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“Tampouco calarei aquilo que o discípulo de Bento chamado Peregrino
costumava narrar.
Uma vez, certo homem fiel, impelido pelo aperto de uma dívida,
acreditou ser seu único remédio ir ter com o homem de Deus e
expor-lhe a urgente necessidade. Foi, pois, ao mosteiro, onde
encontrou o servo de Deus onipotente, e contou-lhe a grave aflição
que sofria por parte de um credor a quem devia doze soldos.
Respondeu-lhe o venerável Pai que não possuía os doze soldos,
mas, para não deixar de consolar com uma branda palavra a pobreza do
homem, acrescentou: “Vai, e volta daqui a dois dias, pois hoje
não tenho o que te deveria dar”. Nesses dois dias, conforme o seu
costume, ficou entregue à oração. Quando no terceiro dia voltou o
devedor aflito, apareceram de repente treze soldos sobre uma arca do
mosteiro, que estava cheia de trigo. O homem de Deus mandou
apanhá-los e entregá-los ao pedinte angustiado, dizendo-lhe que
pagasse doze e guardasse um para os próprios gastos.
Eis que agora volto a contar o que ouvi dos discípulos referidos no
início deste livro.
Certo homem vivia sofrendo da gravíssima inveja de um inimigo, cujo
ódio o impeliu mesmo a pôr veneno ocultamente na bebida daquele.
Não pôde o veneno tirar a vida, mas a pele do homem perseguido mudou
de cor, espalhando-se pelo corpo umas manchas que pareciam de lepra.
O doente, porém, levado à presença do homem de Deus, depressa
recuperou a saúde, pois, logo que este o tocou, lhe afugentou as
manchas da pele.”
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