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“Houve um varão de vida venerável, Bento tanto pela graça quanto
pelo nome, que desde a infância possuía um coração maduro.
Superior, pelo seu modo de proceder, ao verdor da idade a nenhuma
volúpia entregou seu coração, e assim, enquanto se achava nesta
terra, da qual por algum tempo pudera gozar livremente, desprezou,
como já murchas, as flores do mundo.
Oriundo de nobre estirpe da província de Núrsia, fora encaminhado a
Roma para o estudo das belas letras. Vendo, porém, muitos nesses
estudos rolarem pelo despenhadeiro do vício, recolheu logo o pé que
quase pusera no limiar do mundo, no temor de que, tocando algo da sua
ciência, viesse também ele a despenhar-se por inteiro no tremendo
abismo.
Desprezando, pois, tais estudos, deixou a casa e os bens paternos,
e, no desejo de agradar somente a Deus, procurou o santo hábito do
monaquismo. Retrocedeu, assim, doutamente ignorante e sabiamente
insensato.
Não conheço todos os feitos desse varão, mas o pouco que contarei,
sei-o pela narração de quatro discípulos seus: Constantino, homem
respeitabilíssimo, que lhe sucedeu na direção do mosteiro;
Valentiniano, que regeu por muitos anos o mosteiro do Latrão;
Simplício, que foi o seu segundo sucessor na direção da
comunidade; Honorato, que até hoje dirige o mosteiro onde Bento
antes viveu.”
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