CAPÍTULO X. MATERNIDADE DE RITA

As mais belas qualidades naturais, flores de um dia que podem aformosear uma mulher, não produzirão no homem mais do que uma impressão passageira: dominar seu coração, até assenhorear-se dele, é privilegio da esposa dotada de solidas virtudes. Já vimos quão difícil era abrandar Fernando e mais ainda conquistar seu afeto; mas afinal, a esposa virtuosa, depois de vários anos de constante paciência, conseguiu que se fossem acalmando as ondas daquele coração tempestuoso e que reinasse a paz no lar domestico, serenando-se por completo o seu caracter turbulento. A consolidar esta mudança de caracter e costumes do esposo de Rito veio o nascimento sucessivo de dois filhos, com que o Senhor favoreceu aquele casal, no qual agora reinava a paz; dando-se o caso de Fernando, fugir de casa, sempre que sentia renascer seu mau gênio, e, para não ofender a esposa, somente aí regressava depois de ter recuperado a tranqüilidade de espirito.

Não sabia Rita como agradecer ao Senhor a conversão do esposo e o fruto de benção concedido naqueles seus dois filhinhos. Dava graças a Deus por aqueles benefícios; sendo seu primeiro cuidado oferecê-los ao Senhor e fazer com que fossem logo regenerados peio batismo. Velava constantemente a jovem mãe sobre o berço, e com os olhos marejados da lagrimas do mais profundo agradecimento rogava ao Pai das misericórdias continuasse favorecendo-a com seus dons, ï laminando-a na direção daqueles seres queridos de seu coração. Quantos cuidados, temores e ansiedades sofreu aquela boa mãe, pensando no futuro de seus filhos !

Com essa intuição que o Senhor tem dado à mulher, chegou Rita a descobrir nas impaciências, raivas e cumes de seus filhos, que o caracter deles havia de assemelhar-se ao do pai. Isto lhe inspirava serias inquietações, que, por fim, chegaram a oprimir de angustia seu coração. vendo que de dia para dia, conforme iam crescendo, se revelava neles o temperamento irascível de Fernando.

Para corrigir, quanto possível, o caráter que começava a revelar-se por estas prematuras manifestações nas duas crianças, Rita, na oração, encomendava a Deus a sorte futura dos filhinhos com palavras repassadas de piedade cristã. Incutia em seus tenros corações o amor a Jesus e a Maria, o respeito e veneração devidos ao santo nome de Deus, a tantas outras coisas que somente é capaz de sentir e expressar o coração de mãe inflamado no amor divino.

Cumpria, pois, Rita com perfeição os deveres duma santa mãe no cuidado e vigilância para com os filhas. Entre afagos e beijos procurava incutir-lhes o amor de Deus e a prática da virtude, para que esta facilitasse à natureza o caminho do bem e a aversão do mal. Servia-se de santas industrias para mover o coração dos filhos à prática do bem, sendo ela a primeira a lhes dar o exemplo. Sempre carinhosa, falava-lhes com meiguice, corrigia-os e castigava com brandura para os manter na obediência e santo temor de Deus, que é o fundamento solido para a fiel observância da lei divina. Exortava-os com o exemplo; de modo que, quando chegaram a compreender as coisas, vendo os filhos o exemplo de unia mãe tão devotada à oração, tão mortificada e tão moderada nas palavras; tão caritativa como os pobres e compassiva com os necessitados; tão entretida freqüentemente em santos e devotos exercícios, procuravam não desgostai-a e imitá-la no que lhes era possível.

Assim ia cumprindo Rita os deveres da maternidade, e deste modo também devem procurar cumpri-los todas as mães. Mas Rita não olhava só o presente fites os olhos no futuro dos filhos e também no do esposo, com que fé, e com que amor, manifestava ante Jesus crucificado suas mágoas e seus receios. Com o coração atribulado pela incerteza, quantas vezes diria, qual outra Ester ante o Rei Assuero : "Senhor, se achei graça em vossa presença, concedei-me a vida de meu esposo e a de meus filhos por quem vos peço. Vós, que vedes meu coração e não desprezais o amor ardente de mãe, salvai-me e os salvai dos perigos que por toda parte nos cercam. Só a idéia de que se possam perder suas almas, tortura meu coração e submerge-o num mar de amargura. Vós, Senhor, sabeis quanto vos amo. Afastai de mim o amargo cálix de perdei-os para vós, e embora seja grande o desejo de conservai-os, pois por eles daria minha vida, mortos ou vivos quero que sejam sempre vossos, porque assim o serão também meus na mansão feliz, onde possamos todos gozar sempre de Vós, soberano bem e Senhor de minha alma." Rezava Rita freqüentemente esta oração, e mais adiante veremos como o Senhor lhe concedeu a graça que pedia.