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Gregório: “Convém, Pedro, que por enquanto te mantenhas em
silêncio, para que aprendas coisas ainda maiores.
No tempo dos Godos, como seu rei Tótila {/} tivesse ouvido que o
santo varão possuía o espírito de profecia, dirigiu-se ao mosteiro
e, parando a certa distância, mandou anunciar a sua vida. Como logo
lhe viesse do mosteiro a resposta que fosse, Tótila, que sempre
tivera um espírito traiçoeiro, cuidou de explorar se realmente o
homem de Deus possuía o espírito de profecia. A um dos guardas de
espada, chamado Rigo, depois de dar os próprios calçados e fazer
vestir as vestes reais, mandou que se apresentasse ao homem de Deus,
como se fosse o rei em pessoa. Para seu séquito destacou os três
condes mais chegados ao rei: Vulterico, Ruderico e Blidino, para
que, caminhando a seu lado, fingissem diante do homem de Deus
acompanhar o próprio rei Tótila. Deu-lhe também outros pagens e
guardas, para que, à vista de tal comitiva e das vestes de púrpura,
fosse tido pelo rei.
Quando Rigo, ornado desses trajes e acompanhado do numeroso cortejo,
entrou no mosteiro, o homem de Deus estava sentado bem longe. Ao
vê-lo chegar, e quando já podia ser ouvido, gritou-lhe estas
palavras: “Deixa, filho, deixa tudo que trazes; não é teu”.
Rigo caiu por terra no mesmo instante, e encheu-se de pavor por ter
procurado enganar tão grande homem. Também os que vinham com ele
arrojaram-se ao chão. Uma vez erguidos, nem tiveram a ousadia de
acercar-se de Bento, mas, voltando ao seu rei, contaram-lhe,
apavorados, quão depressa tinham sido descobertos.”
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