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“Um dia, quando o venerável Bento estava na cela, o jovem
Plácido, monge do santo varão, saiu para tirar água do lago.
Quando, porém, mergulhou a vasilha que segurava, tão incautamente
o fez que ele mesmo, caindo, a acompanhou. A correnteza logo o
colheu e levou para o meio do lago, à distância da margem de quase
uma flexada.
O homem de Deus, embora na cela, no mesmo instante teve notícia do
acidente e chamou Mauro depressa, dizendo: “Irmão Mauro, corre,
pois o menino que foi buscar água, caiu no lago e já está longe,
levado pela corrente”.
Coisa admirável e não vista depois do apóstolo Pedro! Tendo
pedido e recebido a bênção, Mauro saiu ligeiro movido pela ordem do
Pai, e nisto correu sobre as águas, pensando que ia por terra, até
o ponto aonde chegara o menino arrastado pela onda; agarrou-o pelos
cabelos e voltou também a curso rápido.
Logo que pisou terra, voltando a si, olhou para trás e viu que
correra em cima das águas. E, como não podia presumir que isto
deveras tivesse acontecido, cheio de admiração temeu o fato.
Voltando ao Pai, contou-lhe o sucedido. O venerável Bento
começou, então, a atribuir o caso não aos próprios méritos, mas
à obediência de Mauro. Este, porém, replicando, dizia que era
devido somente ao mandado do Pai, e que não tinha consciência
daquele prodígio, que sem saber praticara. Nessa amistosa contenda
de humildade sobreveio como árbitro o menino que fora salvo; o qual
assim falou: “Quando eu era arrebatado das águas, via sobre minha
cabeça a melota do abade, e contemplava-o a tirar-me das águas”.
Pedro: “Muito grandes são as coisas que narras, e proveitosas para
a edificação de muitos. De minha parte, quanto mais bebo dos
milagres desse santo varão, mais sede tenho.”
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