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“Em outra ocasião, a fome devastava toda a região da Campanha, e
grande escassez de gêneros angustiava a todos. Já faltava trigo no
mosteiro de Bento: quase todos os pães haviam sido consumidos, de
modo que não se achavam mais de cinco para os irmãos à hora de
comer. Vendo-os contristados, o venerável Pai procurou corrigir
com repreensão moderada a sua pusilanimidade, e reanimá-los com uma
promessa: “Porque, dizia, se entristece o vosso espírito pela
falta de pão? Hoje, na verdade, há muito pouco, mas amanhã
tê-lo-eis em abundância.” De fato, no dia seguinte, encontraram
duzentos módios de farinha em sacos diante da porta do mosteiro, sem
que alguém até hoje saiba por quem Deus todo-poderoso os mandou
levar. Vendo isto, os irmãos deram graças ao Senhor, e aprenderam
a não duvidar da abundância, mesmo em tempo de carência.”
Pedro: “Peço-te que me digas se devemos crer que o espírito de
profecia estava sempre neste servo de Deus, ou se lhe enchia a mente
apenas de tempos em tempos.”
Gregório: “Nem sempre, Pedro, o espírito de profecia ilumina a
mente dos profetas, pois, como está escrito do Espírito Santo que
“sopra onde quer” (Jo 3,8), também se deve entender que sopra
quando quer. Vem daí que Natã, interrogado pelo rei se podia
construir o templo, primeiro consentiu e depois proibiu (2 Reis
7). Pela mesma razão, Eliseu, ao ver a mulher chorando, sem
saber a causa da sua dor, disse ao servo que a queria repelir: “
Deixa-a, porque a sua alma está amargurada, e o Senhor mo encobriu
e não manifestou (4 Reis 4,27). É por disposição de grande
bondade que Deus onipotente assim ordena as coisas; pois, ora dando,
ora retirando o espírito de profecia, de um lado eleva às alturas a
mente dos profetas, e, de outro lado, a conserva na humildade, para
que os mesmos, quando recebem esse espírito, saibam o que são por
mercê de Deus, e, quando não o têm, conheçam o que são por si
mesmos.”
Pedro: “Eis que forte argumento clama que as coisas são como
dizes. Peço-te, porém, que continues a expor tudo que te acode à
memória sobre o venerável Pai Bento.”
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