CAPÍTULO XXIX. MILAGRES ALCANÇADOS PELA INTERCESSÃO DE SANTA RITA

Nossa vida está cercada de prodígios que claramente nos manifestam a existência de Deus; porém o habito de contemplai-os faz com os consideremos indiferentemente sem nos impressionarmos. O Senhor então para mais obrigar-nos a reconhecer o seu soberano poder, e mostrar o seu amor para conosco, digna-se fazer por intermédio dos Santos prodígios que atestam a sua valiosa proteção no céu em nosso favor, justificando assim o culto que lhes devemos tributar na terra. Mas para que os servos de Deus sejam merecedores do nosso culto e veneração, a Igreja, regrada e governada pelo Espírito Santo, não admite como prova de santidade somente os milagres operados durante a vida se, depois da morte, não foram confirmados por outros de mérito e valor indiscutíveis. É tal o rigor que se observa na formação os processos de beatificação e canonização dos Santos, que o homem de consciência mais escrupulosa recearia apresentar-se ante tão severo tribunal, se este tivesse d.e examinar um por um todos os passos de sua vida publica e particular, sem desculpas e nem apelações.

Entre os fiéis que, morrendo na paz do Senhor, passam a gozar da sua glória no céu, poucos são os que têm conseguido a honra dos altares, parque Deus só concede este privilegio aqueles que mais se distinguiram no grande amor e fidelidade ao Divino Esposo.

Entre esses ocupa lugar saliente Santa Rita de Cássia que, em vida e depois da morte, com seus numerosos e estupendos milagres, patenteou ao mundo cristão a preferencia acentuada de Deus pela sua serva fiel. Dos inúmeros milagres alcançadas por Santa Rita após a morte, os seus biógrafos narram os seguintes que estão arquivados e se encontram nos Processos de beatificação e canonização da Santa.

A 25 de Maio, três dias depois do transito da Bem-aventurada Rita, Ângelo Batista, morador de Col-Giacone, do município de Cássia, achando-se completamente cego, e ouvindo falar dos prodígios obrados pela intercessão da venerável religiosa durante a sua ultima doença, cheio de fé, recorreu à Santa, alcançando no mesmo dia a vista, ardentemente suplicada, sem que lhe ficasse vestígio do sofrimento.

Quatro dias depois, Jacobina Leonardo, de Ocorce, lugar próximo de Cássia, implorou com fervorosas orações a proteção da Santa, ficando completamente livre da grave doença que a fazia sofrer dores horríveis.

Francisca João Biselli, do condado de Nórcia, muda de nascença, foi na mesma data visitar o milagroso corpo de Santa Rita, e aí, depois de praticar alguns atos de piedade e devoção, encomendou-se ao seu poder, e, com grande assombro dos presentes, começou a falar, sendo suas primeiras palavras Ave Maria.

No dia 2 de Junho do mesmo ano, o jovem Bernardo, filho de Mateus del Ore, natural de Ocosce, sofrendo de pedra ou cálculos, que o atormentavam cruelmente: levado por seu pai a visitar a urna da Santa, encomendou-se a ela com fervor ficando no mesmo instante livre do seu mal.

No dia 7 do mesmo mês, a jovem Matea de Cancro, surda e muda de nascença, foi levada pelo pai em visita ao sepulcro de Rita, e invocando a Santa com grande fé e devoção recuperou a fana e a audição; sendo o milagre de tão grande vulto obrigaram-na a subir a um púlpito para satisfazer a curiosidade do publico, que maravilhado a ouvia repetir: Milagre! Milagre!.

Treze dias depois, 20 de Junho, Luzia dos Santos Lalli, do Castelo de Santa Maria, no território de Nórcia, havia perdido uma vista, ameaçando a moléstia invadir a outra. Acompanhada pela mãe„ foi orar ante o sagrado corpo de Rita e poucos dias depois, recuperou a vista e ficou livre da enfermidade.

No ano de 1471, Vannetta, da vila de Foliano, perto de Cássia, tinha, na garganta uma grave doença que continuamente ameaçava afogá-la. Às vezes perdia a respiração, e num destes acessos os presentes, julgando-a em perigo, começaram a agitá-la para fazê-la voltar a si. Lamentou-se Vannetta dizendo que lhe haviam interrompido uma bela visão. Perguntaram-lhe o que vira, e ela afirmou que lhe aparecera a Bem-aventurada Rita de Cássia chamando-a pelo nome, e com a mão tocara-lhe na garganta. Não foi ilusão, pois Vannetta achou-se completamente sã, conforme atestaram os que ali se achavam presentes.

No decorrer do ano de 1492 operaram-se mais duas curas miraculosas. Por uma delas foi favorecida uma senhora de S. Anatolia, da jurisdição de Cássia, de nome Jacoba, a qual caindo sobre umas guinas, as pedras que juntamente com ela rolaram, de tal forma a machucaram, que ficou não só inútil, mas ainda em perigo de morte. Recorreu com fé à Santa Rita„ prometendo-lhe uma esmola; em pouca tempo desapareceu o perigo e sarou das gravíssimas contusões.

Outro acontecimento deu-se no dia 18 de Novembro com um jovem, filho de Julião e de Gemma, moradores de Nórcia„ que foi agredido por uns malvados recebendo quinze facadas, faltando pouco para separar-se-lhe a cabeça do corpo. Seus Paes e uma sua irmã, de nome Maria, dominados pela angustia, só pensaram em recorrer ao Senhor pela intercessão de Santa Rita, pedindo-lhe a conservação da vida daquele, filho e irmão querido. Prometeram visitar o corpo da Santa, e cumprida a promessa, o jovem começou a melhorar das feridas, e em pouco tempo recuperou a saúde.

Em Dezembro de 1494 encaminhava-se a Cássia João André de Juanucho, para dar graças a Deus, por ter alcançado pela intercessão de Santa Rita a realização de dois milagres: o primeiro a cura de uma grave enfermidade, e o segundo o ter-se visto livre de um desastre que lhe ia custando a vida. Estando a derribar uma nogueira, procedeu com tanta 'infelicidade que esta, sem lhe dar tempo para afastar-se, caiu-lhe sobre si. Cheio de fé invocou em seu auxilio a gloriosa Santa, saindo ileso desse acidente.

Em Maio de 1501, João Bartolomeu, condestável de Rocca Sucuri, ocupando-se em limpar uma espada, esta caíu-lhe das mãos cortando-lhe uma das principais veias do pé o ferimento produziu uma forte hemorragia. Chamou-se o médico doutor Gaspar de previ que, depois de aplicar todos os recursos da medicina, sem nada conseguir, declarou desesperado o caso. O condestável, neste terrível transe, conhecedor das maravilhas operadas pela Bem-aventurada Rita, encomendou-se à Santa, prometendo visitar o seu corpo em peregrinação, se conseguisse a cura daquele mal. Feito o pedido, a hemorragia foi aos poucos cedendo, fechando-se a ferida completamente, com admiração, não só do referido médico, como também de vários outros que haviam visitado o paciente. Este, logo que recuperou as forças perdidas, cumpriu a promessa, levando, entre outros presente, uma coroa de prata que depositou sobre a urna da Santa.

No dia 7 de Março de 1503, Ângelo Damiano, de Somboleta, município de Nórcia, acabava de perder uma filha em conseqüência da peste que grassava no lugar. A família, cheia de angustia, e temerosa de que o terrível flagelo causasse entre eles alguma outra vítima, rogou ao Senhor, pela intercessão de Santa Rita, que a livrasse da epidemia. Ouviu o Senhor aquelas súplicas, e a epidemia não se propagou entre os membros da família; pelo que, agradecida, cumpriu a promessa feita, de visitar o sepulcro e a Igreja da Santa, deixando aí algumas esmolas.

A primeiro de Maio de 1539, Antônia, de nove anos de idade, natural de Rocca Porena, filha de Silvestre, passando pela ponte do rio Corno, caiu na água e desapareceu arrastada pela correnteza, sendo improfícuos os esforços que para salvai-a empregaram algumas pessoas que viram cair a menina. Continuaram as pesquisas rio abaixo e, com grande admiração, à beira do rio, meia milha distante do lugar onde havia caído, encontraram a pequena Antônia, aí sentada, sã e salva. Indagaram-lhe como conseguira salvar-se e a menina respondeu que, ao cair na água intercedera a Santa Rita, a quem devia a salvação.

Outro caso miraculoso deu-se com uma mulher de Áquila, chamada Cassandra. No nano de 1541 adoeceu gravemente um dos três filhos que tinha, e, para salvá-lo recorreu a Santa Rita, prometendo levar o menino a Cássia se alcançasse a graça. Recuperou o menino a saúde, mas a mãe não cumpriu a promessa que fizera. Passado algum tempo, o menino novamente adoeceu, vindo a falecer. A infortunada mãe, julgando que por sua culpa havia perdido aquele filho, ficou louca endemoninhada, assegurando que todos os dias ouvia a voz do filho defunto. Os outros dois filhos, vendo a pobre mãe em tal estado, e atribuindo-o à promessa não cumprida, à força levaram-na a Cássia. Antes de aí chegar, quando avistaram a cidade, foi-lhes preciso segurai-a e levai-a nos braços até a urna da Santa. Ali os bons filhos começaram a orar com devoção, pedindo aos fiéis presentes que orassem também pela doente; passado algum tempo, a mulher, voltando a si de um daqueles freqüentes delírios que padecia, ouviu claramente, como os demais que lá estavam, a voz do espirito, como se fosse a do filho defunto, que dizia: "Milagre! Milagre! Minha mãe recuperou o juízo!"

Com efeito, a infeliz Cassandra, que por algum tempo ficara sem sentidos; começou a derramar abundantes lagrimas, e prostrando-se diante do corpo da Santa não se cansava de dar graças a Deus que a livrara da triste loucura, e, abraçando os filhos, juntamente com eles volta a Áquila, louvando ao Senhor que tão grande zelo mostra pela glória dos seus santos.

No ano de 1548 deu-se outro importante milagre com uma, senhora de Nórcia que tinha uma filha doente dos olhos, um dos quais já inutilizado, por achar-se coberto de uma nuvem. A boa mãe, sumamente aflita, recorreu a Santa Rita e, de acordo com a filha, fez o voto de consagrai-a durante toda a vida ao serviço da Bem-aventurada, se esta a livrasse da cegueira que a ameaçava. Pouco depois a jovem recuperou a vista e se fez religiosa, entrando no convento da Santa, onde, durante trinta e nove anos seguidos, desempenhou, a contento geral, o cargo de Abadessa.

Para comemorar o transito ao céu da Bem-aventurada Rita, todos os anos nesse dia a Comunidade fazia e distribuía entre os pobres uns pãezinhos; mas como advertissem que, conservados ficavam durante muito tempo frescos, e dados aos doentes os curavam de suas doenças, determinaram as Madres do convento fazer outros pães menores que se benzem e distribuem como as rosas no dia da Santa, com grande alegria e proveito espiritual dos fiéis devotos de Santa Rita.

Finalmente, até do azeite da lâmpada acesa diante do corpo de Santa Rita fazem dele os fiéis grande apreço pelas muitas dores e males que a misericórdia divina se tem dignado curar mediante o dito azeite, segundo consta, além de muitos outros testemunhos, das Catas dos Processos de Beatificação e Canonização da Santa, do mesmo modo que dos pães e das rosas.

Bemdito e louvado seja mil vezes o Senhor que, pelos méritos e intercessão dos Santos, aos homens se mostra tão liberal e misecordioso!