. Por isso foi tão amada de
Deus, o qual, para honrar perpetuamente sua serva, faz que de seu corpo, ainda hoje, emane
um aroma suavíssimo, tão celestial e divino, que deixa, como fora de si a quem tem a
felicidade de aspirá-lo.
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