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Penetrada Rita do valor do sacrifício que acabava de oferecer ao Senhor mediante a
profissão religiosa, e dos grandes deveres .que lhe impunha a dignidade de esposa de Jesus
Cristo, aplicava-se com .especial solicitude à observância das regras e à consecução do
sumo grão de perfeição a que Deus se dignara chamá-la do modo maravilhoso, como já
vimos, para assim corresponder ao beneficio incomparável da vocação. Lia com freqüência
a santa regra e as leis que governavam o convento, e de tal modo as obedecia e conservava
na memória que, segundo a opinião do cardeal Lucido Parochi, falando da Santa, "Se a
Regra de Santo Agostinho, diz, por acaso houvesse desaparecido entre os homens, poderia
ter sido reconstituída copiando-se das praticas e conduta de Rita".
Era a primeira a levantar-se do leito à meia noite para rezar o oficio, a primeira em acudir
ao lugar da oração, a primeira no coro, nas instruções, nas penitencias, nas obras de
misericórdia, na obediência e em todos os misteres da comunidade; estes tanto mais gratos
se lhe tornavam quanto mais vis se lhe deparavam.
Quando menina já se distinguira na observância dos preceitos divinos e nas praticas da
caridade, piedade e devoção; agora, que não encontrava impedimento algum para expandir
seu fervor, corria alegre e sem dificuldades pela senda da perfeição evangélica como a
religiosa mais observante. A misteriosa força de sua vocação tornava-lhe mais levíssimas as
praticas mais difíceis da vida do claustro. O reter o, a solidão da cela, o silencio, a oração e
as praticas de penitência que se observavam no Convento, eram-lhe coisas facílimas.
Em suas prolongadas vigílias e santas ocupações, não procurava outra coisa senão a vontade
de Deus, reconhecendo suas bondades e agradecendo os benefícios com que acumulara a
misericórdia do Senhor. Vigiava da tal modo seus sentidos, e tão comedida era nas palavras
e movimentos, que causava admiração a todas as Irmãs pelo seu bom exemplo. Não lhe
faltava a suave e doce palavra, tão própria dos corações abrasados no amor de Deus, para
atrair as almas ao seu santo serviço.
O dom de cativar os corações claramente ficou demonstrado pela conversão a Deus do
esposo rebelde, pelo grande amor apreço dos seus conterrâneos e pela grande estima de
todas as religiosas, para as quais a sua companhia era considerada, precioso dom do céu.
Isto, sem duvida, queria significar aquele enxame de brancas abelhas que, no dia do seu
batismo, pousada sobre o berço, quando dormia, entravam e saiam de sua boca, como se nela
houvessem fabricado rico favo de mel. Enriquecida assim a Santa com tais bênçãos de
doçura, fácil é compreender a admirável predomínio que exercia sobre os corações, e o
secreto imã que possuía para atrair as almas ao serviço de Deus. Porém o que mais admira é
a maravilhosa influencia que, desde a ceifa, exercia sobre os extraviados, como veremos
mais tarde, quando faltarmos de sua caridade. Por enquanto somente diremos que Rita soube
servir-se deste dom para alentar as almas em suas perplexidades, confortar os pusilânimes,
consolar os aflitos e trazer ao bom caminho os extraviados.
No trato e relações com suas Irmãs regulava-se sempre por aquela lei suprema ,da caridade:
Amar a Deus por si mesmo, e amar ao próximo por amor de Deus. Amava a todas igualmente
e as venerava como se nelas visse a imagem viva da Senhor; e, não obstante a vida d.e
grande recolhimento que levava, sempre achava tempo para auxiliá-las nas suas ocupações,
para alentai-as em seus desanimes e para servi-las nas doenças; e isto fazia com tanto gosto,
que não havia mister, por baixo e humilde a que não se prestasse contentíssima.
A total consagração de Rita a Deus e ao serviço de suas Irmãs é o que constitua o suave laço
de união nas comunidades religiosas, o qual se patenteava em Rita no amor, na prontidão
com que executava a vontade da Superiora e na boa vontade com que se prestava a auxiliar,
no desempenho de suas obrigações, depois de cumprir as delia, às Irmãs que não tinham a
mesma habilidade para cumprirem com o seu ofício. Vemo-lo, também, na grande dedicação
que tinha na assistência às Irmãs doentes, consolando-as com palavras de conforto e
animando-as a sofrer os trabalhos nas doenças, pois, como referem os biógrafos da Santa, as
religiosas que morreram durante os quarenta e quatro anos que Rita viveu no convento,
desejavam ser assistidas por ela, e a maior parte teve a felicidade de expirar em seus
braços.
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